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Todos os direitos reservados.

Capa: Lilly Design


Diagramação: Giulia Rebouças | Gialui Design
Ilustração: Carlos Miguel
Revisão e Leitura Crítica: Gramática Perfeita

Texto em conformidade com as normas do novo acordo ortográfico da língua portuguesa


(Decreto Legislativo Nº 54 de 1995).

Esta é uma obra de ficção. Todos os nomes, personagens, locais e acontecimentos são
produtos da imaginação da autora. Qualquer semelhança com pessoas reais, vivas ou mortas,
locais ou eventos é mera coincidência. Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida,
armazenada, ou distribuída através de quaisquer meios, sem a autorização da autora.

A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei nº. 9.610/98 e punido pelo
artigo 184 do Código Penal.
Sinopse
Nota da autora
Avisos
Playlist
Dedicatória
Epígrafe
Ilustração
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Capítulo 46
Capítulo 47
Capítulo 48
Capítulo 49
Capítulo 50
Capítulo 51
Capítulo 52
Capítulo 53
Capítulo 54
Capítulo 55
Capítulo 56
Capítulo 57
Vizinhos de porta; Hate to Lovers; Bully Romance; Soul Mates; Fast Burn

Será que um acordo de sexo sem sentimentos pode impedir dois corações feridos e
mergulhados na escuridão, de se apaixonarem?

No efervescente cenário de Nova York, Luciana Guerra, uma advogada brasileira vê sua
vida desmoronar em meio a uma tragédia avassaladora. No fatídico acidente de carro, perdeu não
apenas o homem que tanto amava e a filhinha de apenas 3 anos de idade, mas também a visão.
Completamente cega e sobrevivendo à dor, ela se afunda no luto, acreditando que nunca
encontrará alguém à altura do homem perfeito que foi seu marido.
No mesmo horizonte urbano de Nova York, surge o russo Dimitri Nikolayev, um
verdadeiro ogro de personalidade abusada e arrogante. Bebedor, fumante e amante de encontros
casuais, ele é uma tempestade de mistério, e atração proibida, personificando tudo que Luciana
odeia em um homem.
No primeiro encontro na academia, ela o despreza por sua natureza abusada e ele a odeia
pela audácia que representa.
Seus caminhos se cruzam novamente quando descobrem que se tornaram vizinhos,
transformando o ranço mútuo em uma convivência inevitável. Em meio aos embates e
desentendimentos, algo inesperado acontece. Luciana e Dimitri, agora vizinhos e frequentadores
da mesma academia, percebem que o ódio inicial se transforma em uma paixão ardente e
arrebatadora.
Envolvidos numa dança perigosa entre o amor e o ódio, decidem fazer um acordo: ficar
somente um com o outro, mas sem sentimentos amorosos.
Contudo, o pacto de ausência de sentimentos é desafiado e o destino mostra que, no jogo
imprevisível do coração, ninguém pode ditar as regras.
Segredos enterrados de ambos ressurgem e eles serão postos à prova, e apenas juntos
poderão enfrentar as adversidades que o destino lhes reservou.
Olá amores!
Primeiramente, antes que se iludam, venho logo destacando um aviso importante: O título
é fofo, mas a história nem tanto.
“Luz da Minha Vida” nasceu em outubro de 2021, logo depois que eu fiquei
completamente apaixonada por Jax Teller, personagem icônico de Charlie Hunnam, na série
Filhos da Anarquia.
Apaixonada pelo ator, vivi dias sonhando com ele, até que, em um desses sonhos, Charlie
se transformou em Dimitri, meu russo "ogro" e boca suja, apaixonado por uma mulher brasileira
cega.
Ao longo da minha jornada como escritora, muitos capítulos dos meus livros têm origem
nos meus sonhos mais loucos, e este não é exceção. Sempre quis apresentar ao mundo meu casal
"cão e gato", ambos imersos na escuridão, mas que, com o tempo, descobrem ser a luz um do
outro.
Aproveito a oportunidade para deixar uma mensagem especial às minhas leitoras fiéis das
plataformas Chapters e Wattpad: quero expressar minha profunda gratidão por acompanharem
minha jornada, estejam onde estiverem e por não me deixarem fraquejar quando a sanidade
queria se esvair. Seu apoio é o coração pulsante da minha paixão pela escrita. Amo todas vocês!
E, por fim, estou empolgada em compartilhar essa narrativa cativante e desafiadora, repleta
de paixão e redenção, com todos vocês, queridos leitores.
Acompanhem-me no Instagram @gabrielladay.escritora para saber de mais novidades
sobre mim e meus próximos projetos.
Espero que gostem dessa história de amor louca, que mais parece uma montanha russa de
emoções.
Com muito amor no coração,
Gabi Day.
- Conforme mencionei no início da nota de autora, "Luz da Minha Vida" não se enquadra
no típico romance fofo. Ele é uma mistura envolvente de elementos eróticos, drama, comédia e
até mesmo uma dose de fantasia, repleto de reviravoltas emocionantes.
- Quanto à trope Bully Romance: O relacionamento entre os personagens é intenso e
complexo, marcado por personalidades fortes e diálogos acalorados, repletos de palavras de
baixo calão ao longo da narrativa. Se você não aprecia esse estilo de trope, é aconselhável
reconsiderar a leitura. Esteja ciente da natureza intensa da dinâmica entre os protagonistas e
lembrem-se, é apenas FICÇÃO.
- Como o casal faz um acordo de ficarem só um com o outro, sem sentimentos amorosos,
terão muitas cenas de sexo, então, se você não curte essa pegada mais erótica, pare por aqui.
- No livro, há uma cachorrinha muito esperta chamada Totó, e ela tem os pensamentos
expressados no decorrer da história. “Ah, mas cachorro não pensa!” Bem, na minha história,
ela pensa!
- Gatilhos: conteúdo sexual explicito, dependência emocional, capacitismo, violência
física, verbal, psicológica e sexual, tortura física e emocional, sequestro, assassinato e morte.
Caso seja sensível a alguns desses temas, NÃO prossiga com a leitura.
Clique aqui ou aponte a câmera para o código QR CODE abaixo:
“Para todos aqueles que se tornaram uma constelação e iluminaram nossas vidas, nos dias mais
sombrios e dolorosos de nossa existência.”
“Todas as luzes da cidade nunca brilharam tanto como os seus olhos”
Car’s Outside – James Arthur
6 MESES ANTES

A LUZ DO SOL INVADIU suavemente o quarto, despertando-me para um dia especial, que há
tempos eu aguardava. Com um sorriso animado, abri os olhos, sentindo uma onda de felicidade
tomar conta de mim. Meus colegas advogados — Oscar, Cristina e Raymond — haviam dado
uma festinha de despedida ontem, e até tentaram me fazer beber um pouco, mas me mantive
sóbria para aproveitar o dia que viria.
Hoje era o começo das minhas férias, uma pausa merecida do frenesi do escritório de
advocacia.
Meu marido — que era um médico renomado — também estava de recesso e, juntos,
decidimos embarcar em uma emocionante viagem para o Havaí com nossa filha de 3 anos, Sofia.
Com passos leves e graciosos, me dirigi à cozinha, onde o aroma de café fresco preenchia
o ar. Ao entrar lá, deparei-me com uma cena encantadora. Meu amado e nossa filha estavam ali,
imersos na alegria da manhã. Juntos, preparavam o café da manhã, que logo ouvi ser uma
surpresa. O aroma tentador de ovos com bacon pairava no ar, enquanto panquecas douradas
estavam na chapa. Ambos cantarolavam animadamente uma música infantil de aniversário,
enquanto a fragrância de café se espalhava no ambiente.
Minha mente se enchia de planos animados para a viagem que aconteceria em poucas
horas: praias de areias douradas, mergulhos no oceano azul-turquesa e fotos incríveis para
guardar no álbum novo que eu havia comprado. Também era um momento precioso, pois
coincidia com o aniversário de três anos de Sofia.
Após a refeição, parabenizamos Sofia com muitos beijos e abraços, e, depois, começamos
a organizar as malas, escolhendo com cuidado roupas leves e coloridas, perfeitas para o clima
tropical que nos esperava. Enquanto arrumávamos nossos pertences, admirei minha família e
pensei em como eu era sortuda, considerando-me uma mulher plena e realizada.
Natural do Brasil, com 29 anos, sempre alimentei o sonho de me tornar advogada e viver
nos Estados Unidos. Meus pais, pessoas simples e humildes, são proprietários de uma rede de
supermercados no Rio de Janeiro. Dediquei-me aos estudos e sempre os orgulhei.
Sendo filha única, senti a pressão constante de ser exemplar. Minha dedicação nos estudos
rendeu-me a oportunidade de um intercâmbio em Nova York, onde passei quase seis meses
estudando, alojada com outros estudantes estrangeiros. Durante essa experiência, concluí o
ensino médio e, por meio de uma bolsa escolar, garanti uma vaga em uma das melhores
universidades do estado, especializando-me em Direito, como sempre sonhei.
A determinação que sempre esteve presente em mim foi crucial para atingir esse objetivo,
e decidi abraçar essa oportunidade, dando o meu sangue para me dar bem em cada etapa do
processo. Meus pais ficaram extremamente orgulhosos pela minha conquista, apoiaram-me
sempre financeiramente, nunca deixaram me faltar nada; na época, trabalharam mais do que o
costume para custear um pouco mais a minha jornada acadêmica nos Estados Unidos.
Não foi fácil enfrentar a vida sozinha aos 17 anos, mas, com coragem, tracei meu caminho
em busca de um futuro melhor. Nesse percurso, conheci pessoas incríveis e, entre elas, destaco
Roger, um jovem que estava prestes a concluir o curso de medicina, e por quem me apaixonei
profundamente.
Ao ingressar na faculdade, começamos a namorar, e Roger, juntamente com sua família,
me acolheu calorosamente, tornando-me parte de seu círculo. Apesar de não ser uma pessoa
abastada, Roger era um homem inteligente e dedicado, além de possuir uma estatura imponente
de 1,80, cabelos pretos, olhos verdes e um sorriso encantador. Toda essa combinação cativou
meu coração, indicando que ele era a pessoa certa para mim.
Após quase seis anos de uma rotina intensa de estudos e muito aprendizado, concluí a
faculdade e, dois anos mais tarde, aos 26 anos, celebramos a chegada de Sofia. Ela representava
o laço intenso de nosso amor, e hoje, no seu terceiro aniversário, nos preparávamos para uma
emocionante viagem de dois meses, que prometia ser inesquecível em nossas vidas.
Com as malas finalmente organizadas, consultei o relógio e virei-me para Roger:
— Tudo pronto, amor. Vamos?
— Sim, minha bela — ele respondeu com um sorriso radiante. — Vou pegar Sofia e
colocá-la na cadeirinha. — Roger me beijou e se encaminhou para pegar nossa filha.
— Ok — pisquei um olho e sorri.
Dirigi-me à sala e notei a caminha rosa de princesa da nossa cachorrinha Totó, uma
adorável Lulu da Pomerânia de quase 1 ano. Infelizmente, ela não poderia nos acompanhar na
viagem, devido à uma torção em sua patinha, então, a deixamos sob os cuidados de meu cunhado
e sua esposa, que era veterinária. Eu morreria de saudades da nossa bolinha de pelos.
Em seguida, fui até a escrivaninha e peguei a chave do meu carro, já que o de Roger estava
com o pneu furado, porém, ele tomou a chave da minha mão.
— Deixa que eu dirijo, minha advogada sexy — ele piscou um olho ao pedir, dando aquele
sorriso encantador que eu tanto amava.
— Está certo, meu médico lindo — retribuí o sorriso.
Após trancarmos todas as portas da casa, colocamos nossa bagagem no porta-malas e
entramos no veículo. Morando em um condomínio residencial privado, não temíamos invasões,
graças à rede de segurança especializada, e meu cunhado Robert ficaria de olho no meu carro
para garantir que tudo estivesse seguro, no entanto, conferir as fechaduras era como um costume
de praxe.
Olhei para Sofia, agora sentada em sua cadeirinha no banco de trás, e ela me lançou um
sorriso fofo enquanto segurava seu Bob Esponja.
— Logo, logo vamos brincar na areia de uma praia linda, meu amor — prometi toda
animada, e ela sorriu mostrando a gengiva superior faltando dois dentinhos.
— Sim, mamãe, eba! Quelo plaia! — comemorou, abraçando a pelúcia, e seus olhos verdes
reluziram.
Ao entrarmos no carro e Roger dar a partida, ele sorriu e falou com Sofia pelo espelho:
— Isso, meu bem, vamos caçar conchas e fazer um castelinho de areia!
No trajeto, entoava canções infantis com Sophia enquanto Roger conduzia até a casa de
Robert, onde deixaríamos nosso carro. Após um tempo, olhei para minha filha, e ela me
presenteou com outro sorriso encantador que só ela tinha.
— Seu aniversário será lindo naquela praia da foto que te mostrei antes, meu amor! Mamãe
e papai faremos uma surpresa para você! — assegurei.
Ao ouvir isso, seus olhos brilharam.
— Obrigada, amo muito vocês.
— Também te amo, filha… — me declarei de volta, segurando sua mãozinha, e, segundos
depois, sem aviso, ouvi um estrondo vindo do lado de Roger e fitei minha filha, tão assustada
quanto seus olhinhos, e gritei por ela, desesperada: — SOFIA!
Depois disso, tudo se apagou.
Perdi os sentidos e desmaiei.
Me restou apenas a escuridão.

Algum tempo depois — que não sei precisar —, despertei-me, sentindo estar deitada em
uma cama, enquanto uma dor intensa percorria todo o meu corpo, e tudo ao meu redor estava
mergulhado na escuridão, como se algo cobrisse meus olhos. Ao tentar mover as pernas, senti
uma sensação amortecida, enquanto meus braços pareciam repletos de agulhas.
— Ahhh… Que dor… — murmurei, as dores eram tão intensas que me afligiam.
Logo, ouvi passos se aproximarem e senti uma mão me segurar, fazendo-me encolher em
resposta.
— Quem é? — perguntei, esforçando-me para identificar a voz. Minha audição parecia
prejudicada, aumentando minha inquietação. — Não consigo reconhecer sua voz…
— Sou eu, Luciana. Martin — ele ressoou perto dos meus ouvidos, e, aos poucos,
reconheci Martin, um colega de trabalho de Roger. — Isso é um milagre, meu Deus! Você
acordou! — exclama ele, visivelmente surpreso.
— Martin… onde… onde estou? — indaguei, perturbada.
Minha voz estava muito rouca; precisava tomar água.
— Querida, não sei se você se lembra, mas você sofreu um grave acidente há alguns dias…
não esperávamos que acordaria tão rápido, na verdade… achamos que perderíamos você — ele
disse, tentando soar calmo, como se eu precisasse de tempo para digerir o terreno que ele estava
preparando e que, certamente, eu não estava pronta para compreender.
— Eu sei…, mas onde estão Roger e Sofia? — perguntei imediatamente, pensando na
minha família.
Silêncio. Um silêncio ensurdecedor pairou sobre nós, e pensei que o Dr. Martin não estava
mais por perto, até ele começar a falar de novo, pronunciando as palavras com a voz rouca:
— Luciana, você tem que ser forte… — ele pareceu engolir em seco, e meu estômago se
agitou com a possibilidade de haver algo terrível prestes a acontecer. — Seus pais estão vindo do
Brasil, a família de Roger está lá fora, esperando para lhe fazer uma visita e…
— Martin, chega de rodeios! — o interrompi, sentindo um bolo formar-se em minha
garganta. — Onde está minha família? O que aconteceu com o Roger? Cadê minha filha?
— Luciana… oh, Deus… o acidente foi terrível… Eles… eles não resistiram — respondeu
ele em tom de pesar, soluçando, incapaz de disfarçar suas emoções, se perdendo em tentar
manter sua postura profissional.
— O quê? — trêmula, senti um choque percorrer o meu corpo, como se um veneno
queimasse minhas veias enquanto tentava processar a informação. — Onde estão eles, Martin?
Meu marido, preciso vê-lo. Preciso saber se Sofia está bem. Martin! Me responda! — o
desespero me assolava, tentei me levantar da cama, mas a dor em meu corpo ainda era tão forte,
que fui derrotada no segundo seguinte.
— O impacto do acidente foi muito forte. O caminhão atingiu em cheio o lado de seu
marido, e as ferragens… Roger e Sofia, eles… o acidente foi fatal, Luciana. Eles morreram na
hora. Eu… eu sinto muito.
Morreram.
Meu esposo e minha filha… morreram? Foi isso que Martin quis dizer?
— Martin, diz que isso é mentira — implorei, sentindo-me despedaçar por dentro, minha
alma sendo dilacerada em fragmentos irrecuperáveis. — Não! — gritei angustiada, a dor em meu
peito cada vez mais insuportável.
Tentei mais uma vez me erguer, sem sucesso. Minhas pernas pareciam dormentes, e logo
senti vários pares de mãos tentando me deter.
— Querida, por favor… Você está com as pernas paralisadas, cheia de hematomas. Foi um
milagre ter seu corpo preservado sem grandes traumas — Martin tenta me acalmar.
— TIRE A PORRA DA VENDA DOS MEUS OLHOS! — vociferei, ignorando seus
apelos e continuando a gritar, desesperada, chorando, meu coração sangrando.
— Não há venda, Luciana — Martin respondeu, nervoso.
— Como é? — levei as mãos aos olhos, tocando minhas pálpebras, perturbada. Não havia
nada realmente em meus olhos, o que me deixou confusa. — Por que vejo tudo escuro? —
inquiri, sabendo que havia algo profundamente errado comigo.
Ouvi Martin suspirar profundamente enquanto segurava minha mão.
— Luciana, devido ao acidente, você… — ele suspirou pesadamente, buscando uma
maneira de me comunicar a notícia difícil. — Você perdeu a visão integralmente, querida. O
trauma atingiu indiretamente o osso esfenóide na região ocular, onde passa o nervo óptico.
Houve uma concussão desse nervo, e essas lesões podem ser definitivas. No entanto, pode haver
recuperação da visão em até um ano. Precisamos aguardar com calma para determinar se é
temporária ou permanente. Além disso, realizamos uma cirurgia de urgência para retirar o sangue
acumulado no globo ocular e reduzir a pressão. Faremos uma longa observação nos próximos
meses, quando seus olhos estiverem menos inchados, para decidir sobre um tratamento clínico
ou uma possível cirurgia caso a visão não retorne.
— Não pode ser! Não! — berrei, chorando desconsoladamente, e Martin me abraçou com
compaixão.
Minha vida acabou… perdi minha família e minha visão. Nunca mais poderia ser a mesma.
É como um pesadelo… o pior de todos, onde não conseguiria nunca mais sair daquele limbo, que
abriu meu coração de uma maneira que sangrava sem parar.
— Martin — solucei. — Por favor, mate-me.
— Luciana…
— Eu não quero viver. Por favor, eu imploro! Sei que não vou suportar viver sem eles! —
eu estava em prantos, sufocada. Queria morrer a qualquer custo.
Martin apertou minha mão.
— Nunca farei isso, Luciana. Roger e Sofia jamais permitiriam que isso acontecesse. Eles
se foram, mas você sobreviveu. Sua missão ainda não se encerrou, apesar de tudo. Eu sinto
muito, muito mesmo…, mas eu sei que você é uma mulher forte, admirável e vai sair dessa.
Eu queria discordar, estava prestes a isso até ouvir a porta bater e uma voz específica
preencher o ambiente. Fiz um esforço para reconhecê-la, à medida que se aproximava,
percebendo ser o meu cunhado, Robert, irmão gêmeo idêntico de Roger.
— Luciana… meu Deus! — sua voz estava triste quando se aproximou.
— Rob… — murmurei em meio às lágrimas.
Ele me abraçou com cuidado, carinhosamente, e chorou muito em meu ombro.
— Eu estou acabado, nossos pais também… estão à base de calmantes. Eu sinto tanto,
cunhada! — lamentou-se.
— Eu também, Robert… — engoli em seco, tateando até encontrar suas mãos. — Quero
morrer! Eu não vou suportar isso, não vou! Eles eram tudo para mim!
— Lu, não diga isso! Eu sei que é difícil, mas vamos superar. Eu também estou chocado,
querida. Meu único irmão se foi… Sofia, tão novinha e com a vida inteira pela frente…
— Eu estou cega! Como poderei viver assim?! Que injustiça do destino! — protestei,
desolada, inconformada, afinal, não veria minha filha pela última vez.
— Calma, o médico falou que seus olhos estão muito machucados, mas que temos que
esperar para ver se a visão voltará ou não, então, a cegueira ainda não é definitiva, querida. Seus
pais estão vindo vê-la, Melissa e nossa filha, e meus pais também. Todos querem ver você antes
de se despedir de Roger e Sofia.
— Ok, Rob.
Ele disse mais algumas coisas, tentando me consolar, mas a verdade era que só prestei
atenção quando ele se retirou e, minutos depois, mamãe surgiu.
— Filha! — ela ressoou, chorosa e parecia aliviada ao mesmo tempo.
— Mãe!
— Filha… oh, meu Deus! Eu sinto muito, eu… como você está?
A senti segurar minha mão.
— Mamãe… — minha voz não passava de um sussurro triste, enquanto mamãe me
abraçava com cuidado, proferindo palavras de consolo para tentar apaziguar as lágrimas que
escorriam de mim.
Tudo pareceu passar muito rápido, ao mesmo tempo que tive uma sensação que nunca
mais sairia daquele estado doloroso da tripla perda que sofri. Sequer dei ouvidos à família de
Robert, mal pude aproveitar a visita de papai, e não estive presente no funeral do meu marido e
de minha filha. Eles restariam e ficariam para sempre em minhas lembranças, no sentido literal.
Se eu estava destroçada, imagina o resto da minha família. Papai não aguentou o tranco,
ficou internado por algumas horas em observação por conta da pressão alta, e decidiu voltar para
o Brasil, onde teria o apoio de minha tia — sua irmã — e tentaria reerguer-se mergulhando a
cabeça no trabalho. Os pais e o irmão de Roger diminuíram suas visitas a mim, restando apenas
minha mãe ao meu lado. Eu não aceitava ter perdido minha família, não acreditava que não
poderia enxergar de novo. Tudo o que eu queria era desaparecer, e sentia mamãe ao meu lado o
tempo todo.
— Filha, o médico me disse que mais alguns dias, e você poderá voltar para casa.
— Eu não vou voltar para aquela casa, mãe! Vou vendê-la, não vou suportar viver em um
lugar onde as lembranças de Roger e Sofia permanecerão vivas — lágrimas escorreram só de
mencioná-los. — Além disso, acho bom procurarmos um apartamento já adaptado para cegos,
assim, facilitaria um pouco a minha vida, embora tudo esteja me atormentando…
— Ok, tudo bem, filha. Vamos resolver isso. Logo também você estará com Totó, sua
cachorrinha, vai ser bom tê-la ao seu lado.
— Mamãe… não! Acho melhor deixar Totó aos cuidados de Robert. Não posso cuidar de
alguém nesse estado, além do mais… Totó era a cachorrinha da minha filha! — meu coração
estraçalhou mais um pouquinho. — Fico pensando, como eu vou ouvir seu latido e não lembrar
da minha Sofia? De todas as vezes que cuidávamos dela juntas, que levávamos ao pet shop? Meu
Deus, por que o Senhor fez isso comigo? MINHA FILHINHA… AHHH! — o choro desceu pela
revolta, me debati ao lembrar-me dos gritos de Sofia quando o acidente aconteceu, e tudo só
piorou.
— Calma, minha princesa! Doutor, me ajude! — mamãe gritou, e logo Martin apareceu,
pedindo para que eu me acalmasse.
Como se isso fosse possível. Eu queria minha filha, o meu marido, e nada poderia ser feito,
pois eles se foram para sempre, estavam enterrados debaixo da terra, não havia mais volta,
entretanto, eu queria que aquilo fosse mentira. Queria acreditar que tudo não se passava de um
sonho, que minha bebê logo viria me abraçar, acordando-me desse pesadelo, e seguiríamos
felizes.
— SOFIA! Volte para mim! — berrei, repassando os últimos momentos que tive com ela,
com Roger, e isso me destruía ainda mais.
— Apliquem um calmante nela, por favor. — Ouvi Martin solicitar, eu me debatia até
sentir uma sonolência atingir-me em cheio, anestesiando-me daquele pesadelo terrível, e
sinceramente, desejei nunca mais acordar.
TEMPO PRESENTE

SEIS MESES SE PASSARAM desde o fatídico dia que alterou irremediavelmente minha
existência.
Fiquei mais de oito semanas no hospital, mudei-me de casa e radicalmente de vida. Não
fora nada fácil. Minha nova vida ainda estava marcada pela ausência insuportável de Sofia e
Roger, eu podia sentir minhas cicatrizes cada vez mais presentes.
Agora, eu estava em uma cadeira de rodas, aprendendo a lidar com minha nova realidade.
Minhas pernas voltaram a ter sensibilidade, e mesmo que eu conseguisse fazer alguns
movimentos com os pés, a recuperação era lenta.
O médico ortopedista prescreveu uma série de fisioterapia para fortalecer minhas pernas,
indicando uma nova especialista, e, por sorte, a clínica dela ficava na esquina do meu
apartamento, dentro de uma academia chamada Nikolayev Gym.
Minha mãe estava ao meu lado, apoiando-me durante esse difícil processo de adaptação à
cegueira e à perda. Estava envolvida também em tratamento para recuperar a visão, mas o
oftalmologista enfatizava a importância da paciência.
Hoje seria o primeiro dia de fisioterapia, e minha mãe estava animada. Após o banho, ela
me ajudou a se vestir, escolhendo uma roupa confortável para os exercícios. Enquanto ela
penteava meus cabelos, suas palavras cheias de encorajamento tentavam me dar esperança, mas
minha tristeza era profunda.
— Está linda como sempre! Com fé em Deus, você voltará a ser a mulher que era! — ela
declarou.
— Isso é impossível, mãe… não tenho ânimo de viver, mas estou tentando por você e por
meu pai — minha sinceridade transpareceu na voz.
— Eu sei, filha. Ele virá esta semana para te ver e ficará uns dias conosco.
— Que bom, eu sinto falta dele.
— Bom, vamos para a clínica. A doutora Ekaterina está nos aguardando.
— Certo, mãe. Vamos.
Mamãe me ajudou a me sentar na cadeira de rodas e seguimos para o elevador. Chegando
no térreo, os seguranças disponíveis nos ajudaram, colocando-me no nosso carro. Feito isso, o
veículo seguiu rumo à clínica.
Após estacionar o carro, adentramos no local. Empurrando minha cadeira, mamãe falava
sobre como a academia Nikolayev Gym era luxuosa. O proprietário era um famoso ex-lutador de
boxe russo chamado Mikhail Nikolayev. Pelo tom de voz, mamãe parecia alegre a cada passo
que dava.
— Nossa, esta academia é enorme, com uma climatização excelente. Tem aparelhos de
todos os tipos e muitos profissionais auxiliando os clientes. Você vai adorar malhar aqui, filha,
quando puder andar novamente!
— Ok, mãe.
Nós nos dirigimos ao espaço onde a fisioterapeuta Ekaterina atendia, e ela nos recebeu
com muita simplicidade e simpatia. Sua voz era doce de ouvir.
— Olá, senhorita Luciana! Seja bem-vinda!
— Obrigada, doutora Ekaterina. Você foi muito bem recomendada pelo meu ortopedista —
falei.
— Ah, muito obrigada. Vamos entrar?
— Sim.
— Ah, espere só um minuto, Luciana. Vou chamar alguém para ajudá-la a se deitar na
maca. Infelizmente, meu estagiário ainda não chegou para me auxiliar.
— Ok, eu espero, doutora.
Ela saiu, e fiquei aguardando com mamãe. Algum tempo depois, a ouvi retornar e senti um
cheiro forte de cigarro, bem como um aroma de perfume amadeirado, também forte, encher
minhas narinas.
Porra, eu odeio cigarro!
— Bem, eu trouxe meu irmão para ajudar — ela se manifestou. — Dimitri, levante-a e a
coloque aqui na maca — Ekaterina solicitou, e logo pude perceber que aqueles odores exalavam
dele. — Ok — respondeu seco, o timbre da voz naturalmente grossa, áspera, chamando minha
atenção.
Ele me tocou na cintura, e senti seus braços fortes me segurando sem dificuldade ao me
levar até onde eu deveria ficar. Enlacei minhas mãos em seu pescoço enquanto abaixei minha
cabeça, e sua barba roçou em meu cabelo e em minhas bochechas. O cheiro de cigarro estava
fixado em seu hálito — sim, ele fumava mesmo, argh!
Ao me depositar na maca com cuidado, ele reclamou, irritado:
— Pronto! Agora diz para porra do seu estagiário chegar cedo! Eu tenho trabalho para
fazer nesse caralho de academia!
Arregalei os olhos ao ouvir sua má educação e rudeza, e bufei, não conseguindo conter
minha língua afiada.
— Aff! Que boca suja, hein! — repreendi em voz alta.
— Como é? Eu falo o que eu quiser, princesa, a boca é minha! Olha bem para minha cara e
veja se eu me importo! — ele retrucou incomodado, quase gritando.
— Dimitri! — envergonhada pela sua grosseria, a irmã o ralhou, chamando sua atenção.
— Seu ogro! — vociferei irritada, criando um ranço instantâneo dele.
Ekaterina se preocupou com nossa briga e explicou para ele minha situação:
— Dimitri, ela… ela está cega!
— Quê? Nossa, eu não sabia! — ele falou surpreso e um tanto arrependido, mas era tarde,
o ranço havia se instaurado.
— Aff, não quero suas desculpas! Aprenda a ser educado, limpe essa boca! — reclamei
novamente.
— Porra, você é cega, mas, além de tudo, é atrevida, não é? — ele ralhou ao dirigir a
palavra a mim.
— Meu Deus! Dimitri, saia! — a irmã dele o expulsou, num tom de voz extremamente
envergonhado.
— Arg! — em um rosnado cheio de irritação, o brutamontes saiu revoltado, fechando a
porta com força.
— Meu Deus, que vergonha! Me perdoe, Luciana! Infelizmente, meu irmão é genioso. —
Ekaterina se desculpou, e senti verdade em suas palavras.
— E de boca suja! — pontuei, revirando os olhos — Aff, odeio homem ogro! — inalei o ar
com força e o expulsei pesadamente das minhas narinas, tentando me recompor, pois,
infelizmente, meu sangue era quente para essas coisas, e minha paciência era mínima. — Tudo
bem, esquece… só não o deixe mais chegar perto de mim.
— Ok, vamos iniciar sua fisioterapia e esquecer esse ocorrido. Logo, logo você andará,
meu bem — afirmou, esperançosa.
— Assim espero, doutora.
A fisioterapia iniciou-se e durou umas 2 horas, com pequenos intervalos para descanso.
Minha mãe permaneceu na sala, em silêncio, enquanto a fisioterapeuta me instruía. Terminada a
sessão, o estagiário — que chegara bem atrasado — me colocou na cadeira, e nos despedimos de
Ekaterina.
— Luciana, você é tão esforçada! Farei de tudo para te ajudar! Te espero na próxima
sessão.
— Ok, obrigada, doutora.
Mamãe seguiu empurrando a cadeira e, ao chegarmos no carro, ela suspirou.
— Meu senhor, que homem lindo…
— Quem, mãe? — perguntei, curiosa, minha mãe não era de se manifestar desse jeito.
— O irmão da médica! — respondeu, toda animada.
Revirei os olhos e bufei, enojada.
— Aff! O que adianta ser bonito e ogro? Tenho abuso!
— Hum, sei… eu o vi te olhando fascinado ao te pegar nos braços, Luciana — mamãe
revelou, deixando-me irritada.
— Mãe, não comece! — a repreendi. — Eu não fui com a cara desse homem, apesar de
sequer enxergar! E ele ainda cheira a cigarro, eu odeio cigarro!
— Aham, tá bom — ela riu da minha cara, e fiquei pensativa pelo resto da viagem até
chegar em casa, encostando a cabeça no vidro, relembrando a discussão que tive com aquele
Shrek de voz grossa e sexy.
Infelizmente, terei de retornar à fisioterapia daqui dois dias e dar de cara com ele, e ai dele
se vir me enfrentar! Vai se arrepender de ter nascido!

DESPERTEI CEDO para iniciar mais um dia de trabalho, tomei um banho relaxante, realizei
minha higiene matinal e saboreei um café da manhã reforçado.
Aos 31 anos, ser personal trainer e CEO das academias Nikolayev Gym, fundadas por meu
pai Mikhail Nikolayev, um famoso ex -lutador de boxe, não era tarefa fácil. Ele era um russo de
50 e poucos anos e vivia na Rússia com sua quarta esposa.
Minha mãe faleceu quando eu tinha 15 anos, e eu e minha irmã, que morávamos nos
Estados Unidos, fomos morar na Rússia por um tempo, ficando aos cuidados do nosso falecido
tio Yuri, irmão mais velho de meu pai, que preferiu desfrutar de sua vida boêmia, gastando rios
de dinheiro que ganhava de suas lutas e envolvendo-se com mulheres interesseiras.
Como eu tinha uma rotina exaustiva, sempre busquei relaxar através do sexo. Na noite
anterior, me envolvi com uma mulher com quem costumava sair há alguns meses, mas ela me
irritou para caralho ao insistir em discutir sobre um relacionamento sério.
Sou filho de russo, e muitos afirmavam que éramos frios e sem coração. Em parte, eu era a
prova viva disso. Traumas do passado tornavam difíceis o meu jeito de lidar com
relacionamentos sérios, optando, hoje em dia, por evitar esse tipo de compromisso. Uma noite
intensa era tudo que eu conseguia oferecer a uma mulher, e qualquer coisa além disso me fazia se
afastar rapidamente.
Para mim, envolver-se com uma mulher era como trocar de roupa; cada dia, uma diferente.
Com minha aparência que chamava atenção — mais de 1,80 de altura, forte, cabelos loiros,
barba dourada e olhos azuis, e meu jeito rude e grosso —, eu era atraente para muitas, apesar das
reclamações. No entanto, quando estavam entre quatro paredes comigo, apreciavam minhas
características e pediam sempre bis.
Consultei o relógio e constatei que já era hora de começar o expediente. Eu costumava
abrir a academia principal com meus funcionários às 5 da manhã, as filiais estavam localizadas
em bairros próximos e em outras cidades, e sempre que possível, fazia visitas para verificar as
operações. Na matriz, também funcionava a clínica de fisioterapia da minha irmã mais nova,
Ekaterina. Após sua formatura, firmamos uma parceria comercial, e alguns de seus clientes
acabaram aderindo aos serviços da minha academia.
Pronto para encarar mais um dia, dirigi-me ao estacionamento, subi em minha Harley
Davidson e, após meia hora, cheguei ao estabelecimento. Reuni meus funcionários para uma
breve reunião sobre as demandas do dia, em seguida, segui para o escritório, começando a
monitorar os horários marcados pelos clientes.
Horas depois, enquanto dava uma tragada em um cigarro do lado de fora da academia,
minha irmã se aproximou com um sorriso cínico, indicando que provavelmente faria algum
pedido. Como esperado, ela pediu:
— Dimitri, meu fofinho, poderia me dar uma mãozinha?
— Que foi? — perguntei impaciente, baforando fumaça em seguida.
— É que o Jimmy não chegou ainda… preciso colocar uma cliente na maca — ela sorri,
nervosa.
— Aff! Ele se atrasou de novo? Ok, eu vou, é o jeito, não é? — retirei o cigarro da boca e
joguei na lixeira com raiva.
Eu estava irritado com aquele merdinha que estagiava com minha irmã. Ela, com seus 27
anos, às vezes parecia uma adolescente de 17. Já percebi que ela tinha uma queda por caras mais
jovens, e esse Jimmy, seu estagiário novinho, estava a deixando doida.
Ao chegar em sua sala, visualizei uma mulher sentada numa cadeira de rodas, vestida com
uma roupa de malha, consistente em um top e uma calça cinza, que cobria partes de sua linda
pele morena acobreada. Um par de tênis da mesma cor calçava seus pés, e seu grande cabelo
preto, liso com algumas ondas, caía como cascata até sua cintura. Seu olhar estava fixo na
parede, parecendo estar pensativa. Uma senhora bem apessoada, morena de cabelos pretos e
olhos castanhos, que aparentava ter uns 40 e poucos anos, estava ao seu lado, presumivelmente
uma parente, pois era bem parecida com ela. Ela me observava com curiosidade e sorria com
simpatia.
Quando me inclinei para pegar a mulher e pô-la na maca, ela olhou para mim rapidamente,
mas percebi seu olhar perdido. Não consegui deixar de notar o tom bronze de sua pele morena,
seu corpo esbelto e curvilíneo, marcado nessa maldita roupa de malha apertada. E, porra, seus
olhos. Lindos. Cílios grandes e espessos. O tom na cor castanho claro sobre o globo ocular um
pouco avermelhado, apesar de parecerem perdidos, roubando totalmente minha atenção.
Inferno! Ela tinha uma beleza estonteante, magnífica. Engoli em seco por alguns segundos
ao venerar seu rosto, e minha barba tocou um pouco em sua pele da face pequena e perfeita. Ela
me agarrou forte no pescoço, mas não parecia estar envergonhada, e logo depois, abaixou a
cabeça.
Ao depositá-la na maca, respirei fundo.
Nunca vi uma criatura tão bela em minha vida.
Em seguida, olhei para minha irmã e reclamei sobre a demora de Jimmy, falando uns
palavrões, já que não tinha filtro na boca. A bela mulher finalmente ergueu o rosto e me fitou,
reclamando do meu linguajar. Parecia uma dondoca, cheia de frescuras.
Iniciamos uma discussão acalorada, e minha irmã interveio, revelando que ela era cega.
Confesso que, por alguns segundos, achei estranho o fato de ela ter um olhar perdido, mas logo
caiu a ficha e fiquei chocado. Ela era linda, e apesar de estar cega, não parecia ser o tipo de
pessoa que se deixava abalar por causa de sua deficiência.
Contudo, a mulher era afrontosa e reclamona pra cacete, tudo que eu odiava!
Depois que Ekaterina pediu para que eu saísse, acatei seu pedido, e colérico, bati a porta
com força.
Coloquei as mãos na cabeça e apertei os olhos, irritado com aquela mulher misteriosa.
— Mulherzinha atrevida da porra! Me tirou do sério! — vociferei, muito incomodado. Por
alguns segundos, mirei para a porta de onde saí, querendo voltar e olhar para ela novamente, mas
desisti, balançando a cabeça. — Vou trabalhar que é melhor!
Segui para onde se encontravam meus clientes e dei atenção para alguns deles em seus
exercícios.
No entanto, a imagem dos olhos lindos daquela mulher, bem como seu temperamento
forte, não saíam da minha mente.
Espero esquecê-la logo.
NO DECORRER DA SEMANA, visitei vários médicos, incluindo psicólogos, ortopedistas,
neurologistas e oftalmologistas. Recentemente, passei por diversos exames para monitorar a
evolução da minha cegueira. Meu médico especialista informou que meus olhos ainda estavam
traumatizados, prescreveu alguns medicamentos e vitaminas, pedindo paciência para que meu
corpo se recuperasse.
Após a minha primeira sessão de fisioterapia, fiquei extremamente incomodada com
aquele homem rude. Tenho aversão a palavrões e sempre evitei pronunciá-los, principalmente na
frente da minha filha, pois desejava que ela fosse uma garotinha educada. Mas aquele russo
conseguiu me tirar do sério. Não podia acreditar que iria aturá-lo novamente amanhã.
Só esperava que ele me errasse, sinceramente. Ele era um homem intragável, e ainda fedia
a cigarro. O meu ódio já estava instaurado, e nada mudaria meu pensamento acerca dele.
No dia seguinte, levantei-me cedo, e minha mãe me ajudou a tomar banho e a me vestir.
Tomamos nosso café da manhã, ela me deu meus medicamentos, e depois partimos para a
academia de carro. Esperava ansiosamente o dia em que poderia voltar a andar e ir para lá apenas
caminhando, já que era perto.
Chegando lá, minha mãe me retirou do carro com a ajuda de um homem, e empurrou
minha cadeira enquanto rumávamos à clínica de Ekaterina. Ela nos recebeu superanimada, mas
logo percebi algo em seu tom de voz alterar, demonstrando preocupação.
— Ai, Luciana, meu estagiário não vem hoje, está doente! Preciso chamar alguém para me
ajudar a colocá-la na maca, meu amor.
— Ok, chame qualquer um, menos seu irmão Shrek — pedi, nervosa.
— Ah, amei esse apelido! — ela gargalhou. — Venho já!
Ela saiu, e, depois de algum tempo, finalmente voltou, contudo, ao respirar, senti o cheiro
do perfume daquele ogro.
— Eu não acredito! — exclamei incrédula, revirando os olhos.
— Que foi? Já está podendo me ver, reclamona? — num claro tom de deboche, Dimitri me
questionou, provocando-me.
— Arg! Nem pense em me tocar! Eu senti seu cheiro, ogro mal educado! — esbravejei,
possessa.
— Ah, Jesus! Luciana, só tem ele para te levantar, os outros estão ocupados. E ela não
pode te ver, Dimitri! — Ekaterina explicou-se, nervosa.
— Eu também estava ocupado! — ele gritou com ela, aumentando exponencialmente meu
ranço.
— Dimitri! Deixe de besteira e pegue-a agora! — ela ordenou ao irmão, que bufou alto.
Eu estava muito irritada, e mamãe tentava apaziguar.
— Filha, por favor, deixe de briga. Ele só vai te colocar na cama, ok?
— Ahhh! Ok! Seja rápido, Shrek! — exigi, irritada.
— Cacete! Você não deixa de ser atrevidinha, né? — Dimitri indagou, rugindo como um
animal irritado.
— Irmão, pelo amor de Deus! Pegue-a! — a irmã suplicou, ainda mais apavorada.
— Ok! — o ouvi bufar, mas logo me pegou da cadeira, levantando-me delicadamente, seu
perfume amadeirado infiltrando minhas narinas como se não fosse sair nunca mais.
O filho da mãe era cheiroso demais.
Segurando em seu pescoço firmemente, ergui meu rosto, imaginando como seria encará-lo
se eu o enxergasse. O ogro parecia bonito, para minha tristeza, eu podia sentir isso com o apertão
que me dava com seus braços fortes até me depositar na maca e encostar seu rosto ao meu,
deixando-me um pouco nervosa.
— Pronto, reclamona. Agora você está livre de mim — disse, irônico, mas
impressionantemente calmo.
Nem me dignei a responder, apenas virei meu rosto e cruzei os braços, ouvindo seus passos
ao sair e fechar a porta.
Depois de duas horas, terminou minha sessão, e ele veio novamente me colocar na cadeira.
Ficamos em silêncio por um tempo, e ele finalmente se pronunciou:
— Gostei que agiu educadamente hoje, ficando caladinha. É assim que mulheres de
verdade agem — ele emitiu um risinho de escárnio e me fez perder completamente a paciência.
— E você calado é um poeta! — disparei.
— Porra, você gosta de me provocar, não é? — retrucou, enfurecido.
— Aff, não me dirija a palavra, seu Shrek! — rebati.
— Meu Deus, parem! — Ekaterina pediu, claramente preocupada com nossa discussão.
— Vou voltar pro trabalho e espero que você arranje um estagiário de vergonha, Ekaterina!
Eu não vou vir tão cedo para segurar essa mulher azeda!
Escutei-o sair da sala em passos urgentes, emputecido, e a irmã ficou se lamentando.
— Dimitri! Oh, Deus, que vergonha!
— Arg, que ogro maldito! — resmunguei, enfurecida.
— Filha, não provoque! — mamãe pediu, tentando me acalmar.
— Eu não suporto esse homem grosso!
— Meu Deus, que situação! Luciana, eu vou conversar com ele para te pedir desculpas,
isso não é justo — a irmã argumentou, envergonhada.
— Não precisa, esquece.
— Infelizmente, ele é um homem difícil — Ekaterina desabafou.
— Estou com pena de você e da mulher que o suporta! — lamentei, bastante estressada.
— Ele não tem mulher, é um solteiro convicto — revelou.
— Imagino! Nenhuma deve aguentar! — observei.
— Filha, chega! Pare de se estressar — mamãe pediu novamente.
— Ok. Bom, já vamos, doutora. E, por favor, da próxima vez, nada de seu irmão me tocar!
— pedi seriamente.
— Ok, me desculpe por tudo, Luciana — Ekaterina respondeu, a voz permanecia trêmula
pela situação.
— Tá, tchau.
Eu estava puto da vida com essa mulher!
Ela me tirava a porra da paciência mais do que qualquer outra já fez comigo.
E, para completar, meu pai estava fazendo mais um de seus shows! Seu empregado me
ligou e disse que a sua quarta esposa o abandonou e ele estava deprimido, querendo se matar. Eu
teria de viajar para a Rússia hoje mesmo para acalmar os ânimos. Meu pai era complicado
demais, e só nós, seus filhos, podíamos tentar colocá-lo nos eixos. Minha missão seria o
convencer a vir morar conosco nos Estados Unidos, ainda que ele fosse relutante. Gostava de
viver em São Petersburgo, sua cidade natal.
Como se não bastasse o meu estresse, minha irmã entrou em minha sala, com os braços
cruzados, reclamando da minha briga com sua paciente cega e atrevida.
— Dimitri! Que papelão foi aquele com minha paciente? Você está doido?
— Com aquela cega atrevida? Ah, me poupe! Ela que é doida em me afrontar.
Dondoquinha do cacete, parece um cristalzinho frágil.
— Dimitri, pare! Você está sendo estúpido em suas palavras! A Luciana é uma mulher
incrível! Ela perdeu a família num acidente de carro há pouco mais de 6 meses, o marido e a
filhinha de 3 anos. Tudo isso no dia do aniversário da criança, está tentando se recuperar.
— Quê? — fiquei em choque com a informação, meu coração se apertando. — Como você
sabe dessas coisas, Ekaterina?
— O médico que me indicou ela me repassou todo o seu histórico. Ela está tentando ser
forte e não cair em depressão. Você vai pedir desculpas a ela hoje mesmo! Entendeu? — ela
respondeu, chateada.
— É melhor não… Olha, você liga e diz que eu pedi desculpas. Não quero ouvir a voz
daquela mulher — falei, relutante.
— Ah, você vai pedir desculpas a ela, sim! — Ekaterina pegou o celular do bolso e digitou
um número, e deu o celular para mim. — Peça desculpas agora, Dimitri!
— Não! — meneei a cabeça negativamente, afastando o aparelho.
— Sim! — Ekaterina empurrou o celular contra o meu ouvido, no instante em que a
ligação foi atendida.
— Alô? — ouvi a voz dela abafada.
— Oi… — falei envergonhado, num fio de voz.
— Eu… eu reconheço essa voz! — ela se tocou que era eu ao gritar em seguida: — Ahh!
O que você quer, seu brutamontes? Por que está me ligando?
— Calma! Eu liguei para pedir desculpas pelo jeito que a tratei aqui mais cedo.
— Duvido! Aposto que sua irmã te obrigou! Você não tem coragem de fazer isso, é um
metido! — Luciana falava rudemente, me fazendo perder a paciência.
— Quê? Porra, não vai aceitar minhas desculpas? — perguntei, estressado.
— NÃO! — ela gritou no celular.
— Quer saber, foi ela que me obrigou sim a te ligar! E se não aceita as minhas desculpas,
que se foda! — explodi, perdendo a paciência.
Enquanto discutíamos feio, xingando um ao outro, minha irmã tentava tomar o celular de
mim, e eu a segurei pela outra mão, impedindo-a.
— Dimitri, pare! — Ekaterina gritou, tentando me conter.
— Seu Shrek! — Luciana gritou do outro lado da linha.
Não me dei por vencido e decidi provocá-la:
— Hahaha, se você pudesse me ver, não diria isso, princesa! As mulheres deliram por
mim!
— Aff, eu tenho ranço de você! — ela rebateu, furiosa, falhando em seu sotaque.
— Ok! Não se preocupe, pelos próximos 3 ou 4 meses você não ouvirá a minha linda voz,
reclamona!
— Amém! Deus ouviu minhas preces!
Após ela responder cheia de deboche, desliguei em sua cara e entreguei o celular para
minha irmã, bufando de raiva.
— Toma!
— Oh, Cristo! Vou perder a paciente por sua causa, Dimitri!
— Vai nada!
— Escuta, que história é essa que Luciana não vai ouvir sua voz por meses? Você vai
viajar, irmão? — me questionou curiosa, e expliquei a ela o motivo, sobre a depressão de nosso
pai e ela se preocupou. — Ai, meu Deus, então deixe que eu vou, tenho mais paciência.
— Não. Você está trabalhando muito e tem que cuidar de seus pacientes. Eu vou colocar o
papai nas rédeas e, se possível, trazê-lo para cá, nem que seja amarrado!
— Misericórdia! Então tá. Vou cuidar dos meus pacientes, hihi… Principalmente da
Luciana — ela enfatizou o nome da cega atrevida, dando um sorriso cínico.
— Por que esse hihi? — inquiri irritado, com as mãos no quadril.
— Sei que você se preocupa um pouco com ela, por isso não quer que eu vá! — minha
irmã respondeu, curvando os lábios.
— Quê? Ficou maluca? Eu tô pouco me lixando pra essa mulher, essa americana doida do
cacete!
— Ela não é americana, maninho.
— Como, Ekaterina? — indaguei, franzindo o cenho.
— Ela é brasileira — minha irmã respondeu, tecendo elogios. — Ai, ela é tão linda, não é?
Notou aquele corpo e aquele rosto perfeito?
— Não percebi nada, Ekaterina! — desconversei, mas sim, eu percebi muito, percebi tudo
naquela filha da mãe linda!
— Tão mentiroso! — ela gargalhou da minha cara, me irritando ainda mais.
— Vá à merda com suas insinuações, Ekaterina! Argh, vou trabalhar!
— Aham!
— Sua babaca! — vociferei, passando a mão em meu cabelo penteado para trás e ela saiu
da minha sala, fechando a porta em seguida, mas não sem antes mostrar aquela carinha
brincalhona com seu sorrisinho debochado.
Pus as mãos na cabeça, e a imagem de Luciana estava impregnada em minha mente. E
droga, eu precisava fumar!
Brasileira. Aquela maldita era brasileira. Estava explicado, as mulheres brasileiras eram as
mais lindas do mundo…, mas por que ela tinha que ser tão insuportável? Bem, não importava,
logo eu viajaria e a esqueceria rapidinho.
NO MESMO DIA, consegui um voo para a Rússia, e antes de ir, deixei meus três gerentes
responsáveis por tudo que ocorreria nas academias. Me despedi de minha irmã, já que estava
passando um tempo em seu apartamento enquanto não procurava um e segui para o aeroporto.
A viagem foi cansativa, demorou horas, mas finalmente cheguei em São Petersburgo.
— Voltei, terra natal — falei em russo.
Peguei um táxi e fui até o local que costumava ir sempre que vinha para a Rússia: O
Cemitério de Volkovo.
Ao passar em uma floricultura ali perto, comprei um lindo buquê de flores vermelhas e
prossegui até a cova onde estão enterradas as pessoas que mais amei em minha vida, lendo
sofregamente o que estava escrito na lápide de mármore escuro.
“Aqui jaz os corpos de Nastya Odnovol Nikolayev e Svetlana Odnovol, filha e mulher
amada”
Algumas lágrimas caíram de meus olhos e fitei o céu, numa tentativa de contê-las. A dor
da perda até hoje dilacerava meu coração…
— Sempre amarei vocês, meus amores… estejam onde estiverem… — murmurei e
depositei as flores sobre o mármore frio, depois me levantei e rumei para a mansão do meu pai.

MANSÃO NIKOLAYEV

Ao chegar na mansão, os seguranças permitiram minha entrada e, percorrendo o caminho


da grama bem cortada, segui até a área de lazer. De longe, vi Mikhail Nikolayev vestido apenas
com uma bermuda amarela estampada de flores brancas, deitado numa cadeira de praia branca na
beira da piscina, tomando sol e lendo um livro.
Sua pele estava extremamente bronzeada e ele parecia um frango assado.
— Papai! — ao falar seriamente, ele se assustou e olhou para mim.
— DIMITRI? Filho! O que faz aqui? — questionou, ao se sentar e me fitar com
nervosismo.
— O de sempre! Meter juízo nesse seu cérebro de merda! — respondi, impaciente.
— Você não limpa essa boca, não é, rapaz? — ele reclamou, balançando a cabeça,
inconformado.
— Não! Me avisaram que o senhor está com depressão, se entupindo de remédios por
causa da vadia que te enganou, uma garota de 22 anos! Porra, vê se cresce! — vociferei, sem
filtro.
— Não grite comigo, seu atrevido! Eu ficarei bem… Não precisava ter vindo.
— Ah, é mesmo, papai? E ficar surtando em outro continente por sua causa? O senhor vai
arrumar a porra das suas malas e vai vir comigo para a América! Estou cansado de ser sua babá!
Eu tenho trabalho a fazer!
— Eu não piso naquele país! Perdi minha esposa lá — argumentou num tom triste, ao
relembrar o passado.
— A culpa foi sua! — com meu dedo em riste o acusei, tomado pelo rancor. — Minha mãe
poderia estar viva se não fosse seus vícios e seus erros, mas isso não importa mais. Ela morreu,
se foi, não tem volta…
— Você se tornou um homem muito frio, meu filho, depois que Svetlana…
O interrompi, aos berros.
— Não quero falar sobre isso! Vamos ter uma conversa séria, de homem para homem, e o
senhor vai para a América sim comigo, nem que seja amarrado e sedado!
— Isso nunca! — rebateu, também gritando.
Olhei friamente para ele, com o nariz empinado e avisei:
— Veremos, senhor Nikolayev!
4 MESES DEPOIS

DESDE QUE AQUELE OGRO SUMIU, senti uma espécie de "falta" dele.
E, é claro, só podia ser loucura!
Parecia que quando odiávamos uma pessoa, pensávamos nela mais do que deveríamos, e
isso, infelizmente, estava acontecendo comigo. Minha mente, todos os dias, pensava na voz de
Dimitri, com seu jeito arrogante e abusado de ser.
Sua irmã me disse que ele foi cuidar do pai que estava com depressão, e que demoraria uns
meses para voltar. Encenei um certo alívio, mas algo em mim sentiu falta dele e de suas brigas
comigo. Só me encontrei com esse homem, o qual não posso ver, duas vezes e fiquei mexida
com seu jeito.
E Dimitri tinha tudo que eu odiava em um homem, TUDO!
Para completar, minha mãe ficava com conversinhas de que ele gostou de mim, por isso
implicava tanto comigo, mas acho que era loucura da cabeça dela.
Nos odiamos e ponto final!
Durante esses meses, me esforcei muito, mas muito mesmo, e, finalmente, recuperei o
movimento integral das minhas pernas. Passei algumas semanas andando de muletas, e agora
conseguia andar plenamente. Às vezes, sofria com dores e um formigamento, mas já me sentia
bem melhor, podia sentir meu corpo se curando.
Por outro lado, consegui o direito a ter um cão-guia, após ter meu pedido deferido em uma
entidade especializada que os treinava para auxiliar cegos na região de Nova York. Pandora era
uma linda labradora fêmea que chegou em minha vida, me possibilitando ter uma perspectiva de
um futuro melhor. Ela era uma cachorra muito simpática e obediente, e minha rotina tem
melhorado muito ao seu lado.
Meu pai viera me visitar de novo, ficando algumas semanas comigo e mamãe, que ao
escolher permanecer ao meu lado, cuidando de mim feito um bebê, fez o meu velho retornar
mais cedo que o esperado ao Brasil, uma vez que os supermercados não poderiam ficar sem suas
supervisões, ele era a alma e os pulmões da rede, tudo funcionava bem quando ele estava por
perto.
A família do meu falecido marido vinha sempre me visitar, e quando isso acontecia,
chorávamos muito. Parecia que a cicatriz em meu peito estava sempre aberta, e cada vez que
falávamos ou lembrávamos de Roger e Sofia, a tristeza aumentava e eu caía num quadro terrível
de depressão. Tanto que decidi, num rompante, evitar vê-los para não falarmos mais sobre o
acidente, nem sobre meus anjos que se foram e tentei focar na minha vida de cega.
Já com amigos mais íntimos, os colegas de escritório, eu falava somente ao celular, poucas
vezes. Oscar tinha praticamente sumido, Cristina estava casada com outro homem, morando do
outro lado do mundo e Raymond estava na Austrália, com sua família, pois seu pai estava muito
doente. De toda forma, eu não era mais a Luciana de antes, aquela que saía para jantares e
eventos animados. Não me sentia à vontade para passear com ninguém e me fechei no meu
mundo, somente eu e minha escuridão.
Estava sendo muito difícil fazer tudo que eu fazia antes, sem poder enxergar nada. Estava
participando de um grupo de apoio para cegos, que vinha me ajudando muito e me dando dicas
de como me virar no dia a dia com essa limitação. Esperava dar a volta por cima, e eu daria.

Hoje iniciaria mais uma semana de fisioterapia, e segui à academia acompanhada de


Pandora. Mamãe insistiu em vir e eu deixei, mas seria a última vez. Queria poder fazer as coisas
sozinha e resgatar minha independência, não seria uma cegueira que pararia minha vida.
Como minha audição ficou supersensível, podia escutar os mais diversos sons e ficava
impressionada como o nosso corpo se adaptava em meio a tantas mudanças. O tato também ficou
mais sensível, e o olfato nem se fala.
Contudo, queria aprender a andar sozinha e ser independente nessa nova fase da minha
vida. Ter em mente que ela não podia parar, apesar da escuridão de traumas que me cercavam.
Cheguei na academia e Ekaterina veio me abraçar.
— Oi, linda! Ai, amei seu cabelo solto! Você é tão linda! Venha, vou te apresentar o seu
personal trainer!
— Obrigado, Ka! Você é maravilhosa!
Como estava precisando fortalecer meu corpo, depois de tanto tempo parada, Ekaterina me
recomendou um personal trainer muito bom da academia, especialista em pacientes que estavam
superando acidentes e tinham necessidades especiais. Nas últimas semanas, nos tornamos
grandes amigas e ela sempre se comunicava pelo celular e falava sobre seu novo romance com
um veterinário.
Em relação ao seu irmão ogro, ela havia falado semanas atrás que ele continuava na
Rússia, sem data certa para voltar.
Espero que não volte nunca mais, aquele boca suja.
Em seguida, ela me apresentou Alonso e ele me parecia ser muito simpático e
educado. Deixei Pandora num local específico para animais, perto de mim e, depois das devidas
apresentações, iniciamos os treinos, que ocorreriam por 1 hora e meia, e depois aumentariam a
frequência de tempo conforme minha evolução.
Alonso pediu para que eu fizesse alguns exercícios no tronco e nos braços. Depois, me
sentei numa cadeira e realizei exercícios na região abdominal. Confesso que estou morta, mas
queria ter meu físico de volta.
Sem aviso, uma voz grave sussurrou ao meu ouvido, seu hálito quente carregado de notas
mentoladas arrepiando minha pele sensível no lóbulo da orelha.
Era a voz do maldito ogro cheiroso.
— Luciana.
Interrompi imediatamente o treino, virando o rosto na direção da voz.
— Dimitri? — exclamei seu nome, sentindo o perfume amadeirado invadir minhas narinas.
Droga, mesmo o odiando, não posso negar que adoro seu perfume.
— Olá, reclamona. Agora está malhando na minha academia, não é? — perguntou de
forma arrogante, fazendo-me empinar o nariz em resposta.
— Por acaso sou proibida de pisar aqui?
— Não, fique à vontade — respondeu em tom amistoso. — Minha irmã me disse que você
está andando! Isso é muito bom.
— Pois é, agora só falta minha visão — cruzei os braços, exibindo um sorriso sem dentes.
— Torço por isso, pois quando ela voltar, você limpará a vista ao me ver — afirmou,
presunçoso.
— Aff! Você se acha, não é, seu ogro?! — grunhi, irritada.
— Nossa, já começou, esquentadinha? Estava sentindo falta de brigar comigo, não é? —
seu questionamento soou brincalhão, e isso me enfureceu.
Levantei-me irritada, encarando-o mesmo sem enxergar. Dimitri era alto, notei isso quando
meu rosto raspou na camisa de seu peitoral duro. Pus as mãos na cintura, enfezada com esse
russo provocador, manifestando minha opinião:
— Escute aqui, senhor Dimitri, em nenhum momento senti sua falta. Você é um ser
desprezível para mim! Além de ser um ogro, mal educado, boca suja e que fede a cigarro! Jamais
olharia para você, mesmo se eu enxergasse! E, por favor, não me dirija mais a palavra, me erre!
— empurrei-o, indo até minha cachorra, peguei-a e saí andando rapidamente. No entanto, ele me
puxou pelo braço e sussurrou em meu ouvido, todo convencido:
— Você é tão mentirosa.
— Me solte, seu abusado! — exigi, tentando me desvencilhar de seu agarre. Porém, o
safado não se deu por vencido, falando bem perto do meu rosto com a voz enrouquecida e sexy.
— Um dia, você vai se arrepender de suas palavras, Luciana! Vai correr atrás de mim e me
pedir desculpas! — garantiu, gargalhando posteriormente com desdém.
— Idiota! — exclamei, puta da vida e o ouvi sorrir ao me soltar. Saí enervada de sua
academia, puxando Pandora e voltando para onde estava minha mãe. — Vamos, mamãe!
— Meu Deus, filha, o que houve?
— Aquele russo, filho de uma… Ahhh! — a vontade de bradar um palavrão me acometeu,
mas me contive.
Mamãe começou a rir da minha cara e comentou:
— Já está nervosa de novo? Hum, eu vi o Dimitri chegando e ele veio me perguntar onde
você estava.
— Eu não acredito que a senhora falou! — meneei a cabeça com raiva.
— Falei! Qual o problema, filha? Olha, sinceramente, eu acho que ele está caidinho por
você — declarou mamãe, com uma gargalhada e continuou num suspiro que me irritou ainda
mais. — Ah, ele parece o clone do Charlie Hunnam… que homem lindo!
— Aff, vamos para casa, quero deitar na cama. Esse homem estragou meu dia!
— Sei… — mamãe sorriu mais uma vez e revirei meus olhos, em descontentamento.
No fundo, eu não ligava para a risada da minha mãe, mas sabia de suas intenções.
Ela teimava que Dimitri estava afim de mim, só podia estar maluca!
Por fim, prosseguimos para o apartamento e esperava ter o resto do dia em paz.
DEPOIS QUE VOLTEI para a América, consegui convencer meu pai a vir comigo, e o deixei
na casa de Ekaterina, até arranjar um local para ele se estabelecer.
Decidi ir para a academia, dar uma olhada no movimento e, ao entrar, vi a mãe de Luciana,
que, ao me notar, ficou toda sorridente e sem jeito.
— Olá, senhora… o que faz aqui? — questionei, mesmo sabendo da resposta.
— Ah, olá, lindo. — ela estendeu a mão. — Trouxe Luciana para fazer exercícios, ela está
no térreo do outro lado. — Dona Mirian enfatizou, dando um sorrisinho cheio de intenções e eu
balancei a cabeça, sorrindo de volta.
— Ok, vou lá… dar um oi — respondi cínico, mas isso só a deixou mais sorridente, e
prossegui até onde a brasileira estava. A visualizei sentada na máquina, fazendo exercícios com
os braços.
E, porra, ela estava tão gostosa, vestindo uma calça de malha e um top abraçando aquele
corpo esbelto e delicioso, em sua pele morena bronzeada, os cabelos pretos bem maiores, soltos
feito cascata em suas costas, parecendo uma linda sereia me atraindo como um imã até seu
encontro.
Confesso que durante esse tempo que estive fora, ela não saiu dos meus pensamentos e eu
fiquei agoniado para voltar e revê-la novamente…
Mordi meu lábio inferior, ficando doido para atazaná-la, e depois de chegar mais perto e
sussurrar em seu ouvido, provocando horrores, começamos a discutir numa troca de farpas.
Luciana me olhou com surpresa e irritada de início, mas algo em meu íntimo me dizia que ela
ficou satisfeita com a minha volta. A forma como seu busto subia e descia rapidamente, numa
respiração ofegante e o jeito como mordeu o lábio e o umedeceu, denunciou tudo isso.
Depois que ela foi embora, eu coloquei as mãos na cabeça e fiquei sorrindo. Queria
entender por que adorava provocar aquela mulher…
Aquilo era inédito em minha vida.
Confesso que vê-la andando de forma independente com seu cão-guia aqueceu meu
coração. Ela me parecia ser uma mulher obstinada e persistente, apesar de ter restado apenas ela
no trágico acidente, quebrada e cercada pela escuridão, que não existiam apenas em seus
acastanhados olhos tristes, mas também em sua alma.
E isso me deixava, de certa forma, encantado.
Segui até a sala de Ekaterina, e me pronunciei, contente:
— Olá, irmã, voltei!
— Dimitri! — exclamou meu nome alegremente, vindo me abraçar forte. — O papai me
ligou quando você saiu de casa, estou tão feliz que voltaram! Me conte as novidades!
Após sentarmo-nos nas cadeiras disponíveis, narrei sobre tudo o que aconteceu, até chegar
no assunto de Luciana.
— Bom, acabei de trombar com Luciana, discutimos feio. Oh mulherzinha azeda! —
reclamei, sacando um cigarro da carteira que estava em meu bolso da calça, colocando-o na
boca.
— Vocês não se batem, não é? — perguntou minha irmã e sorri.
— Eu não a suporto, isso sim! — afirmei, ao acender o isqueiro e dar a primeira tragada.
— Sei… — Ekaterina arqueou uma sobrancelha, demonstrando não acreditar em minhas
palavras.
Continuei a falar, contando sobre a viagem e como convenci papai a voltar para cá, depois
pedi-lhe um favor:
— Mana, você pode encontrar um bom apartamento para mim, próximo daqui? Estou sem
tempo e sei que você é ótima nisso.
— Claro, pode deixar! — Ekaterina piscou o olho e esboçou um sorrisinho bem animado,
parecendo que vai aprontar algo, o que me deixava incomodado.
— Pelo amor de Deus, encontre algo decente — pedi seriamente.
— Ok, vou me empenhar em encontrar um que você irá amar, Dimitrinho — prometeu,
mordendo o lábio e se levantando para atender o celular.
Espero que minha irmã não apronte comigo…
AS HORAS SE PASSARAM rápido e decidi sair mais cedo para ver meu pai.
Eu o havia deixado aos cuidados de uma empregada e ele nem perdeu tempo, já ficou todo
saliente, perguntando se ela tinha namorado. Apesar de ter 50 e poucos anos, ele era um coroa de
cabelos platinados meio grisalhos e olhos azuis claros, com tudo em cima. Papai prezava pela
sua beleza e sempre foi muito cuidadoso com seu físico, sua pele clara foi substituída por uma
cor bronzeada, devido às várias sessões de bronzeamento artificial que fazia mensalmente.
Sempre gostou de lutar boxe e fazer exercícios, além de ser um sedutor incorrigível.
Ao adentrar no apartamento, notei que continuava a flertar descaradamente com a pobre
empregada, que só sorria de forma envergonhada, então decidi lhe dar um sermão:
— Papai, crie vergonha, a empregada é casada! Se manque, homem! Por que não procura
uma mulher madura e mais racional? Você só quer novinhas loucas e interesseiras! — o
repreendi, super irritado.
— Eu estou velho, não obsoleto, Dimitri! Tenho meu charme e acredito no amor, diferente
de você, que já deveria ter se casado e tido muitos filhos! — soltou a indireta, me encarando de
olhos apertados.
— Deus me livre! — estalei a língua com desdém e balancei a cabeça em negativa. —
Estou muito bem solteiro, obrigado. Agora vamos tomar os remédios que o médico passou!
— comandei, sem muita paciência.
— Ok, seu menino malcriado! Esse mau-humor é falta de mulher! — papai retrucou.
— Ah, cala a boca, pai! Isso eu tenho a hora que eu quiser, vamos!
Levei-o até a cozinha e ministrei seus remédios. Depois de algum tempo jogando xadrez,
ele bocejou.
— Estou com sono, filho.
— É o remédio calmante, vá dormir. Amanhã o senhor acordará mais disposto e vai
passear com Ekaterina, pai.
— Oh, não vejo a hora de ver minha caçula! Bom, vou me deitar, filho.
— Ok.
Depois disso, me deitei no sofá e dei uma olhada na minha lista telefônica.
Hoje eu iria transar com alguém, estava cheio de energia e precisava extravasar.
Liguei para uma mexicana que eu tinha alguns lances, e ela aceitou na hora minha
proposta. Carmencita era uma safada escandalosa e adorava gemer em espanhol. Embora fosse
linda e atraente, eu não tinha sentimentos amorosos por ela nem por ninguém. Só satisfazia
minhas necessidades, sempre de forma consensual. Meu coração estava fechado para visitação,
já joguei a chave fora há muito tempo.
Horas depois, cheguei do motel. Já era madrugada e entrei no apartamento enorme de
minha irmã, que foi de nossa mãe. Fui para o quarto de hóspedes, retirei as roupas que me
cobriam o corpo, jogando-as em cima de uma cômoda e me deitei na cama, exausto. Aquela
mexicana me deu um chá, mas quem deixou ela toda quebrada fui eu, ou eu não me chamo
Dimitri Nikolayev.

UMA SEMANA DEPOIS

Depois de ir com minha irmã olhar um apartamento, que ficava a alguns passos da
academia, fiquei supersatisfeito. O cômodo consistia em dois quartos suítes, cozinha, banheiro
social, sala de estar ampla e aconchegante, uma lavanderia logo depois da cozinha, e uma
varanda com uma bela vista para os arranha-céus da cidade.
— Ai, eu amei esse apê para você, irmão! — Ekaterina deu pulinhos de alegria.
— Realmente, eu também adorei, Ekaterina. Vou falar com o locador agora e amanhã
mesmo farei a mudança.
— Ok! Quando eu o encontrei, achei a sua cara!
— Obrigado, irmã, você realmente sabe dos meus gostos.
— Ah, eu sei sim… — disse convencida e piscou o olho.
Algo em suas palavras me deixou desconfiado, mas deixei essa sensação estranha de lado,
pois realmente estava satisfeito com a escolha do imóvel. Ele era prático demais, próximo do
meu local de trabalho e tinha um espaço incrível, onde eu poderia dar umas festinhas para meus
amigos e ter muitas noites de prazer com as mais variadas mulheres na minha cama.
Saímos do apartamento após falar com o dono do imóvel, e depois de toda a burocracia,
paguei o aluguel e peguei a chave. No dia seguinte, fiz a mudança e me instalei nele.
Ao me deitar na cama, decidi ouvir meu estilo musical preferido: rock. Coloquei "Sweet
Child O'Mine", dos Guns N’ Roses, bem alto, e, como um bom russo, comecei a beber vodka na
boca da garrafa.
— Ohh ouooooooo! Sweet Child O'mineeeeeee! — entoei alto o refrão da música,
balançando a cabeça para cima e para baixo. Num dado momento, em uma parte da letra,
lembrei-me de Luciana sem querer.
“Às vezes, quando eu vejo seu rosto
Ela me leva para aquele lugar especial
E se eu olhasse por muito tempo
Provavelmente perderia o controle e choraria”
— Ahhh, reclamona filha da mãe! Por que você tinha que ser tão linda, hein? — grunhi,
pensando naquela cega atrevida que fazia meu corpo queimar e os palavrões escaparem de minha
boca toda vez que a via.
O dia havia sido exaustivo, o que me deixou estressada. Percorrer as ruas do bairro Upper
West Side não foi fácil. Apesar de Pandora ser um cão-guia excelente, tentar caminhar na
escuridão era um martírio. Eu impunha à minha mente que enfrentaria aquele obstáculo, por mais
percalços que tivesse. Afinal, o que não me matava, me fortalecia.
Realizei algumas consultas médicas num hospital próximo para me certificar do meu
estado geral de saúde, e tudo parecia bem, exceto minha visão. Segundo o oftalmologista,
poderia voltar logo ou não, dependendo do tempo que os medicamentos reagiriam em meu
organismo.
Chegando em meu apartamento, que ficava no primeiro andar do prédio, percebi que
alguém se mudou para o apartamento do lado, devido à música altíssima que estrondava do
cômodo, ecoando pelo corredor.
— Aff, era só o que me faltava! — falei e revirei os olhos, perscrutando a madeira da porta
devagar, até conseguir enfiar a chave na fechadura.
Adentrando em meu apartamento com Pandora, fechei a porta. Tateando os móveis, que já
estavam facilmente memorizados em minha mente, após mamãe ter me ensinado onde se
localizava cada um, a coloquei perto do sofá, onde se encontrava sua caminha e sua comida com
água, e fui trocar de roupa, andando devagar com as mãos erguidas até meu quarto, evitando
trombar em alguma parede ou móvel. Minha mãe havia viajado para o Brasil por alguns dias
para visitar meu pai, mas voltaria em breve. Como ela se preocupava demais comigo, havia
contratado uma diarista para limpar o apartamento quatro vezes na semana, o que me auxiliava
bastante.
Depois de tomar banho, me enrolei no roupão que estava pendurado na porta do banheiro,
como minha mãe havia deixado para mim, e me deitei na cama para finalmente descansar,
porém, estava difícil.
O novo vizinho parecia querer explodir meus tímpanos!
Soltando o ar com fúria, peguei meu celular, que sempre deixava embaixo do travesseiro, e
disquei o número cinco da chamada rápida que mamãe havia salvo para alguma emergência,
ligando diretamente para o síndico para tecer minha reclamação.
— Esse vizinho novo está ouvindo música num som estrondoso! O senhor realmente quer
que eu o denuncie por perturbação do sossego alheio? Eu sou advogada! — ameacei, e o síndico
explicou que conversaria com o inquilino e, envergonhado, pediu desculpas.
— Ok, espero que ele baixe esse som, senão eu vou até lá e faço um escândalo! Eu preciso
descansar!
Depois de vários pedidos de desculpas, o som foi abaixado uns vinte minutos depois, o que
me causou um certo alívio.
— Só posso ter jogado chiclete na cruz! — murmurei irritada e me enrolei no edredom,
onde finalmente peguei no sono.
A semana havia se passado rápido. Em busca de minha independência, procurei um
cursinho de Braille, que consistia em um sistema de escrita e leitura tátil para pessoas cegas e,
sem pensar duas vezes, fiz minha inscrição. Estava começando a me adaptar a esse novo mundo
e queria aprender tudo que eu podia. Como sempre fui curiosa e estudiosa, buscando decifrar
tudo à minha volta, sabia que logo dominaria a leitura em Braille.
Era fim de semana, e após jantar uma deliciosa comida árabe que pedi por delivery, decidi
ir dormir. Como de costume, tateei todo o percurso do quarto até o banheiro, fiz minha higiene,
tomei banho, me enrolei no roupão e me deitei na cama com tudo, de costas.
— Ah, vou deitar nessa cama deliciosa. Meu dia foi perfeito hoje! — gemi
preguiçosamente ao me enroscar no edredom, sentindo o frio do ar condicionado raspar em meus
pés, causando uma sensação deliciosa.
Jurei que dormiria rapidamente, entretanto, de certa forma, eu estava redondamente
enganada. Gritos e gemidos altos de prazer reverberaram na minha parede, o que parecia ser de
uma mulher gritando em espanhol.
“Vai cabron, ah, folla-me mucho!”[1]
— Meu Deus! — boquiaberta por compreender do que se tratava, levei minhas mãos à
boca e reclamei: — Que safadeza! Não sabem nem disfarçar! Povo safado!
Contudo, não obstante eu estar possessa por estarem dificultando meu sono, minha mente e
meu corpo ficaram desejoso pela falta sexo.
Desde que perdi meu marido e fiquei cega, nunca me permiti conhecer um homem, nem
que fosse somente para transar casualmente. Preferi viver no luto e me cuidar.
Acho que jamais irei amar outro homem na minha vida. Talvez daqui há algum tempo, eu
só queira um sexo sem compromisso, pois eu adorava, nunca deixava meu marido em paz, mas,
relacionamento sério, jamais!
Me sentei na cama e tapei os ouvidos, dominada pela irritação. Perdi meu sono e continuei
ouvindo o espetáculo que perdurou madrugada adentro.
Após o cabaré acabar, andei até a sala e decidi me deitar no sofá enquanto alisava a cabeça
de Pandora e, sem querer, me lembrei daquele ogro dos infernos.
Arg! Sai dos meus pensamentos criatura!
Depois, às 4 da manhã, consegui dormir bem, mas acabei acordando tarde e perdendo o
treino na academia.
— Ai, meu Deus, perdi a hora! Tudo culpa desse vizinho, ou vizinha filha da mãe! Mas eu
não vou deixar barato! Se me incomodarem novamente, eu vou lá fazer um barraco! — prometi
para mim mesma.
Se queriam guerra, iriam ter. Isso estava em meu sobrenome e eu não fugiria de uma!
MAL COMECEI A MORAR nesse prédio e uma vizinha azeda já veio reclamar do barulho do
meu som.
Hahaha, imagine quando escutar as mulheres gritando na minha cama… vai pirar!
Pretendia residir ali por alguns meses, até poder frequentar minha casa, que estava em
construção num bairro próximo. Como eu havia comprado recentemente um terreno naquele
perímetro, contratei um arquiteto para desenhá-la ao meu gosto, já que eu não curtia morar em
prédios, e enquanto não ficasse pronta, moraria em apartamentos temporários.
Com o intuito de relaxar, eu daria uma festinha hoje e chamaria algumas gatinhas para
animarem a casa. Liguei para alguns amigos meus, e os convidei também. Lá pelas 10 da noite,
começamos a ouvir música alta, hip-hop e rap, umas três mulheres dançavam sensualmente, só
de biquíni, e eu e dois caras tomamos cerveja enquanto conversamos sobre nossas vidas. Mas eu
tinha plena consciência de que em poucas horas rolaria uma orgia em meu apartamento.
Um pouco mais tarde, notei meu corpo bem afetado pela embriaguez, e decidi dar uma
parada. Coincidentemente, escutei batidas insistentes esmurrando a porta. Uma menina que eu
estava agarrando se dispôs a abrir e logo veio me chamar, dizendo que minha vizinha estava lá
fora, reclamando e ameaçando chamar a polícia.
— Aff! Vou lá — me levantei, cambaleando do sofá e, ao chegar na porta, tomei um baita
susto. — LUCIANA? — exclamei seu nome, incrédulo ao vê-la.
— Quê? — ela arregalou os olhos perdidos, ao se dar conta da minha voz. — Eu não estou
acreditando que você é o meu vizinho — balançou a cabeça várias vezes em negação. — Ahh,
que ódio! — esbravejou, raivosa.
Sem aviso, iniciamos uma discussão acalorada, mas meus olhos indecentes logo captaram
que ela estava vestindo apenas uma camisola de seda, mínima e sensual, com as alças
escorregando pelos ombros, exibindo um sinal no pescoço que a tornava ainda mais interessante.
Varri cada centímetro do seu corpo sem cerimônia. A tonalidade da pele dessa mulher — uma
morena clara levemente bronzeada, com uma figura espetacular, os seios cheios e empinados e
cabelos pretos caindo como uma cascata até sua cintura fina — era completamente excitante.
— Seu ogro! — ela exclamou, impaciente. — Eu preciso dormir! Respeite o sono dos
outros! Você veio morar aqui de propósito, não foi? — Luciana me questionou de maneira
agressiva.
— Não! Foi a Ekaterina que me indicou este lugar! Se eu soubesse que você morava aqui,
jamais teria vindo! — afirmei, embora soubesse que, no fundo, eu estava mentindo.
Eu teria vindo sim...
— Meu Deus, então foi coisa dela! Eu havia comentado que o apartamento ao lado estava
vazio. Ah, a sua irmã irá ouvir poucas e boas quando eu a encontrar! — ela se lamentou, com as
mãos no quadril, descontente.
Diante do semblante chateado dela, não consegui conter o riso.
— Como minha irmã é safada, não é? Confesso que também estou chateado, mas ela
insiste em dizer que formamos um belo par, sabia? — Ao ouvir minhas palavras, ela bufou,
revirando os olhos, e então arrisquei tocar sua bochecha. — A propósito, você está irresistível
com essa camisola minúscula, Luciana.
Num tom sedutor, murmurei, mantendo a rouquidão e maciez em minhas palavras. No
entanto, ela deu um tapa na minha mão, dando um passo para trás, ficando vermelha de raiva ao
gritar:
— Não me toque mais, Dimitri! Eu quero que pare com esse tumulto agora! Sabe que perdi
o treino na academia hoje por causa do seu comportamento ontem! Fui dormir às 4 da manhã,
seu safado!
— Hum, então você estava me ouvindo… trepar… — provoquei, soltando um risinho de
escárnio.
— Eu não ouvi nada, seu cachorro! — ela negou com voz trêmula, ficando nervosa.
— Aposto que ficou excitada, não ficou? — gargalhei, insistindo, enquanto meus olhos
atentos examinavam todo o seu corpo.
Sem aviso, ela diminuiu a distância entre nós, passou as mãos pelo meu peitoral devagar,
subindo. Seu toque inesperado fez minha pele queimar, me excitou, me endureceu. Por um
momento, pensei que Luciana estava tentando me seduzir, mas, ao tocar meu rosto, ela desferiu
um tapa ardido, deixando-me furioso.
— Sua louca do caralho! Isso doeu! — berrei, massageando minha bochecha ardida.
— Isso é para você aprender a me respeitar! Não sou suas vadias, seu russo safado! E eu
não tenho medo de homem, fique sabendo! — Com o dedo em riste ao meu peitoral, ela
despejou suas palavras.
— Atrevida da porra! — retruquei num grito, sem me importar com o barraco que
estávamos formando a esta hora da noite.
— Seu ogro! — ela rebateu, mostrando os dentes como um animal enfurecido.
Furioso e excitado, avancei para cima dela e a prensei na parede do corredor. Ela tentou se
desvencilhar, mas prendi seus pulsos na parede. Ela ergueu o rosto, mesmo sem poder ver,
fitando-me com raiva. — Solte-meee! — exigiu, aos gritos, se debatendo, os seios pulando,
quase saindo da camisola, mas meu olhar demorou-se na perfeição de seu semblante, eu estava
intoxicado de desejo por aquela mulher danada.
— Não! — Me recusei e, cedendo ao desejo, fiz uma proposta ousada: — Escuta… se você
quiser, eu mando essas pessoas irem embora e podemos curtir só nós dois… o que acha? —
sugeri, todo sedutor, tomado pela embriaguez, louco para tê-la em minha cama.
— Sabe o que eu acho? Que você está louco para levar outro tapa na cara, seu ordinário!
Me solte, ou eu grito mais alto! — ela ameaçou, rosnando entre dentes, mas percebi que, no
fundo, ficou tentada pela minha proposta indecente. O nervosismo em seu tom de voz e a
respiração ofegante a entregavam completamente.
— Luciana, deixe de se fazer de doida! Eu sinto que você é afim de mim… e eu
confesso… você é tão irresistível… Eu tenho uma queda por brasileiras, apesar de nunca ter
ficado com uma…
Ela engoliu seco, mostrando sem querer seu nervosismo, e falou, toda bruta:
— Está enganado! Eu te odeio e jamais ficarei com você! Você está fedendo a cigarro,
bebida e mulheres sujas! E eu exijo que você me solte, ou eu vou à delegacia e te denuncio por
assédio sexual a uma mulher cega e incapaz de se defender!
— Sua doida! — exclamei, impaciente. — Se você pudesse enxergar, pularia em cima de
mim, isso sim... e eu não hesitaria em te dar uma surra de cama que te faria gritar mais do que
aquela mexicana! — provoquei, sussurrando em seu ouvido.
— Ahh! — ela me empurrou com toda força e ficou com os braços erguidos, tocando na
parede até chegar em sua porta.
Antes de entrar, ela me ameaçou:
— Acabe com sua festinha ou eu faço você ser despejado daqui, Dimitri!
Após seu ultimato, Luciana entrou e fechou a porta com força.
Com o coração acelerado como o de uma mocinha virgem, permaneci fitando a porta por
alguns segundos, com vontade de bater e implorar um beijo naquela boca tentadora, mas me
contive. Engoli em seco, dei uma lufada no ar e cocei minha barba, retornando para o interior do
meu apartamento.
Luciana estava mexendo intensamente com minha mente, como nenhuma outra mulher
chegou a fazer…
EXASPERADA.
Era o meu real estado depois da discussão que tive com aquele russo escroto.
Tranquei-me dentro de casa e fui me deitar na cama, andando a passos tão rápidos que
quase tropecei nos móveis. A prensada que ele me deu na parede me deixou perturbada. Aquele
ogro causou sensações fortes e impertinentes em meu corpo. Fiquei nervosa, excitada, inflamada
de tesão, como se um incêndio me consumisse por dentro e só ele pudesse contê-lo. Ainda assim,
notei, pelo seu agarre forte em minha pele, que ele parecia ser meio bruto, e isso me deixava
completamente acesa.
Droga!
O cachorro safado tinha um corpo espetacular, pelo que pude perceber ao tatear seus
braços fortes e sua barriga trincada. Aquele tanquinho era uma perdição, senhor.
Fiquei trêmula diante da sua proposta, impactada não apenas pelas palavras, mas também
pelos sinais evidentes em seu corpo e mente. Dimitri exalava o cheiro de álcool, indicando que
estava claramente embriagado, mas, mesmo assim, acredito que ele estava consciente do que
estava me propondo.
Suas investidas e cantadas descaradas transcendiam meras provocações...
Ele parecia verdadeiramente interessado em mim, corroborando com as afirmações
incessantes de sua irmã enquanto ele estava ausente.
E, de certa forma, ele estava certo, o modesto filho da mãe...
Confesso que fiquei excitada, muito excitada, ao ouvir aquela mexicana gritar enquanto era
possuída por ele.
Mil pensamentos pecaminosos invadiram minha mente naquele momento e continuaram a
me assombrar até hoje, especialmente quando ele prendeu meus pulsos de maneira tão bruta, seu
corpo grande e forte pressionando contra o meu, o aroma mesclado de suor, perfume amadeirado
e vodca embriagando meus sentidos de maneira irresistível.
Pisquei freneticamente, ansiando secretamente por me entregar a esse homem. Havia
passado algum tempo, desde que me encontrava enlutada, coberta por teias de aranha, sem
considerar a possibilidade de me envolver com alguém. Até que ele surgiu e virou meus
pensamentos do avesso.
Sentia raiva de mim mesma por nutrir esses desejos intensos por ele. Afinal, como já
mencionei, eu odiava homens ogros.
Entretanto, Dimitri estava desencadeando uma loucura em mim.
Mesmo sem conseguir vê-lo, eu era constantemente atingida por sua presença forte e
altiva, tornando-me vulnerável a sentimentos intensos, perigosos e inexplicáveis.
A verdade é que não sei se conseguirei mais me conter na sua presença.
Fechei os olhos, buscando desesperadamente um resquício de sono. Meia hora depois o
barulho cessou, indicando que as pessoas que estavam em sua casa se foram. Subitamente, meu
celular tocou e atendi imediatamente:
— Alô?!
— Lu… Luciana… — Dimitri balbuciou meu nome, preenchendo meus ouvidos sensíveis
com aquela voz grave e irresistível.
Droga!
— O que você quer, seu safado? — perguntei irritada, tentando disfarçar o impacto que
suas palavras tinham sobre mim, embora suspeitasse que tivesse falhado miseravelmente.
— Sinceramente? VOCÊ! — respondeu de imediato, todo sedutor.
Engoli em seco ao ouvir sua resposta direta, sentando-me na cama com o coração
acelerado e as mãos geladas.
— Dimitri, vai dormir. Me deixe em paz — pedi, minha voz tremendo novamente.
O ouvi respirar fundo. Então, ele começou a se declarar, deixando-me ainda mais
perturbada:
— Eu não consigo, mulher. Meu Deus, você é tão linda… eu tô bêbado, mas…, mas eu sei
o que estou dizendo… estou com ódio dessas paredes nos separando. Se eu pudesse, eu te
pegaria agora e te comeria gostoso até o dia amanhecer… você me deixa cheio de desejo...
— Seu tarado! — esbravejei, não de raiva, mas de tesão. Isso se confirmou ainda mais
quando esfreguei minhas coxas, tentando controlar o fogo que se instaurou de forma flamejante e
intrusa no meio das minhas pernas.
— Isso eu sou mesmo! Mas você piora meu estado, porra! — ele continuou a me provocar.
— Vá dormir com suas amigas, Dimitri! — rebati, agoniada de desejo por esse filho da
mãe, mas não daria o braço a torcer.
— Mandei todos irem embora, por você — ele revelou, aliviando o tom de voz, que ficou
ainda mais rouco, mais sexy, fazendo meu juízo virar geléia. — Me desculpe a bagunça. Agora
você pode dormir em paz… ou pode vir pra cá, ou me deixar entrar e te dar uma linda noite de
amor, Luciana… — sugeriu, e sim, por milésimos de segundos, eu quase cedi, porém, meu lado
racional me detém.
— Dimitri, me erre! Tenha uma boa-noite! — desliguei imediatamente e coloquei o celular
contra o peito, muito nervosa, enquanto fechava os olhos. — Meu Deus, que homem safado! Eu
jamais vou ficar com ele! — prometi para mim mesma, com zero de certeza. — Ahhh, vou
dormir! Se for necessário, procuro outro apartamento para mim... Preciso fugir das garras desse
ogro!

No dia seguinte, despertei cedo e me encaminhei para os treinos na academia. Ao procurar


por Alonso, notei sua ausência. Segurando a coleira de Pandora, me dirigi à atendente em busca
de informações, mas a voz grave e enrouquecida que tanto mexia comigo sussurrou em meu
ouvido:
— Ele não vem hoje, linda.
Surpreendida, virei-me, meu coração quase saindo pela boca.
— Dimitri? Achei que estivesse de ressaca!
— Que nada. Estou ótimo.
— Então, por que Alonso não vem? — engoli em seco e perguntei casualmente, tentando
manter a compostura.
— A esposa dele entrou em trabalho de parto, dei duas semanas de folga para ele —
Dimitri explicou, próximo de mim.
— Ah, entendi. Vou para casa então — tentei me afastar, mas ele me impediu, segurando
meu braço com delicadeza.
— Não, espera… eu vou te treinar. Já falei com ele sobre seus clientes, e ele me deixou
responsável pelos seus exercícios.
— Quê? Não, muito obrigada! — tentei sair, mas ele insistiu e continuou a me segurar pelo
braço, o rosto roçando no meu.
— Deixe de ser teimosa, Luciana! Eu sei suas séries. Vamos. Prometo que vou ser
totalmente profissional.
— Espero que sim! Não esqueci o que você falou ontem, Dimitri! Já deve ter esquecido,
né? — soltei, me arrependendo no mesmo instante.
— Eu não esqueci nada, sei exatamente o que eu disse, mas vamos deixar isso pra lá.
Afinal, eu e você não combinamos em nada. Vamos começar? — falou seriamente, como se não
tivesse sentido o mesmo que eu, como se eu fosse apenas parte de seus flertes.
— Sim — respondi, meu semblante fechando na hora, mas conformada porque necessitava
dos exercícios. Coloquei Pandora ao meu lado e me posicionei na máquina. Dimitri começou a
me orientar calmamente, e fiquei impressionada com sua gentileza.
Meu nervosismo aumentou com sua presença, minha respiração acelerou, e ele se sentou
atrás de mim, na cadeira, segurando meus braços com o rosto colado ao meu ouvido.
— Você está fazendo o exercício nos braços muito rápido, calma.
Mordi meu lábio inferior, sentindo um desejo intenso por esse homem, e sei que ele
percebeu, pois continuava a me provocar.
— Isso, vai devagar, linda, para não machucar seus músculos... — instruiu enquanto
segurava meus braços, guiando-me nos movimentos corretos.
— O-ok... — balbuciei nervosa, sentindo a pressão de seu corpo forte contra minhas costas
e bumbum.
— Não precisa ficar nervosa perto de mim, Luciana — disse, convencido, irritando-me.
— Eu estou ótima! — menti.
— Sei... — emitiu um risinho de escárnio, fazendo-me vociferar.
— É assim que você seduz suas clientes? Deveria ter vergonha!
— Hum, seduzindo? Então estou conseguindo? — a voz provocante de Dimitri perguntou
descaradamente.
— Aff! — bufei, revirando os olhos.
— Eu adoro quando você bufa... fica tão sexy — Dimitri sussurrou em meu ouvido,
roçando a barba no lóbulo, fazendo-me ter calafrios.
— Quer outro tapa, Dimitri? — ameacei entredentes, erguendo meu rosto por cima do
ombro.
— Pode ser que sim, mas em outra ocasião, quando estivermos sem roupa, trancados em
meu quarto — incitou, cheio de safadeza.
— Seu indecente! — ralhei impaciente, e ele se afastou um pouco de minhas costas.
— Vamos terminar logo essa série, que daqui a pouco começaremos pelo abdômen, você
fará umas flexões — ele voltou a ficar sério, por certo temendo um barraco em sua academia.
— Ok — recuperei a calma ao fazer-me de desentendida, para que ele parasse com seus
flertes, e ele agiu de forma profissional até terminarmos.
O horário do meu treino acabou, e ele me elogiou:
— Pronto, terminamos. Você é uma excelente aluna.
— Certo, obrigada. Eu já vou! — respondi nervosa e peguei Pandora pela coleira, andando
a passos rápidos até a saída, contudo, ele me deteve ao segurar em meu pulso.
— Espera, Luciana, quer uma carona? Te levo no carro.
— Não precisa, vou andando, Dimitri!
— Tá chovendo.
— Ah, é mesmo! — confirmei, ao sentir o cheiro e o barulho forte da chuva.
— Então você vai comigo no meu carro — insistiu.
— Não sei, não… posso esperar a chuva passar aqui — teimei.
— Vamos, é só uma carona inocente.
— Sei… — exalei o ar pesadamente e lhe dei um aviso, pois sabia que estava bem
próximo de mim, pelo seu cheiro inconfundível de perfume amadeirado e cigarro: — Se você me
tocar, te meto um tapa, seu russo safado!
— Tá bom, sua valentona! — ele gargalhou, divertindo-se com a situação.
Puxei Pandora pela coleira, e ele me guiou até seu carro, com a mão enorme pousada em
minhas costas. Chegando em seu veículo, ele colocou a cachorra no banco traseiro, e eu me
sentei no banco passageiro com sua ajuda.
O nervosismo me consumiu, e fiquei balançando o pé, um tique nervoso que tinha. Ele
começou a dirigir, cantarolando as músicas da banda Guns N' Roses. Revirei os olhos e virei o
rosto para o vidro do carro.
— A chuva está forte hoje, viu?! Vai fazer muito frio, vizinha — ele comentou.
Continuei calada, imóvel, e logo chegamos em nosso prédio. Dimitri me ajudou a descer
do carro, todo cavalheiro, e me deu a coleira de Pandora.
— Pronto, vamos, vou com você até nosso andar.
— Ok, obrigada. Vamos, Pandora.
Seguimos para o elevador, e, ao chegarmos em nosso andar, segui para meu apartamento.
Quando tentei abrir minha porta com a chave, escutei a respiração pesada de Dimitri contra meu
ouvido, e seu nariz roçando em meus cabelos no topo de minha cabeça.
Jesus, me ajude!
— Já vai entrar, reclamona linda? — ele perguntou, todo sedutor.
— S-sim! Não temos o que conversar! — respondi, nervosa e excitada com seu toque.
— Tem certeza, Luciana?
— Claro, Dimitri! Você mesmo disse que não combinávamos em nada, então, é melhor...
Ele me interrompeu ao chegar mais perto, virando-me à sua frente e firmando a mãozona
em meus cabelos pela nuca, me encostando na parede com seu jeito áspero e dominante, colando
sua testa na minha e, com a mão livre, segurando minha cintura com firmeza, fazendo com que
eu soltasse a coleira de Pandora.
— Dimitri, pare — pedi, trêmula e estática.
— Pare de fingir que não me quer, teimosa do caralho! — rosnou, irritado.
— Eu não te quero, e pare de falar palavrão, seu ogro! — rebati, me tremendo da cabeça
aos pés.
— Sei... — deu uma risada e continuou: — Não me quer e está toda se tremendo de desejo,
as mãos geladas e respiração ofegante... se isso não é querer alguém, o que mais seria? Eu vi seu
estado lá na academia. Você está afetada por essa química intensa que mexe conosco, reclamona.
Dimitri segurou meu rosto entre suas mãos enormes e sussurrou em meu ouvido, com
aquela voz grossa e sexy do inferno, arrepiando todas as células do meu corpo.
— Pare de negar o inegável e deixa eu te beijar, Luciana. Eu não aguento mais ficar
brigando com você! Eu te quero pra caralho! — Perdida de desejo, fechei os olhos, e apertei seus
braços fortes com minhas mãos, cravando minhas unhas, enquanto ele continuava falando: —
Diga que não me deseja loucamente, que não fica se tocando e imaginando eu te comendo bem
gostoso, arrancando gritos de prazer dessa boca tentadora, diga!
— Seu russo safado — foi o que consegui pronunciar, gemendo, me desmanchando de
tesão, mal me mantendo de pé. Tomando coragem, abri meus olhos, ergui meu rosto e o encarei,
mesmo não o vendo. — Isso está errado, Dimitri...
— Foda-se se está errado! — ele grunhiu impaciente e, não suportando mais a tensão
sexual absurda que pairava entre nós, me beijou, tomando minha boca com vontade, me
invadindo com seus lábios macios e quentes, cheios de esmero e desejo.
Aquiescendo à sua investida, o agarrei pelo pescoço e dei tudo de mim, o primeiro beijo
em outro homem que não era meu marido. Um beijo especial, quente, molhado, viciante.
O russo safado foi descendo as mãos pelas laterais do meu corpo, apertando minha cintura
enquanto chupava minha língua, arrancando gemidos de minha boca.
— Tá gostoso, Luciana? — perguntou-me, com a voz levemente excitada ao descolar seus
lábios por um momento.
— Sim… — dopada de desejo, assenti com a cabeça, e ele voltou a me beijar, e tudo se
tornou selvagem e devasso.
Dimitri esfregou seu corpo forte no meu e me montou no seu quadril, sem dificuldade,
ainda me encurralando na parede. Tomada pela luxúria que sua boca me proporcionava, enlacei
minhas pernas com firmeza em seu abdômen e arranhei suas costas por cima de sua camisa. Ele
espalhou beijos pelo meu rosto, em meus olhos, meu nariz, deslizou até o meu pescoço, dando
mordidas de leve, fazendo-me gemer sofregamente de olhos apertados.
— Que boca é essa mulher… — a voz rouca murmurou contra meus lábios entreabertos,
molhando completamente minha calcinha. — Quer dormir comigo hoje? Vamos fazer amor bem
gostoso, hum? — perguntou, extremamente excitado, friccionando o quadril com fome entre
minhas pernas, me deixando à beira do abismo.
Abri os olhos, com medo, e o empurrei, escorregando de seu corpo, ao passo que ele me
colocou no chão. Ao ficar de pé, me afastei, arfando.
— Que foi? — perguntou, sem entender minha reação.
— Eu... eu preciso entrar, venha, Pandora! — chamei, e ela roçou a cabeça em minha mão,
para que eu pegasse sua coleira, o que eu fiz rapidamente.
— Quê? Mas eu acabei de te beijar, mulher louca! — Dimitri esbravejou, possesso.
— Eu sei, e... isso não vai mais se repetir... Vou entrar! — puxei a coleira da minha
companheira e consegui enfiar a chave na fechadura, em seguida entrei no meu apartamento,
ficando de costas para ele, mas Dimitri me agarrou por trás, enlaçando as mãos grandes em
minha cintura com possessividade, e avisou, num sussurro:
— Nem tente fugir de mim! Depois desse beijo, nada vai me impedir de ficar com você!
Nem mesmo o seu orgulho! — ele mordeu meu pescoço devagar e foi embora, abrindo a porta de
seu apartamento para depois trancá-la, com raiva.
— Meu Deus... o que eu fiz? — arfante, pus a mão livre no peito esquerdo, quase sem ar, e
parecia que meu coração ia sair pela boca. Ao trancar a porta do apartamento, encostei minha
coluna nela e fiquei pensativa. — Jesus… Que pegada desse homem e que beijo... Eu não vou
resistir se ele me agarrar novamente... Não aguento mais fingir que não o quero... Esse russo
safado.
NOS DIAS QUE SE SUCEDERAM, optei por evitar a academia e deliberadamente me
distanciar.
Dimitri, insistente, buscou contato, batendo repetidamente à minha porta e tentando me
ligar, no entanto, o ignorei.
Era evidente que não podia manter qualquer tipo de relação com ele.
O final de semana se aproximava, coincidindo com a chegada de minha mãe. Enquanto
estava no banho, escutei a campainha tocar. Só podia ser ela, então, antecipando-me de
ansiedade para vê-la, enrolei-me em uma toalha e saí do banheiro em passadas rápidas, tateando
paredes e móveis até alcançar a porta. Ao abri-la, fui impactada pelo aroma do perfume do
homem que despertava em mim sentimentos contraditórios de raiva e desejo. Tentando fechar a
porta, solicitei com firmeza:
— Vá embora, Dimitri!
— Não! — insistiu ele, adentrando o espaço e empurrando a porta com sua força superior,
que logo escuto se fechar.
Com meu corpo trêmulo, reagindo de forma incontrolável à sua presença imponente,
segurei firmemente minha toalha na região do busto enquanto ele se aproximava, tocando meu
rosto com o indicador.
— Por que está fugindo de mim, Luciana? — indagou, com aquela voz que sempre fazia
minha mente se embaralhar, traçando um percurso ousado com seu dedo indicador até a curva do
meu pescoço.
— Eu não quero nada contigo, quero que se afaste, seu russo insolente! — retruquei,
tentando me afastar para evitar mais contato físico.
— Mentirosa! Seu olhar entrega que me deseja — Dimitri me agarrou, anulando qualquer
distância entre nossos corpos, e segurou meu cabelo firmemente pela nuca com a mão livre,
fazendo meu ponto sensível pulsar e implorar por seu toque indecente. — Você está gostosa
demais assim — sussurrou, com um tom carregado de desejo. — Mal posso esperar para beijar
seus lábios novamente — roçou a ponta do nariz no meu, e seu hálito quente alcançou meus
lábios.
— Não quero seus beijos! Aposto que já beijou várias nessa semana! Me solta! — gritei,
tentando ser firme em minhas palavras e me libertar de seus braços, mas meu corpo traiçoeiro
queimava de desejo, e meu lado irracional implorava para que eu perdesse a compostura, jogasse
minha toalha lá na puta que pariu e me entregasse.
— Não beijei ninguém. Por incrível que pareça — afirmou com seriedade, cheirando meu
pescoço e mordiscando-o lentamente, provocando um gemido baixo de minha garganta.
— Dimitri, pare, minha mãe está chegando — implorei num gemido, mordendo meu lábio
inferior com força, apertando os olhos, louca de desejo.
— E daí? Você não é uma adolescente virgem, e sua mãe sabe muito bem que temos uma
química. Ela me adora — o russo convencido afirmou.
— Sempre se achando, não é? — insinuei.
— Sou realista... — dizendo isso, ele tomou meus lábios, beijando-me com avidez, e nos
deitamos no sofá, ele por cima de mim. Deixei de segurar minha toalha, e minhas mãos se
moveram até seus cabelos, apertando-os com força.
— Meu Deus, que mulher gostosa! — Dimitri grunhiu contra minha boca ao apertar
minhas coxas com força, provocando calafrios.
Enlacei minhas pernas em seu quadril e correspondi ao beijo da mesma maneira ousada
com que ele me tomava, deixando sua boca me possuir de forma lasciva, saboreando minha
língua com maestria, seu quadril encaixado entre minhas coxas, ondulando agilmente, roçando-
se em minha nudez.
A vergonha me invadiu naquele momento, minha toalha se desfazendo inteira, e eu me
senti completamente despida. No entanto, absortos pelo desejo incontrolável que tínhamos um
pelo outro, continuamos o amasso. Meu vizinho gostoso me beijava intensamente, todo safado,
me levando à loucura.
Ao erguer um pouco o corpo, suas mãos grandes apertaram meus seios, os juntando, os
calos das palmas de anos de treinos raspando minha pele sensível, e seus dedos prendendo meus
mamilos, numa espécie de judiação deliciosa.
— Caralho! Estou louco para te possuir... — ele rosnou, ao descolar a boca rapidamente,
esfregando seu quadril com mais voracidade, me situando do seu tamanho monstruoso encoberto
pelo tecido, que, pelo toque, supus ser de calça jeans, e as mãos inquietas resvalando em minhas
curvas, sedento por explorar cada parte da minha pele.
— Dimitri, não... — tentei cessar o amasso, mas ele não perdeu tempo e recomeçou o beijo
quente, seu cheiro viciante ainda mais impregnado em meus sentidos, e o poder que a
dominância de seu corpo exalava sobre o meu deixava-me à beira da loucura.
— Vamos para o seu quarto, por favor. Eu não aguento mais, Luciana — suplicou, e eu
soube que o tesão estava urgindo em todas as células do seu corpo, que queimava contra o meu.
Quando estava quase cedendo e dizendo sim, a campainha tocou e eu me assustei,
afastando sua boca da minha com as mãos.
— Meu Deus!
Imediatamente, ele saiu de cima de mim e me questionou:
— Será sua mãe?
— Acho que sim — resfolegando, voltei à razão e sentei-me no sofá, tateando a toalha com
rapidez, cobrindo-me, tentando me recompor, pois estava totalmente envergonhada, já que o
único homem que me viu nua na vida foi meu falecido marido.
Fiquei de pé, com a cabeça baixa, e ajeitei tecido felpudo em meu corpo, contudo, antes
que eu me direcionasse até a porta para abri-la, ele me agarrou por trás, todo impetuoso, e
sussurrou em meu ouvido, selando beijos na curva do meu pescoço.
— Não tenha vergonha de mim, te acho perfeita.
Me desvencilhei de suas mãos enormes, indo abrir a porta.
— Filha! Cheguei! — mamãe anunciou cantarolando, toda animada, e, mesmo sem ver,
podia jurar que meu rosto estava vermelho como um tomate.
— Oi, mamãe! — falei nervosa, segurando minha toalha em meu busto com toda força,
tentando conter o tremor em minhas pernas, fingindo que Dimitri quase não me fodeu em cima
do sofá.
Ela me abraçou e, ao ver Dimitri, ficou surpresa, exclamando seu nome com sua voz doce
e animada.
— Dimitri! Olá, querido!
— Oi, dona Miriam! A senhora está linda, senti sua falta! — Dimitri manifestou
educadamente, todo gentil.
— Oh, tão galanteador! — exclamou mamãe, visivelmente encantada. — O que o traz por
aqui, querido? — ouvi-a questionar Dimitri enquanto eu engolia em seco, sentindo uma onda de
constrangimento.
— Ah, mamãe, ele já está de saída, não era nada demais! — tentei minimizar, numa
tentativa de evitar que Dimitri revelasse o que realmente aconteceu.
— Bem... Vim apenas para cumprimentar a minha querida vizinha. Notei que ela sumiu
nos últimos dias e achei estranho... — desconversou Dimitri, aliviando um pouco a tensão do
momento.
— Hum, entendi — mamãe respondeu, e consegui escutar uma pequena risada maliciosa
escapando de seus lábios. — Vou para o quarto, colocar minhas coisas lá. Até mais, Dimitri —
ela se retirou, seus passos se distanciando até o outro quarto.
— Até, querida — Dimitri disse, e assim que mamãe sumiu da sala, ele me agarrou
novamente, beijando-me com paixão, encostando-me contra a parede perto da porta, arrancando
suspiros da minha garganta.
— Ahh, seu maldito... Pare! — implorei baixinho, consciente de que esse homem era
implacável quando desejava algo.
Miseravelmente, tentei segurar minha toalha, e depois que ele se afastou, respiramos
ofegantes. Então, ele começou a falar:
— Bom, eu tenho que ir ao banco resolver algumas pendências. Podemos nos encontrar
mais tarde, na minha casa, em cima da minha cama… — sugeriu, cheio de malícia.
— Não sei — respondi nervosa, negando com a cabeça.
Ele me agarrou novamente, puxando-me pela cintura com as mãos, e sussurrou em meu
ouvido, assegurando que mamãe não escutasse nosso diálogo.
— Eu sei que você quer ir... Até logo, minha linda — o audacioso me beijou rapidamente e
se retirou, deixando-me perplexa.
— Meu Deus, que homem safado — murmurei, desabando no sofá, apoiando os cotovelos
nas coxas, com as mãos entrelaçadas em meus cabelos, a cabeça baixa.
Alguns segundos depois, mamãe apareceu na sala e sua risada ecoou, como se ela soubesse
o que aconteceu antes e depois de sua chegada.
— Humm...
— O que foi, mãe? — perguntei, fazendo-me de desentendida, e ela se sentou ao meu lado.
— Eu vi, viu, vocês se beijando antes de ele ir. Ai, meu Deus, estão namorando? — ela
inquiriu, deixando-me ainda mais envergonhada.
— O quê? Claro que não, mãe! Isso foi um erro!
Mamãe gargalhou novamente. Ela me conhecia muito bem e sabia o quanto estou
mentindo, mas não imaginava o quão eu estava perdida.
— Luciana, deixe de negacionismo! Você sabe que é afim dele! Dê uma chance ao amor,
filha... Já faz tanto tempo desde o acidente — ela envolveu minhas mãos nas suas, acariciando-
as.
— Não posso, mãe... eu amo o Roger, não quero traí-lo.
— Que conversa é essa, garota? Roger se foi, meu amor. Tenho certeza de que, lá do céu,
ele quer te ver bem e feliz ao lado de alguém que te ame — mamãe argumentou, desejando o
meu bem e a minha felicidade, mas parte de mim permanecia presa ao passado, meu coração
ainda não conseguiu superar totalmente a perda do meu companheiro. Talvez nunca superasse.
— Mamãe, o Dimitri bebe, fuma, fala palavrão, tudo que eu odeio! — contradisse, irritada.
— O Roger era o oposto dele! Um homem educado, carinhoso, sem vícios! Eu... eu não sei o que
me deu ao querer beijar esse russo! — desabafei, quase chorando, sentindo que realmente traí
meu esposo, mesmo sabendo que ele nunca mais voltaria.
— Ah, filha, pare com isso! Ninguém é perfeito! Dimitri tem esses defeitos, é um ser
humano fadado a erros como tantos outros, mas tenho certeza de que ele gosta de você e, quem
sabe, pode mudar por você... Dê uma chance a esse homem, quero te ver feliz, meu amor —
insistiu mamãe, com a voz carregada de esperança.
— Mamãe, eu estou cega! — gesticulei, ao apontar as mãos para os meus olhos. — O que
o Dimitri iria querer comigo? Só sexo, claro!
— Ah, Luciana, você gosta muito de julgar as pessoas, pare com isso — ela me
repreendeu, desgostosa.
— Olha, mãe, eu não quero mais falar sobre esse homem. Vamos, por favor, mudar de
assunto — pedi e soltei o ar pesado de meus pulmões, fechando os olhos e me recostando ainda
mais no sofá, de braços cruzados.
— Ok — ela respeitou meu pedido, e decidimos conversar sobre nosso pai, que estava no
Brasil cuidando de seus negócios. Acabei contando sobre minha rotina diária de caminhadas,
idas aos médicos e como estava me virando neste apartamento. Depois, ela decidiu fazer um
almoço delicioso e cuidou de Pandora enquanto segui para meu quarto, em busca de descanso.
O dia passou rápido e Dimitri não apareceu. A noite chegou e nada dele. Não aguentava
mais a droga dessa ansiedade!
Enquanto mamãe estava no quarto dela deitada, em seu milésimo sono, tomei uma atitude:
decidi ir até o apartamento de Dimitri e bati à porta.
Ele não respondeu e permaneci plantada em sua porta, esfregando as mãos cheias de
ansiedade.
— Acho que ele não está — murmurei e dei dois passos de volta à minha porta. Contudo,
escutei a porta dele se abrir, e o aroma de seu perfume permeou minhas narinas. O russo safado
estava próximo, eu podia sentir.
— Dimitri, você está aí? — franzi as sobrancelhas, devido ao silêncio que imperou no
ambiente, e me assustei quando ele me agarrou por trás e falou no meu ouvido, com aquela voz
grave que me deixava louca e molhada.
— Hum... estava atrás de mim?
— Dimitri... É, sim… eu queria conversar — respondi, nervosa.
— Sei... Não quer pular para a próxima etapa e ir direto para minha cama? — sugeriu,
sorrindo brincalhão.
— Dimitri, eu tô falando sério!
— Calma, linda! — ele virou meu corpo de frente para o seu, mas continuou com as mãos
coladas em minha cintura de forma possessiva.
— Onde você estava? — indaguei curiosa, com o rosto erguido e o olhar perdido.
— Meu pai... A pressão dele subiu, e então eu e Ekaterina o levamos para o hospital. Ele
estava até agora em observação.
— Nossa, Dimitri, eu sinto muito, mas ele está bem?
—Sim, tive que deixá-lo na casa da minha irmã, e por isso cheguei agora. Quer entrar? —
ele convidou, e senti seu hálito mentolado contra minha face. Hoje, ele optou por não fumar.
— S-sim — assenti e gaguejei, envolta por uma série de sentimentos intensos.
Ele segurou meu pulso delicadamente, e então adentramos em sua residência. Ao fechar a
porta, Dimitri abandonou a formalidade e me encurralou contra a madeira, tomando minha boca
com luxúria, sem que eu esperasse.
Cravei minhas mãos em seu cabelo liso, que alcançava seu pescoço, entregando-me à sua
boca com mais desejo, faminta por seu sabor intoxicante.
— Ah, Luciana, que saudade dessa sua boca… — o russo provocador murmurou, excitado,
e me conduziu para algum lugar que presumi ser seu quarto. Com cuidado, ele me depositou em
sua cama, afastando-se por alguns segundos e, em seguida, voltando para cima de mim, sem
camisa, incendiando minha boca mais uma vez, repleto de paixão.
— Vamos fazer amor agora, Luciana. Porra! Estou louco por você.
— Dimitri, pare… — tentei contê-lo, embora meu desejo estivesse intenso.
— O que foi, não está a fim? — ele me questionou, ao ser empurrado por minhas mãos.
Saí de seus braços e me sentei na cama, respirando arfante, tentando recuperar o fôlego, pois esse
homem sugou tudo com esse beijo, que pareceu roubar até minha alma.
— Quero conversar — falei, muito séria.
— Ok. Olha, me desculpe por te agarrar. O que você quer falar? — ele sentou-se ao meu
lado e me questionou, sem entender minha reação.
— Temos que parar com isso! — decretei resoluta, mesmo que meu corpo e mente
estivessem queimando por ele.
— QUÊ? — PERGUNTEI, incrédulo.
— Eu não posso mais ficar com você, Dimitri! — Luciana exclamou, parecendo estar
arrependida de nossa pegação.
E, porra, que pegação!
— Ué… Por quê? Você tem alguém? — indaguei, e ela ficou esfregando as mãos num
gesto nervoso, envolta em silêncio, até que tentou me explicar.
— Não, e nem pretendo ter... O único homem que eu amei e que nunca vou substituir é o
meu marido. Não posso fazer isso com ele! Me sinto mal. Você é o segundo homem que me
beija na vida, que me tocou daquele jeito contra a parede, no sofá! O primeiro foi ele… — ela
revelou, quase chorando, mas, mesmo assim, me irritou.
— Isso é loucura! Seu marido está morto! — falei, frustrado.
Ela ficou furiosa, interrompendo-me e falando alto:
— Não fale isso! Não diga isso… — vociferou, chorosa, com o dedo em riste, quase
apontando para meu peito. — Ele está vivo em minha mente, e eu devo respeitá-lo!
— Respeitar um defunto? Porra, Luciana! Tá louca? — bradei, balançando a cabeça,
irritado com as ideias confusas dessa mulher.
— Não fale dele desse jeito, seu ogro! — ela gritou revoltada, e ficou de pé, tateando a
cama até chegar à parede perto da porta.
— Aposto que se fosse ele que estivesse vivo, estaria casado e com filhos! Deixe de ser
doida, mulher! Seu marido está morto, e acho que não iria querer te ver sozinha e triste nesse
mundo, sem dar essa boceta!
— Seu porco! — ela ralhou. — Roger jamais faria isso comigo! Ele era totalmente
diferente de você! Um homem educado, gentil, doce e amoroso! Por isso que eu te evitava!
— Ok! — me levantei do colchão furioso, e fui até ela, ficando rente ao seu rosto,
desabafando tudo o que estava entalado, ao elevar meu tom de voz. — Se eu não te agrado com
meu jeito rude e grosseiro, dane-se! As outras mulheres amam e imploram por esse corpo aqui!
E, sinceramente, não sei onde estava com a porra da cabeça quando desejei você! Sou um idiota!
— vociferei, irritado com sua teimosia.
— Não grite comigo! — repreendeu-me a brasileira, erguendo o queixo com determinação.
— Saia imediatamente do meu apartamento, Luciana! Não tenho paciência para mulheres
folgadas, ainda mais aquelas que têm uma fixação por defuntos! Saia! — exigi, aos berros.
— Seu idiota! — ela me empurrou no peito com força, gritando ainda mais, perdendo
completamente a paciência. — Aaah! Eu te odeio!
— Eu te odeio ainda mais, mulherzinha azeda do cacete! — retruquei, enfurecido.
Luciana ficou possessa, pegou o chinelo do pé e o arremessou em minha direção, errando o
alvo e gritando, frustrada:
— Ahhh, seu russo maldito!
— Louca do caralho! Sabe de uma coisa? Eu tenho pena do falecido por ter te aturado! —
zombei, cheio de ironia, notando seu rosto ficar vermelho de ódio.
— Vá para o inferno, Dimitri! Seu ogro desgraçado!
— Brasileira louca do caralho! Saia da minha casa! — revidei.
Em seguida, Luciana abriu a porta do quarto, tateou as paredes e foi embora, enfurecida,
após eu ouvi-la fechando a porta da entrada com força. Depois, sentei-me no sofá com raiva,
bufando, incrédulo com suas ideias estúpidas, e soltei um suspiro pesado.
— Que mulher louca da porra! Respeitar um defunto? Aonde já se viu! — passei as mãos
no cabelo, frustrado, e decidi ir tomar um banho para relaxar e dormir.
Esperava nunca mais querer tocar no corpo daquela filha da mãe!

Os dias transcorreram, e Luciana evitava a todo custo dirigir-me a palavra. Sua mãe, por
outro lado, sempre se mostrava extremamente afável, tecendo elogios à minha pessoa em cada
encontro em nosso corredor.
Na academia, ela só retornou após a volta de Alonso e fez questão de ignorar minha
existência. Filha da mãe!
Decidido a relegá-la ao esquecimento e retomar minha vida bandida, voltei mais cedo para
casa e liguei para uma mulher que conheci bem antes de me envolver com Luciana.
Porra, eu preciso transar!
Como eu era um homem cheio de adrenalina, foder era meu esporte favorito. Todavia, não
era uma simples foda. Eu deixava as mulheres de cadeiras de rodas, viciadas em minha
performance sexual.
E era exatamente isso que eu pretendia com Luciana…
Reivindicar seu corpo delicioso e lhe mostrar do que eu era capaz, mas a sua loucura fodeu
com todos os meus planos e, cá estava eu, em busca de uma boceta qualquer para me enterrar
com força, à noite toda.
Por volta das nove da noite, minha ficante chegou. Ana era uma gordinha linda e muito
carinhosa. Ao abrir a porta, deparei-me com Luciana, segurando um balde de frango assado da
lanchonete da esquina, na companhia de sua mãe. Ela franzia o cenho ao captar o perfume de
minha convidada.
— Boa noite, Dimitri! — cumprimentou-me, tingindo suas palavras com um tom
sarcástico.
— Olá, vizinha. Saudações, dona Mirian — respondi de maneira cordial. — Tenham uma
excelente noite, vou entrar. Vamos, Ana — despedi-me, puxando delicadamente a mão da
mulher.
No entanto, Luciana nos interrompeu:
— Espere... Você com certeza não é a mulher de ontem ou da semana passada. Por acaso,
fala espanhol, Ana? — indagou Luciana.
— Como assim? Não estou entendendo! — minha acompanhante franziu a testa,
perturbada.
— Não ligue para ela, Ana, vamos entrar — desconversei, puxando novamente sua mão.
No entanto, Luciana insistiu e nos interrompeu outra vez.
— Ahh, o seu perfume é diferente! — constatou, com o olhar perdido para o chão, mas,
ainda assim, com um toque de desafio. — Ontem, passei a noite em claro com esse russo! Era
uma gritaria sem fim! — Luciana comprimiu os lábios, tentando conter o riso, mas acabou
gargalhando, revelando à Ana: — Uma mulher gritando: "Vai, cabrón! Me fode!", tudo em
espanhol! — a audácia da cega atrevida imitava os gritos de Carmen, deixando-me perplexo. —
E semana passada era outra, acho que uma alemã, talvez... — Luciana pôs a mão no queixo,
como se estivesse pensando. — Você adora mulheres escandalosas, não é, Dimitri? — dirigiu a
pergunta a mim, com um toque de ironia.
Percebendo que minha vizinha estava com ciúmes, involuntariamente sorri, o que
enfureceu minha acompanhante.
— Seu cretino! Você acha que eu sou sua marmita? Eu gosto de você, Dimitri! — Ana
lamentou-se, encarando-me com decepção.
— Dimitri, crie vergonha! Não é assim que se trata uma mulher! Coitada da pobre Ana! —
Luciana provocou ainda mais.
— Filha, pare. Vamos entrar — a mãe dela pediu, buscando impor limites às provocações.
Não se dando por vencida, a brasileira cavou a minha cova para a minha acompanhante.
— Ah, mamãe, eu preciso defender essa mulher, coitadinha! Mais uma que será tratada
como uma qualquer e virá chorar neste corredor — Luciana direcionou seu olhar até onde nossas
vozes ecoavam e aconselhou Ana, que tinha lágrimas nos olhos. — Ele não presta, amiga! Olha,
eu sou uma pobre cega, e ele tentou me seduzir várias vezes! Até me beijou à força, neste
corredor!
Ana, exalando fúria, voltou-se para mim, desferindo palavras difamatórias:
— Seu cafajeste, canalha!
— Isso é mentira, Ana! — argumentei, defendendo-me. — Pare com essa frescura! —
virei-me para minha vizinha. — E você, Luciana, cala a boca, droga!
— Não grite com a pobre da cega, seu insensível! — minha ficante, acreditando nas meias
verdades de Luciana, me repreendeu, exasperada. — Sabe de uma coisa? Eu vou embora! Não
me procure nunca mais, seu filho da mãe! — antes de partir, ela me presenteou com um tapa
ardente no rosto, fazendo-me cambalear até a parede do corredor.
Luciana desatou a rir, irritando-me profundamente, já que ela havia arruinado meus planos.
— Meu Deus, Luciana! Por que você fez isso? — a mãe dela perguntou, incrédula com a
audácia da filha.
Ela continuou rindo enquanto a mãe me pedia desculpas, balançando a cabeça com
desgosto, retirando o balde de frango das mãos de Luciana, juntamente com a coleira de Pandora,
antes de entrar em casa.
Luciana virou-se para entrar também, com as mãos erguidas, tateando a parede. No
entanto, eu a puxei pelo braço, trazendo-a até mim, cheio de raiva. Inclinei meu rosto, quase
tocando no dela, e a ameacei, sussurrando com intensidade e um certo excitamento:
— Isso não vai ficar assim! Você me paga, Luciana.
— Foda-se, cabrón! — ao me xingar, ela me empurrou e, enciumada, adentrou
apressadamente seu apartamento, trancando a porta com raiva.
Meu coração acelerou, envolto por uma mistura de raiva e pelo desejo intenso que nutria
por essa mulher. Deslizei a mão pela barba, massageando a bochecha onde recebi o tapa, quando
uma revelação tomou conta de meus pensamentos.
— Ela gosta de mim, tenho certeza! Estava tão ciumenta que soltou um palavrão! — deixei
escapar uma risada, fixando meu olhar obsessivo na porta de Luciana. — Ah, Luciana, você vai
pagar caro, com juros e correção monetária, por ter atrapalhado meus planos! Sua brasileira
gostosa.
Em seguida, adentrei meu apartamento, fechando a porta com firmeza. Retirei as roupas do
corpo e as joguei no chão, tomado pela fúria. Dirigi-me ao meu quarto, tentando acalmar os
ânimos, afinal, minha intenção para a noite era outra. Apesar da irritação com Luciana, não pude
deixar de perceber seu evidente ciúme.
Ela não escapará de mim. Eu a terei em minha cama!
DEPOIS QUE PROVOQUEI aquele ogro, fui dormir, morrendo de rir.
Não iria ouvir mais um de seus shows!
Embora meu desejo pelo sedutor russo fosse inegável, algo em mim impedia de
prosseguir... As lembranças felizes com meu esposo inundavam minha mente, despertando uma
sensação de culpa.
Não sei se estava pronta para embarcar em uma nova relação, fosse ela séria, ou casual. No
entanto, enquanto esses pensamentos pairavam, minha necessidade por intimidade parecia
crescer descontroladamente. Era hora de enfrentar esse dilema, superar essa culpa que me
impedia de buscar minha própria felicidade.
Deitada em minha cama, pensei em Dimitri e em seus beijos intensos, em seu toque bruto e
possessivo. Era surreal que, mesmo sem conhecer seu rosto, suas sensações fossem tão
marcantes. No entanto, precisava focar em dormir. Amanhã, enfrentaria a academia e o
desafiador encontro com o russo sedutor.

Despertei cedo e encaminhei-me ao banheiro para minha rotina matinal, seguida por um
banho relaxante. Enquanto a água morna caía sobre mim, involuntariamente, minha mente
retornava ao meu vizinho provocador. Recordei-me de sua sugestão de uma foda ardente, e meu
corpo reagiu instantaneamente.
— Oh, meu Deus... O que faço? — murmurei, desejosa. Pela primeira vez desde o
acidente, minha mão deslizou até minha intimidade. Entreguei-me ao prazer, imaginando Dimitri
me possuindo com paixão.
Meu coração acelerou com a velocidade de meus toques, e segundos depois, um orgasmo
intenso me dominou. Sustentei-me na parede, a testa colada ao azulejo frio. Parecia que meu
coração estava prestes a colapsar.
— Senhor, me ajude a resistir a esse russo! Preciso fugir dele como o diabo foge da cruz
— sussurrei, aproveitando os resquícios do prazer.
Um susto invadiu meus sentidos quando ouvi a voz preocupada de minha mãe, batendo à
porta do banheiro.
— Filha, você está bem? Está demorando...
— Sim, mamãe. Estou lavando o cabelo — menti descaradamente.
— Precisa de ajuda, querida?
— Não, obrigada.
— Certo, vou cuidar de Pandora e depois seguimos para a academia. Quando terminar, a
deixo em casa e vou levá-la ao petshop para tomar banho.
— Ok, mamãe.
Após alguns minutos, saí do banheiro e me dirigi ao meu quarto para vestir uma roupa. As
peças organizadas nas gavetas, selecionadas por minha mãe, facilitavam a escolha. Toquei e
cheirei as peças, algumas repletas de memórias antigas, e senti a saudade do apelido que meu
marido me dava: legalmente morena, uma referência carinhosa à advogada loira do filme
"Legalmente Loira", já que eu adorava andar bem-vestida.
Vesti minha roupa de malhar, calcei meias e tênis, que ficavam na parte central do guarda-
roupa, onde organizava meus calçados. Em seguida, penteei meus cabelos com a escova na
cômoda ao lado da cama, onde deixei meus acessórios. As madeixas soltas me fizeram ponderar
se devia aparar as pontas, pois estavam além do meu bumbum. Direcionei-me à cozinha,
tateando as paredes familiares, onde ouvi a voz alegre de mamãe.
— Filha, já fiz seu café da manhã.
— Obrigada, mamãe, estou indo — respondi, alcançando a cozinha e sentindo o delicioso
aroma dos ovos e bacon, além do café fresco, meu favorito.
— Querida, você está muito magrinha, só comendo delivery. Deveria passar mais tempo
aqui ou mesmo vir morar com você — expressou mamãe, preocupada, enquanto me sentava com
cuidado.
— Não precisa, vou me virar, mãe. A moça da limpeza vem aqui quatro vezes por semana,
o resto eu faço.
— Sempre tão orgulhosa, não é, mocinha? — ela comentou, divertida, arrancando-me um
sorriso.
— Sim, sempre! Não é uma limitação que vai me parar, dona Mirian. Agora, passe um
prato e meu café quentinho, por favor!
Mamãe atendeu ao meu pedido, e comecei a aproveitar o delicioso café da manhã. Antes
de sair, escovei os dentes e nos dirigimos à academia.

Chegamos à academia, onde Alonso me recebeu com alegria para iniciarmos os treinos.
Em algumas ocasiões, percebi o perfume de Dimitri quando ele passava por perto, mas fingi não
notar. Ele também me evitou, cumprimentando apenas Alonso. Após uma hora e meia de treino,
abordei Ekaterina.
— Olá, Lu! — ela cumprimentou animada, abraçando-me.
— Oi, amiga, como você está? — perguntei, tentando sorrir.
— Ah, estou bem... e você?
— Bem... — respondi com incerteza, percebida por Ekaterina.
— Aham... — ela soltou seu sorriso debochado, semelhante ao do irmão.
— O que foi, hein? — perguntei, impaciente.
— Eu soube o que você aprontou com Dimitri, Lu... ele está furioso contigo!
— Bem feito! Ele se acha demais, e toda noite é uma mulher diferente gemendo
escandalosamente na casa dele! Eu não suporto isso! — desabafei, enciumada.
— Sei… E você está morrendo de ciúmes do meu irmão, isso sim! — Ekaterina afirmou
divertida, o que me irritou.
— De jeito nenhum! — neguei.
— Ah, Lu, para de orgulho bobo! Dimitri é lindo e sedutor, vocês formam um belo casal!
Dá para sentir a química, é palpável demais! Aposto que está subindo pelas paredes, não é? Por
que não fica com ele logo, amiga?
— Deus me livre! — exclamei, negando com a cabeça, e ela me puxou até uma cadeira.
— Que tal se livrar das teias de aranha no meio das pernas? Já faz quase um ano que você
não fica com ninguém — ela sugeriu, e tive que concordar.
— Bom, na verdade, estou doida para fazer sexo! Mas sem compromisso, é claro. Meus
hormônios estão me enlouquecendo, Ka!
— É para isso que meu irmão existe — Ekaterina riu, destacando a existência de seu irmão
ogro, todo galanteador.
— Eu fico com qualquer um, menos com aquele ogro! — objetei, áspera, embora meu
corpo gritasse o contrário, pois o que ele mais desejava era o toque daquele russo indecente.
— Hum, sei. Então tenho uma proposta para te fazer — sugeriu, misteriosa.
— Que proposta? — juntei as sobrancelhas, questionando-a com curiosidade.
— Bom, digamos que eu conheça alguns gogoboys que podem te dar o que você precisa,
sem ter um relacionamento.
— Espere aí, garotos de programa? — limpei a garganta e perguntei, perplexa.
— Sim, hihi! Olha, eu já transei com uns três quando estive solteira, estava sem tempo
para flertar e queria só sexo... E tem um que eu conheço que já ficou com uma mulher cega... Ele
é uma delícia, além de ser super educado e gentil...
— Hum... qual o preço dele?
— 300 dólares — Ela respondeu, deixando-me intrigada.
— Nossa!
— Olha, é por minha conta, Lu! Se você quiser, eu pago um desse para ti hoje mesmo! Irei
te arrumar, te maquiar! Você ficará completamente linda e sexy! E esse cara só faz o que você
quiser.
— Sei... Isso não me parece má ideia… — murmurei, quase cedendo à ideia maluca de
Ekaterina.
— Bom, me diga se quer isso e garanto que vai tirar suas teias de aranha hoje mesmo —
ela insistiu.
— Ai, Ekaterina! É muita pressão! — resmunguei, passando a mão nervosamente em meu
cabelo.
— Ué? Você quer ou não, Luciana? Já te disse que o Dimitri está disponível...
— Ok! Eu quero esse gogoboy! — cedi, mas não admitiria que desejava o irmão dela com
todas as minhas forças. — Meu marido que me perdoe... — disse, envergonhada, olhando para
cima, como se pedisse perdão diretamente ao céu.
— Ah, para com isso... — Ka tentou me confortar, apertando minha mão com carinho. —
Você está viúva, e seu marido está no céu, torcendo pela sua felicidade.
— Queria pensar assim, mas me sinto culpada, Ka… — lamentei. Só Deus sabe como
estava o meu coração, o quanto escondia a dor e tristeza que me consumiam pela falta da minha
família e a culpa de desejar Dimitri.
— Eu entendo, mas vamos agir, ok? Vou passar o dia na sua casa e te arrumar! Ah, você
ficará mais linda do que já é! — prometeu, toda animada.
— Obrigada, sua doida! — não consegui reprimir o riso. — E esse cara... O gogoboy...
Você vai ligar para ele agora?
— Daqui a pouco, quando terminar uma sessão de um paciente. Depois, ligo para ele e vou
para sua casa! — explicou.
— Certo. Bom, eu já vou. Espero que dê tudo certo hoje — eu disse, cheia de expectativa e
ansiedade.
— Vai dar! E você dará muito, Luciana! — Ka garantiu, explodindo numa risada.
— Sua russa safada! — gargalhei junto.
Logo depois, me despedi de Ekaterina e peguei Pandora pela coleira, indo até onde minha
mãe estava, e seguimos para casa. Confesso que estava nervosa com esse encontro com o garoto
de programa, mas seria do jeito que eu queria, sem sentimentos, só uma noite de prazer.
A tarde chegou, e Ekaterina veio para minha casa, anunciando sua chegada com muita
animação.
— Cheguei!
Mamãe olhou a tudo desconfiada e nos indagou:
— Vocês vão sair?
— Ah, não. A Lu vai para um encontro! — Ekaterina revelou.
— Com Dimitri? — mamãe perguntou, esperançosa.
— Não, mãe! Deus me livre! Vou sair com um cara que Ekaterina me apresentou — menti
descaradamente, para não preocupar minha mãe.
— Quê? Mas, filha, o Dimitri está doido por você! Por que não fica com ele? — mamãe
insistiu.
— Mãe, esse safado não tem nada a ver comigo! Assunto encerrado! — declarei, ríspida.
Enquanto isso, eu e Ká passamos a tarde toda no meu quarto. Ao chegar à noite, ela ajeitou
meus cabelos e fez uma maquiagem linda em mim, como disse. Depois de vasculhar uma roupa
em minha gaveta, jogou um vestido no meu colo, já que eu estava sentada em minha cama, só de
lingerie de renda preta.
— Ain, você tá maravilhosa! Espero que o gogoboy não se apaixone — ela deu um risinho.
— Quero essas paixões longe de mim — rebati e, ao tatear o vestido, arregalei os olhos. —
Isso é um vestido ou uma blusa, Ka? Não parece ser uma das minhas peças de roupa! — tateei o
tecido, achando-o estranho, pois se tratava de uma peça de malha curta bem justa, de alças, com
fendas nas laterais da cintura.
— Hihi, é um vestido sexy! Vai te deixar uma femme fatale!
— Onde você arrumou isso? Meu Deus, eu não posso usar esse pedaço de pano, Ekaterina!
— retruquei, nervosa.
— Bem, foi eu que comprei para ti! Ah, e você vai usar sim! — ela ordenou.
— Ok! Sua doida — cedi, pois sabia que não tinha como rebater a irmã de Dimitri. Esses
russos tinham o costume de mandar e seduzir as pessoas com seu jeito imponente.
Na sequência, ela me ajudou a me vestir e colocou minhas sandálias de salto baixo.
— Pronto, totalmente linda! — constatou, satisfeita.
— Obrigada, amiga.
— O gogoboy vai gamar, Lu! — garantiu, dando pulinhos.
— Você já falou com ele, Ka?
— Sim! Ele já está te esperando em um restaurante chique perto daqui e, dependendo do
que rolar, vocês irão para um motel ou para o apartamento dele, onde ele costuma levar os
clientes.
— Ai, estou nervosa, Ka… — expressei, esfregando as minhas mãos, que insistiam em
suar.
— Vai dar tudo certo! Ele é bem gentil e carinhoso, já ficou com uma mulher cega. Agora
eu tenho que ir, infelizmente não posso te deixar no restaurante, pois tenho que buscar meu
namorado no aeroporto. Mas vou chamar um táxi de confiança.
— Tá bom, salve o número na discagem rápida que eu ligo.
— Ok! — ela pegou meu celular, explicando que salvou os contatos do táxi no número 8 e
do gogoboy no número 9, depois me entregou. — Pronto! Espero que você dê muito e chegue
toda assada nesta casa! — desejou e sorriu, me fazendo gargalhar, a ponto de chorar.
— Ok, sua louca!
— Bom, eu já vou, Lu! Boa sorte e me liga quando terminar… vou passar a madrugada
toda acordada, se é que me entende, hihi.
— Safada! Eu ligo sim!
Ekaterina me abraçou, indo embora em seguida e vai embora.
Ao me dirigir para a sala, sentei-me no sofá, respirando fundo e me preparando para ter
minha primeira relação sexual após o acidente. Esperava que tudo desse certo, eu precisava
urgentemente de um orgasmo.
DEPOIS DE UM DIA EXAUSTIVO de trabalho, cheguei em casa e fui dormir. Passei o dia
inteiro fingindo que não me importava com a presença de Luciana, mas a diaba estava tão linda e
tão gostosa naquela roupa de malhar, que meus olhos sempre me traíam e a secavam de maneira
obsessiva, fissurados em cada movimento seu.
Depois de acordar, percebi que já era noite e fui tomar um banho, depois me enxuguei e
vesti uma calça moletom. Em seguida, escutei uma batida à porta e fui abrir, dando de cara com
minha irmã.
— Oiiiiii! — ela anunciou sua entrada, toda animada.
— Ekaterina? O que quer aqui? Algum problema com o papai? — questionei, ao vê-la
entrando e ficando à minha frente, esboçando seu sorrisinho cínico.
— Ah, não, só vim dar um oi, estou de saída.
— Sei, e onde você estava?
— Na casa da Lu! Estava a arrumando para um encontro, hihi!
— Quê? — exclamei, franzindo o cenho. — Encontro? — apertei os olhos e cocei a barba,
num ato de nervosismo. — Com um homem? — perguntei, possesso.
— Sim, seu bobinho! — ela afirmou, irônica. — Mais precisamente com um gogoboy. —
Ekaterina enfatizou a palavra "gogoboy" com deboche, me deixando ainda mais possesso de
ciúmes.
— Eu tenho certeza de que tem dedo seu nisso, sua safada! — acusei, irritado.
— Claro que tem, Dimitrizinho! — confirmou, orgulhosa. — Eu gosto de ajudar as minhas
amigas!
Balancei a cabeça em descrença.
— Você é louca, Ekaterina? Como pôde tramar algo assim e fazer a Luciana se encontrar
com um cara que não a conhece? Ela é cega, e ele pode fazer mal a ela! Você deveria ter
vergonha! — com o dedo em riste ao seu rosto, a repreendi, entredentes.
Ela caiu na gargalhada, me irritando pra caralho, e continuou seu deboche:
— Ow, tá com ciúmes, baby? Ah, cala a boca, Dimitri! A Luciana precisa transar e eu só
quis ajudar! E eu conheço esse gogoboy, até fiquei com ele. Ainnn, ele é tão gostoso… E aquele
pauzão… Uii! — ela fechou os olhos, imitando um delírio, zombando de mim.
— CALA A BOCA! SAI DAQUI! — vociferei, possesso de raiva.
— Os ciúmes tá on! — gargalhou alto, com as mãos na barriga e despediu-se, indo em
direção à porta. — Tchauzinho… — parou e deu um aviso: — Ah, e se quiser ver como a Lu
está linda, vá até a casa dela, porque o táxi ainda não chegou. Bye, bye, maninho! — soltou um
beijinho no ar e saiu sorrindo, toda animada.
— Sua cínica! — bradei, trincando o maxilar, com vontade de matar todo mundo.
Pus as mãos na cabeça, enlouquecido, e decidi tomar uma atitude.
— Não vou permitir que isso aconteça!
Imediatamente, fui até a porta dela e bati na madeira repetidas vezes, com raiva.
Quando a porta foi aberta, o ar me faltou nos pulmões.
Porra!
Luciana estava linda pra caralho, com um vestido preto minúsculo colado em seu corpo,
destacando perfeitamente suas curvas, as fendas nas laterais de sua cintura exibindo sua pele
morena, deixando-a totalmente sensual. Seus cabelos estavam soltos, com cachos nas pontas e
seu rosto, maquiado, o que raramente acontecia. Os olhos delineados de preto com uma
maquiagem escura nas pálpebras, os cílios volumosos bem arqueados pela máscara preta, um
blush rosado leve em suas bochechas e o batom rosa escuro cobrindo aqueles lábios levemente
cheios e tentadores.
Ela sentiu meu cheiro e constatou de imediato minha presença.
— Dimitri? O que quer aqui? — perguntou ríspida, com o rosto erguido.
— Pra onde você vai assim? — a indaguei sem rodeios, enciumado.
Ela empinou ainda mais o nariz, disposta a começar uma discussão, pôs as mãos na cintura
e me inquiriu:
— Assim como?
— Está linda demais... — a elogiei num sussurro, cheio de admiração.
— Vou sair para transar! — num rompante respondeu, toda atrevida, deixando-me louco.
— QUÊ? — rosnei, tomado pela irritação.
— Isso mesmo que você ouviu, DIMITRI! DAR, TREPAR, FODER! Está com problemas
auditivos, querido? — rebateu, irônica, sabendo que isso me enlouqueceria.
— Sua atrevida! Você não vai! — ditei, enfurecido.
— QUÊ? E quem é você para me dar ordens, seu ogro? — refutou, entredentes.
De repente, a mãe dela chegou na sala, preocupada com nossos gritos.
— Filha, que briga é essa? — questionou dona Mirian.
— Ah, não é nada, mãe, eu já vou! Boa noite — Luciana avisou e pegou a coleira de
Pandora.
— Se cuida filha e qualquer coisa, me ligue.
— Ok, mãe.
Depois pegou a bolsinha que estava no sofá, e ao vir em direção à porta com a mão
erguida, me empurrou para fora com raiva, gritando comigo:
— Me deixe em paz, Dimitri! Vou ligar para o táxi! — enquanto ela pegava o celular
dentro da bolsinha e dedilhava os botões do aparelho para ligar para o táxi, eu me desesperei e o
tomei de suas mãos.
— Você não vai trepar com aquele gogoboy safado, Luciana! — asseverei, ensandecido de
ciúmes. No momento em que o taxista atendeu, cancelei a corrida, deixando-a irada.
— Me dê o meu celular, seu cachorro! — ela tentou pegar o celular e enquanto a
empurrava, procurei o número do gogoboy.
— Achei! — imediatamente, mandei uma mensagem para ele, cancelando tudo e pedindo
desculpas. Em seguida, apaguei o número dele.
— Dimitri! Isso é invasão de privacidade! Me dá o meu celular agora, seu infeliz! —
Luciana exigiu, aos gritos, e podia jurar que se ela enxergasse, me mataria neste momento.
— Toma! — empurrei o aparelho em suas mãos.
— O que você fez? — perguntou, ao pegar o celular.
— Eu mandei mensagem para o táxi e para o gogoboy filho da puta, cancelando tudo!
Você não vai dar pra ele, Luciana! — grunhi em seu rosto.
— Eu dou a quem eu quiser! — ela gritou, com raiva.
Me revoltei, com um ciúme do inferno tomando conta do meu ser e abri a porta da casa
dela, tomando a coleira da cachorra bruscamente de sua mão e a colocando para dentro. Mirian
colocou as mãos na boca, espantada, enquanto Luciana continuava gritando comigo.
— Dimitri, o que você tá fazendo?
— Oi, dona Mirian, coloque Pandora para dormir, sua filha vai ficar um tempinho na
minha casa, comigo — pedi, esboçando um sorriso cínico e piscando o olho de forma sexy para
ela, que continuava chocada e me respondeu, surpresa com minha atitude.
— O-ok.
Depois, eu fechei a porta por trás de mim, coloquei Luciana no meu ombro sem ela
esperar, deixando-a enfurecida.
— Ahh! Filho da mãe! Me coloca no chão agora! — seu berro ecoava pelo corredor e ela
balançava as pernas, desesperada, cravando as unhas em minhas costas.
— Cala a boca, reclamona! — bradei, dando um tapa em sua bunda e ela se debateu ainda
mais, gritando e batendo nas minhas costas. Seu vestido minúsculo subiu um pouco, mostrando
sua bunda empinada e uma calcinha minúscula de renda preta toda enfiada em seu rabo, fazendo
um sussurrar excitado escapar de meus lábios. — Porra, meu Deus...
— Dimitri, eu vou te matar! — ameaçou, raivosa.
— Eu sei exatamente como você fará isso, sua gostosa… — garanti, gargalhando,
adentrando em meu apartamento e fechei a porta, com o pé. Depois, a coloquei no chão,
enquanto ela me esbofeteava no meu peitoral, com raiva.
— Ahh, seu psicopata! Amanhã vou te denunciar na delegacia! Tenho um amigo policial e
ele te dará uma lição!
— Chega, porra! Calada e me escute! — vociferei, irado com sua teimosia.
Luciana ficava nervosa com meus gritos, notei seu busto subindo e descendo rapidamente,
sua respiração arfante. Ela esfregou as mãos e ergueu o rosto, mesmo sem poder me ver.
— Fale, seu russo desgraçado! — rosnou, trêmula.
Aproximei meu corpo ao dela, ficando a poucos centímetros de seu rosto, dando-lhe um
aviso:
— Você não vai trepar com aquele gogoboy nem com ninguém, porque eu não vou deixar!
Eu sei que é doida para dar para mim. Você quer uma foda gostosa, não é? Pois é isso que vou te
proporcionar!
Ela engoliu em seco, afastando-se de mim.
— Eu-eu... não quero você! Me deixe sair.
— Não, você não vai! — cravei as mãos em sua cintura e a trouxe até mim, colando nossos
quadris. Inclinei meu rosto, já que ela era baixinha, e me manifestei: — Eu sou um homem de
confiança e você sabe disso, não te obrigarei a nada, e não permito que fique com
desconhecidos! Você está cega e eles podem te fazer mal, mulher louca!
— E agora você se preocupa comigo?
— Sim... Muito, Luciana...
Ela olhou para baixo, colocando as mãos na cabeça, tolhendo suas reais emoções.
— Você precisa me esquecer, Dimitri...
— Qual o meu problema? Um gogoboy de 300 dólares é melhor que eu? — perguntei-lhe,
indignado.
— Eu não sei, Dimitri! Só tenho medo de me envolver com você e...
— E se apaixonar por mim? — indaguei, na lata.
— Sim — ergueu o rosto novamente, com os lindos orbes castanhos perdidos. — Isso não
pode acontecer. Eu sei muito bem que você só quer usar as mulheres! E eu não serei seu
brinquedo! — expressou, tentando me empurrar, sem sucesso.
— Escuta... — segurei seus ombros. — Eu também tenho medo disso acontecer, mas quero
deixar bem claro como me sinto: você mexe intensamente comigo. Eu não te quero porque tenho
pena de sua cegueira, ou porque quero apenas te usar. O que me deixa fascinado é esse seu jeito
atrevido, essa sua beleza estonteante, a sua vontade de viver e enfrentar a merda da escuridão,
mesmo com toda a dor que lhe rodeia… Eu nunca vi uma mulher como você, Luciana… —
engoli em seco, tomado por uma emoção estranha que estremecia meu corpo até os ossos e
continuei: — Nós podemos fazer o seguinte...
— Fazer o quê? — interrompeu-me, curiosa.
— Podemos ter uma amizade com benefícios — sugeri com a voz mais calma.
— Uma amizade colorida?
— Isso, sem sentimentos... Você transa só comigo, mas não mandamos na vida de
ninguém, o que acha?
— Ahhh! Quer dizer que eu só posso ficar contigo, mas você pode comer meio mundo? Eu
não quero, me solte, seu cafajeste! — gritou, enfezada, se debatendo.
Porra de mulher teimosa!
— Espera, Luciana! — a detive, deslizando as mãos até sua cintura, a apertando, e aliviei
meu tom de voz. — Eu... eu aceito ficar só com você também... e quando a gente se cansar um
do outro, terminamos. Sem sentimentos e sem rancor. Simples.
Ela ficou pensativa e mordeu o lábio inferior, deixando-me maluco. Não suportando mais
essa vontade louca que senti por essa mulher, segurei seu rosto, e tomei seus lábios de forma
bruta, com toda a urgência que havia nesse mundo.
Luciana entregou-se aos meus sem hesitação, prendendo-me pelos ombros. Suas unhas
arranhavam suavemente minhas costas por alguns instantes, antes de subirem pelos meus
cabelos, enredando-se nos fios com intensidade, revelando a vontade avassaladora que sentia por
mim.
— Seu filho da mãe... — ela gemia entre beijos, enquanto deslizava meus lábios por seu
pescoço, marcando-o com mordidas e chupões. — Ahhhh...
Com a voz rouca, perguntei ao pé de seu ouvido:
— Aceita esse acordo, Luciana?
— Sim... — ela gemeu com os olhos fechados, incentivando-me a explorar cada
centímetro de sua pele quente.
Num movimento contínuo, a levei para minha cama, nossos lábios ainda em um beijo
apaixonado. Suas mãos seguravam meu rosto com delicadeza, enquanto sua língua dançava
freneticamente com a minha.
Apertei suas nádegas com firmeza, provocando gemidos ainda mais intensos. Ao
chegarmos ao meu quarto, a deitei na cama e a cobri de beijos ardentes, revelando um desejo
incontrolável.
Enquanto ela começava a se despir, a interrompi, segurando suas mãos.
— Espere.
— O que foi? — ela perguntou, sem compreender.
— Não é justo apenas eu te ver...
— O quê? Do que você está falando, Dimitri? — ela franziu a testa.
Peguei uma gravata preta na mesinha de cabeceira e, olhando nos olhos dela, vendei meus
olhos e a amarrei por trás de meus cabelos na nuca. Em seguida, coloquei as mãos dela em meu
rosto.
— Sinta isso... Estou vendado... Hoje seremos só olfato, tato, audição e paladar...
— Oh, Dimitri... Não precisa fazer isso... É só sexo... — ela disse, surpresa com minha
atitude.
— Eu sei, mas quero ser justo.
Luciana me virou com força, ficando por cima, cheia de desejo. Nos beijamos com paixão,
como dois amantes desenfreados.
Com a mão livre, ela explorou meu peitoral, deslizando até meu quadril, percebendo que
estava apenas de calça moletom. Lentamente, desceu a mão até parar sobre meu membro. Ela
hesitou, tomada pela vergonha, mas coloquei minha mão sobre a dela, encorajando-a a me tocar.
— Pare de reprimir seus desejos, mulher! — grunhi, segurando seu rosto entre minhas
mãos. — Sinta meu desejo por você... Vou te fazer gemer em português. Me toca!
— Seu safado! — ela murmurou, desejosa, enquanto eu a beijava com intensidade,
envolvendo seus gemidos. Ao afastar nossos lábios, escutei um gemido de susto, mas permaneci
em silêncio, respeitando seu momento. Certamente, ela estava surpresa com o meu tamanho.
Sim, meu membro é avantajado, e eu me orgulho disso.
Ajoelhada no colchão, ela se posicionou entre minhas pernas. Suas mãos delicadas e
trêmulas deslizaram até o cós da minha calça, puxando-a junto com a cueca, revelando meu
membro rígido que despontou em meu abdômen. Após livrar-me das roupas, jogando-as no chão,
ela retornou de forma sedutora ao meio das minhas coxas, explorando cuidadosamente a
extensão, masturbando-me lentamente.
— Droga, Dimitri, não sei como lidar com você, estou... nervosa. Já faz tanto tempo, desde
a última vez que... que estive com um homem — ela expressou insegurança.
— Relaxa. Vem cá — tomei a iniciativa, puxando-a pela cintura e a montando em meu
quadril. Deslizei suas alças pelo braço, mordiscando delicadamente seu ombro, descendo com
minha boca faminta por seu busto até chegar em seus seios. Os chupei, dando atenção especial
aos bicos intumescidos, mordendo-os alternadamente, provocando gemidos de Luciana, que
apertava meus cabelos.
— O que você quer que eu faça contigo? — perguntei roucamente.
— Eu... eu não sei... Peço apenas que, no começo, seja delicado... Você é tão grande,
Dimitri...
— Está falando do meu pau, não é? — sorri maliciosamente.
— Sim, seu arrogante gostoso — ela confirmou, envergonhada, mas com um riso contente.
— Não tenha medo, vai encaixar todinho dentro de ti e você vai passar a noite toda
sentando nele, vai ficar viciada... A única coisa que ele faz às mulheres é proporcionar prazer —
provoquei, apreciando sua reação.
— Canalha! — ela me xingou, visivelmente enciumada.
A deitei na cama de barriga para cima, retirando seu vestido e lingerie, deixando-a
completamente nua. E, porra, pude sentir com minhas mãos que ela era bem mais gostosa do que
eu pensava. Com um toque mais preciso de meus dedos, senti duas marquinhas parecidas com
cicatrizes de bisturi embaixo de seus seios e percebi que ela tinha próteses de silicone, por isso os
peitos eram grandes e firmes, mas, se não tivesse, eu não me importaria. Não ligava tanto para o
físico, o que me chamava mais atenção era a química que eu sentia.
E a que eu sinto por essa mulher é fodidamente inexplicável…
Quanto mais ela dizia que me odiava, que fugia de mim, mais eu a queria…
E aqui estava ela, em minha cama…
Então, me joguei sobre ela, impondo meu corpo colado no seu, como um animal no cio.
— Não aguento mais, mulher, preciso me enterrar em você! — rosnei em seu ouvido,
enquanto pegava uma camisinha da gaveta perto da cabeceira. Ajoelhei-me sobre ela, rasgando o
envelope com os dentes, cobrindo meu pau com maestria. Nunca deixei de usá-las para evitar
surpresas desagradáveis.
Percebendo seu nervosismo, deslizei as mãos por suas pernas e coxas, separando-as com
meu joelho, roçando entre elas. Senti a umidade contra minha pele e percebi que minha atraente
vizinha estava mais do que pronta para se entregar a mim. Inclinei meu corpo e rosto entre suas
pernas, lambendo o lado interno de suas coxas, escorregando até sua intimidade, inundada de
prazer.
Ao pressionar dois dedos ali em seu nervinho inchado e socando em seguida dentro de sua
fenda. Ela se estremeceu por inteira.
— Isso é tudo por minha causa, não é? — murmurei excitado, socando meus dedos.
— Sim, Dimitri, é! — confirmou com um gemido alto, contorcendo-se. Sem esperar por
mais nada, substituí meus dedos por minha boca e mergulhei em sua boceta inchada, explorando
com deleite o sabor irresistível, o cheiro de fêmea impregnando meus sentidos. — Ohh, Dimitri!
— seu grito de prazer ecoou pelo quarto, incentivando-me a me entregar ainda mais às dobras
molhadas dessa mulher. A satisfiz vorazmente, descontando todo o desejo acumulado, enquanto
ela se debatia, puxando meus cabelos com força e esfregando tudo em meu rosto.
E, porra, estava amando perder o meu fôlego ali!
Com o objetivo de levá-la à beira da loucura, mordi suavemente seu ponto sensível,
sugando-o num vaivém envolvente, minhas mãos acariciando suas coxas com delicadeza. Ela
gritava, repetindo meu apelido que a mexicana escandalizava na hora H.
— Ahh, seu cabrón safado!
Acelerei as carícias em seu clitóris, e seu corpo tremeu descontroladamente,
desmanchando-se em um orgasmo extraordinário. Não perdi tempo e subi até sua boca, beijando-
a com paixão, fazendo sentir seu próprio gosto e a envolvendo com meu corpo.
— Agora, você vai sentir meu desejo por você, brasileira gostosa — avisei, ansioso para
me unir a ela.
— Sim. Só me foda gostoso! — Luciana pediu, extremamente excitada.
A beijei ainda mais e me posicionei entre suas coxas, movimentando-me delicadamente,
tentando manter a minha sanidade e não a machucar. A escuridão ao redor dos meus olhos
devido à gravata, intensificava as sensações, tornando-as mais interessantes. Percebi que os
outros sentidos do meu corpo se aguçavam na ausência da visão. Era mais ou menos assim que
essa brasileira devia se sentir na maioria do tempo. Que bom poder, por algum momento, me
colocar em seu lugar e mostrar que não era qualquer um, mesmo que fosse apenas um momento
de intimidade.
No entanto, não será um mero momento. Vou torná-lo memorável e demonstrar o quão
estimulante pode ser estar entre meus lençóis.
Luciana ia sentindo minha aproximação e se entregava ainda mais.
— Meu Deus, que homem safado! — gemeu em português, e fazendo um sorriso malicioso
surgir em meus lábios. — Continue, russo filho da mãe! — exigiu num rosnado em inglês,
apertando as pernas ao redor de minha cintura.
— Tem certeza, reclamona?
— Sim! Seu cachorro!
— Ahh, porra — murmurei, com a testa colada à dela, perdendo um pouco da compostura
que me restava e investindo com firmeza em sua entrega.
Meu membro deslizava facilmente, dado o estado de excitação da mulher. Seu grito
ardente preenchia meus ouvidos como uma melodia prazerosa, enquanto suas unhas deixavam
marcas ardidas na pele das minhas costas.
A batida intensa e molhada de nossos corpos ressoava pelo ambiente abafado de gemidos e
gritos, um prazer avassalador percorria meu corpo, fervilhando, à medida que estocava mais forte
a cada arremetida, num ritmo envolvente que fazia Luciana ficar rouca de tanto gritar.
— Está gostoso ser fodida com força? — perguntei rouco em seu ouvido, segurando seu
rosto entre as mãos.
— Muito!
— Quer que eu soque mais forte nessa boceta apertada?
— Por favor!
— Vou acabar contigo, Luciana! Acho que você não andará direito tão cedo..., mas será
por um bom motivo — garanti num rosnado.
— Seu filho da mãe! Ah, que gostoso! — ela gemeu alto.
Por alguns minutos, me enterrei naquela mulher sem um pingo de pena, depois decidi
trocar de posição.
— Senta com vontade, sua gostosa! Dê tudo de si para mim, vai… — comandei, sedento
de desejo.
Ela se segurou nos meus ombros e foi cavalgando no meu pau, me deixando louco.
— Porra, senhor! — praguejei, ao sentir meu cacete se afundar em sua fenda encharcada.
— Dimitri, tire sua venda — ela pediu.
— Por quê?
— Quero que me veja sentando em você! Seu safado!
— Ok — sorri de canto e tirei a gravata. Ao me dar conta da beleza estonteante dessa
mulher, olhando por inteiro seu corpo pequeno e sensual montado no meu, eu enlouqueci.
— Cacete, que mulher linda!
Com meu olhar possessivo colado subindo pelo seu rosto, visualizei o suor besuntando o
bronze de sua pele morena, as feições de seu semblante embriagado de desejo, com os olhos
fechados e seus dentes mordendo o lábio inferior com muita força.
Amparei as mãos em seu quadril e meti sem dó, fazendo-a gritar.
— Toma, gostosa! Geme em português pra mim, vai! — pedi, todo bruto, mordendo meu
lábio com tanta força que senti o gosto ferruginoso de sangue em minha boca.
E, cacete, eu estava louco. Louco para foder essa mulher até o talo. Até a porra do meu pau
arder!
Ela me obedeceu e gemeu chorosa, num português que me deixava mais doido ainda.
Como eu entendia algumas palavras, pois tinha semelhanças com espanhol, compreendi seus
clamores munidos de prazer.
— Seu russo gostoso! Me fode com força!
— Pode deixar, safadinha! Meu pau tá amando se enterrar nessa sua boceta molhada! E em
breve, amará também foder todos os seus buracos! Vou tomar conta de tudo, ouviu? — avisei
num tom animalesco, fora de mim.
— Sim! — balançou a cabeça, dopada de tesão, ainda de olhos fechados, cavalgando e
sentindo-me se enterrar com raiva dentro dela, enquanto apertava meus ombros com firmeza para
não cair. — Eu vou te dar tudo! Tudo, Dimitri! Oh, meu Deus! Porra —expressou num gemido
ardente, enlouquecida, os peitos batendo em minha cara.
Fui diminuindo os movimentos das estocadas e decidi trocar novamente de posição.
— Fica de quatro. Eu não vou ter pena, mulher...
Ela meneou a cabeça afirmativamente e a ajudei a ficar na posição de exigida.
Ao me ajoelhar por trás dela, inalei o ar profundamente e meu pau latejou, ficando cada
vez mais duro com a visão de sua bunda redonda e perfeita.
Minha mão ardeu e não resisti. Desferi um tapa ardido em sua nádega direita, arrancando
um gritinho assustado, mesclado de prazer, de sua garganta.
— Porra de bunda gostosa! — grunhi e afastei a junção de suas nádegas, visualizando o
anel apertado pulsando, e ao descer mais um pouco o olhar, sua boceta pingando, toda melada de
sua própria excitação.
Ensandeci.
— Há tantas coisas que eu desejo fazer contigo, Luciana… Porra, se você soubesse —
murmurei excitado, apertando sua bunda com as duas mãos.
Ela esfregou o bumbum no meu pau em resposta.
— Só faça, Dimitri… apenas faça!
— Cacete! — puxei seus quadris sem cerimônia, ao encontro de meu volume duro e
estoquei profundo nela, emaranhando uma mão em seus cabelos, puxando com força pela nuca.
— ISSO, DIMITRI! OH, MEU DEUS! — seu corpo impulsionou para frente, mas
manteve as mãos amparadas no colchão firmemente, recebendo com dureza meu cacete.
— Mulher gostosa da porra! Quer levar uns tapas nessa bunda?
— Sim!
Desferi um tapa ardido que estralou, e ela fechou os olhos, com dor e desejo.
— Quer mais, Luciana? — perguntei bruto, socando com força, até o talo. Caralho!
— Sim! Acaba comigo! — balbuciou, choramingando.
— Inferno! — choquei meu quadril com mais força ainda e seus gemidos se
transformaram em gritos chorosos. Ela jogava a cabeça para trás, perdida de tesão. — Droga,
você é tão gostosa! Eu vou te foder direto, safada! — sussurrei, ao aproximar minha boca de sua
orelha.
— E eu não vou reclamar, cabrón!
Na sequência, tombei nossos corpos de lado, na posição de conchinha e soquei sem parar,
enquanto lhe dava beijos quentes, segurando seu rosto com possessividade, chupando e
mordendo sua língua.
A pressão em sua boceta se tornou insana, me entorpecia, a ponto de não saber mais meu
nome. Então, a vontade de gozar veio com tudo.
— Caralho, goza comigo, gostosa? — pedi, dando uma mordida forte em seu pescoço e ela
assentiu, seu rostinho todo suado e o olhar perdido no meu.
Continuei estocando tão forte que chegou um momento que meu pau inchou, esvaindo-se
dentro dela, e eu berrei.
— Porra!
— Meu Deus! — Luciana exclamou com a voz rouca, quase sem fala, e fechou os olhos,
entregando-se num orgasmo junto comigo.
Ainda com o corpo espremido no dela, senti as batidas retumbantes de seu coração, e o
meu acompanhava da mesma forma o ritmo acelerado e descompassado. Para uma experiência
tão sensacional como essa, pude jurar, por um momento, que fundimos nossas almas em uma só,
tamanhas eram as emoções que sentíamos.
E, porra, nunca tinha sido assim com nenhuma outra mulher. Tão intenso. Tão visceral.
Num encaixe tão foda!
Enquanto eu divagava e respirava fundo, tentando levar oxigênio para meus pulmões,
Luciana se virou, aconchegou-se no meu peito e ofegou várias vezes.
— Você está bem, linda? — perguntei, preocupado.
— Sim, Dimitri — responde, sibilando. — Você é tão gostoso, tão bruto...
— Você gostou? Eu te machuquei? — meu lado protetor gritava de preocupação.
— Gostei muito e não se preocupe, não me machucou — garantiu, aliviando-me.
— Vou te dar isso todos os dias, sempre que tivermos tempo — prometi, morrendo de
vontade do segundo round. — Vou te deixar doida, Luciana.
— Oh, Deus! Doida, eu já estou faz tempo — confessou, sorrindo lindamente e tateou meu
rosto, alisando minha barba.
— Você é tão perfeita, tão linda… — elogiei-a, fascinado com sua beleza única.
— Obrigado, seu russo sedutor…, mas, lembre-se: sem sentimentos — advertiu,
brincalhona.
— Ok — a puxei mais para meu peito e a abracei com força, beijando sua cabeça.
Depois de um tempo, ela adormeceu e eu fiquei a admirando, cada centímetro do seu
corpo.
Não sei se conseguiria fugir dos sentimentos… será uma missão impossível.
O DIA AMANHECEU, e não fazia nem duas horas que dormimos, já que transamos mais duas
vezes. Luciana estava agarrada em mim, com a cabeça aninhada em meu peito e eu despertei,
beijando sua cabeça e seu rosto.
Ela era totalmente linda e isso me deixava nervoso. Estava ficando maluco por essa
mulher.
Ela estava acordando e selei um beijo em seus lábios, roçando a ponta no meu nariz no
dela.
— Que horas são? — perguntou, enquanto tocava meu rosto com carinho.
— Acho que umas 6 da manhã, tenho que ir trabalhar — avisei, venerando seus lindos
olhos castanhos.
— Sério? Não está cansado, Dimitri? — perguntou, meio chocada com minha resistência.
— Sim, um pouco, mas já me acostumei a viver assim, linda.
— Aham... Trepando até de manhã com as outras... — a brasileira resmungou, enciumada.
Sua carinha ciumenta me arrancou um sorriso largo dos lábios.
— Está com ciúmes? — inquiri, sussurrando, mesmo sabendo a resposta.
— Jamais... — negou, franzindo os lábios irritada, mas sabia que era mentira.
— Sei... Enquanto eu estiver com você, sou todo seu, Luciana. Vou sempre estar enterrado
dentro de ti, bem fundo, socando sempre com força — garanti, indo para cima dela,
completamente duro de novo, ao mesmo tempo que pegava uma camisinha que tinha na
cabeceira da cama. Coloquei rapidamente em volta da minha ereção, e estoquei devagar em sua
intimidade enquanto a beijava.
— Di-Dimitri! De novo? — questionou, assustada.
— Sim... você me deixa duro demais, mulher... Só uma rapidinha... não faz barulho, vão
ouvir...
— Ok... — ela assentiu, sorrindo e enlaçando os braços no meu pescoço, à medida que
afundava meus dentes na curva de seu pescoço, mordendo sua pele cheirosa e comendo sua
boceta com vontade, fazendo-a gemer baixinho. — Ohh, Dimitri.… você é tão gostoso. Eu não
vou conseguir me levantar, senhor! Ah! — ela ficou a ponto de gritar, conforme eu socava com
mais raiva.
— Xiii, não grita — pedi num rosnado e mordisquei ainda mais seu pescoço, dando-lhe um
chupão.
Ela cravou as unhas em meus cabelos e os apertou.
— Ahh, Deus!
— Goza no meu pau, safada! — exigi bruto em seu ouvido. — Quando eu chegar da
academia, vou te comer com mais raiva ainda, Luciana! — prometi, sentindo sua intimidade
apertar meu pau, num incentivo que eu metesse mais forte, o que se tornava gostoso pra caralho.
— Caramba, você é insaciável! — a fogosa gemeu ainda mais.
— Sou sim, e você me deixa ainda mais louco... — confessei.
— Seu mentiroso! — rebateu, gemendo.
Meti com brutalidade, fazendo-a gritar, e dei-lhe um aviso:
— Se você começar a brigar agora, eu não saio de cima de você tão cedo... vou te fazer
implorar, Luciana!
— Droga! — os gritos sôfregos ecoavam de sua pobre garganta, tomada pela rouquidão, ao
sentir minha brutalidade.
Em mais algumas estocadas intensas, atingimos o ápice do prazer juntos, agarrados na
cama, banhados de suor, e ela parecia exausta, evidenciado pelo seu semblante de puro
abatimento e cansaço.
— O que foi, linda? Está cansada? — perguntei, traçando meu polegar em seu nariz
afilado.
— Muito… — desabafou, o tom de voz denotando cansaço. — Eu preciso dormir, Dimitri.
— Ok. Vamos tomar um banho?
— Está certo.
Levei-a nos braços até o meu banheiro, localizado dentro do quarto, e tomamos banho
juntos. Depois, vesti uma camisa minha nela, que mais parecia um vestido de tão grande, e, após
me vestir, coloquei Luciana nos braços novamente e segui até seu apartamento.
— Dimitri, me coloca no chão, eu sei andar — ela pediu, constrangida. Porra de mulher
orgulhosa!
— Não, você está cansada, vou te colocar na cama — tentei soar gentil.
Ela se conformou e deitou a cabeça no meu peito, os braços enroscados com firmeza em
meu pescoço, enquanto me direcionei até sua porta e a abri com a cópia da chave que ela me
indicou dentro de sua bolsa.
Quando entramos, visualizei a mãe dela tomando um copo de água, contudo, a coitada
cuspiu o líquido ao nos olhar, assustada. Fiz um gesto com a mão para que ela fizesse silêncio, e
ela sorriu, balançando a cabeça, entendendo tudo.
Levei Luciana até seu quarto e a deitei em sua cama.
— Pronto, a bebezinha está na cama... — disse num tom provocativo, sorrindo.
— Seu babaca — ela gargalhou preguiçosa, deitando na cama e puxando o edredom rosa
claro, à medida que me sentei ao seu lado.
— Eu tenho que trabalhar agora, tenho que chegar cedo. Ah, e não precisa ir treinar hoje,
linda.
— Ok, vou dar um cochilo, estou morta.
— Certo, brasileira gostosa... Mais tarde, eu te ressuscito — avisei, dando uma risadinha
maléfica.
— Seu russo idiota! — ela sorriu de orelha a orelha e tateou minha barba com carinho.
Na sequência, dei-lhe um beijo carinhoso, e depois fechei sua porta, dando de cara com
Mirian.
— Oi, Mirian.
— Hum. Bom dia para você também! Pela noite, finalmente se resolveram, foi? —
perguntou esperançosa, com seu jeito irreverente.
— Digamos que, por enquanto, sim — respondi, sorrindo de lado.
— Ah, fico tão feliz por isso! Vocês são tão perfeitos juntos, Dimitri! — expressou, como
se esperasse algo mais de nossa relação colorida.
— É só sexo, dona Mirian, sem sentimentos — asseverei, pela primeira vez na vida sem
muita certeza.
— Sei... Tão iludidos! — Mirian disse, sorrindo e balançando a cabeça.
— Bom, eu já vou, tenho um bom dia!
— Você também, querido.
Dei um beijo em seu rosto e me dirigi até a porta. Mirian ficou sorrindo e, antes de eu sair,
comentou algo baixinho, como se estivesse pensando alto:
— Coitados... mal sabem que já estão apaixonados...
Fechei a porta, meneando a cabeça. Não iria me apaixonar por aquela reclamona… tentaria
não me apaixonar…

Quase uma hora depois, cheguei na academia para trabalhar. Embora eu estivesse um
pouco cansado, não conseguia esquecer a primeira noite que tive com Luciana. E, caramba,
nunca havia ficado tão desejoso por uma mulher.
Tomei seu corpo sem pena e percebi como ela adorou, como se entregou para mim com
vontade. Apesar de tê-la notado meio insegura no início, com medo de realizar certas coisas no
sexo, não tentei outras coisas diferentes. Não sei como era seu relacionamento com o falecido
marido, e percebi que ela poderia ser uma mulher super ousada, mas que nunca experimentou
coisas diferentes, as quais eu submetia às mulheres com quem saía.
No entanto, à medida que estivéssemos mais envolvidos, tentaria algumas loucuras com
Luciana, e esperava que ela topasse, pois, eu estava com um desejo do caralho por essa mulher.

Lá pelas 11:30, quase na hora do almoço, vi Luciana passando em frente à academia com a
mãe, segurando a coleira de Pandora. A mulher estava uma tentação nível hard, usando um
vestido de malha com alças grossas, na cor rosa claro, destacando com louvor as curvas e a pele
que tanto me magnetizava, totalmente gostosa.
Fui até lá, um tanto apressado, chamando por ela:
— Luciana.
Ela e a mãe pararam e falaram comigo.
— Olá, querido.
— Oi, Dimitri — sua voz saiu macia, acompanhada de um largo sorriso.
— Para onde estão indo? — perguntei curioso, cheio de ansiedade para tocar em seu corpo.
— Ah, vamos almoçar em um restaurante da esquina, a comida de lá é ótima — Luciana
respondeu.
— Entendi, mas será que você pode vir no meu escritório? Preciso que você assine um
documento sobre seus treinos. É rápido — menti descaradamente, coçando a barba em
ansiedade, imaginando que Hollywood estava perdendo o ator que residia em mim.
A mãe dela mostrou um sorrisinho saliente, e elas adentraram a academia.
— Vou te esperar aqui no refeitório, filha — Mirian avisou, enquanto segurava Pandora
pela coleira.
— Tá, mãe.
Segurei na mão dela e a guiei até meu escritório. Muitas pessoas curiosas que estavam na
academia ficaram nos olhando, mas eu liguei o foda-se. Ao entrarmos na minha sala, fechei a
porta com a chave e a agarrei pela frente, apertando sua bunda, a assustando.
— Dimitri! O que significa isso? — ela questionou, assustada, segurando em meus
ombros.
— Significa que te desejo agora... Meu Deus, que vestido é esse, mulher?
Ela sorriu, cheia de desejo, e me envolveu pelo pescoço.
— Seu animal insaciável.
Roubei um beijo cheio de malícia em seus lábios, enquanto suas unhas exploravam meu
peitoral, deslizando provocativamente pelo abdômen.
— Por que você está sem camisa e suado? — perguntou, ao afastar os lábios dos meus,
com a voz levemente excitada.
— Eu estava em um treino de Muay Thai, Luciana.
— Entendi... Você parece ser bem forte — constatou, mordendo o lábio inferior.
— Acertou na mosca... E tenho um monte de tatuagens, você gosta?
— Nossa… bem, acho interessante. Um russo bad boy…
— Quando você puder me ver, vou viver sem camisa só para você ficar me provocando
com arranhões e mordidas — sussurrei provocativo em seu ouvido, deixando-a toda arrepiada.
— Seu safado!
— Vem cá... — virei-a abruptamente, prensando-a na frente da mesa do escritório e
levantando seu vestido, revelando sua bunda linda e empinada. — Senhor! — exclamei
fascinado, dando um tapa na nádega esquerda.
— Dimitri, você está doido? Quer transar aqui e agora? Vão ouvir! — comentou nervosa,
com as mãos apoiadas na minha mesa de madeira.
— Vão nada! O som da música está altíssimo. Estou louco para te foder assim, com esse
vestido — mordi seu pescoço, e ela jogou a cabeça para trás em antecipação, ansiosa para se
entregar. Logo em seguida, abaixei seu vestido e sutiã na parte dos seios cheios, deixando-os à
mostra, apertando seus mamilos intumescidos entre meus dedos com força, levando-a à loucura.
— Droga! Você é tão safado.
— Sou sim, e você gosta que eu sei — deslizei as mãos até sua calcinha de renda
minúscula, baixando-a até a metade das coxas. Fui rapidamente até minha mochila, peguei um
preservativo, rasguei o envelope e o coloquei rapidamente. Meu desejo insano fazia meu pau
latejar, de tão duro por essa mulher.
— Fica arqueada, linda — pedi, sussurrando em seu ouvido. — Coloque as mãos na mesa
e se empina para mim.
— S-sim... — ela me obedeceu, erguendo o rosto por cima do ombro, o rubor cobrindo
suas bochechas, meio envergonhada e insegura.
Ao penetrar meu pau em sua intimidade, percebi que deslizava, de tão molhada que ela
estava.
— Porra, você tá toda molhadinha! Caralho, isso me deixa louco!
Luciana gemeu e jogou a cabeça para trás enquanto me enterrava com gosto.
— Ah, meu Deus! Você é louco, seu boca suja! — gemeu baixinho, preocupada.
Colei meu rosto no dela e beijei sua boca de lado, engolindo seus gemidos ardentes.
Ao abrir meus olhos e descolar nossas bocas, fitei seus traços desejosos e percebi o quanto
ela era linda.
Parecia que a cada dia que passava, ela ficava ainda mais bela.
Acelerei ainda mais os movimentos, colocando os dedos indicador e médio em sua boca,
ela ainda de quatro.
— Chupa, Luciana. Imagina que é o meu pau todo socado dentro de ti, vai — exigi com
um rosnado.
A brasileira ficou nervosa, mas atendeu ao meu pedido e envolveu meus dedos robustos
em um movimento de vaivém delicioso. Fiquei ainda mais enlouquecido ao vê-la me chupando
com tanto desejo, tão fundo, tão gostoso, quase chegando no palato de sua garganta, e sussurrei
novamente em seu ouvido:
— Minha fantasia é te deixar completamente preenchida com alguns brinquedinhos, sabia?
Enquanto meu pau faz o restante do trabalho...
— Cristo... você é insano — disse, ao retirar os dedos da boca.
— Você deseja que eu faça isso com você? Ficar completamente preenchida em todos os
seus orifícios, somente por mim? — perguntei com rudeza, penetrando com intensidade.
— Oh, Deus! Sim! Quero qualquer coisa contigo! — Luciana acabou gritando, fora de si,
revirando os olhos de desejo.
Acelerei os movimentos, e ela tentou se equilibrar na mesa, apertando a madeira com
força. No entanto, meu celular começou a tocar, deixando-me agoniado.
Caramba! Odeio quando alguém atrapalha minha diversão!
— Dimitri! — ela balbuciava, em meio às investidas. — É melhor... pararmos!
Continuei a meter com raiva na boceta molhada, segurando sua cintura com firmeza,
decidindo gozar logo, embora desejasse ficar por mais algum tempo.
— Ah, Luciana, de noite você me paga por ser tão gostosa! — em um último impulso,
acabei gozando. Ela se estremeceu por inteiro e desabou em cima da mesa, com o bumbum
empinado.
— Meu Deus... Eu nunca fiz essas loucuras... — comentou, perplexa.
— Acostume-se, coisa linda... Eu sou o próprio hospício... — assegurei, sorrindo, e fui até
o banheiro me livrar do preservativo, descartando-o na lixeira e lavando minhas mãos na pia.
Ao retornar para a sala, vi que ela se recompunha ao ficar de pé, puxando seu vestido rosa
e sutiã para cima, com a cara fechada.
— Que foi? — perguntei, ao ficar de frente a ela.
— Estou fedendo a sexo, Dimitri! O que pensarão de mim? — ela exclamou, passando as
mãos nos cabelos, nervosa.
— Espera — gargalhei com sua preocupação exagerada e peguei meu perfume dentro da
minha bolsa. Borrifei um pouco na sua roupa e, ao colocar uma boa quantidade na minha palma,
enfiei a mão no meio das suas pernas, enchendo-a daquele cheiro.
— Dimitri — ela me repreendeu num gritinho.
— Pronto! Agora está com meu cheiro!
— Cristo! Vão pensar que viemos trepar!
— Que se fodam! Eu sou o CEO dessa porra! E não devemos satisfação a ninguém... Se
alguém te ofender, pode me dizer.
— Eu sei me defender, seu bobo! Mas não gosto de falatórios… — ela esfregou as mãos,
cheia de insegurança e as toquei com carinho.
— Olha, relaxa. Ninguém vai dizer nada... — puxei-a pela cintura e mordi seu pescoço,
ficando duro novamente.
— Pare de fazer isso, seu esfomeado. Eu preciso ir… — ela tentou se desvencilhar, mas
sabia que já estava cheia de vontade, assim como eu.
— Ok, vou te liberar.
— Tá... Mais tarde a gente se vê.
Segurei sua nuca e a beijei intensamente, deixando-a sem ar. Quando paramos, ela me
empurrou, se ajeitando.
— Meu Deus! Eu já vou.
— Espera, vou te levar.
— Tá.
A peguei pela mão e saímos do meu escritório. De repente, dei de cara com Carmem, uma
mexicana linda com quem eu tinha um lance antigo. Ela estava vestida de forma provocante, com
um top de academia vermelho que mal cobria seus peitos siliconados, uma calça legging e tênis
da mesma cor. O cabelo com mechas loiras estava solto e seu olhar era de puro ciúme.
Fodeu!
— Dimitri — Carmem cruzou os braços, com o rosto empinado e falou meu nome
secamente.
Eu parei imediatamente, ainda segurando a mão de Luciana e engoli seco. A mexicana nos
analisava, e eu temia que ela fizesse um barraco, pois sabia que ela tinha sentimentos amorosos
por mim, apesar de eu sempre dizer que não queria nada sério.
— Oi, Carmem. Como está? — perguntei, de forma casual.
— Muito bem... e você, SUMIDO? — retrucou, sarcástica, exibindo um sorriso cínico e
arqueando sua sobrancelha fina.
Ela fixa o olhar decepcionado em Luciana e, em seguida, observou minha mão entrelaçada
à dela.
— Estou ótimo, podemos conversar depois? — sugeri, num tom amistoso, mas a safada
percebeu que eu estava tentando fugir de uma confusão.
— Claro, cabrón… — provocou. — Quero muito conversar com você — disse friamente.
Luciana respirou pesadamente, como se estivesse com raiva e apertou minha mão com
mais força, como se fosse colar para sempre. Então, ela começou a se exibir, me deixando
surpreso.
— Dimitri, não se esqueça de mandar alguém ajeitar nossa cama, amor... Como dormir
nela depois do estrago que fizemos, deixando-a quebrada? — ela gargalhou, apertando os lindos
olhos, e tive vontade de rir de sua atitude para demarcar o território.
A mãe dela se aproximou e deu a coleira Pandora para ela segurar. Carmem permaneceu
silente, analisando tudo de braços cruzados, até que percebeu que Luciana era cega.
— Bom, eu já vou, MEU russo safado — Luciana tateou meu rosto e o puxou para um
beijo inesperado, me surpreendendo e me beijando na frente de todo mundo. — Até mais tarde,
meu cabrón! — ela era pura ousadia ao afastar nossos lábios e ir embora, toda plena.
Carmem acompanhava com o olhar e bufou, balançando a cabeça, revoltada.
— Que merda foi essa? Você está namorando essa cega, Dimitri? — me questionou,
irritada, misturando inglês e espanhol.
O modo como ela falou de Luciana me deixou furioso, e eu a repreendi:
— Trate-a com respeito! Não fale dela dessa forma, com essas frases cheias de
capacitismo! Eu estou tendo um relacionamento com ela! Pronto!
— Quê? — Carmem ficou boquiaberta e colocou as mãos no quadril, exasperada. — Isso
não é justo! Faz anos que fico com você, que satisfaço todas as suas vontades e é dessa forma
que sou recompensada? — desabafou, totalmente decepcionada.
Passei as mãos no cabelo, impaciente, e tentei abrir seus olhos novamente.
— Carmem, eu já expliquei para ti: eu não te amo, foi só sexo!
— Mentira! Você adora me foder! Vivia me ligando! Essa mulher nunca chegará aos meus
pés! Nunca te dará prazer, nem fará o que eu faço, nem mesmo aquela posição da borboleta
paraguaia! — falou alto, querendo gerar um escândalo.
— Chega! Pare de escândalo, porra! — vociferei em sua cara, perdendo a paciência.
Ela encenou um choro e eu bufei. Carmem sempre fazia isso.
— Eu te amo, Dimitri! Estou inconformada!
— Não chore... Olha, vamos ser só amigos, sem sexo, ok? — propus, tentando deixá-la
mais calma, enquanto os clientes observavam a tudo com muita curiosidade.
A mexicana limpou as lágrimas que sequer desceram e me fez uma outra proposta:
— Ok... Então, eu queria te convidar para uma festa que vai ter no meu apê... Só como
amigo, será na quinta. Se você não for, ficarei imensamente triste… — disse, fazendo beicinho
em seus lábios carnudos.
— Ok, eu vou, Carmem. Sempre seremos amigos... Apesar de tudo — menti
descaradamente.
— Tá, eu vou embora, tenho que ir trabalhar... — me deu um beijo no rosto e foi embora.
Depois que ela saiu, fiquei preocupado, pois achei que Luciana ficou muito enciumada e
travaríamos uma briga feia mais tarde, voltando ao nosso estado normal de espírito.
— Que o Senhor me ajude mais tarde para enfrentar a fúria daquela brasileira linda —
gargalhei, me benzendo, fazendo o sinal da cruz em meu rosto, depois retornei aos meus
afazeres.
DEPOIS DE ALMOÇAR FORA, cheguei em casa esbaforida, com um mau-humor do inferno
e joguei minha bolsa em algum lugar no chão, tudo por causa do ciúme incontrolável que senti
daquela mexicana vadia.
— Cadela! — esbravejei e me sentei no sofá com cuidado, largando a coleira de Pandora
para que ela fosse para sua caminha.
— Filha? Está falando sozinha? — minha mãe perguntou, preocupada, enquanto a ouvia
fechar a porta.
— Não é nada, mamãe… — fiz um gesto com a mão para que ela fosse para o seu quarto.
— Vá se deitar, a senhora andou muito hoje comigo.
— Não se preocupe, meu docinho, eu estou bem. Vou ligar para seu pai e dar um cochilo.
Qualquer coisa, me chame.
— Tá, mãe.
Em seguida, segui para o meu quarto e me deitei na cama devagar. Pratiquei um exercício
de respiração, inalando o ar com força e o expulsando devagar, de olhos fechados, tentando me
livrar desse ciúme horrível que crepitava em meu corpo.
Após me acalmar um pouco, decidi dormir, ou tentar.
Só assim esqueço por algum tempo de tudo que aconteceu hoje...

Já era noite quando cheguei em meu apartamento. Antes de abrir a porta, olhei para a de
Luciana por alguns momentos, e minhas mãos arderam para bater e ir ao seu encontro, contudo,
freei meus pensamentos, pois sabia que ela devia estar uma fera por causa de Carmem. Tínhamos
um acordo, em que só ficávamos um com o outro. Se ela pensar que estava com a mexicana
também, aí foderia tudo e eu provavelmente perderia a chance de continuar com ela.
De foder aquele corpo pequeno e sensual.
Eu não queria perder a oportunidade de sempre poder admirar aqueles olhos que tanto me
fascinavam, que quando me viam, brilhavam um pouco mais, afastando a escuridão que os
cercavam…
E, consequentemente, afastando a minha também.
Enfiei a chave no buraco da fechadura e adentrei, trancando a porta por trás de mim com o
pé, jogando a mochila esportiva no sofá e me livrando das roupas do corpo. Segui para o
banheiro e tomei uma ducha refrescante.
Ao sair de lá, me enxuguei com uma toalha e me deitei na cama com tudo, de barriga para
cima.
Fechei os olhos, sentindo a sensação de relaxamento nos meus músculos exaustos pela
prática de exercícios contínuos e, inevitavelmente, minha mente se inundou com lembranças da
madrugada ardente que tive com minha vizinha atrevida.
Deslizei uma mão em direção à minha ereção, que despontava só de pensar em como se
enterrou forte e duro naquela mulher gostosa da porra.
Me masturbei, ainda com os olhos fechados, louco para tê-la de novo sob minha posse.
Contudo, ouvi meu celular tocando insistentemente na minha mochila, que estava em cima do
sofá. Saltei da cama, cheio de expectativas, achando que Luciana estivesse me ligando e peguei o
aparelho imediatamente, porém, se tratava de um número diferente.
— Alô, quem é?
— Dimitri, meu querido, sou eu, Mirian — a mãe de Luciana disse baixinho, como se
estivesse falando escondida.
— Oi, Dona Mirian. Algum problema?
— Não, meu querido “quase genro”. — Sorri. — Está tudo bem. Eu só queria te avisar
que quinta-feira é o aniversário da nossa Lu! Se quiser fazer uma surpresa, fique à vontade, hihi.
— Nossa! Eu vou fazer uma surpresa sim, ela merece! Eu até tinha um compromisso nesse
dia, mas Luciana é mais importante.
— Hummm, bom saber… E, Dimitri, por favor, não diga nada a ela sobre essa ligação, eu
posso te ajudar na surpresa — disse, num tom confidente, me fazendo gargalhar.
— Claro! Será nosso segredo! E sim, eu vou querer a ajuda da senhora. Mais uma vez,
obrigado por avisar.
— Ok, boa noite, querido.
— Boa noite, Dona Mirian.
Desliguei a ligação e fiquei pensativo.
— Então a minha reclamona gostosa vai completar aninho! Hum... — cocei a barba,
pensativo, andando pela sala. — Vou fazer uma surpresa para ela. Mas antes, é claro, vou
provocá-la — sorri, cínico. — Você não perde por esperar, Luciana.

Alguns dias se passaram, e logo a quinta feira chegou. Nos dias anteriores, fiquei me
encontrando com Luciana e eu sempre a arrastava para minha cama e fazia a gostosa gemer em
português, me deixando louco.
Pela manhã, antecipei-me para a academia, e duas horas depois, testemunhei a chegada
dela, radiante e determinada a realizar seus exercícios. Ao perceber minha presença pelo aroma
familiar, um sorriso adornou seu rosto encantador.
— Olá, linda... teve uma boa-noite de sono? — perguntei com gentileza, ao me aproximar
dela, segurando suavemente seu rosto entre as mãos. Meu olhar se deteve por alguns instantes
nas marcas roxas de chupões que deixei em seu pescoço, o que me arrancava um sorriso
confiante.
— Sim..., bem, pelo menos eu tentei — ela sorriu nervosa, apertando os próprios braços.
— De madrugada, você acabou comigo — confessou, envergonhada.
— Hum. Eu adoro te deixar toda quebrada, mulher... — aproximei minha boca de sua
orelha, sussurrando. — A minha vontade agora é arrancar essas suas roupas apertadas com a
boca e fazer você implorar pelo meu pau.
Ela mordeu os lábios, cravando as unhas em meu braço, visivelmente excitada.
— Pare com isso... Não sei como estou conseguindo andar agora — ela sibilou, tentando
conter a emoção.
— Não fale assim, meu bem... Senão, faço você voltar para a “cadeira de rodas” —
provoquei, sorrindo ao ver sua expressão desafiadora.
— Seu idiota! — ela esbravejou, fazendo uma careta, enquanto me divertia com a situação.
— Desculpe, Luciana, às vezes ultrapasso os limites com minhas brincadeiras, não era
minha intenção te ofender…, mas você sabe do que estou falando.
Seu semblante se suavizou, e mudamos de assunto.
— Hum... então …O que você planeja para esta noite? — ela perguntou, curiosa.
— Ah, vou sair para uma festa... na casa da Carmem — respondi, mentindo para provocá-
la, e observei a mudança de humor dela.
— O quê? — exclamou, surpresa, e me empurrou. — Com aquela mexicana atrevida? —
Luciana perguntou irritada, lançando um olhar furioso ao chão.
— Sim — confirmei, segurando o riso. — Está com ciúmes, Luciana?
— Não! — ela negou, erguendo o rosto, mas suas expressões revelavam o contrário.
— Parece que sim. Relacionamento sem sentimentos, lembra, brasileira? — relembrei.
Ela bufou, tentando se explicar:
— Eu sei, é que…, mas não quero te dividir com ela! Se você ficar com aquela mulher,
esqueça-me! Acabou! — ela avisou, com a mandíbula cerrada e olhos faiscando de raiva.
Percebi claramente que o ciúme estava tomando conta dela, e me segurei com firmeza para
não rir, enquanto a provoquei ainda mais:
— Entendi. Não quer que ela se aproveite do meu corpinho, é isso? — questionei, de
forma descarada.
— Dimitri, não me provoque... — ela ameaçou, entredentes.
— Ah, eu não estou te provocando. Mas como conheço bem a minha ex-ficante, sei que ela
vai se jogar em cima de mim a noite toda — emiti um risinho de escárnio e suspirei, adotando
um tom ainda mais provocador. — Ah, aquela mexicana é tão fogosa!
— Arg! — Luciana bufou, irada, e se virou, saindo a passos rápidos, puxando a coleira da
cachorra.
Não satisfeito, corri atrás dela e a segurei pelo braço, arrastando-a em direção a um
corredor escuro, próximo ao almoxarifado. Encostei-a na parede e, ao soltar a coleira de Pandora
de sua mão, prendi seus pulsos acima da cabeça.
— Me solte! — ela se debateu, quase gritando. — Vai ficar com sua mexicana fogosa, seu
canalha! — vociferou, tentando se desvencilhar, o rosto enrubescido de fúria.
Explodi numa gargalhada.
— Porra, você é ciumenta, viu!
— Vá à merda, Dimitri!
— Por acaso está com medo da Carmencita se aproveitar do meu corpinho? — provoquei.
— Seu cachorro! Eu vou te bater! — Luciana berrou em meu peito, debatendo-se.
Gargalhei ainda mais.
— Você está ficando toda vermelha, ciumenta. Está quebrando as regras, sabia?
Ela parou de se rebelar, soltando o ar pesado dos pulmões e falou sério, erguendo o rosto.
— Eu não quero aquela mulher te tocando! — esbravejou, parecendo mais enciumada. —
Nem ninguém! Você... — ela se calou e engoliu em seco, sopesando, sem dúvida, o que diria em
seguida.
— Eu o quê?
— Você é um filho da puta muito bom de cama... e eu não tenho paciência de procurar
outro, por enquanto.
— Duvido que encontrará alguém como eu — respondi, confiante.
— Não subestime isso... talvez aconteça em breve... — ela ameaçou, e senti uma pontada
de ciúme.
A partir disso, aproximei minha testa da dela e a encarei, dando-lhe um aviso firme:
— Não se atreva a procurar outro. Não me desafie.
Ela empinou o nariz, mantendo seu olhar desafiador.
— Então não deixe a Carmem chegar perto de você! Agora me solte, por favor.
— Só depois de eu te beijar — segurei seu rosto com delicadeza, roubando um beijo voraz,
expressando minha vontade de tê-la novamente.
Luciana correspondeu, agarrando-me e descendo as mãos até chegar ao meu calção
Adidas. Ela apertou minha bunda, exalando sensualidade e gemendo.
— Você é tão gostoso... Me faz querer falar uns palavrões... — ela sibilou ao afastar a boca
da minha, meio arfante.
— Você me adora — sorri de canto. — Confessa.
— Seu ogro convencido! — ela esbravejou contra meus lábios.
— Sua reclamona linda.
Ao separarmos nossas bocas, contemplei a perfeição de seu rosto e olhos. Uma emoção
forte e indecifrável surgiu em minha mente, causando-me certo medo.
Medo de estar me apaixonando profundamente por ela.
— Tenho que voltar ao trabalho — voltei à razão e me afastei. — Quando eu voltar da
festa, talvez eu vá te ver.
— Não, obrigado — ela pareceu entender minha intenção e respondeu com firmeza: —
Amanhã conversamos. Vá curtir sua festa. Vou dormir.
— Ok, se é assim que prefere.
Ela se afastou mais, pegando a coleira da cachorra, mas segurei sua mão.
— Vamos, teimosa — a conduzi até onde estava Alonso e segui para minha sala, para
verificar as demandas do dia.
No período da tarde, liguei para Carmem, explicando que não poderia encontrá-la. Como
de costume, ela fez seu drama habitual, mas não caí em seu jogo. Estava curado.
Decidi sair mais cedo e fui até o centro, em uma loja especializada, escolhendo presentes
que sei que Luciana adoraria. Em seguida, liguei para Mirian.
— Oi, Mirian.
— Oi, meu filho — ela respondeu, animada ao atender.
— Como está a reclamona?
Miriam começou a rir e respondeu:
— Emburrada, né? Ficou soltando alguns palavrões sobre você, os quais não me atrevo a
repetir, mas ficou claro que ela está com ciúmes da tal mexicana.
Não aguentei e gargalhei ao imaginá-la doída de ciúmes.
— Ela fica tão linda com ciúmes. Bom, leve-a ao local que indiquei. Vou preparar uma
surpresa lá.
— Certo, querido. Ela está relutante em querer sair, mas vou dar meu jeito, hihi.
— Obrigado, Miriam. Tenho certeza de que conseguirá! Beijo.
Miriam desligou, e segui para casa, a fim de tomar um banho. Em seguida, vesti uma
camisa preta de manga longa, calça jeans azul escura e um tênis básico preto. Amarrei meu
cabelo platinado num coque e troquei de perfume, cujo aroma Luciana nunca sentiu.
— Dessa vez você não vai me reconhecer, princesa ciumenta — murmurei sorrindo,
olhando-me no espelho do quarto.
Desci até o estacionamento, entrei no meu carro e rumei até o local indicado, uma loja de
sorvetes de Nutella, uma das paixões de Luciana.

Chegando em casa, depois de um dia exaustivo de exercícios, fui tomar banho e me sentei
na cama, falando sozinha, morta de ciúmes de Dimitri.
— Aquele safado vai para a festa da mexicana! Claro que não vai resistir e vai se trepar
com ela! Pelo tom de voz dela, percebi que está apaixonada por ele e é capaz de tudo... Ah, que
raiva!
Nesse momento, mamãe chegou no quarto, trazendo comida para mim. Ficamos
conversando um pouco, e depois fui me deitar. Adormeci por poucas horas, e quando me
levantei, mamãe veio para o quarto novamente.
— Filha, hoje é seu aniversário, vamos ter que sair para comemorar.
— Não estou a fim, mamãe.
As lembranças dos meus aniversários anteriores inundaram minha mente, e eu comecei a
chorar, relembrando as surpresas que Roger sempre fazia. Surpresas incríveis de uma pessoa
incrível.
— Luciana, o que houve? — mamãe sentou-se ao meu lado e me abraçou, beijando minha
cabeça.
— Eu só queria a minha família ao meu lado… — choraminguei. — Meu Roger e minha
Sofia, mamãe! Por que Deus foi tão injusto comigo? Por quê?
— Calma, meu amor — mamãe suspirou com tristeza e apertou minha mão. — Olha, Deus
não tem culpa de nada... Acredito que cada um de nós tem seu destino selado e, por mais
doloroso que seja, temos que aceitar... Você foi a melhor mãe e esposa do mundo, e hoje eles são
anjinhos que te protegem... Você tem alguma missão para cumprir nesta vida, filha. E também
tem muito amor para dar e, quem sabe, recomeçar...
— Recomeçar… — balancei a cabeça negativamente. — Isso é impossível... Ninguém
jamais substituirá meu marido — desabafei, enquanto chorava.
— Eu sei que não, mas sozinha você não vai ficar, Luciana. Olhe o que está bem à frente
do seu nariz, meu amor — mamãe sugeriu, e eu soube do que se tratava.
— A senhora quer dizer Dimitri.
Ela limpou minhas lágrimas e segurou meu rosto ternamente.
— Esse homem veio para o seu destino, minha filha. Essa brincadeira de vocês, de
fingirem que não se gostam, pode machucá-los depois. Por que não assumem o que está na cara?
— Eu não gosto dele — tentei negar. — É só... desejo — neguei mais uma vez, apesar de
saber que ela tinha razão.
— Aham, sei... Você nunca deixa de ser teimosa. Espero que um dia, assumam esse amor e
sejam felizes, minha filha — disse mamãe, esperançosa.
Fiquei em silêncio e mamãe se levantou da cama, falando de modo imperativo, meio
engraçada.
— Vamos sair pra comemorar seu aniversário e eu não aceito não como resposta!
Entendeu, garota?
— Ok, mamãe — suspirei resignada. — Para onde vamos?
— Loja de Nutella! — mamãe respondeu, cheia de animação.
— Ah, meu Deus! — comemorei. — Meu ponto fraco, adoro! Alonso que me perdoe, mas
eu vou me entupir de chocolate!
— Eu sabia que você não iria resistir — ela gargalhou. — Vou ligar para um táxi.
— Por que não vamos no carro, mãe? — me referi ao carro que adquiri para que ela
dirigisse quando estivesse aqui.
— Ah, filha, estou tão cansada, vou evitar dirigir.
— Certo, eu entendo. Vou me arrumar.
— Vou te ajudar, vamos! Tem que estar bem bonita hoje.
— Ah, mãe, não é pra tanto.
— Ah, vamos! Vou te deixar linda.
— Ok! — sorri, rendida.
— Ah, eu adorava fazer lacinhos em seu cabelo quando você era pequena! Parecia uma
bonequinha! — relembrou mamãe, cheia de nostalgia.
— E hoje voltei a ser sua boneca, devido à esta cegueira — concluí com certa tristeza.
— Tenha fé em Deus, filha! Essa cegueira vai desaparecer... Pense que ela é algo que te
deixará mais forte! — mamãe disse, positiva.
— Tudo bem, mãe... Tentarei pensar assim... Vou tomar banho — segui para o banheiro,
fazendo o mesmo trajeto mental de sempre e depois do banho vesti um cropped, calça jeans e um
tênis.
Mamãe fez um penteado nos meus cabelos enquanto estava sentada na cama e passou uma
maquiagem leve em mim. Depois, ela pegou meu perfume de jasmim e borrifou várias vezes
pelo meu corpo.
— Pronto! Está maravilhosa!
Eu sorri, ao imaginar que podia estar um pouco bonita e esperamos o táxi chegar, enquanto
segurava Pandora na coleira.
ALGUM TEMPO SE PASSOU e Mirian me mandou uma mensagem, dizendo que já haviam
chegado. Rumei até o estabelecimento comercial e, ao entrar lá, vi Luciana sentada numa mesa
com a mãe.
Ela estava totalmente linda, perfeita, delicada, como a princesinha que era.
A emoção desconhecida tomou conta do meu corpo e fiquei suando frio.
Não estava me reconhecendo.
Respirei fundo e fui me aproximando da mesa delas. Mirian me viu e sorriu em silêncio.
Ao chegar perto de Luciana, ela franziu o cenho, desconfiada.
— Tem alguém aqui perto de mim, mãe? Que perfume forte é esse?
— Sou eu, reclamona... Achou que eu ia esquecer de você? Feliz aniversário — sussurrei
em seu ouvido, deixando-a surpresa.
— Dimitri! — a brasileira linda exclamou meu nome e sorriu, sem acreditar, e se levantou
com cuidado, me tocando no meu peitoral. — Como você sabia?
— Bem… — sorri de canto e pisquei o olho para a mãe dela. — Digamos que eu tenho
uma informante que me adora.
— Ahhh! Foi você, mamãe! — ela rapidamente concluiu, sorrindo.
— Foi ela mesmo…, mas mesmo se ela não tivesse me dito, eu iria passar a noite com
você — segurei seu rosto entre minhas mãos e me pronunciei, admirado cada vez mais com sua
beleza. — Sei que te provoquei hoje dizendo que iria para a festa de Carmem, mas eu não ia...
Na verdade, queria ficar ao seu lado — afirmei, meio apaixonado.
— Seu ogro! — ela me abraçou forte no pescoço, cheirando meu perfume e fechei os olhos
por alguns segundos, aproveitando a sensação de felicidade que ela me passava.
Em seguida, meti um beijão de língua em sua boca sem cerimônia, o que fez todos olharem
curiosos para nós.
Quando cessamos nosso beijo intenso e perfeito, eu a venerei novamente e a parabenizei:
— Feliz aniversário de novo, reclamona linda. Que Deus te dê muitos anos de vida... Eu te
a… adoro...
Ao ouvir a voz hipnotizante de Dimitri, fiquei instantaneamente cativada, maravilhada pela
incrível surpresa que ele tinha reservado. Uma onda de emoção tomou conta de mim, fazendo-
me lacrimejar enquanto ele me parabenizava calorosamente, seguido por um beijo apaixonado
que trouxe consigo um alerta sutil.
Um alerta de que não era só uma simples amizade colorida…
— Obrigada pelos parabéns, cabrón — agradeci, nossas bocas ainda próximas.
— De nada, linda — ele respondeu, afastando-se levemente ao se acomodar ao meu lado.
— Eu trouxe presentes.
— Ah, não precisa, meu presente é você — comentei, inadvertidamente, e ele riu com
confiança.
— Eu sei que sou irresistível para você, sua reclamona — Dimitri sussurrou
provocativamente em meu ouvido. — Mais tarde, prepare-se para uma surra bem dada, sua
gostosa...
— Dimitri... — repreendi, com a voz trêmula, excitada pela provocação.
Ele me beijou novamente, mergulhando-me em um misto de paixão e alerta, antes de
começar a explicar os presentes cuidadosamente escolhidos.
— Trouxe essas flores exuberantes de Jasmin para você plantar em casa, Luciana. Pensei
em você quando as vi... têm seu aroma único e são belas e delicadas.
Toquei as flores e respirei profundamente, agradecendo sinceramente.
— Além disso, trouxe o verdadeiro presente — ele sorriu, colocando uma caixa diante de
mim. Ao abri-la, deparei-me com quatro livros.
— Ai, Dimitri! Eu amo livros! Obrigada. Mas só poderei lê-los quando minha visão voltar,
algum dia.
— Quem disse que você não pode ler, reclamona? Toque-os por dentro — ele sugeriu.
Ao abrir as páginas, descobri que estavam em braile, uma surpresa que me deixou
emocionada. Dimitri lembrara-se não apenas das nossas noites quentes, mas também das nossas
conversas mais profundas, demonstrando um cuidado excepcional.
— São os livros que você mencionou... 'Crime e Castigo', de Dostoievski, e a trilogia
'Como Eu Era Antes de Você', de Jojo Moyes, tudo em braile, linda... — ele falou, acariciando
meu rosto.
— Oh, meu Deus! — mal consegui conter as lágrimas diante de seu gesto tão gentil. —
Estou chorando já... Que gesto lindo, Dimitri. Obrigada.
— De nada... Agora, vamos saborear Nutella! — ele disse, animado, oferecendo-me um
morango mergulhado na deliciosa iguaria.
— Abre a boca, linda — pediu, e, ao obedecê-lo, experimentei o sabor divino da Nutella
com morango. Inesperadamente, ele me beijou, com o morango e tudo.
Minha mãe riu enquanto eu, envergonhada, o afastei.
— Dimitri! As pessoas estão olhando, tenho certeza!
— Estou pouco me lixando, fodam-se — ele respondeu de forma descontraída.
— Ai, Deus, pare com esses palavrões.
— Olha quem fala... Aquela que passa a noite gritando todos eles — provocou,
relembrando nossos momentos intensos.
— Cala a boca, seu porco!
— Pelo amor de Deus, não briguem! — pediu minha mãe, preocupada.
— Isso é meio impossível, dona Miriam…, mas, mais tarde, eu amanso essa fera —
Dimitri provocou mais uma vez.
— Dimitri!
— Calma, linda.
Enquanto mamãe ria, o "ogro" limpava delicadamente minha boca com um guardanapo.
— Com licença, vou ao banheiro, volto já, pombinhos — disse mamãe.
— Tá, mãe.
Depois que ela saiu, Dimitri me beijou de novo, todo carinhoso e sussurrou em meu
ouvido:
— Quer dormir comigo? Porque eu quero, loucamente, dormir com você.
— Quero sim, seu ogro... Quer dormir na minha cama?
O safado respirou fundo e continuou falando baixinho ao pé do meu ouvido:
— Você sabe que não vamos, exatamente, dormir... Vou te comer gostoso a noite toda...
Te deixar gemendo sem parar…, mas sua mãe não dormirá, coitada — garantiu e depois sorriu.
— Verdade — não resisti e sorri com sua safadeza.
— Então vamos dormir na minha cama... ok? — perguntou, todo safado.
— Tá bom.
Na sequência, senti meu celular vibrar dentro do meu bolso.
— Com licença, Dimitri — atendi —, alô?
— Lu! — a voz do meu amigo Oscar soou animada.
— Oscar! Meu Deus, é você! — disse, surpresa, pois, desde meu acidente, ele havia
sumido.
— Feliz aniversário, minha linda e melhor amiga... Desculpe a ausência.
— Oh, obrigada, amigo... Senti sua falta também! Como estão todos do escritório? —
perguntei, curiosa.
— Sentindo sua falta, Lu, a cada dia... Nós entendemos e aceitamos seu pedido de se
afastar, mas nada ficou legal sem ti. Você é uma das melhores advogadas empresariais daqui de
Nova York. Se quiser seu emprego de volta, é só dizer.
— Obrigada, Oscar, mas, por enquanto, eu não quero. Não me sinto preparada.
— Eu entendo... e entendo um pouco sua dor... Perdi a Kate, Luciana — revelou, com a
voz embargada.
— Quê? — exclamei chocada e pus a mão livre na boca. — Como assim, perdeu?
— Ela faleceu após sofrer um acidente de carro, logo depois que você perdeu Roger e
Sofia e ficou cega... Estive na Europa, com minha mãe, tentando superar isso. Me perdoe por ter
sumido tanto tempo. Eu estava muito, muito depressivo — expressou com tristeza.
— Meu Deus, eu sinto muito! Vocês formavam um casal perfeito! Que pena, amigo — me
lamentei com lágrimas nos olhos, emocionada.
Ele passou uns segundos em silêncio e voltou a falar:
— Eu sei, mas estou tentando seguir em frente... Se não fosse pelo Roger, eu jamais teria
conhecido a Kate... Bom, eu não quero falar sobre isso... Só queria te ligar e te dar os parabéns.
Você sabe que é minha amiga de verdade, desde que chegou na América.
— Sei sim, querido. Agradeço por se lembrar de mim.
— De nada, minha linda... amiga — ele limpou a garganta. — Bom, talvez eu vá te ver
qualquer dia... Eu sei que você ainda não pode enxergar, mas podemos conversar, o que você
acha?
— Ah, eu vou adorar. Quando eu e mamãe chegarmos em casa, ela vai te enviar o
endereço.
— Certo, querida, tenha uma boa-noite.
Ouvi Dimitri batendo o pé no chão, meio agoniado e, de repente, senti sua mordida em
meu pescoço, me fazendo ficar assustada e soltar um gritinho.
— Ai, Dimitri!
— Luciana? Você... você está com alguém? — Oscar perguntou curioso, antes de desligar.
— Sim... um amigo e mamãe.
— Ah, entendi... Bem, vou desligar, boa noite, querida.
— Boa noite, Oscar.
Desliguei a ligação e senti Dimitri calado, mas seu pé não parou de se mexer.
— Dimitri?
— Oi — sua voz soou séria.
— Por que se calou? — questionei.
— Ué, você estava ocupada conversando com seu best friend, Oscar — respondeu,
enciumado.
Sorri de seu jeito irônico de falar.
— Ele é meu amigo desde a faculdade e era casado com uma colega médica do Roger.
Éramos muito próximos e sempre saíamos nós quatro para os lugares.
— Sei. Ele parecia muito interessado em te ver, não é? — Dimitri questionou,
evidenciando seu lado ciumento.
— Ah, Dimitri, ele queria me ver sim, principalmente depois que a esposa faleceu, minha
amiga... Estou me sentindo tão triste com isso.
— Sei.
Mamãe voltou para a mesa e se sentou. Ela percebeu um clima tenso e nos questionou:
— Voltei! O que aconteceu?
Contei à minha mãe sobre a ligação de Oscar e falei sobre o recente falecimento de sua
esposa.
— Oh, que pena, minha filha. Ele sempre foi um bom amigo para você. Mas logo
encontrará uma boa mulher, ele merece.
— Verdade, mamãe.
Dimitri permanecia em silêncio, seu pé ainda batendo de forma inquieta. Eu segurei a mão
dele, buscando conforto.
— Você está realmente bem, Dimitri?
— Sim, estou ótimo — respondeu com confiança, mas havia uma sensação de
dissimulação em suas palavras.
Prosseguimos aproveitando meu aniversário, mantendo nossas mãos entrelaçadas, sem
pressa de soltá-las.
APÓS SABOREARMOS as delícias da loja de Nutella, Dimitri nos conduziu a uma pizzaria,
entretanto, percebi que ele estava excepcionalmente silencioso. Acredito que a ligação de Oscar
tenha influenciado seu humor.
Horas depois, ele nos levou de volta para casa. Ao chegarmos aos nossos apartamentos, ele
abraçou minha mãe, e depois se virou para mim, após ela entrar com Pandora.
— Bom, chegamos... Vai dormir comigo? — perguntei, direta.
— Sim… — Dimitri me puxou pelo braço, entramos em sua casa, e ele fechou a porta. Em
um silêncio eloquente, ele tirou todas as suas roupas e depois, começou a me despir, suas mãos
explorando cada curva com uma intensidade palpável.
— Ai, Dimitri, suas mãos são incríveis.
Ele continuava em silêncio, então eu segurei seu rosto com minhas mãos.
— Espera...
— O que foi, Luciana? Você não quer?
— Quero sim... Só que você está diferente... Está com ciúmes do Oscar?
— Não... é que... Você gosta dele? — perguntou, mostrando uma pontada de insegurança.
— O quê? Não, nunca! Ele é como um irmão para mim, Dimitri.
— Sei... Não quero compartilhar você com mais ninguém, Luciana, enquanto tivermos
esse relacionamento. Sou possessivo.
— Não se preocupe. Eu só quero você, seu brutamontes.
— Eu também — o russo insaciável me beijou de maneira ousada, retirando o restante das
minhas roupas com um toque decidido. — Vamos para minha cama, preciso estar dentro de
você, mulher — sua voz grave e imperativa me deixou em êxtase, e eu o arranhei nos ombros
com mais intensidade.
— Me possua com força, Dimitri, por favor...
— É o que mais quero — ele me carregou até sua cama, completamente nu, pressionando
seu corpo musculoso e robusto contra o meu, envolvendo minha boca com fervor e segurando
meu rosto com ambas as mãos.
— Ah — gemi, louca de desejo.
— Você é tão gostosa, mulher! Fico louco só de te ver. Meu Deus! — sussurrou depois de
descolar os lábios gulosos do meu.
— Eu não posso te ver, mas sinto uma atração muito forte por você — confessei.
— Eu sei, sou irresistível — disse, todo convencido e deu um risinho.
— Seu cachorro! — retruquei, segurando o riso e ele gargalhou.
— Adoro você brava.
— Pare de me provocar ou eu te dou um tapa, russo safado! — ameacei.
Ele pegou minha mão, guiando-a até seu rosto e fez um pedido:
— Bate, safada.

Ela arregalou os olhos, mas depois me deu um tapa com força, fazendo-me gemer de dor.
— Ai, caralho! Gostou de me bater, não foi? — massageei minha bochecha com a mão.
— Sim!
— Descontou sua raiva?
— Sim, seu russo safado — respondeu, cheia de satisfação.
— Aham! — avisei e peguei uma camisinha em cima da mesa de cabeceira, rasguei o
envelope rapidamente com os dentes, coloquei o material com agilidade em minha ereção. —
Agora é a minha vez — afastei suas coxas com meu joelho e me encaixei em sua entrada
molhada, a invadindo sem pena.
— Ohh, seu cabrón!
Firmando minha mão num punhado de seus cabelos da nuca com força, colei minha testa
nela, ao passo que metia meu mastro com todo vigor.
Ela gemia enlouquecida, com os olhos fechados.
— Oh, Dimitri!
— Você é minha, Luciana. Minha! — meu decreto duro e possessivo a fez tremer pela
forma que contraiu o corpo, mordendo o lábio inferior com força. Enterrei-me com mais força, e
ela gritou.
— Sim! Eu sou sua! Que gostoso, meu Deus!
— Eu amo comer essa sua boceta…, mas eu quero comer o resto também, entendeu? —
rosnei em seu ouvido.
— Sim — balançou a cabeça em confirmação.
— Não tenha medo de mim, você vai chorar de tanto gozar, sua brasileira linda.
— Meu Deus, você é tão indecente.
— E você adora, sua atrevida.
Luciana me arranhou ainda mais, e mais gritos prazerosos escaparam de sua garganta, à
medida que sentia cada centímetro meu bater com força no interior mais profundo de sua
intimidade.
Estava com uma tara do inferno por ela, e essa noite, eu a deixaria toda quebrada.
No despertar do dia seguinte, encontrei-me agarrada ao corpo escultural de Dimitri.
Deslizei minhas mãos pelo seu abdômen, reconhecendo o tesão palpável e o corpo irresistível
sob meus toques.
— Meu Deus, se eu puder ver esse homem um dia, eu vou pirar... que homem gostoso... —
murmurei pensativa, em português, temendo despertá-lo.
— Luciana, isso é português? — sua voz rouca interrompeu meu devaneio.
Assustada, respondi em inglês.
— Sim, é a minha língua nativa. Eu estava pensando alto.
— Sei… delirando pelo russo aqui — ele comentou, sorrindo com a usual arrogância que o
caracterizava.
— Seu… — uma avalanche de palavras ofensivas quase escapou de meus lábios.
— Hum, doida pra dizer um palavrão, né, linda?
— Arg! Você se acha! Pare com isso — esbravejei, irritada.
— Vai começar uma briga? Eu estou brincando! Você é muito esquentadinha, mulher.
— Eu sempre fui, mas me controlava. Agora, depois que você apareceu, eu piorei.
— Sei... — ele selou um beijo em meu nariz e deslizou até meu pescoço. — Vou já te dar
um trato, aí você relaxa — Dimitri mordeu meu pescoço e veio para cima de mim novamente.
— Dimitri, de novo? — perguntei, assustada com seu vigor.
— Sim. Enquanto você estiver dentro da minha casa e em cima da minha cama, o seu
corpo não me escapa.
— Seu cabrón safado.
— Vou te comer gostoso, fica caladinha, já é de manhã.
— Ok.
— Fica de quatro agora, quero dar uns tapas nessa sua bunda gostosa! — ordenou num
sussurro, sua voz rouca ecoando como promessa sensual.
Assenti, morta de desejo, e fiz o que ele pediu. Não demorou muito para ele meter sem
pena, sussurrando indecências em meu ouvido.
— Ohh! — decidi morder o lençol, para não escutarem meus gritos enquanto o russo
estapeava minha bunda.
— Gostosa! — grunhiu, todo bruto.
— Cabrón filho da mãe... Eu-eu adoro te dar… — balbuciei, com as mãos espalmadas no
colchão, enquanto meu corpo seguia sendo empurrado para frente, por causa de suas arremetidas
brutas.
Dimitri passava os dedos ao redor do meu orifício apertado e sussurrava no meu ouvido:
— Quero comer essa bunda sem pena, entendeu?
— Sim.
— Você já deu sua bunda?
— Já, mas somente para meu marido. Ele foi meu único homem — respondi com
sinceridade.
— Entendi… ele era um sortudo, mas agora essa bunda vai ter dono por tempo
indeterminado. Não vou te comer agora, porque você vai fazer um escândalo. Eu meto com
força. Mas em breve te levarei para um motel e te deixarei totalmente preenchida pelo meu pau
— garantiu com palavras duras e safadas, causando-me um delírio. E continuou: — Você vai ser
fodida com gosto por esse pau aqui, brasileira gostosa... Tô viciado em você e nos seus buracos.
Alguns minutos depois, ele acabou gozando devido à pressão insana, e caímos na cama,
abraçados.
— Porra, que foda gostosa — Dimitri me beijou e segurou meu rosto. — Vamos tomar
banho? Preciso ir trabalhar.
— Ok, de toda forma, vou ao oftalmologista hoje. Espero que ele me dê esperanças de
enxergar novamente.
— Espero que sim, linda… — Dimitri se levantou da cama e me colocou nos braços.
E foi aí que algo inacreditável aconteceu.
Comecei a ver luzes brancas num zigue-zague.
— DIMITRI! — exclamei seu nome, o assustando.
— Que foi? Está sentindo alguma dor? — perguntou, preocupado.
As lágrimas caíam de meus olhos e ele se sentou na cama comigo, eu ainda no seu colo.
— Luciana, o que você tem, mulher?
— Eu… eu estou vendo luzes brancas num zigue-zague!
— Meu Deus! — o russo exclamou, surpreso.
— Ah, que felicidade! Acho que minha visão está voltando — comemorei, emocionada.
Ele me abraçou, beijando meus olhos carinhosamente.
— Com fé em Deus, você voltará a enxergar. Você merece isso, linda.

Luciana estava super emocionada porque enxergara luzes brancas, e isso me deixou
esperançoso. Não via a hora de ela poder me ver… de poder enxergar novamente e superar toda
a tristeza que ocorreu em sua vida. Limpei as lágrimas de seus lindos olhos castanho claros e
selei beijos em seu rosto.
— Acho que eu fiz você enxergar essas luzes, sabia, reclamona?
— Como assim, Dimitri?
— Te fiz ver estrelas, gostosa — afirmei todo convencido, provocando-a.
— Seu safado. Pior que foi verdade! Haja camisinhas para nossa pegação.
Nós ficamos rindo, abraçados por algum tempo, mas depois eu me toquei da merda que fiz.
— PORRAAA! — berrei, fora de mim.
— Que foi? — Luciana se assustou.
— Esqueci de usar a camisinha agora pouco! Caralho! Eu gozei dentro! — constatei,
irritado pra cacete, puxando meus cabelos.
— Meu Deus — ela expressou, preocupada.
— Você não toma anticoncepcional, não é? — perguntei, impaciente.
— Não.
Quando ela respondeu isso, fiquei mais irado e comecei a praguejar.
— PORRA, PORRA, PORRA!
— Dimitri, se acalme!
A coloquei na cama com cuidado e me levantei, puxando ainda mais os cabelos, quase
arrancando-os, com raiva de mim mesmo, da minha total irresponsabilidade.
— Luciana, eu GOZEI dentro de você! Isso nunca aconteceu! Eu sempre usei camisinha! E
hoje eu esqueci! Que ódio! — suspirei o ar audivelmente, tentando conter a raiva extrema e
continuei: — Olha, eu vou na farmácia agora comprar uma pílula do dia seguinte. Volto já.
Ela se encolheu na cama, em silêncio, puxando o lençol para se cobrir, meio nervosa, e eu
corri para o banheiro, em busca de tomar um banho rapidinho. Depois, vesti uma roupa e saí às
pressas para comprar a pílula.
Inferno! Ela não pode engravidar de mim…
Não quero que o passado se repita…

Estava chocada com Dimitri.


Ele parecia estar à beira do desespero, e a situação, que poderia ser resolvida com calma,
estava imersa em um alvoroço desnecessário. Uma simples pílula do dia seguinte poderia
dissipar a tempestade, mas ele optou por um drama exacerbado. Enquanto ele se ausentava, eu
permanecia deitada em sua cama, aguardando seu retorno. Cerca de 10 minutos depois, a porta se
abriu, e ele anunciou sua presença.
— Cheguei.
Sentei-me na cama, esfregando as mãos nervosamente, e depois segurei o lençol contra
meu corpo para me cobrir. Dimitri desapareceu por alguns segundos e, em seguida, reapareceu
com um copo d'água e a pílula, oferecendo-me.
— Engole agora, na minha frente! — exigiu, com um tom de voz seco e bruto.
— Por que está falando assim comigo? — franzi os olhos, irritada. — Não fui eu que
esqueci a camisinha! — reclamei, da forma ríspida com que ele fazia suas demandas.
— Eu sei! Mas eu não quero filhos de jeito nenhum! O destino já me mostrou uma vez que
não mereço ser pai — ele bradou, deixando-me curiosa. — Quero ver você engolindo esse
comprimido agora, Luciana!
— Você acha que eu quero engravidar de você? Tá louco? — refutei.
— Eu não sei! A maioria das mulheres que eu ficava desejava engravidar de mim, mas eu
nunca caí nesse golpe.
— Meu Deus, eu não precisava ouvir isso! — meus olhos reviraram automaticamente e
balancei a cabeça, furiosa. — Você está me julgando e sendo grosso comigo? Seu idiota!
— Esse é o meu jeito, se acostume, brasileira!
— Arg! Eu não sou obrigada! — peguei o comprimido, coloquei na boca e engoli junto
com a água. — Pronto, tomei! — ergui o copo para ele segurar, e assim o fez.
— Abra bem a boca para eu ver — exigiu friamente.
— QUÊ? Ah, vai pro inferno, Dimitri! Você só pode estar brincando! Eu vou embora! —
levantei-me imediatamente, ainda enrolada no lençol, no entanto, ele me impediu de ir.
— Espera — o ogro me segurou por trás. — Me desculpe. Eu sou rude, é algo inerente ao
meu ser, mas você realmente não merecia escutar isso.
— Certo, eu vou embora! E não se preocupe, eu não quero filhos, estou cega! — esclareci,
com raiva. — Como vou cuidar de uma criança?
— Que ótimo, Luciana! Porque eu jamais irei querer um filho, com ninguém — a maneira
fria que Dimitri se expressou me deixou decepcionada.
— Ok, vou para casa.
— Espere, vá tomar um banho primeiro. Venha, vou te ajudar — ele me guiou até o
banheiro, cuidando para que eu não batesse em nada e me machucasse.
Em seguida, o russo me enxugou com uma toalha e me mandou vestir sua camisa enorme.
— Obrigada — agradeci de cara fechada.
— De nada, vou te deixar em casa.
— Ok — comprimi os lábios em irritação, fazendo um bico.
Ele me pegou nos braços e me levou até meu apartamento, em silêncio. Ao abrir a porta,
ele me colocou no chão; eu permaneci calada e imóvel, enquanto ele ainda se mantinha em
silêncio. Depois de suspirar, quebrei o silêncio.
— Bom, vou entrar.
— Certo, mais tarde podemos nos ver? — ele perguntou, ansioso.
— Aham... — continuei de cara fechada e cruzei os braços.
— Não fica com essa cara, Luciana. Eu sou grosso e insensível às vezes, não posso mudar
do dia para a noite, mas lembre-se que somos apenas um casal de amigos coloridos que pratica
somente uma foda intensa.
Fiquei irritada com sua indelicadeza.
— Ok, Dimitri. Tenha um bom dia! — falei ríspida e, ao abrir a porta da minha casa, a
fechei com força em sua cara, seguindo tateando os móveis até encontrar o sofá. — Russo
grosso! Insensível! — lamentei irritada, segurando o choro que insistia em aflorar nos meus
olhos.
VOLTEI AO MEU APARTAMENTO, com uma tempestade de pensamentos violentos
atormentando minha mente. Senti meu coração apertar, a culpa e a saudade se misturando numa
avalanche de emoções.
— Foi melhor assim... não quero surpresas. Ninguém nunca substituirá você, minha
Nastya… — murmurei um pouco alto, a voz carregada de uma tristeza profunda.
Pus as mãos na cabeça, respirando fundo para tentar acalmar o turbilhão interno. De
repente, o som insistente de um celular vibrando cortou o silêncio, emanando da mesa de
cabeceira ao lado da cama onde Luciana estava deitada. A curiosidade me tomou de assalto, e fui
conferir do que se tratava.
Vi três chamadas perdidas de Oscar.
— Filho da puta. Não fui com sua voz… — rosnei, a revolta incendiando meu peito. — Eu
não gostei desse Oscar. Algo me diz que ele não presta...
Coloquei o celular de Luciana de volta onde o encontrei e comecei a me trocar,
preparando-me para mais um dia de trabalho. Antes de sair, peguei o aparelho e me encaminhei
decidido até o apartamento dela.
Bati à porta, e após alguns segundos, Luciana abriu, ainda usando minha camisa, sem
calcinha.
— Oi, Dimitri — ela falou, com aquela voz doce que parecia penetrar todas as barreiras.
— Como sabia que era eu, Luciana?
— Pela batida na porta e seu cheiro...
— Hum... Você esqueceu seu celular, tome.
Ela estendeu a mão para pegar, mas eu a puxei, pressionando-a contra a parede ao lado da
porta.
— Luciana... me perdoe pela forma como agi. Infelizmente, eu sou assim — pedi, o
arrependimento marcando minhas palavras.
— Tudo bem, mas você tem razão, foi só uma FODA! Não é? — ela perguntou, uma
mistura de raiva e decepção colorindo suas palavras.
— Isso…, mas continuamos sendo exclusivos um do outro, não é?
A brasileira bufou e me advertiu friamente:
— Se você falar novamente comigo daquele jeito, quero que você vá para o inferno... E
saiba que nunca mais me tocará, Dimitri!
— Eu já pedi desculpas, mulher!
— Vai mudar esse seu jeito, ou não? — Luciana inquiriu seriamente.
— Vou tentar.
— Aham… — fez um bico de irritação nos lábios.
— Não fica com raiva de mim — pedi com a voz mansa, uma mistura de desejo e
arrependimento.
— Dimitri, me solta, ok?
Ao ouvir seu pedido, soltei o ar pesado e a liberei, contra minha vontade.
— Posso te beijar? — perguntei, a vontade de tomar seus lábios ardendo por dentro.
Ela cruzou os braços, indecisa, mas percebi o desejo latente por mim em seus olhos. Sem
esperar uma resposta, segurei seu rosto e a beijei com paixão. Ela segurou nos meus ombros e
me arranhou, raivosa. Na sequência, desci minha mão até chegar em sua intimidade, que estava
escorrendo, de tão molhada.
Enfiei dois dedos lá, e ela mordeu meu pescoço, excitada.
— Seu russo filho da puta. Ahh...
Continuei invadindo sua fenda molhada enquanto a beijava. Depois que ela se estremeceu
toda, retirei a mão e chupei meus dedos lambuzados de seus fluidos.
— Você é tão deliciosa.
— O que você fez? — perguntou, curiosa.
— Lambi meus dedos com seu gozo. Mais tarde quero cair de boca em você... em todos os
lugares — respondi, sussurrando em seu ouvido.
Luciana ficou se mordendo e passando as mãos pelo cabelo, nervosamente.
— Não sei se quero te ver — ela mentiu, se fazendo de difícil.
— Mentirosa. Mais tarde tem — selei um beijo em sua boca e fui embora, deixando no ar a
promessa de um encontro ardente.

De volta ao meu apartamento, os pensamentos tumultuaram minha mente.


Aquele russo era completamente insano!
Foi rude comigo, e agora, há pouco, me agarrou, seus dedos se enterrando em mim com
uma força descontrolada. E eu, mais louca ainda, gostei... até gozei.
— Meu Deus, o que faço com esse homem das cavernas? Por que ele é assim? —
murmurei pensativa, tentando decifrar o enigma que era Dimitri. Não era possível que ele fosse
assim, sem motivo...
Eu iria investigar!
Decidi me deitar, exausta, e segui para minha cama.

O dia passou e acordei tarde, logo após o almoço. Cerca de três horas depois, Ekaterina
veio me visitar, e a chamei para conversar no meu quarto.
— Você nem foi para a academia hoje, hummm. O que houve? — ela perguntou, curiosa,
deitada ao meu lado na cama.
Contei tudo o que aconteceu, e ela pareceu boquiaberta devido aos murmúrios que emitia.
Já havia compartilhado com ela sobre a primeira noite com Dimitri, quando ele desfez o encontro
com o gogoboy, e, na ocasião, Ekaterina riu alto, insistindo que eu e Dimitri formávamos um
belo casal, no entanto, hoje ela estava estranhamente séria.
— Enfim, seu irmão foi grosso comigo e depois veio me beijar. Eu achei muito estranho a
forma como ele agiu. Ou ele passou por algo ruim no passado, ou ele é simplesmente um bipolar
do caralho! — comentei, soltando um suspiro alto.
Ekaterina ficou em silêncio por alguns segundos e se pronunciou, meio nervosa:
— Dimitri é assim mesmo, mas esquece isso, tá? Só aproveita que vocês têm essa química
intensa e usa o corpinho dele sempre que puder — ela deu uma risadinha.
— Verdade — sorri também. — Mas me diz uma coisa: Dimitri disse que nunca iria querer
ser pai, por que ele falou isso de forma tão enfática, cheia de amargura?
— Ah, Deus… — sua voz pareceu cautelosa. — Olha, Luciana, meu irmão passou por
coisas difíceis no passado. Eu não posso dizer o que houve porque ele vai ficar muito irritado.
Espere que ele mesmo te diga. Quando ele te contar, você vai entender tudo. Você sabe que
gosto de ser brincalhona e tudo mais, mas esse é um assunto delicado, que só cabe a ele te dizer.
A curiosidade cresceu ainda mais com suas palavras.
— Entendi… me desculpe ser tão curiosa.
— Eu sei que ele sente algo por você, Lu... isso é inédito. Dimitri nunca gostou de
nenhuma mulher, só usava. No entanto, somente o fato de ele ter esquecido a camisinha já diz
muita coisa! Ele é um homem super precavido e devia estar sem juízo por sua causa. Eu desejo
muito que vocês fiquem juntos, como um casal. Está na cara que estão apaixonados.
— Eu... eu gosto daquele ogro — confessei sem querer, e ela sorriu, animada.
— Eu sei que sim... Desde o dia que se conheceram, hihi. Por isso, eu sempre mexi os
pauzinhos e escolhi aquele apartamento para ele ir morar — ela confessou, rindo
descaradamente.
— Sua safada! — gargalhei e belisquei sua mão, que estava perto da minha.
— Lu, eu queria que vocês se entendessem e fossem felizes. Cada um tem o seu passado, o
qual não foi fácil, mas Deus fez com que o destino de vocês se cruzasse. Vocês são lindos juntos!
— Eu… eu não sei o que te dizer, da parte dele... Só sei que se ele continuar me tratando
com grosseria, vou terminar o que temos. Eu não aceito homem grosso e rude! — desabafei, ao
lembrar das coisas estúpidas que Dimitri dizia.
— Eu sei, ninguém aguenta, realmente. Mas eu vou conversar com ele, tá bom? — ela
prometeu, enquanto segurava minha mão com carinho.
— Por favor, não fala nada do que eu disse, Ka.
— Relaxa, Lu! Sei o que faço.
Ela permaneceu deitada na cama comigo, e ficamos conversando sobre seu namorado
Victor, que era veterinário, e sobre o quanto ela estava apaixonada por ele.
Com isso, a tarde foi passando, e logo o dia foi escurecendo.
— Luciana, está tarde, preciso ir. Meu pai está sozinho com a empregada em casa. Depois
trago ele para te conhecer! — Ekaterina se levantou, apressada.
— Ok, ansiosa para conhecer o grande Nikolayev, o lutador de boxe!
— Tá bom. Só não se assuste com as cantadas dele, meu pai é terrível! Um sedutor nato.
— Certo, vou lembrar disso.
Ekaterina se despediu com um abraço e se foi. Permaneci deitada e pensativa, ainda mais
curiosa sobre o enigma que era Dimitri. As palavras de Ekaterina deixaram-me um pouco tensa,
consciente de que havia algo sério que ela evitou trazer entre nós.
A noite avançou, e a janta deliciosa preparada por mamãe não foi suficiente para dissipar a
tensão. Na hora de dormir, seu abraço parecia mais apertado, como se pressentisse o peso dos
meus dilemas.
Voltei para o sofá e me deitei, perdida nas páginas do livro em Braille de Jojo Moyes. A
frase ressoava, mas agora trazia consigo um peso emocional avassalador.
"Às vezes, você é a única coisa que me dá vontade de levantar da cama."
Suspirei, pensando no homem que se tornou minha âncora em meio às tempestades da
vida. As lágrimas escorriam, reflexos da dor silenciosa que habitava meu peito.
Como é difícil gostar de alguém como Dimitri… estou em apuros. O que farei, meu Deus?!
NA HORA DE DORMIR, fui para a cama com um vazio profundo.
Dimitri não apareceu, não ligou.
Uma dor intensa se instalou em meu peito, um desespero palpável. Não queria perdê-lo… a
dependência por aquele homem soava como uma completa maldição. Eu estava ferrada.
Mamãe perguntara se estava tudo bem, e eu menti, forçando um sorriso trêmulo.
Deitei-me, fechando os olhos, o meu corpo envolvido por meu baby-doll curtíssimo e
fresquinho, quando senti as mãos grossas de Dimitri explorando minhas pernas.
Me virei para ele, surpresa.
— Dimitri? Como entrou aqui?
— Oi, linda. Liguei para a sua mãe abrir a porta — ele explicou, com voz grossa e
imponente.
— Hum, entendi.
— Dona Miriam me adora — ele emitiu um risinho debochado. — Sou irresistível.
— Aff — revirei os olhos. — O que você quer aqui?
Ele se lançou sobre mim, aspirando o aroma do meu pescoço, e sussurrou, com uma
ardência insaciável:
— Vim te buscar para dormir comigo. Preciso ter você nos meus braços hoje, estou viciado
em ti.
— Sei, mas acho que não é uma boa ideia. Estou magoada com suas palavras, Dimitri —
retruquei, resistindo à tentação.
— Me desculpe. Eu sei que passei do limite, mas sempre fui assim. Estamos tendo um
relacionamento peculiar e eu fico perturbado. Se não me quiser mais, diga, e seguimos nossas
vidas — ele desabafou.
— Fácil para você dizer isso, não é?
— Acredite em mim, Luciana, não é. Não quero sentir mais do que desejo... e eu sei que
você também não, pode ser um caminho complicado para nós dois. Por que não paramos de
brigar e vamos para minha cama, hein? Quero te chupar toda enquanto despeja essa raiva
sentando na minha cara, com força.
A forma safada que ele falou me deixou molhada, e eu o agarrei, puxando seus cabelos e
beijando sua boca gulosa, querendo arrancar sua camisa.
Dimitri me carregou no colo, conduzindo-me para seu apartamento. Ao trancar a porta, ele
me levou à cozinha e me colocou sentada sobre a mesa enorme.
Entregamo-nos à uma paixão desenfreada, ele despiu sua camisa, arrancou meu short do
baby-doll e me virou de costas.
— Fica arqueada — exigiu, bruto. — Vou cair de boca em você, gostosa da porra. Passei o
dia inteiro querendo te devorar todinha.
— Seu maldito! Eu também passei o dia todo te desejando.
Ele separou minhas pernas, distribuindo mordidas provocantes na minha bunda e coxas.
Me segurei para não cair, tremendo de desejo.
Nunca me permiti essas loucuras com meu marido, mas o desejo avassalador que sentia
por esse homem me dava coragem para me submeter aos seus caprichos.
Sem esperar, ele mergulhou na minha fenda molhada, arrancando gemidos intensos.
— Oh!
— Mulher gostosa da porra! — Dimitri grunhiu, sugando-me com voracidade, segurando
meu quadril com firmeza. Eu rolava os olhos, excitada ao extremo com o toque esfomeado de
sua língua quente e gulosa.
Ele passou um tempo me lambendo, e depois me conduziu até seu quarto.
— Vamos fazer amor bem gostoso agora, minha princesa fogosa.
Eu o abracei, cheirando seu pescoço.
Droga! Estou perdidamente apaixonada por esse homem.
Entramos em seu quarto, e ele me deitou na cama, ficando por cima de mim, roçando seu
membro entre as minhas pernas com um desejo urgente. Em seguida, puxei seus cabelos com
raiva, e nos beijamos feito dois animais famintos.
E era puro fogo. Uma chama avassaladora que consumia tudo ao redor.
Dimitri arrancou as últimas peças de roupa que me cobriam, deixando-me nua, e deixou
minhas pernas bem abertas para me abocanhar de novo, avassalador.
A boca desse homem era uma loucura.
Que vontade de soltar um palavrão...
— Ai, Dimitri, seu puto!
— Porra, Luciana, você tem um sabor incrível, essa boceta é deliciosa! — ele apertou
minhas coxas com força, aprofundando-se ainda mais, arrancando gemidos intensos da minha
garganta. — Isso, geme para o teu macho russo.
— Seu safado!
Dimitri esboçou um sorriso sacana, pude sentir, e posteriormente, me colocou de quatro.
Um tapa inesperado na minha nádega direita fez meu gemido se elevar.
— Eu adoro te bater! Quero te deixar toda avermelhada, gostosa!
— Seu sádico! — retruquei, com o rosto pressionado de lado no colchão.
Subitamente, ele se aproximou e sussurrou ao pé do meu ouvido:
— Seu marido te batia na cama?
— Na-não...
— Fazia as loucuras que eu faço?
— Só o tradicional. Ele não era assim tão bruto, tão visceral quanto você..., mas eu me
sentia satisfeita, o amava, e ele a mim, além de me respeitar muito.
— Te entendo. Ele era um bom homem, tenho certeza.
— Era sim. Mas por que está perguntando isso, Dimitri?
— Curiosidade… tenho receio de fazer umas loucuras, e você não gostar. Nunca fiquei
com uma mulher que teve um homem só na cama. Queria fazer umas loucuras contigo,
Luciana..., mas se você não quiser, é só dizer não. Eu respeito muito as vontades das mulheres
com quem fico.
— Tudo bem, mas eu quero sim, fazer loucuras com você. Sou inexperiente em algumas
coisas, confesso... Não sou como sua Carmencita — retruquei, irônica, e ele sorriu, lascivo.
— Ciumenta! Olha, esqueça ela. Eu tenho um desejo extremo por você, o qual nunca senti
dessa maneira por Carmem nem por outra mulher.
— Ok. Então pare de falar e aja, russo safado! — exigi, morta de desejo.
Ele não esperou nem eu me recompor, colocou a camisinha rapidamente. Sua mão foi
explorando meu sexo, provocando um calor insuportável.
— Que vontade de te devorar, meu Deus — Dimitri murmurou desejoso, desferindo outro
tapa forte na minha nádega e introduzindo seu membro grande e grosso na minha boceta, com
uma intensidade quase selvagem.
Eu segurei com força na cabeceira da cama, mordendo meu lábio ao sentir sua deliciosa
invasão.
Esse homem era avantajado, mas sabia me comer com perfeição, me deixando viciada.
Ele estocava e falava algumas coisas em russo, as quais eu não sabia porra nenhuma do
que se tratava.
— Gostosa! Você é toda minha! Vou te comer toda!
— O que você está dizendo? — perguntei, gemendo entre as investidas.
— Segredo, linda — ele se inclinou sobre minhas costas, puxando meu cabelo na nuca,
ainda me invadindo com seu membro imponente, e sussurrou novamente em russo, no meu
ouvido, com aquela voz grossa e rude que me deixava envolvida: — Tu és a minha perdição,
linda. Não sei como te dizer não.
— Ahh, Dimitri, isso! — gemi, controlando-me para não gritar, e ele continuou falando
coisas que eu desconhecia, deixando-me ainda mais enlouquecida com aquele sotaque forte e
irresistível.
— Não sei mais viver longe de você...
Depois, ele me virou e ficou sobre mim novamente, dessa vez penetrando com intensidade
em minha boceta, com seu jeito bruto e depravado, me beijando cheio de paixão. Arranhei suas
costas, e ele gemia de dor e prazer.
— Isso, minha gata selvagem, me arranha! — voltou a rosnar em inglês.
— Ai, seu russo gostoso, você está tão bruto... Ohhh!
Dimitri não me dava trégua, beijando-me com lascívia, penetrando impiedosamente seu
mastro avantajado dentro de mim, me rasgando toda, o suor de sua pele quente se misturando à
minha.
Chorei de prazer e, após um longo tempo e orgasmos delirantes, o safado atingiu o clímax,
deixando-me exausta e completamente entregue.
— Meu Deus... O que foi isso? — sibilei, ofegante, buscando o ar nos meus pulmões.
Dimitri me puxou para seus braços e me beijou, seu corpo todo suado. Retribuí seu beijo e
ele mordeu minha língua com força.
— Dimitri, isso dói — reclamei, sorrindo.
— Você me deixa louco, mulher.
— Sei…
Ele respirou fundo e disse, todo satisfeito:
— Nossa, que foda. Vamos tomar um banho? Quero te comer no banheiro.
— Dimitri, me dê um tempo. Estou toda acabada! — resmunguei, surpresa com a
vitalidade desse homem.
Ele soltou uma gargalhada, se divertindo com meu cansaço.
— Eu sei. Estou brincando. Vamos descansar, ok?
— Tá.
Ficamos abraçados por algum tempo, e eu acabei adormecendo.
Ainda não me acostumei com o vigor desse bruto insaciável.
De madrugada, o senti me tocando, o membro ereto nas minhas costas, e me entreguei
novamente a ele.
O safado me possuiu com desejo, e depois adormecemos de novo, envolvidos um ao outro.
Queria sinceramente poder enxergar seu rosto e conhecer suas feições nesses momentos.
Esperava que Deus pudesse restaurar minha visão para que eu contemplasse esse russo arrogante
e irresistível.

O sol despertou e eu me levantei cedo, enredado na minha rotina diária. Hoje, a academia
ficaria sob o comando do meu gerente.
Luciana repousava em um sono profundo, seu corpo abraçado ao meu enquanto eu inalava
o perfume de seus cabelos e pescoço.
Ponderei sobre como Deus poderia ter esculpido uma criatura tão deslumbrante como ela.
Aquela mulher era a personificação da perfeição.
Ontem à noite sucumbi a uma emoção desconhecida que me envolveu, expressando
palavras apaixonadas em russo enquanto a possuía com fervor.
Mal me reconhecia.
Meu orgulho, geralmente meu refúgio, agora se tornava um obstáculo frente aos
sentimentos avassaladores que ela despertava em mim. O estresse comandava meus impulsos,
resultando em reações rudes, como no episódio da falta de preservativo.
Precisava encontrar o equilíbrio, decidir se Luciana seria o começo de uma nova fase, ou
apenas mais um ponto final em minha vida.
Decidi preparar o café da manhã e, em seguida, dirigi-me à casa dela para pegar algumas
roupas. Dona Mirian, sua mãe, me recebeu efusivamente, deixando transparecer seu desejo de
que eu me tornasse seu genro.
— Vim buscar roupas para Luciana — avisei.
Ela me entregou algumas peças de roupas e sugeriu descontraidamente que
aproveitássemos a piscina. Ao visualizar um biquíni de Luciana dentre as peças, meu
pensamento se perdeu em devaneios sensuais.
— Preciso conter meus impulsos — murmurei para mim mesmo.
Ao fechar a porta, esbarrei com um homem alto, robusto, o clone de Tom Hardy.
— Opa, desculpa. É… você mora por aqui? — ele perguntou, forçando simpatia.
— Sim — respondi secamente.
Reconheci a voz do indivíduo e já soube de quem se tratava.
Oscar.
— Estou procurando Luciana Guerra. Sou amigo dela.
— Ahh, eu a conheço — comentei, o encarando friamente.
— Que bom! Onde ela mora? — ele perguntou, curioso. — A mãe dela me deu a
localização, mas as portas estão sem número.
— Está em reforma aqui, é por isso que estão sem número. E, em relação a Luciana, eu sei
onde ela está, mas não é na casa dela.
— Ah, é? E onde ela está?
— Aqui, nesse apartamento — apontei para a minha porta com a mão livre, e ele franziu o
cenho, sem entender.
— Como?
— Mais precisamente, em minha cama. Eu sou o homem dela — afirmei descaradamente,
enquanto o encarava com um ciúme do inferno.
O sujeito trincou o maxilar, e eu percebi imediatamente o ciúme transparecer em seu rosto.
Ele era claramente apaixonado por Luciana e estava se mordendo de raiva.
Meu sangue ferveu de ciúmes também, mas vou deixar bem claro para ele que Luciana é
MINHA!
— Cara, eu não estou entendendo... Luciana não tem ninguém — ele refutou, apertando os
olhos com incômodo.
Esbocei um sorrisinho sarcástico.
— Agora ela tem, a MIM. Estamos juntos faz alguns meses — menti, e seu olhar pareceu
decepcionado.
Ao testemunhar sua reação, dona Mirian surgiu, surpresa.
— Dimitri, querido, você esqueceu as calcinhas dela. Oscar? — ela exclamou assustada, ao
ver o filho da mãe.
Incrédulo, Oscar olhou para as calcinhas nas mãos dela, bem como as roupas que estavam
em minhas mãos e tentou se recompor.
— Oi, tia Mirian — ele a cumprimentou, demonstrando intimidade, querendo me atingir.
— Me dá um abraço, meu amor! Que saudades!
Ela o abraçou forte e ele olhou para mim, cismado.
Não esbocei nenhuma emoção, apenas analisei friamente aquele homem de perto.
— Dimitri, esse é o Oscar, amigo da Luciana — Dona Mirian o apresentou a mim, meio
nervosa.
— Eu não sabia que Luciana estava namorando tão cedo com você, Dimitri — falou Oscar,
tentando ser educado.
— Pois é, estamos loucamente apaixonados! Dona Mirian pode confirmar, não é, sogra? —
o provoquei descaradamente e olhei para Mirian, que, por sua vez, arregalou os olhos, segurando
o riso por causa do meu rompante de ciúmes e ficou ao meu lado, confirmando tudo:
— Ahh, é verdade. São como dois adolescentes apaixonados.
— Bom, eu vou acordá-la. A coitada está toda quebrada da noite de ontem — comentei,
ainda fitando Oscar.
Ele franziu o cenho preocupado, e questionou:
— Ela sofreu algum acidente?
— Sim. O acidente foi EU. Com licença.
Antes que eu saísse, o infeliz engoliu em seco, com ódio, e me fez um pedido:
— Por favor, avise a ela que estou esperando, aqui.
Olhei para ele por alguns segundos e não respondi, peguei as calcinhas dela da mão de
Mirian enquanto ele observava a tudo enciumado, entrei em minha casa e fechei a porta com
força.
Coloquei as roupas em cima do sofá e bufei, passando as mãos no cabelo.
— Esse filho da puta não está pra brincadeira!
Ato contínuo, segui em direção à cama e a vi se espreguiçando.
— Dimitri, cadê você? — perguntou, enquanto tateava a cama.
— Estou aqui, amor... — sentei-me na cama e a agarrei, dando-lhe um beijo que a deixou
sem ar. — Preciso estar dentro de você.
— De novo, safado?
— Sim.
Luciana estava nua e eu abaixei minha calça moletom e minha cueca, em seguida, coloquei
a camisinha e mordi sua orelha, exigindo:
— Grita meu nome, vai.
— Dimitri, tá doido? Já é de manhã! Vão escutar! — constatou, preocupada.
— Por favor.
— Eu não vou gritar, Dimi...
Antes que ela terminasse a frase, comecei a meter com força. Meu pau deslizava, pois a
safada estava cheia de desejo por mim. A botei de quatro e puxei seu cabelo com força,
estocando sem dó em sua bocetinha apertada e escorregadia. Luciana se segurou na cabeceira da
cama para não gritar, mas foi inevitável.
— Tá gostoso, Luciana? — rosnei ao pé de seu ouvido.
— Sim! — choramingou, tomando tudo de mim de uma maneira violenta.
— Você é minha, não é?
— Sim! Eu sou sua, Dimitri! — gemeu alto, descontrolando-se. — Ohhh!
— Toma, gostosa! — fiquei comendo essa mulher numa brutalidade insana, fazendo-a
gemer alto, pois queria que aquele filho da puta escutasse tudo e soubesse que ela me pertencia.
— Vou encher essa boceta quente de porra e você vai gritar quando gozar, bem alto.
Após algum tempo, chegamos juntos ao clímax e caímos na cama.
E como eu havia pedido, ela gritou, descontrolada, tamanho era o tesão que estava
sentindo.
— Ai, Dimitri... que gostoso — sussurrou, ofegante e satisfeita.
— Também adorei, linda — concordei, respirando com dificuldade e pousando a mão em
meu peito.
Luciana me abraçou e fiquei beijando sua cabeça enquanto recuperávamos o fôlego.
— Luciana…
— Oi, cabrón.
— Seu amigo Oscar está lá fora, te esperando.
— O quê? — ela se sentou na cama, assustada, e lamuriou-se, pondo as mãos nos cabelos
bagunçados. — Meu Deus! Ele ouviu nosso escândalo, Dimitri! Que vergonha!
— Sério? Acho que não, princesa. Relaxa! — respondi calmamente, segurando o riso na
boca.
— Ai, meu Deus. Vou tomar banho — falou, angustiada.
— Eu trouxe roupas pra você, linda.
— Obrigado, amor.
— Vamos, vou te dar banho.
— Tá bom — ela sorriu, mas ainda vermelha de vergonha, e a puxei pela mão até meu
banheiro.
Após Dimitri me dar banho e um sexo oral dos deuses, vesti minha roupa e fui até meu
apartamento acompanhada por ele, já que Pandora estava em casa.
Estava morta de vergonha, pois sabia que ouviram meus gemidos.
Fiquei intrigada com a possibilidade de Dimitri ter tramado isso de propósito,
considerando a visita do Oscar. No entanto, não via razão para que ele sentisse ciúmes, afinal,
Oscar era como um irmão para mim. Ao adentrar a residência, escutei a animada voz de meu
amigo aproximando-se.
— Luuuuuuu! — ele puxou gentilmente meu braço e me envolveu em um abraço caloroso.
— Oi, meu querido! Que saudades! — exclamei animada, retribuindo o abraço e erguendo-
me levemente na ponta dos pés para alcançar seu abraço, dada sua estatura.
— Que saudades de você, minha coelhinha — Oscar pronunciou o afetuoso apelido que
me deu, ainda mantendo um abraço reconfortante. Naquele momento, percebi um audível bufar
de Dimitri ao fundo, o que despertou minha apreensão.
— Você está tão linda, Lu — elogiou Oscar, acariciando delicadamente meu rosto.
— Obrigada, meu bem. Vamos nos sentar. Gostaria de tomar um café?
— Ah, eu já tomei. Tia Mirian me ofereceu uma xícara.
Dimitri se aproximou, segurando minha mão com um gesto possessivo, e me beijou com
intensidade antes de se despedir.
— Vou dar uma saída, ver o papai.
— Ok.
Ele segurou meu rosto e fez um comentário ousado:
— Mais tarde te dou outra surra, sua gostosa.
Meu rosto corou de vergonha. Ele me beijou novamente e partiu. Ao sentar-me no sofá,
passei as mãos no cabelo num gesto nervoso, enquanto sorria para Oscar.
— Que bom tê-lo por aqui! Como tem sido as coisas no escritório?
Após um breve silêncio, Oscar abordou diretamente a situação.
— Luciana, que cena foi aquela que eu presenciei, querida? Você está envolvida com esse
cara?
— É… sim. Dimitri é uma boa pessoa. Nos conhecemos na academia dele, onde pratico
exercícios — expliquei-me, um tanto envergonhada.
— Entendi, mas jamais imaginei que você fosse querer um homem como ele. Esse cara
parece um homem das cavernas. Boca suja e atrevido — comentou Oscar, em tom de decepção.
— Me desculpe por não ter contado a você, Oscar.
— Não, tudo bem... eu apenas me preocupo com você, coelhinha.
— Você sempre com esse apelido, né?
— Sim, você parece uma linda coelhinha. Então, me fala sobre sua saúde, sua vista... não
tem previsão de quando vai voltar?
— Infelizmente, não. Era para eu ter ido ontem para o médico e não fui, estava um pouco
cansada. Mas em breve eu vou.
— Certo, espero que volte a enxergar logo! Estou ansioso para trabalharmos juntos. No
escritório, digo — seu tom era esperançoso.
— Certo, vou ver. Não me sinto pronta ainda... Estou me acostumando com a vida de cega.
Oscar pegou em minha mão, a acariciando, e falou lindas palavras.
— Estou aqui para o que der e vier. Somos dois sobreviventes, perdemos quem mais
amamos. Vou cuidar de você, Luciana.
— Obrigada, Oscar — agradeci e continuamos conversando por um bom tempo.
ESTOU PUTO, mas muito puto!
Quero quebrar a cara daquele Oscar, filho de uma puta!
Silenciosamente, ele deixou claro que não vai desistir e vai tentar tirá-la de mim.
Dirigindo o carro como um louco, quase ultrapassei o sinal vermelho de tanta tensão.
Desferi socos no volante e passei as mãos no cabelo, agoniado.
Fechei os olhos e respirei fundo.
— Meu Deus, por que colocaste essa mulher em minha vida? Eu estou enlouquecendo! —
murmurei com irritação e, decidido a restaurar minha sanidade, segui dirigindo, dessa vez com
cuidado, até a casa de minha irmã.
Chegando lá, toquei a campainha, e ela me atendeu, mostrando seu sorriso animado.
— Dimitrinho!
— Oi, minha linda — nos cumprimentamos com carinho, e ela depositou um beijo em meu
rosto. — Cadê o papai? — perguntei, percorrendo a sala com os olhos.
— Ele está na piscina, fazendo sua hidroginástica com a profissional que contratei.
— Entendi. Ela é gostosa?
— Que pergunta é essa, Dimitri?
— Sabemos como o papai é quando se trata de mulheres atraentes. Ele não consegue
resistir.
— Bom, acho que é por isso que ele está sorrindo tanto.
— Certo, vou dar uma olhada.
— Espera. Que cara é essa? Está estressado? — minha irmã me perguntou, percebendo
minha expressão carrancuda.
— Não, está tudo bem! — fingi tranquilidade.
— Sei... você não me engana, e isso tem nome: Luciana!
— Aff!
— E como ela está?
— Bem.
— Hum, imagino... ela me falou sobre vocês, sabia?
— Foi mesmo? E o que ela disse? — Apertei os olhos, curioso.
— Ah, não vou contar nada! Mas ela está muito satisfeita... Você está fazendo o trabalho
direitinho, só falta assumir esse romance! — Ekaterina soltou a indireta.
— É apenas uma relação casual, sem sentimentos — desconversei, balançando a cabeça.
— AHAM!
Revirei os olhos e me encaminhei para a piscina. Vi meu pai em uma conversa íntima com
a profissional, lançando sorrisos sugestivos e a observando com interesse. Ele estava tentando
seduzi-la.
— Olá, papai! Cheguei! — anunciei minha chegada, chamando sua atenção.
Papai sorriu, saindo da piscina, e se despediu da profissional, chamando-a de docinho,
piscando um olho para ela, soltando beijos no ar, e eu revirei os olhos, enjoado com aquela
encenação toda.
— Papai, sempre o conquistador! Aff! — o repreendi.
Depois de se enxugar com a toalha e me observar atentamente, papai decidiu me provocar:
— Parece irritado, filho. Faz tempo que não te vejo assim por uma mulher.
— O senhor está enganado, estou ótimo! — retruquei, tentando evitar o assunto.
— Pare de mentir, Dimitri. Eu te conheço, está apaixonado! — constatou papai, sorridente.
— Sua irmã me contou tudo! Quando conhecerei a bela Luciana?
— Nunca! Não quero o senhor perto dela! — esbravejei, expressando meu ciúme.
Ele gargalhou forte.
— Está vendo? Está caidinho pela brasileira... Ah, filho, pare de orgulho besta. Há anos
que eu não o via assim…
— Vamos mudar de assunto, por favor? — trincando os dentes, pedi irritado.
Papai sorriu debochadamente, e fomos para a sala para continuar a conversa no sofá.
Decidi almoçar com eles, mas a agonia se instalou em minha mente. Mal conseguia mastigar a
comida ao imaginar que Oscar poderia estar dando em cima dela.
A tarde chegou, e finalmente fui para casa. Mas, durante a ida, enquanto dirigia, fiquei
pensativo.
— Não posso continuar assim. Essa mulher está dominando minha mente, estou igual a um
cachorrinho, de quatro por ela! — eu xingava a mim mesmo, precisava tomar todas.
Chegando em meu apartamento, me tranquei e, ao pegar o meu celular, vi oito ligações de
Luciana. Deixei o aparelho no modo silencioso exatamente por isso, para fugir dela e de seu
poder sobre mim.
Tomei um banho, me enrolei na toalha, peguei uma garrafa de vodca russa, acendi um
cigarro e fiquei bebendo e fumando enquanto estava sentado na cadeira da mesa de jantar.
Após algumas tragadas, enquanto olhava fixamente para a parede à minha frente, a
imagem de Oscar tocando as mãos de Luciana e chamando-a de coelhinha me causou uma fúria
horrível, desconhecida.
O ciúme se apoderou do meu corpo, e comecei a beber rapidamente, irado e confuso.
Meu coração insistia em gostar dessa mulher, mas meu orgulho e medo do passado se
repetirem martelavam a minha mente e me diziam não.
Precisava esquecê-la.

Oscar passou um bom tempo aqui em casa, e conversamos sobre diversos assuntos.
Enquanto ele chorava e desabafava sobre a morte de sua esposa, eu o abracei carinhosamente e
percebi que, assim como eu, ele é um sobrevivente, tentando se reerguer emocionalmente.
Nos conhecemos desde que entrei na universidade de Nova York. Oscar era aluno da
minha turma, e imediatamente nos tornamos amigos inseparáveis e sua família de origem alemã,
me tratava como uma filha.
Depois que conheci e comecei a namorar Roger, meu falecido marido, Oscar se tornou
amigo dele e, em seguida, engatou um romance com a colega de faculdade de Roger, Kate. Eles
se casaram, mas nunca tiveram filhos, embora o sonho de Kate fosse ter vários. Depois, se
tornaram padrinhos da minha filha Sofia e sempre estiveram presentes em minha vida.
Considerava Oscar um irmão, e sempre deixei isso claro para ele, apesar daquela noite em
uma festa do feriado de 4 de julho.
Mas isso é passado.
Antes de ir embora, ele me convidou para ir a um jantar, que ocorreria em alguns dias na
casa de nossa amiga Cristina, uma advogada que trabalhava no escritório onde eu era sócia, junto
com Oscar e nosso outro amigo, Raymond. Ela mandou me convidar, e tive uma ideia. Chamaria
aquele russo para ir comigo.

Estava sentado, ainda entregue à bebida e ao cigarro quando, de repente, ouvi batidas à
porta.
— Só pode ser ela… — me levantei, meio tonto, e fui abrir a porta.
Ao ver Luciana, meu coração disparou. Estava parecendo uma mocinha apaixonada! Puta
que pariu!
— Oi — cumprimentei sério, enquanto ajeitava a toalha no quadril.
— Dimitri, você sumiu.
— Pois é, fui visitar minha família, mas, já você, estava meio... ocupadinha com seu
GRANDE AMIGO — pontuei entredentes, irritado, sem conseguir conter o maldito ciúmes.
Ela sorriu e ergueu os braços, tateando meu corpo, que ainda estava molhado do banho. Eu
fechei os olhos ao sentir o toque de suas mãos delicadas, e meu amigo de baixo já ficou duro.
— O que você quer? — perguntei, meio irritado.
Ela ficou em silêncio, ainda passando as mãos pelo meu corpo, e depois se aproximou,
tocando e cheirando meu rosto.
— Você está fumando e bebendo, Dimitri?
— Sim, eu sempre faço isso.
— Meu Deus... fumar faz mal e fede... Você tem que parar com isso... só quero o seu bem.
— Luciana, eu não vou parar de fumar ou de beber por você nem por ninguém! —
retruquei, meio ignorante.
— Mas fazia tempo que você não fumava, enquanto estava comigo — ela constatou.
— Eu sei, mas cansei! Estamos passando dos limites, e você sabe disso — eu disse, meio
perturbado, se referindo a nosso acordo.
Ela fechou a porta e segurou as mãos firmemente nos meus braços.
— Por que está dizendo isso? Não me quer mais? — perguntou, meio nervosa.
Me afastei dela e passei as mãos na cabeça, mais perturbado ainda, e segurei as mãos dela
em seguida, fazendo-lhe um pedido:
— Vá para sua casa, me deixe em paz... Tô bêbado e fedendo a cigarro. A mocinha
Luciana não suporta isso, não é? Prefere um cara engomadinho e certinho, como seu amigo
Oscar! — explodi, e ela gargalhou alto.
— Está com ciúmes, admita! — zombou.
— NÃO! É só sexo, eu e você! — esbravejei, negando com raiva, pois sabia que ela tinha
razão.
— Mentiroso!
— Luciana, saia daqui. Eu não tô bem… — pedi, aliviando meu tom de voz, tentando não
ser rude com ela.
— Ok. Te deixarei em paz, Dimitri! — ela se virou, possessa, mas eu me arrependi
imediatamente e puxei sua mão.
— Espera.
— O que é, seu russo bipolar?
— Luciana, eu estou tentando não ser rude com você. Estou bêbado, e posso te magoar
com minhas palavras.
— Dimitri, por que não diz que está com ciúmes de mim? Não percebe o que está
acontecendo entre nós? Você disse ao Oscar que estava comigo, que era meu homem. Eu sei que
você disse essas coisas por ciúmes. Hoje, eu senti tanto sua falta — a brasileira passou as unhas
pelo meu tanquinho, me fazendo respirar descompassado enquanto falava aquelas coisas.
— Não faz isso, mulher.
— Deixa eu cuidar de você, seu ogro gostoso… — ela tentou me beijar, mas eu a impedi.
— Espera, vou escovar meus dentes, tô fedendo a cigarro.
Ela sorriu, achando engraçado, e balançou a cabeça.
— Tá.
Fui rapidamente ao banheiro, cambaleando, e, ao voltar, a agarrei e meti um beijo quente
em sua boca, totalmente rendido e entregue. Luciana puxou meus cabelos, beijando-me com
vontade, e nos deitamos no sofá, eu por cima dela e minha toalha se desfazendo.
— Vamos pro meu quarto — a chamei.
— Ok...
Na sequência, a puxei até lá, já despido, e nos deitamos na cama. Fiquei em cima dela, a
beijando, e ela me agarrou, apertando minha bunda com as mãos.
Que mulher safada...
Depois de um amasso quente, eu a abracei e me cobri com o lençol, evitando fazer sexo.
— Fica abraçada comigo.
— Ok, seu ogro.
— Reclamona.
Ela continuou agarrada a mim, e ficamos em silêncio por algum tempo, até que ela criou
coragem e se declarou, enquanto eu admirava seus lindos olhos perdidos:
— Gosto muito de você, seu russo safado.
— Eu também... estou totalmente louco por você — me declarei em russo, ao fechar os
olhos enquanto acariciava seu rosto.
— Não entendi nada, Dimitri.
Fiquei em silêncio, embriagado, e adormeci em seus braços.
ACORDEI NO OUTRO DIA um pouco cedo, apesar de ter bebido. Costume do meu trabalho
mesmo.
Minha cabeça doía um pouco e, ao olhar para Luciana, observei-a dormir feito um bebê em
meu peito. Seus cabelos pretos e espessos caíam feito cascatas em suas costas, batendo em sua
bunda.
Respirei fundo e agradeci a Deus por poder venerar essa mulher tão linda.
Lembrei de tudo que eu falei ontem para ela, e sei que fui rude em algumas palavras.
O ciúme não estava batendo, estava dando porrada!
Nunca fiquei tão perturbado por causa de ciúmes. Fazia anos que esse sentimento não fazia
parte de minha vida, nem mesmo quando eu estava ficando com Carmem, meu caso mais antigo.
A bebida veio como uma válvula de escape para esquecer desta situação. Vivia tentando
esquecer o passado e fugir dos sentimentos, no entanto, quando estava perto dessa brasileira,
meu coração disparava.
Eu ficava louco, enciumado, desejoso, apaixonado…
Meu sangue russo fervia ao vê-la; era como se ela fosse o fogo e eu a gasolina.
E tê-la ontem se declarando para mim, tão apaixonada e receosa, me deixou mais louco
ainda.
Tudo o que tínhamos não era só sexo. Era amor.
E eu estava fodido.

Ao me acordar nos braços do ogro, me espreguicei e dedilhei sua barriga sarada. Ele
fungou em minha cabeça e falou carinhosamente comigo:
— Bom dia, linda.
— Oi. Como você está?
— Vivo — respondeu, irônico.
— Seu ogro.
— Já começou, reclamona?
— Aff, você que me provoca. Estou sendo carinhosa com você, mas você não merece.
— Tão bravinha — riu.
— Você lembra do que disse ontem, Dimitri? — perguntei, curiosa.
— Sobre?
— Não lembra mesmo? Até russo você falou!
— Não lembro... desculpa. Te ofendi? — mentiu, se fazendo de desmemoriado.
— Não..., mas foi grosso — resmunguei.
— Me perdoe, Luciana.
Fiquei em silêncio, ainda passando os dedos em seu peito, mas ele decidiu me puxar mais
para cima e beijar minha boca.
— Eu não sei o que fazer com você, Luciana — desabafou, parecendo perdido ao segurar
meu rosto.
— Me beija — pedi, desejosa.
Ele não perdeu tempo, segurando meu rosto delicadamente, seus lábios colidiram nos
meus, macios e cheios, famintos, mordiscando-os, me fazendo gemer baixinho e chupando
minha língua com vontade.
Cravei as unhas em seus cabelos e os puxei com força, demonstrando querer mais que um
beijo ardente, depois deslizei-as pelo seu corpo, vagueando sua pele musculosa com desejo e
apertando-o com força.
— Dimitri, quer fazer amor? — inquiri, com a voz manhosa.
— Agora não, sua fogosa. Ainda estou de ressaca.
— Ok — suspirei, sentindo-me pensativa.
— Em que está pensando, linda?
— Em algo que me dói lá no fundo… e ficar nos seus braços me faz esquecer essa dor…
— Entendi, mas pode compartilhar comigo. De boa — falou sério, demonstrando
confiança, e eu ajeitei minha cabeça em seu peito.
Fiquei em silêncio, lembrando que hoje fazia um ano desde o trágico acidente que tirou a
vida do meu marido e de minha amada filha. A dor da perda continuava a pulsar em meu
coração, e a única maneira que eu encontrava para enfrentar esse dia difícil era compartilhá-la
com a única pessoa que começava a ocupar um lugar especial em minha vida: Dimitri.
Munida de coragem, engoli em seco, respirei fundo e o indaguei:
— Dimitri, eu sei que é um pedido pesado, mas hoje faz um ano... um ano desde que perdi
minha família. Você viria comigo até o cemitério?
— Claro, Luciana — sua resposta me surpreendeu, aquecendo o meu coração. — Um ano
se passou muito rápido, não é? Faz tempo que você não os visita?
— Esta é a primeira vez e queria que você fosse comigo, em vez de mamãe… estou
cansada de ela me ver chorar por eles… Ela já deve ter ido deixar as flores, pois me avisou
ontem que iria cedo.
— Tudo bem, podemos ir à tarde… Eu odeio cemitérios, mas eu vou por você.
— Obrigado, Dimitri — sorri e pude jurar que meu olhar perdido brilhou diante do seu.

Convidar Dimitri para me acompanhar a um lugar repleto de lembranças difíceis foi um


desafio. Mas aquele local representava tanto dor quanto saudade, um santuário onde eu poderia
homenagear minha família.
À tarde, após nos arrumarmos e avisarmos minha mãe, Dimitri e eu partimos. Ela já havia
ido antes e, ao saber da nossa visita, ficou emocionada, desejando-me força entre lágrimas. No
carro, Dimitri comprou duas coroas de flores para meus entes queridos, um gesto poderoso de
alguém cujo coração parecia esculpido em pedra.
Chegamos ao cemitério sob um céu nublado, de acordo com o que Dimitri me falou, e que
parecia ecoar a melancolia do momento.
Dimitri, ao meu lado, me acompanhava enquanto eu me aproximava das lápides de meu
marido e minha filha, guiando-me apenas pela sensibilidade de suas mãos.
— Chegamos — disse ele, ao pararmos no local que mamãe havia indicado.
Com as mãos estendidas diante do local, me ajoelhei na grama, com a ajuda dele, e hesitei
por um momento, antes de tocar suavemente as frias superfícies das lápides.
Elas estavam ali, como silenciosas testemunhas do tempo que se passara desde a tragédia.
Estendi mais as mãos, com delicadeza, apalpando os frios contornos das descrições.
Meus olhos lacrimejaram, relembrando todo o sofrimento.
— Roger, meu amor... Sofia, minha pequena... Se você estivesse viva hoje, faria 4
aninhos... — falei com a voz embargada e meus dedos percorriam cada letra, cada detalhe,
tentando capturar o que eu não podia ver.
A emoção crescia, inundando meu peito como uma onda avassaladora. Dimitri permanecia
ao meu lado, respeitando o momento.
— Sinto tanto a falta de vocês. As memórias estão aqui, mas eu queria tanto poder ver... —
As lágrimas escorriam livremente em minha face enquanto minhas mãos permaneciam sobre as
lápides concretas e frias.
— Eles estão em paz, Luciana. E você nunca estará sozinha. Eles estarão em seu coração,
para sempre — disse Dimitri, sensível à minha dor, colocando sua mão em meu ombro, como se
oferecesse um apoio silencioso.
Me desmanchei em lágrimas e agradeci, apertando sua mão.
— Obrigada, Dimitri. Por estar comigo neste momento... por me ajudar a sentir, mesmo
quando não posso enxergar — meus dedos da mão livre continuavam a explorar cada letra e cada
contorno de seus nomes, como se pudesse trazê-los de volta com o toque.
Dimitri, sem dizer uma palavra, se agachou ao meu lado e apenas me envolveu em seus
braços, proporcionando um conforto que transcendia qualquer idioma. O silêncio do cemitério
foi quebrado pelo som suave das lágrimas que caíam em minha face, uma melodia dolorosa, mas
carregada de amor e lembranças.
Após retornarmos do cemitério, Luciana me informou que passaria a noite em sua casa, me
esperando até tarde. Ao fechar a porta do meu apartamento, o eco da tarde no cemitério persistia
em ressoar na minha alma. Joguei as chaves do carro na mesa de centro, me deixei cair no sofá,
finalmente fechando os olhos.
A sala estava imersa em um silêncio carregado, e eu me permiti absorver as emoções que a
visita trouxera à tona. Cada passo, cada palavra compartilhada com Luciana pareciam gritar no
vazio da sala, como se o próprio ambiente estivesse absorvendo a gravidade daquele momento.
O sofá parecia me envolver, e, por um instante, me deixei levar pelas lembranças que
teimavam em ressurgir. A imagem dos túmulos, as coroas de flores, o aroma suave da saudade
no ar... tudo estava presente, como se a tarde no cemitério fosse uma cena que se repetia diante
dos meus olhos fechados.
— Luciana… — sussurrei para o silêncio, meu coração ainda palpitando suas palavras. A
sala parecia mais densa, e eu me vi imerso em recordações que preferia esquecer.
Cada passo naquele cemitério era como uma jornada aos cantos mais profundos do meu
próprio luto.
Meus olhos se perderam, fixando-se em um ponto distante.
— Svetlana, Nastya… — lembrei dos sorrisos e das risadas de minha noiva, do rostinho de
minha filha ao nascer, tão vívidos como se estivessem aqui. — Meus amores… Sempre amarei
vocês…
E, de repente, o que eu julgava enterrado emergiu, como se a dor estivesse apenas
adormecida, esperando por um gatilho.
Naquela solidão, as lágrimas ameaçavam, e eu me vi confrontando uma vulnerabilidade
que mantinha escondida.
Por fim, me rendi e, entregue à saudade, chorei por muito tempo, como se as próprias
lágrimas lavassem a dor que estava enraizada em meu peito.
Chorei não só por Luciana, mas por mim.
Pelos anos que passei sufocando a tristeza, pela saudade que nunca desapareceu.

Os dias passaram e me senti um pouco mais leve, desde aquele dia no cemitério. Convidei
Luciana para tomar sol na beira da piscina do prédio, já que fazia um sol forte e ela aceitou.
Alguns minutos depois, ao chegar perto da borda, perdi o ar.
Luciana estava sentada numa cadeira, com o cabelo preso num coque e Pandora sentada no
chão, ao seu lado.
— Luciana... Você chegou até aqui só de biquíni? — perguntei enciumado, ao ver as peças
na cor bege, minúsculas, envoltas em seu corpo gostoso.
— Sim — sorriu de canto, com o olhar perdido. — Qual o problema?
Notei alguns homens olhando descaradamente para ela e o ciúmes me engolfou.
— Não trouxe seu roupão?
— Sim, está aqui do lado — ela tocou a peça. — O que você tem? — me questionou,
percebendo meu tom de voz alterado.
— Nada — trinquei o maxilar.
— Hum... senta aqui do meu lado — ela sorriu, olhando para baixo e ergueu as mãos para
que eu as segurasse.
Eu o fiz e selei beijos ao sentar-me ao seu lado.
— Você está linda. Muito gostosa — a comi com os olhos, ensandecido para fodê-la com
aquele biquíni.
— Que pena que não posso te ver ainda, Dimitri... Só vejo algumas luzes… — ela se
lamentou.
— Hum, quando vai ao médico?
— Semana que vem. Naquele dia eu não fui, fiquei meio triste.
— Comigo, não foi?
— Sim... — Luciana respondeu, parecendo entristecida.
— Olha, me desculpa por eu ser desse jeito. Eu nunca tive algo tão intenso como estou
tendo com você. Isso me perturba, mulher.
— Então se deixe perturbar, Dimitri — declarou, apaixonada, enquanto ainda segurava
minhas mãos.
Engoli em seco ao ouvi-la me tentar e permaneci em silêncio.
— Ah, eu queria te ver e te chamar pra me acompanhar num evento. Se você quiser, é
claro — ela disse, mudando de assunto.
— Qual evento?
— Um aniversário de uma amiga minha, que trabalhou comigo no escritório.
— Sei.
— Se você não quiser ir, eu vou com o...
— EU VOU — a interrompi, pois não queria outro homem roubando sua atenção. — Eu
vou com você, linda.
— Oh, obrigada, Dimitri — ela sorriu de orelha a orelha, e meus olhos escorregaram para
seu corpo pequeno e delicioso.
Inevitavelmente fiquei duro.
— Depois desse banho de piscina, poderíamos ir a algum motel… quero te comer toda,
Luciana. Topa? — pedi, todo safado, ainda com a boca colada em seu ouvido.
— Seu russo safado...
— Lá, você pode gritar à vontade e eu vou meter sem dó — provoquei ainda mais.
— Tá, tá bom... eu vou.
Fiquei supersatisfeito em ouvir sua resposta, e percebi o quanto ela estava apaixonada por
mim.
Eu não sei como fugir dessa mulher, não sei como não querer tocá-la.
Levei-a até a piscina e ela se agarrou em meu pescoço.
— Dimitri, eu tô com medo de escorregar.
— Relaxa, vou te segurar, linda.
Tomamos banho por algum tempo, e depois deixei Pandora em sua casa. Dona Mirian, ao
me receber, falou comigo:
— Oi, meu quase genro.
— Oi. Vim deixar Pandora. Vou dar um rolê com Luciana no meu carro.
— Hummm, sei.
— A senhora pode me dar uma muda de roupa dela?
— Claro! Onde ela está?
— No meu carro, me esperando. Eu a poupei de vir até aqui e pedi que aguardasse.
— Certo, meu amor. Tão cavalheiro!
Eu sorri e Dona Mirian se retirou para buscar as roupas, entregando-me posteriormente.
— Tome. E se divirtam muito — desejou, sorridente.
— Obrigado, dona Mirian.
— De nada, meu amor.
Saí, logo tomando o elevador, e alcancei o meu carro rapidamente, percebendo que
Luciana parecia um pouco apreensiva.
— Que foi, linda? — indaguei preocupado, ao sentar-me no banco e fechar a porta.
— Nada... é que… — ela ficou calada, como se estivesse refletindo algo.
— Está com medo de mim?
— Não... É que não sei se vou te agradar — desabafou, insegura.
— Não se preocupe com isso, vou te deixar louca... E saiba que você me agrada
completamente — garanti, e apertei sua coxa com carinho.
— Tá, cabrón sedutor — ela sorriu e tocou minha mão por cima de sua coxa.
Dei um sorrisinho de canto de boca e mordi o lábio. Ato contínuo, liguei o carro e comecei
a dirigir.
Os pensamentos devassos invadiram minha mente e eu fiquei imaginando tudo o que faria
com essa mulher.
Eu não iria ter pena e reivindicaria seu corpo por completo.
ENQUANTO DIRIGIA rumo ao motel, notei a agitação em Luciana, uma combinação frenética
de nervosismo e excitação que ela mal conseguia disfarçar. Suas mãos percorriam minha coxa,
apertando com ansiedade, um sinal evidente de que ela estava prestes a mergulhar em um
território desconhecido.
Ao chegarmos ao motel, peguei a chave e conduzi o carro até o quarto reservado. Ao
estacionar na garagem, desci e abri a porta para Luciana, puxando-a delicadamente pelo braço.
— Vem, linda.
Um sorriso nervoso adornava seus lábios enquanto segurava minha mão. Entramos no
quarto, e eu a fiz se sentar na cama. Ajoelhei-me diante dela, segurando seu rosto, pois ainda
detectei uma certa apreensão em seu olhar.
— O que está te incomodando, princesa?
— Eu... eu tô nervosa...
— Por quê? Se quiser, podemos ir embora agora.
Luciana colocou as mãos sobre as minhas, apertando com intensidade.
— Não. Eu quero ficar, Dimitri... Estou doida para te dar, mas nunca me entreguei à
loucuras como essa. Sou meio careta — ela fez uma cara feia, revelando sua insegurança.
— Bobagem. Eu já te conheço um pouco, e pelo que vi, você é safada pra caralho. Só
precisa se permitir entrar no meu mundo louco. Você curte quando eu te levo ao limite, não é?
— Sim — ela balançou a cabeça afirmativamente. — Eu amo...
— Já foi fodida desse jeito pelo seu marido?
— Não… — negou, nervosa.
— Você sabe que sou completamente diferente dele, não é?
— Sim, Dimitri, eu sei, mas não precisa fazer comparações.
— Não, eu tô de boa. Só queria que você soubesse que eu posso te fazer gostar ainda mais
de umas coisas que tenho em mente.
Luciana agarrou meu rosto, meio desesperada de desejo, e implorou:
— Faz o que quiser comigo! Foda-se meu medo e minha insegurança. Eu... eu sou louca
por você.
Trincando os dentes, respirei fundo, aceso ao extremo, e a deitei sobre a cama. Puxei suas
pernas até meu quadril e afastei sua calcinha do biquíni de lado. Com meu dedo polegar grosso,
dedilhei seu ponto sensível em movimentos circulares e subi a mão livre até seus seios,
apertando-os.
— Você é tão fodidamente gostosa, mulher... Se você soubesse o que quero fazer
contigo… — murmurei, excitado.
— Dimitri, pare de falar e só faça!
Fora de mim, escorreguei minha boca até sua boceta, que estava inundada, e a chupei com
vontade.
— Oh! Seu gostoso da porra! — o gemido incontido misturado com as palavras escaparam
da garganta dela, e suas mãos se enfiaram em meus cabelos.
— Isso, safada! — grunhi contra a sua bocetinha. — Fala palavrão — incentivei,
segurando o lado de suas coxas com firmeza, e ela gemeu mais alto. — Grita pra mim vai —
chupei-a feito um morto de fome, todo bruto, e ela berrou, não suportando a pressão da minha
boca selvagem.
— Ahh!
Enquanto a engolia com minha boca, subi minhas mãos até seus seios, afastando o biquíni
e apertando seus mamilos com meus dedos.
— Seu cachorro! — ela não resistiu, e me xingou com vontade.
Alguns minutos se passaram, e a brasileira se contorceu em êxtase, entregando-se a um
orgasmo intenso em minha boca. Rápido como um relâmpago, tirei meu calção, preparando-me
para colocar a camisinha. Rasguei o envelope, e ela, ainda trêmula, sentou-se, explorando meu
corpo com mãos ávidas, acariciando meu quadril. Ao tocar no volume endurecido, ela se
aproximou, indicando claramente seus desejos.
Sem cerimônia, segurei seu cabelo pela nuca, forçando-a a olhar para mim, mesmo sem
enxergar.
— Quer o meu pau enterrado nessa boca, não é? — questionei com rudeza.
— Sim.
— Pois vai ter. Abre essa boca, gostosa, e me engole!
As mãos dela se firmaram em meu quadril enquanto introduzi meu membro devagar em
sua boca. Seus lábios carnudos e macios chupavam minha glande com avidez e delicadeza ao
mesmo tempo. Ela cravou as unhas na minha bunda, arranhando-me.
— Porra, mulher, vou ficar sem pele.
— Você é tão gostoso, tenho vontade de te arranhar todo — confessou, afastando a boca
do meu pau.
— É, sua safada?
Ela balançou a cabeça, intensamente excitada, continuando seu trabalho, proporcionando-
me prazer com a boca, desta vez chupando toda a extensão do meu pau.
— Isso, Luciana! Chupa bem fundo... Quero meter até sua garganta... Te fazer
choramingar, sua gostosa provocadora.
Tentei me controlar, mas a luxúria se apossou de mim. Luciana não era como as mulheres
que costumava pegar, e a penetrei lentamente. Ela apertou ainda mais as unhas na minha pele e,
ao retirar a boca, implorou:
— Me fode com força, Dimitri.
— Luciana…
— Por favor... Estou louca por você, pelo seu corpo, pela sua safadeza. Tudo em você me
enlouquece! — Luciana declarou-se intensamente, aprofundando ainda mais a minha perdição.
Sem hesitar, a deitei imediatamente sobre a cama de barriga para cima. Em seguida, puxei
suas pernas rapidamente até mim e me inclinei, mergulhando minha boca faminta em sua boceta
novamente, fazendo-a gritar de prazer, em um frenesi descontrolado.
— Ah! Seu puto! — escandalizou em sua língua nativa.
— Isso, geme em português! Me excita ainda mais! Juro que um dia aprendo sua língua…
— murmurei contra sua fenda.
Luciana enlaçou as pernas no meu pescoço e puxou meu cabelo, gritando:
— Porra! Que boca é essa, meu Deus.
O gosto dessa mulher me deixava mais viciado ainda e eu a fiz gemer alto, delirando de
tanto prazer.
Passados alguns minutos, subi até sua boca e a beijei com lascívia. Ela me agarrou no
pescoço, enlouquecida, e nos beijamos com um fogo do inferno. Fiquei roçando nela e depois
desci até seus seios, juntando os dois e mordendo-os sem pena, sugando e chupando seus
mamilos intumescidos.
— Oh! — a brasileira gritou, ensandecida.
— Inferno, eu adoro morder você, gostosa! Você vai me dar o que eu quero hoje? —
perguntei, cheio de ansiedade.
— O quê? — ela me perguntou, ansiosa.
Desci minha mão até o lado de suas nádegas e meti um tapa.
— Isso.
— Sim… — confirmou, com os olhos semicerrados de prazer.
— Porra... — beijei-a novamente e depois a coloquei de quatro, ainda de biquíni.
Fui até meu carro rapidinho e peguei um brinquedinho que comprei para usar com ela.
— Dimitri, cadê você? — ela me chamou, nervosa.
Voltei rapidamente para o quarto, partindo para cima dela.
— Tô aqui— comecei a morder seu corpo, beijando toda a sua pele, até chegar em sua
bunda. — Continua assim, de quatro — peguei no meu pau e fiquei massageando-o diante a
visão da gostosa de quatro para mim, toda arrebitada, ainda de biquíni. — Gostosa da porra, que
delícia.
Ela permaneceu quietinha, parecia estar tensa, então aproximei-me, perguntando se estava
tudo bem, e ela assentiu, implorando-me em seguida:
— Me fode, Dimitri, mas seja carinhoso. Faz muito tempo que não faço isso.
— Eu sei, princesa, vou te tratar muito bem. Eu não queria fazer essas coisas agora,
preferia esperar você voltar a enxergar, para que pudesse ver o que eu faria contigo.
— Seu cachorro safado.
— Não vejo a hora de você poder enxergar, linda.
— Nem eu…
A seguir, dei-lhe um beijo bem gostoso, depois voltei para sua linda bunda e segurei suas
nádegas com as duas mãos, apertando-as, fazendo-a gemer bem alto.
— Isso é uma perdição, mulher. Caralho, eu vou me acabar aqui hoje.
Peguei o objeto que comprei, que se tratava de um dildo menor que meu pau e pincelei
pelas suas partes íntimas.
— Dimitri, o que é isso? — perguntou, assustada.
— Um brinquedinho. Vou meter nos seus dois buracos. Você vai enlouquecer hoje.
— Ai, meu Deus… — seu murmúrio era uma mistura de prazer e medo.
Fui enfiando o dildo na sua boceta, indo e voltando, e ela se contorcia, doida para me dar,
se arrebitando ainda mais. Ao olhar fixamente para o objeto em sua intimidade toda molhada,
fiquei louco. O acessório estava todo melado de seus líquidos. O retirei por um tempo e decidi
chupá-la mais.
— Ai, Dimitri! — Luciana agarrou os lençóis, gritando, sentindo um prazer extremo e eu
continuei fazendo o meu trabalho com esmero. — Ohh!
Chegando no seu orifício apertado, meti um beijo grego que talvez ela nunca esqueceria e
essa mulher gritou mais ainda, parecia que nunca experimentou aquilo.
— Oh, Deus!
— Você nunca fez isso? — perguntei, após afastar minha boca.
— Não, seu safado! Oh! — respondeu e gritou ao sentir minha língua de volta em seu rabo
apertado.
Fiquei mais doido ainda de saber que ela nunca experimentou tal coisa, e ao mesmo tempo
feliz, pois faria de tudo um pouco com aquele corpo gostoso dela. Depois de ela gritar horrores,
peguei o dildo e voltei a enfiar em sua boceta, estocando num vaivém que a fez ficar fora de si,
se perdendo em gritos chorosos.
— Ahh! Por favor, mete seu pau, seu puto indecente — clamou, afogada num desejo
lascivo.
— Vou socar com vontade e você só sairá daqui toda quebrada — prometi, bruto, e
continuei enfiando o objeto nela, alternadamente introduzindo um dedo em seu canal apertado,
devagar, indo e voltando.
Ela jogou a cabeça para trás, cheia de desejo, gritando:
— Ohh, seu canalha gostoso!
Conforme ela gemia, seu canal pulsava e se contraía, enquanto ela se embevecia de mais
desejo. Num dado momento, à medida que enfiei três dedos, ela implorou, chorosa:
— Mete, por favor!
Puxei seu cabelo na nuca e perguntei em seu ouvido, todo bruto:
— Quer meu pau todo dentro desse seu cuzinho gostoso?
— Sim, cabrón...
Mordisquei seu pescoço e a coloquei de conchinha comigo. Em seguida, lubrifiquei meu
membro, duro para caralho, e fui introduzindo devagar nela enquanto o dildo permanecia
enterrado em sua boceta.
Luciana estremeceu, excitada, passando as mãos pelo meu rosto.
— Tem certeza de que quer dar para mim? É um caminho sem volta, linda. Vou viver
comendo esse rabo, mas será do meu jeito, sem dó e bem gostoso.
— Sim, Dimitri!
Segurei seu pescoço com minha mão delicadamente, apertando um pouco, e, aos poucos,
forçava a minha ereção contra o canal apertadinho, ouvindo-a gritar feito louca, se abrindo toda
para mim. Ao colar meu rosto no seu, sussurrei indecências:
— Meu Deus, Luciana, que cu gostoso! Ele é todinho meu, não é, minha putinha?
— Sim, me fode com força, seu filho da puta! — implorou, chorosa e excitada.
— Porra, eu tô maluco por você, mulher! — declarei-me, deixando o torpor tomar de conta
de meu corpo.
O tesão e loucura a dominaram, fazendo seus gritos e palavras de baixo calão ecoarem
pelas paredes do quarto. Eu socava sem pena, sabendo que ela adorava que eu apertasse seu
pescoço no ato.
— Toma, gostosa! — rosnei. — Vou te comer sempre desse jeito, todo bruto. Quero te ver
gozando pra mim.
— Seu russo indecente!
— Safada! Tá gostoso o meu pau todo enterrado em você, sua cachorra gulosa, hum? Tá
gostando do seu macho russo comendo seu cu sem pena?
— PORRA, SIM! — respondeu, num grito alucinado.
Aquilo fora um impulso para que eu continuasse comendo-a com vontade. Ela agarrava os
lençóis, chorava de prazer, sempre gritando e implorando por mais em sua língua latina.
— Oh, seu filho da mãe! Mete mais forte!
— Meto sim, sua mandona!
Estoquei ainda mais ávido, entregando-me ao frenesi de seus gritos enquanto contemplava
sua entrega para mim. Após algum tempo, atingimos o ápice e caímos abraçados na cama.
Luciana aninhou-se a mim, como se nunca mais fôssemos nos soltar, de olhos fechados e
respirando com dificuldade. Observei-a toda suada, apreciando como ela ficava ainda mais linda
enquanto se entregava ao êxtase do orgasmo.
Estou enlouquecido por essa mulher...
Nunca experimentei um sexo tão intenso com alguém em toda a minha vida...
A simples ideia de outro tocar nela me deixa furioso.
Estou fodidamente apaixonado por Luciana.
ALGUMAS HORAS DEPOIS, acordei. Dormi profundamente, exausta após as intensas transas
com esse selvagem. Dimitri me possuiu inúmeras vezes, insaciável, e senti-me como se tivesse
sido atropelada por um caminhão.
Ele não brincava em serviço.
Esse homem fedia a sexo e sabia praticá-lo como ninguém.
Passei os dedos pelo seu peitoral e deslizei até embaixo, fazendo carinho, quando senti
seus braços me envolverem fortemente, despertando-me do sono.
— Acordou, minha brasileira linda? — perguntou, todo preguiçoso, sua voz grossa um
tanto enrouquecida, me deixando completamente excitada.
— Sim... estou toda quebrada, cabrón.
— Te machuquei?
— Não, eu tô bem.
— Eu meti com tanta força que meu pau tá ardendo. Você me deixa alucinado, mulher.
— É mesmo, seu sedutor esfomeado?
— Sim.
Dimitri pegou seu celular, verificando a hora.
— Nossa, está tarde demais. Quer ir pra casa?
— Sim. Mamãe deve estar preocupada.
— Tá nada. Ela sabe que se você está comigo, está com Deus. Eu a avisei que sairíamos
quando fui levar Pandora e pegar sua troca de roupa.
— Ai, Jesus, ela vai achar que somos dois tarados, Dimitri.
— E daí? Isso não é pecado, na verdade, é gostoso pra caralho — Dimitri me agarrou,
deixando uma mordida em meu pescoço.
— Dimitri, para. Tô toda lascada — sorri, envergonhada.
— Ok, me perdoe. A culpa é sua de ser tão linda e gostosa, com esse sangue brasileiro.
— Você gosta de uma latina, não é?
— Confesso que sim. Gosto dos latinos, minha mãe era filha de uma venezuelana.
— Nossa, sério?
— Sim. Eu sei espanhol por causa dela.
— Hum…
Os ciúmes me atinge, ao pensar que ele adorava ouvir aquela mexicana gemendo em
espanhol, e ele percebeu.
— Tá com ciúmes da Carmem, não é?
— Não! — neguei, empinando o nariz, mas morrendo por dentro.
— Mente tão mal… — o russo soltou um risinho convencido. — Olha, eu também adoro
português, acho uma língua fascinante. Embora saiba o significado de poucas palavras, quero
aprender tudo algum dia.
— Hum, seria bom.
Ficamos conversando algum tempo sobre coisas aleatórias e toquei no assunto da festa.
— Você vai mesmo comigo?
— Sim.
— Certo, será amanhã à noite, um evento black-tie. Tem que ir de terno e gravata.
— Ok, mandona, eu vou.
— Eu queria tanto te ver vestido assim, Dimitri.
— Te excita esse pensamento? — questionou-me, achando graça.
— Canalha! Sim.
— Tenho fé que logo você vai enxergar e eu vou usar essas roupas pra te provocar.
— Tá bom, seu cabrón.
Nos beijamos vorazmente, feito dois adolescentes cheios de hormônios, e seguimos para
um banho juntos, onde nos curtimos mais um pouquinho.
Ao fim, Dimitri me deixou em casa e seguiu seu rumo para visitar seu pai.

No dia seguinte, pela manhã, fui ao oftalmologista, um velho amigo de Roger. Ao adentrar
o seu consultório, Dr. Abraham me abraçou carinhosamente.
— Luciana, minha querida. Como está?
— Estou bem. Desculpe não ter vindo na última consulta, eu não estava legal, sabe?
— Entendi, querida, sente-se.
Me sentei em uma cadeira enquanto segurava a coleira de Pandora, e começamos a discutir
sobre meu estado de saúde. Quando eu citei sobre as luzes brancas, o médico ficou animado e
surpreso.
— Meu Deus! Isso é ótimo de se ouvir, um grande passo! Você precisa fazer uns exames
agora, vamos lá.
Na sequência, me levantei animada, seguindo até a sala de exames. Graças a Deus, Roger
havia feito um plano de saúde para mim quando nos casamos, eu podia usufruir até o meu último
suspiro todos os recursos de primeira linha do sistema de saúde dos Estados Unidos. Ele se
preocupava tanto comigo e com nossa filha, que eu jamais temeria ficar desamparada; parecia
que sabia sobre o destino…
Após uma longa bateria de exames, aguardei pacientemente pelos resultados, e o Dr.
Abraham trouxera boas notícias.
— Bom, minha flor, seu organismo está se curando e se regenerando. Talvez tenhamos que
fazer uma cirurgia corretiva, mas isso será daqui um tempo, conforme sua evolução. Pelo que
estou vendo aqui, sua visão retornará gradativamente, o que é um verdadeiro milagre.
— Oh, meu Deus, então essas luzes brancas significam que estou voltando a enxergar? —
questionei, esperançosa.
— Sim, você está retomando sua visão. A cada dia, você irá evoluir mais e verá outras
cores. É como se a nuvem escura estivesse se dissipando de um temporal, e os raios de sol
estivessem a iluminar seus olhos. Um dia, você acordará e estará enxergando tudo.
Sorri e, tomada pela emoção, comecei a chorar.
— Oh, Jesus! Obrigada! Eu estou tão feliz, doutor.
— Eu também, querida. Farei o que estiver ao meu alcance para ajudá-la.
Após a consulta, Pandora, mamãe e eu retornamos à nossa casa, e quando contei a ela
sobre os detalhes, pude senti-la vibrando de felicidade.
— Oh, filha, que felicidade! Deus é bom, ele nunca vai te desamparar! Em breve, você terá
sua vida de volta! — comemorou.
— É verdade, mas não terei minha família de volta — resmunguei, tentando lutar contra a
tristeza que me acometia e sempre me jogava num profundo estado de depressão todas as vezes
que me permitia pensar na tragédia.
— Tem a mim, seu pai e... Aquele russo — assegurou mamãe.
— Mamãe… — abanei a cabeça, num sorriso sem dentes. — Dimitri só quer se divertir e
eu também.
— Pare de mentir para si mesma, filha — repreendeu-me, tentando abrir meus olhos. —
Você está apaixonada por ele, Luciana. Por que não se declara? Eu vejo nos olhos dele a louca
paixão que tem por ti.
— Eu... eu não sei, mamãe — abaixei a cabeça, cheia de dúvidas. Aquele homem era a
bipolaridade em pessoa.
— Gosta dele, não é? — perguntou-me, incisiva.
Por alguns instantes, fiquei em silêncio, envergonhada.
— Luciana, eu sou sua mãe! Fale a verdade.
— Ahhhh, tá bom! — suspirei audível e me abri para ela. Nem eu estava mais aguentando
guardar somente para mim. — Sim, eu estou apaixonada por aquele cabrón.
— Eu sabia! — minha mãe explodiu numa gargalhada. — Ai, já imagino meus netinhos de
cabelos platinados com olhos azuis — disse, sonhadora.
— Mamãe! Eu não quero ter filhos agora e o Dimitri menos ainda! — resmunguei.
— Eu sei, filha, foi só um devaneio. Mas estou feliz que você finalmente disse o que
sente... Só falta criar coragem e se declarar para ele.
— Acho que se eu fizer isso, ele foge... — desabafei, desanimada.
— Por que não tenta aos poucos? — sugeriu.
— Vou pensar, mamãe... Aquele russo é muito complicado e misterioso — dei um fim na
conversa e fechei os olhos, a fim de descansar.

A noite chegou, e comecei a me arrumar. Não sabia o que vestir, fiquei sentada na cama,
pensativa e perdida sobre o que colocaria, tateando as peças de roupas que mamãe dispôs perto
de mim.
De repente, escutei batidas à porta do meu quarto.
— Pode entrar.
— Cheguei! — a irmã de Dimitri anunciou, toda animada.
— Kaaaa! — exclamei seu nome com alegria e ergui os braços para que ela me tocasse.
— Holaaaaa! — disse em espanhol, pegando minhas mãos e sentando-se ao meu lado.
— Sua maluca, o que está fazendo aqui?
— Bom, por dois motivos: Te trouxe um presente de aniversário atrasado e o Dimitrinho
falou que vocês vão para um evento e eu vim te ajudar a se produzir. Ai, eu adoro te maquiar,
sua pele e seu rosto são lindos! Deixará o russo doido hoje.
Ela me entregou uma embalagem com algo fofo dentro.
— Ah, obrigada, Ka! Não precisava se preocupar, meu presente é sua amizade. Mas o que
é?
— Abre! — ela pediu animada.
Assim que rasguei a embalagem, senti que era um ursinho de pelúcia,o levei ao rosto e
então senti imediatamente o perfume de Dimitri impregnado nele.
— Porque o perfume de Dimitri está nele, Ka?
Ela sorriu e se explicou:
— Bem, na verdade esse presente não era exatamente meu… Meu querido irmão pediu pra
eu comprar um Shrek de pelúcia para você e dizer que foi eu. Depois passou o perfume dele nele.
— Mas que ogro safado!
— Demais! Depois comentou sobre o evento, então aproveitei para trazer o presente e te
arrumar.
Meu coração ficou quentinho e acelerado. Coloquei o presente do lado do meu travesseiro
e toquei na mão dela.
— Eu não tinha noção do que vestir... Mamãe me auxiliaria.
— Bom, sempre que precisar, me chame. Eu adoro arrumar as pessoas! Acho que estou na
profissão errada! Onde estão suas roupas de festa?
— Mamãe colocou tudo aqui na cama.
— Certo, vou dar uma olhada.
Ekaterina ficou um tempo quieta, provavelmente estudando as peças, até encontrar a que
julgou ser perfeita.
— Ai, achei!
— Qual é? — perguntei, curiosa.
— Nossa, tem até etiqueta! É um vestido midi preto de uma manga só, o tecido é nobre, a
cara da riqueza! — ela respondeu, impressionada.
— Humm, lembro desse. Foi o Roger que me deu de presente... É de uma marca bem cara.
Nunca tive oportunidade de usar.
— Vai usar hoje, lindona!
— Tá bom, Ka.
— Tira esse roupão, que vou te vestir — mandou.
— Ok.
Ao me despir, ouvi Ekaterina exclamar, assustada:
— Luciana, o que o meu irmão fez contigo?
A vergonha me consumiu.
— Ai, Deus… — cobri meu rosto com uma mão.
— Meu Deus, você está cheia de chupões, mordidas e tem marcas vermelhas na sua bunda!
— ela explodiu numa gargalhada. — Foi uma sessão de sadomasoquismo, miga?
— Ah, que vergonha — lamentei, enquanto ela ria da minha cara.
— Gente, tô passada!
— Eu não imaginava que ficaria com essas marcas... É por isso que mamãe fica rindo
baixinho quando me ajuda a colocar uma roupa que eu não consigo sozinha. Vou reclamar com
seu irmão! — lamuriei.
— Eu sei que você adora ser marcada por ele, viu? — garantiu, ainda rindo.
— Confesso que sim... Meu Deus, nem meu marido fazia essas loucuras comigo, amiga.
— Como assim, Lu? Ele não te satisfazia? — Ekaterina me questionou, curiosa.
Me ajeitei na cama e comecei a explicar:
— Ah, claro que satisfazia... Não estou reclamando, isso, jamais. Roger era muito
tradicional, acho que pelo fato da criação dele, mas ele sabia me dar prazer... É que... seu irmão...
bem, ele faz umas coisas diferentes comigo. Eu me sinto uma atriz pornô quando estou com ele!
Ekaterina gargalhou alto, e a acompanhei, me jogando na cama.
— Morta estou!
— Sua besta — a repreendi, sorrindo também.
— Ai, Luciana, me desculpe, mas você parece tão inocente falando do Dimitri.
— É porque o Roger foi meu único homem, entende, Ka? O primeiro de tudo.
— Ahhhh, agora deu pra entender! O Dimitri é um safadão, né?
— Sim… — meneei a cabeça, relembrando de tudo que aquele filho da mãe gostoso fez
comigo. — Ele me deixa louca, fora de mim. E eu acabo fazendo tudo que ele quer...
— Hum, entendi... Eu acho que ele está apaixonado por você. Conheço meu irmão —
opinou, cheia de certeza.
— Eu acho que não. Ele garante sempre que é só sexo — comentei, agora me sentindo um
pouco entristecida.
— Mentiroso! — Ka retrucou.
— Eu não sou como as ficantes dele, que fazem loucuras com ele... Talvez ele logo se
canse de mim, Ekaterina.
— Que conversa é essa, mulher, está doida? — Ka me repreendeu. — Dimitrinho gosta de
você... Apenas o orgulho dele que é foda... — ela suspirou audível e apertou minhas mãos. —
Olha, eu desejo de coração que aquele ogro perceba que você é a mulher certa para ele. Isso se
você quiser ter algo sério com ele, lógico.
— Eu não sei o que quero… fico confusa! Um dia seu irmão me trata feito uma rainha, e
no outro ele surta e vira um brutamontes!
— Normal, Dimitri sempre foi bipolar. Mas ele gosta de você sim, Luciana. Olha só o
presente que ele te mandou! Que eu saiba, nunca uma ficante dele ganhou algo tão especial e
significativo. Bom, agora vamos vestir esse vestido bafo e passar uma maquiagem aqui no
pescoço pra cobrir esse chupão. Meu Deus, esse homem parece um morcego — ela não segurou
a gargalhada.
Ekaterina me auxiliou em tudo, até deu um jeito nos meus cabelos.
— Ai, tá linda... Não sei como ainda tem cabelo, de tanto o Dimitri puxar, tadinha —
brincou.
— Ekaterina!
— Ai, relaxa, hermosa!
— Eu não devia ter lhe contado o que ele fez, você vai rir de mim até 2050 — repliquei.
— Calma, ficará só entre nós. Agora eu entendo porque as mulheres ficam loucas por ele.
Ele é um selvagem insaciável! Uiiiiii!
— Sua maluca! — dei uma risada de seu jeito engraçado.
— Agora, vamos colocar seu par de scarpins e depois iremos até a sala. Ah, eu trouxe o
papai, ele está com sua mãe e o Dimitri.
— Oh, que bom. Finalmente vou conhecer o famoso boxeador Nikolayev! — expressei
com ansiedade, bem curiosa.
— Só preciso te contar uma coisa antes: meu pai é um pouco sapeca, hihi, não resiste à
uma mulher bonita — avisou.
— Entendi. Vamos nessa.
— Partiu quebrar o coração do Dimitri! — ela disse, descontraída.
— Ekaterina, me ajude até a sala, por favor.
Nós seguimos e logo ouvi sons de surpresa.
— Uau! Que mulher incrível! — uma voz grave e charmosa, provavelmente do pai de
Dimitri, exclamou ao me vislumbrar. O senti se aproximando e beijando minha mão. — Olá,
Luciana, sou Mikhail, pai do Dimitri e Ekaterina.
— Olá, senhor Nikolayev. Prazer em conhecê-lo! Lembro de assistir a algumas entrevistas
suas na TV.
— Hum, que legal. Pena que você não pode me ver agora, querida, mas estou torcendo
pela sua recuperação — ele falou, sedutor.
— Obrigada, senhor — sorri, percebendo Dimitri afastando bruscamente a mão do pai.
— Chega, papai! Já abusou demais!
— Ciumento — o pai dele riu, divertido. — Mas eu te entendo, filho. Esta mulher é um
espetáculo!
— Aff! — Dimitri bufou perante o elogio descarado.
Ekaterina riu e comentou:
— Calma, Dimitrinho, segura esse ciúme!
— Claro que ele está com ciúmes de mim, filha. Sabe que sou mais bonito que ele, apesar
de ser mais velho — o pai dele provocou, convencido, e eu me segurei para não rir daquela
situação cômica.
— O senhor não muda, né, papai? — a irmã de Dimitri riu.
— Luciana, se um dia meu filho te der um fora, estou aqui... Garanto que sou mais bonito e
romântico que ele — o senhor Mikhail se ofereceu, todo galante, e gargalhei com vontade.
— Vocês querem parar com isso? — Dimitri esbravejou, morto de ciúmes.
— Calma, filho, só estou brincando.
— Vão para a festa agora? — mamãe interveio, tentando acalmar o russo bruto.
— Sim! Vamos, Luciana — Dimitri veio até mim, me deu um beijo na bochecha e pegou
minha mão, despedindo-se dos demais. — Tenham uma ótima noite. E você, papai, depois
teremos um papinho!
Ouvi a gargalhada alta do pai dele.
— Tenham uma noite bem divertida e até mais, pombinhos. Vou conversar um pouco com
dona Mirian — Mikhail falou, todo animado.
— Tchau, gente — me despedi, ainda risonha com a situação.
Em seguida, saímos em direção ao elevador, e Dimitri ficou em silêncio. Quando entramos
lá, quebrei o silêncio.
— O que você tem?
— Nada — ele respondeu, todo bruto.
— Está chateado com seu pai, Dimitri?
— Sim. Ele é muito inconveniente, às vezes. Me desculpe pela forma que ele falou com
você. Meu pai não tem jeito.
— Tudo bem. Eu o achei engraçado. Acho que estava só te provocando.
— Não sei... ele é um safado — resmungou.
— Olha quem fala — provoquei.
Depois de eu dizer isso, Dimitri me pressionou na parede e enfiou a mão no meio do meu
vestido, enquanto encostava a boca bem perto do meu ouvido, sussurrando:
— Não me provoque, mulher, senão te fodo aqui mesmo, e você vai para a festa com
cheiro de quem acabou de trepar.
— Pare, seu malvado — sussurrei, excitada com sua deliciosa ameaça.
Decidi perguntar sobre o presente.
— Porque me mandou um Shrek com seu cheiro?
— Para você sempre se lembrar de mim enquanto eu não estiver presente, embora eu saiba
que sou inesquecível.
Revirei os olhos sorrindo.
— Você é um arrogante, sabia?
— E você é minha.
O elevador se abriu, e tivemos que nos recompor e alcançar rapidamente o seu carro.
QUANDO ME ARRUMEI e fui até a casa de Luciana com meu pai, fiquei sem ar ao vê-la toda
linda e produzida. Aquela mulher tinha uma beleza que me deixava embasbacado e cada vez
mais apaixonado. Engoli em seco, desejando levá-la dali naquele instante e fazer amor com ela
loucamente até não aguentar mais.
Por outro lado, fiquei puto com as investidas do meu pai. Não tinha certeza se ele gostou
realmente dela, ou se foi apenas para me provocar, já que ele sempre insistia para eu me casar e
dar netos a ele.
Levei Luciana imediatamente para o estacionamento, e agora estávamos no meu carro. Ao
ligar o motor, ela apertou minha coxa nervosamente, fazendo um pedido:
— Dimitri, por favor, dirija devagar.
— Tudo bem, se acalme — levei sua mão aos meus lábios e a beijei suavemente,
arrancando um sorriso de alívio de seu rosto.
Luciana me guiou até o local da festa, e eu dirigi cautelosamente. Estávamos em um bairro
luxuoso de Nova York, e a mansão onde a festa acontecia estava repleta de pessoas. Estacionei o
carro nas vagas para convidados e acompanhei Luciana até a porta.
— Vamos, linda?
— Sim.
Segurando sua mão, entramos juntos. Um segurança confirmou que ela era amiga da
anfitriã e nos deixou passar.
Luciana apertou minha mão com firmeza, visivelmente nervosa por ser seu primeiro
evento desde o acidente. Eu tentei acalmá-la.
— Luciana, relaxa. Estou aqui com você, e tenho certeza de que seus amigos aqui te
adoram.
Ficamos parados, eu admirando seus lindos olhos amendoados, segurando seu rosto entre
minhas mãos, e ela com as mãos sobre as minhas.
— Obrigado, Dimitri. Estar cega me deixa insegura. Eu me afastei de todos por causa disso
e porque tudo me lembra da minha família... Isso ainda dói muito em mim — suas palavras
transbordavam de dor.
— Eu te entendo, mas fugir e se esconder não resolve nada. Você precisa reagir, voltar a
viver, rever seus amigos que te adoram, voltar a ser a advogada incrível que você era.
— Não sei como posso trabalhar estando cega — disse, triste.
— Eu já pensei nisso por você, quero te ajudar. Quando sairmos daqui, podemos conversar
sobre isso.
— Ok... Obrigada, cabrón — ela agradeceu, recuperando o sorriso.
Sorri, e a beijei apaixonadamente. As pessoas ao redor nos observavam curiosas e
perplexas. Subitamente, a voz desagradável de Oscar surgiu atrás de nós, e eu separei nossas
bocas.
— Olá, com licença.
Ao me virar, limpei minha boca ostensivamente, mostrando satisfação pelo beijo. Oscar
me encarou com desprezo e falou carinhosamente com Luciana, elogiando-a:
— Oi, minha coelhinha, você veio! Que bom te ver. Está lindíssima!
Percebi o sujeito descer o olhar pelo corpo dela, comendo-a com os olhos, e cerrei os
punhos, desejando socá-lo até sua cara ficar irreconhecível. O canalha não a tratava somente
como uma amiga, estava na cara.
Que Deus me ajude a conter a vontade incontrolável de matar esse homem!

Dimitri andava se comportando como um verdadeiro cavalheiro, e eu estava amando isso.


Ele disse que me ajudaria na questão da minha carreira e de todas as outras coisas que eu
precisava retomar em minha vida, e então pude perceber em sua voz uma pitada de paixão.
O russo não me engana.
Após me beijar com loucura, diante de todos os convidados da festa de Cris, ouvi a voz de
Oscar e falei com ele. O senti se aproximar e me abraçar com carinho.
— Nossa, coelhinha, você está cheirosa demais. Extremamente linda — elogiou.
— Obrigada… — esbocei um sorriso tímido.
— Bom, vamos até a recepção — ele chamou e assenti, mas, ao mesmo tempo, senti
Dimitri pegar minha mão com possessividade, permanecendo calado e me guiando até o local
indicado por Oscar.
Pude escutar um burburinho, muitas vozes falando meu nome, um tanto chocadas por eu
estar acompanhada, e minha amiga Cristina, a aniversariante da festa, veio me abraçar.
— Oi, amiga! Meus parabéns! — sua voz animada preencheu meus ouvidos, me fazendo
sorrir ainda mais.
Dimitri soltou minha mão, e pude matar as saudades da minha amiga.
— Ai, eu não sabia que você viria. Pedi para o Oscarito te convidar, mas ele não soube me
responder quanto à sua presença. Estou tão feliz que veio! — ela disse.
— Ah, obrigada, amiga. Eu estava sentindo tanta falta de vocês… Você sabe que tentei me
isolar, pois sofri um grande trauma, mas estou tentando me reerguer e seguir minha vida.
Cristina sorriu e sussurrou em meu ouvido, ao perceber Dimitri perto de mim:
— Amiga, tô vendo que você seguiu sua vida e está muito bem servida! Que homem é
esse?
Nós começamos a rir baixinho, e respondi de volta:
— É uma longa história, mas estou ficando com ele… esse russo lindo, que nem sei como
é o rosto…
— Lindo é apelido, ele é uma delícia! Mas que bom que você está feliz, amiga. Vamos,
vou te levar pra rever nossos outros amigos.
— Ok. Vamos, Dimitri — o chamei, e ele segurou minha mão, apertando-a, sempre ao
meu lado até aproximarmos do pessoal.
Ao me cumprimentarem, alguns indagaram com certa curiosidade sobre meu
relacionamento com Dimitri, e eu respondia sempre que estávamos nos conhecendo melhor, nada
mais que isso, porém, todos desejaram-nos felicidades; era palpável a torcida de quase todas
aquelas pessoas as quais convivia para que eu fosse feliz novamente, não importava como.
Sentamo-nos à mesa, e conversamos sobre tudo, desde o acidente até o momento, e Dimitri, ao
meu lado, contava como havíamos se conhecido.
— Luciana começou a frequentar as sessões de fisioterapia na clínica da minha irmã, que é
fisioterapeuta, e fica no interior da minha academia… enfim, nos conhecemos lá, e fiquei
encantado por ela, principalmente porque já começamos brigando. Essa mulher tem pavio curto
— ele gargalhou, relembrando nossas trocas de farpas.
— Ah, isso é verdade! Lu sempre foi esquentadinha! — Cristina concordou, aos risos.
O russo sorriu, e continuou:
— Acho que foi isso, e também o fato de ela ser tão guerreira e obstinada, duas
características que despertaram meu interesse.
Apesar de a declaração de Dimitri fazer o meu peito querer explodir, senti meu rosto
esquentar, morta de vergonha, diante dos gritinhos de aprovação dos meus amigos.
— Vamos brindar ao recomeço da nossa grande amiga! — comemorou Cristina junto aos
demais.
Erguemos nossas taças, e senti Dimitri encostar seus lábios em meu pescoço, deixando-me
arrepiada.
De repente, ouvi a voz de Oscar:
— Também estou muito feliz que minha melhor amiga tenha recomeçado sua vida — ele
direcionou a voz a mim. — E saiba, coelhinha, que nunca vou te abandonar.
— Oh, obrigada, Oscarito.
Dimitri apertou minha mão, demonstrando ciúmes, e logo avisou que iria ao banheiro.
— Volto já, linda.
Antes de sair, ele segurou meu rosto e me beijou, todo apaixonado, me fazendo apertar
seus ombros. Quando ele saiu, de fato, respirei fundo e Cristina sentou-se ao meu lado,
comentando sobre o que acabara de presenciar:
— Amiga, eu senti a química daqui! Isso vai dar casamento, Lu. Me lembro de que com o
Roger era assim… que Deus o tenha.
— Eu não sei se dará casamento, Cristina. Estamos nos conhecendo, e ele é tão diferente
de mim... do Roger...
Discorri sobre a personalidade de Dimitri e Cristina ficou chocada.
— Nossa, estou bege! Entretanto, ele parece ser um homem bom, apesar do temperamento
forte..., mas você sabe que... — ela silenciou-se por alguns segundos e continuou: — O homem
que mais combina com você se chama Oscar — concluiu, cochichando.
— Cristina, não comece com essa história — comprimi os lábios, constrangida.
— Calma, o Oscar saiu, foi se servir no bar. Olha, você sabe que ele é o homem perfeito
pra você, depois do Roger... Desde aquele 4 de julho, que você me contou aquilo, eu tive certeza
— ela relembrou, tocando em um assunto que eu gostaria de deixar no passado, embora a
avalanche de memórias tenha preenchido minha mente.
Foi no meu primeiro ano da faculdade, eu morava em um alojamento e conheci Cris e
Oscar, ambos eram meus companheiros de estudos, e se tornaram meus grandes amigos. Oscar
sempre fora carinhoso e leal, o apelido de coelhinha era bem antigo, e sua dedicação era
imensurável. Ele sempre me protegera, auxiliava-me nos estudos, e meu tempo era preenchido
por ele em momentos em que Roger ainda não existia em minha vida.
Um certo dia, Oscar nos convidou para comemorar o feriado de 4 de julho em um grande
parque, teria uma apresentação de uma banda famosa que ele adorava. Euzinha, uma jovem de
18 anos, estava ansiosa em ir à festa, empolgada para o evento.
Nos arrumamos e fomos de táxi, planejando aproveitar a folga do dia seguinte. Chegando
lá, começamos a beber e dançar, eu me divertindo e conhecendo alguns garotos com Cristina.
Oscar conversava com algumas meninas, mas sempre sentia seu olhar sobre mim. Não sabia se
era cuidado ou ciúmes, preferi acreditar na primeira opção.
Horas se passaram, parei de beber e fiquei tonta. Cristina estava ocupada com um rapaz,
e eu dançava abraçada com Oscar. Quando os fogos começaram, Oscar segurou meu rosto,
olhando-me, embriagado.
— Lu, eu preciso te dizer algo...
— O quê? — perguntei sorrindo, também embriagada.
— Luciana, eu te amo.
Sorri nervosa.
— Eu também te amo! Você é meu melhor amig...
— Escute! — Ele me interrompeu com seriedade, o bafo alcoólico raspando em meu rosto
— Eu te amo como um homem ama uma mulher... Sou apaixonado por você, desde que te
conheci...
Fiquei perplexa, e ele me beijou. Embora bêbada, carente e surpreendida, permiti o beijo.
No entanto, a razão voltou, e o afastei.
— Para! — Me afastei, limpando meus lábios.
Oscar insistiu, expressando seus sentimentos, mas deixei claro que éramos apenas amigos.
Aquela noite foi marcante e a razão para meu isolamento nos dias seguintes.
Dois dias depois, indo para a faculdade, trombei com Roger, um homem alto e
encantador. Pediu desculpas e pegou meus livros, trocamos olhares, sentindo uma forte química.
Ele me convidou para almoçar, e naquele dia, encantei-me com sua gentileza e beleza. Oscar
viu-nos juntos, ficou abalado, mas nunca mais mencionou a noite em questão. Roger tornou-se
meu namorado, e Oscar, após uma fase complicada, encontrou seu amor em Kate, amiga de
Roger.
A vida seguiu, e nunca mais tocamos naquele assunto. Não teria possibilidade de Oscar
ainda insistir em algo que já não mais fazia sentido. Teria?

— Luciana? — Cristina me chamou repetidamente, tocando em meu ombro, até que


finalmente saí do transe.
— Oi?
— Você estava em outro mundo. O que aconteceu?
— Estava relembrando daquele dia, Cristina.
— Ah, entendi.
— Olha, Cris, apesar do Oscar ser uma pessoa incrível, eu não o amo. Ele continua sendo
como um irmão, entende?
— Eu sei. Não adianta forçar algo que não está lá, amiga. Mas acho que ele está disposto a
tentar algo contigo de novo. Ele ficou chateado por saber que você já está envolvida com outro
homem.
— Meu Deus! — murmurei, surpresa.
— Mas relaxa. Se você está feliz com esse russo platinado e charmoso, está tudo bem! Só
quero ver minha amiga sorrindo! Vou ver se consigo arranjar uma amiga para o Oscar, as
meninas aqui estão todas interessadas nele, por aquele ar misterioso que só ele tem.
— Ele ainda mantém essa aparência, não é?
— Sim — ela respondeu, rindo.
Decidi mudar de assunto, e passamos a falar sobre sua viagem para a Índia.
ENQUANTO LUCIANA trocava ideias animadas com sua amiga, observei a atmosfera festiva
e percebi olhares femininos voltados para mim. No entanto, ao notar Oscar dirigindo-se ao
banheiro, decidi segui-lo. Ao entrar, fechei a porta, e ficamos frente a frente. Seu sorriso
debochado se manifestou diante minha presença revelada pelo reflexo do espelho.
— Ora, ora. Está me seguindo, Dimitri? — questionou, virando-se para mim.
Mantendo a seriedade, o encarei.
— Precisamos ter uma conversa, Oscar — disse, enquanto ele me olhava com desdém,
fingindo não compreender.
— Não tenho nada para conversar contigo, cara. Por que não vai fazer companhia à minha
amiga? Vocês estão juntos ou não?
— Estamos sim. Apenas queria te dar um aviso: PARE de olhar para ela como se fosse um
tarado! Você não me engana. Desde que coloquei meus olhos em você, eu soube que você é
louco por ela — expressei impaciente, e ele soltou uma risada de escárnio.
— Cara, você é meio surtado. Luciana e eu somos grandes amigos e temos uma longa
história juntos.
— Você acha mesmo que é páreo para mim, idiota? — franzi as sobrancelhas, irritado. —
Não se faça de doido, porque doido comigo é na porrada! — ameacei, perdendo a paciência com
sua postura.
— Calma, violência não resolve nada, Dimitri — ele ergueu as mãos em rendição. —
Sinceramente, eu não sei o que minha amiga viu em ti. Você não serve para ela!
— Quer mesmo saber o que ela viu em mim? — sorri cinicamente. — Um homem quente
que a satisfaz em todos os sentidos! Ela te conhece há anos e nunca te quis, e eu, haha, Luciana
nem me conhecia direito e já me quis loucamente. Isso deve doer em você, não é, Oscarito? —
provoquei, retribuindo a gentileza, atingindo certeiro o alvo, que mostrou suas garras.
— Chega, seu idiota! — ele esbravejou, entredentes. — Luciana merece algo melhor! E
tenho certeza de que, em breve, ela se dará conta disso!
— É mesmo? E o melhor, por acaso é você? — perguntei debochado, rindo da sua cara.
— Ela sabe que sim. No fundo, ela sabe — ele respondeu, com certa convicção.
A vontade de enchê-lo de porrada estava em um nível estratosférico. Cerrei os dentes,
notando alguns homens entrando no banheiro, nos observando, amedrontados com uma possível
briga.
Ergui meu rosto, fuzilando-o com o olhar.
— Acho que você não sabe satisfazer uma mulher na cama, cara. Se para conquistar é
difícil, imagine na hora H! — gargalhei alto. — Disso, a coelhinha não reclama quando está
debaixo dos meus lençóis, do meu corpo — sorri descaradamente, vendo-o apertar os punhos
para me bater. — Se quiser brigar, vamos lá para fora, de homem para homem, e te ensino a não
bater como uma mocinha.
Com o dedo em riste em meu rosto, ele retrucou:
— Escute aqui, seu russo de merda, não vou cair em sua armadilha e promover um
escândalo na festa da minha amiga. Mas, saiba de uma coisa: no dia em que você magoar a
Luciana, eu farei de tudo para conquistá-la. Ela será minha!
Bufei, irado, e o rebati:
— Duvido! Ela é louca por mim! Nunca vai se entregar para você como se entrega para
mim. Tenho certeza de que você é um obsessivo de merda que não vê a hora de infernizar a vida
dela! Mas, enquanto eu estiver com ela, não vai pisar no meu caminho!
— Por enquanto — enfatizou, irônico, dando um sorriso de canto. — Eu sei o tipo de
homem que você é, Dimitri Nikolayev. Um solteiro convicto que se envolve com todas e depois
as abandona!
— Está me perseguindo, seu idiota? — o indaguei, elevando o tom de voz.
— Talvez. Queria saber com quem minha amiga estava saindo, afinal. Sabe, Dimitri, você
é apenas uma aventura, logo, ela te esquecerá. Luciana é uma mulher especial, educada e
inteligente. Merece um homem à altura e não um cara que só quer usá-la! Ela está carente, mas
isso vai passar. Se o Roger não tivesse aparecido na vida dela, eu seria o homem dela até hoje!
Meneei a cabeça, chocado com sua arrogância.
— Caramba, Oscar, você é iludido demais, viu?! Arranje uma boceta para se enfiar e
esqueça a Luciana! Eu não vou ter muita paciência contigo. A propósito, só estou tendo por
causa dela, que não imagina quem você é por trás dessa máscara de bom amigo — disparei.
— Bem, talvez ela saiba e se faça de desentendida para você. Tem coisas que você não
sabe sobre nós — afirmou, com um sorrisinho se formando no rosto.
— Olha, seu idiota, não vem com esse papinho para mim! — apontei o dedo em sua cara
cínica. — Eu vou te avisar pela última vez: DEIXE. A. LUCIANA. EM. PAZ — bradei, bufando
novamente, e ele me encarou com ódio.
— Você tem que saber primeiro se a Lu quer que eu saia do caminho dela. Acho
impossível isso acontecer. Ela me ama, Dimitri! — o desgraçado alfinetou.
Por alguns segundos, fechei os olhos com força, apertando os punhos, contendo minha
vontade de assassiná-lo. Respirando fundo, exalei o ar com raiva, e reuni todas as forças que
tinha para me controlar.
Encostei meu nariz no dele, demonstrando que não estava para brincadeira, e falei com
ódio, mandando-o para o lugar que ele merecia:
— ENCAMINHE-SE PARA A PORRA, SEU FILHO DA PUTA! — berrei em sua cara e
me virei, saindo do banheiro, possesso de raiva.
Esse Oscar vai ser uma pedra no meu caminho, e minha vontade agora é jogá-lo em um
precipício, formado por uma poça de ácido sulfúrico.

Ao voltar para a mesa em que Luciana estava, a encontrei toda alegre, envolta por seus
amigos, e imaginei como sua vida devia ser perfeita ao lado de seu esposo, pois tudo o que ouvi
até agora era o quanto ele era ideal e muito bom para ela, o que me deixou um pouco inseguro,
deslocado.
Sou um ogro, mal-educado e insensível, não sei se Luciana merece um homem como eu.
Respirei fundo, sentando-me ao seu lado.
— Oi, linda. Voltei.
Ela sorriu, encaixando seu braço ao meu.
— Oi, você demorou.
Cheguei mais perto de seu ouvido, e sussurrei:
— Talvez eu tenha ido bater uma pra você. Tô doido pra arrancar sua roupa e te comer
gostoso.
— Dimitri...
Ficamos rindo da minha audácia, e observei Oscar voltar à mesa, como se nada tivesse
acontecido.
Adotei um semblante sério ao envolver Luciana possessivamente pela cintura, mantendo-a
próxima a mim, dedicando-lhe carícias e mordiscadas delicadas em seu pescoço. Um sorriso
nervoso despontou em seus lábios, acompanhado por suspiros, colorindo suas faces de rubor.
— Dimitri, por favor... — ela suplicou.
— Não — murmurei, recusando-me a ceder.
A aniversariante, percebendo nossa intimidade, brincou conosco:
— Uau, que fogo vocês têm!
Ao retornar meu olhar para Oscar, notei sua irritação ao esvaziar a taça abruptamente,
desviando o olhar e bufando. Cristina, sem interrupções, continuou seu comentário
entusiasmado:
— Mal posso esperar pelo casamento de vocês! Imaginem só os bebês adoráveis que virão!
Ao mencionar "bebês", meu semblante se fechou ainda mais. Luciana percebeu meu
desconforto pela forma que me afastei dela e interveio:
— Cristina, acalme-se. Estamos apenas nos conhecendo.
— Parece que está apaixonada por esse russo, hein?! — brincou Cristina. — Dimitri, ela é
uma mulher de ouro, você tem sorte!
— Eu sei que ela é especial, e merece apenas o melhor — respondi, enfatizando com certo
pesar, pois duvidava ser digno de Luciana, que notou a estranheza em minha voz e apertou
minha mão.
— Está tudo bem, meu amor?
— Sim, estou ótimo. E você, está se divertindo?
— Muito — ela afirmou, sorrindo.
De repente, meu celular tocou incessantemente, exibindo o nome de Carmem. Apesar de
suas constantes ligações, optei por ignorá-la.
— Quem é, Dimitri? — perguntou Luciana, curiosa.
— Ninguém importante, querida — desconversei.
— Sei.
A amiga dela se levantou, convidando a todos para dançar.
— Vamos dançar ao som de James Arthur! Meu ídolo! — exclamou, empolgada.
— Eu o amo! Você quer dançar comigo, Dimitri? — Luciana inquiriu, um tanto receosa.
— Claro, querida. Vamos dançar como Shrek e Fiona — brinquei, arrancando uma risada
dela.
— Está bem, eu não me importo.
Ao som da música "Falling Like Stars" interpretada por um cover, agarrei Luciana pela
cintura. Sempre gostei de dançar, herança da minha mãe latina. A letra da música, "Caindo como
as estrelas", chamava minha atenção enquanto dançávamos lentamente, mãos entrelaçadas em
meu pescoço e a cabeça dela repousada em meu peito. Em um momento específico do refrão,
notei o sorriso nos lábios de Luciana.
A canção combinava exatamente com o que estávamos sentindo.
“E eu preciso que você saiba que nós estamos caindo muito rápido
Nós estamos caindo como as estrelas
Nós estamos nos apaixonando
E eu não tenho medo de dizer essas palavras
Com você eu estou seguro
Nós estamos caindo como as estrelas
Nós estamos nos apaixonando”
Ela apertou minhas costas, passando as unhas por cima do tecido, e meu nariz foi a
encontro de seus cabelos escuros, inalando o doce aroma de seu shampoo.
O meu cheiro favorito.
Naquele momento, o mundo pareceu parar. Éramos só nós dois na pista de dança circular,
fixada no meio do jardim de sua amiga. A paixão tomou conta de mim, e senti uma vontade
intensa de me declarar para essa mulher, mas algo ainda me dizia que não estava preparado.
A música terminou, e ela ergueu a cabeça, olhando para cima, imaginando estar me
encarando.
— Que foi, linda?
— Nada. Eu só queria te ver agora, era o meu único desejo — disse, os olhos brilhando
com o banho de lágrimas.
— Logo você vai me ver. Vamos ter fé — minha voz saiu rouca.
— Sim.
Segurei seu rosto, e ela se declarou para mim mais uma vez:
— Nós também estamos caindo, Dimitri, caindo como as estrelas. Estamos apaixonados...
Eu estou... — ela se conteve, mordendo os lábios, mas encheu o peito de coragem e continuou:
— Completamente apaixonada por você, cabrón. Espero que você pare de fugir disso.
Fiquei em silêncio, sentindo uma emoção arrebatadora, e meti um beijo digno de cinema
em seus lábios, chamando a atenção de todos, inclusive de Oscar. Luciana recebeu minha boca
com desejo e gemeu. Ao descolarmos nossos lábios, ela suspirou.
— Meu Deus... Se seu beijo é assim, imagine o resto hoje.
— Como você adivinhou? Está prevendo o futuro, mocinha? Seu macho russo vai te dar
uma surra bem dada quando voltarmos para casa — prometi contra sua boca, engolindo sua
respiração arfante, e meu nariz roçou no dela.
— Ai, Jesus... — Luciana gemeu mais uma vez, superexcitada.
Ficamos sorrindo e continuamos dançando, animados. A noite foi embora, sendo
substituída pela madrugada. Conheci muitos amigos e amigas do círculo da brasileira, e a
maioria me tratou muito bem, inclusive se interessaram pela minha academia. O único que me
ignorou foi Oscar.
Como estava muito tarde, Luciana decidiu ir embora e se despediu de seus amigos, que
pareciam gostar muito dela. Por fim, sua amiga Cristina a abraçou forte, despedindo-se:
— Ai, amiga, por favor, não suma mais. Estamos aqui para o que der e vier. Você sabe que
eu te amo.
— Também te amo, Cris. Vou manter contato — garantiu Luciana, tocando o rosto da
amiga com carinho.
— Tá bom, depois venha passar um dia aqui comigo, pra gente ter a noite das meninas.
— Ok, vamos pensar nisso. — Elas se abraçaram de novo, e sua amiga se despediu de
mim, apertando minha mão.
— Cuide dela, Dimitri. Essa mulher é maravilhosa, um verdadeiro tesouro!
— Cuido sim. Obrigado pela festa, estava muito boa.
— Ah, de nada!
Em seguida, guiei Luciana até a saída, segurando sua mão, mas, antes que alcançássemos o
carro, Oscar a puxou pela mão livre, me irritando.
— Não vai se despedir de mim, Lu?
— Claro que vou. Eu não ouvi sua voz e achei que você tivesse ido embora — ela se
explicou a ele.
— Vem cá, meu amor — o infeliz a puxou, dando-lhe um abraço forte, cheirando seu
pescoço, cheio de intimidade, e me olhando de forma provocativa. — Depois vamos sair só nós
dois, coelhinha, para conversarmos com mais calma. O que acha?
— Vamos ver. Tenha uma boa-noite, Oscarito.
— Você também — Oscar segurou sua mão e a beijou. — Não esqueça que te amo, Lu.
— Também te amo, amigo. — Percebi que Luciana respondera sem intenções e o alívio
tomou conta de mim.
— Vamos, Luciana — peguei novamente em sua mão e a guiei até o carro, infelizmente
sob o olhar indecifrável de Oscar.
Entramos no veículo, e quando mencionei ligá-lo para irmos embora, meu celular tocou
novamente, desta vez, um número desconhecido, então decidi atender e o coloquei no viva-voz:
— Alô?
— Dimitri, mi guapetón! Onde estás? — Carmem perguntou, parecendo estar embriagada.
Puta que pariu!
Lá vem treta...
— Carmem, eu já pedi para não me ligar.
Luciana mudou o semblante rapidamente, tomado pelos ciúmes.
— Por favor, vem me foder bem gostoso, mi amor. Sinto sua falta... Eu faço o que você
quiser, você sabe disso — a mexicana insistia, tentando me seduzir.
— Carmem, você está bêbada, e eu vou desligar, tenha uma boa madrugada — desliguei o
celular, e olhei para Luciana, que estava com o rosto virado para o vidro e os braços cruzados.
— Luciana, não se preocupe com Carmen. Ela sempre liga, mas eu a ignoro.
— Afff! Essa mulher não se toca? — ela esbravejou, voltando o rosto em minha direção —
Por que não arranja um homem ou um emprego para desencanar de você?
— Ela já trabalha.
— Em quê?
— Carmem é stripper de uma boate — respondi, e ela arregalou os olhos.
— Oi?
— Pois é, a conheci lá, há alguns anos.
— Nossa, você devia adorar, não é?
— Você tá toda vermelha de ciúmes — pontuei, tocando em seu rostinho ruborizado.
— Não tô, não! Olha, por favor, me leva pra casa — pediu, irritada.
— Ok — liguei o carro e dirigi até chegarmos em nossos apartamentos.
Durante todo o trajeto antes de entrarmos em nossas casas, Luciana permaneceu calada. E
quando abriu a porta dela, ela se pronunciou seriamente:
— Obrigada por ter ido comigo, Dimitri. Desculpe ter o incomodado com isso.
Segurei seu rosto enquanto sorri silenciosamente.
— Não foi incômodo nenhum, eu adorei, mas… tem certeza de que não quer dormir
comigo?
— Sim! Vou dormir sozinha — respondeu ríspida, virando o rosto.
— Ok, você quem sabe. Tenha uma ótima noite, linda — dei-lhe um beijo quente, que a
deixou de pernas trêmulas, e quando afastei minha boca dela, a ajudei a entrar em casa. — Até
amanhã, Fiona — gargalhei e ela bufou, revirando os olhos.
— Canalha! — repreendeu-me, ainda com raiva e enciumada.
Em seguida, entrei em meu apartamento e segui direto para o chuveiro, pensando na
declaração de amor que essa mulher me fez... Eu queria tanto dizer o mesmo, mas algo me
impedia, e eu não conseguia me desfazer daquilo.
Ao terminar o banho, enxuguei-me e vesti um calção. Ato contínuo, me sentei no sofá,
agoniado, doido pra fazer amor com ela e tomei uma decisão.
— Vou trazê-la nem que seja nos braços. Preciso dela perto de mim.
Quando abri a porta, fiquei surpreso. Luciana estava com o cabelo molhado, como quem
acabou de tomar banho, e vestida com minha camisa preta com o logotipo da minha banda
preferida Guns N' Roses, que ficava parecendo um vestido nela.
— Dimitri… — esfregando as mãos, nervosa, murmurou meu nome, olhando para baixo.
— Luciana? O que quer aqui?
— Não suporto fingir que não te desejo — declarou, erguendo o rosto.
Eu a puxei pela cintura, colando-a em meu corpo, e a beijei loucamente, em pura lascívia,
resvalando as mãos desesperadas pelo seu corpo delicioso. Ela me agarrou, emaranhando as
mãos em meus fios, os puxando com raiva, e adentramos o interior do meu apartamento ainda
nos atacando. Fechei a porta com meu pé, e a joguei sobre o sofá, pressionando meu corpo acima
do dela, engolindo sua boca com loucura e paixão.
— Ah, Dimitri, me fode! — implorou, gemendo.
— Não vou te foder, vou fazer amor com você — proferi em um momento de paixão, que
estava tomando conta de mim como uma droga, e ela sorriu contra minha boca, tocada com
minhas palavras.
Na sequência, a levei para a cama, deitando-me com ela, selando vários beijos em seu
rosto. Ela continuou a puxar meus cabelos, cheia de desejo e se declarou novamente:
— Eu sou louca por você, Dimitri. Quero ser só sua.
— Você já é minha, mulher. Desde o dia que pisou em minha academia.
Desta vez, ela me virou e subiu em cima de mim, tirando a própria roupa até ficar nua.
Venerei todo o seu corpo delicioso, e fiquei ainda mais louco por saber que aquela mulher
me pertencia. Que queria ser minha.
Nos beijamos cheios de paixão e fizemos amor até o amanhecer.
Cada toque, cada gemido, tudo era uma explosão de emoções intensas que nos consumia,
selando o sentimento forte que nos devorava por dentro, de uma maneira que ia além das
palavras não ditas.
ALGUMAS SEMANAS DEPOIS

ESTAVA INCRIVELMENTE FELIZ.


Dimitri vinha dormindo comigo todos os dias, fosse na sua cama ou em algum hotel, e
estávamos explorando sempre nossos desejos mais intensos. Ele era um verdadeiro cavalheiro,
mas, vez ou outra, seu lado ogro prevalecia, provocando-me, afinal, ele era um homem de
temperamento forte, não podia negar.
Desde aquela festa, Dimitri começou a demonstrar interesse em minha profissão,
questionando por que eu não retomava minha carreira, especialmente considerando que existiam
advogados deficientes que atuavam no setor jurídico. Essa conversa me fez refletir e, para minha
surpresa, Dimitri me convidou para ser advogada de sua rede de academias. Ele ainda sugeriu
que eu trouxesse a irmã mais nova de Alonso para ser minha assistente, já que ela havia
trabalhado em um cartório e digitava muito rápido. Minha mãe apoiou a ideia, e acabei
aceitando.
Ele não poupou esforços e rapidamente transformou uma das salas de seu prédio em meu
escritório, o que me deixou extremamente feliz. A irmã de Alonso, Annie, era uma pessoa
maravilhosa, e estávamos nos dando muito bem.
Mais uma semana se iniciou, e me levantei para me arrumar. Minha mãe estava por perto,
auxiliando-me com algumas coisas. De repente, senti cólicas na barriga, e minha menstruação
desceu.
— Ah, meu Deus, que alívio, não estou grávida! — suspirei aliviada, afagando minha
barriga.
— Filha? Como assim? — mamãe perguntou, preocupada.
Fiquei envergonhada e expliquei a ela sobre o episódio da pílula do dia seguinte, fazendo-a
cair na risada.
— Ah, meu Deus! Imagina um filho seu com Dimitri! Jesus, iria ser um furacão! Vovó iria
amar!
— Mamãe, para. Dimitri não quer filhos de jeito nenhum.
— Sei, todos dizem isso! Mas quando o bebê nasce, viram um pai babão!
— Mãe, vamos mudar de assunto, não quero me estressar com aquele russo.
— Tá bom.
Pouco tempo depois, ouvi batidas à porta. Era Dimitri, e mamãe foi recepcioná-lo, ele logo
apontou no meu quarto, fechando a porta.
— Oi, gostosa — cumprimentou, todo safado.
— Oi.
Dimitri me agarrou, tentando tirar minha toalha e me seduzir, mas eu o detive,
empurrando-o para longe.
— Dimitri, não.
— O que foi? Vou ficar em silêncio — ele prometeu, rindo baixinho.
— Estou naqueles dias — avisei, constrangida.
— Sério? Você... Você não está grávida? Aleluia!
Sua reação me deixou entristecida.
— Não fique assim, linda. É o melhor para nós. Vou te ajudar a vestir a roupa, minha
advogada sexy.
— O Roger me chamava assim — sorri, ao relembrar o jeito que meu marido me chamava.
— E ele tinha razão! Você é sexy e gostosa. Estou doido pra pegar você de jeito. Posso
virar um vampiro, o que acha? — Dimitri sugeriu, ainda mais safado, me deixando chocada.
— DIMITRI! — repreendi, meio estressada.
— Estou brincando — ele apertou meu nariz.
— Me deixa vestir a roupa sozinha! — pedi, brava.
— Ok, esquentadinha — ele me beijou, todo safado, e se retirou do quarto.

Segui para a sala e, ao me sentar no sofá ao lado de dona Mirian, percebi que ela estava
folheando um álbum de fotos e chorando em silêncio.
— Dona Mirian, o que houve, querida? — perguntei, cheio de preocupação, já que era raro
vê-la assim, tão triste.
— Ah, meu amor, não é nada. Só estava vendo as fotos da minha netinha que Deus levou
— respondeu chorosa, fungando pelo nariz e limpando as lágrimas.
— Posso ver?
— Sim.
Ela me entregou o álbum, e visualizei fotos de Luciana com seu marido e sua filha, uma
criança linda com cabelos pretos como os dela, e olhos verdes claros amorosos como os do pai.
Percebi que Roger era um homem bonito, bem apessoado e, nas fotos, demonstrava ser
totalmente apaixonado por ela. O sorriso e os olhares que ela lançava para ele revelavam uma
mulher completamente apaixonada. Uma família perfeita.
— Eles eram lindos, dona Mirian. E essa criança, um verdadeiro anjo... — constatei, meio
comovido.
— Eram sim. Que Deus os tenha! Sabe, Dimitri, às vezes eu choro escondida, para a Lu
não presenciar nada. Não quero que ela caia em depressão novamente.
— Eu sei — afaguei sua mão, ainda com meu olhar grudado na foto do casamento de
Luciana e nas outras dela segurando, toda sorridente, a menina recém-nascida em seus braços.
Dona Mirian apertou minhas mãos e me fitou carinhosamente, aconselhando-me:
— Espero, do fundo do meu coração, que vocês deem certo e tenham uma linda família.
Você tem tirado a minha filha do fundo do poço… não fuja desse amor, meu querido.
Tomando um longo suspiro, olhei para ela, com a boca aberta, e engoli em seco,
permanecendo silente, sem saber o que dizer. Porém, tomamos um susto ao ouvirmos o grito de
Luciana, pedindo ajuda à mãe, que prontamente se levantou para ajudá-la.
— Já vou, filha.
Algum tempo depois, elas retornaram à sala e notei a brasileira completamente linda de
cabelos soltos, em sua roupa social, consistindo em um terninho rosa escuro, uma blusa branca
por dentro, saia midi da mesma cor do terno e sandálias de salto Anabela.
— Uau, que gata! Não vou conseguir trabalhar hoje, senhor — exclamei, embasbacado
com a beleza dessa mulher.
— Besta! Consegue sim! Pelo visto, devem ter várias gostosas malhando em sua academia,
necessitando de seu auxílio, e você deve viver babando por elas.
— Tem sim, muitas… — confirmei, indo em sua direção. — Mas nenhuma é você — a
agarrei, beijando sua boca, todo safado.
— Ainn, tão lindos — Dona Mirian suspirou.
— Vamos, linda — liberei seus lábios e beijei o topo de sua cabeça.
— Tchau, mamãe, até mais tarde. Cuide de Pandora, hoje o meu cão será Dimitri — ela
disse, em um tom provocativo e segurou minha mão.
— Venham almoçar, amores — sua mãe nos convidou.
— Acho que não, mamãe, tenho uma reunião importante com os sócios e investidores
desse russo.
— Tá bom, minha filha. Estou muito orgulhosa de você — expressou Mirian, com um
sorriso de orelha a orelha.
— Obrigada, mãe — minha advogada sexy sorriu, e saímos em direção ao elevador.

Dimitri pegou minha mão, e seguimos até seu carro. Dentro do veículo, fiquei em silêncio,
pensativa. Às vezes, Dimitri me magoava com palavras, e preferia não dizer nada. Sempre estava
me declarando, e ele ficava em silêncio, com medo de algo que desconhecia. Me sentia insegura,
pois não sabia se ele gostava de mim realmente, se tinha pena, ou se queria apenas se divertir.
Minha cabeça estava uma completa bagunça.
Dimitri notou meu silêncio enquanto dirigia, e chamou a minha atenção.
— Luciana, você está bem?
— Sim. Só estou com cólica — fiz uma careta, passando uma mão na barriga.
— Quer que eu cancele a reunião?
— Não precisa.
— Certo.
Após alguns minutos, chegamos em sua academia, e ele me ajudou a descer do carro.
— Vou te deixar na sua sala, minha advogada linda.
— Ok — sorri, em resposta à sua gentileza.
— Antes disso, vamos tomar café no refeitório.
— Tá.
Nós nos sentamos à uma mesa e após os pedidos chegarem, dialogamos sobre os assuntos
da reunião e tomamos nossos cafés, até que escutei uma voz feminina nada agradável.
— Dimitri! — Carmem chamou pelo nome dele com certa irritação.
— Afff! — soltei um bufo, revirando os olhos com ranço.
— Porra, Carmem! O que você quer? — o russo perguntou incomodado, levantando-se.
— O que eu quero? — ela indagou, sarcástica. — Você sabe muito bem. Quero você! —
ela respondeu descaradamente, ignorando minha presença.
— Eu já pedi para me esquecer. Saia daqui! — Dimitri exigiu, enraivecido.
— Não! Eu malho aqui! Vai me expulsar? — ela o afrontou.
— Arg! Se toca, sua cadela! — esbravejei, me levantando da cadeira.
Carmem ficou possessa e gritou comigo:
— Vá para o caralho, cega!
— Carmem, pare, porra! Vá para o inferno você com seu capacitismo de merda! Vou
chamar os seguranças! — berrou Dimitri, e então o bate-boca começou.
— Eu paro sim, se você me prometer que vai me foder bem gostoso hoje! — a filha da
puta se ofereceu como uma cadela para ele.
Eu tinha vontade de matá-la!
— Eu já disse que não te quero, Carmem! — ele rebateu, gritando.
— Mentira! — a mexicana objetou. — Você sempre dizia isso, antigamente! Lembro
quando você ficava com aquelas putas! A Ana, a Mercedes, a Alicia, a Maria…
— CALA A BOCA! — Dimitri bradou, a interrompendo.
— Não! Você fodia com elas e depois implorava para ficar comigo, indo à minha porta.
Vai dizer que não lembra, cabrón — suas revelações soavam com uma punhalada em meu peito,
segurei o choro, sentindo um nó se fazendo em minha garganta.
Entretanto, o russo fez algo que a aborreceu.
— Me solte! — ela reclamou, aos berros.
— Saia daqui, sua cachorra! — gritei, revoltada.
— Cala-te, pelotuda! — ela me xingou em espanhol, chamando-me de idiota, e tentei me
aproximar, tateando a mesa, porém continuou seu escândalo: — Ele é louco por mim! Na última
vez que nós trepamos, ele foi até mi casa, expulsou um cara que eu estava ficando e depois me
fodeu, mesmo sabendo que eu estava com outro! Vai negar, Dimitri? — ela o questionou, fora de
si. — Ele me ama! E logo se dará conta! — afirmou, convencida.
— Sua vaca! — rosnei, com vontade de bater nela.
— Vá tomar no cu, brasileira infeliz!
— Ahh! — bradei, querendo avançar, e ouvi o grito de Dimitri em seguida.
— Chega, sua louca! Respeite a Luciana! Eu estou ficando com ela! — garantiu.
— Ah, é mesmo? E por que não a assume? — Carmem o questionou, aos risos, zombando
da minha cara. — Ele só quer te foder, brasileira! Mas ele gosta mesmo é de mim!
— Sua vadia recalcada! — peguei minha xícara de café e, mesmo sem ver nada, joguei em
direção à sua voz intragável.
Todavia, ouvi os gritos de ambos se afastando, o que me fez pensar que ele a arrastou para
fora da academia.
— ME SOLTE, hijo de la puta! Cabrón desgraçado! — Carmem berrava, se debatendo de meu
agarre em seu braço, enquanto eu a arrastava furioso academia afora.
Respirando com raiva, passei as mãos no cabelo, e me envergonhei pelo barraco ao notar
clientes e populares que trafegavam do lado de fora nos observando com horror e curiosidade.
— Sua louca do cacete! Nunca mais faça isso! — com o dedo em riste, a repreendi.
— Eu só paro quando tu estiver em mi cama! — rebateu, oferecida, parecendo estar
embriagada ou drogada.
— Deixe de ser ridícula, Carmem! Eu não te quero mais!
Ela se aproximou, colando o rosto no meu, chorando escandalosamente.
— Eu te amo! Deixe essa cega e fica comigo! Te imploro! Preciso de seu corpo!
— NÃO! — a afastei de mim, enfurecido. — Nunca mais chame a Luciana desse jeito, ou
eu chamarei a polícia e te denunciarei!
— Vai fazer isso comigo, Dimitri? — apertando os olhos borrados de maquiagem preta
que escorria misturada às lágrimas, ela me questionou.
— Sim! Eu exijo que pare de difamar a Luciana. Vou pegar pesado com você.
Infelizmente, eu sei seus segredos, Carmem. Não me faça virar seu inimigo — a ameacei
friamente, entredentes.
Ela se enfureceu e meteu um tapa em minha cara com gosto.
— Te odeio! Vá para o inferno! — bradou, e girou os calcanhares nos saltos altíssimos,
indo embora, cambaleando em seu vestido curto vermelho.
Respirei fundo, com ódio, e voltei para dentro após ter certeza de que ela foi embora.
Avisei aos seguranças para impedir suas futuras entradas e fui até Luciana.

Decidi seguir aquele russo e descobrir todos os seus podres.


Passei semanas o seguindo e percebi que, por enquanto, ele não fazia nada demais, apenas
visitava a família e saía para passear com Luciana.
Com o carro estacionado há algum tempo em frente à sua academia, presenciei um barraco
se formando entre ele e uma mulher muito bonita.
Ela gritava em espanhol com ele, se declarando, dizendo o amar, implorando que deixasse
Luciana.
Me animei ao extremo, já imaginando o que poderia fazer para separá-lo da minha
coelhinha.
Após ele levar um tapa na cara da mulher misteriosa, a avistei caminhar possessa pela
avenida.
— É agora que vou arranjar uma aliada. Você me paga, Dimitri.

Fui encontrar com Luciana, ela era pura ira e com razão. Ao sentir meu cheiro, ela
resmungou:
— A vadia finalmente foi embora, não é? — perguntou, apertando a nova xícara branca de
café com raiva.
— Sim — aproximei-me, sentando-me ao seu lado. — Me perdoe por isso, por favor —
pedi desculpas, muito envergonhado.
— Eu queria tanto poder enxergar, pois assim eu quebraria a cara daquela piranha com
gosto! O que era aquilo que ela disse comigo, em espanhol?
— Eram palavrões… — revelei, constrangido.
— Cachorra! Piranha! Ahhh! — Luciana grunhiu, com os dentes cerrados.
— Calma, Luciana… — acariciei seu braço, mas ela o puxou.
— Calma, Dimitri? — juntou as sobrancelhas e olhou para meu ombro, perdida. — Aquela
mulher me deixou mais rasa que o chão, me desrespeitou, tirou onda da minha limitação! Você
realmente fazia aquelas coisas que ela disse? Expulsou um cara da cama dela e foi transar com
ela no mesmo instante? Hum? — ela ergueu ainda mais o rosto, me questionando enfurecida.
— Porra! Foi! — respondi estressado, enfiando as mãos no cabelo.
Luciana balançou a cabeça com indignação e se levantou, tateando a mesa, tentando
avançar para a próxima, mas eu a detive, segurando seu braço, e tentei me explicar:
— Deixe-me explicar. Eu vivia bêbado e fazia muita merda! Carmem sempre estava à
disposição, e eu me aproveitava disso pra me divertir, mas nunca gostei dela! Era só sexo!
— Chega! — ela disparou na minha cara. — Estou cheia dessa porra! Eu venho me
declarando para ti, sendo uma boba apaixonada e você não diz nada! E, ainda por cima, tenho
que aturar os ataques dessa vadia! Você não valoriza nenhuma mulher! Não sabe o que é amor!
— a brasileira elevou o tom de voz, revoltada, e todos ao redor ficaram nos observando, cada vez
mais surpresos com nossa discussão.
— Eu sei sim, Luciana! E já tive uma mulher que eu amei, mas eu nunca a traí! — revelei,
irritado.
— Quê? — ela franziu o cenho, e imaginei que me bombardearia de perguntas.
Por que fui dar com a língua nos dentes, porra?!
— Pois é! Não diga o que não sabe! Quando eu era solteiro, fazia o que me dava na telha!
Mas quando eu era comprometido, nunca enganei minha mulher — admiti com certa tristeza, ao
pensar em Svetlana.
— Eu juro que não te entendo, Dimitri. Que mulher foi essa? — Luciana insistiu, cheia de
curiosidade.
— Deixa pra lá! Isso é passado! Vamos para a reunião e esqueça a Carmem! Ela não virá
mais nos infernizar! — garanti, amenizando o tom de voz, pois estava cheio dessa merda.
— Duvido! — retrucou, irada.
— Luciana, por favor, vamos. Não aguento mais confusão. Estão todos nos olhando —
acariciei seu rosto, e ela engoliu em seco, olhando para baixo, apertando os olhos, tentando
controlar seu gênio forte.
— Ok! — ergueu o rosto, com o semblante duro e lábios comprimidos.
Ela se soltou do meu agarre em seu braço e tentou andar a passos rápidos, revoltada, quase
batendo nas outras mesas, mas eu corri até ela, detendo-a.
— Espera!
— Me solte, seu canallha! — tentou se desvencilhar, mas não a soltei.
— Não! — neguei, impaciente. — Eu vou com você para a reunião! Sou o CEO dessa
porra, não sou?
— Para de falar palavrão, seu ogro! — ela rebateu, batendo uma mão em meu peito.
— Aff! Vamos, mulher doida! — bufei, puxando-a pelo braço até a sala de reunião.
— Me respeite, Dimitri! — ela elevou a voz, bufando.
— Calada! — esbravejei e ela revirou os olhos, fazendo um bico nos lábios.
— Arg!
Senti vontade de rir de sua ira, mas me contive, pois não queria ser estapeado novamente.
Porra, parecia que essas mulheres tinham tesão em me bater!

No percurso até a sala de reuniões, Dimitri me segurava firmemente pelo braço, como um
homem das cavernas, comportando-se como se fosse meu dono. Aff!
A reunião começou, e demorou cerca de duas horas para terminar. Ouvi com atenção a
proposta dos sócios e dos fornecedores, e pedi para minha assistente anotar tudo que julguei ser
necessário. Avisei sobre as possíveis quebras de contrato, colocando medo neles. Embora
Dimitri fosse o CEO, percebi que esses sócios e alguns fornecedores queriam enrolá-lo ou pegar
mais dinheiro dele com propostas intragáveis.
Mas eu era mais esperta. Exigi que assinassem um novo contrato, com cláusulas bem
claras sobre o que poderia acontecer a eles, caso quisessem enganar o russo safado. Sentado ao
meu lado, Dimitri apertava minha coxa com força, demonstrando estar orgulhoso, e eu mantinha
minha pose habitual de advogada; nariz empinado e ouvidos atentos a todas as conversas.
Sempre fui uma profissional exímia, meio atrevida, nunca aceitei perder e garanti muito
aprendizado ao longo de minha carreira, a fim de atingir a excelência. Alguns professores me
aconselharam a seguir carreira na área criminalista, já que minha personalidade é forte e
destemida.
Era por isso que meus colegas lamentaram quando decidi me afastar. Eu era muito boa no
que fazia e amava meu trabalho. Todavia, após me tornar deficiente visual, fiquei perdida e
insegura. Infelizmente, não dava para ser forte o tempo todo. Uma hora, nossa muralha desaba.
Ao fim da reunião, convidei minha assistente para almoçar comigo no restaurante ao lado,
e ela começou a me guiar, contudo, antes que eu partisse, Dimitri me puxou pela mão.
— Para onde vai, Luciana?
— Vou almoçar, eu preciso comer. Não sou um robô! — respondi um pouco agressiva,
ainda morta de ciúmes.
— Deixe de atrevimento, mulher. Eu só te fiz uma pergunta!
— Não quero papo contigo, Dimitri! — puxei minha mão com raiva e continuei andando
com Annie em direção ao restaurante.
Após pedir nossas refeições, comecei a conversar com minha assistente sobre assuntos
aleatórios e algo inesperado aconteceu.
Eu podia ver várias cores, até mesmo alguns vultos. Parecia que eu estava voltando a
enxergar, ainda que fosse pouca coisa.
— Puta merda! Obrigada, meu Deus... — chorei emocionada, não me importando se todos
no restaurante estivesse presenciando o meu momento.
Os vultos se intensificaram e fiquei em polvorosa, quase me engasgando com a comida.
Annie se preocupou, perguntando o que era, mas decidi manter segredo, embora quisesse gritar
que estava voltando a enxergar…
Eu só podia agradecer a Deus por esse pequeno milagre. É como se fosse um aviso de que
eu não deveria desistir.

Decidi seguir aquela mulher misteriosa por alguns dias, e descobri que ela era mexicana e
trabalhava numa boate como stripper e, às vezes, bartender.
Essa noite, prossegui até seu local de trabalho e a encontrei no bar preparando as bebidas.
Aproximei-me, notando o quanto ela era gostosa e sensual em suas roupas vulgares, mostrando
bastante seus seios siliconados, barriga, e os shorts eram tão curtos que praticamente revelavam a
polpa de sua bunda.
Pedi uma bebida, era hora de colocar meu plano em ação.
— Boa noite, gata. Quero uma diablo… — falei sedutor, fixando meus olhos nela.
— Hum, bebida forte, guapeton? — ela sorriu de canto.
— Eu gosto de coisa forte e intensa, sabe? — pisquei meu olho e ela se derreteu, sorrindo
ainda mais, cheia de intenções, me olhando curiosa ao preparar minha bebida.
— Aham... Toma, bonitão. Beba tudo. Fiz com mucho cariño — disse, misturando o
idioma ao me entregar a taça com o líquido vermelho.
— Hum, você é latina… — constatei. — Que sotaque lindo.
— Mexicana, baby — Carmem respondeu, sem tirar o sorriso da boca.
Enquanto eu tomava a bebida, ela me observava com intensidade, mordendo o lábio
inferior, deixando evidente seu interesse por mim.
Assim, a noite se passou e fiquei o tempo todo conversando com Carmem, elogiando-a, e,
claro, dando em cima dela. Foi crucial minha jogada para perceber o quanto ela estava carente, e
perguntei se ela queria carona.
— Aceito sua carona…, mas no eres um sujeito perigoso? — me indagou desconfiada.
— Não se preocupe, sou advogado. Posso te proteger de tudo, gostosa.
Carmem sorriu maliciosamente, pegou sua bolsa e veio comigo até meu carro. Como evitei
beber muito, estava um tanto sóbrio e pronto para me aproveitar dela. Eu estava em dupla
vantagem. Foderia essa gostosa, e além disso, tiraria informações sobre aquele russo imbecil.
Enquanto dirigia, Carmen observava meu carro, fascinada.
— Uau, que carrão!
— Gostou, linda?
— Si.
— Quer ir no meu apartamento? Moro em um arranha céu, em um dos últimos andares. A
vista lá de cima é espetacular.
— Não me tente. Mal te conheço.
— Bom, meu nome é Oscar Dietrich Balman, pode pesquisar.
— Sei...
— Tô louco por você, latina. Eres fantástica! — tentei seduzi-la, proferindo palavras em
espanhol.
— Hum, hablas espanhol?
— Si…
Ao pararmos no sinaleiro fechado, a agarrei, beijando-a cheio de vontade, e a mexicana
devolveu o beijo, esfregando-se contra meu corpo. Era uma safada da porra.
— Me leva para su casa. Preciso foder… — pediu ela, toda oferecida.
— Levo sim.
Segui rapidamente em direção ao meu apartamento, e quando chegamos, ela pareceu
encantada.
— Nossa, que visão!
— Vamos entrar, safada… — puxei-a comigo, chutando a porta e tirando nossas roupas.
— Quer ser fodida bem gostoso, hein?
— Si! Por favor.
Carreguei Carmem até meu quarto, jogando-a na cama, e quando começamos, notei que ela
era do tipo escrota, que topava tudo sem pudor, além de ser muito gostosa e escandalosa. Dei
uma surra de pau que a deixou toda quebrada e uns belos tapas em sua cara de safada.
O dia amanheceu e despertei logo, deixando-a dormindo em minha cama, bem à vontade.
Eu a teria comigo até coletar todas as informações que eu pretendia.
ESTAVA EXASPERADA com Dimitri. Cansada de expressar meus sentimentos, e apenas
receber silêncio como resposta. Não dava para suportar mais isso.
Assim, após o almoço, voltei à academia e cumpri algumas tarefas, decidindo retornar cedo
para casa, com a assistência de minha secretária. Foi um erro deixar minha cachorra em casa.
— Luciana? Já vai? — o russo perguntou ao me encontrar na saída.
— Sim, resolvi as demandas da semana. Se houver algum problema jurídico, me ligue —
respondi friamente.
— Espere. Vai dormir comigo hoje? — murmurou em meu ouvido, suas palavras
carregadas de intensidade.
— Eu não vou trepar com você, Dimitri! — afirmei, irritada.
— Mulher, fale baixo! — ele repreendeu, elevando a voz. — Só estou perguntando se você
quer dormir comigo, sem sexo.
— Não! Quero ficar sozinha.
— Ok — Dimitri respondeu em tom decepcionado, e pude o sentir se afastando.
Irritada e ainda estressada devido à TPM, cheia de cólicas e com vontade de chorar, resisti
ao desejo irrefreável por aquele ogro. Segui em direção ao meu apartamento, segurando na mão
de Annie. Após subir o elevador, cheguei à minha porta, a agradeci e ela se retirou no momento
em que minha mãe se aproximou.
— Filha, você está bem? Fiz um mousse de chocolate para você, sei que adora quando está
naqueles dias.
— Ai, mãe, obrigada! Estou precisando me entupir de chocolate mesmo. Estou tão mal...
— Sentei-me no sofá enquanto acariciava a cabeça de Pandora e desabei, começando a chorar.
— O que aconteceu? — mamãe sentou-se ao meu lado, me abraçando, demonstrando sua
preocupação genuína.
— Tudo! Estou super estressada! Com ódio, com vontade de acabar com aquele russo e
aquela mexicana vadia!
— Jesus Amado, me conte mais.
Desabafei, contando a ela todos os detalhes. Mamãe massageava meus pés, e pareceu
chocada.
— Meu Deus, que confusão! Mas, filha, o Dimitri gosta de você, ele dá sempre um fora
nessa mulher doida.
— Se ele gostasse, falaria! Ele sempre se cala quando expresso meus sentimentos.
Sinceramente, estou farta disso, mamãe! Eu nunca corri atrás de homem, e estou cansada de
fazer isso pelo Dimitri! Eu sei que fizemos um acordo para não nos apaixonarmos, mas para mim
foi inevitável!
— Para ele também, filha..., mas acho que ele não está pronto para admitir.
— Então vou ter que esperar a boa vontade dele, é isso?! Eu não quero ouvir a voz daquele
canalha tão cedo!
— Calma, minha filha. Você está ficando vermelha de raiva. Vamos tomar um banho e
descansar. Vou colocar seu mousse num pratinho, e você vai comer, deitadinha em sua cama.
— Ok, mamãe, obrigada.
Limpei minhas lágrimas, e mamãe me guiou ao banheiro. Após um banho relaxante, vesti
um pijama e me deitei na cama, abraçada ao meu edredom. Mamãe trouxe meu doce, e eu o comi
até não aguentar mais.
Inevitavelmente, as lágrimas escorreram pelo meu rosto abundantemente, e eu comecei a
soluçar, lembrando da minha família, que era tão perfeita e me deixou.
— Por que eu não morri também, meu Deus? Por quê? — murmurei, com os olhos
apertados, até o sono me invadir pelo cansaço e me entreguei a ele sem pestanejar.

Após Luciana partir, uma onda de tristeza e frustração me envolveu. Suas mágoas,
especialmente pelo meu silêncio durante sua declaração, pesavam em meu coração.
Estava profundamente apaixonado por ela, mas o medo, como uma sombra do passado, se
apoderava de mim.
O receio de reviver antigas feridas, de perder Luciana como perdi minha amada Svetlana,
me atormentava. O calor do sentimento ardente competia com o receio que sussurrava em minha
mente, criando uma tempestade de emoções tumultuadas.
Após fechar a academia em uma noite silenciosa, voltei para o meu apartamento e tomei
um banho para tentar acalmar os ânimos. A ansiedade me consumia, ansiando por tê-la em meus
braços, por beijá-la e acariciá-la, mas ela estava profundamente ferida.
Lutei contra meus próprios sentimentos, mas a batalha parecia perdida.
— Vou vê-la!
Ao ligar para a mãe dela, o telefonema foi breve, e ela permitiu minha entrada. Adentrei
sua casa com urgência.
— Oi, Dona Mirian. Onde ela está?
— No quarto, dormindo, mas cuidado — Mirian falou baixinho. — Ela está muito brava.
— Olha, eu sinto muito pelo que aconteceu hoje… — exalei o ar pesado dos pulmões,
tentando aliviar a tensão em meu peito. — Sei que ela já contou à senhora.
— Contou. E ela chorou muito, tadinha. Está tão sentida… — Mirian expressou tristeza,
apontando para o quarto dela. — Vá até lá, querido. Tente se resolver com ela.
— Ok, obrigado — sorri com tristeza, seguindo em direção ao quarto dela. Ao entrar,
deparei-me com Luciana deitada, envolta em um edredom rosa claro de ursinhos, entregue a um
sono profundo.
Deslizando os chinelos para fora, me deitei de conchinha ao seu lado, tentando fazer o
mínimo de barulho, e a abracei firmemente. Inspirei seu aroma, beijando delicadamente seu
pescoço.
De repente, ela despertou, a voz baixa e rouca, como se as lágrimas tivessem deixado sua
marca.
— Vá embora, Dimitri.
— Não — neguei veementemente. — Quero dormir ao seu lado. Não suporto ficar longe
de você, reclamona.
Luciana permaneceu em silêncio, e eu continuava abraçado a ela. Depois de alguns
minutos, caímos novamente no sono.

Ao despertar no dia seguinte, o som dos pássaros ecoava suavemente, enquanto o ar


condicionado lançava seu frescor nos nossos pés descobertos. Dimitri continuava abraçado a
mim, ambos numa conchinha quente. Pelo calor de sua pele na minha, presumi que estava sem
camisa, vestindo apenas uma calça moletom.
E por falar em calor, o dele no meu me causa calafrios…
Estava louca para esse russo me pegar de jeito. No entanto, não podia ceder facilmente,
ainda estava magoada com ele. Fiquei caladinha e imóvel, mas, alguns minutos depois, ele
despertou e o seu amigo debaixo, também.
Fingi estar dormindo, e o senti passear a mão pela minha pele enquanto beijava meu
pescoço, sussurrando algo incompreensível em russo.
— Minha linda brasileira... eu sou louco por você..., mas eu não te mereço… — seu tom
era terno, suas mãos exploravam suavemente minha barriga antes de subirem e apertarem meus
seios.
Um gemido involuntário escapou de meus lábios, incapaz de conter a resposta ao toque
dele.
— Ah... Por favor, pare…
— Não — o russo sussurrou obstinado contra meu ouvido.
Subitamente, mamãe bateu à porta, anunciando sua ida ao mercado.
— Vou fazer compras, pombinhos.
— Ok, mamãe.
Assim que ela partiu, Dimitri me virou de frente para ele e me beijou com uma intensidade
avassaladora, sua língua faminta invadindo minha boca com luxúria. Seus gemidos entrelaçaram-
se aos meus, refletindo uma necessidade insaciável de me ter.
O atrevido deslizou seu corpo no meu, distribuindo mordidas provocantes e sussurrando
em meu ouvido, fazendo-me uma proposta deliciosamente indecente.
— Vamos tomar banho juntos.
— O quê? Não... Estou naqueles dias… — avisei, envergonhada.
— E daí? Não tem problema. A gente faz outras coisas… — ele apertou minha bunda com
sua mão grande e mordeu pescoço com força, fazendo-me delirar em seus braços.
— Estou cheia de dor e suja de sangue…
— É só um banho relaxante, vem — o russo me levantou, retirando minhas roupas,
deixando-me vulnerável. — Não fica com vergonha. Isso é normal, linda.
Cedi e, nus, entramos no chuveiro.
— Pronto, agora vou dar banho no meu bebê — provocou.
— Seu... — senti uma vontade de xingá-lo, mas a tentação estava me vencendo.
Dimitri pegou o sabonete e me virou de costas, lavando-me e explorando meu corpo,
aliviando a tensão em minhas costas. Terminado o banho, ele me carregou para o quarto,
envolvendo-me em um roupão, antes de deitar-se comigo na cama, rosto a rosto, beijando minha
cabeça.
— Luciana, hoje à noite é o aniversário da Ekaterina, vamos preparar uma surpresa para
ela. Você quer ir?
— Sim, claro! Precisamos comprar um presente para ela.
— Ela adora roupas e sapatos, eu compro para nós dois.
— Ok.
Esse aniversário promete!
A NOITE CHEGOU, e nos preparamos para ir à casa de Ekaterina, onde Dimitri e seu pai
prepararam uma surpresa de aniversário. Ela estava com seu namorado quando Dimitri a
convocou urgentemente, alegando que seu pai não estava bem.
Levei minha mãe conosco, e ao chegarmos lá, o pai de Dimitri se aproximou, abraçando-
me calorosamente.
— Olá, querida! Você está radiante! — me elogiou com a voz grossa e marcante, tão
parecida com a do filho.
— Obrigada, senhor Mikhail.
— Ah, me chame de Mick.
Dimitri bufou, reclamando:
— Papai, pare com suas investidas.
— Ciumento — o pai dele gargalhou, dirigindo-se à minha mãe. — Olá, Dona Mirian,
você está divina. Agora entendo por que minha nora é tão bela. Se quiser jantar qualquer dia,
estarei à disposição.
— Papai! Dona Mirian é casada! — Dimitri repreendeu, irritado ao vê-lo flertar com
minha mãe.
— Calma, filho, apenas um jantar entre amigos — seu progenitor se explicou.
— O senhor é um safado! Te orienta! — retrucou o russo.
— Olha quem fala! — alfinetei, deixando-o irritado.
— Vai começar a brigar comigo, reclamona?
— Não!
— Shii... prevejo confusão desses dois — disse mamãe, aos risos.
— Bom, vamos ficar em silêncio que a minha lindinha está chegando — o pai de Dimitri
pediu nossa atenção, obedecemos e, após alguns minutos, Ekaterina entrou em casa com seu
namorado, e todos nós gritamos “ Surpresa”.
— Ahh! Oh, meu Deus! — a russa surtou, empolgada.
— Parabéns, minha linda! — Mikhail falou, emocionado.
— Oh, obrigada, meus amores! Vocês me assustaram! Achei que papai estivesse mal, vim
dirigindo que nem Lewis Hamilton na Fórmula 1!
Ekaterina abraçou a todos, eu por último.
— Parabéns, meu amor. Dimitri comprou os presentes por nós.
— Ah, obrigada! Mas meu presente é ver vocês dois juntos e, possivelmente, casados! —
disse ela, eufórica.
— Eu quero netos! Tenho certeza de que serão lindos — o senhor Mikhail disse, todo
esperançoso.
— Vamos com calma — sorri, nervosa com o desejo do pai de Dimitri.
A comemoração continuou e cantamos parabéns à Ka, que, emocionada, não segurou as
lágrimas.
— Vamos comer bolo agora! — Mikhail nos convidou, virando-se para Ka. — Filha,
comprei uma linda gargantilha de diamante para você, igual a que dei um dia para sua mãe, mas
com as iniciais de seu nome.
— Obrigada, papai — Ekaterina o agradeceu em sua língua nativa.
Como eu esperava, os dois começaram a falar animadamente em russo, e eu revirei os
olhos, rindo.
— Ah, meu Deus, até eles falam russo misteriosamente e eu não entendo nada. Não é,
Dimitri?
— Sim... nós falamos quando estamos em família ou emocionados — ele me explicou.
— Sei...
— Quer comer bolo? Posso te dar na sua boca… — Dimitri se ofereceu, todo saliente.
— Quero sim.
Dimitri me alimentou e depois ficou me agarrando, todo safado. Fiquei morta de vergonha,
mas tinha que me acostumar com seu jeito.
A noite passou rapidinho, e Ka, em um dado momento, arrastou-me até seu quarto, onde
sentamo-nos na cama e ela começou a tagarelar:
— Luu, ele me pediu em casamento! Ah! Sinta a aliança em meu dedo!
Peguei em sua mão, tateando o anel, que parecia ter uma pedra preciosa.
— Oh, que lindo! Desejo que você seja muito feliz.
— Obrigada, minha cunhada!
— Eu não sou sua cunhada… — retruquei, balançando a cabeça e sorrindo.
— É sim, só falta o ogro te assumir!
— Acho que ele nunca fará isso — suspirei, entristecida. — Dimitri não vai mais querer
ficar comigo, tô sentindo. Eu morro de medo, me declaro, e ele fica em silêncio, ou, às vezes,
fala coisas em russo que não compreendo. Estou tão triste e completamente apaixonada… —
desabafei, com vontade de chorar.
— Oh, Deus! Dá vontade de dar na cara dele e mandá-lo acordar para a realidade! —
expressou Ka, indignada.
— Estou cansada disso, Ka... Não sei o que fazer!

Ao notar a ausência de Luciana, decidi procurá-la e fui até sua mãe, que informou que
minha irmã estava com ela. Provavelmente deviam ter ido ao banheiro retocar a maquiagem.
Porém, a porta do quarto de Ekaterina estava entreaberta e eu pude ouvi-las conversando
animadamente, então, me encostei na parede, decidindo escutar a tudo escondido.
— Ah, o meu sonho e do papai é ver o Dimitrinho sendo pai! Vocês deveriam tentar ter um
bebê! — minha irmã sugeriu, o que me fez revirar os olhos.
— Tá louca, Ka? — Luciana sorriu, nervosa. — Acho que ele me mandaria abortar.
— Mandaria nada! Dimitri adora crianças. Ai, Lu, imagina o bebê de vocês! Meu Deus,
vai nascer virado, um pimentinha.
— Também acho...
— Mas você não tem nenhuma vontade de ter filhos com ele?
— Tenho sim, Ka. Talvez quando minha visão voltar. Eu sou louca pelo Dimitri e sinto
que podemos ter uma vida juntos e uma família... Eu sofri e sofro até hoje pela perda do Roger e
da minha Sofia, mas eu quero seguir em frente. Vou conversar com Dimitri e tentar convencê-lo
a realizar isso um dia — a brasileira comentou, e suas palavras eram tudo que eu já imaginava.
— Então, quando a sua visão voltar, você para de se prevenir e fica grávida! Nos dê logo
esse bebezinho lindo! — aconselhou a safada da minha irmã, nitidamente empolgada.
— Sua doida, talvez eu faça isso — Luciana a encheu de esperanças, e minha irmã soltou
um gritinho, para o meu surto interno.
Extremamente irritado, saí a passadas rápidas, com raiva de tudo que acabei de ouvir.
Eu jamais poderia dar certo com Luciana.
Seria o fim de nosso acordo.

— Estou apenas brincando! Jamais ousaria fazer isso, Ekaterina.


— Ah. Por um instante, alimentei esperanças. Mas que meu tolo irmão perceba que está
apaixonado e se declare!
— Tomara que sim...
Depois de uma avalanche de fofocas, retornamos à sala e, mais tarde, voltamos para casa.
Dimitri permaneceu em silêncio durante todo o percurso de carro, o que me deixou inquieta. Ele
estava tão afetuoso antes.
Ao chegarmos em nossos apartamentos, mamãe se despediu dele e entrou, deixando-nos
sozinhos. Aproximei-me dele, minhas mãos percorrendo seu corpo até alcançar seu rosto.
— O que está acontecendo, Dimitri? — perguntei, ansiosa.
— Luciana, precisamos terminar isso — ele advertiu com amargura, retirando minhas
mãos de seu rosto.
— O quê? — franzi as sobrancelhas, nervosa.
— Ouvi sua conversa com minha irmã! Chegou ao limite para mim. Basta! — disse,
áspero, a raiva escorrendo de suas palavras.
— Mas..., Dimitri, só falei a verdade. Não posso mais esconder que não quero mais você...
Eu... eu te amo — me declarei, perdendo toda minha dignidade.
— Pare — sua voz se elevou, num tom duro e frio. — Não quero mais ficar com você. Não
quero mais nada! Não quero relacionamento, não quero filhos! Já ultrapassamos os limites há
tempos! — concluiu com frieza.
Lágrimas inundaram meus olhos, o desespero se instalou, e eu tentei tocá-lo.
— Por favor, não diga isso! Não posso mais viver sem você... Você sabe disso, não suporta
viver longe de mim... Pare de negar o que sente, seu russo teimoso!
— Chega! Você está igual às outras. Louca e apaixonada. Eu só queria sexo! — Dimitri
explodiu num grito, tentando negar o que sentia, afastando-se de mim.
— Mentira! Você gosta de mim, mas é covarde e não consegue admitir! Estou furiosa com
você! Maldita hora em que o destino te colocou em minha vida! Estou cansada de me declarar
para ti! — vociferei, irritada, chorando como uma desesperada.
— Me esqueça! Esse acordo acabou! — disse, impassível.
— Seu cachorro! Ahh! — avancei para a figura borrada que supunha ser ele e desferi um
tapa em seu rosto, mas ele segurou minhas mãos.
— Para! — deteve-me, aos berros.
— Eu te odeio, seu ogro maldito! Vou te esquecer, mas saiba que se arrependerá de cada
palavra! — após a ameaça, o empurrei, possuída e chorando, dirigindo-me à minha porta, mas
ele segurou meu braço e fez um aviso, cheio de ciúmes.
— Não fique com aquele Oscar. Fique com qualquer outro, menos com ele.
— Me solta, seu bipolar do caralho! — o empurrei novamente. — O Oscar é o homem
perfeito para mim, mas nunca o quis! Vá para o inferno, Dimitri!
Entrei em casa, fechando a porta com força, e desabei no sofá, chorando
descontroladamente.
— Ahh! Que raiva! — lamentei. — Por que, meu Deus? Por que fui me apaixonar por esse
homem de coração gelado?
— LUCIANA, FILHA! O que aconteceu? — mamãe veio até mim, desesperada ao ver meu
estado.
— Ele... ele terminou comigo, mamãe! Esse desgraçado! — respondi, soluçando.
— Oh, meu Deus! Por quê? — Expliquei tudo a mamãe, e ela ficou arrasada. — Oh, meu
Deus, não fica assim, eu vou falar com ele. Tenho certeza de que logo ele se arrependerá.
— Não, eu não quero que a senhora fale com ele! Dimitri vai se arrepender do que fez, e
eu vou fazê-lo sofrer! Eu nunca sofri por homem nenhum na minha vida, e está doendo demais,
mas ele vai aprender a valorizar uma mulher! Ou eu não me chamo Luciana Guerra!
— Filha, por favor, não faça besteira. Vocês são loucos um pelo outro.
— O que adianta? Ele é um covarde! — sentei-me ao seu lado. — E eu não quero um
homem covarde ao meu lado, mãe!
Mamãe me abraçou, e chorei nos seus braços, soluçando ainda mais, repleta de raiva.
Minha mente já estava tomada, e eu tinha certeza de uma coisa: o Dimitri me pagaria!
Alguns dias se passaram, e só saí de casa para ir ao médico. Evitei a academia para não o
encontrar, e minha assistente veio até minha casa para que pudéssemos trabalhar juntas, o
restante, ela resolvia sozinha. Oscar até me ligou, porém, não contei que terminei com Dimitri, e
mamãe insistia desesperadamente para que eu conversasse com o russo, para o tentar fazer
desistir dessa ideia maluca de término, no entanto, ele decidiu que seria melhor assim.
Mais alguns dias se passaram, e mamãe precisou voltar ao Brasil, pois meu pai adoeceu de
novo, deixando-nos preocupadas. Até pensei em viajar com ela para visitar meu paizinho, mas
mamãe deixou claro que meu lugar era aqui e logo estaria comigo novamente. Enfim, eu só
podia esperar ter boas notícias dele, e seguir em frente por aqui, de cabeça erguida.

Após ela se trancar dentro de casa, lágrimas discretas desceram em meu rosto.
Eu nunca havia chorado ao ter que terminar com uma mulher que eu transava, sempre foi
muito fácil para mim, mas com ela era diferente, estava doendo demais... No entanto, faria o
possível para evitar sofrer outra vez, eu já tinha um trauma para lidar, apesar de tudo.
Me joguei em minha cama, e o sono custou chegar. Sei que a magoei, mas foi melhor
assim. Para mim. Para nós.
Dias depois, cheguei tarde do trabalho e fui surpreendido por uma cachorrinha pequena,
uma bolinha de pelos brancos, muito parecida com aquela raça famosa, Lulu da Pomerânia,
pulando dos braços de Mirian e correndo em minha direção, lambendo meu tênis, seu rabo feito
pompom balançando com animação.
Assustei-me com a energia da coisinha pequena, e ri de nervoso.
— Uau, calma, cachorrinha! Não me morde, pelo amor de Deus.
— Que milagre, ela gostou de você — disse dona Mirian, surpresa. — Totó morde todo
mundo.
Agachei-me, interagindo com a cachorra.
— Eu sei que sou irresistível, não é?
— O nome dela é Totó, Dimitri — a mãe de Luciana avisou.
Totó latiu animada e se esparramou no chão, esperando carinho.
— Desculpa, Dona Mirian, mas que nomezinho feio da porra — soltei uma risada
involuntária. — Totó?
— Foi o nome que minha netinha escolheu, Dimitri. Essa cachorrinha era da Sofia.
— Ah, me desculpe, Dona Mirian... — Em seguida, Totó pulou em meus braços, lambendo
meu rosto, fazendo-me rir enquanto a segurava. — Calma, Totó, eu sei que sou gostoso, mas não
beijo cachorros.
Dona Mirian limpou a garganta, fazendo um pedido inesperado.
— Dimitri, querido, você pode ficar com a Totó?
— O quê? — arregalei os olhos, com o rosto todo lambido pela cachorra.
Ela explicou o motivo de Luciana não querer a cachorra, pois não podia cuidar dela como
desejava, mencionando ainda que um parente do falecido que agora era seu tutor a deixou lá,
devido à uma viagem a trabalho. E, para minha desgraça, Mirian avisou que teria de ir ao Brasil
com urgência, e também não poderia levá-la.
Cocei a cabeça, preocupado.
— Mas, Dona Mirian, eu nunca cuidei de cachorro, e eu trabalho o dia todo — argumentei.
— Oh, querido, por favor, me ajude. Serão só algumas semanas enquanto não volto do
Brasil. Meu marido está doente, e eu preciso ir para lá, mas Totó não gosta de viajar de avião; ela
é muito estressada e morde todo mundo. Mas, se você não quiser, a levarei para um abrigo.
Voltei a olhar para Totó, que estava deitada em meu braço à espera de carinho, e senti
pena. Os olhos dela brilharam, e eu acabei cedendo.
— Ok, vou fazer isso pela senhora.
— Ah, obrigada! Vou te dar todas as informações sobre a rotina dela.
— Certo.
No dia seguinte, Dona Mirian viajou e observei a cachorra sapeca destruindo meus sapatos
debaixo da cama. Comecei a rir.
— Estou ferrado com você, Totó... Não sei por que você gostou de mim.
Totó tinha uma caminha rosa de princesa, toda enfeitada com tons dourados, muitas
roupinhas e acessórios, principalmente lacinhos e coroas. Além disso, possuía produtos de
limpeza da Barbie e até uma escova de dentes rosa.
— Você está muito bem abastecida, até a escova de dentes? — comentei, mas ela
respondeu com um latido, veio até mim, me lambeu e balança o rabinho. — Sua safada, adora
me lamber, né? Acho que vou ter que te levar até a academia, não posso te deixar aqui e destruir
minhas coisas.
A peguei nos braços e ao analisar mais de perto a coleira dela, li uma pequena frase escrita
no pingente prateado em formato de coração.
"Esse lindo animal pertence à princesa Sofia Guerra."
Ao pronunciar o nome de Sofia, Totó começou a chorar. A botei no chão, e a cachorrinha
continuou chorando, como se sentisse falta de sua dona.
— Oh, Totó, não chore — afaguei sua cabecinha peluda. — Me desculpe, ok? Não
mencionarei mais o nome dela. Vou colocar sua comida, e você vai descansar na sua caminha.
A peguei nos braços, beijando sua cabeça, e depois de comer, ela ficou quietinha em sua
cama, tirando a soneca da tarde.
Os dias se arrastaram, e Totó me acompanhava na academia. Ela era obediente,
permanecendo na caminha improvisada em meu escritório. Na sexta-feira à noite, ao retornar da
academia com ela, deparei-me com uma cena que me entristeceu profundamente.
Luciana estava de mãos dadas com outro homem, alto, loiro e bem-apessoado. Ao perceber
minha presença, ela o agarrou, beijando-o na sequência. A cena foi devastadora para mim.
— Vamos embora, amor! Quero que você me deixe toda quebrada — ela disse,
provocante, claramente para me atingir, e o cara, com um sorriso, saiu de mãos dadas com ela.
Totó balançou o rabinho ao vê-la, querendo se aproximar, mas eu a segurei.
— Vamos entrar, companheira.
Após entrarmos, fechei a porta com força, me joguei no sofá junto com a cadelinha e
comecei a chorar silenciosamente. Uma tristeza sem precedentes me dominou, como se algo
estivesse rasgando meu peito.
— Eu queria matar aquele cara! Que ódio! — praguejei, desolado.
Totó subiu em mim, lambendo minhas lágrimas, como se quisesse me confortar.

Pensamento de Totó: “Não chore... você tem que voltar para minha dona... Au au! “

— Obrigado pelas lambidas, Totozinha. Estou triste demais... Ela disse que me amava e já
está com outro! — balancei a cabeça, sem acreditar. — Só pode ser para me provocar! Será que
ela deu para esse cara? — divaguei, e o pensamento me afligiu. — Porra!
Coloquei Totó no chão e fui em direção ao bar, peguei minha vodca e retirei a tampa,
dando minha primeira golada.
Eu me afogaria na bebida esta noite. Não estava suportando esta dor, eu parecia uma
mocinha sofredora enquanto tomava mais da vodca e o líquido rasgava minha garganta,
resultando mais lágrimas idiotas brotando dos meus olhos. Eu sentia falta de Luciana, de seus
beijos, seu corpo... da forma como ela se entregava para mim.
Estava perdidamente louco por ela, mas me forcei a não continuar assim.
Algumas horas depois, peguei meu celular e liguei para uma amiga.
— Hoje eu vou trepar, Luciana! Não vou ficar chorando por ti! Eu sou macho! — falei
após desligar a ligação, determinado a esquecê-la.
Alguns minutos depois, Dolores chegou em minha porta. Ela era porto-riquenha, e já tive
encontros com ela algumas vezes. Totó, ao ver Dolores me abraçando, latiu, revoltada.
Eu a repreendi.
— Totó, comporte-se! Sua mamãe foi se divertir. O papai aqui fará o mesmo.
Dolores se aproximou dela, sorrindo.
— Ai, que cachorrinha linda. Vem cá, mi hermosa — ela tentou acariciá-la, mas Totó
pulou em cima dela, mordendo sua mão. — Ah, me solte! Dimitri, me ajude!
— Totó, não!

Pensamento de Totó: “Você não vai ficar com meu novo pai, piranha! Vou te morder!”

Imediatamente, peguei Totó e a tranquei no outro quarto.


— Dimitri, meu dedo está sangrando! — Dolores lamentou, sentindo dor.
— Me desculpe, Dolores. Totó tem ciúmes de mim. Vamos, vou colocar um curativo.
Depois de cuidar de sua mão ferida, ela me agarrou, começamos a nos despir, e a arrastei
para a cama, no entanto, não consegui me concentrar, e meu desempenho ficou comprometido.
Além disso, Totó estava latindo feito louca.
Alguns minutos se passaram, e não consegui manter a ereção, ainda sob os efeitos da
bebida. Dolores ficou furiosa e reclamou, frustrada.
— Droga, Dimitri! Eu estava doida para te dar, e você broxa? Isso é deprimente, vou
embora!
Ela vestiu suas roupas, irritada, e eu a segui enquanto colocava meu calção.
— Me desculpe, linda, é que eu estou perturbado hoje.
Ao abrir a porta, Dolores gritou:
— Só ligue para mim quando conseguir trepar! Não vou ficar com um cara que broxa!
Em seguida, ela se foi e, para piorar, avistei Luciana chegar com o amigo, de mãos dadas.
Ela ouviu tudo e estava rindo da minha situação.
— Oh, Dimitri... Acho que você está precisando de um "azulzinho", não é? — Luciana
gargalhou, debochando de mim junto ao amigo.
— Vá para o inferno, Luciana! — tranquei a porta com força e desabei, socando a parede,
revoltado. — Ahh! Saia da minha cabeça, brasileira!
DESDE QUE DIMITRI me deu um fora, decidi que me vingaria. Se ele fez com que eu me
apaixonasse por ele, e terminaria tudo do nada, então ele sentiria o sabor do desprezo.
Alguns dias depois, decidi ligar para meu amigo gay, Raymond, e marcamos de sair para
se divertir.
Raymond trabalhava no meu antigo escritório e era um homem lindo, loiro, alto, de olhos
azuis e bem musculoso. Ninguém nunca imaginou que ele fosse gay, até a voz dele era de
homem bruto, super grossa, mas quando ele se revelava, era purpurina pura. Assim como
Cristina, eu e ele falávamos somente ao telefone, desde que sofri aquele acidente e fiquei cega.
À noite, Raymond compareceu à minha casa e me abraçou, dando seu gritinho anasalado.
— Gostosaaa! Ahhh!
— Ray!
— Você está mais linda ainda, amiga! Que saudades!
— Ai, eu também estava com saudades! Entra!
Seguimos até meu quarto e sentamo-nos na cama. Comecei a falar sobre tudo o que
aconteceu em minha vida, inclusive sobre minha relação louca com Dimitri e ele ficou chocado.
— Ain, passada! Enquanto eu estava na Austrália com minha família, nem imaginava que
isso aconteceria contigo! Você sabe que meu pai faleceu, né, Lu?
— Foi, amigo, você me disse na ligação... Eu sinto muito e saiba que estou aqui —
respondi, apertando sua mão.
— Mas, me conta... e esse russo? Não vai voltar pra ele?
— Não, estou muito magoada. Quero que esse canalha sofra! Eu sei que ele gosta de mim,
mas é um completo covarde!
— Hum. Estou pronta pra ajudar! Faremos fazer esse russo sofrer. Tenho uma ideia!
Vamos fingir que estamos se pegando, hahaha! — Raymond se animou com meu plano.
— Ele vai morrer, Ray! — morri de rir.
— Vou te contar como faremos isso — Ray demonstrava suas ideias mais malucas e eu
chorava de tanto rir, Dimitri surtaria com certeza.
As horas se passaram e decidimos nos arrumar e sair para jantar. Meu amigo me ajudou
com a maquiagem e fez meus cabelos. Sua mãe era cabeleireira, daí podemos saber de onde
vinha seu talento particular.
— Quando você sentir o cheiro dele, aperta minha mão que eu te beijo, migla.
— Tá bom — sorri de canto.
— Haha, aquele russo gostoso vai pagar! — Ray riu maliciosamente.
Logo depois saímos e senti o cheiro de Dimitri. Não perdi tempo e agarrei Ray, dando um
beijo nele. Segundo Ray, Dimitri bufou diante meu desprezo e bateu a porta com força. Eu
apenas ri, embora, por dentro, estivesse morrendo de saudades.
Em seguida, pegamos um táxi e fomos a um restaurante, para passarmos um tempo
conversando e comendo. Logo depois, Oscar apareceu.
— Lu? Ray? Que coincidência os ver aqui — disse Oscar, animado.
— Olá, amigo. Sente-se conosco — pedi.
Oscar se sentou, e Ray suspirou, pois sempre teve uma queda por ele.
— Nossa, Lu, você está linda... É surpreendente que seu cão de guarda não veio contigo.
— comentou.
— Ah, a Pandora ficou em casa. O Ray me ajuda.
— Não estou falando desse cão... E sim, do russo — Oscar se explicou, me fazendo rir.
— Oscar...
— Cadê ele, Lu? — ele perguntou, insistente.
— Bem, ele está em casa. Não estamos mais juntos.
— O quê? É sério? — indagou, surpreso.
— Sim... — respondi com certa tristeza.
— Que pena... Você teve razão em deixá-lo. Aquele homem não serve para ti.
— Eu não o deixei, Oscar. Ele quem terminou tudo — revelei.
— Filho da mãe... Só queria te usar! — Oscar esbravejou.
— Olha, Oscar, vamos esquecer isso. Eu estou muito bem, seguindo minha vida e me
divertindo... Não quero falar dele.
— Ok, minha coelhinha… — respondeu com a voz mansa e acariciou minha mão em cima
da mesa.
Ray deu uma risadinha, e eu imaginei o que era.
— Vou ao banheiro, volto já.
Enquanto Oscar se ausentou, Ray surtou:
— Luuuu, se você visse a cara do Oscar… parecia explodir de felicidade! Esse bofe
gostoso, clone do Tom Hardy, é louco por você!
— Ray, não diga isso! Éramos casados e aquele lance sobre nós dois ficou no passado! —
resmunguei.
— Ai, amiga, acorda! Eu acho que ele nunca te esqueceu! Meu Deus, como eu queria ter a
sorte de ficar com ele! Minha amiga Isabel já deu uns pegas nele e disse que é um gostoso,
quebrou a cama dela!
— Meu Deus! — ri de nervoso. — Eu... eu não sei se tenho coragem de ter algo com ele,
Ray... Eu o amo como um amigo. Não consigo forçar um sentimento, entende?
— Sei... Levou surra de cama daquele vizinho loirão tesudo e fica dando essas desculpas,
né, mona? Amiga, que homem gostoso é aquele?! A propósito, ele ficou com ódio quando me
viu. Ele me encarou como um assassino, os ciúmes a ponto-gatilho.
— Do que adianta se ele é um frouxo?! — revirei os olhos, irritada. — Não tem coragem
de me assumir. E sabe de uma coisa? Eu mereço mais! Não vou me humilhar por ele, por mais
que ele seja bom de cama! — garanti, mas pensei nos momentos quentes que tive com Dimitri e
suspirei, colocando as mãos na cabeça.
— Xiii, já sei que esse macho te revirou do avesso! Quero os detalhes na minha mesa já!
— Raymond falou de um jeito engraçado, dando batidinhas na mesa, arrancando gargalhadas da
minha boca.
— Ok, vou te contar tudo, mas somente quando o Oscar não estiver aqui.
— Tudo bem, baby! Mas saiba que o Oscar não é um frouxo, amiga — Ray pontuou. —
Ele pode te dar tudo o que o russo não teve coragem de dar.
— Eu sei.
Logo depois, Oscar retornou e ficamos conversando coisas aleatórias. A madrugada foi
ganhando seu espaço, e decidi ir embora.
— Preciso ir pra casa, tô com sono. Essa noite foi muito divertida, obrigada, meninos —
agradeci, sorrindo, enxergando os vultos à minha frente.
— De nada, linda! — Ray respondera, todo animado.
— Posso deixar vocês em casa? — Oscar se ofereceu imediatamente.
— Sim, claro! Viemos de táxi! — Ray respondeu.
— Por mim, tudo bem. Ray, quer dormir lá em casa? A mamãe viajou pro Brasil.
— Claro, linda!
Oscar nos levou para casa e Ray desceu primeiro. Antes que eu saísse do carro, Oscar me
deteve e falou bem perto do meu rosto, declarando-se e me deixando chocada.
— Se precisar de mim, estarei aqui. Você sabe que... que eu nunca esqueci aquele beijo...
Eu ainda te quero... Acho que o destino está tentando nos juntar, Luciana.
— Eu... — abri a boca em choque e balancei a cabeça, nervosa. — Eu não sei, Oscar. Por
favor, não vamos estragar nossa noite.
— Ok, me desculpe — ele beijou minha mão e meu rosto, e eu saí de seu carro. Ray me
guiou até minha porta, começando a rir.
— Aii, esse homem tá de quatro! Gostosão! Sabe, Lu, às vezes eu dava em cima dele fora
do trabalho e ele só fazia sorrir, dizendo que não gostava da fruta!
— Você é um safado, Raymond!
— Amiga, você precisa dar uma chance a ele. Todo mundo comenta que vocês são
perfeitos juntos… principalmente agora, que perderam seus companheiros, entende? — meu
amigo me aconselhou.
— Eu sei.
Ao chegarmos no corredor, escutei uma briga de Dimitri com uma mulher, que o acusava
de ter falhado na hora H.
Foi minha deixa para iniciar minha vingança. Sem pena, tirei sarro de sua cara, deixando-o
puto. Mesmo não enxergando, eu pude imaginá-lo vermelho, a raiva tomando conta de seu ser.
Ray e eu adentramos o apartamento morrendo de rir, e nos jogamos no sofá.
— O russo ficou pistola, Luciana! Broxou! — meu amigo explodiu em gargalhada, e eu o
acompanhei, pousando a mão na barriga, que chegava a doer de tanto rir. — Ele já havia broxado
contigo, linda? — Ray perguntou, curioso.
— Nunca! Sempre foi insaciável.
— Eita, então ele está apaixonado por você, amiga. Vou me esfregar em ti para saber se
tenho essa sorte! — ele esfregou o braço em mim de um jeito engraçado.
— Precisamos aprontar mais uma, Raymond! — sugeri, maldosa.
— O que, Lu?
— Vamos fingir que estamos transando! Quero escandalizar!
— Ah, que mulher malvada!
— Chumbo trocado não dói! — gargalhei.
Nos levantamos do sofá e segui para o meu quarto com Ray, que ficava na parede pregada
ao quarto de Dimitri, e começamos a simular um show com nossas imitações, agindo como se
fôssemos atores pornô.
— Vaii, Raymond! Acaba comigo! Ohh!
— TOMA, SUA GOSTOSA! — ele engrossou a voz, todo bruto.
— AH, ISSO, MAIS FORTE!
Ficamos rindo, e as lágrimas saindo enquanto tampávamos nossas bocas.
Esse cabrón me paga!
EU ESTAVA BÊBADO, frustrado para cacete. Nunca broxei na minha vida, e, por culpa
daquela brasileira que não saía da minha mente, não conseguia trepar; ela não deixava. A porra
do meu pau não levantava para outras bocetas.
Me joguei na cama, completamente fulo da vida com as piadas e uma dor de cabeça capaz
de enlouquecer, mas foi aí que o caos se fez presente.
Escutei os gritos e gemidos vindos do quarto da Luciana, junto do infeliz que ela trouxera
para passar a noite.
Me sentei na cama, boquiaberto, e comecei a descontar minha raiva socando o colchão.
— Ahhh! Que ódio!
Desesperado, peguei meu celular e disquei para ela. O sujeito atendeu, debochando
descaradamente da minha cara.
— O que você quer, cara? Estamos na melhor parte!
— SEU FILHO DA MÃE! Passa o telefone pra ela agora! — gritei, furioso.
— Nada feito, mané! Se liga, você a deixou, agora aguenta as consequências! — o idiota
desligou na minha cara, e eu arremessei o celular na parede, completamente possesso.
— Ahh! Droga! Preciso tirar essa mulher da minha cabeça!

Adormeci mergulhado na revolta, após passar a noite ouvindo a performance escandalosa


de Luciana na cama. No dia seguinte, despertei já próximo à hora do almoço, com Totó
carinhosamente lambendo meu rosto. A coitadinha parecia faminta.

Pensamento de Totó :
— Tô com fome, papai. Você precisa acordar pra vida e lutar pela minha mamãe. Au au
au!
Eu precisava superar tudo e cuidar da minha vida, mas, caramba, minha cabeça latejava.
Então descobri que perdi o trabalho hoje, o que era uma droga.
Mandei mensagens para o meu gerente e, graças a Deus, ele respondeu, garantindo que
estava tudo sob controle.
Olhei para Totó e desabafei.
— Sua mãe está me deixando maluco, Totó! Não sei o que fazer… — acariciei sua
cabecinha, ela pareceu me olhar profundamente.

Pensamento de Totó: “Você sabe o que fazer! Volta pra ela!”

— Vem, fofinha, vamos colocar comida para você. Depois vou te levar no petshop para
ficar cheirosinha.
Em seguida, coloquei sua ração em seu pratinho rosa e ela balançou o rabinho, toda feliz.
Após um banho e um remédio para dor de cabeça, decidi almoçar no restaurante da esquina.
Mas, ao sair, dei de cara com Luciana no corredor, vestindo um conjunto branco de academia
simplesmente deslumbrante.
O corpo dela estava incrível, e eu fiquei completamente desconcertado.
— Luciana… — falei seu nome, e ela parou de costas, segurando a coleira de Pandora,
mas não se virou.
— Oi, Dimitri... O que você quer? — perguntou, ríspida.
Me aproximei, sussurrando perto de seu ouvido.
— Você realmente ficou com aquele sujeito? — questionei, furioso, aproveitando para
inalar seu perfume viciante.
— Sim! E foi incrível! — ela confirmou com um sorriso largo no rosto, toda atrevida.
Me enfureci, a virei de frente para mim e a prensei na parede, num ato impulsivo.
— Sua safada! Isso foi só pra me provocar, não foi? Aposto que só pensava em mim —
afirmei, convencido, mas ela riu da minha cara.
— Para de se achar. Juro que nem lembrei da sua existência, Dimitri. Aquele homem me
surpreendeu tanto que ainda estou me perguntando como consigo andar — Luciana debochou,
me enfurecendo ainda mais.
— Cínica! — vociferei, os ciúmes corroendo meu corpo.
— Me solta! — ela me empurrou, com raiva e gritaria. — Não toque em mim! Você
terminou comigo, agora aguente! Eu sou livre e dou pra quem eu quiser!
— Você não é assim, Luciana!
A brasileira empinou o nariz, desafiando-me com o olhar perdido e sorriu.
— Vamos ver! Hoje à noite não vou dar, vou distribuir, cabrón! Dane-se! — a seguir, ela
virou a cara, entrando em sua casa com Pandora, fechando a porta com força.
Desabei na parede, furioso. Aquela mulher seria meu abismo, porra!

Uma semana depois, recebi um convite de Oscar para jantar. Sentindo-me solitária, decidi
aceitar. Ray apareceu para me ajudar a me arrumar, e percebi algumas silhuetas das pessoas,
como se um véu espesso impedisse uma visão nítida.
Na hora de sair com Oscar, Ray se retirou, e pouco tempo depois, ele chegou.
— Oi, Lu...
— Oi — sorri e Oscar me abraçou, segurando minha cintura, e retribuí o gesto, inalando o
envolvente aroma de seu perfume e a firmeza de seus braços musculosos.
Após alguns segundos de silêncio, ele beijou meu rosto.
— Vamos, linda?
— Sim.
Ao sairmos do meu apartamento, avistei a silhueta de alguém parado à nossa frente. Senti o
característico perfume de Dimitri e ouvi os latidos furiosos de Totó.
Meu coração disparou.
E agora, meu Deus?
Saí da academia um pouco tarde, pois tive que resolver algumas pendências com alguns
clientes e retornei para casa com Totó. Passando pelo corredor, encontrei algo que me deixou
verdadeiramente devastado e emputecido.
Luciana estava de mãos dadas com Oscar, totalmente linda e sorridente.
Enfurecido, comprimi os lábios com raiva e segui até a minha porta, segurando a coleira de
Totó, que, ao ver Oscar, começou a rosnar revoltada, latindo alto.

Pensamento de Totó: “Ahhhhh, eu não acredito que minha mãe está com esse
desgraçado! Se ela soubesse que ele tentou afogar Sofia na piscina uma vez... mas eu pulei a
tempo para salvá-la e depois, o mordi com vontade. Não posso deixar ela sair com ele! Ele é do
mal, mamãe!”

Precisei conter a cadelinha, mas Oscar me provocou, demonstrando um sorriso vencedor


em seus lábios.
— Olha só... Totó tem um novo cuidador! — Oscar comentou, cheio de falsidade.
— Oscar, vamos embora, por favor... — Luciana o chamou, puxando seu braço, temendo
um barraco.
— Eu cuido dela com muito amor! Mal me conhece e me ama! Eu causo esse efeito nas
pessoas — olhei fixamente para Luciana, para que o filho da puta entendesse meu recado.
— Espero que cuide muito bem dela... Ela era da nossa amada Sofia — disse o filho da
mãe, com seu sorriso ladino no rosto.
A cadela pareceu se enfurecer mais ao ouvir o nome de Sofia pela boca do desgraçado, e
eu soltei a coleira dela de propósito e cruzei os braços. Ela pulou em cima de Oscar e o mordeu
com força em sua perna.
— Ahh! Me solte, cachorra louca! Tá doendo! — Oscar gritou, pulando com um pé só.
Luciana se desesperou, vindo falar comigo.
— Dimitri, pegue a Totó agora! Ela nunca gostou do Oscar!
Continuei de braços cruzados, sorrindo com deboche enquanto Totó o mordia.
— Pare! — Oscar tentava se desvencilhar dela, mas Totó rosnava enfurecida, mostrando os
dentes.
Depois dessa, eu virei fã dessa cachorra!
— TOTÓ, PARE!
Ao ouvir o grito de Luciana, ela se afastou e começou a chorar. A peguei no colo,
repreendendo Luciana.
— Não precisava gritar com ela, sua louca! Ela deve ter motivos para odiar esse canalha!
— Me respeita, Dimitri! Me poupe de seus ciúmes! — Oscar gritou comigo, se sentindo
ofendido.
— Parem! Controlem a Totó! Ela morde todo mundo! E me erra, Dimitri! Vamos embora,
Oscar! — Luciana explodiu.
— Vamos! — o filho da puta pegou na mão dela e sorriu novamente, me provocando. —
Estamos atrasados, Lu. Aquele pub, o House, deve estar lotado.
Eles sumiram de vista e eu beijei Totó na cabeça, elogiando-a.
— Estou orgulhoso de você, meu amor! É isso aí! Mordida naquele vagabundo! Vamos
entrar.
Uns minutos depois, sentei-me no sofá, com os olhos marejados, sentindo-me
inconformado.
— Não é possível que ela vá ficar com ele! Luciana só pode estar louca! Que raiva, meu
Deus!
Meu celular começou a tocar e atendi, interrompendo meu momento melancólico. Era
Alonso, chamando-me para tomar uma com ele e os caras que trabalhavam na academia. O que
veio a calhar, pois eu precisava realmente esquecer aquela mulher.
CHEGUEI NO PUB por meio de um táxi, encontrei os caras e me sentei à mesa. Apertei a mão
deles e começamos a beber. Alonso logo anunciou que seria pai de novo, o que me fez engolir
em seco, a tristeza tomando conta de mim.
Meu celular tocou, era Carmem, que andava sumida por um longo tempo.
— Alô, Carmem?!
— Oi, Dimitri... que milagre você ter me atendido...
— O que você quer? — perguntei, sem paciência.
— Bom, eu vou estrear uma dança nova hoje na boate, queria apenas te convidar, como
amigo, para que você viesse me prestigiar. Isso, se sua amada brasileira deixar!
— Talvez eu vá… — cocei a barba pensando na possibilidade, já que não tinha nada a
perder. — Eu te aviso.
— Hummm, já estou esperançosa.
— Como estão seus pais? — desconversei.
— Estão bem, escondidos naquela casa que você me emprestou. Nunca vou saber como te
agradecer, Dimitri.
— De nada, Carmem.
— Espera, você está bebendo?
— Sim, afogando as mágoas. Depois nos falamos, guapa.
— Ok, tchau — desliguei, voltando a conversar com os meus amigos.
Após um tempo, fui ao banheiro com Alonso, mas parei na hora ao ver Luciana e Oscar
sentados em uma mesa, ele segurando a mão dela. Bufando, Alonso percebeu o que estava
acontecendo. Ele era meu amigo antigo, e sabia que eu estava ficando com ela.
— Dimitri, se acalme cara... você está bêbado — Alonso pediu, temendo minha reação.
— Ela está com o filho da puta aqui! — praguejei, sem tirar os olhos dos dois.
Oscar me viu de longe e sorriu maliciosamente. Após algumas palavras para Luciana, ele
puxou o rosto dela e beijou sua boca. O ódio tomou conta de mim. Cego de raiva, andei em
direção ao infeliz, decidido a partir para cima dele, mas Alonso me segurou com toda força,
contando com a ajuda dos outros amigos.
— Me solta! Eu vou matá-lo! — rosnei, meu corpo trêmulo.
— Porra, Dimitri, se acalme, homem! — Alonso viu os dois se beijando, e me aconselhou.
— Você disse que a deixou! Pra que essa revolta? Ela está seguindo a vida dela.
— Não com esse desgraçado! — balancei a cabeça com raiva, debatendo-me nos braços
que me seguravam. — Me solta, Alonso, eu quero matar esse desgraçado.
— Não! Vamos embora daqui agora! Não quero ir preso! — disse meu amigo, preocupado,
à medida que éramos alvos de olhares assustados das pessoas presentes no local.
Tentei me acalmar, mas Oscar olhou novamente para mim, sorrindo debochado e falando
algo somente com os lábios, o qual consegui entender.
— ELA É MINHA!
Fiquei possesso, louco para acabar com ele, mas optei por ir embora. Estava cego de ódio
por ele, principalmente por Luciana, que afirmara que Oscar era como um irmão para ela, e não
existia absolutamente nada entre eles. Safada, mentirosa! Luciana mentiu feio para mim, e mal
podia imaginar o tanto que eu a odiava!
Minha fúria era tão grande, que ao chegar em casa, comecei a gritar enraivecido,
quebrando tudo que via pela frente.
Na sequência, peguei meu celular e fiquei olhando para a tela, pensando em me vingar.
— Você vai me pagar, Luciana!

Ao chegarmos no pub, nos sentamos à mesa e começamos a conversar. Oscar falava sobre
sua carreira e expressava o desejo de abrir um escritório próprio.
— Queria que você viesse trabalhar comigo, coelhinha. Seríamos uma dupla imbatível —
ele sugeriu.
— Vou pensar — sorri. — Eu assinei um contrato de 1 ano na academia do Dimitri, não
posso sair agora.
— Entendo. Mas quando acabar, venha trabalhar comigo, por favor. Você sabe que a gente
se dá muito bem no trabalho — ele argumentou.
Algum tempo depois, nossas comidas chegaram e acabei sujando o canto da boca, Oscar
pegou um guardanapo e limpou para mim.
— Coelhinha destrambelhada — gargalhou, e me elogiou: — Você fica tão linda a cada
dia que passa...
— Oscar, pare… — pedi, dando um sorriso nervoso.
— Por quê? Luciana, estamos viúvos e sozinhos. Por que não me dá uma chance?
— Eu... eu não sei... Não quero te magoar... você merece alguém que te ame… —
argumentei, pois a última coisa que queria era feri-lo.
— Por que não tentamos algo? — insistiu, chegando mais perto. — Prometo que serei
paciente. Olha, você sabe que não sou um covarde como aquele russo idiota. Eu te amo e te
assumirei para todos. Não há nada de errado em ficarmos juntos. Sempre fomos fiéis aos nossos
parceiros, mas, como eu disse anteriormente, o destino está nos dando uma chance... Por que não
vê isso?
Suas palavras me perturbaram, pois era tudo que eu gostaria de ouvir da boca de Dimitri.
Mas ele foi um frouxo.
— Luciana? — Oscar chamou minha atenção, ao notar que estive pensativa.
— Oi.
— Dimitri está aqui com outra mulher... você acredita?
— Quê? — arregalei os olhos, e senti um nó se formando em minha garganta.
— Estão se beijando loucamente, com gestos um tanto obscenos, e essa mulher é vulgar,
deve ser uma prostituta.
A tristeza tomou conta de mim e me segurei para não chorar.
— Escute, querida... ele não te merece... não merece suas lágrimas... Me dê uma chance…
— Oscar massageou minha mão, fazendo carinho. — Mostre para ele que pode ser feliz com
alguém que tem coragem de dizer o que sente — incitou.
Revoltada, fiz um pedido que jamais se passou em minha cabeça. Queria deixar o russo
devastado. Então, em um dado momento, apertei a mão de Oscar, e pedi algo que jamais
imaginei que um dia pediria na vida:
— Me beija, Oscar.
Oscar segurou meu rosto com firmeza, e visualizei seu rosto embaçado, ainda não dava
para ver nada nitidamente. Ele não perdeu tempo e me beijou com paixão e desespero, enquanto
segurei firme em seus ombros fortes.
Me acostumei com sua boca e seus beijos, e passamos algum tempo assim, mas logo
depois me arrependi e parei.
— Chega... Isso... isso está errado! — o afastei, empurrando seu peitoral com minhas
mãos.
— Meu Deus, mas foi tão bom, Lu... Parece que nada mudou pra mim, apesar de todos
esses anos — declarou, parecendo bem apaixonado.
— Oscar, eu só fiz isso para o Dimitri sofrer! Estou te usando — tentei ser sincera.
— Eu não me importo, sei que posso te conquistar, Luciana. Só me dê uma chance — ele
implorou, e me vi perdida.
— Ele… ele viu a gente se beijando? — perguntei, curiosa.
— Sim, mas não se importou. Apenas virou a cara. Eu dei com a mão educadamente, mas
ele me rejeitou. Que homem mal-educado! Devia estar morto de bêbado! — Oscar estalou a
língua, lamentando.
— Filho da puta... Aposto que estava com aquela vadia mexicana — comentei, super
irritada.
— Luciana, você merece mais que isso, meu amor. Esqueça esse homem, eu imploro...
Estou me declarando para você, Lu. Eu sei que, lá de cima, o nosso querido Roger está torcendo
por nós. Você acredita que uma vez ele me disse que se um dia morresse, o único homem que ele
ficaria feliz em ver ao seu lado era eu?
— Quê? Sério? — me assustei com suas revelações, pois meu marido jamais havia
comentado isso comigo.
— Sim. Foi naquele evento de aniversário do escritório. Ele havia tomado muito whisky e
estava falando essas coisas. Ainda bem que Kate não escutou.
— Meu Deus! — levei as mãos à boca, em choque.
— O Roger sabia que eu era um homem íntegro e seu melhor amigo... Ele era tão sábio.
— Era sim.
— Pense em tudo que eu te disse, meu amor. Me dê uma chance. Podemos ser felizes
juntos, ter uma vida feliz, uma família. Eu faço qualquer coisa por você, Luciana.
Fiquei chocada com as palavras dele e um pouco insegura.
— Oscar, por favor, me dê um tempo. É muita coisa para assimilar...
— É claro que é dou — sua voz soou gentil, deixando-me um pouco aliviada.
— Podemos ir pra casa? Eu não estou bem... Minha cabeça vai explodir de dor — pedi, o
latejo estava cada vez mais forte e me incomodando.
— Oh, Deus, vamos — Oscar pagou a conta e me guiou até o carro com todo cuidado.
Ato contínuo, ele dirigia em silêncio enquanto eu captava algumas luzes, que julguei ser os
faróis dos carros que passavam por nós.
— Lu, você consegue ver algo? — ele indagou com curiosidade, mas engoli em seco,
optando por mentir.
— Não. Nada ainda...
— Que pena. Você poderia procurar um novo médico ou um novo tratamento cirúrgico —
sugeriu.
— Vou pensar nisso… — disse, olhando para a janela do carro, vislumbrando as luzes
borradas que enchiam meu coração de esperança, e logo depois chegamos em meu apartamento.
Como deixei Pandora com o vigia, ele me entregou a coleira dela e me despedi de Oscar.
— Quer que eu suba? — ele perguntou, cheio de intenções.
— Não precisa, eu vou dormir. Podemos nos falar amanhã?
— Sim, claro — Oscar segurou meu rosto e me deu um selinho em meus lábios, deixando-
me estática, sem reação. Ele estava determinado em mostrar realmente que me queria. — Boa
noite, coelhinha...
— Boa noite — esbocei um sorriso tímido e, em seguida, segui para casa ao lado de
Pandora.
Contudo, ao chegar no corredor, escutei latidos de Totó. Ela estava por perto, suas patinhas
batendo forte contra o piso, indicando que estava correndo, e parecia bem estressada.
— Totó? — a chamei, e seus latidos ficaram mais altos, e logo pude a sentir por perto,
então agachei e a peguei no colo, ganhando uma lambida. — Oh, Totó… — murmurei, sentindo
a emoção me dominar ao lembrar de Sofia. — Me desculpe por te deixar longe de mim, meu
amor. Eu estou cega e me senti insegura para cuidar de ti, mas eu te amo muito, viu, sapequinha?
Você sempre vai me fazer lembrar de Sofia… — Totó me lambeu mais uma vez, agora colhendo
minhas lágrimas, eu podia sentir seu rabinho de pompom balançar. — Por que você está do lado
de fora? — perguntei e ela latiu, pulando de minhas mãos, arranhando a porta de Dimitri, que
estava fechada. — Ah, ele deixou você do lado de fora? Que ogro incompetente! Vamos, vou te
deixar lá dentro da casa dele — peguei Totó nos braços e abri a porta dele, estranhando o fato de
estar destrancada. — Me espere aqui fora, Pandora.
Ao entrar, senti um cheiro de perfume diferente. Era um perfume de mulher, o que golpeou
minhas entranhas. Mais um pouco, e gemidos ecoaram no apartamento, fazendo o ódio tomar
conta do meu ser.
— Que porra é essa? — murmurei irritada, sentindo meu corpo estremecer de raiva.
Totó latiu raivosa, rosnando, como se quisesse me dizer algo, e eu sabia que era isso, ela
sempre foi muito esperta. E pelo modo como ela se mexia em meus braços, eu entendi o que ela
queria.
Pensamento de Totó: “Mamãe, abra a porta e dê uma surra na piranha! Ela está
seduzindo meu papai!”

Respirei fundo e, criando coragem, segui até o quarto de Dimitri, de acordo com minha
memória tátil, e empurrei a porta.
SAÍ DAQUELE RESTAURANTE possesso, e um táxi veio me deixar em casa. Ao entrar no
meu apartamento, fui tomar um banho e fiquei pensando no que eu acabara de ver: o meu pior
pesadelo, Luciana beijando Oscar.
Colei a testa na parede e chorei revoltado.
— Te odeio, Luciana! — berrei, mergulhando meu corpo na água gélida do chuveiro.
Ao sair, me enrolei numa toalha e me joguei no sofá, enquanto pegava meu celular. Liguei
o foda-se e digitei o número de Carmem, que atendeu na mesma hora.
— Olá, guapetón. Que quieres? Não vieste para minha apresentação... Fiquei triste — ela
disse, toda manhosa, misturando inglês com espanhol, como de costume.
— Eu quero foder, Carmem. Vem pra cá agora! — exigi secamente.
— Quê? Estás hablando en serio? — ela me indagou, surpresa.
— Sim.
— Estou indo, meu gostoso!
Desliguei na cara dela e passei as mãos pelo cabelo, murmurando revoltado:
— Vou voltar a ser o Dimitri que eu era. Um cafajeste ordinário! Te odeio, sua brasileira
mentirosa!

Não demorou muito, e Carmem chegou. Eu abri a porta, só de toalha, e ela me agarrou.
— Que saudades, mi amor. Eu sabia que você não me esqueceria!
A beijei sem muita vontade, mas a deixei se aproveitar de mim. No entanto, Totó começou
a latir e mordeu Carmem em sua perna.

Pensamento de Totó: “Solte meu pai, sua vadia!”


— Ahhh! Socorro, Dimitri! — Carmem gritou ao sentir a dor da mordida.
— Totó, pare! — exigi aos gritos, mas a cachorra estava possessa, e eu a peguei do chão.
Ela deixou Carmem com um ferimento na perna, e eu a levei para o quarto do castigo.
— Vai ficar de castigo! — falei sério, impaciente, enquanto ela me olhava, mostrando os
dentes e rosnando. — E não rosne pra mim!
Fechei a porta do quarto, quase cambaleando, e voltei para acudir Carmem.
— Oh, querida, me desculpe por isso — puxei sua mão. — Vem comigo, vou passar
antisséptico no ferimento.
Seguimos até meu quarto, e Carmem se sentou na cama. Peguei a caixinha de primeiros
socorros dentro do meu guarda-roupa, retirei um spray antisséptico e fui passando com um
algodão em sua perna.
Impaciente, a mexicana segurou meu rosto com suas mãos e me beijou, me puxando para
cima de seu corpo.
— Me fode, mi amor! — Carmem implorou com loucura contra minha boca, mas não
conseguia me concentrar e meu pau não subia de jeito nenhum.
Ela não desistiu, despiu-se e me empurrou. Caí deitado, e ela começou a me masturbar.
— Você está triste e estressado, cariño. Vou resolver sua situação. Eu sei que tu estás
apaixonado por aquela brasileira, então vamos fazer o seguinte: feche os olhos e imagine que ela
sou eu — sugeriu Carmem, me deixando assustado.
— Quê? — me sentei na cama e tentei me afastar dela. — Olha, não posso fazer isso. Me
desculpe, Carmem... Se quiser, pode ir embora.
— No! Faça o que eu pedi... Eu não me importo — ela insistiu, me lançando seu olhar
safado, lambendo os lábios carnudos.
Engoli seco e fechei os olhos. Ao imaginar que Carmem era Luciana, meu pau começou a
ganhar vida.
A safada foi metendo a boca e me chupou com profissionalismo.
— Caralho! — rosnei e enfiei uma mão em sua nuca.
— Vou cavalgar em cima de você, mi amor. Quero seu pau enorme me tomando toda, com
força — ela se sentou em cima de mim.
— Senta, safada! — continuei de olhos fechados, segurando seu quadril e imaginando
Luciana, então Carmem começou seu espetáculo, gemendo em espanhol e gritando, sentindo
minha invasão a rasgando toda.
— Ohh, cabrón! Me fode! Que saudade de ti! Ah! Bate em minha cara!
Estapeei sua cara com força, me enterrando com vontade.
— Toma, cachorra! — grunhi, ainda com os olhos fechados, deixando-a se acabar em cima
de mim, mas, ao ouvir o grito de Luciana, abri os olhos, espantado.
— Dimitri!
— Porra! — permaneci estático, meus olhos se arregalaram em incredulidade ao vê-la
chorando e nos observando, como se tivesse recuperado a visão.
Carmem a encarou, sorrindo maliciosa, enquanto continuava sentando no meu pau.
— Quer participar da nossa trepada, Luciana? — a mexicana gargalhou com desdém.
— Sua vadia!
Num sobressalto de enfurecimento, Luciana partiu para cima da cama e pulou em cima de
Carmem, eu fiquei sem entender como ela fez isso, já que ela não enxergava, e as duas caíram no
chão. A brasileira montou em cima de Carmen e começou a agredi-la, desferindo tapas e dando
alguns puxões no cabelo.
— Sua puta! Ah!
— Sai de cima de mim, sua idiota! — Carmem gritou, tentando se desvencilhar de sua
fúria.
Fiquei desesperado e vesti meu calção imediatamente, indo até Luciana, tirando-a de cima
de Carmem, que arranhou a cara dela com suas unhas afiadas. Ela se debateu em meus braços,
gritando e chorando.
— Me solta! Seu cachorro!
— Para, Luciana! — retruquei.
— Você não é nada para ele, sua cega! Ele me ligou e me chamou para trepar gostoso!
Dimitri é louco por mim! — a mexicana provocou, revoltada.
E como se a confusão já não bastasse, Totó apareceu, pulando em cima de Carmem, que
gritou de medo, e não conseguiu se desvencilhar de imediato, ganhando assim uma mordida na
bunda, aqueles dentinhos pequenos perfuraram tão profundamente o glúteo da mexicana, que
pude notar o sangue brotando de sua pele.

Pensamento de Totó: “Ninguém bate na minha mamãe!”

Carmem gritou de novo, conseguindo agora ir para cima da cama para começar a se vestir,
e Totó continuou rosnando, sempre pronta para atacar a minha visita.
— Totó, pare! — ordenei irritado, no entanto, ela rosnou para mim e mordeu o meu pé. —
Ai, caralho, tá louca?! Vá pro quarto, agora! — apontei em direção ao cômodo, a cadela deu uma
choradinha e correu até lá.
Já vestida, Carmem anunciou:
— Vou ao hospital, essa cachorra louca me mordeu de novo!
— Eu acho é pouco, sua vadia! — Luciana gritou enervada, ainda se debatendo em meus
braços, louca para agredir a mexicana.
— Foda-se, desgraçada! — rebateu Carmem, e isso me irritou ainda mais.
— Vá embora, Carmem. Depois conversamos — pedi calmamente, enquanto permanecia
prendendo Luciana por trás, só a soltando quando percebi o apartamento vazio.
Ela começou a chorar sofregamente, me xingando:
— Seu cachorro, filho da puta!
— Agora eu sou o cachorro e filho da puta, hein? — vociferei contra seu rosto banhado de
lágrimas, que borraram por completo sua maquiagem dos olhos. — Eu te vi beijando aquele
desgraçado do Oscar! E quer saber, a cachorra aqui é você!
Ela pulou em cima de mim e meteu um tapa ardido em meu rosto.
Emputecido, segurei seus pulsos, a prensando na parede com raiva.
— Me respeita, seu merda! — a brasileira praguejou, perdendo completamente a
compostura de princesinha.
— Respeito? Você disse que aquele Oscar era só seu amigo, como um irmão! Mas era tudo
mentira! Você sempre o quis! Sempre soube das intenções dele! — bradei, as lágrimas caindo de
meus olhos, e continuei gritando: — Você é uma mentirosa! Safada!
— Eu… eu sabia sim que ele gostava de mim, mas isso foi quando eu cheguei nos Estados
Unidos, éramos muito jovens — ela tentou se explicar, se tremendo toda. — O Oscar me beijou
numa festa, estávamos bêbados, mas eu não senti nada! Nunca o desejei... dois dias depois eu
conheci o Roger e me apaixonei por ele, ficamos juntos desde então e fiz questão de esquecer
essa história, assim como Oscar.
— Você pode até ter esquecido, mas ele não. Esse filho da puta é um obsessivo do caralho!
É uma pena que você não possa enxergar esse tipo de coisa.
Luciana me empurrou e se recompôs logo, toda descabelada.
— E sabe o que você é, Dimitri? Um frouxo! Covarde! — disparou, me olhando
diretamente no rosto, o que me deixou intrigado. — Eu me declarei várias vezes e você ficou
calado! O Oscar teve coragem de dizer o que sente, não tem vergonha de mim.
— Eu... eu te... — balbuciei, tentando dizer o que sentia, mas as palavras ficaram presas
em minha garganta.
— Está vendo? Não tem coragem! Eu te odeio, Dimitri! — ela gritou, batendo em meu
peito com as mãos em punho.
— Eu que te odeio, sua mentirosa safada! — retruquei, tentando segurar seus pulsos, mas
ela se soltou.
— Vá para o inferno, Dimitri! Você e essa vadia mexicana! Eu nunca vou te perdoar!
— Eu não fiz nada de errado nessa porra, brasileira louca!
— Você estava se agarrando com ela no restaurante, a beijando sem pudor! — me acusou
de algo que não fiz.
— Quê? Isso é mentira! Eu estava no restaurante com o Alonso e outros caras!
— Seu filho da mãe! — Luciana continuou me batendo, e eu tentei me defender,
prendendo seus braços atrás de suas costas.
— Para, Luciana! — pedi, e uma vontade louca de beijá-la me acometeu, não aguentei a
pressão, então o fiz.
Ela se debateu furiosa, nossos dentes se colidiram no beijo louco, mas depois se soltou e
agarrou meus cabelos, engolindo minha boca com desespero. Nos beijamos num misto de
intensas emoções, gemendo com raiva e se arranhando.
Após alguns segundos, senti meu corpo sendo empurrado, um ardor em meu rosto causado
por tapa forte, um cuspe no chão diante de mim.
— Nunca mais toque em mim! Foda-se!
E assim ela foi embora, tocando nos móveis para se segurar, e fechou a porta com força.
Me sentei ao pé da cama, chorando revoltado, puxando meus cabelos com raiva e
desespero.
— Acho que te perdi para aquele desgraçado…
ADENTREI EM MINHA CASA devastada, jogando-me sobre o carpete enquanto as lágrimas
transbordavam descontroladamente. Pandora, percebendo minha dor, se aproximou e lambeu
meu rosto. Num abraço apertado, busquei algum consolo antes de me levantar, desanimada, e
seguir em direção ao banheiro.
Sob o chuveiro, as lembranças do beijo ardente daquele russo invadiram minha mente, uma
mistura de prazer e desgosto. A vontade de me entregar a ele, de esquecer tudo, era sufocada pela
batalha com meu amor-próprio, que exigia determinação.
— Eu vou te esquecer, Dimitri — prometi entre soluços. — Nem que seja para me afogar
nos braços do Oscar. Posso não gostar dele, mas talvez seja minha única saída. Pelo menos, ele
não é um covarde!
Após o banho, me enrolei no edredom, entregando-me às lágrimas frenéticas.

Dias se arrastaram, e eu permaneci reclusa. Dimitri desapareceu, descobri através de


conversas com sua irmã, que estava refugiado em sua casa. A academia fora relegada ao segundo
plano, e minha assessora assumiu o controle de minha vida profissional, falando comigo pelo
celular.
A noite se estendeu, e em uma ligação com mamãe, a preocupação com a saúde de meu pai
intensificou minha aflição. Ansiei retornar ao Brasil somente para abraçá-lo, confortar o meu
amado pai, tirar toda sua dor…, mas eu não podia por enquanto.
Batidas à porta interromperam meus pensamentos.
— Quem é? — perguntei temerosa, ciente de que a empregada não voltaria por dois dias.
— Sou eu, Lu — Oscar respondeu do outro lado.
— Ok — abri a porta, deparando-me com a silhueta manchada de Oscar. — Oi, querido. O
que faz aqui?
— Vim fazer companhia. Que tal um filme? Trouxe batatas fritas e milk-shake de Nutella.
— Não precisava, mas... — minha expressão mudou ao perceber que ele já havia entrado.
— Ok. Vamos ver "Ghost", meu filme preferido.
Sentamo-nos juntos e Oscar notou os arranhões em meu rosto.
— Luciana, que diabos é isso? — ele tocou em minha bochecha dolorida.
— Nada. Esquece — sorri nervosa.
— Foi o russo, não foi?
— Não! Dimitri jamais faria isso. Foi uma ficante dele, uns dias atrás, uma mexicana...
— Sei. Você deveria denunciá-la — aconselhou.
— Não precisa. Vamos esquecer, ok?
— Certo, mas se ela mexer contigo, me avise. Não aceito ninguém ferir seu lindo rosto —
ele acariciou minha bochecha, seu hálito quente contra minha face.
— Obrigado — me afastei um pouco. — Agora coloca o filme, por favor.
Oscar fez o que pedi e me puxou para aninhar-me em seu peito. Comemos batatas e
tomamos milk-shake, e, após um tempo, ele tentou avançar, me tocando nas coxas, beijando meu
pescoço, minha boca, mas me afastei.
— Para... eu não quero isso agora — me sentei no sofá.
— Desculpe, você me deixou maluco. Gostou de me beijar, coelhinha?
— Sim...
— Quer mais?
— Quero..., mas não vou transar, Oscar. Por favor, vamos com calma.
— Ok, meu amor, eu faço o que você quiser — ele recomeçou o beijo e eu permiti, mas
algo não encaixava. Talvez fosse o vício em Dimitri.
E, mais uma vez, Oscar tentou algo comigo.
— Oscar…
— Tudo bem. Sinto muito, coelhinha, é que você é irresistível — acariciou meu rosto com
os nós dos dedos. — Quer que eu durma aqui, Lu?
— Ah, não se incomode com isso. Vou ficar bem.
— Ok. Então vou para casa, meu amor. Qualquer coisa, me ligue — ele disse com
preocupação.
— Ok, obrigada.
Meu amigo se despediu com um beijo e, sozinha, desabei em lágrimas, ansiando pelos
beijos daquele russo insensível.

Estava me sentindo o homem mais feliz do mundo!


Finalmente ela estava se entregando para mim, mesmo que fosse aos poucos.
Nos beijamos intensamente, e a vontade de possuí-la me consumia, mas sabia que era
preciso ir devagar para não estragar tudo.
Precisava tê-la completamente sob meu domínio, e, é claro, fazê-la odiar aquele russo.
Agora, decidi resolver um pequeno problema. Dirigi até o apartamento de Carmem, e ao
bater na porta, ela abriu.
— Tu?
— Posso entrar, mexicana?
— Si. Você sumiu, hein?! Eres casado?
Entrei em sua casa e a encarei intensamente, respondendo à sua pergunta:
— Ainda não.
— Como? — Carmem apertou os olhos, desconfiada.
— Calma, linda. Precisamos conversar — puxei-a pelo braço, sentamo-nos no sofá, e
decidi contar a ela tudo o que sabia sobre sua relação com Dimitri e Luciana, revelando também
que amava minha melhor amiga.
Ela ficou chocada, balançando a cabeça em desaprovação.
— Seu puto! Estás me usando?
— Calma, linda, apenas quero sua ajuda.
— Para quê? — perguntou entredentes.
— Você gosta do Dimitri, e eu da Luciana. O que acha de nos ajudarmos a mantê-los
afastados até que eu possa ficar definitivamente com ela? Quero esse homem fora do meu
caminho. Você me ajuda, Carmencita?
— Eu... eu não sei! — ela respondeu meio desconfiada, afastando-se de mim.
— Vamos lá, guapa, você quer o Dimitri só para você, não é? — insisti, me aproximando
dela.
— Sim..., mas ele não me ama. Ele ama aquela vadia brasileira!
— Se você falar assim dela novamente, vai ficar sem os dentes, carinho — ameacei,
enfurecido.
Em seguida a agarrei e ela tentou se desvencilhar, gritando:
— Me solta!
— Vamos foder bem gostoso, o que acha? — sussurrei excitado, mordendo seu ombro com
força.
— Pare, Oscar! No quiero! — ela se debateu em meus braços, mas a arrastei até seu
quarto.
Tirei minhas roupas.
— Você não tem que querer, Carmencita — a empurrei na cama e a dominei, ficando por
cima dela, rasgando sua roupa. — Vai me dar bem gostoso, estou necessitando. E se reclamar,
despacho seus pais para a fronteira novamente, talvez eu possa deixar a boca deles repletas de
formigas.
Ela engoliu em seco, claramente com medo das minhas ameaças. Os olhos cheios de
lágrimas e a cabeça balançando, como que concordando, demonstraram sua obediência diante da
situação.
— Isso, gosto assim, bem obediente. Agora abra essas pernas e me dê com vontade, igual a
vadia que você é! — estapeei seu rosto e Carmem fez o que mandei, enquanto tomava seu corpo
à força.
Após terminar, me limpei e me vesti.
— Você é bem gostosinha, dá para o gasto… — Ela continuou na cama, em silêncio,
enrolada no lençol, em posição fetal. — Escute, mexicana, você vai se empenhar em conquistar
aquele filho da puta, entendeu? Se ele cruzar meu caminho ou vir atrás da Luciana, acho bom
você comprar flores para levar ao enterro dele — sorri diabolicamente.
— Eu... eu farei isso, não se preocupe... — Carmem respondera, os lábios tremendo, sem
ousar olhar para mim.
— Boa menina. Faça tudo o que eu disse, e te recompensarei generosamente. Talvez até
consiga o Green Card para que seus pais vivam legalmente por aqui, você só precisa cumprir sua
parte, linda.
— Ok, Oscar — sua voz não passava de um fio, as lágrimas banhando o lindo rosto.
— Bom, eu vou indo. Até logo, vadia — enquanto me encaminhava para a porta ouvi seus
soluços, um choro sofrido, mas pouco me importava com suas angústias.
Meu foco estava em Luciana, e ela seria minha. Por bem ou por mal!

Depois de toda aquela confusão, decidi sair do meu apartamento e passar uns dias na casa
da minha irmã. Ela e papai me encheram de perguntas, mas me limitei a dizer que terminei com
Luciana. Os dois ficaram super tristes, mas como conheciam meu gênio, decidiram me deixar em
paz.
Após alguns dias, recebi uma ligação de um amigo que frequentava o clube, e ele me disse
que Carmem levou uma surra e estava internada. Me preocupei com ela, e decidi visitá-la. Ao
chegar na recepção, me identifiquei como seu amigo, e após alguns minutos burocráticos, me
deixaram entrar em seu leito.
Ao vir seu estado, fiquei chocado.
— Carmem? Meu Deus! — exclamei ao notar seus olhos roxos e a boca com um
ferimento.
— Di-Dimitri... — ela chorou baixinho, balbuciando meu nome, e eu fui até ela.
— Querida, você foi muito machucada! Quem fez isso contigo? — perguntei aflito,
segurando com cuidado suas mãos.
— Eu... eu não sei. Não lembro... Estava bêbada... Talvez foram assaltantes, é isso. Meu
dinheiro sumiu da minha bolsa. Foi isso.
Percebi que ela estava escondendo algo e fiquei preocupado.
— Carmem, eu te conheço. Para de mentir! Você ficou com algum homem casado? Algum
bandido?
— Eu fico com vários, Dimitri! Não pergunto se são casados ou se são bandidos. Por
favor, pare com o interrogatório! Não estou bem… — ela se explicou, mas percebi o medo em
seu olhar.
— Me desculpe, eu tô muito preocupado. Deve ser um demônio quem bate numa mulher,
ainda mais desse jeito! Em mulher não se bate nem com uma flor! Você precisa denunciar! —
esbravejei revoltado.
— Nooooo! Os policiais já vieram e eu pedi para deixar pra lá.
— Carmem, pelo amor de Deus! Você está escondendo algo! Está devendo dinheiro a
alguém, ou drogas? Eu posso ajudar.
— No! Não se preocupe! Isso não acontecerá mais… — Carmem chorou muito, e eu a
abracei com cuidado, afagando seu cabelo preto.
— Calma, querida. Eu estou aqui. Amigos são para essas coisas.
A mexicana me olhou com um semblante indecifrável e se lamentou, balançando a cabeça.
— Eu não mereço sua ajuda, Dimitri.
— Pare de dizer isso! Não vou deixar ninguém te machucar. Vou te levar para minha casa.
— Obrigado, Dimitri — ela me agradeceu e chorou em silêncio, partindo meu coração.
Depois de receber alta, dois dias depois, levei Carmem para minha casa, e ela estava muito
estranha, extremamente amedrontada.
— Você está bem, guapa?
— Si... Dimitri, preciso de um favor.
— O quê?
— Pode arranjar outro lugar para meus pais ficarem?
— Por quê? — franzi as sobrancelhas, desconfiado, pois o local que arranjei para os pais
dela era bastante seguro.
— Por favor, não faça perguntas, só me ajude — ela pediu com lágrimas caindo, e isso me
deixou mais perturbado. Tinha certeza de que alguém estava a ameaçando.
— Ok... vou falar com um colega meu, e amanhã eles se mudarão para uma casa segura —
garanti, notando seu semblante relaxar em alívio.
— Obrigada, cabrón — ela limpou as lágrimas e respirou fundo.
— De nada — sentei-me ao seu lado, abraçando-a novamente.
Não tinha mais intenções de transar com Carmem, mas estava com pena dela. Apesar de
tudo, não merecia ter sido espancada desse jeito.
Nenhuma mulher merecia.
Algum tempo se passou, e decidi ir para a academia.
— Você não abra a porta para ninguém, ok? Qualquer coisa, me ligue.
— Certo, Dimitri.
CARMEM ESTAVA SE RECUPERANDO em minha casa, e decidi não ir ao trabalho por três
dias, pois ela estava muito estranha, tendo pesadelos frequentemente.
— Carmem, querida, vamos almoçar lá na esquina? — a convidei quando deu a hora do
almoço.
— Si — ela respondeu sorridente, os hematomas em seu rosto ainda bem roxos.
Vestimos nossos casacos, pois estava frio lá fora, e ao abrir a porta, dei de cara com
Luciana e Oscar.
— Ora, ora. Dimitri — o filho da puta falou falsamente comigo.
Bufei ao olhar para ele e notei que estava carregando uma mala.
— Pra onde você vai, Luciana? — perguntei preocupado, tendo um mau pressentimento.
— Não te interessa! — ela respondeu rispidamente, evitando olhar para mim.
— Vai morar com esse louco? Está doida? — inquiri de volta, possesso.
— Qual o problema? Eu sei que Carmem está morando com você! — ela disse, cheia de
rancor.
— Não é o que você está pensando, Luciana — tentei me explicar.
— Dimitri, por favor, vamos embora, não quero brigar — Carmen pediu, ficando nervosa.
— Vai lá, Dimitri! Sua mexicana está te chamando, ou, melhor dizendo, sua esposa —
Luciana resmungou, mordida de ciúmes.
Oscar pegou na mão dela e a chamou para ir embora, me provocando.
— Vamos, coelhinha, não perca tempo com esse babaca.
Fechei os punhos, emputecido, e avancei para cima dele, mas Carmem me segurou, me
abraçando pela cintura, e Totó, que veio até o lado de fora com sua roupinha e lacinho rosa-
choque, rosnou para ele.
— Se você me bater, seu russo, vai se arrepender — com o dedo em riste, o infeliz me
ameaçou.
— Oscar, vamos embora, sem brigas — a brasileira pediu, puxando seu braço, temendo
uma briga.
— Vamos, meu amor — Oscar sorriu de canto, com um olhar debochado e eu bufei.
Por um breve momento, o vi olhar de forma ameaçadora para Carmem, deixando-me
cismado. Ambos se conheciam?
Aproveitei o momento em que Luciana e ele se retiraram, e fitei Carmem, que parecia
tensa, perguntando na lata:
— Você conhece esse cara, Carmem?
Ela correspondeu meu olhar, assustada.
— Quê? No! — balançou a cabeça nervosa e esfregou as mãos.
— E por que está assustada?
— Eu... eu tô bem. Só fiquei com receio da Luciana me bater, só isso — ela sorriu sem
vontade.
— Ela não fará mais isso. Vamos almoçar.
Descemos até o restaurante com Totó, que desta vez, não mordeu a mexicana, ao contrário,
ficou a lambendo e roçando a cabecinha em suas pernas. Parece que Totó podia sentir as dores
das pessoas. Era uma cachorrinha especial. Após comermos, liguei para dona Mirian, pois fazia
tempo que não conversávamos.
— Alô, Dimitri?! Que surpresa sua ligação, meu filho!
— Oi, dona Mirian, como a senhora está?
— Estou bem, cuidando do meu marido. Ele está internado, fez um procedimento no
coração e está se recuperando. Algum problema?
— Sim! A senhora sabe que a Luciana foi morar com o Oscar? — comentei, e sua reação
foi puro choque.
— O quê? Que história é essa? Ela apenas me disse que estavam ficando, embora eu ache
isso um erro. Ela escondeu isso de mim, eu não acredito! — Dona Mirian lamentou, horrorizada.
— Pois é. Hoje ele veio buscá-la e levou uma mala grande — suspirei resignado e passei
minha mão livre em meu cabelo dourado. — Sinceramente, dona Mirian, eu não confio naquele
homem. Nem Totó gosta dele! Eu sinto algo ruim sobre ele. Luciana é tão teimosa! — expressei
minha intensa preocupação, e ela concordou comigo.
— Eu penso o mesmo que você, querido. E sempre desconfiei que ele era apaixonado por
ela, mas nunca comentei nada. Sempre percebi os olhares dele fixos nela enquanto eram casados.
Às vezes, tenho medo de ele ser obcecado por ela — seus apontamentos me deixam em alerta,
pois eu sei que agora estou certo em minhas intuições. — Meu Deus, agora estou com muito
medo, Dimitri. E o pior é que não posso voltar pra aí, porque eu ia meter juízo na cabeça dessa
menina. Até a Sofia não gostava dele, ela sempre chorava quando ele a pegava pra brincar. Eu
achava tudo tão estranho — Dona Mirian revelou coisas surpreendentes, deixando-me chocado e
mais preocupado.
— Esse filho da mãe não presta, dona Mirian! — esbravejei, chamando a atenção de
algumas pessoas, e Carmem me olhou de soslaio. — Mas eu vou ficar de olho, mesmo estando
longe da Luciana — tentei me acalmar, aliviando meu tom de voz.
— Obrigada, meu filho — a voz de dona Mirian se tornou chorosa. — Qualquer coisa, me
liga. Vou tentar conversar com ela.
— Ok, tchau, querida — após encerrar a chamada, coloquei as mãos na cabeça e apertei os
olhos, preocupado.
— Cariño, o que tienes? — Carmem perguntou, tocando meu braço.
— Estou preocupado com a Luciana. Aquele cara não presta!
Carmem engoliu seco e fitou a janela do restaurante.
— Deixe-os pra lá, Dimitri. Luciana escolheu quem ela queria, você tem que querer quem
te quer... — ela pegou minha mão e olhou para mim. — Depois que terminarmos aqui, vamos
para casa, está muito frio.
— Ok — concordei, ficando pensativo e angustiado pela situação da brasileira enquanto
Carmem pedia a conta.
Ao chegarmos em casa, tiramos as roupas de frio e Carmem me abraçou por trás, beijando
minhas costas.
— O que você quer, Carmem? — perguntei, atento aos seus toques.
— Tu, mi amor... Fazer amor... estou sentindo sua falta...
Me virei para ela e segurei seus ombros, falando com sinceridade:
— Desculpe, Carmem, mas eu não vou transar com você. Seremos só amigos, essa é minha
última palavra. Por favor, não insista mais.
Ela abaixou a cabeça, chorando.
— Não chore, linda — ergui seu rosto, segurando-o entre minhas mãos. — Você
encontrará alguém que te ame, você merece isso… Eu não te amo.
— Você ama a brasileira, não é? — ela indagou, me encarando com o olhar lacrimejante.
— Sim. Eu a amo como nunca amei ninguém em minha vida, Carmem. E está doendo pra
caralho acompanhar tudo que ela está fazendo, por causa da minha covardia — admiti meus
sentimentos, quase chorando, mas segurei as lágrimas, engolindo a saliva com dificuldade.
Ela segurou minhas mãos e me aconselhou inesperadamente, parecendo sincera, o que me
assustou:
— Se você a ama, lute por ela. Passaste por coisas muito difíceis em tua vida, cabrón… Tu
merece ser feliz, pois tem um enorme coração. Eu nunca saberei agradecer tudo que fizeste por
mim. — se refere a casa segura que arranjei para os pais dela, imigrantes ilegais mexicanos —
Sinceramente, estou cansada de correr atrás de ti.
— Me perdoe, querida.
— Vou para a casa dos meus pais, a que você arranjou. Não quero atrapalhar tu vida.
— Entendi, mas se precisar de mim, me ligue. Meus dois amigos gangsters estão fazendo a
vigilância da sua casa, ninguém mexerá com vocês, Carmem — garanti e alívio preencheu seu
semblante bonito.
— Gracias, cabrón... — Carmem me abraçou e beijou meu rosto.
Após arrumar suas malas, a deixei na casa de seus pais e pedi aos meus amigos barra
pesada, que qualquer movimentação estranha poderiam meter bala.
Desde que cheguei aos EUA, conheci muita gente, das melhores às piores, e como meu
pai era lutador de boxe, ele conhecia muitos gangsters que sempre apostaram dinheiro nele e se
tornaram seus amigos e meus também.
Se Oscar se achava perigoso, ele não me conhecia. Eu podia ser pior que o próprio
demônio quando pisavam no meu calo.

Após aquele cabaré, descobri que Dimitri trouxe a vadia mexicana para morar com ele.
Ekaterina quem me contou, e naquele dia, estava chocada. Parecia que a Carmem foi assaltada e
a espancaram. Dimitri se comoveu, como o bom moço gentil que era, o que me causou um ódio
tremendo. A todo tempo ouvia os dois conversando, falando alto e gargalhando, o que me
deixava irritada.
— Vamos, coelhinha, ou vai querer ficar escutando esses dois na intimidade e viver
estressada? Eu vou cuidar muito bem de você — prometeu Oscar, num tom de voz amoroso.
Fiquei super confusa, mas, por causa dos ciúmes e da sede de vingança, aceitei sua
proposta de passar uns dias em sua casa.
— Ok, eu vou.
— Ah, que bom, meu amor. Semana que vem vou viajar para a Alemanha para rever
minha mãe, e você pode ir comigo, se quiser.
— É, pode ser… — sorri sem dentes e sem muita vontade de viajar com ele e ficar longe
de Dimitri.
Alguns dias depois de me instalar na casa de Oscar com Pandora, ele tentou me seduzir,
mas eu sempre recuava, dando desculpas esfarrapadas.
Uma saudade terrível daquele russo me consumia de forma devastadora, mas queria que
ele sofresse muito, muito mesmo.
Era domingo, Oscar fez um jantar especial para nós e tomamos vinho. Pouco a pouco, fui
ficando bêbada, e ele começou a me beijar, depois que nos sentamos no sofá enorme de sua sala.
— Tô com tanta vontade de fazer amor com você, coelhinha — ele passou as mãos pelo
meu corpo, e eu fechei os olhos, imaginando ser Dimitri. — Vamos tentar essa vez, prometo que
será gostoso… eu não te obrigarei a nada… — ele me atentava, beijando minha boca.
— Eu... eu não sei, Oscar… — indecisa, murmurei entre os beijos.
— Enquanto você se nega para mim, que estou totalmente entregue, aquele russo está se
divertindo com a tal mexicana e com outras também. Um vizinho me falou que ele fez uma orgia
lá, encheu de mulheres e passou a noite toda comendo todas elas. Esqueça esse homem, meu
amor. Me dê uma chance — disse, englobando meu ser de ódio, em seguida, mordeu meu
pescoço e apertou minha bunda, fazendo-me gemer.
— Sim… — falei, com sede de vingança.
— Sim, o quê? Luciana?
— Vou te dar essa chance. Vamos para sua cama.
Imediatamente, Oscar me colocou nos braços e me levou até sua cama enorme. Na
sequência, ele tirou a roupa e depois foi me despindo do meu vestido, me deixando totalmente
envergonhada, pois seu toque não me acendia e me deixava solta como o daquele russo safado.
— Não tenha vergonha, Luciana… — pediu ele, com a voz rouca.
Engoli seco, tentando me concentrar, mas antes fiz um pedido:
— Use camisinha, por favor.
— Ok, meu amor.
Escutei o barulho da embalagem do preservativo sendo retirado, e logo depois ele ficou por
cima de mim, me beijando com loucura e descendo os lábios pelo meu corpo. Posteriormente,
voltou a tomar meus lábios e separou minhas pernas com um joelho.
— Porra, Luciana, eu sempre te desejei. Se entregue pra mim.
Tentei manter o foco nele e fechei os olhos.
— Ok, Oscar, me come.
— Sim! Eu sempre quis isso, gostosa — ele rosnou e começou a me penetrar, mas não
consegui sentir nada, nenhuma vontade de dar, nenhum resquício de prazer, a investida me
incomodava um pouco, pois não fiquei lubrificada.
Ainda de olhos fechados, comecei a relembrar de Dimitri e sua pegada animalesca,
selvagem e gostosa. Me mordi, imaginando-o me comendo e Oscar aumentou o ritmo.
— Meu Deus, você é deliciosa!
Gemi alto, apertando seus ombros fortes e fiz uma loucura:
— Isso, Dimitri, ahh!
No mesmo instante, Oscar parou de se movimentar e eu abri os olhos, com medo.
— Porra! — ele berrou furioso, assustando-me. — Você falou o nome dele! Estava
pensando nele, Luciana?
— Me-me desculpe, Oscar… — murmurei envergonhada, com os lábios trêmulos, ainda
acuada pelos seus gritos e ele aliviou a voz, saindo de cima de mim e se deitando do lado.
— Me desculpe por gritar. Merda, fiquei com ódio.
— Eu... eu estou confusa. Entenda que eu sempre te vi como um irmão... me desculpe —
nervosa, puxei o lençol para me cobrir.
— Você tem que esquecer essa porra! — ele exigiu, elevando a voz, irritado. — EU TE
AMO! Aquele desgraçado está fodendo as outras e não está nem aí para você! Eu me preocupo
contigo!
Comecei a chorar e Oscar ficou preocupado, me abraçando possessivamente e beijando o
topo de minha cabeça. Aquilo me assustou.
— Não chore, meu amor.
— Eu não quero fazer sexo. Por favor, não insista. Não tô preparada ainda. Tenha
paciência comigo… — pedi contra seu peito, morrendo de medo de sua reação.
— Ok, coelhinha, eu terei. Mas me diga que ficará aqui em minha casa, por favor. Me sinto
tão solitário.
— Fico, sim. E obrigada por ser tão compreensivo — fiquei mais calma, embora algo em
meu coração me alertasse de que eu estava fazendo merda.
— De nada, meu amor — ele continuou abraçado a mim, até que me perdi no sono.
NOS DIAS QUE SE DESENROLARAM, Oscar gradativamente restringia minha liberdade,
trancando-me em sua residência, levando consigo a chave. No começo pensei que fosse
esquecimento, ou algo do tipo, porém, estava virando rotina.
Assim que ele chegou, naquela noite, decidi confrontá-lo sobre suas ações.
— Oscar, por que me trancou? Eu planejava passear com Pandora, mas sempre que sai, me
deixa confinada. Não posso aceitar isso! — argumentei, segurando a coleira da minha fiel
companheira.
Seu vulto se aproximou, e ele segurou em meus ombros.
— Calma, meu amor, é para sua proteção. Esta tarde sairemos juntos. Certo? — ele me
abraçou possessivo e tentou me beijar, mas parecia tão estranho.
— O que aconteceu, Luciana?
— Nada, é que estou com dor de cabeça. Vou deitar, amanhã saímos — dei um sorriso
forçado, nervosa.
— Certo, meu bem.
Ao fechar a porta e trancá-la, sentei-me na cama, repleta de apreensão, pois sabia que havia
algo de errado com o meu melhor amigo, e não pude ignorar a pressão forte em meu peito,
causando-me uma sensação desesperadora e nada boa.

No dia seguinte, saí para passear com Oscar e Pandora. Ele parou em uma cafeteira e pediu
licença para ir ao banheiro. Nesse momento, minha mãe ligou.
— Oi, mamãe. Por que não ligou do seu número? Essa não é a sua música de contato.
— Tentei te ligar por vários dias, mas seu celular sempre estava desligado. Pensei que meu
chip estivesse com problemas. O que está acontecendo, filha? Você bloqueou meu número? —
mamãe, cheia de preocupação, me questionou.
— O quê? Não! Não teria como fazer isso, estou sem enxergar!
— Filha, por que escondeu que estava com o Oscar, na casa dele? Você enlouqueceu,
Luciana? Perdeu o juízo? — ela parecia furiosa, e eu me arrependi por não falar nada.
— Mamãe, acalme-se! Estou seguindo minha vida. Dimitri me desprezou, estou dando
uma chance ao Oscar. Pelo menos ele tem coragem de expressar seus sentimentos — retruquei.
— Você não gosta do Oscar! — sua voz elevou. — Está cometendo um erro, garota.
Tantos homens no mundo e você escolhe logo o que não gosta. Você vai sofrer! — disparou.
— Estou muito bem, mamãe! — menti, tomada pela teimosia.
Oscar se aproximou, perguntando quem era.
— Ah, minha tia querida! Posso falar com ela?
— Sim — entreguei o celular a ele, que começou a conversar com mamãe, ressaltando que
tudo o que ele mais queria era me proteger.
De repente, ele parou de falar.
— Oh, que pena, a ligação caiu — me devolveu o aparelho segundos depois. — Tome,
amor. Depois você liga para ela.
— Ok — peguei o aparelho e o guardei em minha bolsa.
— Querida, o que sua mãe disse? — perguntou, curioso.
— Ah, nada demais. Só achou que eu havia bloqueado o número dela, pois ligou várias
vezes e não deu certo.
— Nossa, que estranho, coelhinha. Acho que seu celular está com defeito. Posso olhar
depois e levar para o conserto.
— Tá bom. Obrigada, Oscar.

Dias depois, chegou a viagem que Oscar faria a Alemanha e decidi não o acompanhar,
devido aos compromissos profissionais que selei com a academia de Dimitri.
— Tenho que ir, meu amor. Mas me prometa algo — ele segurou meu rosto com
possessividade.
— O que, Oscar? — franzi o cenho, evitando encará-lo.
— Não vai atrás dele, daquele russo — seu pedido tinha raiva nas palavras.
— Eu nunca fui atrás dele, e você sabe disso! Durante todos os dias que estive aqui, só saí
com você. Não quero aquele desgraçado — afirmei com ódio, e Oscar pareceu acreditar em mim.
— Que bom, meu amor. Vou confiar em você. Está aqui minha chave da casa, pode
chamar alguma amiga para ficar aqui, se quiser. Volto em dois dias.
— Certo, mande lembranças para seus pais.
— Certo, minha coelhinha — ele me beijou, indo embora em seguida.
Já eu, exausta que só, decidi me deitar e adormeci mais um pouco.

No dia seguinte, após uma consulta médica, recebi uma ligação da minha assessora,
informando que não poderia entregar um documento que exigia minha assinatura, pois estava
acompanhando a mãe no hospital. Infelizmente, precisaria ir à academia de Dimitri, não havia
outra escolha.
Estava com raiva, claro, e não tive ânimo de trocar de roupa, indo com minha vestimenta
de treino. Chamei o táxi, com Pandora sempre ao meu lado.
Vinte minutos depois cheguei à academia, procurando pelo gerente, mas não o encontrei.
— Oi, Luciana, tá procurando alguém? — Alonso se aproximou.
— Sim, o gerente. Preciso assinar um papel e queria falar com ele.
— Bom, eu o vi ir à sala do Dimitri — ele informou.
— Aff! — bufei, rolando os olhos ao ouvir o nome daquele russo.
— Mas acho que Dimitri está na outra ala, treinando os clientes dele — acrescentou,
percebendo meu desconforto.
— Ok, vou lá. Obrigada, Alonso! — segui até a sala daquele ogro e, ao tocar na porta,
notei estar aberta. — Olá?
O cheiro dele impregnou em meu nariz, e eu recuei.
— Luciana? O que quer aqui? — perguntou surpreso, naquela voz grossa que me deixava
louca.
— Eu... eu vim assinar um papel importante, do contrato com a loja de máquinas. A data
limite é hoje — expliquei, tentando conter as reações que ele causava quando chegava perto de
mim.
— Ah, tá bom. A irmã do Alonso deixou aqui na minha mesa, a coitada saiu desesperada
para o hospital porque a mãe deles está mal.
— Entendi.
— Sente-se, vou pegar uma caneta para você — instruiu calmamente.
— Ok.
Me sentei na cadeira extremamente nervosa, e ele veio por trás para entregar a caneta.
Senti seu corpo tocando o meu e percebi que ele estava sem camisa, todo suado.
— Você tá sem camisa por quê? — perguntei sem querer, engolindo em seco.
— Tô suado pra caramba porque estava em um treino pesado e vim tomar um banho, mas
você entrou na sala — ele se explicou.
— Sei. Vou assinar logo, preciso ir embora… — peguei a caneta, e minha mão tremeu.
Porra!
Ele colou o rosto no meu ouvido e sussurrou:
— Vai para a casa daquele desgraçado, não é?
— Vou sim! E isso não é da sua conta. Me ajude a assinar essa porcaria, vamos!
Dimitri segurou minha mão, ajudando-me a deslizar a caneta sobre o papel, porém, ao
sentir o toque de sua pele quente, fiquei arrepiada e soltei um gemido involuntário.
Ele percebeu e começou a me provocar.
— Tá nervosa, não é?
— Não! — balancei a cabeça e me levantei enfurecida, puxando a coleira da cachorra e
indo em direção à porta, mas ele me agarrou por trás.
— Você está tão gostosa nessa roupa de academia. Olha esse rabo…
— Me solta, Dimitri! — pedi, com a respiração se tornando entrecortada mediante seu
toque.
— Nossa, está muito estressada. Ele não tá te fodendo gostoso, não é?
— Ele me fode muito gostoso! — menti, respondendo em tom provocativo, tentando ser
firme, cheia de raiva e tesão.
— Mentirosa! Duvido que ele te fode com força e gostoso como eu — disse, todo
convencido, seu hálito raspando em meu rosto, suas mãos grandes apertando minha cintura com
firmeza, deixando-me arrepiada da cabeça aos pés.
Foi o suficiente para que eu soltasse a coleira de Pandora, ofegante e excitada, arranhando
seus braços.
— Me solta, Dimitri — gemi ao implorar, perdendo minhas forças enquanto tudo em mim
latejava, desde o meio das minhas pernas até a minha alma.
— Não! — o russo safado passou as mãos por cima do meu top, apertando meus seios.
Depois, deslizou uma mão até o meio das minhas pernas e sussurrou em meu ouvido, com aquela
voz que me deixava molhada.
— Porra, Luciana, eu tô louco pra te comer... Louco de saudades dessa sua boceta, desse
seu corpo...
O prazer estava a mil, e eu me mordi, piscando sem parar. Em seguida, Dimitri enfiou sua
mão enorme por dentro da minha calça e calcinha, acariciando minha intimidade molhada.
— Cacete, eu sabia! Tá molhada demais — constatou, com a voz carregada de tesão e
depois retirou a mão, afastando-se de mim.
— O que você está fazendo, Dimitri? — inquiri nervosa, sentindo meu coração bater tão
forte que parecia que iria saltar pela boca. A porta foi fechada com chave, e eu surtei. — Abra
essa porta, eu vou embora!
Ele se aproximou, apertando minha cintura, me encurralando contra a mesa onde
costumava trabalhar.
— Você não quer ir embora, você quer me dar! Diga que não sente falta da minha pegada
bruta, metendo com força nos seus buracos… diga, safada! — Dimitri falou, todo bruto, com a
boca colada na minha, excitado ao extremo, e eu fiquei mais doida ainda.
— Não! Eu te odeio! Você está fodendo com todas! — gritei enciumada, contra seus
lábios.
— Desde que você saiu da minha vida, eu não fiquei com ninguém! — ele retrucou,
afirmando com sinceridade, mas eu não conseguia acreditar, devido aos ciúmes.
— Mentira! — bradei. — Você é um cachorro, tarado, insaciável!
— E você gosta, não é? — ele prendeu meus pulsos por trás das minhas costas com suas
mãos e me beijou loucamente.
Não suportava mais me negar a esse homem, e recebi a sua boca com desejo. Depois, ele
soltou meus braços e apertou minha bunda com as duas mãos, enquanto puxava seus cabelos
com raiva, ensandecida.
Estava com tanto, mas tanto tesão por esse homem, que comecei a tremer.
Ele mordeu meu pescoço com raiva e percorreu as mãos até meus seios, levantando meu
top e deixando-os à mostra. Sem esperar mais nada, caiu de boca e os chupou alternadamente
com vontade, mordendo meus mamilos, literalmente me judiando. Logo depois, o ouvi derrubar
as coisas no chão, causando uma confusão tremenda.
A atmosfera estava carregada de desejo proibido, e eu me entreguei ao momento ardente e
intenso, incapaz de resistir ao magnetismo avassalador de Dimitri.
— Se deita na mesa! — Dimitri exigiu, rosnando.
Imediatamente o obedeci, e ele veio para cima de mim, continuando a morder e chupar
meus seios, fazendo-me choramingar.
— Que saudade desse corpo, meu Deus — ele grunhiu contra meus bicos intumescidos,
deixando-os sensíveis e molhados de tanto que mordia e puxava, a quentura de sua boca fazendo
o prazer latente irradiar em meu corpo.
Seus lábios famintos deslizavam pela minha barriga, deixando rastros de beijos e saliva,
descendo um pouco mais até chegar no meio das minhas pernas.
Ele foi puxando minha calça legging junto à minha calcinha com certo desespero,
retirando-as por completo do meu corpo e atirando em um lugar qualquer. Senti seu rosto contra
minha intimidade, e sua barba roçou em meus lábios vaginais. Ele parecia inalar o cheiro da
minha boceta como um animal, apertando minhas coxas com força, fazendo meus pés se
ampararem na base da mesa.
— Porra, senhor! — o russo berrou e caiu de boca em minha abertura molhada, fazendo-
me gritar.
— Ohh! — cravei minhas unhas em seus cabelos e os puxei com força, esfregando-me
nele, meu corpo ficando pequeno debaixo do seu. — Porra, Dimitri!
— Que boceta gostosa! — Dimitri rosnou cheio de tesão, com a boca afundada em minha
carne, com fome, arrebatando-me com loucura.
Me tremi mais ainda, pois o prazer era insano. Depois de me fazer desmanchar em um
orgasmo, ele se afastou, e ao se aproximar, senti sua ereção volumosa penetrando devagar em
minha boceta, seu corpo se inclinando sobre o meu e sua testa colada à minha.
— Meu Deus, eu estou louco de saudades de você, Luciana — expressou com a voz rouca,
desesperado de desejo.
— Eu também! Me fode com força, eu imploro! — implorei, fora de mim, necessitada de
seu toque animalesco.
Dito isso, ele acelerou as estocadas, sem dó, apertando meus quadris com as mãos grandes
e grossas.
— Ahh!! Que gostoso! — Dimitri grunhiu contra minha boca, me beijando cheio de
paixão, de fogo, e depois ficou em pé, gemendo loucamente o quanto me queria. — Porra, que
visão! Eu sou louco por você, mulher.
Ele meteu com mais força ainda, minha boceta esmagando seu pau, e o barulho de nossos
corpos se batendo intensificou, ecoando pelo ambiente.
Senti seu mastro enorme bater na parede do meu útero várias vezes, e um orgasmo de outro
mundo veio com tudo.
Sua selvageria me deixava louca.
— Isso, mete com força, acaba comigo, seu russo filho da puta! — gritei, no auge da
loucura.
Nossos corpos estavam suados, e eu me abri toda para ele, que se deitou novamente em
cima de mim e me beijou ferozmente, com devassidão, me dominando com maestria,
reivindicando meu corpo sem pena.
Arranhei suas costas suadas e gemi em sua boca, quase gritando e chorando com o prazer
absurdo que eu sentia.
Nossa foda era dura, necessitada, selvagem, me levava ao delírio.
— Ahh, Dimitri! — murmurei arfante contra seus lábios.
— Como é bom meter com vontade em você, Luciana! Toma!
— Ah, seu cachorro! Isso! — afundei minhas unhas em seu bumbum durinho, o
incentivando a me foder mais forte.
— Confessa que estava com saudade de mim, do meu pau, confessa!
— Sim! Eu estava louca pra te dar!
— Ahh, gostosa! — o safado estocou de forma animalesca, com um vigor insaciável,
arrancando gritos descontrolados de minha garganta. — Isso, grita com meu pau todo enterrado
em você! Caralho, que saudade de ti, minha brasileira! — a força que ele impunha contra o meu
sexo fazia a mesa ranger, mas nem isso me tirou do foco, do torpor extasiante que tomou conta
de mim.
Dimitri rugiu, ensandecido com nossa foda dura e suada, apertando meus seios com força,
se declarando ao afastar a boca da minha:
— Você é tão linda, tão gostosa, mulher... Eu sou louco por você!
— Soca com mais força, Dimitri. Oh!! — implorei mais uma vez, puxando o ar até os
pulmões com dificuldade.
A força com que ele arremetia seu quadril contra o meu era descomunal, arrancando gritos
chorosos de minha garganta, palavras desconexas, uma gama de sentimentos intensos e
inexplicáveis, e numa estocada totalmente dura e gostosa, acabou gozando dentro, se desfazendo
comigo, colando o rosto no meu e falando, quase sem ar:
— Caralho, meu coração vai explodir… o que foi isso, meu Deus?!
Respiramos ofegantes, e ele beijou meu rosto tomado pelo suor, ternamente, com devoção.
— Eu estava com tanta saudade, Luciana. Meu Deus, nunca fodi tão gostoso em minha
vida. Tudo contigo é perfeito. Deixe aquele merda, eu imploro.
Quando ele pediu isso, arfando, o empurrei de cima de mim, o assustando.
— O que foi?
— Por favor, me dê algo para me limpar, Dimitri — pulei da mesa, batendo no móvel e
minha expressão facial endureceu.
— Ok — ele foi até seu banheiro e em seguida me deu uma toalha.
Me limpei, principalmente em minhas partes íntimas, sentindo o cheiro forte de seu
esperma, totalmente envergonhada, pois não usamos camisinha, e tentei me agachar para pegar
minhas roupas do chão.
— Espera, eu pego pra você — ele me deu as roupas, e eu comecei a vestir rapidamente,
meio desengonçada. — O que está fazendo? — o russo perguntou sem entender, ao se
aproximar.
— Me vestindo, está cego? — respondi secamente.
— Porra, Luciana, a gente fez amor! Você não diz nada? — ele disse, irritado.
— Amor? — franzi minhas sobrancelhas e encarei o vulto de seu rosto, voltando
totalmente à razão. — Você só me fodeu, como fez e faz com as outras! Isso foi um erro! — eu
disse, possessa.
Dimitri se desesperou e tentou me segurar.
— Por favor, deixe aquele homem! Eu não suporto mais viver longe de você!
— Mentira! — me debati em seus braços, enciumada. — Você fez uma orgia na sua casa!
Comeu todas!
— Quê? Isso é mentira! Nos últimos dias, eu estou morando com Ekaterina... Em breve
vou embora daquele apartamento, minha casa está quase pronta! — Dimitri se defendeu. — Foi
o Oscar que inventou isso, não foi?
— Me erra, Dimitri! — o empurrei e, ao terminar de me vestir, ele me agarrou novamente,
segurando meu rosto, falando em russo:
— EU TE AMO!
Fiquei emocionada ao ouvir pela primeira vez sua declaração, e graças às aulas de
Ekaterina, compreendi o que ele disse.
— Acho que é tarde demais para você dizer isso... — retirei suas mãos bruscamente de
meu rosto e me afastei. — Continua sendo um covarde, falando em russo.
— Como você sabe?
— Sua irmã me ensinou — revelei com tristeza. — Eu pretendia me declarar em russo para
ti — as lágrimas se acumularam em meus olhos e minha voz embargou —, mas, infelizmente,
você estragou tudo.
Dimitri se ajoelhou diante de mim, desesperado, agarrando-se em minhas coxas.
— Luciana, por favor, não me abandone. Eu preciso de você. Você é minha vida.
— Sua vida? Você só vive o momento, Dimitri. Foi isso que signifiquei para ti — rebati
amargurada.
— Eu... EU TE AMO... — ele se declarou em inglês, com a voz embargada e meu coração
disparou.
Cada sílaba ressoava como um eco doloroso, reverberando na sala carregada de emoções
intensas. Por alguns segundos, fui tomada pelo choque, e ele aguardou uma resposta que talvez
eu não tivesse coragem de dar.
— Vou embora. Adeus, Dimitri — o empurrei, peguei Pandora e abri a porta, sentindo
como se o ranger da maçaneta quebrasse algo dentro de mim.
Deixei para trás o ar impregnado de palavras não ditas, de promessas desfeitas, enquanto
me afastava, lágrimas queimando meu rosto em trilhas silenciosas.
O coração apertado, como se estivesse sendo esmagado por uma força invisível, e a dor da
despedida se misturaram em um turbilhão de emoções.
Atrás de mim, a porta se fechou com um estrondo surdo, encapsulando o fim de um
capítulo e o começo de um novo luto emocional.
VESTI MEU CALÇÃO RAPIDAMENTE e corri até Luciana, não podia permitir que ela
voltasse para aquele desgraçado.
— Luciana, espere!
Ela continuou andando a passos rápidos, chorando revoltada enquanto Pandora a
acompanhava, mas eu consegui puxar seu braço, trazendo seu corpo de frente ao meu.
Inclinei meu rosto até o dela, e ficamos cara a cara.
— Me solte! — ela pediu, tentando me empurrar com a mão livre.
— Por favor, não volte pra ele! — implorei sofregamente.
Estávamos em um corredor escuro, antes da saída para a parte em que a academia
funcionava, e ela me encarou, chorando.
— Eu vou sim! Ele me ama de verdade!
— Ele é um psicopata, Luciana! — berrei, com raiva de sua teimosia.
— Para de dizer isso! — ela retrucou, com o dedo em riste em meu peito. — O Oscar
sempre foi meu melhor amigo, eu o conheço há anos!
A encurralei na parede e segurei seu rosto, desesperado, declarando-me cheio de paixão:
— EU TE AMO... TE AMO! — lágrimas caíram de meus olhos, e ela chorou mais ainda.
— Eu sei que você também me ama, me perdoe por não ter dito antes. Eu falava em russo, e
eram declarações... Sou totalmente louco por você... Volte para mim, minha brasileira.
— É tarde demais, Dimitri — ela balançou a cabeça negativamente, com o olhar cheio de
decepção. — Eu não vou voltar só porque você me fodeu gostoso, esse é seu modus operandi,
seduz com uma bela foda! Não caio mais na sua lábia!
— Porra, mulher, não é só uma foda! É A FODA... A melhor... Eu não desejo mais
ninguém além de você... O que eu preciso fazer para você voltar pra mim, me diga?
— Nada. Me solta, já conseguiu o que queria, agora me deixe ir — ela respondeu
friamente.
— Luciana, por favor...
— Volte para sua Carmem! Não estavam morando juntos?
— Não! Eu só estava a protegendo!
— Oh! Tão bonzinho! E, em troca, ela te deu todos aqueles dias, não foi? — a brasileira
me acusou, possessa de raiva.
— Não fale bobagens!
— Me solte agora, seu russo desgraçado! — ela se debateu, aos gritos.
— Que diabos aquele homem fez contigo? Você está cega, mas não é só da vista! Ele não
presta!
— Me solte, eu vou voltar para a casa dele.
— Pra quê? Pra se entregar a ele? — explodi aos gritos, enciumado para caramba.
— Seu cachorro! — Luciana se enfureceu e me empurrou com toda força, estapeando meu
rosto.
— Ahh! Para! — detive suas mãos e tentei beijá-la.
— Eu não quero seus beijos, Dimitri! Prefiro beijar o Oscar!
Quando ouvi aquilo escapar de seus lábios, a soltei, decepcionado, e trinquei minha
mandíbula, inconformado.
— Então é isso... — murmurei, desolado.
— Sim! Me esquece!
Ela foi se retirando, mas antes lhe dei um aviso:
— Essa será a última vez que me declaro para você. Se você sair por essa porta, nunca
mais vou atrás de ti.
A brasileira ficou parada por alguns segundos, respirando pesado, mas depois foi embora,
puxando a coleira de Pandora.
Luciana fez sua escolha, e isso partiu meu coração em mil pedaços.
A perdi definitivamente para aquele desgraçado.
E mais uma vez meu coração estava dilacerado.

Peguei um táxi logo depois de sair da academia e pedi para me deixar na casa de Oscar. Ao
chegar lá, decidi tomar um banho, pois estava impregnada com o odor daquele homem, e passei
um bom tempo me lavando. Após o banho, me deitei na enorme cama de Oscar e comecei a
chorar intensamente, dominada por uma avalanche de emoções, uma mescla de ódio, tristeza,
rancor, vingança e saudade.
Relembrar da foda com Dimitri me deixou ainda mais perturbada.
Ele sabia me satisfazer como ninguém, conhecia cada toque que me enlouquecia. Apesar
de sua habilidade em me fazer sentir desejada, as lembranças de sua covardia e insensibilidade
anterior me traumatizaram. Segurei meu celular, tentada a ligar para ele e expressar meu
arrependimento, mas logo desisti da ideia.
— É melhor você ficar no passado, Dimitri... Não temos nada a ver um com o outro...
Após muito tempo chorando, adormeci.
Dois dias se passaram, e hoje o Oscar retornaria. Como ele avisou que chegaria tarde,
decidi ir oftalmologista pela manhã. Ao chegar em sua casa por volta das 10 horas, fui
surpreendida.
— Olá, Luciana — Oscar falou ao me ver entrando com Pandora.
— Oscar? Pensei que você viria à tarde!
— Está assustada? — ele perguntou desconfiado.
— Não, é que... eu ia preparar algo especial para você, pedir uma comida diferente.
— Sei — vislumbrei seu corpo se aproximando de mim, ainda embaçado, e ele me agarrou
pela cintura. — Que saudade eu estava de você, meu amor... — ele me beijou com paixão, e eu
tentei me acostumar com seus toques. Ao descer a boca pelo meu pescoço, ele parou.
— Que diabos é isso, Luciana? — tomei um susto com seu grito.
— O que foi? — indaguei sem entender.
— Tem um chupão no seu pescoço! Você ficou com aquele canalha, não foi? — ele gritou,
revoltado.
Eu nunca havia visto esse lado dele, e isso me deixou com muito medo.
— Oscar, se acalme! — ergui as mãos, nervosa. — Deixe-me explicar! Eu... eu fui assinar
um papel na academia e... — balbuciei, com os lábios tremendo, sem conseguir terminar a frase.
— E O QUE, PORRA? — ele gritou novamente, num tom agressivo, fazendo-me tremer
ainda mais.
— Dimitri me agarrou, me beijou e mordeu meu pescoço, foi só isso! Não aconteceu mais
nada!
— QUÊ? — ele vociferou contra meu rosto, mais enfurecido, apertando meu pescoço com
uma mão e me fazendo recuar, a cabeça batendo com força na parede. — Virou uma puta agora?
Só esperou eu viajar para ir correndo dar para ele que nem uma cadela no cio, não foi? —
questionou, lançando xingamentos, possesso.
— Oscar, me solte! — tentei afastar sua mão forte de meu pescoço com minhas mãos. —
Estou sem ar.... — senti minha garganta doer e uma dor irradiar para minha cabeça, devido à
falta de oxigênio.
No entanto, ele não se conformou e apertou meu pescoço com mais força, meu corpo
levantando do chão, meu fôlego escapando, minha mente quase à beira da inconsciência.
— Você traiu minha confiança! Me responda: deu pra ele?
— Na-Não... — neguei num fio de voz, morrendo de medo.
Oscar me soltou, mas ainda permaneceu com os braços na parede, olhando-me furioso.
Passei as mãos em meu pescoço e soltei uma lufada, recuperando meu fôlego.
Furiosa pela forma como me tratou, comecei a bater nele.
— Seu louco! Ahh! — desferi socos contra seu peitoral, mas ele me deteve e depois me
arrastou para seu quarto, puxando-me pelo braço e jogando-me com brutalidade em sua cama.
— Agora você vai me dar com gosto, mesmo que não queira, sua vadia!
— Não! Oscar, se controle! Não estou te reconhecendo! — implorei chorando, me
arrastando para o topo da cama.
— Cala a boca, vadia! — Em minha visão borrada, o percebi tirando a roupa e vindo para
cima de mim com tudo, puxando meus tornozelos com violência até si, sobrepujando o corpo no
meu e prendendo meus pulsos com suas mãos grandes e fortes, tentando me beijar à força.
— Para, Oscar!
— Você não me deu, fez cu doce esse tempo todo, me fazendo de otário, mas foi só ir para
academia que abriu as pernas facilmente para aquele filho da puta, não é, Luciana? — rugiu
contra minha boca.
— Me solte! Socorro! — gritei, desesperada.
— Cale-se, porra! — enfurecido, ele desferiu um soco no meu rosto, na parte da bochecha
direita, e senti o gosto de sangue na minha boca.
Gritei de dor, e chorei desesperada.
— É melhor ficar calada se não quiser apanhar mais! Você se comportou como uma puta!
Não merece meus carinhos! — o infeliz rasgou minha roupa e tentou me estuprar.
— Pare, por favor! — clamei, me tremendo por completo, debatendo-me. Pandora
começou a latir e, ao ver meu desespero, pulou em cima da cama e mordeu a perna dele com
força, fazendo-o gritar de dor.
— Ahhh! — ele ficou furioso e a chutou com força, a coitada gemeu de dor e ficou atirada
no chão, imóvel. — Cachorra desgraçada!
Aproveitando que ele não estava em cima de mim, sobressaltei da cama e me ajoelhei no
chão, tateando o piso de madeira até achar a pobre cachorra, que gemia sofregamente.
A abracei.
— Pandora! Não morra, por favor! Seu infeliz, eu te odeio! — ergui meu rosto até a
imagem borrada dele e vociferei.
Bipolar para caramba, Oscar aliviou seu tom de voz, se desculpando:
— Meu Deus! O que eu fiz? Me perdoe, Luciana... Eu... eu fiquei fora de mim... Você me
traiu!
— Vá para o inferno! — ele tentou me tocar, mas eu chutei suas mãos. — Se a Pandora
morrer, eu te mato! — ameacei entredentes, ainda abraçada a ela.
— Me desculpe, querida. Tive um surto de fúria — Oscar começou a chorar, pedindo
perdão. — Luciana, me perdoe. Eu... eu te amo... não aceito te perder para aquele desgraçado! Só
quero te proteger. Vou levar a cachorra para uma clínica, agora mesmo!
— Não! — ergui uma mão. — Não toque nela!
Ele se lamentou.
— Tudo bem, vou ligar para um veterinário vir aqui. Vista a roupa. Ah, e só um aviso: se
você disser algo sobre o que aconteceu aqui, eu mando matar aquele russo. Entendeu, Luciana?
— sua ameaça soou completamente séria.
Morri de medo.
— Sim... Eu não vou dizer nada, só quero que Pandora fique bem. Eu preciso dela —
prometi, soluçando.
— Eu sei, meu amor. Logo, logo iremos nos entender e passaremos uma borracha em tudo
o que aconteceu. Pode ficar aqui no meu quarto, vou para o quarto de hóspedes — disse, mas não
acreditei em nenhuma palavra.
Quando ele saiu do quarto e fechou a porta, chorei sofregamente e passei a mão onde ele
me agrediu. Em silêncio, pensei o que estava fazendo da minha vida. Por que não ouvi Dimitri?
Eu não imaginava que o Oscar era assim...
Precisava fugir daqui!
Enquanto sentia o gosto salgado das lágrimas, percebi minha própria fragilidade. Como
pude me enganar? Como deixei esse relacionamento chegar a esse ponto?
O quarto, que antes me parecia um local aconchegante, agora parecia uma prisão
sufocante.

Após alguns minutos, ouvi uma voz masculina vinda da sala, me levantei, e ao tocar na
maçaneta da porta, notei estar aberta. Aproveitei e fui até o corredor, me escorando na parede
para escutar a conversa.
— Olá, vizinho — o estranho falou, possivelmente era o tal veterinário. — O que houve
com essa linda menina? Ela é um cão-guia.
— Olha, Victor, eu a achei na rua, caída no chão e decidi trazê-la para casa. Eu amo
animais, sabe? — Oscar mentiu descaradamente.
— Ah, cara, você tem um grande coração. Vou examiná-la — após um tempo, Victor deu
seu diagnóstico: — Bom, ela está com hemorragia interna, precisa ser internada agora. Olha, eu
tenho uma clínica e posso fazer um bom preço. Essa coitada foi muito machucada, a pancada foi
forte.
— Oh, Jesus, então tá. Pode levá-la, eu pago tudo. Quanto tempo ela ficará internada,
Victor? — perguntou Oscar, se fazendo de bom moço.
— Não sei, depende do pós-operatório. Mas eu aviso.
— Ela vai sobreviver? — Oscar fingiu preocupação.
— Vai sim, ela é forte — ao ouvir a afirmação do rapaz, pus a mão no peito e fechei os
olhos, aliviada, as lágrimas rolando por minha face.
Voltei de fininho para o quarto e fechei a porta com cuidado, indo em direção à cama e me
deitando lá. Oscar surgiu após um tempo.
Ele se aproximou.
— Sua cachorra já foi, vai ficar internada por um bom tempo. Talvez nem sobreviva,
coitada — disse com desprezo, o que me enojou mais ainda.
— Quê? Não!
— Olha, se você se comportar, eu posso pagar os melhores tratamentos para ela. Só
depende de ti, Luciana...
— Ok! Eu vou me comportar — tentei me acalmar e abaixei o tom de voz, chorando em
silêncio e abraçando meus joelhos.
— Isso... boa menina — ele falou com sarcasmo, parecendo se divertir com meu
sofrimento e saiu do quarto, fechando novamente a porta na chave.

Dois meses se passaram, e eu permanecia em cárcere privado na casa de Oscar.


Tentei fugir umas três vezes, mas ele era mais esperto e me batia muito, até que eu
desmaiasse e então voltava a ser aquele homem carinhoso que eu conhecia.
As tentativas de estupro eram quase diárias, mas eu resistia, mesmo com o pouco de força
que me restava. Eu cuspia em palavras o quanto eu sentia nojo dele e o odiava, e só assim ele
desistia.
Decidi fazer greve de fome e ficar em silêncio.
Eu não confiava em mais nada que ele me desse para comer ou beber, preferia beber água
da pia do banheiro sempre que ele estava ausente.
Ainda deitada na cama, alisando meu rosto todo machucado de agressões, senti Oscar
sentar-se ao meu lado, mostrando-se falsamente comovido comigo.
— Me perdoe por tudo, meu amor, mas a culpa é sua. Deveria obedecer quem te ama —
ele segurou meu rosto à força, me fazendo encará-lo, no entanto, fingi não ver nada.
Até que um momento pensei em Kate, e em algumas vezes em que ela aparecia cheia de
manchas roxas e andava de óculos escuros com frequência, o que me fez perceber que, talvez, ela
também apanhasse de Oscar enquanto estavam casados.
— O que está pensando, coelhinha? — ele perguntou ao me notar pensativa.
— Você... você batia na Kate?
— Sim. Ela, às vezes, não se comportava e levava umas porradas, mas como me amava
loucamente, não tinha coragem de me denunciar. Esporadicamente, perco a paciência num piscar
de olhos, Luciana, mas me sinto tão mal... Eu te amo tanto, mas não suporto ser rejeitado! Olha,
vou te deixar sem algemas hoje, seus pulsos estão cheios de feridas. Preciso ir a uma audiência
urgente, faz dias que não trabalho. Daqui três horas eu volto. Promete se comportar?
— Sim — acenei com a cabeça, demonstrando subserviência, mas, no fundo, estava
mentindo.
— Se você aprontar, Dimitri morre, entendeu? — voltou a ameaçar, sussurrando em meu
ouvido, o tom de sua voz revelando o quão psicopata era.
— Eu entendi, querido. Quero ficar em paz com você.
Oscar segurou meu rosto e me beijou. Eu o deixei fazer isso, segurando a vontade
incontrolável de vomitar.
— Oh, coelhinha, espero que você esteja falando a verdade, quero tanto ter uma vida feliz
contigo. Se você se entregar de corpo e alma para mim, prometo não te bater mais.
— Certo, Oscar — sorri sem dentes, de cabeça baixa.
— Bom, eu já vou... Te amo.
Me mantive em silêncio e Oscar retirou as algemas. Meus pulsos doíam, estavam feridos e
ardiam em uma intensidade quase que insuportável.
Depois que ele se foi, corri para o banheiro, tateando as paredes e vomitei bastante. Eu
precisava de um banho, tanto para recuperar minha energia quanto para me limpar de toda sujeira
que estava submetida. Eu não tomava banho há dias. Tinha medo de Oscar tentar algo contra
mim em um momento vulnerável.
Oscar até parou de tentar fazer sexo comigo nos últimos dias. Na mente dele, ele me
conquistaria e quando eu estivesse totalmente apaixonada, transaríamos de forma consensual,
porém, isso nunca aconteceria.
Eu preferiria morrer a deixá-lo possuir meu corpo.
Após me enxugar, fui até a cozinha a fim de comer algo. Mas, ao sentir o cheiro do pão, fui
tomada por uma sequência de enjoo, e mais uma vez coloquei tudo para fora.
Eu estava assim há mais ou menos quatro semanas, muito enjoada e vomitando sem parar.
Talvez eu estivesse doente. Estava me alimentando mal, e a sequência de acontecimentos me
atormentavam dia e noite.
Eu não aguentava mais viver sob o domínio de Oscar. Não bastava me agredir, me
amordaçar, deixar-me trancafiada e amarrada; ele trazia mulheres diferentes quase todos os dias
para casa, mantinha relações sexuais com elas, de modo que eu escutasse ou presenciasse tudo.
Não era como se eu me importasse, mas era torturante a maneira como as coisas se
sucediam. Eu ouvia gritos e gemidos de prazer, a sujeira resplandecendo no outro lado da parede,
submetendo-me a náuseas incontroláveis. E tudo piorava quando suas visitas iam embora, ele
vinha até mim e jogava na minha cara que tudo era culpa minha, que poderíamos estar felizes e
evitar coisas assim, mas eu não colaborava, portanto, eu merecia toda aquela tortura.
Duas horas se passaram e eu estava no sofá, chorando e pedindo a Deus uma saída, até que
algo inesperado aconteceu.
Uma batida à porta ressoou, e não tive outra escolha senão ir até lá, colando o ouvido na
madeira.
— Quem é? — perguntei, com o coração acelerado.
— Ah, oi. Sou eu, Victor, o veterinário. Eu liguei pro Oscar, mas ele não atende há dias.
Queria avisar que Pandora está bem e recebeu alta.
— Ela... ela é minha cachorra. Eu reconheço sua voz...
— Por que não abre a porta, senhora? — o rapaz pediu, parecendo desconfiado.
— Estou trancada. O Oscar levou a chave consigo…
— Quê? — Victor pareceu chocado, e ao mesmo tempo seu celular tocou. — Oi,
Ekaterina, eu vou já, linda. Beijos.
Ao ouvir o nome da minha amiga, minha ficha caiu.
— Ei! Você é o namorado da Ekaterina, irmã do Dimitri? — perguntei sem rodeios.
— Sim... espera... como você sabe?
— Eu sou a Luciana, eu ficava com Dimitri! — revelei, com o rosto colado na porta,
munindo meu coração de esperanças.
— Meu Deus, você é a mulher cega! Pandora é sua cachorra, por isso lembrei dela de
algum lugar — Victor constatou, e comecei a chorar, implorando por ajuda.
— Sim, do aniversário da Ká! Victor, por favor, me tire daqui! Estou sendo espancada, ele
tenta me estuprar diariamente, me maltrata! Faz 2 meses que estou presa aqui!
— Meu Deus! — exclamou Victor do outro lado da porta. — Por isso eu achei estranho o
acidente da Pandora.
— Não foi acidente, Victor! Ele chutou minha cachorra quando ela tentou me defender de
uma tentativa de estupro!
— Filho da puta! Escuta, Luciana, fica calma, eu ligar para a delegacia agora mesmo.
— Certo, o agente Wilson me conhece, ele é meu amigo, diga que preciso de ajuda!
— Ok.
— Victor...
— Oi.
— Por favor, não conte nada ao Dimitri, por enquanto.
— Certo, mas de qualquer forma, ele não está aqui... Faz 2 meses que foi embora para a
Rússia.
— Meu Deus... — exclamei, chocada com a descoberta.
— Olha, fica quieta e se esse Oscar chegar, não fale nada. A polícia virá e vai arrombar a
porta, volto já — ele prometeu.
— Obrigada... — agradeci aos prantos, enquanto Victor ligava para a polícia.

Algum tempo depois de Victor sair para buscar Ekaterina, tive uma surpresa. Oscar chegou
de repente. Engoli em seco, supernervosa, tentando fingir que nada aconteceu.
— Cheguei, linda. Você está bem? — ele perguntou, jogando a mala no outro lado do sofá
e vindo até mim.
— Não muito bem, estou com vontade de vomitar.
— Tadinha, vou comprar uns remédios pra você... — ele se sentou ao meu lado e me
abraçou, beijando minha cabeça. — Sabe, coelhinha, quando você estiver apaixonada por mim
de verdade, poderemos ter até um filho. Eu não posso fazer filhos agora, porque fiz vasectomia
há anos...
— Quê? — arregalei os olhos, chocada, sem olhar para ele. — Era por isso que Kate não
engravidava? — o questionei.
— Sim, eu fiz escondido. Nunca quis ter filhos com ela. Meu sonho sempre foi ser pai dos
seus bebês... E, em breve, isso irá acontecer. Vou desfazer a vasectomia e teremos lindos filhos.
Não é? — ele segurou meu queixo com força, esperando uma resposta positiva.
— S-sim... Lindos bebês... — respondi com um sorriso falso, morrendo de medo, com a
voz trêmula.
— Oh, coelhinha, que bom que você está se conformando e percebendo que sou o melhor
para você. Eu te amo tanto! — ele expressou e tentou me beijar, mas fomos interrompidos pelas
batidas insistentes à porta. — Ué, quem será? — Oscar se perguntou, assustado, soltando meu
rosto de seu agarre forçado.
— Oscar, sou eu, amigão, o Wilson… Agente Wilson O' Connel. Pode abrir a porta, por
favor? — meu amigo falou do lado de fora, deixando Oscar nervoso.
— Merda! — ele xingou num sussurro. — Você precisa se esconder agora! — Oscar
levantou-se imediatamente e me puxou pela mão.
— Quê? Não! — me neguei, falando alto, pois não suportava mais essa situação.
— Vamos, porra! — ele se estressou e me puxou com brutalidade, quase me arrastando no
chão.
Movida pelo desespero, tomei coragem e gritei por socorro:
— NÃO! WILSON, SOCORRO! — clamei desesperada e Oscar me deu um soco que me
fez cair no chão, gemendo de dor.
A porta fora imediatamente arrombada e vários policiais adentraram com o meu amigo,
partindo para cima de Oscar, enchendo-o de porrada.
— Luciana! — Wilson se desesperou ao me ver quase desfalecida e muito machucada. —
Querida! — ele olhou para Oscar e o inquiriu: — O que você fez com ela, seu filho da puta?
Oscar estava no chão, com a cara cheia de sangue e decidiu se fazer de vítima.
— Ela sofreu um acidente... Só estou cuidando dela! Luciana enlouqueceu depois que
perdeu a família!
— Mentira! Você sempre foi obcecado por ela, seu merda, nunca me enganei contigo! Vou
te foder, Oscar! — Wilson o ameaçou, revoltado.
— Não me ameace, porra! Eu sou um advogado respeitado, nunca fui preso! — ele
retrucou, atrevido.
— Veremos! — meu amigo me colocou em seus braços, morrendo de pena de mim, e deu
ordem aos companheiros de trabalho: — Levem esse merda para a delegacia! Vou autuar os
crimes como cárcere privado, ameaça e agressão à mulher. Depois que Luciana abrir a boca,
talvez apareça outros crimes.
— Wilson, somos amigos, porra! Estudamos juntos! Tenha consideração por mim! —
Oscar tentou o manipular, mas foi em vão.
— Eu não tenho consideração por um merda que bate em mulher! Tirem ele da minha
frente!
Will, junto a outro policial, me escoltou até a viatura. Logo depois, ouvi a voz atordoada de
Ekaterina, que veio correndo com seu namorado, chorando desesperada ao notar meu estado
deplorável.
Estava um pouco inconsciente, tomada pela dor, pela exaustão, e não conseguia sequer
manter meus olhos bem abertos.
— Lucianaaaa! Meu Deus! — exclamou Ka.
— A senhora a conhece? — Wilson perguntou a ela.
— Sim, claro! Eu sou fisioterapeuta e amiga dela! Coitadinha, ela está muito machucada!
O meu namorado foi quem ligou para o senhor! — ela se explicou, pegando em minha mão com
carinho e cuidado.
— Eu agradeço seu namorado, se não fosse ele, Luciana poderia estar morta… — disse
Wilson com a voz embargada e furiosa. — Esse filho da puta a espancou demais! Vou levá-la ao
hospital, me sigam.
— Ok! — Ekaterina ficou desesperada, colocando as mãos na cabeça e tomando uma
decisão. — Preciso contar isso a Dimitri! Meu irmão não vai deixar barato!
— Di… Dimitri… — balbuciei o nome do homem que eu amava e me afoguei na
escuridão.
DEPOIS DE OUVIR da boca dela que preferia beijar aquele desgraçado, um buraco se abriu em
meu peito. A decepção veio com tudo, rasgando-me e dilacerando o meu ser.
Era por isso e por outras coisas que eu não queria me apaixonar, mas ninguém manda no
coração, e agora, eu acabei de perdê-la.
Após ela sair da academia, voltei para minha sala, fechei a porta e desabei em lágrimas.
Cada gota que caía de meus olhos doía, como uma facada em meu peito.
— Eu preciso te esquecer, Luciana. Eu preciso… — passados alguns minutos, tomei uma
decisão drástica. — Vou embora para a Rússia, passar um tempo lá... Só assim ficarei longe de
você.
Na verdade, essa viagem deveria ser feita nas minhas férias, e eu até pretendia convidar
Luciana para ir comigo e conhecer minha terra natal, mesmo sem saber se manteríamos o acordo
até lá. Mas agora, estava sendo uma rota de fuga.
De fugir da dor.
Após um dia intenso de trabalho, tentando fingir que nada aconteceu, voltei para a casa de
Ekaterina e Totó veio correndo, pulando em meus braços.
— Oi, meu amor... já estava com saudades do papai, né? — a enchi de beijos e, em
compensação, a safada lambeu todo o meu rosto.

Pensamento de Totó: “Estou sentindo o cheiro da minha mãezinha em você, papai


Dimitri! Será que vocês voltaram? Au Au!”

Ekaterina se aproximou, toda sorridente.


— Dimitrinho! Pensa em uma cachorra sentida! Ela estava chorando, sentindo sua falta.
— Coitadinha…, mas ela te mordeu, Ka?
— Não. A Totó me adora! Estávamos brincando com a bolinha e Victor deu um banho
nela, na banheira de princesa dela.
— Tá bom — sorri sem dentes, evitando encará-la.
Minha irmã franziu o cenho, pois me conhecia bem e sabia que eu estava tentando
disfarçar algo.
— Você está bem, irmão?
— Sinceramente, irmã... — fiz uma pausa dramática e suspirei pesadamente. — Não.
— Por quê?
Nos sentamos no sofá e eu tombei a cabeça, ainda com Totó no colo, que mordia minha
bolsa de treino.
— A Luciana... Ela foi hoje na academia e... a gente se pegou.
— Ahhhh! Aleluia! — minha irmã comemorou, mas depois me indagou: — E por que
você está tão triste, Dimitrinho?
Ao olhar de volta para minha irmã, uma lágrima caiu de meu olho, rolando rapidamente
por minha bochecha.
— Ela disse que preferia o Oscar... Me rejeitou — respondi, amargurado.
— Quê? —Ekaterina surtou, arregalando os olhos. — A Lu está louca? Meu Deus! Eu vou
ligar para ela agora! — ela tentou se levantar da cama para pegar seu celular, mas a detive,
fazendo-a ficar sentada.
— Não! Não faça isso! Ela já tomou a decisão dela…
— Mas, Dimitri, vocês se amam!
— Eu sei, eu disse isso para ela hoje, em russo e em inglês... Tomei coragem e finalmente
me declarei, mas não adiantou.
— Meu Deus! Sinto muito, irmão. Eu gostaria que vocês ficassem juntos — minha irmã
lamentou.
Totó lambeu minhas lágrimas e eu a abracei.
— Eu tomei uma decisão, Ekaterina.
— Qual?
— Vou embora para a Rússia, passar uns tempos lá. Adiantei minhas férias... Meus
gerentes e você cuidarão das academias.
— Mas, Dimitri, você vai deixar a Luciana ficar com aquele homem? Você tem que lutar
por ela!
— A luta está perdida e... estou muito ferido... Não suporto mais vê-la com ele — desabei,
apertando os olhos com sofreguidão.
— Ai, Jesus! — Ekaterina chorou comovida, me abraçando e Totó a lambeu, balançando o
rabinho de pompom.
— Por favor, cuide de Totó pra mim, Ka.
— Cuido sim, eu amo essa cachorrinha sapeca.
— Obrigado, irmã.

No dia seguinte, peguei um voo para São Petersburgo e fui para a casa de papai, passar um
tempo lá. Ele tentou me convencer a cancelar a viagem e ir atrás de Luciana, mas eu expliquei
que não conseguia mais, estava arrasado. Após uma semana na Rússia, recebi uma triste notícia.
A mãe de Svetlana, dona Nuria, havia falecido.
Eu a amava como uma mãe, pois ela me tratava como um filho, mesmo após a morte da
filha. Seus parentes pediram permissão para enterrá-la do lado da cova de Svetlana e Nastya.
Claro que cedi e fui ao seu enterro. Enquanto chorava silenciosamente, com meus óculos pretos
ocultando minhas lágrimas, as lembranças da minha ex-noiva vieram com força em minha
mente.
Quando eu tinha 15 anos, um evento devastador marcou profundamente a minha vida: a
morte de minha mãe, Emily.
No fatídico dia, ela foi em busca de meu pai, em mais uma de suas escapadas boêmias,
repletas de bebedeiras, e nos deixou aos cuidados de meu tio Yuri, que era sócio de meu pai nas
academias.
O casamento dos meus pais era tumultuado. Minha mãe, uma fã que se entregou
perdidamente ao amor por ele, encontrou-se numa união onde o esposo não compartilhava do
mesmo comprometimento monogâmico.
Ele, um lutador sedutor irresponsável, acumulava amantes enquanto suas vidas se
desenrolavam em ciclos intermináveis de brigas e reconciliações.
Meu pai experimentava breves períodos de sobriedade, longe de álcool e farras, mas logo
desaparecia novamente, entregando-se a outras paixões e deixando minha mãe em um estado de
desespero.
Num dia chuvoso, mamãe descobriu o paradeiro dele e foi confrontá-lo. O que se seguiu
foi uma cena dolorosa e tumultuada.
Em um bar, entre discussões acaloradas, os dois trocaram tapas. Meu pai, embriagado,
arrastou-a bêbado até o carro, iniciando uma viagem tumultuada, sob uma discussão intensa.
E então aconteceu.
O carro colidiu violentamente contra um poste, ceifando a vida de minha mãe
instantaneamente.
Meu pai foi preso, acusado de embriaguez ao volante e homicídio culposo. Apesar disso,
sua fama e recursos financeiros permitiram que cumprisse apenas três anos de detenção.
Aquela tragédia plantou em mim uma revolta profunda contra ele e contra a própria vida.
Busquei refúgio entre jovens problemáticos, envolvendo-me em brigas na escola e em qualquer
lugar, tornando-me um jovem agressivo.
Após um envolvimento em uma briga de gangues, fui parar no reformatório. Meu tio Yuri,
preocupado, investiu grandes somas de dinheiro para me tirar de lá e, ao fazê-lo, desferiu
palavras que ecoaram em minha mente:
“Vou levá-lo para minha casa na Rússia, junto com a sua irmã, e cuidarei de vocês
enquanto seu pai idiota está preso. Você precisa acordar para a vida, tornar-se um homem
responsável. “
Assim, permaneci com meu tio por um tempo em nossa terra natal. Quando meu pai saiu
da prisão, tentou nos procurar, porém nossa relação tornou-se cada vez mais tensa, e eu o
culpava incessantemente pela morte de minha mãe, mesmo diante de suas mil desculpas.
O perdão foi um processo demorado.
Meu tio me matriculou em uma escola, onde terminei meus estudos, e gradualmente,
durante as aulas de educação física, descobri uma paixão pelos exercícios. Após concluir o
ensino médio, fui para a faculdade, especializando-me em Educação Física, contando com o
apoio integral de meu tio em relação à minha escolha.
Foi lá que conheci Svetlana. Ela, uma russa encantadora, loira de olhos azuis
deslumbrantes, tornou-se um raio de luz em minha vida sombria. Estudávamos juntos, tínhamos
20 anos de idade, e eu percebia seu olhar sobre mim, embora a rigidez de seu pai, um professor
respeitado, complicasse nosso relacionamento.
Envolto pelos tumultos hormonais da juventude, minhas tentativas de relacionamentos
casuais foram complicadas na Rússia, onde o casamento era uma exigência iminente. A
proibição de vídeos explícitos tornava tudo ainda mais desafiador.
Svetlana, virgem e filha de um homem rígido, parecia a parceira ideal. À medida que nos
apaixonávamos, surgiu o medo de um compromisso mais sério. Contudo, quanto mais nosso
relacionamento amadurecia, mais era perceptível o quanto seríamos felizes juntos.
Seu pai resistiu ao nosso namoro, mas meu tio Yuri, um homem respeitado, conseguiu
persuadi-lo de minhas boas intenções. Começamos nossa história de amor, e Svetlana, aos olhos
do pai, tornou-se a mulher de um homem de confiança.
A paixão entre nós floresceu, e com o tempo, Svetlana engravidou. Nossa filha, Nastya,
não estava nos planos, mas foi acolhida com amor e expectativa.
Ao completar os nove meses de gravidez, Svetlana acordou de madrugada, sentindo dores.
Um momento que deveria ser de alegria transformou-se em uma terrível provação.
— Dimitri, a bolsa estourou! Nossa Nastya vai nascer!
Saltando da cama, meu coração transbordava de felicidade. Corremos para o hospital,
onde a alegria inicial foi substituída pela agonia.
Svetlana sangrava demasiadamente, e uma sensação de pavor tomou conta de mim. Os
médicos, agindo rapidamente, a encaminharam para uma cesariana de emergência.
Na sala de parto, segurando minha mão, ela lutava contra a dor.
— Dimitri, não me deixe sozinha, estou com medo!
— Eu não sairei daqui, meu amor! Nossa bebê está vindo, seja forte!
No entanto, o destino revelou-se cruel.
Quando a nossa filhinha foi retirada de seu útero, ouvimos seu choro, no entanto os
aparelhos começaram a apitar, e os médicos ordenaram minha retirada. Svetlana estava
sofrendo uma eclâmpsia.
Fui conduzido para fora da sala, incapaz de conter o desespero. Alguns minutos depois, o
médico, com pesar em seu olhar, aproximou-se para compartilhar a notícia sombria.
— Senhor Dimitri... eu não tenho boas notícias...
— Como assim? Eu quero ver minha mulher, agora!
— O senhor precisa ser forte... — Ao dizer aquilo, meu tio Yuri e Ekaterina me seguraram
nos braços e as palavras seguintes me dilaceraram: — Sua esposa faleceu. A eclâmpsia foi fatal.
Nós fizemos de tudo para salvá-la, me perdoe...
— NÃOOOO!
Imediatamente, me desvencilhei dos braços de meu tio e minha irmã, correndo até a sala
de cirurgia, empurrando todo mundo que ficava em minha frente.
Ao entrar, deparei-me com as enfermeiras limpando o corpo da minha noiva, e elas se
assustaram ao me ver.
Desesperadamente, fui até seu corpo, beijando seu rosto, vendo seu olhar perdido, sem
vida.
— Svetlana, acorde! Não se vá! Eu te amo! Volte para mim, por favor! — meus gritos
ecoavam pela sala, e eu fiquei agarrado ao seu corpo, chorando sofregamente, meu coração
dilacerado.
Meu tio Yuri veio até mim, tirando-me de lá a muito custo, junto aos seguranças.
Nunca antes havia sentido uma dor tão intensa em meu coração...
No dia seguinte, o enterro dela arrancou de mim o último fio de esperança.
Voltando ao hospital para ver minha filha, que estava em observação em uma incubadora,
passei a manhã inteira lá. Uma enfermeira a colocou em meus braços pela primeira vez, e
minha pequena Nastya, loira e com o nariz idêntico ao da mãe, parecia um raio de luz em meio
à escuridão.
Cheirei seu rostinho e selei um beijo em sua delicada testa. Fiquei observando-a ao lado
de Ekaterina e meu tio, até que algo terrível aconteceu.
Ela começou a ficar roxa, parecia estar sem ar. Aquilo me desesperou, e gritei por ajuda.
— Me ajudem! Minha filha está sufocada! — clamei, e imediatamente ela foi socorrida. Os
médicos tentaram reanimá-la, fiquei ao lado de fora, com o coração sangrando, e, infelizmente,
recebi a segunda pior notícia em menos de vinte e quatro horas.
Minha filha se fora, vítima da síndrome da morte súbita do lactente.
Lembro-me de implorar que fosse mentira, de ajoelhar sem forças e perder o ar de tanto
chorar. Eu a havia perdido também, era real e nada poderia ser feito.
Todos me olhavam comovidos pela minha dupla perda, e fui acolhido pelos meus parentes.
— Por que o Senhor as levou de mim, meu Deus! Por quê?!
Por sorte, eu ainda pude pegá-la uma última vez, a aninhei em meus braços e beijei seu
rostinho delicado.
— Eu sempre irei te amar, minha pequena Nastya... Sempre!
No dia seguinte, a enterramos junto à Svetlana, e eu não sabia como consegui me manter
em pé.
Eu estava fraco, destruído, dilacerado...
Meu coração se escureceu dali em diante, e decidi que jamais iria querer ter outra esposa
ou outro filho, tudo o que passei me deixou traumatizado e temeroso quanto ao que poderia se
repetir.
Quis desistir da faculdade, mas meu tio e minha irmã me deram muita força, e eu consegui
me formar e seguir carreira.
Decidido a ter uma vida nova e deixar o passado para trás, me mudei novamente para os
Estados Unidos algum tempo depois, passando a cuidar das academias do meu pai e exercendo
minha profissão de personal trainer.
Com o passar dos anos, tornei-me um homem frio, super safado, sedutor.
Viciado em sexo, comecei a assistir muitos vídeos, entregando-me a experiências intensas
e descontroladas com as mulheres, tentando preencher o vazio que a perda me deixou. Muitas
tentaram, de todas as formas, ter filhos comigo, se casar, mas eu sempre fugia, rejeitando-as.
Em minha mente, ninguém seria capaz de substituir minha amada Svetlana e minha filha.
Mas tudo mudou depois que conheci aquela brasileira.
Meu celular começou a tocar insistentemente, tirando-me da divagação acerca de minhas
lembranças, e notei ser Ekaterina.
— Alô?
— Dimitri! — Percebi sua voz embargada, com certo desespero.
— O que houve, irmã?
— A Luciana... — ela hesitou, parecendo não conseguir formular a frase.
— O que tem ela?
— Dimitri, você precisa vir para Nova York! A Lu está muito mal!
— O que houve, Ekaterina? — perguntei, agoniado.
— Aquele Oscar filho da puta! Ele... ele estava mantendo-a em cárcere privado e a
espancou muito... ela está sendo levada para o hospital, sob escolta da polícia. O Victor a ajudou,
graças à uma coincidência do destino.
Involuntariamente, meu sangue ferveu.
— Quê? Aquele filho da puta fez isso com a Luciana? Ah, meu Deus, bem que eu sentia
que ele não prestava! Ela vai ficar bem? Pelo amor de Deus, me diga! Me diga que ela não vai
morrer, Ekaterina! — bradei, irado.
— Ela... ela vai ficar bem sim, e ela precisa de você... Pelo amor de Deus, volte, Dimitri —
com a voz embargada, minha irmã implorou.
— Eu vou agora. Vou pegar o voo mais rápido que tiver. Por favor, cuide dela enquanto eu
chego.
— Cuido sim! — minha irmã respondeu, chorando.
Após encerrar a ligação, a sede de vingança tomou conta do meu ser.
— EU VOU TE PEGAR, OSCAR!
DESPERTEI, E AO ABRIR OS OLHOS, tudo estava embaçado. Senti que estava deitada
numa cama confortável e meus braços espetados por agulhas.
— Meu Deus... onde estou? — perguntei amedrontada e ouvi a voz de Ekaterina ao meu
lado.
— Luciana!
— Ka… — minha voz estava fraca.
— Você está no hospital, meu amor. Eu vou cuidar de você, já liguei para seus pais!
— Oh, graças a Deus esse pesadelo acabou — desabei em lágrimas, cheia de dores no
rosto e ela me abraçou.
— Calma, Lu. Aquele filho da puta foi preso! — a notícia aliviou meu coração.
— Graças a Deus! Ekaterina, não diga nada ao seu irmão.
— Tarde demais, Luciana. Ele já soube e está vindo pra cá.
— Oh, Deus! O Oscar vai mandar matá-lo! Ele sempre dizia isso.
— Nada vai acontecer ao Dimitri, se acalme.
Comecei a chorar, temendo a morte de Dimitri e Ekaterina segurou minhas mãos.
— Não chore, você precisa se acalmar.
Em seguida, o médico entrou, acompanhado pelo agente Wilson.
— Olá, com licença — disse meu amigo, educado. — Luciana, minha amiga, eu sinto tanto
por isso. Quando Victor ligou e foi atrás de mim na delegacia, eu senti que estava acontecendo
alguma merda. Você precisa fazer o exame de corpo de delito agora — informou.
— Eu sei, Wilson... E eu quero uma medida protetiva contra o Oscar, ele é um psicopata!
Meu Deus, como nunca percebi isso antes?
— Eu desconfiava dele, mas depois te digo o porquê. Vamos fazer o exame?
— Sim.
— Eu vou ficar aqui fora esperando, Lu — Ekaterina anunciou, preocupada.
— Obrigada, amiga.
Fui levada até uma ambulância, onde seguimos para o Instituto Médico Legal de Nova
York, escoltada não só por Wilson, mas por vários policiais.
Após horas de exames, um médico fechou a porta e veio falar comigo.
— Olá, querida, já terminamos os procedimentos.
— Que bom, doutor, já posso ir?
— Na verdade, eu gostaria de fazer algumas perguntas antes.
— Ok — permaneci sentada na cama e então ele se manifestou.
— Esse cara, o Oscar... ele sabia da sua condição? — o médico perguntou algo que não
compreendi.
— Como, doutor? — franzi o cenho.
— Eu sei que você não pode falar muito devido às dores no maxilar.
— Doutor, eu estou confusa! Que condição? Eu estou doente? — inquiri, ficando nervosa.
— Não, querida. Ah, você não sabe. A senhorita está grávida. De nove semanas.
Sua revelação quase me fez ter um piripaque.
— Quê? — exclamei boquiaberta, levando as mãos à boca.
— Se acalme. Olha, me responda com sinceridade, este bebê é do agressor, Srta. Guerra?
— Não! — respondi convicta, rememorando a última transa que tive sem camisinha com
Dimitri na mesa de seu escritório, e que, naquele tempo, eu havia parado de tomar pílula por
dias, pois estava perturbada. — Meu Deus... estou grávida...
— Olha, querida, eu só queria te dizer que essa criança é muito forte. Um verdadeiro
guerreiro ou guerreira. Você apanhou tanto, passou tanta fome e estresse, além de não ter
recuperado sua visão, contudo, está tudo bem com o feto. Eu sei que sou médico, mas tenho
certeza de que a mão de Deus operou esse milagre. — Comecei a chorar novamente, passando as
mãos em meu ventre e o doutor segurou minha mão, confortando-me num gesto de empatia. —
Foi Deus, querida. Ele quer que essa criança nasça.
— Sim, foi ele — confirmei, sorrindo em meio às lágrimas e lhe fiz um pedido. — Doutor,
por favor, não diga a ninguém que estou grávida.
— Dona Luciana, eu terei que mostrar ao agente Wilson esses exames, mas não direi nada
a ninguém.
— Obrigada, vou conversar com o Wilson.
Após os procedimentos realizados, retornei ao hospital e Ekaterina me aguardava ansiosa.
— Luuu! — ela veio até mim, ajudando-me a sentar com o auxílio da enfermeira.
— Oi, meu amor — tateei suas mãos e a apertei carinhosamente.
— Como foram os exames? — perguntou, preocupada.
— Deu tudo certo — respondi e me segurei para não chorar enquanto pensava em meu
bebê russo, que mesmo sendo tão pequeno era tão forte.
Eu já amava o meu pequeno filhinho ou filhinha.
— Lu, você está bem? — ela chamou minha atenção ao me notar letárgica.
— Sim, Ka... Só preciso descansar — bocejei e me cobri com um lençol.
Decidi ocultar minha gravidez por enquanto, pois não sabia como Dimitri reagiria, vai que
ele pensasse que o filho fosse de Oscar. Eu não teria forças para lidar com mais
desentendimentos, assim, preferi descansar sob os efeitos dos remédios que o médico
transcrevera e o sono me levou.

Após um voo exaustivo de 12 horas, cheguei ao aeroporto de Nova York, peguei um táxi e
rumei diretamente para o hospital em que Luciana estava internada.
Estava ansioso para ver minha brasileira e prometi a Deus que nunca mais a deixaria.
Chegando lá, avistei meu pai e Victor me esperando na entrada.
— Filho! Por que não me ligou pra buscá-lo? — Papai veio me abraçar e beijou meu rosto.
— Eu estou super ansioso, papai... O senhor já a viu?
— Sim. E meu filho, eu peço que se acalme, ok? Você está em um hospital. O estado da
Luciana é... difícil de descrever. A coitada está muito machucada.
— Que ódio! — quase gritei, de tanta raiva que estava.
Fui até Victor e o abracei, quase chorando.
— Obrigado por tudo... você salvou a vida dela.
— De nada, Dimitri. Vá vê-la, ela precisa de você.
— Ok.
Pedi para entrar e ver Luciana e logo fui liberado. Ao chegar em seu quarto, vi minha irmã
alisando seu cabelo enquanto ela dormia.
Meus olhos inundaram de lágrimas ao vê-la toda machucada, seu lindo rosto estava cheio
de marcas roxas de socos, assim como ao redor dos olhos e a pele de seus braços.
— Meu Deus… — Ekaterina se virou e falou baixinho, surpresa em me ver. — Dimitri...
oh, Deus, você chegou!
— Peguei um voo rápido, eu não suportava mais ficar sem vê-la, irmã — murmurei.
— Fique do lado dela, vou esperar aqui fora — minha irmã se levantou e me abraçou forte,
chorando em meu ombro. — Obrigado por ter vindo… — ela me encarou e segurou meu rosto
entre as mãos. — A Luciana precisa de você, do seu amor.
— Eu sei. Eu também preciso dela.
Ekaterina saiu, fechando a porta e eu me sentei na cadeira ao lado, segurando a mão de
Luciana.
Massageei sua delicada mão e visualizei seus pulsos cheios de feridas, machucados, como
se tivesse sido algemada.
Mais lágrimas rolaram em minha face e lamentei.
— Me perdoe, minha linda, por ter ido embora. Eu fui tão fraco... Não poderia ter lhe
deixado com aquele infeliz!
Luciana apertou minha mão, ainda de olhos fechados e balbuciou algumas palavras.
— Dimitri... volte para mim... Eu te amo, meu russo... Nós te amamos...
— Luciana, estou aqui, meu amor... Acorde.
Ela abriu os olhos lentamente, confusa e com o olhar perdido.
— Estou sonhando? — questionou, com a voz sonolenta e olhos inchados.
— Não, estou aqui, meu amor. Eu voltei para você, Luciana.
Ao fixar o olhar no meu, ela começou a chorar.
— Dimitri! Você... você está vivo, meu amor! Você voltou para mim! — disse surpresa,
com os olhos lacrimejando.
— Sim, eu voltei... Eu te amo, Luciana, como nunca amei ninguém em minha vida. Você é
a luz que ilumina minha escuridão... minha Luz.
— Você também é a minha, meu ogro — sua fala estava carregada de arrependimento,
cheia de dor. — Me perdoe por ter dito aquelas coisas, eu sei que te magoei.
Na sequência, segurei seu rosto com cuidado para não a machucar ainda mais e selei um
beijo em seus lábios, que estavam cortados. Luciana agarrou meus cabelos e tentou me beijar,
mas gemeu de dor.
— Relaxa, não precisa fazer esforço. Vou cuidar de você, meu amor. Te levarei para minha
casa nova e ninguém, nunca mais, vai te fazer mal. Aquele desgraçado vai sentir a minha fúria —
afirmei, movido pela sede de vingança.
Ela secou minhas lágrimas com seus dedos delicados, expressando preocupação.
— Dimitri, esquece o Oscar, eu imploro! Ele sempre me ameaçava que ia te matar, por isso
eu não fazia nada! Não posso viver sem você... não posso! — ela dizia chorosa, tomada pelo
medo.
— Calma, não se preocupe, ele não vai me matar. Fica tranquila.
Ficamos abraçados por algum tempo, pedindo perdão um ao outro várias vezes, expliquei o
porquê fui para a Rússia daquela forma, e após chorarmos bastante, ela me encarou fixamente, o
que me deixava intrigado.
— Você está enxergando, meu amor? — perguntei, com as sobrancelhas franzidas.
— Não... só vejo vultos... Dimitri, eu estou... — ela fechou os olhos, arrependida e se
calou.
— Está o quê, meu amor? — a incentivei, preocupado.
— Estou com muita saudade.
— Eu também... — concordei e dei selinhos em sua face. — Senti sua falta cada dia que
estive naquele país. Nunca mais irei embora, eu juro, meu amor.
Em um olhar profundo, segurei suas mãos com ternura. Respirei fundo, tentando transmitir
o turbilhão de sentimentos que carregava.
— Desde que você entrou na minha vida, tudo mudou. Ganhou um tom diferente, um
brilho especial. Antes, era como um filme em preto e branco, uma vida cinza sem emoção. Mas
você trouxe cores, como se pintasse o mundo ao nosso redor com um pincel mágico.
Ela sorriu, os olhos brilhando de emoção e apertou minhas mãos carinhosamente.
— Dimitri, eu...
A interrompi suavemente.
— Só queria dizer que o relacionamento colorido que construímos deu vida à minha
existência acinzentada. Você é a paleta completa que transformou meu mundo. Mesmo nos
momentos difíceis, quando as coisas ficavam complicadas, você parecia o meu sol particular,
iluminando tudo ao nosso redor. Me perdoe por não ter tido a coragem de admitir antes meus
verdadeiros sentimentos. Fui covarde, evitei a verdade por medo de perder o que tínhamos, mas
agora percebi que estava perdendo ainda mais ao escondê-los…
Ela me abraçou mais forte.
— Eu te amo mais do que as palavras podem expressar, Dimitri.
A abracei de volta com cuidado, sussurrando:
— E eu amo cada cor que você trouxe para a minha vida.
APÓS PASSAR TRÊS LONGOS DIAS no hospital, Dimitri, com todo o cuidado, me conduziu
até sua nova casa. Ao cruzar a porta, uma surpresa me aguardava. Mamãe, que veio com meu pai
do Brasil, estava lá, e os latidos efusivos de Pandora e Totó preencheram o ambiente. Com o
braço de Dimitri me sustentando, fui gentilmente colocada no enorme sofá da sala.
— Mamãe, papai! — estendi os braços para recebê-los assim que identifiquei suas
silhuetas e vozes nervosas diante de mim.
— Oh, minha filha! — mamãe exclamou, com a voz embargada de emoção.
— Minha pequena! — meu querido pai completou, num tom de voz repleto de ternura.
— Papai!
Os abraços que recebi foram carregados de cuidados, e lágrimas de alívio escorreram
livremente. Sabendo da pressão alta de meu pai, tentei acalmá-lo.
— Se acalme, pai, estou bem.
— Eu sei, filha, mas ainda sou seu pai, e não vou deixar barato o que aquele desgraçado
fez contigo. E, mais uma coisa: gostei desse russo.
— Obrigada, papai. Tudo ficará bem. Existe uma ordem de restrição, e o Oscar está preso.
— Que ele reze muito para eu não o pegar quando sair da cadeia — papai desabafou.
— Eu sei... Ele terá o castigo merecido, afinal, é para isso que existe a justiça.
De repente, Totó pulou em mim, lambendo-me alegremente e balançando seu rabinho.

Pensamento de Totó: “Oh, minha doninha, que saudade eu estava de você!”

— Oi, minha Totó! — afaguei seu pelo macio, enquanto Dimitri trouxe Pandora até mim.
Eu beijei sua cabeça, deixando lágrimas de gratidão escaparem. — Oh, minha Pandora...
Obrigada por ter salvado minha vida naquele dia.
Dimitri se ajoelhou aos meus pés, acariciando minha coxa, e então indagou:
— O que houve, meu amor? Pandora te salvou de quê?
Engoli em seco, nervosa.
— Fale, filha, o que aconteceu? — mamãe insistiu, ansiosa por detalhes.
— O Oscar... — coloquei Totó no chão e esfreguei as mãos, expirando o ar pesado e
tomando coragem para revelar as coisas terríveis. — Ele… — tentei prender o choro na garganta.
— Ele tentou me estuprar e... Pandora pulou na cama e o mordeu... Em seguida, ele a chutou
com muita força e ela teve hemorragia interna. O Victor quem cuidou dela, pois, por sorte, era
vizinho do Oscar.
— FILHO DA PUTAAAA! — Dimitri explodiu num grito e ficou em pé, possesso. —
VOU MATAR AQUELE DESGRAÇADO!
— Conte comigo, filho! Esse homem não vai ficar impune — papai concordou com ele,
inconformado.
— Meu Deus, vocês precisam se acalmar... — mamãe pediu, preocupada.
Fiquei chorando ao relembrar tudo o que sofri, os dias que passei fome, quando ele me
obrigava a mentir para mamãe quando ela me ligava, prometendo que estava bem, os momentos
em que Oscar me esbofeteava por não querer beijá-lo, por ter tentado me fazer mal várias vezes,
e isso dói ainda mais.
— Não chore, meu amor... — mamãe me confortou, afagando meus cabelos. — Estamos
aqui. Vou preparar o jantar para todos nós.
— Obrigada, mamãe — sorri entre as lágrimas.
— Obrigado, dona Mirian. Vou levá-la para meu quarto, para descansar — Dimitri me
pegou e me colocou em seus braços, levando-me até seu quarto. Ao entrarmos lá, ele me
depositou na cama com cuidado e se sentou ao meu lado, me abraçando.
— Você precisa de um banho, meu amor. Vou tirar suas roupas e te lavar.
— Obrigada, meu russo.
Dimitri tirou minhas roupas com cuidado e, ao me ver nua, ele ficou em silêncio. Meu
corpo estava repleto de hematomas. Tateei seu rosto, sentindo as lágrimas caindo.
— Me perdoe por não ter ajudado você, meu amor... — sua voz soou sofrida, e ele chorou.
— Eu vou ficar bem.
O russo se recompôs, ainda muito abalado, e me levou ao banheiro. Ele começou a lavar
com cuidado meu cabelo e meu corpo.
As mãos de Dimitri deslizavam lentamente sobre meu corpo, cada toque uma lembrança da
dor que ainda persistia. O banho era um alívio relativo, e ele me vestiu com um roupão,
cuidadoso.
— Vou colocar uma roupa em você, meu amor... — disse ele, sua preocupação evidente.
— Tá.
Ele pegou uma camisola, me enxugando antes.
— Dói muito, Luciana?
— Sim...
— Que ódio, meu Deus... — murmurou ele, irritado. Sem aviso, ele se abaixou e beijou
cada marca em meu corpo. Um gesto de amor que quebrava a frieza da violência.
Vestida, seguimos à mesa. O cheiro da comida despertou minha fome, porém, o vômito
veio sem que eu controlasse. Dimitri gritou, assustado.
— Filha, o que você tem? — perguntou minha mãe, apavorada.
— Eu não sei... Foi só um mal-estar... — menti, tentando aliviar a tensão após vomitar no
chão.
— Luciana! — exclamou Dimitri, carregando-me de volta para o quarto, zelando pelo meu
bem-estar, enquanto o enjoo piorava, apesar de estar segura nos braços dele. — Você precisa ir
ao médico, meu amor, pode estar doente — alertou ele.
— Irei esta semana. Só preciso me recuperar um pouco.
— Certo, é isso que eu me preocupo contigo.
— Eu sei, meu bem... — Me virei com cuidado para ele e alisei sua barba, passando as
mãos nos seus cabelos, que estavam um pouco maiores, e ele sorriu.
— Que foi, minha linda?
— Eu só queria te ver.
— Isso vai acontecer... só precisamos ter paciência.
— Eu senti tanto sua falta, Dimitri... Eu não quero ficar longe de você nunca mais —
expressei, tomada pela emoção.
— Eu também senti... Acredita que até hoje eu não fiquei com nenhuma mulher? Juro pela
alma da minha amada mãe.
— Eu acredito em você, meu ogro.
— Eu... Eu não queria ninguém, só você, Luciana. Preferi ficar distante e sofrendo
sozinho. Achei que tinha lhe perdido... — ele desabafou num tom sôfrego.
— Me perdoe, meu amor. Eu estava com raiva, cega de ciúmes, com sede de vingança e
queria te ferir. Eu odiava o fato de você não ter coragem de dizer que me amava — lamentei.
— Eu quem peço desculpas, Luciana.
De repente, mamãe bateu à porta.
— Entra, mãe.
— Licença, meus amores, eu trouxe sua sopinha, filha. Dimitri, vá comer, eu cuido dela.
— Tá bom, minha sogra, vou indo — ele beijou minha testa e se levantou.
— Ahh, finalmente me chamou de sogra — gargalhou mamãe.
Dimitri também gargalhou.
— Qualquer coisa, me chame.
Após ele sair, mamãe se sentou na cama com a bandeja e a depositou com cuidado em meu
colo, para me alimentar.
— Filha, esses seus enjoos estão estranhos — ela comentou.
— Vai passar, mamãe.
— Sei… chegue, vamos comer.
— Ok.
Mamãe me ajudou a comer, mas não deu outra, alguns minutos e vomitei tudo de novo no
chão ao lado da cama.
— Meus Deus, filha! Você só pode estar doente!
— Eu... eu tô bem — desconversei enquanto limpava minha boca com uma toalhinha que
ela me deu.
Mamãe retirou a bandeja, colocando-a sobre a mesa de cabeceira, em seguida segurou
minhas mãos e perguntou sem rodeios o que eu tanto tentava esconder:
— Você está grávida, não é? — Fiquei em silêncio, temerosa, mas ela insistiu. — Luciana,
minha filha, me diga a verdade. Está grávida?
Suspirei pesadamente, decidindo ser sincera.
— Sim, mamãe — confirmei, abaixando a cabeça e apertando os olhos, uma crescente
preocupação tomando conta de mim.
— Meu... meu Deus! — ela exclamou, chocada.
— Shiiiii, não fale alto. O Dimitri ainda não sabe — pedi nervosa, erguendo o rosto para
encarar seu vulto.
— Mas, me diga uma coisa, filha... É dele?
— Sim, mamãe. O Oscar não pode ter filhos. Ele fez vasectomia há anos, e apesar de ele
tentar algo comigo, nunca consumamos o ato.
— Meu Jesus! Você precisa contar ao Dimitri! — minha progenitora cochichou, bastante
preocupada.
— Ainda não, mãe.
— Mas por que, meu bem?
— Ele dizia que nunca quis ter filhos. Tenho medo de revelar isso e ele se afastar de mim
ou pedir para eu abortar...
— Eu acho que ele não fará isso. Filha, o Dimitri se declarou para você, isso já é um
grande passo. E esse bebê é um toque de esperança em suas vidas — mamãe tentou me
convencer.
— Eu não sei o que fazer, mamãe..., mas se o Dimitri não quiser o bebê, eu quero. Não vou
tirar meu filho.
— Eu também quero esse netinho ou netinha russa! Seu pai ficará louco — ela conseguiu
emitir um sorriso e senti sua mão delicada acariciando minha barriga.
— Eu já o amo, mamãe... O médico disse que não sabia como o perdi... Ele é muito forte
— disse emocionada, lágrimas se acumulando em meus olhos.
— Oh, Deus, está vendo?! Já mostra a personalidade forte para a vovó desde cedo! —
mamãe comemorou, e pela sua fala embargada, notei que estava quase chorando.
— Mamãe, não conte nada ao Dimitri. Deixe que eu vou contar, no momento certo.
— Ok, filha, mas não demore. Logo sua barriga crescerá e ele vai ficar chateado de você
ter escondido isso.
— Tudo bem — fiquei pensativa e ainda mais preocupada, e após mamãe sair do quarto,
falei com Deus: — Meu Deus, por favor, faça com que o Dimitri ame esse bebê. Que ele veja
nele não só um desafio, mas uma bênção em nossas vidas.
UMA SEMANA TRANSCORREU, e Luciana ainda ostentava os resquícios de suas feridas.
Os médicos, ao visitá-la, expressaram pesar diante do seu estado.
Em um momento posterior, fui abordado pelo agente Wilson. Ele se apresentou com
imponência, sua estatura elevada, alinhada à uma construção física atlética, transmitindo uma
presença marcante. A pele clara contrastava com seus cabelos e olhos castanhos escuros,
conferia-lhe uma imagem de determinação.
Vestindo uma calça social impecavelmente alinhada, combinada com uma camisa de
tecido refinado, ele apresentava um estilo sóbrio e elegante. A camisa, cuidadosamente abotoada,
acentuava sua postura profissional.
Complementando o visual, Wilson calçava um par de sapatos sociais, polidos e alinhados,
que ecoavam a seriedade de sua função.
Na cintura, a presença discreta de uma arma, cuidadosamente posicionada em um coldre.
— Bom dia, senhor Dimitri — cumprimentou-me com educação.
— Sem formalidades, apenas Dimitri. Entre.
Nosso aperto de mãos fora firme, e ele entrou, acompanhado por dois policiais, todos
exalando um profissionalismo notável.
— Posso falar com Luciana?
— Sim, ela está na sala com os pais.
Pedi que me acompanhassem e anunciei sua presença.
— Olá, Luciana. Vim te visitar, amiga.
— Wilson! — exclamou Luciana com alegria, ao ouvir o nome dele.
O agente se aproximou dela com cuidado, abraçando-a, e então se dirigiu aos pais dela,
cumprimentando-os num aperto de mãos.
Enquanto observava suas interações, percebi a firmeza e a bondade presentes na postura de
Wilson. Ele se acomodou ao lado de Luciana, iniciando uma conversa.
— Luciana, preciso fazer algumas perguntas em particular... Você se sente confortável em
falar comigo?
— Sim, Wilson. Podemos ir para o quarto de Dimitri?
— Sim, se ele permitir — ele direcionou seu olhar para mim.
— Claro, podem ir — acenei afirmativo.
— Obrigado, Dimitri. Vamos, querida — Wilson guiou Luciana até o quarto,
demonstrando cuidado ao segurar seu braço enquanto a conduzia para a conversa privativa.
Confesso que fiquei com uma pontinha de ciúmes ao vê-los interagindo com tanta
intimidade, afinal ele era um homem muito bonito e isso despertava minha insegurança. No
entanto, algo dentro de mim dizia que ele não era como o infeliz do Oscar. Wilson tinha uma
energia boa. E foi isso que me fez suspirar de alívio quando ambos sumiram de vista.
Após adentrarmos o quarto e fecharmos a porta, Wilson se sentou ao meu lado,
manifestando-se:
— Luciana, eu vi o resultado do exame de sangue. Você está grávida! Aquele filho da puta
te estuprou?
— Ele... ele tentou…, mas nunca conseguiu.
A voz de Wilson, geralmente grossa e imponente, adquiriu um tom preocupado.
— Meu Deus! Esse filho é dele, Lu?
— Não! — respondi convicta.
— Pelo que investiguei, você foi para a casa dele por livre e espontânea vontade, então
imaginei que esse filho poderia ser dele.
— Não! É do Dimitri! O Oscar fez vasectomia há anos... E, mesmo assim, nunca
transamos. Antes de começar as agressões, eu fiquei com o Dimitri e não usei camisinha...
Estava tão perturbada que não liguei de me cuidar.
Pude ouvir um suspiro de Wilson, que pareceu aliviado diante minha explicação.
— Entendi, querida.
— Mas tudo vai ficar bem. O Oscar está preso!
— Lu, eu preciso te dar uma péssima notícia.
— O quê?
— Ele foi solto hoje. Conseguiu pagar uma fiança em cifras altas e sumiu — Wilson
informou, deixando-me em pânico.
— Eu não acredito! — exclamei inconformada.
A voz de meu amigo tentou transmitir alguma segurança.
— Pelo menos a medida protetiva eu consegui para você, mas Oscar tem muitas amizades
com pessoas poderosas e criminosas que ele ajudou ao longo da carreira. Com certeza houve
uma troca de ajuda, você sabe… Eu estou com ódio!
— Porraaaa! — praguejei.
— Olha, amiga, eu sempre desconfiei dele, desde quando estudávamos, mas nunca pude
provar nada. Alguns anos depois, tudo ficou mais nítido quando ele terminou com a Kate e ela
foi até a delegacia denunciá-lo por agressão, mas depois se arrependeu e voltou pra ele, negando
tudo para todo mundo. Eu implorava para ela o deixar. A Kate era uma mulher especial… —
declarou, parecendo apaixonado.
— Espera... você... você gostava dela? — perguntei curiosa.
— Sim...
— Meu Deus! — exclamei surpresa.
A voz de Wilson, ainda grave, parecia carregada de emoção.
— Desde o tempo que ela namorou com o Robert, irmão do Roger. Kate era lindíssima,
todos a queriam. Quando o Robert foi estudar na Europa e a deixou, eu achei que minha hora
havia chegado, mas o Oscar foi com tudo pra cima dela e eu a perdi. Antes de sua morte, nós
tivemos um caso, Luciana... Ela prometeu se divorciar e ficar comigo. Eu a amava… — ele
revelou com sofreguidão, transmitindo uma complexidade de emoções, uma mistura de grave
preocupação e uma nostalgia intensa.
— Jesus Cristo, que babado, Wilson!
— Pois é, Lu... O Roger sabia de tudo.
— O quê? — minha voz soou boquiaberta.
— Eu pedi pra ele não te contar, já que éramos melhores amigos e eu não queria confusão
com o Oscar. E tem algo que eu quero te dizer, sobre o Roger.
— Fale.
— Uma semana antes de ele vir a falecer, você havia saído com Cristina para o spa e ele
chegou no hospital com a cara cheia de porrada, ensanguentada.
— Sim, eu lembro... Ele disse que havia sido assaltado e entrou em luta corporal com o
bandido.
— Era mentira, Luciana. Ele brigou com o Oscar, no consultório da Kate.
A revelação de Wilson me atingiu como um soco no estômago, uma mistura de choque e
incredulidade.
— Quê? Por quê?
— Eu não sei… — Wilson disse, inconformado. — Eu pedi pra ele me contar, mas ele
disse que foi por causa de uma besteira, que eu deixasse pra lá e que nunca te contasse, porque
vocês eram grandes amigos. Mas eu vou descobrir o que houve e eu acho que não foi uma boa
coisa.
A confusão tomou conta de mim, como se estivesse mergulhando em um mar de mistérios.
— Oh, meu Deus! Eu estou chocada com tantos acontecimentos, Will...
— Bom, eu já vou, não quero te deixar estressada... Cuide-se, querida.
— Wilson, espera — o impedi e tateei sua mão, segurando-a.
— Diga, amiga.
Meu toque refletia a necessidade de apoio em meio ao caos que se desenrolava ao meu
redor.
— Não diga ao Dimitri que estou grávida. Eu mesma direi.
— Ok, não vou falar, mas não esconda… Ele parece ser um bom homem.
— Ele é — afirmei, sorrindo largamente.
Minha expressão revelou um misto de determinação e vulnerabilidade, enquanto tentava
encontrar firmeza em meio à tempestade de emoções.
— Te desejo felicidades, Lu — Wilson me abraçou e voltamos à sala.
— Bom, eu já vou. Qualquer coisa, me liguem.
— Tchau.
Depois que ele saiu, sentei-me no sofá e coloquei as mãos na cabeça, preocupada.
— O que houve, Luciana? — Dimitri me indagou, sentando-se ao meu lado.
— Aconteceu uma merda, Dimitri.
— O quê?
— O Oscar pagou fiança e foi solto... Estou com medo por mim e por vocês...
Dimitri me abraçou, beijando minha cabeça, fazendo uma promessa, cheio de fúria:
— Isso não vai acontecer... Ele vai pagar caro!
E eu, envolta em um turbilhão de emoções, compreendi que a batalha estava apenas
começando, mas confiei no apoio e na força que tinha ao meu lado.
No meu cabrón protetor.
O SONO CHEGOU e fui me deitar com minha Luz. Sim, Luz.
A chamaria assim de agora em diante, pois era isso que Luciana significava em minha
vida.
Após um banho gostoso e relaxante, em que eu a ajudei se lavar, ela se aninhou a mim,
como se nunca mais fosse me soltar.
E eu nunca me senti tão feliz em toda minha existência.
O cheiro dela, o calor de seu corpo, me deixavam tão feliz, tão viciado, que se eu pudesse,
nunca mais me levantaria desta cama.
Outrossim, o desejo de possuí-la pulsava com força dentro do meu ser, mas deixaria isso
para outro momento, quando ela se recuperasse totalmente e estivesse pronta para se entregar
para mim.
Queria tratá-la da melhor forma que eu pudesse e fazê-la se sentir amada, pois era isso que
ela merecia e era isso que eu daria, por todos os dias da minha vida.
Estava totalmente entregue a esse amor e não me arrependia de nada.
Só queria amá-la para sempre.
De madrugada, Luciana acordou e acordei também, alerta aos seus movimentos.
— O que foi, meu amor? — perguntei, ao notar seu rosto suado.
— Quero água, Dimitri.
— Ok, vou pegar — levantei-me imediatamente e segui para a cozinha, pegando a jarra de
água e um copo, garantindo que ela tivesse o que precisava. Ao voltar, sentei-me ao seu lado e
ofereci a água, segurando o copo para ela beber. Ela parecia estar morrendo de sede, bebeu três
copos.
— Obrigada, Dimitri — ela agradeceu, e enquanto ela se recompunha, eu a observei com
ternura, notando cada detalhe de sua expressão e movimentos. Ela limpou o canto da boca
molhado da água que escapou de seus lábios e me encarou.
— De nada… — coloquei a jarra e o copo na mesa de cabeceira, e ela permaneceu sentada
na cama, acariciando minhas mãos.
— Vamos dormir, linda? — sugeri, guiando-a suavemente para a posição confortável sobre
o colchão.
— Dimitri, me beija... — ela pediu, desejosa.
— Quê? Não amor, você tá toda machucada.
— Por favor, só um beijo… — ela insistiu, apertando minhas mãos, contudo, ao mirar seus
lábios que ainda estavam um pouco machucados, tentei me controlar.
— Não. Vamos dormir agora — falei sério.
— Ok... — Luciana respondeu, entristecida. A abracei, ainda de conchinha, e ela começou
a fazer carinho em meus braços.
— Estou com muita saudade de você, meu russo.
— Eu também, mas precisamos nos controlar... Você nem queira imaginar o que quero
fazer contigo, reclamona linda… — expressei, louco para fazer amor com ela, mas me contive.
— Durma, meu amor...
Ela ficou quietinha e tentou dormir.

No dia seguinte, acordei cedo, e ela ainda estava dormindo. Fiquei observando seus lindos
traços, que estavam se curando das agressões, e ela começou a falar, ainda sonhando:
— Dimitri, por favor, aceite... É seu, meu amor... — Luciana choramingou, e eu não
entendia o porquê estava balbuciando essas coisas.
— Luciana, acorde — sacudi seus ombros com delicadeza e, de repente, ela abriu os olhos
e me abraçou forte. — O que você tem, meu amor?
— Nada... — ela ficou cheirando meu pescoço e tentou me beijar, apertando minhas
costas. — Eu te quero tanto dentro de mim...
— Se controle, meu amor. Vou fazer sua comida — pulei da cama e rapidamente fui para a
cozinha. Dona Mirian me viu e avisou que já estava preparando o café da manhã dela. Decidi
voltar para o quarto e ajudá-la a tomar um banho.
— Vamos tomar banho, minha boneca — disse brincalhão, enquanto a ajudava a se sentar
na cama.
— Por que você me chama assim? — perguntou, sorrindo.
— Porque estou cuidando de você como se fosse minha bonequinha.
— Sei.
Sorrimos e caminhamos até o banheiro, onde acabamos tomando um banho juntos.
Estávamos debaixo do chuveiro, abraçados. Ela, baixinha, com a cabeça no meu peito, as mãos
cravadas nas minhas costas e respirando ofegante.
— Você é tão gostoso, Dimitri… — disse, suspirando contra meus pelos.
— Você também, meu amor..., mas vamos só tomar banho, tá bom?
— Tá.
Lavei-a por algum tempo e, sem eu esperar, ela começou a acariciar meu pau, que estava
duro feito pedra.
— Ah, meu russo, eu tô com tanto tesão por você. Não suporto ficar perto, que já quero...
— ela continuou as carícias e mordeu meu peitoral.
— Luciana, pare… por favor… — supliquei, apertando meus olhos, contendo meus
instintos mais selvagens.
— Só um beijo — ela implorou, tentando me seduzir.
— Eu já disse que não — a repreendi, seco.
— Seu bruto! — ela reclamou, com raiva.
— Não comece a brigar, você está toda machucada, e eu estou tentando fazer o certo. Se eu
pudesse, te foderia sem ter hora pra parar, mas não podemos!
— Ok, me desculpe... — disse envergonhada e continuou: — Acho que são os hormônios
da...
— Do quê, Luciana? — questionei quando ela se calou.
— É... eu vou menstruar… — ela respondeu meio nervosa, e isso me soou estranho, mas
decidi deixar para lá.
— Ah, entendi. Coitadinha — afaguei seus cabelos molhados e fechei a torneira do
chuveiro, envolvendo-a posteriormente na toalha para enxugá-la.
A vesti com uma roupa confortável e depois seguimos até a cozinha para tomarmos o café
da manhã.
Observei as horas no relógio, decidindo sair.
— Eu tenho que sair pra resolver umas coisas, mas daqui há três horas, eu volto. Tem
policiais lá fora e os seguranças que contratei são meus amigos de confiança. Ninguém fará mal a
você, minha luz... — falei para Luciana, que ficou abraçada ao meu corpo.
— Ok... vou te esperar, meu Shrek.
— Eu te amo, Luciana.
— Também te amo.
Em seguida, peguei meu carro, acompanhado de três amigos gangsters, indo em direção ao
destino que tanto ansiava.
Vou pegar Oscar, aquele filho da puta.
E ele vai me pagar caro.

Passei noites em uma busca implacável por Oscar, valendo-me de conexões perigosas.
Descobri que ele havia ressurgido, erguendo um novo escritório de advocacia no coração de
Nova York.
Deixei meu carro no estacionamento da academia e segui em direção a uma van,
acompanhado por doze homens perigosíssimos que eu conhecia desde a adolescência, prontos
para conseguir capturar aquele filho da puta repugnante. E, dessa vez, ele não escaparia.
A sede de vingança pulsava em minhas veias.
— Chegamos, russo. E aí? — um dos caras perguntaram.
— Arrastem esse filho da puta até aqui e o levaremos para o galpão da diversão.
— Ok, vamos, garotos.
Três homens desceram do carro e, depois de alguns minutos, escutei tiros e gritos de Oscar,
sendo arrastado enquanto estava vendado.
— Me soltem! Eu sou advogado, me soltem, seus merdas! — ameaçou-nos em toda a sua
arrogância.
— Cale a boca, caralho! — meu amigo Raniery meteu um soco nele, o que o fez se calar.
O ambiente estava carregado com a tensão da vingança. Oscar se debatia na cadeira,
impotente diante do destino que o aguardava.
Após algum tempo, chegamos no galpão e eles arrastaram o filho da puta até lá, que
gritava feito uma mocinha.
— Ah! Socorro!
Na sequência, as portas foram fechadas e Oscar foi amarrado a uma cadeira, segundos
depois retirei sua venda e ele me encarou com os olhos arregalados.
— Seu russo desgraçado!
— SURPRESA! — falei debochado, sorrindo com escárnio, e me aproximei, o encarando
com nojo. — Você achou que eu ia deixar barato o que você fez com Luciana? Ahn? Hoje será o
dia que você vai pedir para não ter nascido.
Oscar tentou disfarçar, mas diante sua vulnerabilidade e o local escuro e sombrio, seus
olhos o traíram, evidenciando o medo enquanto tentava manter sua arrogância.
— Se você fizer algo comigo, me pagará caro! — esbravejou, lançando-me um olhar cheio
de ódio. — Isso inclui a Luciana e sua família... — ameaçou-me, começando a rir de maneira
psicopata, ao perceber minha expressão furiosa. Em seguida, debochou descaradamente de mim:
— Espero que você pense bem no que fará... a coelhinha não foi para minha casa à força! Ela me
dava com gosto todos os dias em que esteve lá. Ela gritava de tanto levar...
Não permiti que terminasse de falar e desferi um soco brutal em sua cara, fazendo-o cuspir
sangue.
— MENTIRA! Você a espancou e tentou estuprá-la, seu desgraçado! Eu só não te mato
porque você tem muito o que pagar nessa vida, mas vou te dar uma lição que você nunca mais irá
esquecer! E nunca mais ouse ameaçar minha família e minha mulher, seu maldito! — avisei e
desferi mais socos em seu rosto, liberando toda a minha raiva.
Em seguida, olhei para os caras e os chamei para começar os trabalhos.
— É hora da diversão.
Iniciamos uma sessão de violência extrema, golpeando sua face, jogando-o ao chão e
desferindo chutes brutais em todo o seu corpo. O desgraçado gritava desesperadamente, e eu fiz
questão de quebrar todos os dentes de sua boca com meu soco inglês.
Algumas horas se passaram e o infeliz estava deitado no chão, banhado de sangue,
resultado da tortura que proporcionei a ele.
O deixamos em um estado deplorável, e depois que terminei, cuspi em sua cara, fazendo
um último aviso enquanto estava agachado no chão, encarando-o:
— Nunca mais chegue perto das pessoas que eu amo, seu verme, porque, da próxima vez,
eu te mato!
— Acho que ele está inconsciente, amigo. Quer que eu o jogue na mata? — meu amigo
gangster me perguntou.
— Jogue-o em frente ao escritório dele e coloque uma placa no pescoço dizendo que ele é
um agressor e estuprador — ordenei, limpando o sangue das minhas mãos em uma toalhinha.
— Certo. Vamos, sua sacola de bosta! — Raniery o xingou, puxando-o do chão.
Oscar estava desacordado, cheio de fraturas e sem se mexer. Minha roupa estava banhada
de sangue, e senti uma satisfação imensa por ter lhe dado um bom castigo. Meus outros amigos
deram-lhe um tratamento severo pelo que ele fizera contra Luciana. Pegaram pesado, claro, mas
não tive pena.
Em seguida, chegamos até seu escritório e o jogamos no chão, encerrando, enfim, o nosso
feito.
Ao pegar meu carro, retornei imediatamente para casa, com outra roupa, mas meus dedos
estavam um pouco feridos. Felizmente, quando cheguei, Luciana estava dormindo e não pôde ver
isso.
Mas minha paz estava selada porque, agora, eu poderia viver em paz com a minha Luz.
APÓS A SAÍDA DE DIMITRI, meu dia foi permeado por uma sensação constante de enjoo e
vômitos. De repente, Ekaterina surgiu com seu pai, aproximando-se para um abraço caloroso.
— Luu! Minha linda! — ela se dirigiu a mim com alegria, sentando-se ao meu lado na
cama.
— Oi, minha russa doida.
— Como você está? — ela perguntou, acariciando minha mão com carinho.
— Bem... — porém, ao sentir o perfume adocicado de Ekaterina, uma onda de enjoo me
assolou e uma ânsia de vômito se manifestou.
— Lu? O que você tem? — sua preocupação era genuína.
— Ah, só um mal-estar — desconversei.
— Sei.
Não demorou muito e acabei vomitando no chão.
— Você precisa ir a um médico, pode ser um problema intestinal, Luciana — Ekaterina
advertiu, deixando-me nervosa.
— Não sei... Deve ser... — sorri nervosa, e Ekaterina permaneceu em silêncio, cismada.
Algumas horas depois, Dimitri chegou e me abraçou.
— Oi, meu amor.
— Oi, meu ogrinho.
— Como foi seu dia? — perguntou preocupado, enquanto acariciava meu rosto.
— Tudo bem, só estou um pouco enjoada.
— Sei. E os médicos, o que dizem?
— Problemas estomacais — menti, dando um sorriso amarelo.
— Entendi, mas fico preocupado.
— Relaxa, meu bem— acariciei sua barba e o abracei, enlaçando minhas mãos em seu
pescoço.
Precisava encontrar uma maneira de contar a ele que estava grávida, mas por ora, ainda
não sabia como fazer.
No dia seguinte, descobri que Oscar foi encontrado em frente ao seu escritório,
desacordado e em coma, vítima de uma agressão brutal. Uma placa no pescoço escrita com seu
próprio sangue o identificava como agressor e estuprador de mulheres.
— Meu Deus, foi o Dimitri... — constatei, após refletir sobre o ocorrido.
Depois de entrar no quarto, o russo veio falar comigo.
— O que houve, amor?
— Dimitri, foi você que fez aquilo com Oscar? — perguntei, buscando uma resposta
direta.
Ele se silenciou. Ainda calado, depois se aproximou e, com gestos suaves, começou a selar
beijos em meu pescoço.
A tensão no ar era extrema, até que finalmente ele quebrou o silêncio.
— Ninguém mexe com quem eu amo, minha Luz. Esqueça aquele filho da puta.
Minha mente oscilava entre alívio e inquietação. Aceitei sua decisão, mas a imagem do que
aconteceu permanecia vívida em minha mente.

Um mês se arrastou lentamente, marcado por ligações de amigos expressando


condolências, incluindo Cristina, que dissolveu toda e qualquer sociedade de trabalho com
Oscar. Robert, que agora morava na Europa por conta de seu trabalho como diplomata,
continuava se comunicando comigo, demonstrando apoio e prometendo visitas futuras com sua
família.
A ansiedade crescia à medida que o aniversário de Dimitri se aproximava. Ekaterina estava
em polvorosa, ansiosa para planejar uma festa grandiosa.
A noite caiu, e uma dor nos olhos me atingiu enquanto Dimitri, preocupado, buscava
entender.
— Tá com dor, minha linda?
— Uma dor nos olhos..., mas vai passar.
— Oh, Deus, eu fico tão preocupado contigo.
— Calma, meu amor.
Ele me abraçou, apenas de toalha, e a atração entre nós era palpável. Minhas mãos
percorreram seu corpo musculoso, mas ele, com ternura, me deteve.
— Pare... Você está se recuperando.
— Dimitri, eu tô bem… — retruquei, mas suas réplicas me lembravam que a cicatrização
era um processo delicado.
— Não tá, não... — ele estalou a língua no céu da boca três vezes, com seu jeito meio
bruto, tomado pelo instinto de proteção. — Ainda tem dores no corpo, não quero te machucar.
Vamos dormir, ok?
— Ok.
Nos deitamos na cama, e a tensão entre nós se dissolvia à medida que ele adormecia.
Enquanto isso, refleti sobre o período em que estava grávida de Sofia, revivendo
lembranças felizes e, ao mesmo tempo, fortalecendo meu vínculo com Dimitri, cuja
determinação em me proteger era mais evidente do que nunca.
— Espero, com todo meu coração, que você aceite ele ou ela, meu russo... — murmurei
suavemente, enquanto minhas mãos percorriam sua barba, um suspiro de ansiedade escapando de
meus lábios.
Por fim, envolvida por um turbilhão de emoções, adormeci, ciente de que o amor que nos
unia era mais forte do que toda e qualquer adversidade.

SONHO DE LUCIANA

Estava envolta em um magnífico vestido longo de tonalidade rosa-claro, seu tecido fluindo
graciosamente pelo chão enquanto caminhava por um deslumbrante jardim. As flores amarelas
que pontuavam o cenário conferiam uma atmosfera de encanto, ampliando a beleza do local.
O céu era uma tela sem nuvens, exibindo uma tonalidade azul intensa, e os raios do sol
lançavam uma luz radiante sobre tudo. Cada detalhe do ambiente era uma manifestação de
serenidade e beleza, criando um cenário completamente surreal.
Numa cena digna de um sonho, Roger e Sofia surgiram à distância, vestindo roupas
brancas imaculadas. Roger estava elegante em um terno clássico, realçando sua figura
imponente. Sofia, pequena e radiante, usava um vestido com detalhes florais, resplandecendo
inocência e alegria.
Corri em direção a eles, as lágrimas brotando dos meus olhos pela emoção do reencontro.
Sofia, com um sorriso angelical, correu para abraçar minhas pernas, enquanto Roger, com olhos
amorosos, envolveu-nos num abraço caloroso.
— Roger! Sofia! — exclamei com emoção, as lágrimas brotando naturalmente eu os
abraçava calorosamente.
Sofia, com sua vivacidade infantil, se agarrou às minhas pernas, e eu me abaixei para
corresponder ao seu abraço afetuoso. Roger, com lágrimas de felicidade nos olhos, uniu-nos em
um abraço ternamente reconfortante.
— Mamãe! — Sofia exclamou, com a doçura de sua voz.
— Meu amor... — disse Roger, e suas palavras transbordavam de ternura e emoção.
— Oh, meu Deus! Eu estou sonhando? — questionei, os olhos fixos em Roger e Sofia,
sentindo a realidade do momento se mesclar com a magia do sonho.
— Sim, meu amor, nós viemos te ver... Queríamos te dar uma mensagem... — Roger
respondeu, e suas palavras ressoaram suavemente no ambiente, carregadas de significado.
— Que mensagem?
— Você será muito, mas muito feliz, minha linda brasileira... Eu e Sofia estávamos
destinados a partir naquele dia, mas você tinha uma missão a cumprir em sua vida. Quero que
saiba que nós fomos totalmente felizes ao seu lado, sempre iremos te amar, Luciana.
As palavras de Roger ecoavam como uma melodia emocionante, tocando meu coração.
Lágrimas escorriam pelo meu rosto enquanto eu tentava assimilar a realidade desse encontro
surreal.
— Eu também sempre irei amar vocês — declarei-me em lágrimas, minha voz embargada
pela emoção que me sufocava.
Roger tocou a minha barriga, revelando algo incrível, e Sofia, toda sorridente, disse:
— Vamos proteger essa linda menina também, mamãe... Ela e Dimitri vieram para te fazer
feliz.
— Obrigada, meus amores... Eu sinto muita falta de vocês.
— Também sentimos... Temos que ir agora, mas, antes de partir, deixe-me te dar um beijo
— Roger pegou Sofia nos braços, e ambos beijaram meus olhos. — Volte para a luz, meu
amor… — disse ele, com sua voz bondosa.
— Sempre te amaremos, mamãe… — minha princesinha proferiu as palavras repletas de
inocência e afeto, e suas vozes se distanciaram.

Numa transição brusca, acordei subitamente, chamando por eles. O suor cobria o meu
corpo, mas a sensação de ter vivido um reencontro tão intenso persistia, e então algo
surpreendente aconteceu.
Fechei e abri os olhos, sentindo-me estranha. Repeti o ato.
EU ESTAVA ENXERGANDO!
Incrédula, esfreguei os olhos várias vezes, temendo estar presa no sonho. No entanto, ao
abri-los e perceber nitidamente todo o quarto, notei que Dimitri não estava na cama.
Eu observei atentamente o meu corpo, envolto por uma camisola de seda branca, com alças
delicadas que se entrelaçavam suavemente. Minha atenção foi capturada por algumas cicatrizes
que adornavam meus braços e pernas, testemunhas silenciosas do acidente que deixou suas
marcas em mim.
Enquanto me examinava, uma percepção reconfortante tomou conta de mim: meu corpo,
apesar das cicatrizes, ficou intacto.
Como meu marido disse no sonho, eu tinha uma missão nesta vida, por isso sobrevivi.
E a sobrevivência, enfim, não era apenas uma casualidade, mas uma resposta ao chamado
do que deveria cumprir nesta vida.
Pelos raios de sol que se infiltravam pela janela aberta, constatei que já era manhã e ele
devia estar acordado. Ao olhar para a escrivaninha ao lado da cama, notei um porta-retrato com
nossa foto do dia do meu aniversário.
Dimitri era loiro.
E lindo.
Completamente lindo.
De repente, a porta se abriu e ele entrou de costas, enrolado numa toalha, segurando uma
bandeja de café da manhã.
Meus olhos se arregalaram diante da visão avassaladora daquele homem que dominava
meus pensamentos.
Céus, como ele é gostoso!
Ele era alto, a pele branca como neve, e seus cabelos lisos dourados caíam graciosamente
até o pescoço. Nas costas, uma enorme tatuagem de uma caveira. Seu braço e perna direita
exibiam mais tatuagens, adicionando um toque de rebeldia à sua aparência.
— Já acordou, meu amor? Quase derrubei essa bandeja! O café está quente demais. Vou
colocar aqui na cômoda — o russo se desculpou, enquanto permanecia sentada na cama, estática,
engolindo em seco.
Ao se virar para mim, a falta de ar me dominou.
Seu rosto, lindo e imponente, exibia olhos azuis-claros como o céu, um nariz afilado, uma
barba dourada cobrindo sua boca rosada e queixo, e dentes perfeitos que me fizeram desmoronar
inteira.
No rosto anguloso, adornava um sorriso lascivo, que completava a visão magnética.
Cada traço em seu semblante parecia esculpido para a sedução, e quando ele sorriu mais
uma vez para mim, a temperatura ao redor pareceu subir alguns graus.
Ao deslizar o olhar por seu físico, fui atingida em cheio pela visão de sua beleza máscula.
Seu corpo era uma escultura, destacando-se o abdômen com pelos loiros e trincado, que sugere
uma força irresistível. As veias salientes nos braços e no quadril criavam um mapa sinuoso que
conduzia ao caminho da perdição, revelando uma sensualidade inegável.
O “V” delineado em sua virilha me fez salivar.
— Porra… — murmurei, em total perplexidade. — Pu.ta que pa.riu — sibilei um palavrão
por trás de outro, excitada.
Obrigada, Deusss!
— Luciana, você está bem? — ele perguntou, um vinco se formando em sua testa.
Meu coração acelerou, deixando-me nervosa ao extremo.
Nunca vi um homem tão lindo e completamente delicioso em toda a minha vida.
Poderia passar o dia inteiro babando, perdendo-me ao vislumbrar seu corpo, exclamando
todos os palavrões possíveis, porque, porra…
Ele é gostoso para um caralho!
Seus olhos azuis se estreitaram ao me analisar com preocupação, seus lábios rosados se
umedeceram.
Droga, que homem sexy!
— Cacete… — suspirei desejosa e fitei sua toalha, notando a protuberância bem saliente
escondida pelo tecido felpudo.
Entortei o rosto para visualizar melhor.
Minha boca aberta salivou.
Dimitri pôs as mãos no quadril, me olhando cismado.
— Tá sentindo algo? — indagou, preocupado.
— Não, é que... — decidi omitir que estava enxergando, e pensei em lhe fazer uma
surpresa em seu aniversário.
Ele se aproximou e sentou-se ao meu lado, segurando meu rosto. Meus olhos lacrimejaram
ao olhá-lo tão de perto e toquei sua face, piscando várias vezes, emocionada.
Lindo, lindo lindo! Puta que pariu!
— O que você tem, minha Luz? Ahn? Teve um pesadelo? Por que está com os olhos
cheios de lágrimas?
— Eu sonhei com o Roger e a Sofia. Foi a primeira vez desde o acidente, Dimitri...
— Oh, Jesus...
— Eles disseram que eu seria muito feliz com você... — segurei o choro na garganta. — E
que me amavam...
Não suportei a emoção e as lágrimas rolaram por minhas bochechas. Dimitri me abraçou, e
eu fiquei chorando em seu peito.
— Eles agora são como seus anjos protetores, meu amor... Você deve ficar feliz por isso,
viu?
— Eu sei — voltei a encará-lo, e ele fez o mesmo.
— Está conseguindo ver alguma coisa, Luciana?
— Só vultos... — menti, eu estava vendo tudo perfeitamente.
Ao observar de soslaio, notei que o quarto de Dimitri era uma mistura harmoniosa de
elegância e rebeldia. As paredes acinzentadas exibiam quadros de bandas de rock icônicas, como
Guns N' Roses e Scorpions, trazendo uma atmosfera vibrante e cheia de energia. A iluminação
suave realçava os detalhes do ambiente, destacando a cama ampla e confortável, com lençóis
luxuosos.
A mobília robusta e de estilo contemporâneo refletia o gosto refinado de Dimitri, enquanto
o tapete felpudo preto adicionava uma pitada de aconchego ao chão de madeira.
Ao redor do quarto, uma estante repleta de vinis e CDs revelava sua coleção de rock,
mostrando a paixão de Dimitri pela música.
A janela ampla permitia a entrada suave da luz do sol, criando um contraste agradável com
as tonalidades cinza-escuras da decoração. No canto, uma poltrona confortável convida à
contemplação, enquanto prateleiras exibiam livros que refletiam os variados interesses de
Dimitri.
— Você me olha tão intensamente que penso que está me vendo — disse ele, gargalhando,
exibindo os dentes perfeitos com caninos salientes.
Porra, isso me excita.
— Eu queria tanto te ver, Dimitri… — desci os olhos pelo seu corpo super gostoso e fiquei
pegando fogo, o tesão tomando conta do meu ser, doida para atacar esse homem.
Parece que o fato de o ver me deixou mais apaixonada e mais louca para fazer sexo com
ele.
Passei as mãos pela sua barriga, explorando cada músculo, e fui subindo lentamente,
sentindo a textura da sua pele quente e musculosa sob minhas mãos.
— O que você quer, mulher? — ele perguntou, com a respiração se tornando acelerada.
— Você. Dimitri, eu não aguento mais — me sentei em seu colo enquanto olhava
fixamente em seus olhos e, não suportando mais, tomei sua boca loucamente.
Ele não resistiu e me deitou na cama, ficando por cima de mim, tentando me beijar
devagar, mas o fogo que eu estava não era de Deus.
Senti o gosto dos seus lábios, a textura da sua língua explorando a minha, e a química
eletrizando todas as células do corpo.
— Me beija daquele jeito bem selvagem, meu russo gostoso — pedi contra seus lábios.
— Porra, mulher, não podemos — respondeu ele num rosnado, olhando em meus olhos.
Ensandecida, puxei sua toalha, deixando-o nu.
— Luciana, é melhor a gente parar... — se pôs de pé, passando a mão nervosamente pela
testa.
E eu fiquei mais boquiaberta ao vislumbrar toda aquela glória…
E, porra, que glória, senhor!
— Meu pai amado! — murmurei incrédula, com o olhar fixo em seu membro majestoso,
rosado, delicioso, que já estava ereto, tão pronto para mim.
O homem é gostoso pra caralho e esse pau dele é um pecado.
Senhor, era por isso que eu me sentia toda destroçada quando fazíamos amor.
— Vem cá, Dimitri — o chamei e me sentei na beirada da cama, o puxando pela bunda,
meio desesperada e ele me fitou cheio de desejo, pois também estava daquele jeito.
— O que você vai faze…
Antes que ele terminasse de formular a frase, caí de boca em seu pau lindo, grande e
grosso.
— Porraaaaaaa! — ele grunhiu assustado, segurando as laterais da minha cabeça com
delicadeza. — O que você tem hoje, linda? Meu Deus, está tão safada…
— Quero ficar trancada o dia todo contigo nesse quarto e quero que me foda de todas as
formas... — exigi ao afastar minha boca de sua ereção, louca de desejo e depois lhe dei atenção
novamente, chupando-o com vontade e olhando para seu rosto, admirando a forma que ele
apertava os olhos, morrendo de prazer.
— Que gostoso, meu amor... Ah, porraaa... — Dimitri enlouqueceu com meu boquete
esfomeado.
Estava tão fora de mim, que arranhei suas coxas com raiva enquanto engolia o membro
duro e grande desse homem até a base.
— Meu Deus, mulher, vá com calma — ele gemeu rouco, sentindo meu desespero sexual.
— Ah, Dimitri, três meses sem você... Eu não tô suportando — falei, ao descolar meus
lábios dele.
Dito isso, voltei a atacá-lo novamente, completamente faminta.
À medida que fiz meu trabalho com a boca, meu olhar percorria entre seu corpo e seu
rosto, querendo desbravar cada centímetro de sua pele.
Eu só sairia desse quarto toda quebrada e assada! Esse homem gostoso não me escaparia!
Dimitri ficou enlouquecido e quando estava a ponto de gozar, se retirou de dentro de minha
boca, respirando ofegante.
— Espera... Ah, caralho, eu quase gozei... Vou pegar uma camisinha na cômoda.
— Uma? Você tá de brincadeira? Pegue umas 10, cabrón, você não vai trabalhar hoje… —
avisei esfomeada, mordendo meu lábio inferior com força, com o olhar fixo naquele mastro
rosado, adornado de veias, delicioso.
Ele engoliu seco, enquanto mordia seu lábio e sorria incrédulo, balançando a cabeça, meio
assustado.
— Luciana, tem certeza de que você está bem?
— Vai logo, Dimitri... embora eu queira que você me foda sem camisinha… quero sentir
você dentro de mim...
— Não diz isso, safada... Você não toma anticoncepcional e não quero te engravidar.
Travei meu sorriso, pois ele ainda não sabia da minha gestação e eu ainda temia que
rejeitasse nosso bebê, então aquiesci.
Ele pegou as camisinhas rapidamente e colocou uma em seu membro enquanto me
admirava cheio de desejo.
— Deite-se agora e abre as pernas pra mim! — exigiu, todo bruto e excitado.
Quando pensei que ele meteria logo, seu rosto afundou em minha fenda.
— Ahh! — gemi intensamente, mediante à sua boca selvagem e coloquei o travesseiro
debaixo da minha nuca para visualizar seu rosto e fiquei mais louca ainda. — Meu Deus, que
homem...
Suas tatuagens o tornavam mais sexy ainda e Dimitri abocanhava meu sexo com vigor,
fazendo-me gemer alto e sofregamente.
— Geme baixinho, seus pais estão aqui, Luciana — avisou, voltando a me chupar com
gosto.
— Vou tentar, mas eu queria ir pra um motel... — falei ofegante. — Quero te dar tudo,
quero gritar!
— A gente vai sim... — ele prometeu com um sorriso lascivo e voltou a realizar seu
trabalho sensacional, até subir em cima de mim. — Vou te comer bem gostoso. Três meses sem
sentir essa boceta, esses seus buracos, me deixaram louco, mulher.
Dito isso, ele se enterrou dentro de mim, penetrando devagar, olhando em meus olhos com
o semblante carregado de desejo, sexy feito o próprio inferno, e eu não piscava, aproveitando
cada detalhe de suas feições.
— Você deve ser tão lindo… — falei contra sua boca, que roçava na minha a cada
arremetida.
— Acho que sou sim — disse, todo convencido, sorrindo todo safado.
— Seu cachorro! Que vontade de dar na sua cara!
Ele sorriu cínico e engoliu minha boca, me beijando daquela forma selvagem enquanto
aumentava o ritmo de seu quadril contra o meu, metendo com força.
— Isso, gostoso! — gemi em sua boca, tomada de desejo.
Parecia que a cama estava em chamas.
— Que saudade de você, meu amor... Oh, porra! — grunhiu gostoso, me invadindo com
mais força, descontrolando-se, levando-me ao céu com sua invasão bruta e ardente.
Depois de algum tempo, eu pedi para sentar. Ele se ajeitou, sentando-se na cama e me
montando sobre seu membro ereto.
— Senta! — sua voz grossa exigiu com certa brutalidade.
— Sim, meu russo safado — enlacei meus braços em seu pescoço e ele ficou admirando
meus olhos com seu olhar áspero e safado.
Sentei enlouquecida e suas mãos grandes se espalmaram em minhas nádegas, apertando-as
com firmeza.
— Oh, meu Deus! — gemi chorosa, ao sentir seu pau batendo no meu interior mais
profundo, aumentando meu desejo.
— Tá sentindo meu pau todo dentro de você? Ahn? — perguntou, todo bruto.
— Sim, Dimitri!
Quiquei com desespero, olhando seus olhos azuis glaciais e ele os apertou, gemendo
baixinho.
As feições desse homem me deixaram fora de órbita.
Eu queria que ele me partisse ao meio!
Enlouquecida de desejo, não me cansei das sentadas e ele arregalou os olhos.
— Você está tão safada!
— Eu sou louca por você, Dimitri — choraminguei, atacando sua boca.
Ele enlouqueceu junto comigo e suas mãos se emaranharam em meus cabelos na nuca,
dessa vez, tomando conta da situação e metendo sem pena dentro de minha boceta.
— Fica de quatro agora, sua gostosa — comandou, louco de desejo.
O obedeci imediatamente e o olhei de lado. Dimitri apertou minhas nádegas com as mãos e
se mordeu, excitado ao extremo.
— Droga, senhor, que mulher linda!
Ele puxou meu quadril de forma bruta, ao encontro de seu volume e socou inteiro dentro
de mim com raiva, olhando-me todo selvagem.
O assisti me possuindo como um animal sedento, metendo com força, me fazendo revirar
os olhos e ter um orgasmo atrás do outro.
Eu nunca senti tanto prazer na minha vida.
Me tremi toda e ele percebeu, ficando maluco.
— Porra, tá gostoso, né? — o russo safado perguntou, num sussurro contra o pé do ouvido.
— Sim, meu amor! Me come sem dó! — implorei.
— Caralho! — Dimitri puxou meu cabelo com uma mão, investindo sem piedade,
intensificando o barulho de nossos corpos se batendo. Tentei não gritar, fazendo uma força do
inferno. — Eu amo meter nessa sua boceta! Cacete!
Acabei gritando sem querer.
— Meu Deus, não grita, amor!
Mordi o lençol com força enquanto ele me fodia como um animal no cio, se inclinando em
cima de mim e sussurrando em meu ouvido.
— Porra, amor, que boceta é essa?
— Me fode toda, Dimitri, por favor — supliquei, com os olhos semicerrados, consumida
pelos orgasmos um atrás do outro.
— Caralho, sim! Todinha!
Nosso sexo selvagem se prolongou por duas longas horas e gastamos umas cinco
camisinhas.
E eu dei tudo para esse homem.
Estávamos molhados de tanto suor e agarrados, respirando ofegante.
— Luciana, que fogo é esse? — de olhos fechados, ele perguntou arfante, com uma mão
pousada no peito.
— Eu sou tarada por você, meu russo gostoso. Você é tão lindo… — disse sem querer.
— Você não me viu pra dizer isso — ele gargalhou, convencido. — Mas sim, eu sou uma
delícia.
— Seu canalha... É que eu toco em você e fico te imaginando — tentei me explicar.
— Se me achar feio, você vai me deixar? — ele olhou para mim.
— Não. O que importa é a beleza que há nesse seu coração. Eu te amo, Dimitri.
— Eu também. Te amo loucamente, minha brasileira. Vamos tomar banho, você precisa
comer. O café congelou. E nós que pegamos fogo — ele constatou, olhando para a bandeja
intacta e sorriu de canto.
Quando ele me puxou delicadamente da cama, olhei para todo o seu corpo tesudo,
malhado, cheio de tatuagens e suado naquela pele branca, e pisquei novamente.
Ao entrarmos debaixo do chuveiro, comecei a agarrá-lo.
— Me fode aqui. Com força — pedi excitada e ele sorriu, achando que estava brincando.
— Para de brincadeira, Luciana.
— Me fode agora, seu cachorro! Ou não dá conta? — provoquei.
Ele endureceu o semblante, foi até a mesinha de cabeceira do lado da cama e pegou uma
camisinha, após colocá-la, voltou para o chuveiro, me montou no quadril, prensando-me na
parede e se enterrou inteiro dentro de mim, sem cerimônia, ainda me olhando com raiva e desejo.
— Acha que eu não dou conta, não é? — questionou todo bruto, com seu olhar feroz em
meus olhos.
— Hum... Acho que não... — o provoquei mais e fiquei rindo de sua cara.
— Ok, eu até estava com pena de você, mas você vai me pagar por esse seu deboche, sua
gostosa! — Dimitri acelerou as estocadas, me fazendo gritar, enquanto me agarrava em seu
pescoço.
O homem tinha uma força do inferno e me segurou sem dificuldade.
— Vai tomar meu pau todo, safada!
— Ahh! — novamente, não consegui conter o grito que me escapou da garganta e puxei
seu cabelo com raiva, meu olhar cravado no seu, que estavam com as pupilas dilatadas de tanta
excitação.
Dimitri me fodia sem pena alguma e depois gozou, mordendo meu pescoço, grunhindo
gostoso contra meu ouvido.
— Ah, porra! Que mulher gostosa!
Depois disso, decidimos tomar banho de verdade e descemos para comer. Evitei me
alimentar em demasia para não vomitar e, ao voltar para o quarto, o agarrei novamente.
— Quero de novo.
— Cacete, mulher, você tomou Viagra? — segurando o riso na boca, ele pousou as mãos
em meus ombros, indagando-me.
— Não — gargalhei. — Eu estou louca de desejo. Por favor, mata a minha vontade.
— Vou tentar, embora eu saiba que ela é imortal.
Voltamos para a cama e gastamos o resto das camisinhas, numa foda mais carinhosa e
cheia de declarações de amor.
Ao entardecer, Dimitri adormeceu e fiquei acordada, morta de cansada, admirando seu
corpo e suas tatuagens.
Ao prestar atenção no braço esquerdo, vi o nome de duas pessoas, pareciam ser russos.
“ Quem eram essas pessoas? “ Me questionei, perdida na curiosidade.
DOIS DIAS SE PASSARAM voando e o dia do meu aniversário finalmente chegou. Decidi
dedicar a manhã ao trabalho, mas antes do almoço, retornei para casa. Ao cruzar a porta, uma
surpresa encantadora aguardava: Ekaterina havia transformado cada espaço com balões
coloridos, enquanto dona Mirian preparava um almoço especial, enchendo a casa com aromas
acolhedores.
Luciana, insaciável em sua paixão, arrastou-me com urgência para o quarto, onde vivemos
um encontro selvagem e apaixonado.
Era o terceiro dia consecutivo de fodas incríveis, e eu, agora, começava a detectar uma
expressão singular na face dela, algo inquietante e, ao mesmo tempo, excitante.
Uma aura de mistério envolvia o momento, como se algo extraordinário estivesse prestes a
acontecer.
A noite chegou e Ekaterina assumiu o comando da celebração. Um bolo imponente e uma
seleção de doces russos, feitos sob medida para meu gosto, adornavam a festa. Amigos da
academia, o namorado de Ekaterina, o inseparável amigo de Luciana, o agente Wilson, se uniram
à comemoração na sala de estar, criando um ambiente de alegria contagiante.
O momento dos parabéns chegou, primeiro em russo e depois em inglês. Abraços
calorosos, votos de felicidade e risos preenchiam o espaço.
Quando Luciana se aproximou, um calor suave percorreu meu corpo, antecipando o beijo
que ela delicadamente depositou em meus lábios.
Minha brasileira irradiava elegância em um deslumbrante vestido branco curto de alças,
que abraçava suavemente suas curvas, ressaltando a beleza natural que sempre me encantou.
Seus cabelos, presos de maneira refinada em um coque, acentuavam a graça de seu pescoço
exposto. Observei-a com admiração, percebendo sutilmente as mudanças que o tempo trouxe à
sua forma. Apesar de estar mais magra devido ao que passou, seus seios estavam mais fartos.
— O que está aprontando, minha Luz? — perguntei, sorrindo, enquanto segurava seu rosto
delicado. Nossos olhares se encontraram, e por um momento, as palavras pareciam
desnecessárias diante da conexão que compartilhamos. Um sorriso enigmático adornava seus
lábios, e um silêncio carregado de expectativa preencheu a sala, como se estivéssemos à beira de
algo extraordinário.
— Eu tenho uma surpresa... — revelou, com um sorriso radiante que refletia um mistério
palpável no ar.
— Qual é, meu amor? — perguntei, ansioso. Seus olhos percorreram meu traje, e a
intensidade do momento crescia à medida que ela compartilhava palavras que transformaram o
ambiente em uma cascata de emoções.
— Tenho a sorte de ver o homem mais extraordinário do mundo. É tão gratificante poder
te enxergar, Dimitri — lágrimas escorreram de seus olhos, e ela manteve o olhar fixo em mim,
revelando uma vulnerabilidade que só aumentava a preciosidade do instante.
— O quê? Você... você está me vendo? — inquiri, atônito.
— Sim, meu amor! Voltei a enxergar há três dias, depois daquele sonho.
— Meu Deus! — exclamei, as lágrimas de felicidade se misturando às suas, enquanto o
peso da emoção envolvera a sala, tornando meu aniversário algo inesquecível.
Todos suspiraram de alegria, e dona Mirian fora envolvida pela emoção, expressando sua
gratidão com lágrimas nos olhos.
— Oh, Jesus, obrigada! Muito obrigada, meu Deus, por restaurar a visão da minha
filhinha!
Sem perder tempo, ergui Luciana nos braços, mergulhando em um beijo repleto de paixão.
Ao pousá-la delicadamente no chão, decidi provocá-la com um sorriso cínico.
— Fala a verdade, eu sou lindo, não é?
— Sim, e extremamente gostoso… Mamãe tinha toda a razão quando disse que você se
parecia com o Charlie Hunnam… Droga, você é tão perfeito…
— Sei. Era por isso que você estava tão foguenta, não era?
— Aham. Quando eu abri os olhos e te vi, eu enlouqueci... Porra, você é uma delícia!
Quero viver contigo enterrado dentro de mim, Dimitri… — sussurrou em meu ouvido,
desencadeando uma onda de tesão avassalador.
— Porra, que reclamona safadinha… — sussurrei de volta.
— Sempre com sua boca suja, não é, meu ogro?
— Aposto que ela ficaria bem melhor no meio das suas pernas, gostosa — insinuei, cheio
de malícia e ela sorriu envergonhada, ficando com o rosto enrubescido. — Mais tarde eu realizo
sua vontade — voltei a beijá-la e ela me arranhou por cima da roupa, demonstrando estar
excitada.
Na sequência, nossos familiares e amigos aproximaram-se para abraçá-la e parabenizá-la,
enquanto a atmosfera foi impregnada por uma onda calorosa de congratulações.
A felicidade me envolvera como um abraço apertado; não poderia ter recebido um presente
de aniversário mais extraordinário.
Agora, percebi que Luciana não apenas me olhava, mas me devorava em cada olhar,
absorvendo intensamente cada detalhe do meu ser.
Depois desse momento, nos sentamos para compartilhar a refeição festiva. Enquanto
degustamos os sabores deliciosos, acabei me sujando com o doce, que manchou minha camisa.
Ekaterina, sempre prestativa, veio ao meu socorro e me chamou para a cozinha.
— Vamos, Dimitrinho — chegando lá, me sentei numa cadeira, ela limpou minha roupa e
puxou assunto. — Finalmente a Lu está enxergando, não é?
— Sim, estou feliz demais, irmã.
A alegria se entrelaçou com a emoção em minha voz. No entanto, um tom estranho na
pergunta seguinte de Ekaterina despertou minha curiosidade.
— Sei... e... ela ainda está vomitando?
— Às vezes, mas ela está comendo pouco.
— Entendi... Lembra que Svetlana era assim quando ficou grávida?
Ao falar isso, ela me encarou com medo, e eu me levantei da cadeira com raiva,
constatando o que realmente podia estar acontecendo.
— Dimitri, você precisa conversar com a Lu… — sugeriu minha irmã, a voz trêmula. —
Talvez ela... ela esteja grávida.
Me calei diante de suas palavras, meu coração acelerava, e saí em direção ao meu quarto
para trocar de roupa.
— Dimitri, volte aqui, irmão.
Deixei Ekaterina falando sozinha e, ao entrar em meu quarto, me sentei na cama, enquanto
retirava minha camisa suja e pus as mãos na cabeça, que só faltava explodir de dor.
— Isso não pode acontecer... — balancei a cabeça agoniado, apertando os olhos.
Alguns minutos depois, Luciana bateu à porta, entrando em seguida, vindo até mim toda
sorridente.
— Meu amor, por que você ainda está aqui? Estão te esperando lá embaixo!
— Eu vou já — falei secamente, a encarando.
Ela se sentou ao meu lado e segurou meu rosto com suas delicadas mãos.
— O que você tem?
— Nada. Vou vestir uma roupa e vamos descer, ok?
— Ok.
Ela aguardou enquanto procurei uma camisa no guarda-roupa, mas logo veio por trás de
mim, me abraçando e beijando minhas tatuagens das costas.
— Você é tão lindo… — murmurou.
Meu amigo de baixo ficou em alerta, mas me desvencilhei dela e peguei uma camisa básica
preta, vestindo-a rapidamente.
— Agora não. Vamos — puxei-a pelo braço e seguimos para sala.
Chegando à mesa, peguei um pedaço de bolo e levei para ela.
— Vem cá, vou te alimentar. — Ela sorriu toda alegre, e desci o olhar para sua barriga, que
se mostrava um pouco saliente. — Come esse bolo, mandei fazer especialmente para você. Tem
cobertura de Nutella.
— Ai, que delícia! — Coloquei umas garfadas em sua boca e ela comeu, satisfeita. Ainda
segurando a expressão fria, testei seus limites, e algo que antecipei aconteceu.
— Dimitri, eu vou ao banheiro, volto já!
Ela correu para o banheiro e vomitou tudo na privada. Fui atrás dela, observando tudo de
braços cruzados, com o coração apertado.
Quando ela limpou a boca e olhou para mim, seu semblante se transformou em puro medo.
Decido questioná-la, meu tom agora era um eco das minhas próprias angústias.
— Você está bem?
— Sim, vamos voltar para a festa, meu russo... — quando ela passou por mim, puxei seu
braço, falando sério.
— Vamos para o quarto.
— O quê? Para quê, Dimitri?
— Vem...
Luciana ficou nervosa, e suas mãos tremiam enquanto me seguia. Ao chegarmos lá, fechei
a porta, e ela se sentou na cama, esfregando as mãos, ansiosa, com os olhos fixos nos meus.
Por alguns segundos, a encarei em silêncio, analisando as mudanças físicas em seu corpo.
Meu coração batia forte, uma sinfonia descompassada de emoções. Respirei fundo antes de me
pronunciar.
— Você vomitou aquele bolo com Nutella...
— Foi. Acho que é um problema intestinal — ela mentiu, e seus lábios tremiam como
folhas em um vento tempestuoso.
— Sei... Sabe, Luciana, eu nunca a vejo falando com nenhum médico sobre isso. Sua
menstruação não vem há mais de um mês... Você está sempre enjoada, vomitando e com um
sono danado...
Ela arregalou os olhos e sua respiração acelerou.
O ar ficou denso, como se o peso da verdade estivesse prestes a esmagá-la.
— Dimitri, eu... eu quero conversar com você sobre isso...
— É mesmo? Você está grávida, não é? — perguntei sem rodeios, e ela ficou mais
apavorada ainda, seus olhos marejaram ao me encarar. Minha própria angústia transbordava em
cada palavra. — Acha mesmo que eu não percebo nada? Acha que sou idiota?
Ela tentou falar, mas as palavras não conseguiram sair. O silêncio se instalou, pesado como
um veredito inevitável.
— Você está grávida! Admita! — esbravejei, olhando em seus olhos lacrimosos.
— Sim! Eu estou grávida! — ao afirmar isso, ela caiu no choro, pondo as mãos nos olhos,
sentindo-se envergonhada e vulnerável diante da tempestade de emoções.
— Porra! — berrei, passando as mãos no meu cabelo, me sentindo perdido. Eu segurei seu
rosto, fazendo-a olhar para mim. — Desde quando você sabe disso? — questionei, meu tom
oscilando entre a raiva e a angústia.
— Desde o dia que fui socorrida da casa do Oscar. O exame de corpo delito acusou — ela
respondeu receosa, seus olhos em um temor profundo.
— Meu Deus! Você passou um mês escondendo isso de mim?
Ela abaixou a cabeça, incapaz de encarar o impacto das palavras. O quarto foi preenchido
pelo silêncio, um interlúdio carregado de arrependimento e dor.
— Eu... eu tive medo! Você sempre passou na minha cara que não queria filhos e...
— Esse filho... Esse filho é meu, Luciana?
Luciana engoliu seco e respondeu com convicção, balançando a cabeça.
— Sim.
Dou uma lufada no ar, sentindo-me mais aliviado, mas o drama ainda se desenrolou, e meu
tom de voz refletiu um turbilhão de sentimentos.
— Me desculpe perguntar isso, é que você trepou com aquele cara na sua casa e passou a
morar com o Oscar.
— Eu vou te explicar. Aquele cara, o Raymond, ele é gay, trabalhava comigo no escritório.
Naquele dia, a gente armou que estávamos transando para te fazer sofrer... e sobre o Oscar...
depois que escutei você com Carmem, na sua cama, eu queria me vingar, te esquecer, e tentei
fazer sexo com ele, uma vez, antes dele se revelar ser esse homem agressivo... Quando ele subiu
em cima de mim e iniciou o ato, eu fechei os olhos, imaginando ser você e chamei seu nome,
porém, na mesma hora, ele saiu de cima de mim furioso, e não fizemos nada.
— Mas..., e se esse bebê for dele?
— Não é, Dimitri. Ele usou camisinha e fez vasectomia há anos... não tinha como eu ficar
grávida dele.
Suspirei aliviado, mas a confusão de emoções continuou a me assombrar.
— Era pra você ter me dito!
— Eu estava procurando uma maneira de fazer isso! Tive medo de você mandar eu abortar
ou terminar comigo! — explicou-se.
— Aquele porra te bateu mesmo você estando grávida! Você poderia ter perdido essa
criança, caralho! Eu devia tê-lo matado! — gritei e puxei meus cabelos com raiva.
— Dimitri, calma. Nossa filha é forte. O médico disse que ela é uma guerreira porque tudo
estava bem com ela, apesar de tudo que passei.
— Meu Deus! — virei-me e amparei as mãos na parede, supernervoso.
Luciana chorou, desconsolada.
— Me perdoe, Dimitri. Eu tive medo...
Fiquei em silêncio, as lágrimas escorriam pelo meu rosto enquanto recordava as cenas
tristes em que perdi minha mulher e minha filha.
O medo de reviver essa dor me aperta o coração.
— Eu... eu vou embora, obrigada por cuidar de mim. Eu sei que você não quer esse bebê,
mas saiba que eu quero.
Quando ela disse isso, meu mundo desmoronou e eu me virei, puxando seu braço ao vê-la
se encaminhar para a porta.
— O que você está fazendo, mulher?
— Vou embora para meu apartamento, pois sei que você não vai nos aceitar, Dimitri.
— Você não vai a lugar nenhum! — Ela me olhou sem entender. — Eu... Eu estou muito
perturbado, no entanto eu jamais pediria para você abortar. Eu vou cuidar de vocês duas,
Luciana. Não vá embora, eu te amo… — Luciana ficou perplexa com meu pedido, e limpei as
lágrimas de seus olhos. — Não chore, meu amor... Eu entendo por que você escondeu... por
medo da minha rejeição. Mas eu te amo tanto, nunca mandaria você tirar nosso filho... Eu vou te
explicar, com calma, porque eu dizia aquelas coisas, e acho que você compreenderá. Só peço que
me deixe digerir essas informações no meu tempo.
— Claro, meu amor. Eu só queria te dizer que estou tão feliz com seu bebezinho russo
dentro de mim... ela será uma linda menina.
— Como você sabe que é uma menina?
— A Sofia me falou no sonho.
— Entendi.
— Seremos uma linda família, Dimitri.
— Seremos sim, minha luz — a abracei com força, sentindo a pulsação acelerada do meu
coração e beijei o topo de sua cabeça, deixando transparecer a emoção no gesto. — Então eu te
engravidei naquele dia, na mesa do meu escritório? — perguntei e olhei em seus olhos, buscando
conexão.
— Sim... você lembra?
— Claro... aquela foi a melhor foda da minha vida. Depois dessas que tivemos
recentemente. Eu te comi com tanto gosto, com tanta paixão, loucura... Ali eu tive coragem de
dizer que eu te amava, pois eu não aguentava mais viver sem você.
— Eu sei, meu Shrek — Luciana me abraçou forte, compartilhando a intensidade do
momento, e ficamos algum tempo assim, mergulhados na troca silenciosa de sentimentos, depois
ela quebrou o silêncio. — Vamos contar que eu estou grávida?
— Eu acho melhor fazer isso. Chega de esconder, esse bebê tem que estar bem protegido
até ele nascer.
— Esse bebê é o nosso bebê, Dimitri.
— Eu... eu sei, amor. Vamos descer.
— Espera... não quer fazer amor comigo? Uma rapidinha.
— Não. Pode fazer mal para o bebê. Eu estou arrependido de ter te fodido com tanta força
esses dias, eu temo pela vida da criança... — falei com muito medo, e ela percebeu, segurando
meu rosto e acariciando.
— Não se preocupe, isso não faz mal.
— Vamos descer, por favor?
— Ok — Luciana respondeu meio tristonha, mas depois se conformou.
O temor que eu tanto tentei evitar estava tomando conta do meu ser, e eu me esforçaria ao
máximo para proteger esse bebê.
Nossa filha.
Na sequência, nos dirigimos à sala, onde nos sentamos no sofá. Luciana, visivelmente
apreensiva, segurou minha mão enquanto decidi compartilhar a notícia.
— Bom, pessoal... há algo que eu gostaria de contar.
Todos nos olharam ansiosos e apreensivos. Luciana, apertando minha mão, esperava o
momento que eu anunciaria a novidade.
— Luciana está grávida de mim. De três meses. Estamos esperando um filho.
Um burburinho tomou conta da sala, e papai começou a chorar, emocionado.
— Oh, meu Deus, um neto?! Viva! — exclamou meu pai, exultante.
— Ahhh, meu sobrinho! Titia já ama! — Ekaterina gritou, emocionada.
Cada um veio nos abraçar, e, embora eu sorrisse, só Deus sabia o turbilhão que me
envolvia em meu interior.
Luciana, emocionada, chorava enquanto sua mãe e minha irmã tocavam em sua barriga,
fazendo carinho, explicando a todos que tinha descoberto a gravidez após sair do cativeiro.
— Ain, acho que será um Dimitrinho! — minha irmã comentou, sorrindo.
— E eu acho que será uma menina! — Dona Mirian disse, alegre, enxugando as lágrimas.
— Quem dera fossem gêmeos ou trigêmeos! — papai comentou, brincando.
— Calma, senhor Mikhail — Luciana riu, mas seus olhos refletiram pânico.
Em seguida, a campainha tocou e me ocupei em abrir. Meus olhos se arregalaram ao
encontrar Carmem à minha frente. Ela trajava um vestido vermelho tomara que caia decotado,
curto, realçando suas curvas, e sapatos de salto alto da mesma cor. Seu toque de maquiagem leve
destacava seus lábios vermelhos volumosos, e o cabelo, tingido de preto, estava preso em um
elegante rabo de cavalo.
— Carmem? O que faz aqui? Como sabe onde moro? — perguntei num tom baixo,
nervoso, enquanto meus olhos vasculhavam rapidamente o local em busca de Luciana.
— Olá, Dimitri. Bem, uma vez você comentou, bêbado, e eu me lembrei. Queria te dar os
parabéns e conversar sobre um assunto sério. Acredite, é do seu interesse — percebi a tensão e o
nervosismo estampados no rosto de Carmem.
— Certo, vamos para o jardim — fechei a porta atrás de nós, dirigindo-nos ao jardim. Ao
chegarmos lá, questionei o motivo de sua visita novamente, e percebi um temor nos olhos dela.
Havia algo mais nessa história.
— Eu... eu soube o que aconteceu com a Luciana. Eu sinto muito, Dimitri — Carmem
exprimiu genuína tristeza.
— Certo, obrigado, mas aonde você quer chegar com isso? — Antes que a mexicana
pudesse responder, percebi Luciana se aproximando furiosa, acompanhada por Wilson, que
tentava contê-la, percebendo que ela estava prestes a enfrentar minha ex ficante.
— O que essa cachorra quer aqui? — Luciana olhou para Carmem, e vi em seus olhos uma
mistura de insegurança e fúria.
Mal sabia ela que, aos meus olhos, era a mulher mais linda do mundo.
— Luciana, se acalme, você está grávida! Vamos voltar para a sala? — Wilson tentou
acalmá-la, segurando-a pelos braços.
— Me solte, Wilson! — ela se debateu, lançando um olhar odioso para Carmem.
— Amor, se acalme — pedi, visivelmente preocupado.
— Ela está grávida? Oh, Deus... — Carmem arregalou os olhos e pôs as mãos na boca,
surpresa. — Luciana, eu não quero brigar, vim em paz.
— Escute, mulher, se você disser algo ofensivo sobre minha amiga, te coloco no xadrez!
— Wilson a ameaçou, firme em sua posição.
Carmem empinou o nariz, encarando o agente com uma atitude desafiadora, enquanto ele
se mostrou um tanto mexido com a beleza e a personalidade dela.
— Eu já disse que não quero confusão! Quem és tu para me ameaçar? — ela retrucou,
atrevida, as mãos nos quadris.
— Sou o agente de polícia daqui da cidade. Acho bom a senhorita baixar o tom de voz ao
falar comigo — Wilson respondeu com firmeza.
Carmem engoliu em seco, visivelmente intimidada pela presença dele. Ela o encarou,
misturando um olhar de interesse com uma tentativa de dissimulação.
— Meu Jesus... Carmem, conte logo o que você quer! — exigi, demonstrando grande
preocupação, temendo que Luciana pudesse ser afetada pela situação.
E foi aí que tivemos uma revelação sombria.
AINDA NO SOFÁ, celebrando os acontecimentos, meu coração pulsava ansioso enquanto
Dimitri atendia a campainha e demorava a voltar.
— Cadê o russo? — Wilson, meu amigo, perguntou.
— Está lá fora, demorando. Vou até lá — me levantei, dirigindo-me à porta.
— Ok, vou com você até lá fora, Lu, tenho que ir embora agora. Amanhã terá muitas
diligências — Wilson disse, me acompanhando.
— Ok, Wil, obrigada por ter vindo.
Ao chegarmos do lado de fora, avistei Dimitri conversando com uma mulher muito bonita
num local afastado, e ao me dar conta de quem era aquela voz feminina, falando inglês misturado
com espanhol… Era Carmem. Minha pulsação acelerou, e a sombra da dúvida pairou sobre mim.
— Ahh! — Gritei com ódio e ciúmes.
— Que foi, Luciana? — Wilson me indagou, preocupado com minha reação raivosa.
— A vadia mexicana que ficava com Dimitri veio atrás dele! Piranha cínica, atrevida! Eu
vou quebrar a cara dela!
— Luciana, pelo amor de Deus, se contenha!
Não dei ouvidos ao seu pedido e andei até lá em passadas rápidas, gritando com Carmem,
que me olhou assustada, iniciando um bate boca. Dimitri ficou nervoso e veio até mim, ficando
ao meu lado.
— Meu Jesus... Carmem, conte logo o que você quer! — Dimitri exigiu, demonstrando
grande preocupação, temendo que eu pudesse ser afetada pela situação.
— Fale, sua oferecida! — vociferei para a mexicana que se mostrou com medo de mim.
— Yo no quiero briga! No estás cega? — perguntou curiosa, misturando inglês com
espanhol.
— Não! — respondi furiosa. — Posso ver perfeitamente a sua cara de puta atrás do meu
homem! — disparei, tentando me soltar dos braços de Dimitri.
— Luciana, calma! — ela ergueu as mãos em rendição, nervosa. — Eu vim falar o que o
Oscar fez comigo! — Carmem acrescentou com a voz embargada, seu olhar denotando puro
medo.
— Quê? — franzi o cenho, parando de me debater.
— Oscar? Espera… — Dimitri falou, divagando. O russo era esperto. — Foi ele que te
agrediu naquele dia?
— Sí... — ela confirmou, apertando as mãos uma na outra. — Vou contar tudo desde o
início.
Carmem começou a relatar a abordagem de Oscar, numa tentativa que ela o ajudasse a me
separar de Dimitri, e do espancamento ordenado por ele.
— Meu Deus! — levei as mãos à boca, perplexa.
— Foi por isso que eu a deixei em minha casa, Luciana. Eu nunca me deitei com Carmem
depois que fizemos aquele acordo — Dimitri confessou, e tudo começou a fazer sentido.
— É verdade, o Dimitri sempre foi meu amigo, apesar de tudo que tivemos. Foi ele que
ajudou meus pais imigrantes a se esconderem para não serem presos e deportados — a mexicana
desabafou com sinceridade.
De braços cruzados, Wilson olhou para ela bem sério, mas parecia desconcertado com sua
presença.
— Mas por que você não o denunciou? — indaguei.
— Aquele desgraçado me ameaçou, disse que mandaria matar meus pais e o Dimitri! O
que eu, uma stripper mexicana, poderia fazer contra um advogado poderoso como ele? —
argumentou ela, com o semblante triste e olhos lacrimejando.
— Oh, Deus...
— E tem mais outra coisa... — Carmem continuou a falar, seus olhos castanhos refletindo
a dor de suas lembranças.
— O quê? — Dimitri perguntou, arqueando uma sobrancelha com a expressão séria e
atenta.
Carmem fechou os olhos com força para não chorar e fez uma terrível revelação, seus
lábios trêmulos entregando a vulnerabilidade que tentava esconder.
— Ele... ele me estuprou...
— Porra! — o russo gritou, seu rosto endurecendo em raiva diante da brutalidade revelada.
— Isso é sério? — meu amigo a indagou, com um olhar de compaixão, reconhecendo a
gravidade da situação.
— Oh, meu Deus! — exclamei, chocada com as revelações, sentindo um nó se formar em
meu estômago.
Carmem mexeu na sua bolsinha e retirou um pen-drive de lá, nos mostrando a prova de sua
tragédia, segurando-o como se fosse o peso de suas cicatrizes.
— Aqui está a prova — ela entregou para mim, e a frieza do objeto contrastou com o calor
das lágrimas que escorriam por seu rosto. — Acredite em mim, Luciana, eu não quero o Dimitri,
só quero me redimir... Eu sofri muito nas mãos do Oscar, ele fez coisas terríveis comigo...
— O que tem nesse pen-drive, mexicana? — Wilson perguntou, mantendo a postura de
policial, mas seus olhos revelavam compaixão.
— Há uma câmera instalada em meu quarto. Uma vez eu fiquei com um cara e ele roubou
todo o meu dinheiro, então coloquei uma câmera por precaução... Está tudo filmado, tudo o que
ele fez comigo — Carmem revelou, sua voz trêmula carregando o peso de suas memórias.
Em seguida, ela chorou sofregamente, e eu fiquei comovida, então a abracei sem ela
esperar, o que fez Dimitri arregalar os olhos, incrédulo diante o gesto de empatia inesperado.
— Eu não posso acreditar que você passou por algo tão horrível, Carmem. Ninguém
merece passar por isso — senti um aperto no peito ao expressar as palavras, tentando
compreender a profundidade da dor que ela carregava, pois quase passei as mesmas coisas que
ela.
Carmem abaixou a cabeça, envergonhada, mas agradeceu:
— Gracias, Luciana. Eu sei que errei muito, mas não merecia o que ele fez. Peço que me
perdoe por te desrespeitar com palavras, principalmente em relação à sua cegueira. Fui tão
insensível…
Dimitri, que estava observando a cena, decidiu se pronunciar:
— Luciana, eu entendo que seja difícil, mas a Carmem veio até aqui para se redimir e
contar a verdade. Ela não tem culpa do que aconteceu.
Olhei para Dimitri, meus olhos mostrando uma mistura de mágoa e compreensão. Respirei
fundo antes de continuar:
— Eu não vou dizer que esqueci tudo, mas entendo que você foi vítima também. Só não
pense que isso muda o passado entre nós — procurei manter minha voz firme, embora sentisse a
fragilidade da situação.
Carmem assentiu, visivelmente emocionada.
— Lo siento muito, Luciana. Eu não queria causar mais problemas na vida de vocês. Eu só
queria que soubessem a verdade.
Dimitri encarou-me, buscando meus olhos para transmitir apoio. Tentei digerir a situação e
decidi encerrar o diálogo:
— Eu não sei o que o futuro nos reserva, Carmem. Mas obrigada por contar a verdade.
Depois me afastei dela, e ela limpou as lágrimas, pedindo perdão com um olhar de
arrependimento.
— Me perdoem vir aqui hoje, é seu aniversário, Dimitri, só te desejo felicidades. Você
merece ser feliz e ter uma linda família, depois de tudo que passaste.
— Obrigado, querida... — Dimitri a abraçou e depois se afastou, mas sua expressão
revelava uma mescla de emoções, desde a raiva pela situação até a compaixão diante do
sofrimento da mexicana.
— Bom, eu já vou... Vou ligar para um táxi, amigo meu… — disse ela, mas Wilson se
ofereceu, evidenciando um gesto de solidariedade diante do caos revelado.
— Eu posso te dar uma carona, vou pra casa agora. Ninguém vai mexer contigo, sou
policial e meu carro é blindado — Wilson disse para ela, fitando-a intensamente e Carmem o
olhou com desconfiança.
— Ele é um homem de confiança, Carmem. Vá, querida — o russo confirmou.
— Ok — Carmem limpou o resto das lágrimas e se despediu, nos lançando um sorriso
afetuoso. — Adios.
Antes de ir embora com ela, Wilson me abraçou, e apertou a mão de Dimitri, depois guiou
Carmem até seu carro.

Ao encarar Carmem à minha frente, meu coração acelerou descompassado.


Ela era terrivelmente bonita, quente e gostosa.
Era uma verdadeira visão de beleza selvagem, emanando sensualidade e calor. Seus olhos
profundos capturaram minha atenção, criando uma tensão tangível entre nós. Uma autêntica
mulher mexicana, e algo na maneira como ela se expressava sugeriu uma personalidade forte e
cativante.
Ao trocar olhares com ela por um breve momento, percebi que também causei impacto
nela. Desde a morte de Kate, minha vida virou um vazio. Tínhamos combinado que ela se
divorciaria de Oscar para ficar comigo, mas, misteriosamente, dias depois, ela morreu em um
acidente de carro. Isso me deixou devastado, e desde então, passei a observar cada movimento de
Oscar.
Não conseguia tirar da cabeça a ideia de que ele descobriu nosso caso e a mandou matar.
Fiquei um tempo sozinho, acreditando que nunca mais me interessaria por outra mulher como
me interessei por Kate, mas, ao ver essa mexicana, algo dentro de mim despertou, como uma
chama que parecia estar apagada, esperando o momento certo de acender.
Antes de sair da casa de Luciana, abri a porta do carro para ela e pedi para que aguardasse.
— Volto já, vou só dizer algo para Luciana.
— Ok, delegado.
Retornei ao interior da residência de Dimitri e chamei Luciana.
— Oi, amigo, o que foi? — ela perguntou, se aproximando.
— Lu, preciso desse pen-drive. Quero ver o que ele fez com ela, posso fazer um relatório e
autuar pelo crime de estupro.
— Ok, pegue — ela me entregou o dispositivo. — Eu não sei se terei estômago para ver...
— Deixe isso comigo. Tenha uma boa-noite, Lu.
— Você também.
Voltei em direção ao carro e entrei. Ao dar partida, senti Carmem me observando de
maneira intensa.
— Que foi, mexicana? — indaguei enquanto dirigia.
— Vai me prender? — ela perguntou, toda atrevida.
— Quê? — franzi as sobrancelhas, olhando para ela de relance.
— Não se faça de sonso! Você me ouviu claramente dizendo que meus pais vivem
ilegalmente neste país! Se for me prender, diga logo, mas eu farei de tudo por mi padres!
— Calma, eu não vou te prender, mulher.
— Tu és uma autoridade e me ouviste falando de um crime — disse ela, com o rosto
empinado para mim, demonstrando sua personalidade forte.
A química entre nós era visivelmente crescente, como se o destino tivesse decidido nos
juntar naquele momento.
— Vou fingir que nada aconteceu em consideração à Luciana — dirigi devagar e olhei
bem sério para ela. — E não grite comigo, ou terei motivos convincentes para te deixar presa na
minha cela! — quando falei isso, Carmem engoliu seco e mordeu o lábio inferior.
Sei que estava com medo de mim, mas percebi o desejo em seus olhos.
— Perdão, vou ficar calada! — seu tom de voz se aliviou.
— Que bom — parei no sinal vermelho e a encarei novamente, dando-lhe um aviso. — E,
outra coisa, não se atreva a infernizar a Luciana, ela é minha amiga e está grávida.
— ¡No voy hacer esto! Não quero aquele cabrón... Já desisti dele — ela pareceu convicta.
— Sei...
— É sério. Dimitri merece ser feliz... e ele ama a brasileira... Voy a seguir mi vida… — ela
fitou a janela e eu percorri meu olhar pelo seu corpo bronzeado.
Ao ver uma tatuagem de dragão descendo do quadril até sua coxa, devido ao vestido curto
com uma fenda transparente nas laterais, meu olhar travou.
Ela percebeu e sorriu.
— O sinal está verde, autoridade... Cuidado para não bater o carro.
Os outros carros buzinaram e eu arranquei com o volante.
— Porra...
— Gostou do que viu, delegado? — a mexicana me provocou, esboçando um sorriso de
canto de boca.
— Não vi nada… — retruquei, limpando a garganta.
— Sei...
— Pra onde você vai? — perguntei sem olhar para ela, prestando atenção na estrada.
— Acho que vou para a boate, vou pegar cedo no batente.
— Ok, onde fica?
— Na Roosevelt, esquina com a Queens.
— Sei onde é…
— Hum... O delegado sabe que ali só tem casas noturnas e boates? Deve andar muito por
esses lugares, não é?
— Não sou delegado, sou um agente, apenas. E é o meu trabalho saber onde piso —
continuei evitando o contato visual, que me parecia irresistível e, por fim, cheguei no referido
local. — Pronto, chegamos — desta vez, olhei em seus olhos castanhos. Carmem correspondera
intensamente, agradecendo-me com seu jeito sedutor.
— Gracias… — em seguida, aproximou-se e beijou minha bochecha, ao passo que nossos
olhares travaram e ficamos alguns segundos assim, sentindo uma tensão sexual alarmante. — Eu
prefiro chamar assim… Delegado.
— É bom você ir, mexicana… — falei com a voz rouca, olhando para sua boca pintada
com um batom vermelho sangue e para o lindo sinal que tinha acima de seu lábio superior.
— Ok, delegado... Adios — sorriu, escorregando seu olhar descaradamente pelo meu
corpo antes de sair do carro.
Tentei não olhar para seu corpo, mas meus olhos me traíram.
A mulher era gostosa pra cacete!
— Droga, se orienta, Wilson! — me repreendi, batendo no volante do carro e indo em
direção ao departamento de polícia, precisando investigar esse pen-drive e ver do que Oscar fora
capaz.

Após Carmem ir embora, fiquei chocado com o que vi: Luciana a abraçou.
— Meu amor, você me surpreendeu... achei que ia bater em Carmem.
— Inicialmente, sim..., mas depois...
— Olha, minha Luz, a Carmem não me quer mais. Já resolvemos isso. Quando eu ficava
com ela, nunca namorei ninguém nem nunca tive o que estou tendo contigo. Eu só queria sexo e
nada mais, até você aparecer.
— Ok, meu cabrón, vamos deixar isso pra lá… — Luciana me olhou intensamente,
prestando atenção em cada detalhe do meu rosto.
— Que foi, meu amor?
— Você é tão perfeito. Estou cada vez mais apaixonada, Dimitri.
— Eu também. Te amo muito.
Em seguida, ela me agarrou e me puxou para o quarto.
— Vamos fazer amor selvagem, quero olhar nos seus olhos, sentir você dentro de mim.
— Luciana, é melhor evitarmos — me afastei de seus braços.
— O quê?
— Eu... eu tenho medo de você perder o bebê... Eu não suportaria passar por isso
novamente — minha voz saiu num fio.
— Como assim novamente, amor? Você já perdeu um filho? — me indagou, com o olhar
surpreso.
— Sim... Venha, preciso te contar algo.
Puxei Luciana até a varanda, que tinha um enorme sofá, e nos sentamos lá. Ela se agarrou
ao meu corpo, com o rosto aninhado em minha clavícula, olhando em meus olhos.
— Me conte o que houve, meu russo. Essas tatuagens com esses dois nomes têm algo a ver
com isso?
— Sim... — fechei os olhos, reunindo forças para falar sobre isso e decidi me abrir,
tentando não chorar. — Esses nomes tatuados eram da minha mulher, Svetlana, e da minha filha,
Nastya... Elas morreram após o parto, Luciana.
— Quê? Meu Deus! Eu não imaginava... Me perdoe, Dimitri.
A atmosfera na varanda tornou-se densa. As palavras de Luciana ecoaram como um
suspiro pesaroso, e a expressão em seu rosto refletia compaixão e tristeza.
A ferida do passado fora novamente aberta e era hora de eu contar tudo.
COMECEI A EXPLICAR à Luciana tudo que aconteceu, e ela me ouvia atentamente. As
lágrimas desciam de meus olhos ao relembrar tudo, pois era muito dolorido tê-las perdido
daquela forma.
— Oh, Jesus! Eu sinto muito, Dimitri… — lamentou minha luz, alisando minha barba.
— É por isso que eu não queria ter filhos. Minha filha morreu em meus braços, e isso me
deixou extremamente traumatizado, entende? Eu estou com medo de tudo se repetir, Luciana.
Por isso eu não dizia o que sentia.
Ela começou a chorar, bastante comovida, e me abraçou forte.
— Oh, meu bem, você deveria ter me dito isso antes. Eu te compreenderia, pois também
perdi quem eu amava... A última coisa que lembro do acidente foi o olhar de desespero da minha
filha, e isso até hoje acaba comigo, mas estou tentando seguir em frente. Nós temos nossos
traumas, que são parecidos, e o destino nos uniu com um propósito.
— Qual?
— Fomos feitos para ficarmos juntos, Dimitri… — ela disse, com um sorriso largo e olhos
brilhando.
— Oh, minha brasileira, eu acredito nisso.
Luciana pegou em minha mão e passou em sua barriga, me fazendo ficar mais
emocionado.
— Esse é o fruto do nosso amor, nossa russinha brasileira.
— Eu... eu sei... Eu amo vocês, minha Luz.
Ela sorriu ainda mais e me agarrou, beijando-me com paixão.
— Eu te amo, Dimitri. Nós te amamos.
— Também te amo, minha brasileira. Amo vocês. Farei de tudo para não as perder.
— Isso não acontecerá, não se preocupe. Somos fortes.
— Eu sei, meu amor.
— Agora... vamos pro quarto?
Limpei minhas lágrimas e depois as dela.
— Eu não estou no clima, meu bem. Me perdoe... Relembrar essas coisas me deixa
acabado.
— Tudo bem, meu amor… — Luciana alisou as tatuagens com nomes de Svetlana e
Nastya, ficando pensativa.
— Você se incomoda com as tatuagens? — perguntei, preocupado.
— Não, meu amor. Só estou pensando no quanto você foi forte para suportar tudo isso...
Tenho certeza de que elas te amam e te protegem lá do céu.
— Eu também, minha Luz..., mas agora você e nossa filha são minha prioridade, vou
cuidar de vocês.
— Eu sei.
— Vamos entrar para comemorar meu aniversário, meu anjo.
— Tá, meu bem… — Peguei sua mão, e voltamos para a sala, onde todos estavam
conversando animadamente.
O clima na sala era de alegria, mas por trás do sorriso, ainda carregava o peso da perda e
do medo, contudo, me esforcei para esconder a dor que ainda persistia em meu coração.
As palavras de Luciana ressoaram em minha cabeça, e agradeci por ter alguém ao meu
lado que compreendia a extensão das minhas cicatrizes.
A dor que compartilhávamos nos unia de maneira única.
No decorrer da festa, Luciana me lançou um olhar compreensivo, e sei que, mesmo com a
alegria ao nosso redor, ela entendia o drama que ainda habitava em meu peito.

Após algumas horas, a festa terminou, e todos foram embora. Ajudei dona Mirian a
arrumar a bagunça e depois subi para o quarto. Adentrando lá, vi Luciana com uma lingerie
branca minúscula, deitada de costas, com a bunda arrebitada naquele fio dental, mas acordada.
Fiquei duro na hora, mas o medo tomou conta de mim.
Não queria transar e perder meu filho, me controlaria até os próximos exames... Precisava
ter certeza de que tudo ficaria bem.
Tomei um banho, indo me deitar ao seu lado, vestido com meu pijama. Luciana se virou
para mim, sorrindo e observando meu rosto.
— Vai dormir agora? — ela perguntou, ansiosa.
— Sim, amanhã vou trabalhar cedo.
— Certo... Eu queria que você passasse na minha casa e pegasse umas coisas minhas.
— Pego sim. Vamos dormir, amor.
— Não quer... fazer amor? Para ficar mais relaxado? — ela insistiu.
— Não! — respondi de forma incisiva, mas a minha vontade era de fodê-la sem dó. — Eu
não estou muito bem...
— Tá bom, meu russo, boa-noite.
Nos beijamos, e ela me agarrou, ficando abraçada a mim.
Inferno, seria uma provação resistir ao fogo dessa brasileira.

A madrugada se arrastou, meu corpo queimava de desejo, mas minha mente estava
ocupada com o receio de algo dar errado. Luciana percebeu minha inquietação, acariciou meu
rosto e sussurrou palavras carinhosas, mas a intensidade do momento parecia pulsar no ar.
Respirei fundo, tentando controlar o tesão que ardia entre nós.
Era uma batalha entre o desejo avassalador e a responsabilidade que carregava como futuro
pai.
No dia seguinte, acordei cedo e fui trabalhar.
Luciana dormia feito um bebê, e decidi não a acordar, apenas selando um beijo em seu
rosto. Fiquei tentado ao olhar seu corpo, desejando fazer amor loucamente, mas me detive.
Não queria correr o risco de perder meu filho ou filha.
Ao descer as escadas, avistei dona Mirian ao lado de seu marido, sentados no sofá. Ele
estava com a mão no peito e não parecia muito bem.
— Algum problema, senhor Luiz? — perguntei, ao ficar à sua frente.
— Ah, filho, às vezes tenho uma dor no peito, é arritmia, sabe?
— Quer ir ao hospital?
— Não se preocupe, meu genro, vá trabalhar — disse ele, com um sorriso de canto.
— Ok, mas de toda forma, mandarei um cardiologista vir te consultar, certo?
— Obrigado, querido — agradeceu.
Mirian me seguiu até a porta de saída e falou comigo.
— Obrigada, meu amor, mas estou realmente preocupada com meu esposo. Há tempos ele
tem esse problema no coração, e mesmo após ter feito uma cirurgia para desentupir uma artéria
no Brasil, ainda sofre com dores, coitado...
Dona Mirian olhou para o marido muito comovida, e fiquei com pena dela. O pai de
Luciana tem uns 60 e poucos anos e ela só tem 46, pois teve Luciana muito jovem, aos 16 anos,
já que seus pais a fizeram se casar cedo com o Sr. Luiz, que foi seu primeiro namorado.
— Olha, vai ficar tudo bem, o médico virá logo e se precisar me chamar, faça isso,
entendeu?
— Certo, meu filho.
— Cuide da minha Luz e do nosso bebê.
— Cuido sim!
Beijei sua cabeça e, em seguida, fui trabalhar, pilotando minha Harley Davidson.

O dia foi intenso na academia, mas decidi sair mais cedo e ir até a casa de Luciana em
minha moto. Ao chegar em seu apartamento, abri a porta e fui pegar as coisas que ela pediu.
Ao me afundar no conforto do sofá aconchegante, meus olhos encontraram o álbum de
fotografias que guardava a história de sua falecida família. Ao pegá-lo, senti o peso das
memórias nas páginas entre meus dedos, e decidi folhear cada imagem com cuidado.
Cada página revelava a felicidade irradiante que envolvia Luciana e sua família. Seu
sorriso, capturado em momentos espontâneos, resplandecia com a luz da alegria, destacando a
beleza de sua vida antes das sombras e dor se instalarem.
Percebi que tanto ela quanto eu carregávamos o fardo de experiências dolorosas e desafios
inimagináveis.
O destino, imprevisível e muitas vezes cruel, teceu nossas histórias juntas.
No entanto, ao vislumbrar no álbum a foto dela na sala de parto com sua falecida filha nos
braços, a dura realidade do presente tornou-se inevitável.
O medo de perder Luciana e nosso precioso bebê ressurgiu intensamente. Lágrimas
pesadas começaram a escorrer pelo meu rosto, testemunhas silenciosas do trauma que me
acompanhava.
Ao encarar a bancada da cozinha, fui atraído pela presença imponente da garrafa de vodca,
um presente de meu pai para dona Mirian. Sem pensar duas vezes, decidi desafiar os traumas que
me assombravam, buscando, como de costume, alívio nas profundezas do álcool.
O líquido ardente percorreu em minha garganta, provocando uma queimação que servia
como uma espécie de redenção. Passadas duas horas, me vi largado no sofá, vencido pela
embriaguez, lágrimas traçando trilhas em meu rosto, carregando consigo uma dor que parecia
insuportável.
— Meu Deus, por favor, não tome a Luciana de mim nem o meu bebê... Eu não vou
suportar... — supliquei em russo, de olhos fechados, fazendo uma prece a Deus e chorei
sofregamente, a angústia me deixando perturbado. — Eu a amo. Eu a amo tanto... e já amo mais
ainda essa criança. Por favor, Senhor, não as tire de mim.
De repente, ouvi batidas à porta e, cambaleante, me levantei para abrir, encontrando uma
assombração.
O marido de Luciana estava bem à minha frente.
— Cacete! — exclamei horrorizado, com as mãos na cabeça. — O falecido! Você veio me
levar ou levar a Luciana? — perguntei, angustiado. — Por favor, não a leve de mim! Eu a amo!
— supliquei, chorando.
O homem me olhou sem entender nada e começou a rir.
— Olá, acho que você está me confundindo com meu irmão Roger…
— Espera aí, o quê? Você não é a alma penada do falecido? — questionei, enquanto
esfregava meus olhos com força e ele gargalhou bastante.
— Não, cara. Você está bem?
— Desculpe, estou meio bêbado — passei as mãos no cabelo, sentindo a tontura se alastrar
em meu corpo.
— Acho que está muito bêbado. Onde está a Luciana? Eu vim vê-la.
— É... está em minha casa.
— Ah, então você é o russo que dona Mirian me falou. Prazer, sou Robert — ele estendeu
a mão para mim, eu ainda permanecia assombrado. — Relaxa, eu não sou uma assombração. Sou
irmão gêmeo do Roger.
Decidi, enfim, apertar sua mão.
— Entendi, entra. Meu nome é Dimitri — depois que ele entrou, fechei a porta e sentei no
sofá, ainda olhando embasbacado para ele. — Vocês são iguais!
— Sim, éramos… — ele confirmou com tristeza.
— Ah, eram... desculpa.
— Ah, não tem problema. Estou tentando superar essa perda, eu e ele éramos muito
unidos.
— Sei... e o que você quer com a Luciana? — perguntei sem rodeios, enciumado.
— Bom, a Luciana é como se fosse uma irmã para mim, e meus filhos e minha esposa a
amam, a chamam de titia. Sou diplomata e estou morando fora, a trabalho. Quando eu soube o
que aconteceu com ela, por causa do Oscar, vim na primeira oportunidade. Eu soube que ela
voltou a enxergar.
— Sim, é verdade..., mas não estou gostando dessa história de irmão. O Oscar dizia a
mesma coisa e era um obsessivo de merda! — retruquei, meio bruto.
Robert pausou por um momento, olhando intensamente para mim antes de responder,
como se ponderasse cuidadosamente suas palavras.
— Calma, cara, eu estou falando a verdade. A Lu morou conosco muitos anos, depois que
começou a namorar o meu irmão. Meus pais a têm como uma filha. E em relação ao Oscar,
compactuo do mesmo ódio que você. Eu odeio aquele filho da puta — Robert baixou a cabeça e
se lamentou. — É uma pena que meu irmão não tenha percebido isso bem antes, só uns dias
antes de falecer...
Fiquei em silêncio por um momento, absorvendo suas palavras, antes de perguntar com
curiosidade e apreensão:
— Pera aí, como assim? — franzi o cenho.
— Dimitri, há muitas coisas que a Luciana não sabe, nem sonha, coitada, e você está
bêbado. Eu gostaria de contar tudo quando você estiver sóbrio. Mas saiba que Oscar é um
homem inescrupuloso... tem que ter cuidado com ele — ele me alertou, seu tom sério agora
carregado de preocupação genuína.
— Certo. Olha, eu tenho que ir, vou levar umas coisas para Luciana.
— Certo, vai de táxi?
— Não, vou na minha Harley.
— Cara, você tá louco? Bêbado desse jeito? Vamos, vou te levar no meu carro, e aproveito
e vejo a Luciana.
O medo de Luciana o ver e se apaixonar por ele porque é idêntico ao marido me apavorou
e ele percebeu.
— Que foi, Dimitri? — ele perguntou.
— Nada, é que... Poxa, você é igual ao marido dela. Não sei que reação Luciana vai ter —
expressei, minhas palavras marcadas pela desconfiança, enquanto lutava para assimilar as coisas
que ele me disse.
— Relaxe, a Lu sabe exatamente a diferença entre mim e ele. Nada vai acontecer. Apenas
quero vê-la e minha família também — Robert tentou me tranquilizar.
— Ok. Vou aceitar sua carona.
— Deve aceitar, pois andar de moto bêbado não é uma boa combinação.
— Verdade, não posso morrer agora. Luciana vai me dar um filho...
— Quê? A Lu tá grávida? — Robert perguntou surpreso, abrindo um sorriso ao receber a
notícia.
— Sim... de três meses.
— Jesus Cristo, que benção! Parabéns.
— Obrigado.
Ao pegar as coisas que Luciana pediu, descemos no elevador e, em seguida, entramos em
seu carro. Pedi ao síndico que olhasse minha moto, pois mais tarde eu mandaria buscá-la.
Enquanto Robert dirigia, fiquei olhando para ele de soslaio, ainda assustado com a semelhança a
Roger.
Os ciúmes, a insegurança e o medo se apoderaram do meu corpo.
Esperava que minha Luz não estivesse em um momento de fraqueza e saudades do marido,
e não se apaixonasse pelo irmão dele.
AO CHEGARMOS EM MINHA CASA, peguei as coisas de Luciana e saí do carro
cambaleando, quase caindo. Robert veio até mim, me amparando no ombro. Ele parecia ser um
homem muito legal.
— Dia difícil hoje, hein? A bebida foi pesada, cara.
— Pois é... muitas preocupações, vamos entrar — o convidei.
Robert travou o carro e me ajudou a andar até lá dentro. De repente, Totó veio correndo,
com seus latidos estridentes, e pulou em cima de mim, me lambendo.

Pensamento de Totó: “O que meu novo papaizinho está fazendo com meu titio?”

— Oi, minha Totozinha — segurei a cachorrinha e a beijei.


— Nossa, ela gostou de você! — Robert comentou, impressionado.
— Sim, essa safada me ama — sorri de canto enquanto ela lambia toda a minha cara e
balançava o rabinho.
Ao olhar para frente, vi Luciana de olhos arregalados, perplexa.
— Ro-Robert? — ela balbuciou o nome dele, assustada.
— Luciana, querida! — ele se aproximou dela e a abraçou, chorando. — Oi, minha
cunhada, sinto muito por tudo! Minha família sente sua falta.
Luciana chorou em seu ombro e se lamentou.
— Eu não imaginava que ele era daquele jeito, Robert... Eu nunca percebi nada.
Ao olhar novamente para o rosto dela, ela o fitou de volta, e percebi que estava sendo
tomada pelas lembranças do marido.
— É tão difícil olhar para o seu rosto, Robert..., mas eu sei que você não é ele.
Com os olhos fixos na interação dos dois, os ciúmes me corroeu por dentro, e Totó
continuou me lambendo, como se me confortasse.

Pensamento de Totó: “Não tenha ciúmes do meu titio Robert, papaizinho, ele é do bem.”

A seguir, Luciana olhou para mim e constatou meu estado, se afastando dele e vindo em
minha direção.
— Dimitri, você... você bebeu?
— Sim, amor, me perdoe — ela me abraçou e beijou meu rosto, preocupada, percebendo
que eu chorei.
Coloquei Totó no chão, e ela correu para Robert, serelepe.
— Por favor, não me beije. Tô bêbado, e você odeia… — antes que eu terminasse, ela
beijou minha boca, demonstrando que não se importava com minha bebedeira.
— O que você tem, meu russo, ahn? — me perguntou, preocupada.
— Eu não estou muito bem, tenho muitas preocupações.
— Oh, vamos sentar no sofá — Luciana me ajudou a se sentar, e Robert segurou Totó no
colo, fazendo carinho em sua cabeça.
— Estou muito feliz que você tenha seguido em frente, Lu. A propósito, parabéns pela
gravidez! Deus te deu uma nova chance de ser feliz — Robert a felicitou.
— Ah, obrigada, querido.
— Eu queria ter vindo antes, mas por causa do trabalho, não tive como vir. Eu soube de
tudo que aconteceu, querida... E sempre quis te alertar sobre o Oscar, mas eu pensava que jamais
acreditaria.
— Eu não imaginava esse lado tão cruel dele, fiquei chocada — Luciana lamuriou.
— Eu nunca fui com a cara dele, e você sabe, mas a maldade dele ficou mais evidente uma
semana antes do Roger falecer. Eu presenciei a briga deles e apartei, no consultório da Kate —
ele revelou.
— Quê? — Luciana exclamou, sem entender.
— Espera, o que aconteceu? — perguntei curioso.
— Wilson me contou sobre essa briga, mas não sabia o motivo — ela comentou.
— Ele realmente não sabia porque o Roger omitiu..., mas eu vou te dizer — Robert
respirou fundo e começou a contar tudo. — O Roger pediu a Kate um formulário para ele
preencher, pois queria indicar um paciente para ela, para realizar uma cirurgia plástica, e Kate
não estava no consultório. Daí, como ele tinha acesso à sala dela, foi pesquisar no notebook dela
o formulário e achou uma coisa esquisita no e-mail da clínica. Havia um e-mail endereçado ao
Oscar com fotos suas nuas, Luciana, de quando você colocou silicone. O Oscar enviou todas as
fotos para o e-mail dele.
— Cacete! Que filho da puta louco! — vociferei, revoltado.
Luciana ficou boquiaberta, e Robert continuou a relatar os ocorridos.
— Depois disso, o Roger surtou, e na mesma hora, o Oscar apareceu para buscar Kate, e aí
começou o quebra-pau.

LEMBRANÇAS DE ROBERT

Oscar chegou e falou conosco:


— Olá, amigos, vim pegar a Kate, vocês a viram?
Roger estava bufando e partiu para cima dele.
— Seu filho da puta! Ahhh!
Oscar tentou se desvencilhar dos socos, se fazendo de doido.
— Para! Você está louco, Roger?
Ao ver o descontrole de meu irmão, que quase estava matando Oscar, puxei-o de cima
dele.
— Seu infeliz! Eu vi as fotos nuas da minha esposa em seu e-mail. Você é um doente!
Oscar limpava o sangue de sua boca, e aí se revelou o crápula que sempre desconfiei,
rindo da cara de Roger.
— Ela é uma gostosa, né? Luciana deveria ter sido minha e não sua, seu idiota! —
retrucou Oscar.
— Ahhh! — Segurei Roger com toda força que tive e o notei assustado. — Como você
pôde nos enganar esses anos todos? Eu achei que éramos amigos! Que você amava a Luciana
como um irmão! — esbravejou meu irmão, possesso.
— Eu sempre a amei! SEMPRE! Mas nunca como um irmão… Por acaso irmãos tem
desejo de foder a boceta da própria irmã? — Oscar o provocou, sorrindo com escárnio.
— Você é um merda! Vou contar tudo pra ela. Vamos embora, Robert — meu irmão me
puxou pelo braço, mas antes de sairmos, Oscar o ameaçou.
— Se você contar o que viu e o que aconteceu, eu acabo com seu casamento. Lembra da
sua bebedeira na festa da boate, onde você beijou uma mulher? Bom, eu estava lá, e eu vi tudo,
Roger querido.
— Quê? Eu não beijei ninguém! Uma mulher louca me atacou e eu a empurrei! Eu jamais
traí a Luciana!
— Hummm... Será que ela vai acreditar nisso?
— Pare de ameaçar meu irmão, seu bosta!
Oscar sorriu de nossas caras e retirou um envelope do bolso, jogando na cara de Roger.
— Se a coelhinha ver essas fotos, dê adeus ao seu casamento, hahaha.
Roger abriu rapidamente o envelope e viu várias fotos da mulher que o atacou, beijando-
o.
— SEU FILHO DA PUTA CHANTAGISTA! — berrou Roger, com o rosto tremendo.
— Se você tentar desfazer minha amizade com ela, eu vou te expor, Roger. Luciana nunca
te perdoará. Vamos fazer um trato: você não fala nada e eu fico em silêncio.
— Escroto! — o xinguei com ódio.
— Não se meta, Robert! Já basta eu ter que suportar seu resto por anos! — o infeliz se
referiu à Kate, me deixando enojado.
— Não fale assim da Kate, seu infeliz! — retruquei.
— Cale-se! — ele esbravejou e olhou para Roger. — Ou aceita a porra do trato, ou diga
adeus ao seu casamento! Luciana nunca deixará de ser minha amiga, você sabe disso — sorriu,
convencido.
— Vá para o inferno, Oscar! — Roger jogou as fotos em sua cara e saiu da sala,
revoltado.
A seguir, encarei Oscar e, com o dedo em riste, lhe dei um recado:
— Você vai se arrepender disso, seu psicopata!
Por fim, fui atrás de meu irmão, que chorava com ódio.
— Calma, cara, você precisa contar tudo pra Lu!
— Não posso, Rob! Ela é muito ciumenta, vai surtar! Meu Deus, tenho certeza de que
aquilo foi uma armadilha dele.
— Eu também. O que você vai fazer?
— Eu não sei. Vou deixar para contar isso após voltarmos da nossa viagem. Quero curtir
o aniversário de nossa filha.
— Ok, Roger, conte comigo.

Diante de tais revelações, fiquei ainda mais horrorizado.


— Oh, meu Jesus! Por isso ele ficava tão estranho quando o Oscar me ligava... Eu não
imaginava... Meu pobre Roger... É claro que eu acreditaria nele — Luciana lamentou,
relembrando os fatos.
— Esse Oscar é um merdinha! Deveria estar debaixo de sete palmos da terra — vociferei,
inconformado.
— Também acho, Dimitri — Robert concordou e prosseguiu: — Bom, eu só peço que
tenham cuidado. Eu soube que ele ainda está em coma, mas a qualquer momento, voltará ao
normal. E quando ele se recuperar, virá com tudo.
— Cristo! — Luciana pôs as mãos na cabeça e fitou o chão. — Como não percebi nada?
Como fui tão burra!
— Você não é burra, apenas ingênua, a confiança que tinha pela amizade duradoura a
cegou. Eu vou protegê-la de tudo, eu juro, minha Luz — prometi, ajoelhando-me no chão e
beijando sua barriga, a fazendo chorar de felicidade. — Eu te amo, minha pequena bebê.
Robert sorriu, meio emocionado, e depois avisou que iria embora.
— Bom, eu já vou. Amanhã posso vir aqui e trazer as crianças?
— Claro, a casa é sua. E obrigado pela carona — disse, ao ficar de pé.
— De nada, cara. Cuide bem da Lu.
— Cuidarei.
Robert abraçou Luciana, depois apertou minha mão e foi embora.
DEPOIS DE VER ROBERT, uma onda de emoções me invadiu. Ele era a cópia fiel de meu
amado Roger, mas eram indivíduos completamente diferentes.
Robert sempre foi como um irmão para mim, sempre me tratou com respeito.
Após o abraço e algumas lágrimas compartilhadas, as lembranças do rosto feliz de Roger
antes do acidente me assombraram.
E se aquele terrível acidente nunca tivesse ocorrido? Onde eu estaria agora?
Mas não, o destino quis assim... E aqui estamos.
Mesmo sendo como uma tempestade russa, Dimitri foi a reviravolta que meu coração
ansiava. Apaixonar-me por ele foi como mergulhar no olho do furacão, intenso e desconcertante,
mas ao mesmo tempo, sublime de uma maneira que eu nunca soube que precisava.
Ele era o meu mais novo “TUDO, MEU HOMEM, MINHA VIDA”.
Ao fitar Dimitri, percebi seus ciúmes, embora ele se mantivesse sob controle.
Acredito que ele percebeu a integridade de Robert.
Direcionei-me a Dimitri e o beijei com paixão. Queria deixar claro que a presença de
Robert não abalava nossa relação, estava seguindo em frente, plenamente feliz.
Meu ex-cunhado permaneceu por um bom tempo conversando, revelando segredos que
jamais suspeitei.
Fiquei chocada.
Após sua partida, Dimitri me acompanhou até nosso quarto. Ele estava visivelmente
embriagado, e percebi traços de choro pelos olhos vermelhos e inchados.
Após um banho, ele se sentou na cama e eu me aproximei, abraçando seu corpo molhado.
— O que aconteceu, Dimitri? Você chorou, meu amor? É por isso que bebeu? —
questionei, repleta de preocupação.
O russo me encarou intensamente por alguns segundos, e então lágrimas escorreram de
seus olhos.
— Eu não posso te perder, Luciana. Nem você, nem a minha filhinha. Oh, Deus, estou tão
perturbado, minha Luz.
Com essas palavras, ele desabou e eu o abracei, profundamente comovida.
— Meu Deus! Se acalme, Dimitri!
— Eu a segurei nos braços, e ela se foi... — ele soluçou, cabeça baixa e olhos fechados,
completamente vulnerável ao relembrar o passado doloroso. — Eu não quero que isso se repita!
Estou com medo, apavorado! Não vou suportar mais uma perda, Luciana...
— Dimitri, olhe para mim! Você não perderá ninguém! Eu e nossa bebê somos fortes, meu
amor. Tudo ficará bem — tentei transmitir positividade, e ele ergueu o rosto, encarando-me. —
Sinto muito pelo que passou, mas Deus nos uniu para formarmos uma linda família, entende?
— Eu quero acreditar, mas o trauma ainda faz parte de mim, Luciana. Não esperava amar
você, te engravidar… tudo aconteceu de repente, e estou tentando lidar com isso. Me perdoe pelo
descontrole — ele limpou a garganta. — Eu sou homem, não costumo chorar tão facilmente.
— Besteira — um risinho escapou dos meus lábios. — Chorar é humano, não é fraqueza, é
um desabafo. Certo?
— Me perdoe de qualquer forma. Tive que beber para relaxar... Sei que você não gosta que
eu beba, sou um idiota.
— Pare com isso, Dimitri!
— Certo, vamos dormir. Estou exausto. Minha cabeça dói.
— Tá bom, meu russo. Amanhã, quando você estiver melhor, faremos amor até não
aguentarmos mais — sugeri, e ele ficou mais nervoso.
— Quê? Não! Só faremos isso depois que a bebê nascer. Não quero que nada aconteça de
ruim, você precisa de repouso!
— Mas, Dimitri, isso não faz mal! — retruquei, irritada com sua preocupação.
— Por favor, meu amor, não insista. Não tô bem.
— Certo.
Dimitri me abraçou, e logo depois adormeceu.
Como sabia que ele estava perturbado, não tocaria no assunto sexo por enquanto, mas ele
não me escaparia.

Dez dias se passaram, e Dimitri tem se empenhado em fugir das minhas investidas. Sempre
que íamos dormir, ele colocava um travesseiro enorme no meio da cama.
Hoje ele acordou cedo para ir trabalhar, e tentei seduzi-lo, mas ele fugiu.
Estou subindo pelas paredes.
Não aguento mais!
Como tive consulta com o obstetra, tirei minhas dúvidas sobre relações sexuais durante a
gravidez, e ele me deixou aliviada, além de assegurar que eu e minha bebê estávamos ótimas.
Isso deveria ser motivo para celebrar, mas os traumas de Dimitri pareciam criar um abismo entre
nós.
Olhei para o relógio, eram 10 da manhã, então tomei uma decisão. Iria para a academia
dele e ele não se esquivaria de mim. Ah, aquele homem iria me comer gostoso!

Peguei um táxi e me dirigi apressadamente à academia de Dimitri. Ao chegar, meu olhar


percorreu o ambiente, ávido por encontrá-lo. E lá estava ele, ajoelhado, medindo
meticulosamente os glúteos de sua cliente com uma fita métrica.
Meu russo estava imerso em seu trabalho, o suor adornando seu corpo, os cabelos dourados
presos em um coque desalinhado, vestindo um calção preto da Adidas, tênis da mesma marca, e
sem camisa. A visão era avassaladora, despertando em mim uma avalanche de ciúmes, desejo e
um tesão indescritível.
A cliente, uma sedutora, lançava olhares provocantes para Dimitri, mas percebi que ele
mantinha uma postura profissional, focado apenas nas medidas e sem qualquer intenção
imprópria. Ele a parabenizou por algo e ela se derreteu em um sorriso.
Aproximei-me, e ao chegar ao seu lado, pronunciei seu nome com a voz carregada de
emoção.
— Dimitri!
Ele ergueu os olhos, surpreso, e seu olhar encontrou o meu. Seu corpo suado, aquele físico
deslumbrante, desencadeava uma onda devastadora de emoções em mim.
— Amor? O que você está fazendo aqui? Algum problema?
Meu homem se levantou, e minha admiração cresceu ao observar seu corpo escultural.
— Estou bem. Precisamos conversar sobre algo sério, pode ser?
A cliente observava nossa interação, enquanto Dimitri, ao me apresentar, deixou claro a
quem pertencia.
— Sarah, esta é minha mulher, Luciana.
A tal Sarah sorriu para mim, provocante, antes de se despedir de Dimitri, sob meu olhar
ciumento. Após ela se afastar, ele se enxugou com uma toalha, seus músculos ainda levemente
contraídos pela intensidade do treino.
— O que foi, minha linda?
— Quero transar! — soltei sem rodeios.
— Quê? Não! — ele balançou a cabeça negativamente, seus olhos azuis glaciais sérios,
fixos nos meus.
Coloquei as mãos na cintura, deixando claro que não iria desistir, e tentei seduzi-lo.
— Não estou usando nada por baixo do meu vestido minúsculo, cabrón… — ao aproximar
minha boca de seu ouvido, sussurrei: — Estou toda molhada.
— Porra... — Dimitri me afastou, segurando meus braços, seus dedos firmes pressionando
minha pele. Seus olhos desceram pelo meu corpo, envolto em um vestido vermelho justo, curto e
com um generoso decote. — Cacete de mulher gostosa... — depois coçou a cabeça, nervoso. —
Luciana, sai daqui, vá embora, por favor! — ele implorou com um olhar faminto, a tensão sexual
sobrepujante no ar.
— Não! — exclamei meio alto, chamando a atenção de algumas pessoas, e ele demonstrou
preocupação.
— Vou pegar as chaves do carro no escritório e te deixarei em casa, espere aqui — Dimitri
dirigiu-se até seu escritório, e eu o segui.
— Não vou para canto nenhum! Eu quero te dar! — expressei, desafiadora.
Ele ficou possesso com minha voz alta e me puxou para dentro do escritório, fechando a
porta.
— Luciana, se comporte! Podem ouvir!
— Ouvem nada, o som está alto… — aproximei-me de Dimitri e arranhei sua barriga,
aquele tanquinho dos deuses.
O russo se mordeu, completamente excitado, e notei que seu amigo de baixo estava
animado ao extremo, despontando no seu calção preto.
— Pare! — ele me deteve, segurando meus pulsos. — Vou vestir uma camisa e te deixar
em casa.
— Não, Dimitri! Eu vim foder! Mas quando chego aqui, você está com a cara na bunda de
sua cliente, não é mesmo?
— Eu estava trabalhando! Apenas medindo o quanto ela ganhou de glúteo, eu sempre faço
isso pra ver a evolução dos treinos — o russo se explicou.
— Aham! Adorou ver aquela bunda na sua frente, não é? — questionei, enciumada.
— Você está louca? Essa mulher é casada, e eu a respeito muito, inclusive conheço o
marido dela! Deixe de surto! A única bunda que me interessa é a sua.
Quando ele pronunciou essas palavras, me desvencilhei de suas mãos e as trouxe em
direção a mim, espalmando-as em minhas nádegas.
— Gosta mesmo só da minha? — questionei, desafiadora.
— Sim… — respondeu entredentes, me encarando com um olhar enlouquecido de tesão.
— Então prova — desafiei.
— Como assim? — ele perguntou, demonstrando curiosidade.
— Me fode bem gostoso, Dimitri, aqui, nessa mesa. Fode meu cu.
— Não! — ele gritou, lutando contra seus instintos mais selvagens, tentando me empurrar,
mas foi em vão.
O agarrei com voracidade, fundindo nossos lábios em um beijo urgente e faminto. Dimitri,
incapaz de resistir, me puxou para si, correspondendo com reciprocidade. Em um movimento
rápido, ele me posicionou sobre a mesa de madeira do escritório, minhas pernas enroscadas em
sua cintura.
Nossas bocas se engoliram numa completa combustão do desejo.
Suas mãos percorriam meu corpo com uma maestria sensual, deslizando habilmente pela
pele exposta. Com uma destreza que denotava desejo insaciável, ele desceu a parte de cima do
meu vestido, expondo meus seios e caiu de boca nos meus mamilos extremamente intumescidos
e sensíveis.
—Ahh!
— Porra, eu amo seus peitos... — ao descer a mão para o meio da minha intimidade e
enfiar os dedos, ele percebeu que realmente estava sem calcinha. — Meu Deus, como você é
safada. Tá toda molhada... PORRA!
— Sim, minha boceta está chorando por você! Me fode!
O russo rosnou, excitado demais e se inclinou, abocanhando minha boceta e chupando com
volúpia, levando-me ao delírio.
— Oh, Deus! — segurei-me na mesa para não cair enquanto esse homem me devorava,
esfomeado. — Isso, meu puto! Ohhh!
A mesa se balançava e Dimitri se controlou, subindo em cima de mim, me beijando
novamente.
Ao olhar para o meu corpo, que estava com o vestido baixado na minha cintura, deixando
meus seios cheios e minhas partes íntimas expostas, meu cabrón delirou:
— Meu Deus, eu não vou aguentar essa mulher na minha frente... — engoliu em seco, com
os olhos semicerrados, louco para me foder como um animal. — Luciana, temos que parar…
Antes que ele desistisse, me ajoelhei, tirando seu calção com certo desespero.
Ele passou as mãos no cabelo, preocupado e excitado, mas não me deteve.
Eu sabia que ele desejava me foder com força.
E ele ia.
— Sua safada, não!
— Sim — abocanhei seu lindo pau rosado, deixando-o maluco, chupando com uma
vontade insana.
— Filha da mãe.... — Dimitri segurou minha cabeça e jogou a dele para trás, alucinado de
tesão.
Após alguns segundos intensos, bateram à porta e Dimitri se desesperou, retirando-se de
dentro de mim e trancando a porta apressadamente na chave. O som alto da música da academia
encobria nossos suspiros, e ele pediu que eu permanecesse em silêncio.
Assim que a pessoa se retirou, ele me agarrou com fome, colocando-me sobre a mesa e
entregamo-nos a beijos desenfreados, como se todo o desejo contido explodisse em um frenesi
apaixonado.
— Ahh, Dimitri, me come, faz o que quiser comigo! Por favor!
— Você quer que eu foda sua bunda gostosa? — perguntou, todo bruto e safado, do jeito
que eu gostava.
— Sim!
— Fica de quatro na mesa, agora! — Dimitri exigiu, derrubando tudo da mesa e eu
relembrei nossa última foda, onde ele me engravidou.
— Ai, eu amo essa mesa. Foi aqui que fizemos nossa filhinha.
— Isso... Foi algo inesquecível..., mas agora eu vou te foder ainda mais gostoso e espero
que essa mesa não quebre — ele brincou.
Fiquei de quatro, gemendo, toda inclinada, enquanto o russo passava as mãos na minha
bunda e enfiava os dedos grossos na minha boceta.
— Oh, Deus!
— Você tá tão molhada, me deixa doido, gostosa!
— Sim, meu ogro, você que me deixa assim.
Sem eu esperar, Dimitri começou a me chupar toda, me fazendo gritar.
— Ohhh, meu Deus! — suas mãos grossas apertavam minhas nádegas com raiva, me
fazendo gemer alto. — Dimitri, Ahh! Me bate!
Quando pedi, ele parou imediatamente.
— Não vou fazer isso, meu amor. Você já apanhou tanto daquele covarde!
— Mas são apenas tapas de amor, meu bem. Eu sei que você não vai me bater de verdade.
Por favor, só umas tapinhas na minha raba.
— Luciana...
— Por favor.
Me empinei mais ainda, o provocando e ele não resistiu, dando um tapa ardido na minha
nádega esquerda, arrancando um gritinho da minha garganta.
— Ohh, quero mais.
— Gostosa do caralho! — Dimitri meteu mais alguns tapas, arrancando gritos prazerosos
da minha boca e depois estocou devagar seus dois dedos grossos no meu orifício apertado.
— Quer me dar esse rabo, não quer, sua cachorra?
— Sim! Quero que se enterre todinho dentro dele, cada centímetro desse pau enorme!
As estocadas aumentaram, deixando-me daquele jeito.
Olhei de soslaio para o semblante dele, e ele me encarou, completamente excitado,
mordendo seu lábio rosado inferior. O homem era todo lindo, o suor deixava sua pele com um
aspecto mais ardente.
— Você é tão linda e tão safada, minha brasileira. Eu te amo.
— Também te amo, agora me fode! — exigi, impaciente.
Dimitri não perdeu tempo e se posicionou, penetrando devagar cada centímetro de seu pau
no meu canal minúsculo.
— Porra, senhor, que mulher apertadaaaa!
Levei tapas ardidos enquanto era invadida pelo seu membro delicioso e revirei os olhos,
totalmente louca de tesão.
Senti uma leve ardência, pois fazia tempo que não praticava, mas liguei o foda-se!
Eu queria ser comida com gosto!
Mesmo que esse homem fosse grande e grosso, ele só me fazia sentir prazer, um prazer
absurdo, insano, visceral!
— Eu quero que me foda sem dó! — implorei sôfrega, sentindo uma louca necessidade de
ser reivindicada por esse homem, sem um pingo de pena.
Ao ouvir meu pedido, ele parou alguns segundos e sussurrou ao pé do meu ouvido:
— Quer ser a minha atriz pornô, safada?
— Sim, seu canalha gostoso! É isso que você evoca em mim!
Na sequência, Dimitri penetrou devagar, mas logo acelerou o ritmo, metendo como
prometido.
Um misto de sensações tomou de conta do meu corpo e parecia que ia explodir num
orgasmo.
— Cacete! Ahhh! — ele rugiu enlouquecido e, descontrolado de tesão, investiu com uma
força insana, me fazendo gritar enlouquecida.
— Oh! Me fode com força, meu puto! — aticei, sentindo-o me partir no meio.
A mesa fazia um barulho estranho e Dimitri se preocupou.
— Vamos sair dessa mesa, vem pro chão.
— Quê?
— Vou colocar um colchonete aqui, que eu uso pra fazer abdominal — Dimitri se retirou
de dentro de mim, pegou o colchonete, colocou no chão e me mandou continuar de quatro.
Assim o fiz. Ele não perdeu tempo e montou por trás de mim, me fodendo novamente,
demonstrando uma fome do inferno, totalmente safado, insaciável.
Esse é o meu russo, ele voltou.
Meus gritos ecoavam pela sala e ele rosnou, totalmente enlouquecido, em sua mais pura
selvageria, puxando um punhado de meus cabelos pela nuca, enterrando meu rosto no pequeno
colchão.
Depois, trocou de posição, ficando de conchinha e começou a me beijar, suas mãos
habilidosas apertando meus seios.
— Meu Deus, você é toda gostosa, é minha mais fodida perdição!
— Então se perde comigo, Dimitri, acaba comigo, vai! — incitei, em meio às arremetidas
brutas.
Dimitri me obedeceu e acelerou, causando um barulho forte da conexão dura de nossos
corpos.
E eu não via apenas estrelas, mas todas as constelações possíveis que existiam nesse
universo.
Depois de me foder gostoso em várias posições, atingimos o clímax juntos e nos deitamos
no pequeno colchão, rosto a rosto, agarrados, extremamente suados, quase sem ar.
— Droga, meu amor, estou literalmente nocauteada… — falei, em meio à respiração
ofegante.
— Está se sentindo bem? — perguntou preocupado e acariciou minha barriga com uma
mão.
— Sim… — afirmei e sorri, extremamente satisfeita. — Completamente arrombada mas
bem.
— Eu deveria ter pegado leve. Tive tanto medo.
— Shii! Pare com esse medo, por favor. Eu e a bebê estamos bem, nosso pedacinho de
amor… — garanti, enchendo seu rosto de beijos e ele se acalmou um pouco.
— Ok.
— Daqui há três semanas irei fazer uma ultrassonografia para saber o sexo, você vem para
confirmar o sexo?
— Sim... — confirmou, mas sem muita certeza. — E eu acho que é uma menina… —
disse, com os olhos azuis brilhando.
— Eu também, meu ogro. Que bom que você vai comigo, mas caso não consiga, me avise,
eu vou entender.
— Certo, obrigado, meu amor.
ALGUNS DIAS SE PASSARAM e Luciana não me dava folga. A mulher tinha um fogo do
inferno, que eu nunca havia visto antes. Não sei se era a gestação, ou se ela ficou mais
enlouquecida após recuperar sua visão. Só sei que estava amando. No entanto, ao mesmo tempo,
reunia forças para não passarmos do limite e cometermos algumas loucuras que poderiam
prejudicar nossa bebezinha.
Que o destino não me faça sofrer tudo de novo…
Hoje seria o dia da ultrassonografia de Luciana para descobrir o sexo do bebê, e me sentia
muito aflito.
Acordei cedo, como de costume, e fui trabalhar para tentar fugir do compromisso de
acompanhá-la.
Só de imaginar ver meu filho ou filha naquele ultrassom, os gatilhos do passado vieram
com força em minha mente.
Lembro-me de ter ido a quase todos os exames que Svetlana fez e nenhum detectou
anormalidades na minha filha, nem na minha falecida esposa. Até hoje me pergunto porque tudo
aquilo aconteceu. Svetlana era saudável, apesar de sofrer com crises de ansiedade, o que não era
um grande problema.
Passei as mãos na cabeça, preocupado, e escutei o celular tocar. Era Luciana.
— Alô? — atendi, nervoso.
— Dimitri? Cadê você? Preciso ir agora ao médico, você ainda vai? — ela perguntou,
ansiosa.
— Eu... eu não sei, meu amor... Estou nervoso… — falei, passando a mão na testa.
— Ah, entendi... — Luciana respondeu com certa tristeza.
— Me perdoe… — disse num fio de voz, envergonhado.
— Tudo bem, eu vou com meus pais e seu pai, ok? Quando eu chegar, te aviso. Fica bem,
te amo.
— Também te amo, Luciana.
Desliguei a chamada, e lágrimas se formaram em meus olhos. A seguir, levantei-me e fui
para meu escritório, trancando-me lá dentro.
Ao fechar a porta, sentei-me na cadeira e desabei no choro, murmurando numa conversa
íntima com Deus:
— Meu Deus… Quando será que conseguirei esquecer os traumas do passado e seguir em
frente, sem sofrer? Estou tão aflito... Tenho medo de perder minha luz e nosso bebê. Me dê
forças para enfrentar esse medo...
Depois que Dimitri disse que não iria para a consulta médica, meu coração ficou apertado.
Eu queria muito que ele me acompanhasse para virmos juntos o nosso bebê, mas, por um lado,
entedia o quanto isso mexia com ele.
Meus pais e o senhor Mikhail decidiram me acompanhar, para participarem desse
momento especial; filmariam tudo. Chegando na clínica, fui guiada até a sala de ultrassom e eles
me acompanharam.
— Ai, meu Deus! Não vejo a hora de saber o sexo! — mamãe disse, cheia de expectativas.
— Luciana, cadê o Dimitri? Já era para ele ter chegado — Mikhail questionou.
— Bem, ele não vem — respondi, desanimada.
— Quê? Oh, meu Deus, que pena — ele se lamentou.
— Eu fiquei triste, mas o entendo, Mikhail.
— Sei, querida, mas logo, logo ele vai superar de vez o passado e virá nas outras consultas
com você, viu? — ele disse, piscando o olho, esboçando um sorriso esperançoso.
— Tá bom, sogro — sorri de volta.
— Vamos, minha linda nora.
Adentramos a sala, e a enfermeira me auxiliou a deitar na maca. O médico, com sua
simpatia, explicou cada etapa do exame, enquanto me preparava para o momento crucial.
Levantou minha blusa suavemente e aplicou um gel gelado em meu ventre, dando início ao
procedimento.
O visor acima da maca ganhou vida, revelando nosso bebê em detalhes impressionantes.
Suas perninhas se mostravam abertas, e a sala foi preenchida por muita expectativa.
— Hum, as perninhas estão abertas. Querem saber o sexo? — o médico perguntou,
sorrindo.
— Sim! — todos respondemos em uníssono.
— Bom, Luciana, querida. Seu mundo agora será cor de rosa. Você terá uma menina!
— Ah, meu Deus! — as lágrimas rolaram em meu rosto, e a emoção tomou conta da sala.
— Jesus, obrigada! Outra netinha! — mamãe comemorou emocionada, levantando as mãos
ao céu.
— Oh, que bênção! — o pai de Dimitri festejou.
— Vovô já ama! — papai falou, todo babão.
— Doutor, me diga uma coisa, ela está bem? — perguntei meio preocupada, sentindo uma
mistura de alegria e ansiedade.
— Sim, está ótima! Essa criança é muito forte e está tudo bem contigo — respondeu-me
sorrindo, o que me fez ficar aliviada.
— Ai, que felicidade! — o alívio me preencheu naquele momento.
Não perdi tempo e mandei uma mensagem para Dimitri, revelando o que eu já sabia…
Teríamos uma princesinha!

Estava sentado em minha cadeira, no escritório, revendo alguns papéis, até que meu celular
vibrou. Era uma mensagem de Luciana. Fiquei apreensivo, mas decidi abrir imediatamente. Ao
ler sua mensagem, meu coração disparou.
"Dimitri, meu amor, seremos pais de uma linda menina. Nós te amamos."
Logo em seguida, Luciana me mandou a foto da ultrassonografia, e comecei a chorar,
vendo minha filha tão pequena e tão forte.
— Oh, Deus... Obrigado por me dar novamente uma chance de ser pai. Eu amo tanto essa
menina...
Decidi ir ao encontro de Luciana, mas antes, fui ao shopping aqui perto para comprar
flores a ela.
Ao chegar lá, olhei as vitrines enquanto seguia em direção à floricultura, porém, uma
determinada loja me chamou a atenção. Se tratava de uma loja de artigos para bebês, e um body
branco com a legenda em letras cor de rosa "Princesa do Papai" me deixou fascinado.
— Já sei a surpresa que farei para minha Luz...
Alguns minutos depois, segui para minha casa. Ao adentrar a sala, encontrei Luciana no
sofá, um semblante meio triste.
— Luciana...
Ao ouvir minha voz, ela levantou o rosto e sorriu.
— Meu amor, você chegou!
Fui rapidamente ao seu encontro e a abracei forte, sentando-me junto a ela.
— Me desculpe por não ter ido... Sei que te magoei.
— Tudo bem, vai passar... O que importa é que estamos juntos.
— Verdade, meu bem — peguei a sacola de presente junto com o ramalhete de flores e me
ajoelhei entre suas coxas, estendendo o conteúdo para ela. — Pegue.
— Obrigado pelas flores, meu ogrinho. — disse e cheirou as rosas vermelhas, depois as
colocou ao lado no sofá e franziu o cenho, olhando para a sacola — O que é isso, Dimitri?
— Abra.
Luciana sorriu, sem entender nada, e rasgou a embalagem do papel de presente que tinha
tirado do interior da sacola, ansiosa. Ao ver o pequeno body com a legenda "sou a princesinha do
papai", minha Luz surtou e começou a chorar.
— Oh, meu Deus! Que coisinha fofa!
— Eu vi numa loja e pensei em nossa filha... Ficará perfeito nela…
— Ai, Dimitri!
Sem eu esperar, ela pulou em cima de mim, beijando-me loucamente, e caímos sentados no
tapete felpudo, sorrindo.
— Sua doida! — gargalhei. — Você quase se acidentou!
— Oh, meu amor, esse seu gesto foi tão lindo. Eu estou emocionada. Vou usar essa
roupinha quando ela nascer.
— Eu posso comprar muitas outras, umas tiarinhas também, acho muito lindo roupinha de
criança.
— Oh, meu russo sentimental! — ela começou a rir da minha cara.
— Eu sou macho, Luciana — afirmei, segurando outro riso na boca.
— Relaxa. Isso não fere sua masculinidade. Sabia que eu até fiquei excitada contigo… —
falou, esfregando seu corpo no meu.
— Luciana, se controle. Ontem à noite você não me deu sossego, mulher.
— E por acaso você não gostou? Hein? Seu safado!
— Você sabe que eu amei.
— Vamos pro quarto — incitou, cheia de intenções.
— Não — neguei, mas seu rosto se aproximou do meu, e começamos a nos beijar. Ela
continuou em meu colo, e minhas mãos serpentearam pelo seu corpo, apertando sua bunda com
força, até que meu pai e dona Mirian apareceram na sala.
— Desculpem interromper, pombinhos — papai pigarreou, sorrindo.
Assustados, nos levantamos do chão, sentando imediatamente no sofá, nossa cara de
paisagem.
— Oi papai, oi sogra — falei, como se nada tivesse acontecido.
— Hihi, oi, safadinhos. Dimitri, você finalmente apareceu! — Dona Mirian comentou.
— Sim, eu demorei, mas cheguei.
— Você será pai de uma princesinha, meu filho, vem cá me dar um abraço! — fui até meu
pai e o abracei forte. Ele segurou meu rosto, com os olhos marejados e falou, emocionado: —
Dessa vez, tudo dará certo, meu filho. Você será muito feliz com nossa netinha e minha linda
nora! E eu estarei aqui para cuidar de vocês, prometo.
— Obrigado, pai. Fico muito feliz de saber disso.
Em seguida, dona Mirian me abraçou e nos desejou felicidades.
E eu não podia negar... estava sendo o homem mais feliz do mundo.

No hospital Central de Nova York, Cristina estava no quarto onde Oscar se encontrava
ainda em coma, e o olhou com desprezo, repreendendo-o:
— Você foi tão covarde! Como nunca imaginei que poderia fazer aquelas coisas com a
Lu? — ela começou a chorar, cheia de rancor e lamuriou-se: — Eu te amava! Sempre me
declarei, mas você me tratava apenas como uma reles amante! Que ódio de ter perdido meu
tempo com você! Foi mais de uma década te amando em silêncio! Eu até achei que não te
merecia, mas sim a Lu! Eu até tentei te ajudar, abrindo os olhos dela para um possível
relacionamento entre vocês, mas depois descobri o monstro que você é! Que ódio!
Cristina sentou-se na cadeira e pôs as mãos na cabeça, decepcionada.
— Eu vou te esquecer, e jamais vou perdoar o que você fez com a Luciana.
Em seguida, ela saiu da sala e algo aconteceu.
Oscar mexeu um dedo da mão.
Ele estava voltando da escuridão.
ALGUNS MESES DEPOIS

ESTAVA FAZENDO 8 MESES de gravidez, e minha barriga estava enorme. Ganhei alguns
quilos, umas estrias e um tanto de celulites, mas meu ogrinho amou todas essas mudanças em
meu corpo, embora eu estivesse me achando feia e gorda.
Ele me agarrou por trás e mordeu meu pescoço, enquanto juntava as roupinhas que
compramos no guarda-roupa de princesa de nossa filha.
— Você tá tão gostosa, olha esses peitos... Jesus Cristo… — sussurrou ao pé do meu
ouvido, apertando meus seios por cima da minha roupa.
— Seu safadinho! Dimitri, deixe-me terminar… — pedi gemendo, sentindo meu núcleo
latejar só de ele me tocar e sussurrar daquele jeito.
— Estou fissurado em ti, está tão linda grávida.
Me virei, encontrando Dimitri me observando hipnotizado, enquanto acariciava minha
barriga com uma mão.
— Eu te amo, Luciana, mais que tudo em minha vida — disse ele, apaixonado, com os
olhos azuis reluzentes.
— Eu também. Nosso amor é infindável — soltei as roupinhas que ainda se encontravam
em minha mão e agarrei seus cabelos dourados com força, engolindo sua boca com gosto.
Meu russo não perdeu tempo e me deitou na cama com cuidado, engolindo minha boca
com fome e passeando suas mãos pelo meu corpo.
— Quer fazer amor, minha linda?
— Sim, eu sempre quero, meu ogro gostoso — expressei, desejosa.
— Tem que ser devagar, como das outras vezes, entendeu?
— Ah, tá bom! Não vejo a hora da bebê nascer e você me foder com força!
— Sua grávida safada! — ele gargalhou perante minhas palavras.
— Vem, meu russo.
Meu homem insaciável tirou nossas roupas imediatamente, Depois, ficou de conchinha e
começamos a fazer amor devagar, mas num ritmo gostoso, que me deixava louca.
Consciente da minha gravidez, tratava-me com cuidado e carinho especial, segurando-me
com delicadeza. Seus lábios encontraram meu pescoço, deixando um rastro de beijos e mordidas,
enquanto suas mãos exploravam cada curva do meu corpo. Cada toque, cada palavra sussurrada,
me fazia inflamar de tesão.
Dimitri segurava meu cabelo pela nuca delicadamente, o rosto colado ao meu, suado e
sussurrando em meu ouvido o quanto me amava e o quanto eu era gostosa.
— Você tá maravilhosa, mulher, estou mais tarado que antes. Tá gostoso? — o safado
questionou baixinho contra meu ouvido, mediante suas estocadas contidas.
— Sim, muito! Ahhh, Dimitri, seu puto gostoso safado! — apertei os olhos, sentindo o
prazer se alastrando e mordi meu lábio inferior.
— Eu te amo, Luciana, você é linda, é perfeita pra mim!
Passamos alguns minutos nesse movimento suado e gostoso, até que atingimos o ápice do
prazer. Por mim, eu faria amor mais uma vez, no entanto, minhas costas doíam, e meu cóccix
insistia em me torturar, não conseguia me levantar direito.
Após tomarmos banho, deitamo-nos na cama, vestidos com nossos roupões, e Dimitri me
aninhou em seu peito. Ele passava as mãos na minha barriga e sentia nossa filha chutar sem
parar.
Essa sapequinha não parava de se mexer.
Cada movimento dela era como uma dança suave que nos conectava ainda mais ao milagre
da vida que estávamos prestes a receber.
— Jesus Cristo, já acordou, minha russinha? — Dimitri falou com ela e desceu com a
cabeça até minha barriga, afastando o roupão que a encobria, selando beijos carinhosos.
Essa demonstração de carinho já virou costume. Todo dia ele fazia isso.
Quanto mais Dimitri falava, mais nossa filha se mexia, parecia que ela amava a voz dele.
— Eu sei que minha voz é irresistível, filha. Não vê sua mãe? Não consegue viver sem
minha voz sedutora — disse sorrindo, todo convencido.
— Seu convencido. Ela gosta de você.
— Sim, é verdade... Eu a amo muito — seus olhos brilharam ao dizer isso, e fiquei
prestando atenção no nome de sua mãe tatuado em seu peito esquerdo.
Uma ideia veio à mente, e decidi compartilhar:
— Dimitri, que tal escolhermos o nome dela? Já está pertinho de nascer.
— Sim, amor. Qual você quer? — ele perguntou, ficando de frente para mim.
— Você não vai dizer nenhum?
— Eu não sei qual colocar ainda, mas se você quiser um brasileiro, está perfeito.
— Eu já escolhi um... Ele é muito especial...
— Hum, qual?
— Emily.
Ao ouvir o nome de sua mãe, Dimitri paralisou, emocionado.
— Isso é sério? — ele me perguntou, surpreso.
— Sim, meu amor... Eu sei o quanto você amava sua mãe e sei também que ela era uma
mulher incrível, assim como será a nossa filha. Quero homenageá-la.
Os olhos do meu russo marejaram, e ele me abraçou forte, beijando-me delicadamente. A
emoção tomou conta do momento.
Ainda abraçados, ele me fitou e agradeceu, com a voz embargada:
— Obrigado, minha Luz. Eu não tenho palavras para isso. É um gesto lindo de sua parte,
que me faz te amar ainda mais.
— Você gostou mesmo, meu amor? — perguntei, para extinguir qualquer dúvida.
— Eu amei. Eu tive uma Emily muito especial em minha vida, e agora teremos nossa
filha… — disse, sorrindo largamente.
— Isso, meu bem, nossa pequena Emily. Nosso pequeno furacão russo-brasileiro que não
para de se mexer.
— Sim, uma pimentinha. Eu amo muito vocês, com toda a minha alma.
— Eu também, meu amor. Vocês são a minha vida, Dimitri.
Choramos emocionados e nos beijamos de forma extremamente apaixonada. Eu não
poderia estar mais feliz em minha vida. Nossa Emily chegaria em breve.
Mais algumas semanas se passaram, e era madrugada quando acordei para fazer xixi. Eu
estava agarrada ao meu russo gostoso, e me levantei devagar, a fim de não o acordar. Segui até o
banheiro, sentando-me no vaso, mas ao acabar, senti uma dor se formar em minha pélvis.
As contrações!
Eu não me lembrava do quanto isso doía. Segurei-me na parede e respirei fundo por alguns
minutos, esperando que a onda de dor se acalmasse para outra vir. Foi o suficiente para Dimitri
despertar e perceber minha ausência na cama.
— Luciana?
— Dimitri, eu tô sentindo muita dor. Acho que estou entrando em trabalho de parto.
— MEU DEUS! — ele se levantou da cama num sobressalto, quase caindo, e veio me
amparar. — Venha, sente-se, vou chamar sua mãe.
No momento que me sentei, senti o líquido da bolsa escorrer entre as pernas.
— Porra… — praguejei.
— Que foi? — ele perguntou, com os olhos arregalados de pavor.
— A bolsa estourou!
— Meu Jesus Cristo! — Dimitri olhou para minhas pernas e para o chão molhado, ficando
extremamente nervoso, olhando-me cheio de medo.
Sei bem o que ele estava pensando, mas tentei o acalmar.
— Dimitri, eu já passei por isso, não se apavore, ok?
— O-ok.
Em seguida, ele me beijou e foi chamar mamãe. Alguns segundos depois, mamãe e papai
entraram no quarto, assustados, ainda de pijamas.
— Filha, o que houve? — mamãe perguntou, esfregando os olhos inchados.
— A bolsa estourou, mãe. A Emily quer nascer — respondi, sorrindo.
— Oh, meu Jesus! — mamãe exclamou, sorrindo largamente. — Vou vestir uma roupa
imediatamente. Vamos, Luiz. Dimitri, pegue a bolsa da maternidade e os documentos dela, ok?
Dimitri estava em transe, nervoso. Mamãe percebeu, indo até ele e segurando seu rosto,
dando-lhe forças.
— Dimitri, meu amor, esqueça o medo. Sua filha vai nascer e nada a impedirá de viver e
de nos fazer feliz. Seja forte e corajoso, meu querido. Nossa russinha é forte — os olhos dele
marejaram, ele sorriu emocionado. — Você não perderá ninguém, meu genro lindo. Acredita em
Deus?
— Sim… — ele acenou com a cabeça.
— Então, ele te mandou Emily e Luciana. E ele não vai tirá-las de ti. Agora pegue as
coisas e vamos para o hospital. Vou ligar para o seu pai e sua irmã.
— Certo, obrigado, sogra.
Mamãe beijou a bochecha dele e se retirou do quarto, acompanhada por papai. Dimitri se
aproximou e me abraçou.
— Tá doendo muito?
— Dá pra aguentar. Por favor, me ajude a trocar de roupa.
— Certo, minha Luz.
Imediatamente, Dimitri me ajudou a vestir um vestido confortável e arrumou as outras
coisas. Depois, descemos para a garagem com mamãe e papai. Antes disso, me despedi de Totó e
Pandora, que estavam em suas casinhas de princesa.
— Mamãe volta já, meus amores. A princesa Emily está vindo ao mundo.
Totó e Pandora balançaram o rabinho, extremamente felizes e ansiosas pela chegada da
irmã.
Logo depois, adentramos no veículo e Dimitri dirigiu rumo à maternidade, que ficava perto
de nossa casa. As contrações pioravam e eu respirava fundo, relembrando que já passei por isso e
não havia nada a temer. E ainda tinha o fato de Dimitri sofrer com o trauma do passado… Estava
tentando de todas as formas me segurar e ficar calma, para que tudo desse realmente certo e ele
não surtasse.
Chegamos à maternidade, e mamãe já providenciou tudo. A equipe médica estava a postos
para nos receber. Ao entrarmos, senti uma mistura de nervosismo e excitação. Estávamos prestes
a conhecer nossa pequena Emily. O coração acelerou, mas confiei que, desta vez, tudo seria
diferente e feliz.
Dimitri me auxiliou, e logo encontramos Ekaterina, Victor e meu sogro querido na
recepção.
— Luu! Nossa russinha vai nascer! — Ka disse, toda animada.
— Vai sim!
— Oh, Deus, tudo dará certo! — meu sogro falou, emocionado.
Eles me abraçaram carinhosamente, tomando cuidado, e logo depois fui atendida
rapidamente e encaminhada numa cadeira de rodas para a sala de parto.
Fiquei sendo analisada pelo médico e, ao fazer o toque, ele falou animado:
— 9 centímetros, está na hora.
— Ai, Jesus... — murmurei com dor e ansiedade.
Em seguida, Dimitri entrou, usando as roupas específicas, claramente tenso ao me encarar.
Ele segurou minha mão e observou o médico se preparando com sua equipe para realizar meu
parto.
— Amor, você está sangrando — ele constatou, apavorado. — Meu Deus… — suas mãos
gelaram, e pude notar o pânico tomando conta do seu ser.
— Isso é normal, meu bem, relaxe — tentei tranquilizá-lo.
— Mas a Svetlana também sangrou e…
O interrompi.
— Dimitri, eu não sou a Svetlana, meu amor. Eu vou ficar bem, e nossa filha vai nascer
saudável. Esqueça isso, por favor. Eu preciso de você — pedi com a voz embargada, e ao fitar
seus olhos azuis glaciais, os encontrei cheios de lágrimas, vermelhos.
— Está bem. Me desculpe. Essa situação é delicada para mim…, mas eu não vou te deixar.
— Obrigada.
As dores aumentaram e eu já não suportava mais. Comecei a gritar, o médico se
posicionou, falando:
— Querida, faça força quando vier as contrações, a maior força que puder.
— Sim! Ahhhh!
A dor se tornou horrenda, mas ainda suportável, e Dimitri se apavorou, beijando minha
cabeça.
— Você consegue, minha reclamona.
— Ahhhh!
— Isso, querida, já vejo a cabecinha loirinha! — o médico falou, animado.
A emoção tomou conta da sala de parto. Dimitri estava ao meu lado, segurando minha mão
com força, seus olhos transbordando preocupação e amor. Minha mãe e meu pai assistiam
emocionados ao nascimento da neta.
— Vai, Luciana, mais uma vez, muita força! — o médico incentivou.
— Ahhhhh! — fiz o máximo que consegui, e finalmente, após uma série de esforços e dor
intensa, ouvi o choro da minha pequena Emily. Uma mistura de alívio, felicidade e emoção
tomou conta de todos na sala.
O médico colocou a nossa filha nos meus braços, e eu senti uma onda avassaladora de
amor. Dimitri, com lágrimas nos olhos, beijou minha testa e acariciou delicadamente o rosto da
nossa recém-nascida.
— Meu Deus! Minha filha... — Dimitri falou, sem acreditar.
— Bem-vinda ao mundo, princesa Emily... — sussurrei, emocionada.
Todos ao redor exibiam sorrisos radiantes e celebravam este momento mágico. O choro do
bebê preenchia o ambiente, inundando nossos corações de alegria e gratidão.
— Ela é tão perfeita, Dimitri.
— Sim, minha Luz…
De repente, ele desmaiou, vítima da emoção do momento, deixando-me angustiada.
— DIMITRI! — exclamei seu nome, e mamãe parou de filmar, preocupada.
— Coitado, estava muito nervoso, mas acontece — o médico comentou, sorrindo.
Em seguida, os enfermeiros colocaram Dimitri numa poltrona, observando seu pulso e
tentando acordá-lo.
— É o primeiro filho de vocês? — o médico me perguntou, preocupado.
— Não... O Dimitri e eu tivemos filhos antes, mas Deus os levou... A filhinha dele morreu
em seus braços quando tinha poucos dias de vida, por isso ele é traumatizado.
— Meu Deus! Eu sinto muito. Não era para ele estar aqui. Coloquem-o na observação,
rápido — o doutor exigiu, e imediatamente quatro enfermeiros carregaram o russo enorme,
tirando-o daqui.
— Coitadinho do meu russo.
— Calma, ele vai ficar bem — garantiu o doutor.
Voltei minha atenção para a perfeição que estava em meus braços, e ela segurou meu dedo
indicador com sua minúscula mãozinha.
— Ow, tão linda, minha Emily.
Mamãe se aproximou, chorando, e deu um beijinho na cabeça dela.
— Minha netinha, eu sabia que um dia você nasceria.
Ato contínuo, o médico pegou Emily para fazer as observações de praxe. As enfermeiras
limparam seu corpinho e colocaram a roupinha que Dimitri comprou e um gorrinho vermelho
com seu nome em letras douradas em sua cabecinha de cabeleira platinada que nem a do pai.
Após alguns minutos, fui colocada numa cadeira de rodas enquanto segurava minha
bebezinha, e me levaram até o quarto que Dimitri estava. Adentrando lá, o vi acordando e
gritando.
— Cadê minha mulher? Lucianaa!
— Dimitri, se acalme, estou aqui.
Ao sentar-se na cama, ele olhou emocionado para Emily, que estava em meus braços bem
quietinha, chupando o dedinho polegar de uma mãozinha.
— Minha Emily... voc... vocês estão vivas! — ele disse, em choque.
— Sim, meu amor, estamos ótimas. Quer pegá-la?
Dimitri engoliu em seco e passou as mãos no cabelo, nervoso.
— É melhor não.
— Por favor, meu amor. Não vai acontecer nada. Emily é super saudável.
— Eu tenho medo — as lágrimas escorreram de seus olhos, e uma onda de apreensão
tomou conta de nós.
— Não tenha medo... — Mamãe me ajudou a se levantar, apesar das dores, e coloquei
nossa filha em seus braços. — Olhe como ela é a sua cara, meu ogro. Até a carranca na testa —
constatei, sorrindo.
— Meu Deus… — de repente, Emily começou a chorar alto, e o russo se apavorou. — O
que ela tem? Chamem o médico!
— É normal, Dimitri… — falei, tentando acalmá-lo.
A seguir, a bebezinha pegou em seu dedo polegar, cessando o choro.
— Ohhh, minha fofinha, por favor, não dê um susto no seu pai. Não quero te perder... —
expressou Dimitri, com a voz embargada, olhando fixamente para o rostinho perfeito dela.
— Você não vai nos perder nunca. Seremos uma família superfeliz, meu ogro lindo… —
garanti, acariciando sua barba dourada.
— Sim, minha Luz, seremos.
O abracei de lado e beijei seu rosto enquanto Emily não desgrudava de seu dedo.
ENQUANTO ANINHAVA MINHA FILHA em meus braços, uma emoção arrebatadora
tomou conta de mim. A suavidade de sua pele, a fragilidade do seu ser recém-chegado ao
mundo, tudo me envolvia em uma aura de pura admiração.
— Você é tão perfeita… Eu te amo, minha Emily.
Olhando suas delicadas feições, notei que ela era idêntica a mim, mas tinha os lábios
cheios da mãe. Luciana estava na cadeira de rodas, nos observando, sorrindo.
— Ah, vocês são tão fofos juntos.
— Eu fiz essa menina com muito amor, não foi, minha brasileira? Ela é tão perfeita.
Luciana soltou uma risada emocionada, misturada com lágrimas de alegria.
— Sim, sua xerox. Eu sempre desejei em segredo ter um bebê seu, Dimitri. Mas não
tentava porque você sempre dizia que não queria — Luciana desabafou.
— Eu sei... me desculpe. Mas agora eu te dei uma linda menina. E isso é a melhor
sensação do mundo. Ser pai.
— Oh, meu amor...
Logo depois, a enfermeira avisou que Luciana teria que colocar Emily para mamar.
Entreguei nossa filha à mãe, e após o médico me liberar, seguimos para o quarto onde elas
ficariam, e Luciana começou a amamentar nossa filha, fazendo meu coração explodir de amor.
Tudo ocorria muito bem, eu só precisava controlar minha ansiedade, pois meu trauma
ainda persistia.
Zelei a noite toda por elas, e qualquer resquício de movimento me deixava em alerta. Mas
logo o dia amanheceu, e Luciana e Emily foram liberadas, e seguimos finalmente para casa.
Ao chegarmos, Totó veio correndo em nossa direção, latindo toda animada, balançando
seu rabinho elétrico.
— Oi, minha Totozinha safada! Venha ver sua nova doninha — peguei Totó do chão e
mostrei Emily para ela.
Os olhos da cachorrinha brilharam e ela parecia emocionada, com a linguinha de fora.

Pensamento de Totó: “Ow, minha nova doninha, já te amo! Vou te proteger de todo o
mal, para sempre!”
— Oh, Totó, logo você brincará muito com ela, viu? — Luciana garantiu, sorridente.
Pandora se aproximou, contente com nosso retorno.
— Dimitri, vamos para o quarto, estou cansada.
— Ok, amor.
Seguimos em direção ao quarto, onde se encontrava o bercinho de Emily. Por enquanto,
ela ficaria conosco, depois a levaríamos para seu quartinho de princesa, ao lado do nosso.
Luciana se deitou na cama com cuidado, e Dona Mirian colocou a neta no bercinho, já que
ela estava em um sono profundo.
Meio preocupado, me certifiquei de que ela estava respirando, observando cada ressonar e
absorvendo a beleza única que ela tinha.
— Tão linda, minha russinha brasileira.
Em seguida, Dona Mirian foi para seu quarto, e deitei-me ao lado da minha brasileira,
agradecendo por cada bênção que a vida nos proporcionou.
Seu semblante era puro cansaço, parecia abatida. Contudo, a admiração que tinha por ela
aumentaram em um nível extremo.
Luciana era uma verdadeira guerreira, e apesar de tudo que passou, conseguiu tirar de letra
o parto de nossa bebezinha.
Estava cada vez mais loucamente apaixonado por essa mulher.
Ela se aconchegou em meus braços e me chamou para lhe ajudar a tomar banho. Ao retirar
sua roupa, a lavei com cuidado, e mesmo que ela estivesse em resguardo e o corpo ainda mudado
pela gestação, meu pau levantou.
Me sinto um filho da puta!
Luciana percebeu e riu da minha cara.
— Só daqui trinta dias, seu guloso!
— Porra, me desculpe, amor. Você me deixa assim.
— Eu estou tão gorda e feia, amor, não sou isso tudo. Não tenho mais aquele corpo
perfeito — ela se lamentou.
Percebendo sua insegurança, intervi, desligando o chuveiro e a encarando com repreensão:
— Está louca? — segurei delicadamente seu rosto entre minhas mãos, enquanto fitava
intensamente seus olhos. — A perfeição é padronizada pela sociedade, apenas uma porra de
convenção social. E eu não me apego a isso! Você deu à luz, e para mim, é a mulher mais linda e
gostosa desse mundo. Eu nunca liguei para corpos perfeitos, apesar de trabalhar numa academia.
Sempre fiquei com qualquer tipo de mulher. Pare com essa insegurança, eu te amo e sou tarado
por ti.
Ela mordiscou o lábio inferior e me abraçou.
— Também te amo, Dimitri. Você sempre me surpreende, meu amor. Estou sem palavras...
— Eu fui sincero. Se você não se sentir bem com seu corpo, posso te ajudar, afinal, sou
Personal Trainer. Mas pare de se importar com padrões idiotas que a sociedade impõe.
— Ok, meu Shrek, vou parar. Mas em relação a você ser meu personal, acho que não vai
rolar — ela gargalhou.
— Ué, por quê?
— Porque você irá me comer mais do que irá me treinar!
Gargalhei, pois ela tinha razão.
— Que conversa! Eu me aguento… — garanti, mentindo para mim mesmo.
— Hummm, sei... Tão iludido...
— Vamos para a cama, dormir — seguimos em direção à cama e Luciana se enxugou
enquanto vestia uma camisola.
Decidi tomar um banho, e depois me deitei só de toalha ao seu lado, abraçando-a por trás.
Mas minha brasileira se virou e ficou me comendo com os olhos, e sorri de sua carinha.
Um mês sem poder tocá-la...
Que Deus me ajude!

No terceiro dia de vida de minha filha, despertei sobressaltado e ansioso ao ouvir seu choro
na madrugada. Luciana estava imersa no sono sereno, e decidi me levantar para cuidar da
pequena. Contudo, as memórias dolorosas de Nastya partindo em meus braços ressurgiram
abruptamente, fazendo-me tremer.
Emily persistia em seu choro, um som que ecoava como um miado frágil, e eu lutei para
recobrar a compostura.
"Força, Dimitri! Você precisa superar isso!" disse a mim mesmo, inspirando
profundamente.
Gradualmente, minha calma retornou e tomei minha filha, aninhando-a junto ao meu peito.
Sentei-me na poltrona e recordei ter ouvido recentemente uma música com seu nome: "Emily",
de James Arthur, a qual Luciana vivia cantando.
Essa melodia tocou profundamente meu coração, tornando-se a trilha sonora da minha vida
ao lado da minha brasileira e nossa bebê.
Tentando acalmar a pequena, decidi cantar baixinho a letra da música.
Emily cessou seu choro, agarrando-se ao meu dedo indicador enquanto adormecia
novamente.
Lágrimas deslizavam pelo meu rosto, e beijei sua cabecinha adornada por cabelos loiros
dourados, semelhantes aos meus. O aroma delicado que emanava dela era incrível.
Meu coração pulsava com intensidade, à beira da explosão, em resposta ao amor
arrebatador que nutria por minha filha. Sem aviso, escutei Luciana falando comigo. Ao voltar o
olhar para a cama, a vi sentada, lágrimas de emoção banhando seu rosto.
— Dimitri. Que música linda...
— É a minha música para ela, minha Luz. Essa menina é minha vida. Assim como você.
Me desculpe por ter te acordado.
— Sem problemas. Eu acordei e vi você cantando para ela. Nunca esquecerei esse
momento. Coloca ela aqui na cama, conosco — ela pediu, com os olhos marejados.
Em seguida, me levantei com cuidado e coloquei Emily no meio da cama, no entanto, ela
não soltou meu dedo.
— Oh, ela ama o papai — Luciana comentou, visivelmente emocionada.
— Sim, ela adora segurar minha mão. Minha fofinha.
Depois disso, adormecemos.
UM MÊS SE PASSOU, e fui ao médico para verificar como estava meu corpo após o pós-parto.
Graças a Deus estava ótima e já perdi alguns quilos, talvez de tanto amamentar minha bebê
esfomeada.
Ao chegar em casa, Ekaterina já estava a postos, preparando o mêsversário de um mês de
Emily. Ela era uma tia babona e não escondia a empolgação. Emily estava vestida com uma
roupinha de academia que a tia comprou, consistente em um conjunto vermelho de malha e uma
tiarinha da mesma cor em sua cabeça; o tema seria academia da bebê Emily.
— Ai, meu Deus! Que linda! Vem para a mamãe — a peguei do carrinho, passeando pela
casa.
Em seguida, Dimitri chegou da academia carregando sacolas de presentes.
— Cheguei! Papai Dimitri trouxe um monte de brinquedos e roupinhas. Não vou trabalhar
mais hoje, só vou ficar com meus amores — ele me abraçou forte e cheirou meu pescoço,
deixando-me arrepiada. — Gostosa... — sussurrou baixinho, deixando claro seu desejo.
— Ai, vamos tirar fotos! — Ekaterina disse, empolgada.
Cantamos os parabéns e tiramos fotos. Wilson chegou com algumas sacolas de presente e
me entregou, dando-me um abraço em seguida.
— Oh, que bebezinha linda! Ela é a cara do pai! — Wilson comentou.
— E o gênio da mãe, reclamona e chorona — Dimitri afirmou, provocando-me com seu
sorriso cínico.
— Canalha! — o repreendi, se fazendo de durona e segurando o riso.
— Calma, minha linda... estou brincando. Vou só tomar uma vodca com meu pai, fique à
vontade, Wilson.
— Obrigado, Dimitri.
Depois que Dimitri saiu, Wilson olhou para mim, parecendo preocupado.
— Luciana, preciso te dizer algo.
— O que foi?
— O Oscar… — ele hesitou, fazendo uma careta.
— O que tem ele?
— Ele viajou, mas não sei para onde! Sumiu! O juiz expediu mandado de prisão, já que ele
desapareceu.
— Mas ele não tinha perdido a memória? — relembrei esse fato, pois Cristina havia nos
contado que, ao visitá-lo meses atrás no hospital, ele tinha acordado do coma e estava
desmemoriado, não reconhecia ninguém, nem a si mesmo.
— Era o que pensávamos. Mas estamos em seu encalço. Eu vou encontrar aquele filho da
puta e colocá-lo atrás das grades!
— Espero que sim, Wilson. Confesso que tenho medo até de sair de casa por causa dele.
Eu só queria que ele fosse preso.
— Ele vai ser, Luciana, e eu farei o possível!
A apreensão tomou conta do meu corpo, e senti um mau-pressentimento. Não acreditava
de jeito nenhum nessa história de que ele perdera a memória, e achava ainda mais estranho o fato
de Cristina sumir. Ela visitava Oscar de vez em quando e me ligou algumas vezes, dizendo que
ele poderia nunca mais lembrar de nada, mas fazia dias que ela não ligava. Estava preocupada.
Wilson e eu conversamos sobre outro assunto, e depois, todos se dirigiram para aproveitar
o bolo. Dimitri tomou algumas doses de vodca em um copo minúsculo com seu pai, e seu sorriso
brilhante era o mais encantador que já vi.
Meu russo parecia não acreditar que tudo estava tão perfeito.
Após o encerramento da festa, Emily adormeceu, e cada um se retirou para descansar. Ao
chegar na sala, encontrei Dimitri sentado no sofá, imerso em suas músicas favoritas.
Seu sorriso malicioso surgiu, e ele desceu o olhar pelo meu corpo, provocando uma chama
intensa dentro de mim.
— Vem cá, minha brasileira — aproximei-me, e ele pegou minha mão, me puxando para
seu colo.
— Hoje você não me escapa, Luciana. Eu não aguento mais ficar na mão, mulher.
Comecei a beijá-lo, desesperada pelo seu toque, e ele foi tirando minha roupa com certa
brutalidade.
Não estava mais suportando a abstinência.
E nem eu.

Quatro meses atrás, despertei sem memória, incapaz de recordar os eventos que
desencadearam esse turbilhão mental.
Desde o meu retorno do coma, Cristina visitava-me regularmente, permeada por um misto
de ódio e ressentimento, mas evidenciando um amor que persistia.
Embora tenha percebido seus sentimentos ao longo de nossa história, meus olhos e meu
coração sempre estiveram direcionados à Luciana.
Cristina se casou duas vezes, mas, em seu último casamento, o negócio desandou e ela
decidiu tentar algo comigo em segredo.
Por anos, a manipulei, fazendo dela minha amante em um intricado jogo de controle.
Sua paixão por mim foi tão intensa que, em uma tentativa de me agradar, ela chegou a
articular a aproximação entre Luciana e eu, infelizmente sem sucesso.
Quando mais dois meses se passaram, recuperei integralmente minha memória, mas decidi
fingir ignorância. A manipulação de Cristina continuou, e descobri que Luciana teve uma filha
com aquele russo desgraçado.
Eu não poderia deixar isso barato...
Luciana vai ser minha, de um jeito ou de outro...

ALGUMAS SEMANAS DEPOIS

Na semana passada, simulei uma intensa enxaqueca, despertando a compaixão de Cristina.


Determinado a levar as coisas ao extremo, cometi um ato drástico.
Fui até a casa dela e, num momento de distração, a abordei por trás, sufocando-a até a
morte. Posteriormente, tomei posse de seu celular e concebi um plano: fazer-me passar por ela
para interagir com Luciana e dar continuidade aos meus objetivos.
Para concretizar isso, precisava do apoio de uma grande aliada que estava na Alemanha,
meu país natal: minha mãe, Bertha.
Antes de recuperar minha memória, ela entrou em contato comigo, chocada com tudo que
havia ocorrido. A partir daquele momento, mamãe me telefonava diariamente, auxiliando-me a
recuperar lembranças, até que minha memória foi completamente restabelecida.
De repente, meu celular tocou.
— Alô, mamãe?!
— Oscar, você precisa vir imediatamente para a Alemanha! Eu estou perdendo o controle
da situação. Essa desgraçada tentou fugir! Temos que dar um fim nela! — ela parecia bem
irritada.
— Droga! Ok, mãe, vou encontrar uma solução, mas a polícia está de olho em mim. Não
posso sair dos Estados Unidos!
— Maldição! Dê seu jeito! Eu te criei para ser esperto e não um babaca! Venha embora,
senão eu mesma dou um fim nesta ruiva infeliz! Não sei por que ainda a mantém viva! Já
sugamos tudo dela!
— Ela ainda tem muito para me dar, mamãe. Eu vou dar um jeito..., mas, e a Luciana? Eu a
amo!
— Você sabe o que fazer... Nossa última cartada! — sugeriu mamãe.
— Repetir aquilo de novo, mãe?
— Sim.
— Ela agora tem uma filha com o russo desgraçado! O que eu faço? — perguntei inquieto,
andando de um lado para o outro.
— Pegue as duas e depois resolveremos o que fazer! Agora aja! — exigiu impaciente,
desligando a chamada na minha cara.
Respirei fundo, ao arquitetar um plano audacioso em minha mente e falei alto, ansioso:
— Você será minha, Luciana! Eu não ficarei em paz enquanto você não estiver só comigo!
Estávamos aproveitando o dia ensolarado no amplo jardim da casa de Dimitri, deixando
Emily absorver um pouco de sol, quando algo terrível aconteceu. Meu pai caiu de joelhos no
chão, expressando dor no peito.
Desespero tomou conta de mim.
— Meu... meu Deus... — ele murmurou, seu rosto contorcido pela agonia.
— PAPAI!
Segurando Emily nos braços, senti uma aflição profunda enquanto os seguranças de
Dimitri o levaram imediatamente para o hospital. Mamãe estava em desespero, lágrimas
escorrendo, e o pai de Dimitri nos conduziu à unidade de emergência.
Ao chegarmos, um médico se aproximou e nos entregou a notícia mais dolorosa de nossas
vidas.
Papai teve um infarto fulminante. Se foi.
Mamãe se ajoelhou no chão, soluçando, e Mikhail a amparou. Emily segurava meu dedo
enquanto fazia bolhas na boca, e eu chorava pela perda do meu pai, que se foi sem dizer adeus.
Dimitri chegou rapidamente após uma ligação desesperada. Seus olhos também estavam
marejados. Mikhail, comovido, continuou apoiando minha mãe.
No dia seguinte, enfrentamos o funeral do meu pai. Apesar de ser brasileiro, mamãe,
estando comigo, permitiu que ele fosse enterrado em solo estadunidense, na mesma cova onde
jaziam os corpos de meu falecido marido e filha. O enterro foi doloroso, abalando
profundamente a todos nós.
Algumas semanas se passaram, e Emily completou 4 meses. Ela era a imagem viva de
Dimitri, e cada vez que o via, emitia balbucios que deixavam sua boquinha coberta de baba. Ela
era apaixonada pelo pai.
Dimitri a pegou nos braços e a cobriu de beijos.
— Coisinha linda do papai! Eu te amo.
Enquanto ele se divertia com ela, recebi uma mensagem de Cristina.
Ao verificar o celular, deparei-me com uma proposta de encontro amigável marcado para o
próximo dia, por volta das 9 horas. Respondi positivamente, concordando com o horário.
Curiosa sobre o seu repentino sumiço desde que Emily nasceu, questionei onde ela estava.
A resposta veio descontraída, revelando que ela estava realizando alguns trabalhos no outro lado
do mundo, mas que agora estava de férias, me pedindo mil perdões pela ausência. Em seguida,
sugeriu que seria melhor me buscar quando Dimitri saísse para o trabalho.
Concordei com a ideia, respondendo com um simples "Ok, amiga". Ela então fez um
pedido afetuoso para que eu levasse Emily, pois a tia postiça estava ansiosa para vê-la. Assegurei
que a levaria e encerrei a conversa com um otimista "Te espero amanhã".
A troca de mensagens deixou-me animada com a perspectiva de reencontrar minha amiga e
compartilhar momentos especiais, apresentando Emily, que era claramente aguardada com
entusiasmo por ela.
No dia seguinte, Dimitri acordou cedo, como de costume, e veio me agarrar na cama para
fazermos amor.
— Amor, de novo? Passamos a madrugada toda transando, Dimitri!
— Pois é, mas eu não fico satisfeito, você é o meu vício, mulher! Quero ir trabalhar com o
cheiro da sua boceta na minha boca e no meu pau… — o safado disse, todo saliente, me
deixando completamente acesa de desejo.
— Seu indecente!
— Eu sei que você adora minha safadeza, sua gostosa. Hoje à noite sairemos para jantar,
quero te fazer uma surpresa.
— Hum... não vejo a hora.
Dito isso, ele começou a me beijar e demos uma rapidinha deliciosa. Depois, Dimitri
tomou banho e se arrumou para ir trabalhar.
Algumas horas mais tarde, ocupada, arrumando as coisas de Emily, fui abordada por minha
mãe.
— Para onde você vai, filha? — indagou ela.
— Cristina vem me buscar para darmos um passeio com Emily — respondi animada.
— Entendi... tenha cuidado, minha filha.
— Claro, mamãe.
De repente, recebi uma mensagem de Cristina, avisando que estava me esperando na
esquina.
Terminei de digitar, respondendo que estava indo, peguei Emily, a coloquei no bebê
conforto e me encaminhei para a esquina. Ao me aproximar do carro, avistei Cristina usando um
chapéu que escondia quase todo o seu rosto e óculos escuros, uma aparência que nunca a vi
vestir.
Uma sensação de estranheza pairou em minha mente, pois essa não era sua vestimenta
habitual. Distante, percebi Dimitri se aproximando com o carro.
Acenei com a mão e sorri.
— Pra onde você vai, Luciana? — ele perguntou de longe, meio preocupado.
— Vou sair com a Cristina. Volto já, meu russo. Te amo.
— Também te amo.
Ao entrar no outro lado da porta, olhei para o rosto de Cristina e percebi que se tratava de
outra mulher, usando peruca e óculos escuros.
— Quem é você e onde está a Cristina? — perguntei assustada e ao olhar para o banco
passageiro, vi Oscar.
Ele mandou a mulher acelerar e apontou uma arma em minha cabeça.
— Caladinha, coelhinha. Eu vim te buscar, estava morrendo de saudades — falou, sorrindo
maliciosamente.
A mulher arrancou no volante e eu fiquei chorando silenciosamente. Emily estava no bebê
conforto, adormecida, e Oscar olhou para ela.
— Que menina linda. Ela será nossa filha de hoje em diante — Oscar afirmou com seu
jeito de psicopata e o carro seguia para um destino desconhecido.
Depois que saí de casa, tive um mau-pressentimento. Não beijei minha filhinha antes de
sair, de tão apressado que eu estava. Percebi que esqueci minha carteira em cima da mesinha de
cabeceira e retornei para casa.
Ao chegar na minha casa, estacionei o carro e, de longe, vi Luciana entrando no carro de
Cristina de maneira brusca, e uma peruca ser atirada da janela do motorista. Enlouqueci. Aquela
mulher não era Cristina coisa nenhuma.
— Lucianaaaa! — tentei seguir o carro, mas foi inútil, os perdi de vista. — Meu Deus!
Imediatamente, liguei para seu celular que só fazia chamar, mas, no último toque, foi
atendido por Oscar e o ódio me engolfou.
— Olá, Dimitri, essa será a última vez que você ligará para a minha coelhinha! — garantiu
ele, com uma risada diabólica.
No fundo, escutei o choro sofrido de Luciana, chamando pelo meu nome.
— Dimitri!
— Onde você está com a Luciana e a minha filha, desgraçado? Entregue-as pra mim agora,
ou sofrerá as consequências! — exigi, irado.
— Você nunca mais as verá em sua vida, seu russo infeliz! — ele prometeu. — Elas serão
minhas agora. Minhas! Adeus, Dimitri!
Ao desligar a ligação, lágrimas de desespero desceram de meus olhos. Liguei para Wilson
e ele atendeu imediatamente.
— Oi, Dimitri, tudo bem?
— Wilson! O Oscar sequestrou a Luciana e a Emily agora! Pelo amor de Deus, me ajude!
— clamei, desesperado.
— Quê? Mas que filho da puta! Estou indo pra sua casa agora!
— Ok!
Na mesma hora, entrei em minha casa chorando, e Mirian veio falar comigo.
— Dimitri, que cara de choro é essa?
— A Luciana e a Emily foram sequestradas pelo Oscar!
— Quê? Não pode ser... A Cristina veio buscá-la!
— Era uma armação! O Oscar atendeu a ligação no celular dela! Eles as levou de mim! —
ajoelhei-me no chão, desesperado, pondo as mãos na cabeça e gritei como louco. — Meu Deus,
eu não posso perdê-las!
Dona Mirian chorava sofregamente e se juntou a mim, me abraçando.
— Calma, meu filho, nós vamos encontrá-las! Deus vai protegê-las de todo mal!
— EU VOU MATÁ-LO! — gritei, revoltado.
Alguns minutos, papai chegou com Ekaterina e Victor, e depois Wilson compareceu com
vários policiais. Estávamos todos na sala, e dona Mirian me deu um copo com água.
Wilson esperou que eu me recompusesse para que eu explicasse tudo o que houve.
— Dimitri, se acalme. Eu tenho uma forma de encontrá-las.
Todos arregalaram os olhos, com um misto de esperança.
— Qual? — indaguei, esperançoso.
— Lembra que eu dei uma pulseira de ouro para Emily com um símbolo de anjinho rosa?
— Sim!
— Então, essa pulseira tem um rastreador. Eu também dei uma para a Luciana, com um
símbolo de mãe e filha, e ela sabe do rastreador. Fiz isso por precaução, depois que soube que o
Oscar acordou do coma. Meus homens já estão trabalhando para encontrá-las, daqui a meia hora
me atualizarão de tudo.
— Meu Deus, obrigado, Wilson! Espero que minhas vidas estejam vivas — minha voz
trêmula denunciou a agonia que tomou conta de mim.
— Vamos ter fé, Dimitri. Do jeito que conheço Luciana, ela vai lutar bravamente para
proteger Emily — Wilson disse com convicção, mas seus olhos refletiam a mesma preocupação
que eu sentia.
— Meu Deus, isso é um pesadelo em minha vida! Eu deveria ter matado aquele infeliz! —
esbravejei inconformado, a raiva misturando-se ao desespero em meu peito.
— Calma, Dimitri. Quando nós o pegarmos, você fará isso, e eu dou uma explicação
convincente para o departamento. Oscar não merece mais viver nem por um segundo — Wilson
tentou se acalmar, mas a tensão pairou no ar.
Minha irmã e meu pai me abraçaram, junto a Dona Mirian, e choramos sofregamente. O
peso do medo e da incerteza era algo excruciante. Algum tempo depois, Wilson descobriu o
paradeiro de Oscar.
— Eles estão num vôo comercial para Berlim, na Alemanha! Aquele filho da puta é de lá e
com certeza alguém está o ajudando!
— Meu Deus! E agora, Wilson? — meu coração acelerou, a ansiedade dominando meu
ser.
— Vamos pegar um voo para a Alemanha daqui a meia hora, Dimitri. Vou ligar para a
polícia de Berlim, e teremos todo o apoio necessário. Já contatei a Interpol, o Oscar é um
foragido. Você vem?
— Claro! Vou levar alguns amigos — a determinação se misturou com a dor em minha
voz.
A seguir, olhei para a foto de Luciana comigo e Emily num porta-retrato de uma cômoda, e
fiquei cheio de expectativas e angústias.
Preciso salvar minha Emily e minha Luz.
ALGUMAS HORAS SE PASSARAM, e estávamos a bordo de um jatinho particular,
providenciado pelas autoridades policiais de Nova York. Minha ansiedade me torturava enquanto
permanecia em silêncio, oferecendo preces silenciosas a Deus, suplicando pela segurança de
Luciana e de minha pequena Emily.
Deixei nos Estados Unidos a mãe de Luciana, papai e Ekaterina, todos sob proteção
policial na minha residência. Raniery, meu amigo gangster, colocou a mão no meu ombro.
— Dimitri, calma, cara. Nós encontraremos aquela sacola de bosta, e dessa vez, ele vai
encontrar o caminho para o inferno. Sua filha e sua mulher estão bem, vamos ser positivos.
— Obrigado, amigo.
Alguns minutos depois, avistei Wilson falando ao telefone com Carmem, todo apaixonado,
dizendo estar com saudades. Eles estavam juntos há alguns meses e parecia que se davam muito
bem. No fundo, fiquei extremamente feliz que minha ex ficante conheceu alguém que realmente
gostasse dela, e Wilson era um bom homem. Torcia pela felicidade de ambos.
Em seguida, após horas de angústia, chegamos a Berlim, onde Oscar mantinha minha
mulher e minha filha. O rastreador estava operando perfeitamente, indicando a localização exata
deles, em uma área rural distante e isolada.
Wilson me deu um colete à prova de balas, bem como outra arma, porque eu trouxe as
minhas e estava armado até os dentes. Meus outros amigos também foram protegidos por seus
aparatos de segurança, e, logo depois, Wilson falou conosco:
— Estamos nos dirigindo agora ao local do cativeiro. Esteja preparado, Dimitri! Vamos
garantir que Luciana e Emily saiam ilesas.
— Certo, eu terei cuidado. Espero que elas estejam bem.
Em seguida, embarcamos em carros blindados e, após quase meia hora dirigindo por um
terreno repleto de vegetação, decidimos continuar a pé até o cativeiro. Uma casa enorme surgiu à
vista, cercada por diversas plantações e um jardim exuberante. Do lado de fora, avistamos alguns
homens armados, criando uma atmosfera ainda mais tensa.
— Dimitri, você vem comigo e os outros caras, e seus homens e os Snipers vão mais à
frente e ao redor. A polícia de Berlim já está a caminho com a Interpol. Armas em punho.
A tensão no ar era palpável, e nossos olhares refletiam determinação e medo, uma mistura
intensa de emoções.
— Ok, Wilson.
Ato contínuo, Wilson deu a ordem, e decidimos agir.
Os homens de Oscar perceberam nossa movimentação e começaram o tiroteio. O som
estridente dos tiros cortou o silêncio, ecoando como uma sinfonia macabra.
Relembrei dos meus tempos de gangster, quando eu era adolescente e uma sensação de
déjà vu se instaurou. Incorporei meu ídolo, Jax Teller, da série Filhos da Anarquia.
Hoje eu seria um homem fora da lei, um anjo vingador, determinado a salvar as pessoas
que amava.
Desviamos de algumas balas, a adrenalina pulsando em nossas veias, e ao adentrarmos a
residência, iniciamos uma luta corporal com os seguranças. Cada soco, chute e grito ecoava
como um manifesto de resistência. Ainda enchendo um deles de porrada, o ameacei, exigindo-
lhe respostas.
— Onde está a mulher com o bebê? Fale agora, porra, ou eu te mato aqui mesmo!
A respiração ofegante e o olhar de pavor do segurança refletiam o desespero. Ele apontou
para o porão, à direita da residência, onde tinha uma porta vermelha.
— Estão... estão no porão. Ali! — o marginal respondeu num péssimo inglês, em meio à
agonia.
— Vamos até lá, Dimitri — Wilson me chamou, e levantei-me do chão empoeirado, pronto
para enfrentar o inferno.
Quando eu me levantei, Wilson matou o marginal sem ao menos piscar os olhos. O eco do
disparo ressoou como uma sentença de morte.
— Queima de arquivo, russo. Vamos lá.
— Ok.
A seguir, após lutarmos com vários homens, encontramos o porão com a porta vermelha.
Cada passo era carregado de tensão e urgência, como se o tempo conspirasse contra nós. Wilson
foi na frente, com a arma em punho, e fui atrás, seguido de outros homens.
Ele atirou várias vezes na porta, que se estraçalhou, revelando um cenário sombrio.
Entrei logo atrás e fiquei chocado ao ver várias fotos de Luciana na parede, desde quando
ela estava na faculdade. Parecia um altar dedicado a ela, uma manifestação doentia de obsessão.
Coisa de psicopata mesmo.
— Cacete! — exclamei, apavorado.
Ao lado das fotos de Luciana, percebi outras imagens antigas de uma jovem de longos
cabelos pretos, que aparentava ter uns 15 anos, mas seus olhos estavam riscados, como se
alguém quisesse apagar sua presença. O ambiente sombrio do porão ganhava contornos mais
perturbadores.
De repente, ouvimos alguém correndo, e fomos logo atrás, com as armas apontadas.
Wilson, como sempre, foi na frente, e ao chutar uma porta, por onde viu uma pessoa entrar
rapidamente, ele ficou boquiaberto e gritou:
— MEU DEUS!
O delegado encheu os olhos de lágrimas ao ver Kate viva, amordaçada e sentada numa
cadeira, amarrada. A surpresa misturada com alívio tomou conta do ambiente.
— KATE... MEU AMOR... — ele correu até ela e tirou a mordaça de sua boca.
A pobre Kate estava em estado quase cadavérico, com os cabelos cortados e cheia de
olheiras, testemunhando o horror que viveu nas mãos de Oscar.
— Wi-wilson! — ela murmurou o nome dele, sem acreditar no que estava vendo.
— Meu amor! — Wilson a abraçou e chorou sofregamente. — Eu achei que você estava
morta! Meu Deus!
— Oscar me deixou em cárcere aqui, todo esse tempo, pois usava minha digital para tirar
um dinheiro da herança dos meus pais. O dinheiro já estava acabando, e logo ele me mataria! —
Kate se explicou, chorando copiosamente.
— Infeliz! Onde ele está? — Wilson perguntou.
— Ele e a mãe saíram agora pouco por aquela porta com a Luciana e a Emily! Corra, dá
tempo de impedir a fuga! — Kate respondeu.
Wilson me chamou para irmos e pediu para que seus homens cuidassem de Kate.
Corremos imediatamente e encontramos Oscar segurando minha filha, enquanto uma senhora
puxava Luciana por uma corrente amarrada em seus braços. Escutei Luciana aos prantos.
— Me solte! Me dê minha filha! Socorro!
A poucos metros deles, eu gritei:
— PAREM! — Luciana olhou para mim, assustada, mas ao mesmo tempo cheia de
esperança. — Devolva minha mulher e minha filha agora, seu psicopata! — ameacei entredentes.

Após ser sequestrada por Oscar, a mulher que estava com ele aplicou uma injeção em meu
braço, e eu adormeci. Horas depois, acordei dentro de um carro, muito desorientada. Minhas
mãos estavam presas com uma algema, e comecei a me desesperar em busca de Emily.
— FILHA! Cadê minha filha!
Oscar estava no banco da frente e mostrou ela em seus braços. Ele estava ninando a
menina e beijando sua cabeça.
— Olá, coelhinha, você acordou. Estou conhecendo melhor nossa filha. Ela é tão linda!
Acho que vou colocar o nome dela de Fruma.
— Oscar, por favor, me solte e me dê ela. Não a machuque. Ela precisa mamar — implorei
com a voz embargada.
— Quando chegarmos em minha casa, você fará isso. Daqui há alguns dias, mudarei seus
nomes e nos casaremos. Seremos uma linda família, Luciana! — afirmou, de um jeito doentio.
Chorei em silêncio, copiosamente, e fiquei olhando para Emily, que dormia em seus
braços. Alguns minutos depois, chegamos numa casa situada no meio de uma mata, muito
isolada, e vendaram meus olhos.
Fui guiada por alguém e presumi que entramos na casa. Após um bom tempo, escutei
Oscar falando alemão com uma mulher. Em seguida, tiraram minha venda, e percebi estar em um
porão escuro. Notei uma jaula logo perto, com uma pessoa deitada lá. Um colchão no chão e uma
enorme bacia cheia de água.
Oscar estava com Emily nos braços, com sua admiração doentia, e tomei um susto ao
encontrar sua mãe olhando para mim com ódio. Fazia anos que eu não a via.
— Até que enfim você apareceu, Luciana. Meu filho sofreu muito por você. Sua
desgraçada egoísta! — ela se aproximou e meteu um tapa em meu rosto.
— Ahhhhh! — um grito de dor escapou da minha garganta.
— Mamãe, não bata nela, por favor! — Oscar implorou, enquanto Emily começou a
chorar, seu choro ecoando no interior sombrio do local.
— Aff! Se livre dessa criança, Oscar! Ela é idêntica ao pai russo! — a mãe ordenou com
uma expressão de desprezo, seus olhos lançando ódio para Emily.
— Não! Ela é minha filha agora e vou fazê-la me amar como um pai! Ela tem o sangue da
Luciana, não vou matá-la! — Oscar retrucou, sua voz carregada de uma determinação
perturbadora.
— Você é tão teimoso, arg!
— Bertha, por que está alcovitando o Oscar? — questionei.
— NÃO ME DIRIJA A PALAVRA, LATINA DESGRAÇADA! Passei anos vendo meu
filho sofrer pelo seu desprezo! Espero que finalmente se conforme e perceba que ele é o homem
certo para você! Oscar, vamos lá para cima e deixe essa mulher aí — respondeu-me irada, suas
palavras reverberando com amargura.
— Ok, mamãe. Vou deixar a Gletza tomando conta delas.
— Oscar, me dê minha filha! Ela precisa comer! — implorei desesperadamente, a
preocupação materna tomando conta de mim.
— Ok!
A mãe dele revirou os olhos, e ele me liberou da algema, depois colocou a menina em
meus braços.
Abracei minha filha e chorei emocionada, enquanto a incerteza do futuro se desenhava
sombriamente diante de mim.
— Meu amor… — murmurei ao beijar sua cabecinha.
— Escute aqui, desgraçada, se tentar fugir, estouro seus miolos e arranco a cabeça dessa
menina bastarda para jogar para os cachorros! — Bertha ameaçou-me, suas palavras cortantes
como lâminas.
— Eu... eu não vou fugir, eu prometo!
— Mamãe, vamos, a senhora está estressada. Na hora do almoço eu volto, coelhinha —
Oscar veio até mim e me beijou à força, deixando-me repugnada. — Te amo.
Logo depois, ele saiu com a mãe e a mulher que estava no carro — literalmente alemã —
ficou na porta, armada, me observando com frieza.
Comecei a amamentar Emily, que estava morta de fome, e fiquei alisando sua cabecinha
com os cabelos dourados, lembrando-me de Dimitri.
— Meu Deus, por favor, me ajude a sair daqui… — murmurei sofregamente.
Depois de terminar de mamar, Emily adormeceu, e escutei um gemido vindo da jaula.
Coloquei Emily em seu bebê conforto e me aproximei da jaula, encontrando algo
inacreditável.
Ela estava coberta de hematomas, o cabelo ruivo desgrenhado, o corpo sujo e muito magro
com roupas puídas. Eu a conhecia.
— KATE! — exclamei seu nome, totalmente incrédula.
Ela se sentou, com o semblante bastante sofrido, arregalando os olhos ao me ver.
— Lu... minha amiga... oh, meu Deus... Ele conseguiu te pegar... desgraçado...
Peguei nas mãos de Kate pelas brechas das grades da jaula.
— Meu Deus, você está viva!
Kate relatou tudo o que aconteceu, que Oscar forjou sua morte após descobrir que ela iria
ficar com Wilson, recusando-se em dar o divórcio. Ele sabia que Kate era muito rica e tinha uma
herança para receber dos pais.
— Essa bebê é sua? — ela perguntou, curiosa.
— Sim! Minha e do meu grande amor, Dimitri.
— Oh, Deus, ela é tão linda. Não deixe aquela megera da Bertha tocar nela. Ela é pior que
o Oscar.
— Meu Deus, mas por que ela é assim, Kate? Quando eu a conheci, parecia ser tão
boazinha.
— Ela é uma falsa psicopata, Lu! Bertha era filha de médicos nazistas e se formou em
enfermagem. Ela odeia todo mundo, o único que ela ama é Oscar, seu filho único. Se o Oscar é
louco, é por causa dela. Viu a foto de uma garota ao lado das suas?
Olhei para uma espécie de altar que tinha no corredor à frente e fiquei chocada. Muitas
fotos minhas e de uma jovem a qual não conhecia.
— MEU DEUS! Parece que estou num filme de terror! — murmurei perplexa.
— Então, essa outra garota era uma jovem alemã que Oscar era apaixonado. Ele e a mãe a
sequestraram, pois ela o rejeitava, e quando ela tentou fugir, Bertha a matou movida pela raiva
— Kate me explicou, deixando-me mais chocada.
— Jesus Cristo!
— Essa mulher é um demônio! Eu estava grávida de três meses do Wilson e ela fez um
aborto em mim! Me deixou amarrada e amordaçada, e praticou o crime! Passei dias sangrando,
achando que ia morrer, mas Oscar mandou um médico cuidar de mim. Ele não podia me perder,
pois ainda precisava de minhas digitais para retirar meu dinheiro.
Choramos juntas, eu beijei seu rosto pela grade da jaula. O frio metálico das barras cortava
o calor de nossas lágrimas.
— Eu sinto muito, meu amor..., mas nós vamos sair daqui.
— Isso é impossível, Lu… — disse ela, cheia de tristeza, parecendo que a esperança não
existia mais em seu mundo.
— Não diga isso — falei bem baixinho. — Tem um rastreador na minha pulseira e na de
Emily. Foi Wilson que colocou.
— Oh, meu Deus! — Kate ficou boquiaberta, e vi uma espécie de brilho em seus olhos.
Talvez um brilho de esperança.
— Shiii... Fale baixo, Kate, a segurança pode escutar.
— Não se preocupe, ela só entende alemão.
— Em breve seremos resgatadas, amiga! — falei confiante.
— Espero que sim, Lu.
Algum tempo depois, a segurança tirou Kate da jaula para que tomasse banho, e eu a
ajudei. A pobre Kate estava só pele e osso, mas demonstrava ser uma mulher forte. Depois, dei
banho em Emily e me limpei, tentando afastar da minha mente as imagens sombrias do que
aconteceu com Kate.
Kate pegou Emily nos braços e beijou sua cabeça.
— Que menina linda.
De repente, Oscar chegou, xingando-a com um ódio mortal:
— Hum... acordou, ruiva desgraçada? Aposto que já fofocaram sobre tudo.
Oscar me puxou para si com uma força desumana, beijando-me, seus lábios rudes e
invasivos.
— Me solta! — tentei empurrá-lo, sentindo repulsa de seu toque, enquanto uma onda de
desespero tomava conta de mim.
— Escute aqui, coelhinha, eu só não vou te tocar agora porque não temos intimidade nessa
casa, mas quando nos casarmos daqui a três dias, você será minha! Nem que eu te tome a força!
— ele ameaçou entredentes, seus olhos carregados de uma obsessão doentia.
— Nojento! Louco! — Kate o repreendeu com nojo, seus olhos lançando fagulhas de
indignação.
— Cale a boca, porra, ou vai apanhar novamente! — Oscar continuou a me beijar e depois
me soltou, deixando-me tonta e revoltada. — Eu te amo, coelhinha, mas não me faça perder a
paciência. Vou mandar trazer a comida de vocês.
Dito isso, ele me empurrou bruscamente e saiu, deixando um rastro de repugnância no ar.
Fiquei deitada no colchão com Kate e Emily, chorando e orando para que Deus nos
ajudasse, enquanto o peso da situação se tornava quase insuportável.
Algumas horas depois, escutei disparos de bala e fiquei assustada, meu coração acelerando
descontroladamente.
— Meu Deus, eu acho que o Dimitri chegou com o Wilson! — falei baixinho, com uma
esperança frágil tentando florescer.
— Será? — Kate perguntou, seus olhos buscando respostas no vazio.
— Sim!
De repente, Oscar entrou com a mãe e me puxou do colchão com uma urgência
assustadora.
— O que você está fazendo?
— Temos que ir embora agora, Luciana!
Ele colocou uma algema em meus pulsos, ligada a uma espécie de corrente, e a mãe me
puxou com uma brutalidade fria. Depois, Oscar pegou Emily nos braços e mandou amordaçar
Kate, prendendo-a numa cadeira como se fosse um objeto descartável.
— Vamos te deixar aí, morrendo. Já está com o pé na cova mesmo.
— O que está acontecendo? Que tiros são esses? — perguntei assustada, minha mente
girando em uma espiral de medo.
— O seu russo desgraçado veio te buscar, mas eu não vou permitir! — Oscar respondeu
revoltado, seus olhos faiscando ódio.
Kate se debatia na cadeira, chorando, e eu chorei mais ainda, gritando por seu nome,
enquanto a sensação de impotência me consumia.
— Kate!
— Vamos, Luciana! — a mãe dele me puxou, e eu comecei a gritar, minha voz ecoando na
escuridão angustiante daquele lugar.
— Me solta! Socorro!
— Cale-se ou eu te mato! — Bertha ameaçou, impaciente ao extremo.
— Velha desgraçada! Louca! — eu a xinguei, perdendo o controle.
Contudo, escutei os gritos de Dimitri e o vi me procurando ao longe.
— Meu amor — ele sussurrou ao avistar Oscar com nossa filha nos braços, sua expressão
se tornando furiosa. — Solte-as agora!
A mãe de Oscar apontou a arma em minha cabeça, enquanto Dimitri, Wilson e os outros
homens apontaram para Oscar.
— Se você tentar me matar, russo infeliz, a pequena Emily morre — Oscar advertiu.
— Era para você ter matado essa bastarda! Seu burro! — a mãe dele gritou.
— Oscar... Por favor, me devolva minha filha — implorei, chorando desesperadamente.
— Não! Só serei feliz com você, eu não vou desistir! — ele se negou, a apertando nos
braços.
Desesperada para salvar a vida de Emily, uma ideia louca veio à minha mente.
— Ok. Então me leve com você e deixe-a com o pai. Teremos uma família, juntos.
Oscar ficou fascinado, olhando para mim, mas a mãe tentou abrir seus olhos.
— É mentira dela, Oscar! Mate essa menina!
Dimitri, incrédulo, gritou:
— Luciana, não faça isso!
— Me perdoe, Dimitri. Não adianta fugir do Oscar. Talvez o destino queira me unir a ele
— olhei para minha pulseira e depois para Wilson, indicando ser um plano. — Oscar, entregue
Emily para Wilson. Por favor.
— É um jogo dela, filho! Não faça isso — Desesperada, Bertha insistia em convencer o
filho.
Oscar estava totalmente tomado pela emoção, acreditando em minhas palavras, e entregou
a menina para Wilson.
— Seu louco, idiota! Essa mentirosa está te usando! Vou matá-la! — a mãe dele gritou,
possessa.
Antes que ela atirasse em mim, Oscar me puxou para trás de si, sacou sua pistola e
disparou no rosto dela.
— Vamos embora, coelhinha — ele apontou a arma em minha cabeça e me puxou para
fora, pouco se importando com o cadáver da mãe.
Dimitri beijou Emily na cabeça, e eu sussurrei em português, apenas com os lábios, que o
amava, sem que Oscar percebesse.
DEPOIS QUE O DESGRAÇADO saiu com Luciana, o desespero tomou conta do meu ser.
— Wilson, fique com Emily, eu vou atrás deles!
— Mas, Dimitri!
— Por favor! Eu não posso perdê-la!
— Ok! Mas tenha cuidado, russo. Meus homens irão logo atrás.
Saí correndo atrás deles, antes que eles entrassem no carro, a angústia apertando meu peito
com força, como se cada passo fosse uma faca cravada em minha alma.
— LUCIANA! NÃO!
Oscar apontou a arma novamente para ela e a abraçou por trás, uma cena que dilacerava
meu coração. Ele virou o rosto em minha direção, um sorriso sádico adornando seus lábios.
— Não se aproxime, ou eu a mato. E depois me mato.
O desespero me sufocou enquanto observava impotente a mulher que amava nas mãos
daquele monstro.

— Dimitri, vá embora... O Oscar me ama, sempre me amou. Nos deixe em paz...


Me virei lentamente para Oscar, tentando encontrar alguma faísca de humanidade naqueles
olhos frios. Fui baixando sua mão com a arma, numa tentativa desesperada de apaziguar a fera
que estava prestes a despertar.
— Eu te amo, Oscar. Me beija para que o Dimitri entenda que eu te quero.
Oscar arregalou os olhos, enlouquecido, e me beijou com voracidade. Aproveitei o
momento para pegar sua arma, enquanto fingia que ainda existia algum resquício de amor em
meu gesto.
Ao descolarmos nossas bocas, sorri falsamente e me declarei:
— Eu te amo, Oscar.
Então rapidamente, disparei três vezes em seu coração, assistindo-o cair de joelhos,
entregando-se à escuridão da morte.
— Lu... Luciana... eu sempre vou te amar...
As palavras finais de Oscar ecoaram como uma melodia triste, enquanto o choro tomava
conta de mim. Dimitri correu até mim, seu rosto refletindo a angústia e o alívio.
— Meu amor!
— Dimitri! — Soltei a arma no chão e o abracei forte.
Choramos juntos, uma mistura de dor, redenção e amor.
— Eu não podia te perder, meu amor! Você fez uma loucura, ele poderia ter te matado!
— Eu sei, me desculpe... eu apenas o manipulei, meu bem... Eu não poderia deixar que
matassem Emily.
— Eu sei, minha vida. Finalmente poderemos ser felizes juntos.
Dimitri me beijou, um beijo repleto de emoção, enquanto nos abraçávamos, formando um
vínculo inquebrável diante da tragédia que nos uniu.
— Eu não posso mais viver sem vocês. A partir de hoje, seremos extremamente felizes —
prometeu meu russo.
— Sim, meu cabrón. Muito felizes.
Vislumbrei Kate sendo abraçada por Wilson, e um redemoinho de emoções invadiu meu
peito. Ambos passaram por momentos difíceis por conta das ações insanas de Oscar, mas agora,
com o resgate bem-sucedido, um novo capítulo pareceu se abrir para eles. No entanto, sabia que
havia um obstáculo chamado Carmem.
Me aproximei e abracei Kate, sentindo a gratidão pelo reencontro e a tristeza pela
complicada situação que se desenhava.
— Minha linda, estamos livres.
Kate me agradeceu com lágrimas nos olhos, e sua expressão denunciou uma mistura
intensa de alívio e dor.
— Obrigada por me ajudar e por ser tão corajosa, Luciana. Eu te amo, amiga. Achei que ia
morrer, que nunca mais veria vocês nem o Wilson, meu grande amor. Finalmente poderemos
ficar juntos!
A ansiedade tomou conta de mim, e meus olhos buscaram Wilson, que estava ocupado
conversando com os policiais alemães, expressando sua gratidão.
Ao voltar meu olhar para Kate, percebi seu semblante desconfiado e suas palavras
revelaram uma inquietação profunda.
— Há algo que eu não sei, Luciana?
— Kate, querida... Foram mais de dois anos... Muita coisa aconteceu...
Ela levou as mãos aos olhos, chorando ainda mais, e eu a abracei com delicadeza, tentando
confortar a alma ferida.
— Ele... ele tem outra, não é?
— Sim..., mas vocês devem conversar com calma. O Wilson sofreu muito por você, amiga,
e sei que você também sofreu por ele.
— Entendi. Eu vou ficar na minha, mas sei que ele vai se explicar. Wilson é um homem
muito íntegro. Talvez ele nem me ame mais — Kate lamentou, e suas palavras ecoaram a
incerteza no ar.
— Eu sei que ele te ama ainda, mas achava que você estava morta.
— Eu sei... Vamos para o carro, estou com frio. Faz tempo que eu não saio daquele lugar
horrível.
— Vamos, amiga.
Wilson veio de encontro a Kate novamente, e fico pensando em como ele explicaria tudo a
Carmem… seria uma situação muito complicada.
Depois que dei meu depoimento para a polícia, junto a Kate, o caso foi encerrado, e depois
pegamos um voo para os Estados Unidos.

Enfim, chegamos em casa, e Emily só dormia e mamava.


Minha mãe, meu sogro e minha cunhada doida vieram me abraçar, chorando muito e
tomados pela emoção.
Até a pobre Totó chorou com minha volta.
Depois de explicar tudo o que passei, todos ficaram chocados com a notícia de que Kate
estava viva. Dimitri sentou-se do meu lado, me abraçando, segurando meu rosto, totalmente
apaixonado.
— Agora seremos felizes de verdade, minha Luz. Ninguém irá nos atrapalhar. Eu te amo.
De repente, Dimitri se ajoelhou e tirou uma caixinha do bolso, fazendo aquela pergunta
que qualquer mulher apaixonada espera de seu homem amado:
— Luciana, minha Luz, você quer se casar comigo?
— Oh Jesus! Simmm! — aceitei, sem pestanejar. Pulei em cima dele, e caímos no tapete.
Já nossos familiares fizeram um alvoroço, não sabiam se riam ou se choravam, e nossa filha
continuava dormindo em seu bebê conforto.
— Eu sou o homem mais feliz do mundo. Eu queria te pedir em casamento antes, mas
aquele desgraçado te sequestrou.
— Agora seremos realmente felizes, meu amor e eu serei sua para sempre!
ENCONTRAR KATE VIVA depois de tanto tempo foi como um choque de realidade.
Por mais de dois anos, achei que a mulher da minha vida estivesse morta.
Eu sofri muito e achava que nunca mais encontraria alguém tão especial como ela, até
encontrar aquela mexicana atrevida.
Depois que dei carona a Carmem pela primeira vez, senti uma química imensa, palpável,
ardente. Essa latina me deixou de quatro, e para conquistá-la, comi o pão que o diabo amassou.
Carmem não queria novamente uma relação onde ela fosse usada só como um objeto ou só
existisse um sentimento unilateral.
Ela queria mais.
Queria ser amada, respeitada, admirada... e ela merecia isso. Após finalmente conquistá-la,
levando-a para minha cama e demonstrando que ela era muito mais que uma transa, pude
conhecer a história dessa mulher, e isso me deixou mais louco por ela.
Por ser uma criatura muito sexy e gostosa, inúmeras pessoas a julgavam superficialmente
pelo seu físico exuberante, sem terem a menor noção das adversidades que ela enfrentou ao
longo de sua vida e dos sacrifícios que fez para proteger e amparar seus pais.
Cada vez mais estávamos conectados, íntimos e apaixonados.
O sexo com a mexicana me deixava louco, ensandecido. Eu não sei mais viver sem tocá-la,
sem ouvir seus gemidos escandalosos implorando pela minha invasão forte e potente.
Parecia que nascemos com o encaixe perfeito.
Na véspera do sequestro de Luciana, eu planejava selar nosso compromisso com um anel, a
pedindo em casamento. A ideia de vivermos separados já não fazia sentido.
Ela me pertencia, e eu era totalmente dela.
Entretanto, todos esses planos desmoronaram ao testemunhar Kate, milagrosamente viva.
Confesso que ainda a amava, mas muitas coisas mudaram.
Estava dilacerado entre o amor que nutria por Kate e a paixão avassaladora que sentia por
Carmem. Após socorrer Kate e levá-la ao hospital, uma equipe médica se reuniu para tratar dela,
composta por colegas que compartilhavam sua jornada de vida e trabalho.
A comoção foi generalizada, todos aliviados por sua sobrevivência. Kate permaneceria
internada por um tempo indeterminado, sua mente fragilizada exigindo cuidados intensivos e,
sobretudo, o meu amor.
Agora, sentado em desespero no hospital, decidi ligar para Carmem. Ao atender, sua voz
ressoava com alegria.
— Olá, mi guapetón… — ela me chamava de bonitão em espanhol.
— Oi, linda. Cheguei há algumas horas.
— Oh, meu Deus! E como está a Luciana com a bebezinha?
— Estão todas bem, vivas. O Oscar está morto.
— Deus me perdoe, mas que alívio! Aquele infeliz não merecia viver! — exclamou, cheia
de alivio.
— Verdade, minha guapa — limpei a garganta, nervoso e fiz um pedido: — Carmem...
você pode vir aqui no hospital central?
— Si, mi amor... Quando eu estiver chegando, te ligo.
Alguns minutos se passaram e finalmente ela chegou, me encontrando na recepção, vindo
me abraçar, com aquele jeito alvoroçado.
— Mi guapetón... que saudades.
A mexicana olhou em meus olhos segurando meu rosto, na ponta dos pés, já que era
baixinha. Engoli em seco, preparando-me para magoá-la.
— Vamos lá para o estacionamento, conversar.
— Certo.
Carmem me observou, notando meu nervosismo.
Ao chegarmos no estacionamento, encostamos no meu carro e comecei a falar o que houve
e a mexicana ficou em choque, com os olhos arregalados.
— Meu Deus! Sua... Sua ex está... VIVA?
— Sim... Ela está num estado deplorável, precisa de cuidados intensivos. Eu não sei como
ela suportou tantas coisas ruins naquele cativeiro — meus olhos marejaram, comovido com o
estado de Kate, e Carmem me olhou sem saber o que dizer. — Carmem... estou confuso. Preciso
ser verdadeiro com você. Eu não esperava que ela apareceria viva do dia pra noite. Estávamos
tão felizes, mexicana.
— Eu sei... — ela abaixou a cabeça e limpou algumas lágrimas de seus lindos olhos. — Eu
já sei o que virá a seguir, Wilson. Não tenho sorte mesmo, não é?
Segurei seu rosto e a venerei.
Essa latina é tão linda...
— Eu não posso abandoná-la, Carmem.
— Eu sei... ela sofreu muito nas mãos daquele demônio e veio antes de mim. Ela é o seu
grande amor, Wilson. Já eu, sou só uma stripper peituda e gostosa que os homens usam e no
outro dia esquecem.
— Não diga isso, meu amor. Não se rebaixe! Você é a mulher mais guerreira e especial
que conheci em minha vida.
— Depois da Kate, você quis dizer — despedaçada com essa reviravolta inesperada do
destino, ela retirou minhas mãos de seu rosto e se afastou, com lágrimas descendo sem parar de
seus olhos. — Eu já entendi tudo, delegado. Você a escolheu.
— Carmem, deixe-me explicar…
— Não! Não há o que explicar. Eu já assisti esse filme, não serei mais segunda opção de
ninguém. Eu... eu tinha expectativas de ter algo sério contigo. Até deixei de dançar à noite, por
você — ela falou com a voz embargada, tentando ser forte.
— Eu sei, porra, eu sei — meus olhos lacrimejaram e senti uma imensa vontade de beijá-
la.
— Eu vou embora, Wilson. Seja muito feliz com sua amada e... espero que ela possa
superar tudo que sofreu. Eu não tenho raiva dela, apesar do meu gênio explosivo e também de,
nesse exato momento, meu coração estar despedaçado.
— Carmem... — me aproximei, tentando tocá-la.
— Não… — ela pediu sofregamente, com a mão em riste. — Não toque em mim. Acabou.
Ao ouvir as palavras de sua boca, senti um gosto ruim na boca, me sentindo mal.
— Seja muito feliz, guapeton — Carmem limpou suas lágrimas, ergueu o rosto e foi
embora.
Chorei em silêncio, observando seu lindo corpo se distanciar de mim e meu coração
apertou.
Estava dividido entre duas mulheres maravilhosas, e eu não sabia o que fazer.
Só sei que, agora, perdi essa mexicana.
A mulher que chegou como um furacão em minha vida e me tirou do chão.

Passadas algumas semanas, finalmente chegou o grande dia.


Um dos dias mais felizes da minha vida.
Meu casamento com minha Luz.
Acordamos cedo e todos nos preparamos para a cerimônia, que seria numa encantadora
igreja de estilo russo, com suas cúpulas douradas reluzindo sob o sol da manhã. A atmosfera era
mágica, com a neve recente pintando o cenário de branco.
Como a noiva sempre demorava a chegar, me adiantei e fui para a igreja primeiro com meu
pai e Ekaterina, que levava Emily nos braços. O silêncio da manhã era quebrado apenas pelo
crepitar da neve sob nossos pés enquanto entrávamos na igreja.
Dentro, a luz suave das velas criava uma aura acolhedora, destacando os belos murais que
contavam a história da região. Amigos íntimos, como o pessoal da academia e os amigos de
Luciana, estavam reunidos, aquecendo o ambiente com seus sorrisos calorosos. Escolhi, junto
com Luciana, cuidadosamente, cada detalhe, desde as flores frescas até a trilha sonora
emocionante que preenchia o espaço.
Ao ficar no púlpito, esfreguei minhas mãos, muito nervoso, e um filme se passou em
minha cabeça.
Dos momentos que conheci Luciana ainda cega, naquela cadeira de rodas, e como fiquei
apaixonado no momento em que coloquei os olhos nela e a peguei nos braços. Fiquei super
emocionado, pois eu jamais imaginaria que um dia estaria aqui, numa igreja, me casando com
essa linda brasileira que o destino colocou em minha vida.
Alguns minutos se passaram e ela chegou. Ao me virar e vê-la tão linda, o ar me faltou.
Minha mulher é perfeita, a mais linda de todo o mundo.
A música "Photograph", de Ed Sheeran, começou, sendo entoada por violinos e um piano,
e ela veio andando, envolta num vestido de noiva de seda, tomara que caia branco e justo, que
deixava seus seios tentadores.
Eu sabia que ela fez isso para me provocar e conseguiu.
Seu vestido era uma obra-prima, com detalhes delicados que reluziam sob a luz da igreja.
Uma cauda longa se estendia graciosamente pelo corredor, deixando todos os presentes
boquiabertos. Seus cabelos, adornados com pequenas pérolas, caíam suavemente sobre os
ombros, criando uma imagem de pura elegância.
Sua mãe, que estava com um lindo vestido roxo, veio de mãos dadas com Luciana, toda
sorridente, e à sua frente, Totó veio com Pandora. Nossas alianças estavam em suas coleiras.
Chegando até mim, eu fiquei louco. Minha vontade era de agarrá-la e rasgar esse vestido,
mas me controlei. Depois que saíssemos dali, ela me pagaria.
Ao retirar as alianças das cachorras, Dona Mirian nos entregou e levou os animais para
ficarem do lado do púlpito. Antes que a cerimônia começasse, eu disse algumas palavras:
— Minha Luz... gostaria de recitar um lindo poema de um escritor russo chamado
Vladímir Nabôkov e mostrar o quanto eu te amo.
— Oh, meu ogro romântico.
— Depois irei traduzir.
Comecei a recitar o poema russo, segurando suas mãos, olhando profundamente em seus
olhos, e ela sorriu, segurando as lágrimas nos olhos que tanto amava fitar. Logo depois, traduzi
meu discurso.
— (...) Eu te amo, eu te quero, você me é insuportavelmente necessária... Seus olhos, que
de maneira tão admirável irradiam, sua voz, lábios, seus ombros são tão leves, tão
ensolarados... Eu prometo a tudo o que me é caro, a tudo em que acredito, eu prometo que como
te amo, nunca me aconteceu amar, com tal carinho – até as lágrimas e com tal sentimento de
fascinação. (...) E eu quero mais que tudo que você seja feliz, e me parece que eu poderia lhe dar
esta felicidade – felicidade solar, simples – e nada costumeira.
— Ohhh, meu Shrek… Você me deixa ainda mais apaixonada.
O padre sorriu e começou a recitar as coisas de praxe de um casamento. Durante esse
momento, nossos olhares não se desgrudavam, e a emoção arrebatadora tomava conta de mim.
Algo muito maior do que eu já senti em toda a minha vida.
Uma felicidade contagiante, inebriante, inefável.
Contive minhas lágrimas e sorri, admirando a oitava maravilha do mundo bem à minha
frente.
Então, é chegada a hora dos votos.
Peguei a mão de Luciana e comecei a falar tudo que sentia em meu coração.
— Minha Luz... Luciana. Antes de você aparecer em minha vida, eu vivia nas sombras.
Tive perdas irreparáveis e achava que Deus me odiava, que eu não merecia ser feliz. Minha vida
não tinha sentido nenhum, era só bebedeira, farra e diversão. Eu queria aplacar a dor e o medo
que sentia e sempre fugia de sentimentos amorosos. Como todo russo, eu era frio e com o
coração de gelo..., mas aí, você apareceu e em meio ao caos da minha escuridão, chegou com a
sua luz. — Nesse momento, ela não aguentou e chorou, mas continuei a falar: — Você me
arrebatou por completo, tomou de conta do meu ser e meu coração esquentou, alucinou, errou as
batidas, se apaixonou. E hoje, eu te amo loucamente, sou perdidamente apaixonado por ti, minha
brasileira. Você é a minha Luz, meu tudo, minha vida. Eu tenho orgulho de dizer o que sinto. EU
TE AMO e prometo te fazer feliz pelo resto de nossas vidas — não suportando mais as fortes
emoções, chorei e ela sorriu, entre lágrimas.
Na sequência, minha linda mulher iniciou seus votos:
— Dimitri, meu russo... Quando eu te conheci, eu também vivia nas trevas. A perda da
minha família transformou o colorido da minha vida num mundo escuro e doloroso. Eu não
queria viver, não queria amar, eu só queria sumir. Mas aí, mesmo estando cega, ao ouvir sua voz,
sentir seu cheiro, meu coração também errou as batidas. Eu não sabia como lidar com o
sentimento forte e arrebatador que tomara conta de mim naquele momento, no primeiro dia em
que entrei em sua academia e você me colocou em seus braços. Eu soube que, ali, eu estava
perdida, arrebatada, apaixonada… mesmo sem te ver, eu sabia que você era lindo, por dentro e
por fora, e eu também sabia que, em meio à sua escuridão, havia uma linda luz que me iluminou,
que mudou a minha vida e fez meu coração bater mais forte, me fez ter vontade de viver de novo.
Mesmo que tenhamos tentado fugir desse amor, mesmo que tenhamos perdido quem mais
amávamos, que tenhamos tomado decisões erradas por causa de nossas dores e nosso orgulho, o
destino nos uniu novamente. Deus sabia que você era pra mim e eu era pra você. E Ele também
nos deu nossa Emily, nossa dose de esperança e felicidade. Eu te amo, meu cabrón, meu ogro
lindo, e eu prometo te amar e te respeitar pelo resto da minha vida, para sempre, até a eternidade.
As lágrimas não cessaram, e Luciana sorriu ainda mais, não se contendo de felicidade. A
seguir, trocamos alianças, e o padre nos declarou marido e mulher, pedindo para que eu beijasse
minha esposa.
Não perdi tempo e segurei seu rosto, dando-lhe um beijo especial, o mais emocionante de
nossas vidas.
APÓS ESTARMOS DEVIDAMENTE CASADOS, todos se dirigiram à minha residência,
onde a festa de casamento estava em pleno andamento. A atmosfera era de celebração, com
música, dança e, é claro, vodca russa em abundância.
Eu e Luciana, recém-casados, mal conseguíamos descolar nossas bocas, envolvidos em um
calor apaixonado.
O desejo de tê-la por completo só aumentava, e mal podia esperar pela nossa noite de
núpcias.
Em meio à festa, pegamos nossa pequena Emily para tirar fotos com todos os presentes. O
momento era registrado com sorrisos, abraços e votos de felicidade.
Amanhã, estava programada nossa viagem para o Havaí, e estávamos ansiosos para
desfrutar de momentos especiais como família.
A festa se estendera pela madrugada, e embora eu tivesse desfrutado de algumas doses de
vodca com meu pai, decidi parar, para me preparar para a noite especial que teria com a minha
esposa.
Ao encerrar a celebração, meu pai se aproximou com um pedido:
— Filho, posso dormir aqui hoje? Estou bêbado e não quero dirigir. Ekaterina também
estava bêbada e pegou um táxi com o namorado sem eu saber.
— Claro que sim, papai, fique à vontade. Vá para o quarto que costuma usar.
— Certo, meu filho — papai me deu um beijo carinhoso e se encaminhou para o quarto
designado.

No dia seguinte, após uma noite de núpcias quente e inesquecível, acordei cedo para nos
prepararmos para viajar.
Luciana já estava acordada, cuidando de Emily. Organizei nossas malas e decidi me
despedir de meu pai e de Dona Mirian.
Ao chegar à porta do quarto de meu pai, bati algumas vezes, mas não obtive resposta.
— Meu Deus, será que papai morreu porque bebeu demais? — fiquei atordoado e
preocupado, pegando a chave cópia e abri a porta, descobrindo que ele não estava lá. — Será que
foi embora sem me avisar? — pensei, perplexo.
Ao ligar para ele, percebi que o celular estava tocando próximo ao quarto de Dona Mirian.
Me aproximei e encontrei a porta do quarto dela entreaberta.
Ao escutar a voz de meu pai vindo de lá, em forma de gemidos, uma sensação de choque e
incredulidade tomou conta de mim.
Com o coração acelerado, empurrei a porta que estava encostada, e o que se desenhou
diante de meus olhos foi uma cena inacreditável: papai estava trepando com a mãe de Luciana,
por cima dela e a beijando loucamente, os dois gemendo feito dois animais no cio.
O choque tomou conta de mim, fiquei sem palavras para processar o que meus olhos
testemunhavam.
Explodi num grito.
— PAPAI, QUE POUCA VERGONHA É ESSA?
Eles tomaram um susto enorme, olhando para mim e se cobriram com o lençol, sentando-
se na cama. Dona Mirian pôs as mãos na boca, extremamente chocada e envergonhada.
— Calma, filho... eu posso explicar — disse papai, com a mão erguida.
— Dimitri, querido, não surte — Dona Mirian implorou, o rosto vermelho.
— Eu já surtei! — esbravejei, passando a mão na testa. — O senhor está trepando com
dona Mirian? MEU DEUS!
Ao escutar meus gritos, Luciana veio correndo com Emily nos braços, adentrando no
quarto e Totó atrás, pulando em cima da cama e lambendo meu pai.
— Dimitri, que escândalo é esse? — ao ver a cena de nossos pais nus na cama, ela ficou
perplexa. — OH MY GOD! Mamãe?
— Filha, eu posso explicar — a mãe dela falou nervosa, apertando o lençol contra o
próprio corpo curvilíneo.
— Desde quando isso está acontecendo? — exigi, encarando os dois e Totó parecia
extremamente feliz com o envolvimento de ambos, balançando o rabinho de pompom sem parar.

Pensamento de totó: “Desde que meu vovô Luiz morreu eles estão juntos! Meus novos
avós estão apaixonados!”

— Filho, eu me apaixonei por Mirian, desde que a vi pela primeira vez... — papai revelou
a verdade, nos deixando chocados.
— Quê? Vocês tiveram um caso? — Luciana os indagou.
— Não, filha! — Mirian negou de imediato. — Eu sempre respeitei seu pai e só fui aceitar
as paqueras de Mikhail após a morte de Luiz, bem depois.
— Isso é verdade. Sua mãe é uma mulher muito fiel e eu a admiro mais ainda por isso. Eu
a amo, meus queridos, e quero me casar com ela. Sinto que encontrei meu par ideal — Mikhail
declarou, todo apaixonado.
— Meu Jesus Cristo! O senhor é um cachorro! Se estiver usando Dona Mirian, vai se ver
comigo! — o ameacei com o dedo em riste, preocupado com sua má fama.
— Dimitri, meu filho! Nós nos amamos! Eu sei que seu pai está sendo verdadeiro, por
favor, acredite nele — Dona Mirian argumentou, cheia de convicção.
Relutante, olhei sério para papai e passei as mãos no cabelo, estressado.
— Ok. — aliviei meu tom de voz — Mas se o senhor magoar dona Mirian, vai arranjar um
inimigo. Já basta o seu histórico. Vou… hum... aceitar vocês dois... — encarei minha Luz. — E
você, Luciana?
— Bom, se eles estão felizes juntos, não tem para que ficar contra. Afinal, já são adultos e
sabem o que querem da vida.
— Eu estou sendo muito feliz com Mikhail, filha. Nos perdoe por esconder isso de vocês...
estávamos com medo de não aceitarem. Não consegui resistir a esse russo sedutor... — Mirian
explicou-se, toda apaixonada.
— Oh, eu te amo, meu moranguinho — papai falou, todo carinhoso e a beijou, engolindo
sua boca sem pudor e caindo na cama, agarrados, o bumbum bronzeado dele aparecendo no
lençol escorregadio.
— Ah, meu Deus — revirei os olhos e Luciana gargalhou sem parar.
— Bem... eu também não resisti a você, meu russo. O sangue de vocês nos seduziu —
disse ela e pisquei o olho.
— Sua safada! — puxei Luciana para mim, segurando sua cintura enquanto ela estava com
Emily em seu colo e sussurrei em seu ouvido: — Quer outra surra, gostosa? Não me provoque...
essa madrugada ainda não me deixou satisfeito.
— Ain, seu cachorro gostoso.
Dei um beijo em seus lábios e olhei para nossos pais.
— Está na hora de irmos viajar. Cuidem bem da minha casa, e você, papai, se comporte…
Eu quero ver uma aliança no dedo de Dona Mirian, entendeu?
— Ok, filho, tenham uma boa viagem. E sim, em breve, nos casaremos — ele prometeu e
sorri aliviado, percebendo que meu pai estava sendo sincero.
— Tenham uma boa viagem, meus amores — Dona Mirian disse, toda sorridente.
— Obrigada, mamãe e obrigada, meu sogro. Se divirtam, hihi — Luciana sorriu e nos
retiramos, ainda perplexos com a descoberta.

Na manhã seguinte, acordamos cedo para viajar para o Havaí e fomos surpreendidos por
uma notícia impactante: minha mãe estava se envolvendo com o pai de Dimitri.
Não sabia ao certo como lidar com essa situação. No entanto, vi um semblante radiante na
face de mamãe, indicando que ela estava genuinamente feliz com ele. Inicialmente, Dimitri ficou
furioso, mas acabou aceitando. Afinal, nossos pais não eram mais jovens.
Na hora de partirmos, Dimitri repetiu o gesto de Roger, meu falecido marido, ao tomar as
chaves do carro das minhas mãos.
Parecia um filme se repetindo.
— Deixa que eu dirijo, minha gostosa.
— Dimitri, não...
— O que foi, Luciana?
As memórias do acidente inundaram minha mente, e fiquei nervosa, quase chorando.
— Por que está assim? — ele perguntou, preocupado, segurando meu rosto.
— Roger fez o mesmo que você está fazendo agora... ele tomou as chaves do carro naquele
dia...
— Calma, meu amor. Só vamos deixar o carro com Ekaterina e depois pegaremos um táxi
de lá.
— Ok...
— Não se preocupe, nada vai acontecer — prometeu.
Entramos no carro em direção à casa da minha cunhada, já que ela precisaria do carro e,
durante o percurso, fiquei constantemente olhando para Emily, que dormia plenamente em seu
bebê conforto.
De óculos escuros e o cabelo loiro escovado para trás, Dimitri dirigia animadamente,
enquanto ouvia e cantava uma de suas músicas favoritas, “Still Loving You”, dos Scorpions. Por
vezes, via o rosto de Sofia em Emily, e esfreguei os olhos para afastar minhas alucinações.
Após alguns minutos, levei um susto enorme. Dimitri freou bruscamente porque um carro
passou no sinal vermelho e quase colidiu conosco.
O meu cinto pressionou forte em meu peito e fiquei com falta de ar.
— APRENDE A DIRIGIR, FILHO DA PUTA! — Dimitri retirou os óculos do rosto e
gritou enquanto buzinava com raiva, e eu comecei a tremer e chorar, o cinto ainda apertando meu
peito.
Ao olhar para mim, ele se preocupou e estacionou o carro numa esquina.
— Meu amor, o que foi?
— Eu... eu tive medo de morrer, Dimitri... ou de perder vocês... De tudo se repetir!
— Oh, Deus... se acalme, meu amor. Está tudo bem. Aquele idiota passou no sinal
vermelho, mas se ele batesse, seria apenas de raspão, calma. Eu tenho todo o cuidado do mundo
quando dirijo, principalmente ao seu lado, porque conheço o seu trauma.
Observei Emily, que por incrível que pareça, continuava em seu soninho, e tentei relaxar.
— Está tudo bem, meu amor... podemos ir ou quer cancelar a viagem?
Limpei minhas lágrimas, sentindo meu peito relaxar um pouco.
— Tudo bem, vamos.
Dimitri segurou meu rosto e me olhou com admiração.
— Eu te amo. Você é a criatura mais linda que já vi nesta vida. Deus te enviou para mim,
junto com nossa filha, e nada de ruim acontecerá. Seremos felizes para sempre, Luciana.
— Certo, meu amor. Te amo muito.
Dimitri me beijou, ligou o carro e seguimos até a casa de sua irmã. Chegando lá, nos
despedimos dela, e um táxi nos levou até o aeroporto, já que Ekaterina estava de ressaca.
Ao entrarmos no avião, seguimos em direção ao Havaí para aproveitar a melhor viagem de
nossas vidas.
Desta vez, com um final feliz…
Após algumas semanas, Kate recebeu alta e veio morar em minha casa, deixando para trás
as lembranças ruins da casa que compartilhava com Oscar.
O clima entre nós ficou estranho, mesmo que meu amor por ela permanecesse, nada era
como antes.
A ruiva e eu tínhamos uma conexão profunda, algo que eu desejava desde os tempos de
faculdade.
No entanto, aguardei pacientemente que ela se libertasse de dois relacionamentos antes de
finalmente ficarmos juntos. Quando começamos a nos envolver, descobri que Oscar a agredia e
humilhava. Como policial, meu instinto era protegê-la de todo mal, mas ela sempre acreditava
que ele mudaria e voltava para ele. Seu relacionamento era um ciclo vicioso, piorando a cada
volta, até que ela buscou refúgio em meus braços.
À medida que nossa relação se intensificava, Kate tomou a decisão de deixar Oscar
definitivamente.
Contudo, quando decidiu sair de casa para ficar comigo, ela foi dada como morta. O
acidente que alegadamente a matou foi meticulosamente planejado, seu carro lançado ao mar e
seu corpo nunca encontrado. A investigação, realizada por um agente de polícia duvidoso, amigo
de Oscar, concluiu como um acidente com morte presumida, onde o corpo não é localizado.
Inicialmente, lutei contra essa narrativa, tentando reabrir o caso, mas Oscar sempre
manipulava as circunstâncias.
Eventualmente, resignado, mergulhei no luto. Meu coração doía pela tristeza, pela
frustração de não ter conseguido proteger Kate, por não a ter levado embora antes.
A tristeza me consumiu, e mergulhei no trabalho.
Por um tempo, evitei envolver-me emocionalmente com outras mulheres, mas depois, por
mera necessidade, me permiti algumas relações vazias.
Quando conheci Carmem, meu corpo reagiu intensamente à sua presença. Ela era um
furacão, me seduziu sem sequer me tocar. Seu jeito sexy, seu corpo provocante e seu olhar
desafiador me enlouqueceram. Por meses, resisti a buscá-la, mas estava chegando ao meu limite.
Precisava tocá-la.
Kate e eu levamos tempo para retomar a intimidade. Ela sofreu muito nas mãos de Oscar,
sendo vítima de abusos físicos, psicológicos e sexuais. Durante sete meses, ela enfrentou
tratamentos, e, graças a um excelente médico especialista em traumas, estava recuperando suas
forças.
No último mês, ela tentou reacender nossa relação, mas foi estranho. Confesso que Kate é
linda e atraente, todavia, os sentimentos de paixão e tesão mudaram.
Não eram mais os mesmos.
O que predominava agora era o sentimento de proteção.
Senti a obrigação de cuidar dela, de mostrar que nunca a abandonaria, só não conseguia
recuperar aquele amor intenso que compartilhávamos.
Hoje não tive plantão e decidi visitar Kate. Ela tentou algo mais íntimo, me beijou, me
puxou para a cama, mas os desejos não surgiram. Parecia que ela virou minha irmã.
— Wilson... O que você tem, meu amor? — ela me perguntou, ao me ver se afastando da
cama.
— Nada... só estou preocupado com algumas diligências. Vim ver como você estava. Está
tudo bem?
— Sim... Wilson?
— Oi, amor.
— Por que continua a fazer esse papel?
— Do que você está falando, Kate?
— Você não me ama mais, querido. Eu não estou mais suportando viver assim.
— Kate, para! Eu estou te protegendo! Prometi a mim mesmo que nunca a abandonaria!
— Querido... isso não está certo. Você pode me proteger de outras formas, mas estou
cansada de fingir que aquele amor existe.
Ela se levantou da cama e começou a juntar as roupas numa mala, chorando, porém
conformada.
— O que está fazendo? — perguntei preocupado, ficando de pé à sua frente.
— Vou embora. Isso não tem mais sentido! Você... você a ama! — ela elevou a voz, se
referindo à Carmem.
Respirei fundo, perturbado, e pus as mãos na cabeça.
— Pelo amor de Deus… Esquece a Carmem. Eu te amo e vou cuidar de você.
— Chega! — Kate vociferou, cansada. — Eu não quero ser cuidada! Quero ser amada…
tocada... desejada! Eu te flagrei várias vezes no banheiro se tocando... estava pensando nela com
certeza! E sabe de uma coisa? Eu acho que não te amo como antes... parecemos irmãos!
Tentei detê-la e tirar as roupas da mala, mas ela me empurrou.
— Chega! Eu vou embora!
— Pra onde você vai? — perguntei, preocupado.
— Para a casa de uma amiga. Não se preocupe, é de confiança.
— Mas, Kate...
— Eu já comprei um apartamento para mim, próximo ao hospital... comprei essa semana.
Quero voltar a trabalhar aos poucos e seguir minha vida. Vou me mudar essa semana ainda.
— Quê? Você fez isso e não me consultou?
— Eu quero seguir e ser independente... tanto de homem quanto de sentimentos. Passei
anos presa num relacionamento tóxico, onde eu estava dependente emocionalmente, era
agredida, humilhada... depois aconteceu aquele sequestro... fui ao fundo do poço! — Kate
desabafou, chorando sofregamente. — Eu só suportei tudo, porque eu pensava que um dia iria te
reencontrar e iríamos viver esse amor! Mas quando isso finalmente aconteceu, tudo mudou.
Todos esses meses que passei aqui fui muito bem cuidada e amada..., mas é um amor de irmão,
de amigo, Wilson. Não dá pra viver com um homem que se apaixonou por outra e se toca todos
os dias pensando nela. Eu até acho que você ficou com ela algumas vezes... eu sentia o cheiro do
mesmo perfume em sua pele quando você se deitava na cama! Pra mim, chega.
As lágrimas caíram de meu rosto, e eu fechei os olhos, arrasado.
Kate tinha toda razão. Eu a amava, mas era como se ela fosse minha irmã. Já Carmem,
eu… eu a amava. Amava como um homem ama uma mulher.
Ao abrir os olhos, ela me abraçou forte.
— Eu sempre vou te amar, Wilson... Sempre. Mas como um amigo... Obrigada por tudo,
por ter me protegido, por ter cuidado de mim. Eu te amo.
Ao segurar meu rosto, ela sorriu tristemente, olhando-me por alguns segundos e pegou
suas coisas, indo embora. Sentei-me na cadeira, perto da escrivaninha, e fiquei chorando em
silêncio.
Eu só queria proteger Kate e não parecer um covarde, a abandonando quando ela mais
precisava, mas acabei a magoando mais ainda e partindo o coração daquela mexicana.
Tirei minha camisa, ainda pensando nas palavras de Kate.
Eu amo aquela latina e não estou mais suportando viver longe dela.
Enlouquecido de saudades, tomei um banho rapidamente e segui para o lugar que sabia que
a encontraria.
Aquela boate…
Estacionei meu carro no estacionamento lotado e adentrei a boate. Como era véspera de
Halloween, as strippers dançavam vestidas com fantasias variadas.
O local estava cheio, e decidi ir até o bar para ver se ela estava trabalhando, mas percebi
que havia outra garota em seu lugar.
Decidi me servir de uma dose de uísque, e após o show de uma stripper totalmente nua,
uma voz no microfone anunciou algo que me enlouquecera.
"Preparem-se para liberar seus dólares, porque Carmencita vem aí!"
Me levantei imediatamente da cadeira, supernervoso, e vi as luzes vermelhas se acendendo
apenas no palco onde ela estava, cercado por homens. Carmem havia parado de dançar por
minha causa, mas voltou alguns meses atrás.
Quando a vi vestida de diaba, numa fantasia vermelha cor de sangue, uma tiara com
chifres, extremamente sexy, fiquei louco.
— Porra! — esbravejei com raiva, ciúmes, desejo.
Ela começou a dançar sensualmente no pole dance, ao som da música "Devilish", de Chase
Atlantic, tirando as peças de roupa devagar. Os homens enlouqueceram e jogavam várias notas
de dólares para ela.
Fiquei hipnotizado, observando todos os seus movimentos. Quando ela tirou o sutiã,
ficando apenas com a tiara de diaba, uma calcinha vermelha fio dental, meias arrastão vermelhas
e saltos scarpins pretos, surtei.
Atravessei a multidão de homens e fiquei de frente para ela, olhando para seu corpo
delicioso, morto de ciúmes.
Ela paralisou por alguns segundos ao me notar, mas continuou a dançar, provocando-me.
Observei alguns homens quase subindo no pequeno palco e colocando dinheiro dentro de sua
calcinha e de suas meias.
O ambiente ficou carregado de tensão e desejo, enquanto ela mantinha o olhar fixo em
mim, desafiadoramente sensual.
Carmem sorria, adorando me provocar e depois ficou de frente para mim, dançando e
esfregando sua boceta em minha cara.
Eu fiquei petrificado e agarrei suas coxas.
Ela afastou a calcinha de lado e mostrou seu sexo para mim, mordendo o lábio inferior.
Fiquei duro para cacete e mirei em seus olhos.
Porra, senhor, essa mulher só podia estar querendo me matar.
Contudo, ela me empurrou, toda atrevida e terminou sua apresentação.
A mexicana se inclinou, mostrando sua bunda gostosa com o fio dental enfiado nela e
pegou as notas do chão sensualmente, sorrindo diabolicamente. Ato contínuo, se levantou e
mandou beijos para os homens, que, por sua vez, gritavam o quanto ela era gostosa e o quanto
queriam fodê-la.
Isso me deixou puto.
Em seguida, ela seguiu até o camarim e fui atrás dela. Um segurança me barrou, mas ao
mostrar meu distintivo da polícia, me liberou imediatamente. Indo em direção a ela, avistei algo
que me tirou do sério. Um homem estava passando as mãos em seu braço e a encostando na
parede, dizendo coisas em seu ouvido.
Parti para cima dele, emputecido, o empurrando.
— Solte-a, seu merda!
O homem arregalou os olhos com medo, e ao olhar meu cordão com as credenciais de
policial, ele se evadiu rapidamente.
Ao olhar para Carmem, ela meteu um tapa na minha cara e gritou:
— Idiota! Me erre!
— Caralho, tá doida?
A mexicana começou a me bater no peitoral, revoltada, encoberta por seu roupão, mas a
detive, prensando-a na parede e ficando com o rosto quase colado no seu.
— Solta-me, hijo de la puta!
— Olha a boca! Me respeita!
— Deixa-me em paz! Eu iria foder com aquele gostoso! — ela me provocou, empinando o
nariz.
— Isso não vai acontecer, mexicana. Não é ele que você deseja.
Carmem surtou, me empurrando, indo até seu camarim a passos rápidos. Agi rapidamente
e a peguei, colocando-a em meus ombros, enquanto ela se debatia aos gritos.
— Wilson, me solte! Vou dar na tua cara, cabrón!
Fiquei em silêncio, e ao chegar em seu pequeno camarim, a coloquei no chão e fechei a
porta.
Ao me virar para encará-la, Carmem partiu pra cima de mim, tentando me bater, mas a
coloquei sentada em cima da mesa de aço que se encontrava ali e segurei seus pulsos por trás,
prendendo-os com minhas mãos, me declarando:
— Eu não suporto mais viver longe de você, mexicana.
Ela me encarou com fúria, mas apaixonada, porém berrou, dando-me um ultimato:
— OU ELA, OU EU!
— Definitivamente, eu escolho você — declarei, extremamente apaixonado e, engolindo
em seco, não suportando mais, a beijei enlouquecido, totalmente alucinado de saudades. Ao
soltar suas mãos, ela me agarrou, puxando meus cabelos com raiva, enquanto eu tirava seu
roupão.
E sim, para sempre seria ela, a escolha da minha mente e do meu coração.
Ao chegarmos no Havai, nos instalamos num hotel maravilhoso e depois fomos até a praia
brincar com nossa Emily. Passaríamos cerca de duas semanas aqui e queria aproveitar ao
máximo com minha Luz e nossa russinha.
Em um belo dia, conhecendo os pontos turísticos de Honolulu, minha Luz andava pela
beira da praia, pensativa.
Ela estava totalmente envolvente em sua saída de praia preta que encobria seu biquíni da
mesma cor, e seus cabelos estavam soltos, enormes, batendo em sua bunda. Fui até ela, levando
Emily nos braços, e lhe dei uma água de coco.
— Toma, amor. No que está pensando?
— Obrigada... Estava pensando em como tudo mudou de repente. Há mais de dois anos eu
havia marcado uma viagem para cá com minha família... e hoje estou aqui com vocês... Eu sei
que sofri muito, passei por diversas provações, mas só Deus sabe como estou feliz hoje contigo,
meu russo. Eu não quero te perder, nem a Emily.
— Isso jamais vai acontecer, meu amor... Deus nos deu uma oportunidade de nos
encontrarmos nesta vida... nossos entes queridos são nossos anjos protetores, pense dessa forma.
— Eu penso sim, meu amor. Obrigada por existir, Dimitri.
— Eu te amo, minha reclamona. Agora vamos passear um pouco e tirar mais fotos nesse
paraíso?
— Vamos sim, meu cabrón.

Após voltarmos de nossa lua de mel maravilhosa no Havai, passaram-se algumas semanas
até que papai se casou com dona Mirian no civil, nos jardins de nossa casa. Eles estavam
perdidamente apaixonados e viviam numa lua de mel sem fim.
Num determinado dia ensolarado, eu estava na academia, no período da tarde, quando
aconteceu algo surreal. Uma mulher jovem grávida, loira de olhos azuis claros, junto com um
homem moreno claro, tatuado e do meu tamanho, compareceram no meu local de trabalho e
pediram para falar com meu pai.
Seu nome era Olivia Fox.
O que inicialmente parecia um encontro casual, revelou-se algo surpreendente. Olivia era
minha meia-irmã, fruto de um relacionamento de meu pai com sua mãe, já falecida. A notícia me
pegou de surpresa, mas aceitei Olivia como parte de nossa família. Seu marido, Julian, um
stripper australiano, também entrou para o círculo, tornando-se amigo próximo de meu pai.
Os dias transcorriam, e a vida seguia seu curso.
Certa vez, ao tentar chamar meu pai para sairmos, acabei testemunhando uma cena cômica
e inusitada.
Ao abrir a porta do quarto, novamente encostada, deparei-me com meu pai, dançando em
cima da cama como um autêntico stripper, exibindo sua cueca vermelha de couro apertada para
cacete, ao som de “I See Red”, enquanto dona Mirian estava algemada, com uma lingerie muito
sexy, olhando fixamente para ele, totalmente excitada.
Uma situação que, sem dúvida, deixaria qualquer um constrangido.
— OH, MEU DEUS! PAPAI! — exclamei, chocado.
Nesse momento, Luciana vinha passando pelo corredor com Totó no colo e, ao se
aproximar, cobri imediatamente seus olhos.
Papai sentou na cama, se cobriu imediatamente com dona Mirian e sorriu, todo descarado.
— Filho, você é um empata foda, viu?! Eu estava tentando seduzir minha esposa — ele riu,
sem vergonha.
— Dimitri, deixe eu ver — Luciana pediu, morrendo de curiosidade.
Sem muita escolha, liberei sua visão, e ela, ao descobrir a cena, riu ainda mais alto, de cair
lágrimas dos olhos. Papai se cobriu com dona Mirian, ambos rindo da situação. Totó, nossa
cachorrinha, pulava e latia animada no chão, dando um toque ainda mais cômico à cena.
— Cristo, essa casa parece um circo! — reclamei irritado.
— Dimitri, deixe seu pai ser feliz com a mamãe! — disse Luciana, ainda rindo para cacete.
— Minha nora filhinha tem toda razão. Você deveria dançar para ela, Dimitri, senão outro
vem e dança — o velho provocou.
— Eu não preciso dançar para conquistá-la, minha pegada já fala por si só — retruquei,
cheio de convicção.
A música sensual continuava a tocar no quarto, criando um clima inusitado e hilário. A
situação parecia um verdadeiro espetáculo de comédia.
— Dimitri! — Luciana me repreendeu.
— Ai, meu Deus... esses russos não têm jeito! — Mirian se acabou de rir.
Após a cena hilariante, fomos comemorar o aniversário de papai com nossa família, agora
completa por Olívia e sua família.

5 ANOS DEPOIS

Chegamos à festa do Dia dos Pais na escolinha de Emily, acompanhados por nossos
familiares e até mesmo pelas nossas adoráveis cachorras. Com um sorriso amoroso, Luciana
guiava o carrinho que acomodava nossos filhos gêmeos, Vladimir, um menininho de cabelos
loiros e olhos azuis como os meus, e Aline, uma linda garotinha morena clara, exibindo os traços
semelhantes de Luciana, com seus olhos castanhos e cabelos pretos. Com apenas 1 ano e 9
meses, ambos exalavam uma fofura irresistível.
A seguir, tomamos nossos lugares, ansiosos, bem em frente ao palco onde as crianças se
apresentariam para homenagear seus pais, fazendo o que gostava, bem como realizar uma
declaração de amor para o pai.
Na hora que Emily subiu ao palco, meu coração acelerou.
Minha filha era minha xerox, mas tinha a garra da mãe, a doçura da avó e a alegria da
minha irmã e do meu pai.
Ao segurar o microfone, ela compartilhou timidamente suas palavras:
— Eu gostaria de cantar uma música para o meu papai, Dimitri. Ele é o homem mais lindo,
irresistível e especial desse mundo, e mamãe me disse que Deus me mandou para fazê-los
felizes.
As palavras de Emily tocaram fundo, levando Luciana às lágrimas. Eu a abracei, também
emocionado, enquanto minha filha continuava:
— Vou cantar a música que ele canta sempre para mim.
Ao fundo, as notas da música "Emily", de James Arthur, começaram a preencher o
ambiente.
Com doçura e uma certa timidez encantadora, Emily deu voz à canção, desvelando um
sorriso radiante ao encontrar meus olhos. Ao finalizar sua interpretação, ela teceu uma
declaração carregada de amor:
— Obrigada por existir, meu papaizinho. Eu te amo muito.
Incapaz de conter a emoção, fui até o palco, levantei Emily e a abracei, beijando seu
rostinho. Seus olhinhos azuis brilharam em lágrimas de emoção.
— Eu também te amo, minha filha. Deus te mandou para mim, assim como ele mandou
sua mãe e seus irmãos para me fazerem o homem mais feliz desse mundo.
Ao retornarmos aos braços calorosos de Luciana e familiares, encontramos Robert com
seus filhos, agora meus sobrinhos de coração. Ele se tornou um grande amigo ao longo do
tempo.
Enquanto Emily brincava com outras crianças no parque da escola, abracei Luciana pela
cintura, perdendo-me em seus olhos encantadores, pelos quais me apaixonei desde o primeiro
instante, mesmo quando ela não podia enxergar, e expressei tudo que estava em meu coração.
— Obrigado por me dar essas lindas crianças, Luciana. Se você pudesse ver o meu coração
agora, saberia que o amor que tenho por ti é algo infindável. Me perdoe por tudo que aconteceu
de ruim, pelos meus defeitos, por eu ter sido fraco às vezes..., mas saiba que eu te amo... eu não
sou perfeito, mas o meu amor e o meu coração são seus.
Ela sorriu largamente, sem tirar os olhos dos meus e se declarou:
— Eu sei, meu russo... Eu te amo e amo cada imperfeição sua. Sei que nada irá nos
separar. Nunca… saiba que meu amor e meu coração serão seus para sempre, em todas as vidas
que existirem. Eternamente, meu ogro lindo.
Colei minha testa na dela e fixei ainda mais meu olhar em seus brilhantes olhos castanhos.
Em um gesto carregado de emoção, declarei-me completamente apaixonado, deixando que cada
sílaba carregasse a profundidade do que sentia.
— Você é a minha Luz. A luz da minha vida.
E, assim, nossos lábios se encontraram delicadamente, selando o instante carregado de
amor e promessas, e o tempo pareceu desacelerar.
Os aplausos distantes da festa do Dia dos Pais tornaram-se o pano de fundo de nossa
história, enquanto nos perdemos na emoção do momento, cientes de que estávamos escrevendo
juntos um capítulo único e eterno de nossa linda e louca história de amor.

[1]
Tradução: “Vai, filho da puta, foda-me muito”

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