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Práticas didácticas - pedagógicas que devem ser usadas no ensino de geografia para a

construção da cidadania

Conceitos básicos

Cidadania

Para Martins e Magarro (2010), o conceito de cidadania é, geralmente, entendido como “o


conjunto de direitos e deveres do indivíduo que pertence a uma determinada comunidade, que
passa a designar-se como cidadão. Os autores enfatizam a participação cívica, cultural e política
(na forma de voluntariado, associativismo), como dimensões inerentes ao conceito de cidadania e
à necessidade de promoção de uma cultura de responsabilidade individual e social” (p.21).

Já na óptica de Salimo (2011) a cidadania deve ser compreendida como:

Uma prática com alicerces numa identidade baseada no reconhecimento de pertença a


uma comunidade na qual os indivíduos gozam dos mesmos direitos e deveres, e possuem
prerrogativas de participar e de exercer a sua voz em torno dos deveres e obrigações que
têm na defesa de seus direitos, e na prossecução dos seus interesses e da sua comunidade,
dentro de um quadro de direitos e deveres constitucional e culturalmente estabelecidos
(p.76).

Geografia Escolar e Construção da Cidadania

Para Carvalho (2004), “é preciso formar sujeitos capazes de compreender o mundo e agir nele de
forma crítica, essa intenção também poderia ser enunciada como a formação da capacidade de
“ler e interpretar” um mundo complexo e em constante transformação, ou seja, diagnosticar
criticamente as questões físico-naturais e humanas, e compreender o lugar onde moramos, é o
ponto de partida para o exercício de uma cidadania na Geografia escolar”.

Deste modo, percebe-se que a Geografia desempenha um papel importante na preparação dos
jovens para a vida do dia-a-dia, fornecendo-lhes uma informação correcta sobre o mundo actual
e ajudando-os a compreender, por si mesmos, os paradoxos do lugar onde vivem e as conexões
deste com um espaço globalizado.
“Segundo a Carta Internacional da Educação Geográfica, a Geografia contribui para a promoção
da cidadania dos alunos, através da promoção e desenvolvimento de competências, como a
expressão verbal, numérica, icónica e estatística. Esta ciência tem ainda uma grande riqueza de
conteúdos, uma vez que contém conhecimentos interligados com outras disciplinas/áreas do
saber. Tem também, um carácter transversal, pois “contribui para Educação Internacional,
Educação Ambiental e para a Educação para o Desenvolvimento” (Vesentini, 2008, p.7).

Alguns estudiosos vêm tentando buscar a justificativa do grande fracasso escolar no ensino de
Geografia na efectivação da cidadania hoje, e entre esses destaca-se Castrogiovanni (2011) que
afirma que:

O professor considera um aluno como um ser neutro, causando desautorização e as


consequências não podiam ser outra: O aluno que não pratica do espaço geográfico que
estuda, se o espaço não é encarado como algo em que o homem (aluno) está inserido, a
natureza que ele próprio ajuda a moldar a verdade geográfica do indivíduo se perde e a
geografia se torna alheio a ele (p.46).

Portanto, torna-se imprescindível fazer as aulas mais atractivas, sem deixar de envolver o
quotidiano do aluno, usando uma linguagem mais didáctica, para que o público-alvo seja de fato
atingido e o objectivo da Geografia alcançado. É preciso deixar de lado as aulas tradicionais
onde o professor só expõe informações e o aluno só recebe-as. É necessário que haja um diálogo
professor-aluno, onde um possa aprender com o outro na construção de conceitos.

Os professores devem estabelecer relação entre a vivência dos alunos e a geografia e isso muda
de lugar para lugar. O professor que da aula em uma região rural deve partir do princípio de
estudo da área rural, para que os alunos consigam conectar os fatos, e não ficarem perdidos
achando que a geografia é uma ciência inútil e desvinculada, onde só se exercita a memorização.
É preciso possibilitar que os educandos criem uma percepção crítica de sua própria realidade,
desenvolvendo um senso autónomo e a consciência de sua cidadania.

Na mesma lógica, Callai (1998) introduz a ideia de que a realidade do aluno deve ser tomada
como princípio na explicação dos fenómenos, já que, “é mais fácil organizar as informações,
podendo-se teorizar, abstrair do concreto, na busca de explicações, de comparações e de
extrapolações”.
Portanto, a Geografia tem como conceitos-chave o espaço, a distribuição de pessoas, fenómenos
relativos à superfície terrestre. A Geografia e a educação geográfica, tem o objectivo de levar os
alunos a questionar-se, a reflectir sobre as suas acções e investigar sobre problemas com que o
mundo se depara e a intervir na resolução dos mesmos, construindo dessa forma a cidadania.

Torna-se fundamental que o professor crie e planeie situações nas quais os alunos possam
conhecer e utilizar a observação, descrição, experimentação, analogia e síntese -
possibilitando aos alunos o aprendizado e a intervenção positiva dos processos de
construção do espaço e dos diferentes tipos de paisagens e territórios. Assim, podem ser
empregados recursos como ilustrações, fotografias não métricas, fotografias aéreas,
imagens de satélites, gravuras e vídeos os quais podem ser utilizados como fontes de
informação e de leitura do espaço e da paisagem. (Oliveira, 2005, p.64)

“O conhecimento sobre como a natureza se comporta contribui para o aluno se posicionar com
fundamentos acerca de questões bastante polémicas e orientar suas acções de forma mais
consciente e cidadã. São exemplos dessas questões: os desmatamentos ou desflorestamento, o
acúmulo na atmosfera de produtos resultantes da combustão, o destino dado ao lixo industrial,
hospitalar e doméstico, entre muitas outras” (Alves & Tonini, 2009, p.18).

No entanto, afere-se que a importância da Geografia prende-se pois possibilita ao cidadão a


desenvolver o senso crítico, sua capacidade de compreender e ler a realidade em seu entorno, e
formular raciocínio geográfico que amplie as possibilidades para a resolução de questões
pertinentes ao papel da Geografia na formação de sujeito crítico e participativo.

Referências bibliográficas

Alves, A. F. & Tonini, M. (2009). Práticas Pedagógicas de Geografia: Caminhos


Percorridos em outros Horizontes. In: X Encontro Nacional de Prática de Ensino em
Geografia. Porto Alegre, p. 18.

Callai, H. C. (1998). Aprendendo a ler o mundo: a geografia nos anos iniciais do ensino
fundamental. Cad. Cedes, Campinas, vol. 25, n. 66, p. 227-247.

Carvalho, P. (2004). Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à prática educativa no


ensino de Geografia. Rio de Janeiro: Paz e Terra.
Castrogiovanni, A. C. (2011). Ensino de geografia: praticas e textualizações no quotidiano.
Porto Alegre, Mediação.

Martins, T.H. & Magarro, Q. (2010). Cidadania, Classe Social e Status. Porto: Edições ASA.

Oliveira, A. U. (2005). Para onde vai o ensino de geografia? 9. ed. São Paulo: contexto.

Salimo, P. (2011). Estudo de Base: Campanha de educação para a Cidadania. Moçambique:


Assistência Europeia, s/ed

Vesentini, J. W. (2008). Geografia: geografia geral e do Brasil. 1ª Ed. São Paulo: Ática.

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