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1.

A concepção de culpa de base naturalística não permite um conceito unitário que sirva
as necessidades da construção da infracção penal, pois abrange aqueles que, em
definitivo, não se tem interesse em punir, na medida em que a culpa é um juízo de censura
formulado pela ordem jurídica a um determinado agente. Censura-se ao agente o facto de ele
ter decidido pelo ilícito.

Sobre a culpa há vários conceitos que variam de acordo com as escolas que se ocupam pela
dogmática da infracção criminal. A saber, temos a concepção psicológica da culpa, a
concepção normativa da culpa e a concepção ultra-normativa da culpa.- Das quais: na
concepção psicológica temos a Escola Clássica, na concepção normativa, temos a Escola
Neo-clássica e por fim na concepção ultra-normativa temos a Escola Finalista.

Apraz-me falar da Concepção Psicológica (escola clássica), sobre o tema pelo qual nos foi
abordado. A Escola Clássica tem uma perspectiva naturalística da infracção criminal e
assenta em bases empíricas, adoptando uma concepção psicológica da culpa. Sendo a culpa
uma ligação psicológica entre o agente e o facto, ligada a intenção de atingir um certo
resultado. A concepção psicológica diz-se simplista na medida em que é pouco abrangente
por um lado e muito abrangente por outro. Por um lado, não abarca a negligência
inconsciente porque não havendo o resultado e a sua previsão, não há ligação psicológica,
daí, não haverá culpa. Em seguimento da concepção psicológica, a negligência quando
inconsciente nunca seria culposa, e, por outro lado, abrangeria os inimputáveis, pois, ainda
que de uma maneira imperfeita o inimputável pode instituir um vínculo material entre a sua
acção e um facto ilícito.

Em suma a concepcao naturalística diz que a culpabilidade não é unicamente dolo e culpa, e
que a sua estrutura deve pertencer algum outro elemento susceptível de alterações
quantitativas.1

2. O deslocamento do dolo e da negligência para o tipo permitiu que a culpa assumisse de


forma mais evidente a sua função na dogmátioca penal. Sim, na medida em que a culpa é
um juízo de censura formulado pela ordem jurídica a um determinado agente, censura-se o
agente o facto de ele ter decidido pelo ilícito, o facto de ele ter cometido um crime quando
podia e devia ter-se decidido diferentemente, ter-se decidido de harmonia com o direito. 2

De acordo com a escola clássica assim como a escola neoclássica, o dolo e a negligência são
tidos como formas de culpa, sendo a culpa uma categoria analítica do facto punível, pelo que
só se pode formular um juízo de censura de culpa sobre um imputável porque as penas só se
aplicam a quem seja susceptível de um juízo de censura de culpa.

No entanto, para que exista a culpa do agente por um facto, não basta a capacidade de ser
objecto de sensura, para a existência do facto é necessário que este possa ser
subjectivamente imputado ao agente a título de dolo ou negligência. Tanto que a ligação do
agente com o seu facto pode se dar por forma de dolo e da negligência.

E, a negligência é a omissão de um dever objectivo de cuidado ou de zelo, dever cuja


violação supõe antes de tudo, em o agente não ter usado aquela diligência exigida segundo
as circunstâncias concretas para evitar o evento. Tanto que o problema da negligência supõe
também um problema de exigibilidade,pois nesta, encontra o dolo e toda a culpa o seu limite
na punição do agente e da medida da pena em que lhe possa ser imputado.

No entanto, a dogmática adoptada é a da Escola Finalista. Para esta, o dolo e a negligência


ficaram no tipo, achamos aqui a grande diferença com as duas concepções acima referidas.
1
RAMIREZ, Bustos, Manual de Direito Penal, 1984, pag. 357
2
CORREIA, Eduardo, Manual de Direito Penal
Para além de que a escola finalista adiciona um requisito novo que é a consciência da
ilicitude e que essa conscicência situa-se na culpabilidade, como elemento autónomo e o
dolo passou a ser considerado como elemento do tipo penal3.

Em suma, segundo a Escola Finalista, a deslocação do dolo e da negligência para a


tipicidade, a culpabilidade assumiu uma feição diversa. Com efeito, o dolo e a negligência
são ̏ corpos estranhos˝ na culpabilidade. Resultou disto a redefinição da culpabilidade
passando a consistir na reprovabilidade da conduta ilícita/típica de quem tem capacidade
genérica de entender e de querer e podia, nas circunstâncias em que o facto ocorreu,
conhecer a sua ilicitude, sendo-lhe exigível comportamento que se ajuste ao direito 4. Ainda
sobre a escola finalista os elementos da culpa são a imputabilidade, a consciência da
ilicitude e a exigibilidade de comportamenmto conforme o direito ou exigibilidade de
conduta diversa5.

3.Sobre a hipótese no que se refere à responsabilidade do Afonso por este ter feito um corte
no braço do seu instruendo e de o ter atirado para a água de modo que o tubarão o atacasse e
assim conseguisse salvar a sua perna, é de aferir que lhe recai sim uma responsabilidade
criminal, na medida em que nesta situação, ao Afonso assistia-lhe o dever de agir no sentido
de ter evitado a verificação do resultado proibido.

Ademais, cabia ao Afonso como instrutor proteger os seus instruendos, apesar de ter-se
encontrado numa situação de lesão de dois bens jurídicos que são a sua vida e a dos seus
instruendos. Importa aferir que houve uma exigibilidade de comportamento humano diverso.
O seu instruendo acabou sendo devastado pelo tubarão mas que a obrigação do Afonso seria
de proteger a vida deste e sacrificou a vida do instruendo em determento da sua tendo agido
com dolo, nos termos do artº 3, nº1 CP, 20146.

No entanto, não poderei aferir que pelo comportamento de Afonso, este teria agido daquela
maneira em busca de exclusão de culpa ou o estado de necessidade, contidos nos artº 48,
nº1, 2, b) e artº 49, ambos do CP, 2014. Afonso agiu também por negligência, pois, cabia a
este, segundo as circunstâncias em que se encontrava, proceder com cuidado, a que estava
obrigado a fazer, Afonso omitiu voluntariamente um dever que lhe foi adstrito, nos termos
do artº 4, CP, 2014.

Só pelo o facto de ter cortado o braço do instruendo e jogar no mar é verídico que fê-lo com
intenção de se salvar, e, em sua vez entregar e perigar a vida do seu instruendo.

Finalizando, entendo haver uma reprovabilidade da conduta do Afonso. Afonso actuou


culposamente ao realizar um tipo jurídico penal, ele pôde nas circunstâncias em que o facto
ocorreu conhecer da sua ilicitude, sendo lhe exigível comportamento que se ajuste ao direito
mas pelo sim, este tenha ingnorado. E, cometido o crime de homicídio qualificado nos
termos da alínea f), nº 1, do artº 157,CP.

ESTUDANTE DO DCI
PÓS-LABORAL
NOME: FERNANDA TERESA ADRIANO PEDRO TAMELA

3
Direito Pernal, pagº 201
4
FRANCO, Alberto Silva et all; Código Penal, ob cit, pag 274, citado por Macie, Albano, pagº 253
5
MACIE, Albano , Direito Penal, Textos de Apoio, Parte geral I, 2018, pagº 253
6
Decreto 35/2014, de 31 de Dezembro que aprova do CP

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