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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO

Caio Lima Barbosa

Gabriel Lucas Mendes

Thais Reis Mazine

Vitor Gabriel Zanca

ARQUITETURA CONTEMPORÂNEA

Análise dos conceitos e vertentes da arquitetura contemporânea e os exemplos em


Cuiabá.

CUIABÁ

2019
Caio Lima Barbosa

Gabriel Lucas Mendes

Thais Reis Mazine

Vitor Gabriel Zanca

ARQUITETURA CONTEMPORÂNEA

Análise dos conceitos e vertentes da arquitetura contemporânea e os exemplos em


Cuiabá.

Artigo elaborado para a disciplina de Teoria da


Arquitetura e do Urbanismo II, no curso de Arquitetura e
Urbanismo da Universidade Federal de Mato Grosso.

Docente: Prof.Dr. Ricardo Silveira Castor

CUIABÁ
2019
SUMÁRIO

1 Introdução........................................................................................................... 4

2 Os conceitos fundamentais da arquitetura contemporânea................................4

2.1 Objeto................................................................................................................4

2.2 Objeto: Transfiguração......................................................................................5

11
1 INTRODUÇÃO
Este artigo tem por objetivo contextualizar conceitos e vertentes da
Arquitetura Contemporânea à Cuiabá – Mato Grosso, através do estudo de algumas
edificações na cidade.

Partindo dos conceitos apresentados nos livros “Os quatro conceitos


fundamentais da Arquitetura Contemporânea”, de Richard Scoffier (2011) e A
Condição Contemporânea da Arquitetura, de Josep Maria Montaner (2015), surgiu a
necessidade de analisar as influências no contexto cuiabano.

2 OS CONCEITOS FUNDAMENTAIS DA ARQUITETURA


CONTEMPORÂNEA

2.1 Objeto

Para Richard Scoffier, em seu livro, “Os quatro conceitos fundamentais da


Arquitetura Contemporânea”, nem tudo que é construído pode ser considerado
objeto.

Em sua concepção, objeto é tudo aquilo que perde sua função perante o homem, se
desvinculando de seu “papel”, e tornando-se monumento, o homem, aqui, se torna
espectador. Scoffier chama esse ato de desvinculação de “Objetar”, uma vez que o
objeto fica livre para realizar tal ato.

Um exemplo seria a obra “La Fontaine” de Duchamp, em que o artista retira


um mictório de seu local original, e coloca-o em uma galeria, denominando uma arte.
Não mais submetido ao homem, o mictório se torna objeto.
2.1.1 Objeto: Transfiguração
Transfiguração é, por definição, quando se altera as dimensões do objeto,
para distanciar-se de sua função com o homem.

Foto: Frank Genry,Chiat Day, Santa Monica

Na imagem acima, pode-se perceber que o binóculo, após a mudança de


dimensionamento, perde seu propósito, e o homem se torna espectador.

2.1.2 Objeto: Singularidade


Singularidade, para Scoffier, é quando o objeto busca se autoafirmar, sem
jamais revelar seu modo de construção.

O centro de meditação da UNESCO, do arquiteto Tadao Ando, é utilizado


como exemplo dessa singularidade, sua construção em concreto polido, não revela
nenhum detalhe de sua estrutura interna, o edifício em si atrai pelo seu mistério e
singularidade.

Centro de meditação da UNESCO,


Tadao Ando.

Fonte: https://imagens-revista-
pro.vivadecora.com.br/uploads/
2018/06/tadao-ando-pavilhao-de- meditacao-unesco.jpg/

2.1.3 Objeto: Esquizofrenia


Durante o tempo, os objetos sofrem mutações irreversíveis, tais mutações
não relacionam função e objeto. Na Esquizofrenia de Scoffier, o objeto fica cada vez
menos transparente, fato que atrai a testemunha até a obra.

O autor cita a obra Onyx, de Jean Nouvel e Myrto Vitart, como exemplo dessa
esquizofrenia. Um bloco de concreto preto, recoberto com telas metálicas, também
pretas, mascaram as aberturas da construção.

Onyx, Jean Nouvel e Myrto Vitart


Fonte: http://www.juan-cardona.com/wp-content/uploads/2018/09/onyx-saint-
herblain-jean-nouvel-architecture-cardona-13.jpg

Pode-se citar também o Museu da Arte Judaica, de Daniel Libeskind, em


Berlim. Libeskind cita sua obra como cheia de ideologias e história, ele quis
representar a experiencia judia em Berlim durante o período da Segunda Guerra
Mundial, transformando a sua estrutura na própria história.

O edifício não apresenta entradas, seu acesso se dá atraves do antigo Museu


de arquitetura Barroca, logo ao lado. Ao entrar, o visitante se encontra entre 3
caminhos, em que não se pode identificar o final, atraindo o convidado para essa
descoberta.

Museu de arte Judaica, Daniel Libeskind, Berlim.


Fonte: pinterest.com
Museu de arte Judaica, Daniel Libeskind, Berlim
Fonte: http://images.adsttc.com/media/images/55ea/063b/e58e/ced7/3100/001e/
newsletter/8c.jpg?1441400359
2.1.4 Objeto: Rituais

Nesse conceito, Scoffier demonstra que a construção apresenta seu próprio


ritual de ocupação, recusando a inscrever-se num ritual pré-determinado. As
pessoas e suas ações são como parte da obra, trazendo configurações diárias e
inéditas.

Na configuração de residências da Rua de Suiesses em Paris, dos arquitetos


Jacques Herzog e Pierre de Meuron, a fachada é formada por uma tela móvel, em
que os moradores, ao abrir as janelas, formam um arranjo novo a cada dia.

Jacques Herzog e Pierre de Meuron, na rue des Suisses, em Paris.


Fonte: http://www.archidiap.com/opera/complesso-residenziale-in-rue-des-suisses/
2.2 Tela

Tela é, para Scoffier, é o contrário da fachada. A fachada é transparente, ela


mostra como o edificio é consruido de forma clara, por outro lado, a tela esconde,
mascara e protege o espaço interno do espaço externo.O autor compara essas duas
situações com os sentidos humanos, a primeira, com a função de ver, um cargo
simples dos olhos, que não exigem qualquer tipo de esforço mental, a segunda, é a
função do ler, mais complexa, que exige do cerebro maior concentração e atenção.

2.2.1 Tela: perda de profundidade


Na tela, existe uma perda de profundidade, natural da fachada. Manter o
expectador ignorante sobre o processo de fabricação é necessário para o ar de
misterio e, com isso, o desejo de adentrar a obra, para conhecer mais. A obra Casa
das Artes de Graz, do arquiteto Peter Cook, que apresenta uma fachada de acrílico
com formas orgânicas que não revelam o objetivo do edifício.

Casa das Artes de Graz, Peter Cook, Áustria.


Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/9/9b/Graz_Kunsthaus
_vom_Schlossberg_20061126.jpg/1200px-Graz_Kunsthaus_vom_Schlossberg_2006
1126.jpg
2.2.2 Tela: Signo
O signo, é comparado as artes plásticas. Em Flag, do artista Jasper Johns, é
apresentado uma pintura da bandeira americana, o autor explica que, a pintura não
é apenas a bandeira, mas toda a carga histórica que essa bandeira representa,
pode-se ver através da mesma, o capitalismo selvagem, a superpotencia.
Diferentemente de um quadro de uma pintura abstrata, que não representa nada
além dela mesma, nada além da tinta e dos traçados na tela. Assim como na
arquitetura, a tela não representa nada além dela mesma.

Flag, Jasper Johns,1954.


Fonte: http://www.moma.org/media/W1siZiIsIjEzNjM3NyJdLFsicCIsImNvbnZlcnQiLCI
tcmVzaXplIDIwMDB4MjAwMFx1MDAzZSJdXQ.jpg?sha=edf285403182b67f

Um exemplo dessa concepção na arquitetura é a obra do Instituto do Mundo


Árabe, por Jean Nouvel, em que a estrutura formada por 240 janelas diafragmas,
que se ajustam de acordo com a luz ambiente.

Instituto do Mundo Árabe, Jean


Nouvel, 1987, Paris.

Fonte: http://3.bp.blogspot.com/-
GwiwpV3WIJo/Utmr55RDC-I/
AAAAAAAACV4/
GxH5KBGZ9_w/s1600/006.jpg
2.2.3 Tela: Reflexo
No último conceito presente na Tela, é apresentado o reflexo, aqui, a
paisagem ao redor faz parte da tela, através de uma estrutura formada por janelas
refletoras, a tela é constantemente alterada pelo jogo de luzes e mudança na
paisagem que circula o edifício.

Essa configuração, de acordo com o livro “arquitetura brasileira


contemporânea”, de Roberto Segre, é comum em edifícios de comércio e escritórios.

Os Bandeirantes, Faria Lima, São Paulo.


Fonte: http://3.bp.blogspot.com/-0QDYBPhLCqE/TlL7QCwmGVI/AAAAAAAAFHM/
ZIOEfy4g8bY/s1600/1358_BAnd3_principal.jpg
3 FRAGMENTAÇÃO, CAOS E ICONICIDADE

Segundo Montaner (2015), uma das vertentes da arquitetura contemporânea,


“trata-se de uma arquitetura baseada na linguagem hedonista e versátil na qual a
colagem é levada às três dimensões e as edificações e a cidade são construídas por
meio da sobreposição de camadas.” Esta definição serve de ponto inicial para
apresentar os conceitos que o autor julga característicos à arquitetura
contemporânea observada em grande parte da arquitetura holandesa atual, que são:
Fragmentação, o Novo Pragmatismo, Arquitetura de Camadas e os Diagramas.

3.1 Fragmentação

O conceito de Fragmentação no urbanismo foi apresentado no livro Collage


City de Fred Koetter e Colin Rowe, nesse livro os autores se propõem a estudar a
cidade moderna não de modo total e idealizado, mas fragmentando e respeitando as
especificidades de cada um desses fragmentos, uma aproximação mais respeitosa
às culturas e histórias locais, que entende as limitações reais das utopias
planejadas.

3.2 O Novo Pragmatismo

Montaner observa que a Teoria da Fragmentação acabou por dar origem a


um novo pragmatismo, que se apropria das tecnologias atuais e da enorme
quantidade de dados disponíveis e propões soluções para cada problema
encontrado exclusivamente a partir desses dados.

Na medida em que se tomam esses valores práticos e se justifica todo o


projeto a partir deles, os arquitetos se limitam ao Programa de Necessidades e tiram
todas as soluções necessárias do conjunto de dados disponível e das restrições
impostas, limitando a atuação em “gerenciar projetos e assinalar caixas”, como fala
Marissa Looby em seu artigo “Rise of The New Radical Pragmatist”.
3.3 Arquitetura de Camadas

O conceito de Camadas em Arquitetura pode ser explicado fazendo analogia


ao conceito de Palimpsesto, um pergaminho que foi repetidamente apagado para
dar lugar a novos textos. Na Arquitetura e Urbanismo esse conceito surge para falar
de como as cidades contemporâneas costumam demolir o antigo e reconstruir por
cima, porém sem demonstrar desprezo pelo antigo, mas incorporando valores e até
mesmo requalificando partes de edifícios passados e utilizando-se dessas partes
como partido para um novo projeto.

3.4 Diagramas

Segundo Robert Somol no seu artigo Dummy Text, 2007 “Os procedimentos
de projeto arquitetônico parecem ter mudado de desenho para o diagrama ao longo
da segunda metade do século XX”. O diagrama é uma ferramenta moderna
poderosa para representação projetual, os diagramas facilitam e geram caminhos
para formas e esboçam soluções para o projeto quando usados corretamente. O
problema dos diagramas é a facilidade com que eles acabam limitando a criatividade
do arquiteto. Projetos que abusam dessa ferramenta acabam caindo no formalismo
e arbitrariedade.

Apesar de usados largamente pelos escritórios, os diagramas são


apresentados como ferramentas de projeto, mas foram meramente ferramentas de
divulgação e publicação, o processo de projeto envolve diversas outras ferramentas.
3.5 Silodam (MVRDV, Amsterdã, Holanda)

O Silodam é um edifício misto de apartamentos residenciais, escritórios, salas


comerciais e espaços públicos divididos em quatro torres.

O projeto requalificou um silo no final de uma barragem, construiu novas


partes e adaptou o projeto a todos os desafios apresentados antes de sua execução,
segundo os arquitetos responsáveis, “Das discussões políticas foi estabelecido que
uma mistura teria que prevalecer sobre segregação, estratificação. Das discussões
econômicas, uma “curva gaussiana” acompanhou as demandas para mudanças.”.

Fonte: https://www.mvrdv.nl/projects/163/
silodam

Como é possível observar na fachada, há diversos materiais diferentes,


alturas de pavimento e aberturas com aparência de aleatoriedade. Porém cada uma
dessas diferenças foi pensada para responder as exigências do contratante. Cada
apartamento é diferenciado para possibilitar que diferentes faixas de renda possam
habitar o edifício. Portanto as exigências trouxeram a diversidade para a fachada do
edifício, o projeto se moldou a partir dessas demandas.
3.6 A Montanha (BIG, Copenhague, Dinamarca)

Esse é mais um exemplo de projeto que se moldou ao programa, o cliente


demandava que a área fosse ocupada 2/3 por estacionamento e 1/3 com
apartamentos. Devido a geografia local, cada apartamento necessita de insolação e
isso foi que deu a forma do edifício, os blocos de apartamentos foram dispostos de
modo que cada um receba a mesma quantidade de insolação e orientados para a
mesma direção, nesse projeto não há nenhuma distinção entre os usuários finais.

Fonte: https://big.dk/#projects-mtn

3.7 Arena Pantanal (GCP Arquitetos e Grupo Stadia,


Cuiabá, Brasil, 2009)

A Arena Pantanal é um exemplo dessa arquitetura que incorpora certos


valores locais e responde ao programa de necessidades, propondo soluções
práticas e simples as condicionantes locais. É um projeto que pretende abrigar
diversas modalidades de esportes, inclusive tradições locais, promover a interação
social, com bastante área livre no entorno para a população, além de abrigar uma
escola de ensino fundamental que pode usufruir de todos os equipamentos
construídos que ficariam ociosos.

Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/601414/arena-pantanal-slash-gcp-arquitetos

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