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FINANÇAS PÚBLICAS

ORÇAMENTÁRIAS
Unidade 4 - Orçamento participativo
e accountability

GINEAD
UNIDADE 2

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Unidade 4
Orçamento participativo e
accountability
Apresentação

Caro aluno, nesta Unidade 4, analisaremos as leis orçamentárias e a programação financeira.


Dessa maneira, decifraremos o orçamento pela classificação institucional, definindo receita e
despesa públicas, diferenciando-as dos ingressos e dispêndios extraorçamentários e permitindo
a condução e as alterações ocorridas na execução da lei orçamentária.

Nesta presente unidade vamos, portanto, entender os mecanismos de controle nas atividades
governamentais e suas aplicações.

Objetivos Gerais
• Compreender os mecanismos para o exercício do controle social.

• Compreender a aplicação da controladoria ao setor público.

• Identificar os diferentes recursos disponíveis e os seus adequados controles e


aplicações.

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4.1 Controle social das atividades
governamentais
De acordo com a Lei nº 12.305/2010, art. 3º, inciso VI, o controle social é um conjunto de
mecanismos e procedimentos que garantem à sociedade informações e participação nos
processos de formulação, implementação e avaliação das políticas públicas relacionadas aos
resíduos sólidos.

Nesse contexto, o princípio da soberania popular, que está na Constituição de 1988, reafirma o
conceito de controle social ao apontar que “[...] todo o poder emana do povo, que o exerce por
meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição” (BRASIL, 1988).
Mas, para que esse poder possa prevalecer, o cidadão precisa entender, apreender e avaliar as
ações dos seus governantes, que é o que veremos nesta unidade.

Figura 4.1: Princípio da soberania popular por meio de eleição

Fonte: Plataforma Deduca (2018).

Como já foi estudado nesta disciplina, o Estado necessita das receitas, as quais permitirão
que atividades governamentais possam ser realizadas via programas, projetos e ações estatais
e, consequentemente, essas atividades se tornam despesas para o Estado. Dessa forma, a
eficiência dessas atividades se dá pelo planejamento orçamentário, de forma transparente e
antecipada, para que não haja ônus à sociedade.

De acordo com Castro (2005), nenhuma entidade deve trabalhar na base da improvisação,
então, o planejamento é a primeira função administrativa que determina quais os objetivos a
atingir e o orçamento, assim como as ações para alcançá-los.

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Saiba que, quando a sociedade tem ciência de todo o processo do planejamento orçamentário,
está exercendo o controle social das ações governamentais. Assim, a sociedade pode, junto
com os agentes públicos, fazer parte desse planejamento e fiscalizar a aplicação dos recursos
públicos seguindo os princípios do controle social.

Sobre esse assunto, segundo Slomski (2005), para que haja eficiência nas atividades
governamentais, é necessário que o ente público se conheça internamente, sabendo quem são
seus colaboradores, quais são suas capacidades, suas virtudes e fraquezas. E, externamente,
conhecendo com profundidade as demandas e necessidades dos cidadãos, assim como os
mecanismos para atendê-las de forma eficiente.

Dessa forma, a sociedade poderá ajudar a combater e prevenir a corrupção, e, ao mesmo


tempo, o agente político poderá trabalhar em favor da aplicação correta e transparente dos
impostos arrecadados.

Figura 4.2: Sociedade e Estado juntos no atendimento eficiente das demandas sociais

Estado

Adequada aplicação de
recursos públicos nas
demandas de saúde,
educação e segurança,
por exemplo

Sociedade

Fonte: Elaborada pela autora (2018).

Nesse contexto de fiscalização pública, Slomski (2005) defende que há um tripé composto de
recursos humanos, recursos financeiros e recursos físicos, os quais devem ser considerados
pelo controller sempre de maneira conjunta, nunca dissociada, na avaliação da gestão da coisa
pública. Na gestão governamental, a controladoria tem como principal objeto os recursos
públicos, ou melhor, as atividades de controle que, quando são efetivas, possibilitam melhorias
significativas na gestão.

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Na Unidade 3, vimos como o orçamento pode ser avaliado institucionalmente, através da
identificação e do controle dos dados orçamentários. Dessa forma, institucionalmente, o
controle é exercido pela própria Administração Pública e por organizações privadas.

Caracterização de controle interno e externo

Controle externo
Deve ser realizado pelo Poder Legislativo através do Tribunal de Contas da
União (TCU), tribunal responsável por auxiliar o Congresso Nacional, ativi-
dade que deve ser apoiada pelo sistema de controle interno de cada Poder.

Controle interno
Em âmbito federal, é realizado pela Controladoria-Geral da União (CGU),
com o objetivo de desenvolver funções de controle interno, correição e
ouvidoria, promovendo transparência e prevenção da corrupção. Minis-
tério Público Federal, Ministérios Públicos estaduais, TCU, Tribunais de
Contas dos estados e dos municípios, entre outros, também atuam na
prevenção, controle, investigação e repressão da corrupção (TCU, 2018).

Como já sabemos, o controle das atividades governamentais não deve ser realizado somente
via controle institucional, pois a sociedade também deve participar desse processo, visto que,
dessa forma, obtemos um eficaz controle social dos gastos públicos.

Lembre-se de que nossa democracia é participativa, ou seja, a sociedade brasileira deve


participar da gestão e do controle do Estado. Mas você deve estar se perguntando: como
podemos exercer esse papel? Para responder essa pergunta, é importante entender o que é
controle social, suas formas e como é exercido nas atividades política e social, sempre tendo
em mente que, com o controle social, o cidadão passa a ter nas mãos a informação, que é seu
maior instrumento de controle.

4.1.1 Controle social: história, formas e funções


A história do controle social do Brasil se confunde com o mesmo período do processo de
redemocratização, ocorrido na década de 1980, quando se iniciou o diálogo entre o Estado e a
sociedade brasileira. A Constituição de 1988, conhecida como “Constituição Cidadã”, foi o pilar
que norteou esse processo, permitindo a descentralização do poder e a participacão popular
nas políticas econômicas e sociais.

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Figura 4.3: Redemocratização do poder por meio da descentralização

Territórios

Distrito
Federal
União Municípios

Estados

Fonte: Elaborada pela autora (2018).

Saiba que o § 2°, do art. 74, da Constituição de 1988, garante o direito a qualquer cidadão,
partido político, associação ou sindicato de apresentar denúncias de eventuais irregularidades
ou ilegalidades relativas às contas da União ao Tribunal de Contas, direito este que, por analogia,
é concedido também com relação às contas dos municípios e dos estados.

Dessa forma, você pode perceber que temos uma democracia jovem, e, consequentemente,
um controle social também jovem, sendo esta uma temática recente, sobre a qual muitas ações
têm surgindo nos últimos anos.

Vimos, ao longo da disciplina, os mecanismos de exercício do controle social, ou seja, do


planejamento orçamentário, a saber:

Plano Plurianual (PPA)


Que tem o objetivo estratégico de planejamento.

Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO)


Que tem o objetivo tático de orientar.

Lei Orçamentária Anual (LOA)


Que tem o objetivo operacional de executar.

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A partir desses planos e leis, a sociedade consegue, além de ajudar na elaboração do
planejamento, também participar ativamente das assembleias legistativas. Isto porque, depois
de elaborada, apreciada, votada e aprovadas as atividades orçametárias, o controle social
da execução das despesas públicas se manisfesta, e a sociedade pode participar da gestão
pública, acompanhando a execução das despesas públicas, nas três fases: empenho-liquidação-
desempenho, reduzindo a margem de desperdício dos recursos públicos.

Você sabe de que maneira se desenvolve o controle social sobre o orçamento público? Quais são
as formas de exercício do controle social? Já sabemos que o cidadão tem um papel fundamental
no controle social, mas há que se ressaltar que esse controle também pode ser realizado por
conselhos de políticas públicas.

Fases da execução das despesas públicas

Empenho
Momento em que é criada para o Estado a obrigação de pagamento.

Liquidação
Momento da verificação de direito adquirido pelo credor.

Desempenho/pagamento
Momento em que é emitida a ordem bancária de pagamento ao credor.

Na legislação brasileira, há o aparato legal para a existência dos conselhos de políticas públicas,
englobando o território nacional, estados e municípios. Isto porque os artigos 198, 204 e 206 da
Constituição deram origem à criação de conselhos de políticas públicas nos âmbitos da saúde,
assistência social e educação, nos três níveis de governo.

Saiba mais
Você sabe o que são conselhos? De acordo com o Portal da Transparência, os
conselhos gestores das políticas públicas caracterizam-se como canais efetivos
de participação que permitem uma sociedade em que a cidadania deixe de
ser apenas um direito e seja realidade. A importância dos conselhos consiste
no seu papel de fortalecimento da participação democrática da população na
formulação e implementação de políticas públicas (BRASIL, 2018).

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Esses conselhos possuem uma ideia de cogestão, legitimando e fortalecendo os direitos
de cidadania. Contudo, é importante pontuar que é condição obrigatória para que
estados e municípios possam receber recursos do governo a instituição de conselhos e
seu funcionamento.

Destaca-se também que os conselhos possuem as seguintes funções:

Fiscalização
Acompanhamento e controle.

Mobilização
Estímulo à participação popular.

Deliberação
Decisão sobre as estratégias a serem adotadas.

Consultoria
Emissão de opiniões e sugestões.

Como exemplos de conselhos municipais, temos: o Conselho de Alimentação Escolar, o


Conselho Municipal de Saúde, o Conselho do Fundo da Educação Básica (FUNDEB) e o Conselho
de Assistência Social.

Sobre esse assunto, vale destacar que, de acordo com o Ministério de Desenvolvimento Social,
o Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS) foi instituído pela Lei Orgânica da Assistência
Social – LOAS (Lei nº 8.742, de 07 de dezembro de 1993) como órgão superior de deliberação
colegiada, vinculado à estrutura do órgão da Administração Pública federal responsável
pela coordenação da Política Nacional de Assistência Social (atualmente, o Ministério do
Desenvolvimento Social), cujos membros, nomeados pelo Presidente da República, têm
mandato de dois anos, permitida uma única recondução por igual período (BRASIL, 2018).

Assim, as principais competências do Conselho Nacional de Assistência Social são aprovar a


Política Nacional de Assistência Social; normatizar as ações e regular a prestação de serviços
de natureza pública e privada no campo da assistência social; zelar pela efetivação do sistema
descentralizado e participativo de assistência social; convocar ordinariamente a Conferência
Nacional de Assistência Social; apreciar e aprovar a proposta orçamentária da Assistência Social
a ser encaminhada pelo órgão da Administração Pública federal responsável pela coordenação
da Política Nacional de Assistência Social; divulgar, no Diário Oficial da União, todas as suas
decisões, bem como as contas do Fundo Nacional de Assistência Social (FNAS) e os respectivos
pareceres emitidos (BRASIL, 2018).

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Figura 4.4: Auxílio oftalmológico às crianças em idade escolar como benefício assistencial

Fonte: Plataforma Deduca (2018).

Vale destacar, portanto, que a função do Conselho Nacional de Assistência Social consiste em
acompanhar a chegada do dinheiro e a aplicação da verba para os programas de assistência
social e aprovar o plano de assistência social feito pela prefeitura.

Além disso, fazem parte desse conselho os representantes indicados pela prefeitura e pelas
entidades que desenvolverem o serviço de assistência social no município, como creches,
associações de apoio ao adolescente, ao idoso e associações comunitárias (CNAS, 2018).

Ainda abordando a questão do controle social exercido pela população, vale mencionar que
os educadores também são agentes de controle social atuando direta e indiretamente junto à
comunidade e gestores públicos, colhendo informações no Conselho de Alimentação Escolar
(CAE), no Conselho de Acompanhamento do FUNDEB, no Conselho do Programa Bolsa Família
e nas unidades executoras do Programa de Dinheiro Direto na Escola (PDDE), por exemplo.

Figura 4.5: Profissionais da educação e a verificação de disponibilização de merenda nas escolas

Fonte: Plataforma Deduca (2018).

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Saiba mais
As informações da aplicação dos recursos públicos é dever do Estado a fim de
incentivar a participação popular, mas você sabe onde encontrar essas informa-
ções? Para saber sobre merenda escolar, acesse: <http://www.fnde.gov.br>;
para saber sobre saúde, acesse: <http://www.saude.gov.br>; recursos da
assistência social: <http://www.mds.gov.br/cnas>; estradas, poços, barra-
gens e obras em geral: <http://www.cgu.gov.br/convenios>; Bolsa Família:
<http://www.mds.gov.br/bolsafamilia>.

4.1.2 Orçamento participativo


O orçamento participativo nasceu em Porto Alegre, em 1989, no Fórum Social Mundial,
espalhando-se para as outras cidades do mundo, tornando-se, inclusive, uma referência.

No lançamento do orçamento participativo, o objetivo governamental era o de efetivar as ideias


de democracia e disseminar a justiça e inclusão social, e, com o passar do tempo, passou a ter
outros enfoques, como aproximar a sociedade da Administração Pública. Recentemente, esses
ideais permanecem, mas com a ampliação da ideia de que o cidadão tem maior poder de ação,
o qual possibilita a dimensão da democratização da gestão.

Figura 4.6: Orçamento participativo e a gestão democrática

Orçamento
participativo

Democratização
da gestão pública

A população indica
as prioridades de
investimentos e
passa a ter
compromisso com
o bem público

Fonte: Elaborada pela autora (2018).

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Objetivamente o orçamento participativo complementa a democracia, fornecendo poder à
população no que tange às prioridades de investimentos e, assim, estimula o compromisso da
sociedade com o bem público.

De acordo com Castro (2018), conceitualmente, o orçamento participativo é um instrumento da


democracia participativa que permite aos cidadãos influenciar ou decidir sobre os orçamentos
públicos, geralmente em relação aos investimentos de prefeituras municipais, através de processos
de participação popular. Esses processos costumam contar com reuniões abertas e periódicas e
etapas de negociação direta com o governo. Nota-se, portanto, que, no orçamento participativo,
diminui-se o poder de uma elite burocrática repassando-o diretamente para a sociedade.

De acordo com Pires (2001, p. 5), o orçamento participativo:

[...] se faz no campo das Finanças Públicas, ramo da Ciência Econômica que trata da
despesa e da renda dos poderes públicos, bem como da coordenação entre ambas
[...]. Trata-se, então, do orçamento público, que se define como sendo a previsão das
quantias monetárias que, num período determinado, devem entrar e sair dos cofres
públicos, o conjunto das contas que descrevem todos os recursos e todos os encar-
gos do Estado para um dado período ou, ainda, o ato pelo qual são previstas e autori-
zadas as receitas e as despesas do Estado para um determinado período.

Existem também particularidades em cada município brasileiro no que se refere às ações dos
orçamentos participativos. Cada região elege representantes para os conselhos superiores
nas assembleias regionais, as quais são os principais veículos de participação popular, sendo
também abertas ao público, e qualquer cidadão pode participar.

Figura 4.7: Orçamento participativo e indicação de prioridade de demandas regionais

Fonte: Plataforma Deduca (2018).

Nesse contexto, o município pode se dividir em regiões orçamentárias, e em cada região


programar reuniões por tema, assim, cada uma vai discutir nas conferências regionais as
propostas para o PPA, a LDO e a LOA, dando início, assim, ao acompanhamento do governo no
que se refere ao plano orçamentário.

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Para tanto, é desenvolvida uma metodologia, de modo que cada região possa resolver as
demandas na sua particularidade, como, por exemplo, problemas de infraestrutura. Isto
porque, tendo estabelecido as prioridades da cidade, o próximo passo é distribuir os recursos
entre as regiões, destacando-se que os investimentos são distribuídos de acordo com critérios
que levam em consideração as diferenças entre as regiões.

Os critérios, mais habituais de análise são:

Quadro 4.1: Critérios de distribuição de investimentos

Insuficiência nos serviços


População Prioridade temática
ou infraestrutura

Fonte: Adaptado de Controladoria-Geral da União (2012).

Perceba que esses critérios foram elaborados para beneficiar as áreas pobres das cidades e
estimular a participação da população organizada, de menor renda. Dessa forma, as propostas
orçamentárias são encaminhadas ao Poder Executivo e, posteriormente, ao Poder Legislativo,
e assim são apreciadas pelos parlamentares, podendo ser aprovadas ou não.

Além de tudo que já foi mencionado, é importante destacar que o orçamento participativo
deve percorrer determinadas etapas, conheça-as.

Diagrama 4.1: Etapas do orçamento participativo

Debate
de ideias

Execução Desenvolvimento

Votação Avaliação
pública técnica

Fonte: Elaborada pela autora (2018).

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Na primeira etapa, a proposta inicial é colocada, havendo o debate das ideias e seu
desenvolvimento. É nas secretarias de orçamento federal e de planejamento (nível federal e
municipal) que são elaborados os orçamentos e são utilizadas as informações que estão nos
sistemas de informação (SIOP, por exemplo).

SIGA Brasil
É um repositório de dados que compreende todos os estágios do plane-
jamento orçamentário. Seu acesso facilita os dados do Sistema Integra-
do de Administração Financeira (SIAFI) e outras bases de dados sobre
planos e orçamentos públicos. Esse acesso pode ser realizado pelo SIGA
Brasil Painéis e pelo SIGA Brasil Relatórios.

SIOP
Além do SIGA Brasil, existe outro sistema de informações no site do Mi-
nistério do Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG), o Sistema Inte-
grado de Planejamento e Orçamento (SIOP).

Na segunda etapa, a proposta é avaliada (avaliação técnica) pelo Poder Legislativo e também
é apresentada aos conselhos e tribunais de contas. Já na terceira etapa, há a participação de
todos os órgãos públicos, sendo esta, inclusive, a fase mais detalhada, pois são tomadas as
decisões, há a votação pública e é executada a proposta inicial.

Figura 4.8: Tribunais de Contas na avaliação do orçamento participativo

Fonte: Plataforma Deduca (2018).

O orçamento participativo é, portanto, uma reinvenção do modo de governar, de um governo


que atende aos anseios da sociedade. Dessa forma, o Estado se remodela, como descreve Pires
(2001, p. 58):

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[...] o governo reinventado presta-se a dar resposta a um mundo em rápida transfor-
mação, transformado rapidamente em palco de experimentação, no que diz respeito
ao ato de governar. As regras tornaram-se imprecisas nos últimos 20 anos, instauran-
do uma crise de paradigmas na arte de governar. Esta crise tem origem na rápida ob-
solência dos governos tradicionais, burocratizados, provocada pelo desenvolvimento
acelerado de novas tecnologias que estão permitindo, em todo o mundo e em todas
as atividades, um inusitado aumento da produtividade, transformando o mundo em-
presarial e as instituições em geral, bem como a própria forma de agir das instituições.

É importante pontuar, por fim, que o orçamento participativo abre a possibilidade de aproximar
a sociedade das decisões governamentais, sobretudo a nível municipal, pois são justamente os
municípios o laboratório das atividades orçamentárias de forma mais direta. Assim, o cidadão
está no palco do processo decisório, afinal, possui interesses diretos em prol da coletividade
no uso dos bens públicos, fortalecendo o processo democrático à luz da Constituição Federal
de 1988 e da Lei de Responsabilidade Fiscal.

4.1.3 Accountability
Não existe um conceito formal e bem acabado de accountability, mas, como já foi exposto,
podemos referenciá-lo englobando um significado de responsabilização, em que os agentes
públicos podem controlar e fiscalizar, sendo este, portanto, um instrumento de controle e
transparência na gestão pública.

Figura 4.9: Accountability na gestão pública

Accountability

Transparência na
gestão pública

Controle Fiscalização

Fonte: Elaborada pela autora (2018).

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É importante destacar que a accountability está relacionada à responsabilização democrática
referente a dois mecanismos, conheça-os.

Reponsabilização democrática por duas perspectivas:

Vertical
Está relacionada ao controle social.

Horizontal
Está relacionada ao controle institucional.

Na accountability vertical, os cidadãos controlam de forma ascendente os governantes, por


meio do voto, para escolher seus representantes, em plebiscitos sobre matérias substantivas
ou ainda pelo controle social. Na accountability horizontal, há a fiscalização mútua entre os
poderes (checks and balances) ou por meio de outras agências governamentais que monitoram
e fiscalizam o Poder Público, como os tribunais de contas e o Ministério Público brasileiro
(ARANTES et al., 2010).

Além do direcionamento, é necessário mencionar também que as informações das receitas e


gastos públicos devem contemplar:

Otimização
Uma melhor utilização dos recursos governamentais, com respaldo nas
leis orçamentárias.

Eficiência
A eficiência dos serviços públicos, sobretudo economicamente.

Resultados
Programas e projetos obtendo resultados almejados.

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Lembre-se de que esse processo, ao mesmo tempo em que avalia e cria responsabilidades, terá
um cunho institucional, quando estiver no nível estatal, e social, quando estiver à margem dos
limites sociais. Entretanto, o mais importante é que as informações possibilitem e permitam à
sociedade discutir suas demandas sociais e econômicas.

Figura 4.10: Iluminação pública como demanda social fiscalizada

Fonte: Plataforma Deduca (2018).

A título de exemplificação, vamos discorrer brevemente sobre como funciona a accountability


nos Estados Unidos. A United States Government Accountability Office (GAO) é uma entidade
norte-americana equivalente ao nosso TCU (embora com atribuições, estrutura e poderes
diferentes), que trata do tema de forma bastante diversa e bem mais abrangente ao afirmar
que os princípios da transparência e da accountability no uso dos recursos públicos são peças-
chave no processo de governo daquele país.

Ademais, o GAO expressa claramente a responsabilidade atribuída aos agentes públicos


de exercerem suas funções e prestarem os serviços públicos que lhes são cometidos de
forma eficiente, efetiva, ética e justa, sem descuidar de atingir os objetivos dos programas
governamentais. Nesse sentido, o GAO alerta que auditorias de alta qualidade são essenciais
para a accountability do governo, proporcionando uma ligação pública e transparente entre
recursos empregados e resultados obtidos pelos programas governamentais (GAO, 2007).

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Figura 4.11: Como funciona a accountability nos Estados Unidos

GAO

Serviços públicos
eficientes, éticos
e justos

Obtenção de
resultados nos
programas
governamentais

Fonte: Elaborada pela autora (2018).

Na tentativa de chegar a um conceito mais próximo da realidade brasileira, haja vista que
esse conceito já possui definição nos EUA, alguns autores nos sinalizam para a abrangência e
dimensão da accountability. Vejamos de forma sintética no quadro a seguir.

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Quadro 4.2: Abordagens sobre accountability

Denhardt e
Koppell (2005) Kaldor (2003)
Denhardt (2003)
Classifica em cinco Subdivide em duas Classificam em três
categorias: transparência, categorias: grandes modelos:
sujeição, controle, • Procedimental: • O tradicional, ou da Velha
responsabilidade e “Quem é responsável Administração Pública;
responsividade. por assegurar que as • O gerencialista, ou da
Estas são interdependentes atividades são projetadas Nova Gestão Pública;
e complementares entre si. para cumprir a missão?” • Novo Serviço Público.
• Moral: Em que medida
ter mecanismos
de accountability
procedimental ajuda a
garantir a accountability
moral?”.

Fonte: Adaptado de Rocha (2009).

Rocha (2009), ao realizar uma revisão bibliográfica, utilizando as categorias propostas por
Koppell (2005), Kaldor (2003) e as concepções definidas nos modelos de Denhardt e Denhardt
(2003), fornece maior objetividade na análise de accountability como uma nova categorização que
possibilita relacionar as ações de controle e fiscalização entre os tribunais de contas brasileiros.

De qualquer forma, não parece haver dúvidas de que a manutenção e o aprimoramento da


democracia passa pela predisposição de uma maior aproximação entre o Estado e a sociedade
e, por consequência, pela exigência de um maior grau de accountability por parte dos cidadãos e
da sociedade na operacionalização do controle das ações governamentais. É dessa perspectiva
que nos interessa observar a atuação dos tribunais de contas no Brasil em relação ao fenômeno
da accountability (ROCHA, 2009).

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Figura 4.12: Accountability na fiscalização de serviços de saúde

Fonte: Plataforma Deduca (2018).

Por fim, vale destacar que existe uma necessidade, em âmbito nacional, em definir um conceito,
um método e um redirecionamento para a utilização dessa ferramenta, assim, a transparência
das informações orçamentárias será mais bem avaliada tanto pelo cidadão como pelo gestor
público. O que na prática acontece é a pouca utilização, por parte dos tribunais de contas
brasileiros, na promoção da accountability.

Ao propor um conceito de accountability nas dimensões sugeridas por Rocha (2009), pode-se
elaborar e promover novas categorias de análise para uma melhor atuação dos tribunais de contas.

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Síntese

Nesta Unidade 4, você aprendeu sobre:

• os mecanismos de controle social nas atividades governamentais e suas aplicações;

• o processo de planejamento orçamentário, com a classificação institucional, tra-


balhada na Unidade 3;

• os diferentes recursos disponíveis e os seus adequados controles e aplicações,


através da definição do controle social, com sua história, formas e funções;

• como é formado o orçamento participativo e sua importância para efetivar o


planejamento orçamentário;

• a necessidade de aprofundar as ações da accountability para uma melhor ges-


tão pública.

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Referências

ARANTES, R. B. et al. Controles democráticos sobre a administração pública


no Brasil: Legislativo, tribunais de contas, Judiciário e Ministério Público. In:
LOUREIRO, M. R.; ABRUCIO, F. L.; PACHECO, R. S. (Orgs.). Burocracia e Política
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