AO JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL E DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA DA COMARCA

DE TUBARÃO – SANTA CATARINA

Autos n. 5014614-45.2023.8.24.0075

EDUARDO DA SILVA NANDI, já devidamente qualificado nos autos em epígrafe,

vem, respeitosamente, apresentar sua resposta à acusação na forma que autoriza o texto legal.

§1º. PRELIMINARMENTE – CERTAS INCONGRUÊNCIAS NA

NARRATIVA QUE CONDUZEM À ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA

ALBERT CAMUS começa seu ensaio filosófico sobre a revolta falando que há crimes
de paixão e crimes de lógica. Neste processo ou se constatará a existência d’um, ou d’outro.

Isso porque a denúncia da vítima é simples: Ela estava na frente do portão da casa
de sua avó, por volta das 12:30, quando o denunciado lançou contra ela o automóvel que pilotava,
evadindo-se em seguida.

A história é problemática.

Horário de pico, terça-feira, na movimentada Rua Silvio Cargnin acontece fato que
tal e, não se toma nota de uma única testemunha, vizinha ou aparentada que tenha presenciado os
fatos? Ela estava, então, sentada na moto, em frente à casa de sua avó, sozinha, sem conversar
com ninguém, simplesmente esperando o dia passar com sol a pino?

Inexiste uma pessoa que sequer diga tê-la recebido assustada após o evento, ou
mesmo um indicativo de qual era o veículo, somente a palavra isolada da vítima.

Pois bem.

Não se nega que "Em casos de violência doméstica praticada no interior da

residência dos envolvidos, longe de testemunhas, a palavra da vítima ganha maior relevância,
sobretudo se coerentes com o conjunto probatório" (Des. Torres Marques).

Porém, também não se pode, ao argumento de proteger todas as supostas vítimas de

violência doméstica, transformar tal afirmação em panaceia capaz de solucionar qualquer
denúncia levada a juízo. Não se prostitui impunemente os princípios constitucionais.

Por tal motivo as circunstâncias da denúncia devem ser observadas. Ora, se a

violência ocorre em local afastado do público, de fato, a palavra da vítima merece destaque. Se,
porém, a suposta violência acontece em circunstâncias que comportam a produção d’outras
provas, deve ser mantido de pé o in dubio pro reo, conforme sustenta o STF.

“Nos crimes praticados no âmbito de violência doméstica e familiar contra a mulher,

a palavra da vítima merece especial relevância, notadamente, porque praticados sem a presença
de testemunhas. Contudo, faz-se necessário que a palavra da vítima esteja em consonância
com os demais elementos de prova, especialmente na hipótese, uma vez que o fato, suposta
ameaça, teria ocorrido em local público. Uma vez isolada no contexto probatório, e havendo
dúvida razoável acerca da ocorrência dos fatos, aplica-se o princípio do in dubio pro reo.”
(Alexandre de Moraes, RHC 187976/DF).

Isto posto, a nosso ver, é adequada a absolvição sumária do acusado por ausência de
provas, a fim de que não se cometa, neste processo, um crime de lógica.

§2º. PRELIMINAR AFEITA AO MÉRITO – DA, TALVEZ,

INIMPUTABILIDADE

A vítima relata que o denunciado é esquizofrênico. Também consta no boletim de

ocorrência que o réu é portador de problemas clínicos. Logo, se não for caso de absolvição
sumária, talvez seja caso da declaração de sua inimputabilidade:

RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. TRIBUNAL DO JÚRI. PRONÚNCIA.

ART. 121, § 2º, INCS. III (MEIO CRUEL) E IV (RECURSO QUE
DIFICULTA A DEFESA), DO CÓDIGO PENAL. INSURGÊNCIA DA
DEFESA. INIMPUTABILIDADE DO RÉU, QUE SOFRE DE
ESQUIZOFRENIA E ERA, AO TEMPO DO FATO, INTEIRAMENTE
INCAPAZ DE ENTENDER O CARÁTER ILÍCITO DO FATO E
INTEIRAMENTE INCAPAZ DE DETERMINAR-SE DE ACORDO
COM ESSE ENTENDIMENTO. CONCLUSÃO EXTRAÍDA DE LAUDO
TÉCNICO PRODUZIDO EM INCIDENTE DE INSANIDADE MENTAL.
ABSOLVIÇÃO IMPRÓPRIA. POSSIBILIDADE. ÚNICA TESE EXPOSTA
PELA DEFESA DO RÉU. LEITURA DO ART. 26 DO CÓDIGO PENAL EM
CONJUNTO COM O ART. 415, INC. IV, PARÁGRAFO ÚNICO, DO
CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. APLICAÇÃO DE MEDIDA DE
SEGURANÇA. CIRCUNSTÂNCIAS CONCRETAS QUE RECOMENDAM
A INTERNAÇÃO EM HOSPITAL DE CUSTÓRIA E TRATAMENTO
PSIQUIÁTRICO, PELO PRAZO MÍNIMO DE 1 (UM) ANO (ART. 97, § 1º,
DO CÓDIGO PENAL). 1. "Nos termos do artigo 415, parágrafo único, do
Código de Processo Penal, o juiz poderá absolver desde logo o acusado
pela prática de crime doloso contra a vida se restar demonstrada a sua
inimputabilidade, salvo se esta não for a única tese defensiva (RHC
39.920/RJ, rel. Min. Jorge Mussi, j. 6.2.2014)" (Recurso Criminal n.
2014.067429-3, da Capital, rel. Des. Rodrigo Collaço, Quarta Câmara
Criminal, j. 30-10-2014). 2. "O entendimento pacificado desta Corte Superior
é no sentido de que a aplicação da medidas de segurança a inimputável não
está adstrita à recomendação técnica tampouco à natureza da pena privativa de
liberdade aplicável, devendo o julgador levar em consideração as
particularidades do caso bem como a periculosidade do agente a fim de optar
pelo tratamento mais apropriado, em homenagem aos princípios da adequação,
 da razoabilidade e da proporcionalidade" (AgRg no HC n. 736.312/SC, rel.
Ministro Joel Ilan Paciornik, Quinta Turma, j. em 6-3-2023, DJe de 9-3-2023).
RECURSO CONHECIDO E PROVIDO EM PARTE. (TJSC, Recurso em
Sentido Estrito n. 5072384-55.2023.8.24.0023, do Tribunal de Justiça de Santa
Catarina, rel. Alexandre d'Ivanenko, Quarta Câmara Criminal, j. 23-11-2023,
grifei).

Portanto, caso não acolhida a preliminar de absolvição sumária por ausência de

provas, pede-se que antes da audiência seja submetido o processado a exame médico-legal, a fim
de verificar se é ou não esquizofrênico.

§3º. DOS PEDIDOS

Ante o que se expôs, requer:

a) Seja absolvido sumariamente o réu por ausência de narrativa lógica e provas

suficientemente contundentes do ocorrido;
b) Antes de qualquer audiência, seja o réu submetido a exame médico-legal por
conta de provável inimputabilidade;
c) Receba esta resposta à acusação como negativa geral dos fatos apontados na
denúncia;
d) Em instrução, após intimação pelo juízo, seja ouvida a vítima;
e) Intimações ao causídico, sob as penas de praxe.

Tubarão/SC, 02 de maio de 2024.

GEAN RAPHAEL DA SILVA

OAB/SC 65.245