Você está na página 1de 11

See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.

net/publication/262612488

Behavioral approach applied to career


counseling with adolescents: the evaluation of
an experience

Article in Estudos de Psicologia (Campinas) · April 2002


DOI: 10.1590/S0103-166X2002000100001

READS

392

2 authors, including:

Jocelaine Silveira
Universidade Federal do Paraná
21 PUBLICATIONS 23 CITATIONS

SEE PROFILE

Available from: Jocelaine Silveira


Retrieved on: 12 July 2016
ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO 5

ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL SOB O ENFOQUE


DA ANÁLISE DO COMPORTAMENTO:
AVALIAÇÃO DE UMA EXPERIÊNCIA

BEHAVIORAL APPROACH APPLIED TO CAREER COUNSELING


WITH ADOLESCENTS:
THE EVALUATION OF AN EXPERIENCE

Cynthia Borges de MOURA1


Jocelaine Martins da SILVEIRA2

RESUMO

O objetivo deste trabalho foi avaliar uma experiência de atendimento de


grupo em Orientação Profissional segundo o enfoque da Análise do
Comportamento. Procurou-se avaliar as mudanças ocorridas no
comportamento dos adolescentes quanto aos indicadores da escolha
profissional. Participaram da intervenção dez adolescentes, de ambos
os sexos, com idades entre 15 e 19 anos, alunos do Ensino Médio. O
programa constou de nove sessões semanais estruturadas para
discussão da problemática vocacional, focalizadas no desenvolvimento
de auto-conhecimento e conhecimento das profissões. Antes do início e
ao final dos atendimentos foi aplicado um instrumento contendo questões
referentes aos indicadores da escolha profissional para levantamento de
dados a serem comparados. Os resultados mostraram que 50% dos
adolescentes conseguiram efetivar a escolha profissional e os outros
50% avançaram quanto aos critérios pessoais de seleção profissional.
Estes resultados indicam que o modelo parece efetivo e necessita ser
aprimorado para alcançar as necessidades de todos os adolescentes
que procuram pelo Programa.
Palavras-Chave: Orientação Profissional, Orientação Vocacional, Escolha
Profissional, Análise do Comportamento.

(1)
Universidade Estadual de Londrina.
(2)
Universidade Estadual de Londrina.
Endereço para Correspondência: Universidade Estadual de Londrina
Departamento de Psicologia Geral e Análise do Comportamento
Campus Universitário - Caixa Postal 6001 - CEP: 86051-990
E-mail: jsilveira@sercomtel.com.br / cybmoura@uol.com.br - Fone: (043) 371-4227 (com.) ou 339-4016 (res.)

Rev. Estudos de Psicologia, PUC-Campinas, v. 19, n. 1, p. 5-14, janeiro/abril 2002


6 C.B. MOURA & J.M. SILVEIRA

ABSTRACT

This work aimed at evaluating na experience of group assistance in


Career Counseling according to the Behavioral Approach. Attempsts
were made to evaluate the changes that took place in the behavior of
adolescents regarding the indicators of professional choice. Tem
adolescents, both male and female, ranging from 15 to 19 years of age,
attending high school participated in the intervention. The orientation
program consisted in nine weekly sessions, outlined towards the
discussion of the vocational issue. The sessions focused on the
development of self-knowledge and the knowledge of the professions. At
the beginning and end of the program na instrument with questions about
the indicators of professional choice was applied, to collect data for
further comparison. The results showed that 50% of the adolescents
managed to make a professional choice, whereas the other 50% made
progress concerning personal criteria for professional decision. The results
indicated that the model seems to be effective and needs to be improved
to reach the needs of the adolescents that look for the Program’s
assistance.
Key-words: Career Counseling, Vocational Guidance, Professional
Choice, Behavioral Analysis.

Este trabalho refere-se a sistematização decisão mais consciente por parte do


de um Programa de Orientação Profissional adolescente.
segundo o referencial teórico da Análise do
Comportamento. Esta proposta surgiu frente a Delineando um modelo comportamental
crescente demanda na área de Orientação de Orientação Profissional
Profissional, a necessidade de
desenvolvimento de um instrumental adequado A Análise do Comportamento não possui
para lidar com a complexidade desta um modelo estruturado da prática em
problemática e a escassez, ou inexistência, Orientação Profissional, embora ofereça
de trabalhos sistematizados que se proponham possibilidade de interpretação da problemática
a investigar o dilema da escolha profissional da escolha profissional. Freqüentemente, os
de forma elaborada, principalmente sob o ponto
analistas do comportamento se esquivam da
de vista comportamental.
tarefa de ajudar adolescentes a optar pelas
O presente estudo investigou a profissões, encaminhando clientes com esta
efetividade do emprego da Análise Funcional demanda para outros profissionais. Por vezes,
do Comportamento como método que norteou
realizam trabalhos de orientação profissional
estratégias de intervenção para ajudar
sem, no entanto, preocuparem-se em relatar
adolescentes na escolha profissional. Partiu-se
seus procedimentos para a comunidade de
do pressuposto de que a Análise do
Comportamento tem importantes contribuições clínicos.
para a área de Orientação Profissional dado Este fato parece ser decorrente da recusa
seu caráter funcionalista, contextualista e em aderir aos modelos tradicionais de
diretivo, podendo realizar análise de aconselhamento nesta área, o qual tem sido
contingências direcionada a uma tomada de costumeiramente chamado de “Orientação

Rev. Estudos de Psicologia, PUC-Campinas, v. 19, n. 1, p. 5-14, janeiro/abril 2002


ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO 7

Vocacional”. Por sua conotação tradi- informação relevante sobre as profissões de


cionalmente mentalista, o termo “vocação” interesse, discutindo compatibilidades e
pode ter afastado o interesse de Analistas do perspectivas; e 3) aumentar a probabilidade de
Comportamento pela problemática, pois dito ocorrência de comportamentos relacionados
de outro modo, “descobrir a vocação” implica à escolha e/ou à tomada de decisão.
num engajamento em diversos
comportamentos relacionados à escolha A decisão como um processo
profissional. comportamental

Analisando comportamentalmente a Segundo Skinner (1989) o


“vocação” comportamento de decidir é essencialmente
um processo de geração de condições que
Em primeiro lugar, há que se pensar qual tornarão um dado curso de ação mais provável
o conceito de “vocação” para a Análise do que outro. O processo pode ser ilustrado por
Comportamento. Parece evidente a rejeição meio do exemplo de alguém que se diz decidido
do modelo de “vocação” como algo inerente a a passar as férias na praia, ao contar isso aos
pessoa, determinado internamente e que colegas, a pessoa controla o curso de seu
precisa apenas ser desvelado ao seu portador. próprio comportamento, reduzindo a
Partindo de uma visão de homem probabilidade de mudar de idéia. “Decidir-se”
completamente diferente (Skinner, 1974, 1989), é, para Skinner, antes de tudo, um “processo”,
a Análise do Comportamento entende o qual está relacionado a uma classe de
“vocação” como uma construção pessoal, ou, estímulos, muitas vezes manipulada pela
como um conjunto complexo de variáveis filo e própria pessoa que está se decidindo.
ontogenéticas que se arranjam de forma única
Em suma, a prática de orientação
para cada indivíduo. Dito de outra forma, a
profissional sob o enfoque da análise do
“vocação” é um conceito socialmente
comportamento pressupõe a modelagem de
construído, na medida em que existe um
classes comportamentais relacionadas à
conjunto de valores e normas sociais aos
escolha e à decisão que são, em si mesmas
quais se espera que as pessoas respondam,
“processos”. Desse modo, o produto ou o
adequando suas características a padrões de
conteúdo da escolha são de menor relevância
um dado momento histórico. quando comparados à primazia da
Portanto, a “vocação” de uma pessoa é aprendizagem de decidir e/ou escolher, que
socialmente determinada e implicará numa caracteriza o objetivo geral da Orientação
combinação única de sua história genética, Profissional. De acordo com o que foi exposto,
pessoal, familiar e cultural. O arranjo destas o processo de escolha requer o oferecimento
variáveis ao longo da vida do indivíduo irá de classes de estímulos que se traduzem
encaminhá-lo para o desenvolvimento de pelas chamadas “opções profissionais” a
interesses e habilidades que deverão se serem consideradas.
enquadrar em um conjunto razoavelmente
restrito de opções profissionais (Macedo, 1998). O Comportamento Verbal na Orientação
Um procedimento de aconselhamento Profissional
profissional nos moldes comportamentais deve:
l) levar o indivíduo a discriminar as variáveis Tanto quanto a análise do contexto de
destes diferentes contextos de controle às vida do adolescente, é importante o
quais seus comportamentos de escolher e de conhecimento das regras às quais ele
decidir estão expostos; 2) proporcionar responde. “Como o orientando comporta-se

Rev. Estudos de Psicologia, PUC-Campinas, v. 19, n. 1, p. 5-14, janeiro/abril 2002


8 C.B. MOURA & J.M. SILVEIRA

verbalmente durante as sessões?” Essa modelos decisionais (Hilton, 1959; Hershenson


pergunta levará o analista do comportamento e Roth, 1966; Gati, 1986; Gati, Shenhav e
a 1) identificar pensamentos e sentimentos Givon, 1993) têm contribuído ao proporem a
relativos a escolha profissional; 2) interpretar delimitação de um procedimento seqüencial
como os contextos passado e presente do para orientar o processo de tomada de decisão,
adolescente interferem na tomada de decisão; categorizando e sugerindo passos a serem
3) identificar (para, posteriormente alterar) dados em direção a uma decisão efetiva.
regras mantenham relações impróprias ou Estabelecendo um paralelo com a intervenção
distorcidas com contingências reais que se do analista do comportamento, este pode
refiram à escolha profissional. O orientador valer-se do treino de habilidades básicas,
avalia com os adolescentes a adequação de levando o orientando a avançar sucessivamente
algumas regras e frequentemente discute em sua escolha (modelagem) e analisando
com eles regras tais como: “Eu preciso acertar alternativas passo a passo, segundo alguns
na minha escolha porque ela é definitiva e será critérios selecionados rumo a uma decisão
irreversível” ; “O dano para a minha vida será terminal.
irreparável, caso eu me engane na escolha”,
“Se eu optar pela carreira ‘certa’ eu não O que a Análise do Comportamento tem a
encontrarei obstáculos profissionais”, as quais oferecer à Orientação Profissional?
impedem a consideração de mudanças nos
rumos profissionais caso hajam alterações Azrin e Besalel (1980) publicaram um
nas contingências presentes ou futuras. programa de reabilitação vocacional
fundamentado pela análise comportamental.
Contribuições de outras abordagens a O programa é voltado para pessoas
compreensão do problema desempregadas que buscam recolocar-se no
mercado de trabalho e aponta vários
Em nossa experiência de Orientação pressupostos da orientação vocacional que
Profissional sob enfoque da Análise do podem nortear intervenções com outras
Comportamento temos, por meio de leituras populações. Segundo estes autores, a
de textos clássicos, buscado informações abordagem comportamental ao aconselha-
oriundas da prática tradicional em Orientação mento vocacional tem várias características
Vocacional. Acreditamos que a experiência que a diferencia de outras abordagens: 1) as
desses clínicos pode trazer indicações úteis estratégias são prioritariamente orientadas para
de caracterização da população, bem como o resultado: encontrar emprego (ou, no caso,
de recursos e técnicas de intervenção, que decidir-se por uma profissão), 2) a intervenção
com algumas modificações venham
enfatiza a aprendizagem como determinante
complementar nossa prática. Por exemplo, os
do comportamento ao invés das habilidades
modelos psicodinâmicos (Holland, 1971; Roe,
ou predisposições inatas, sendo que um
1972; Bohoslavsky, 1977) apontam a
treinamento adequado pode levar o indivíduo
importância da inclusão de metas voltadas
ao alcance das habilidades necessárias para
tanto para o auto-conhecimento, quanto para
uma profissão, e 3) os conselheiros fazem uso
o conhecimento das profissões no processo
de orientação. Esta proposta corresponde a do reforçamento de múltiplas fontes para obter
um dos objetivos do analista do comportamento mudanças comportamentais e um aumento na
que promoverá auto-conhecimento ao analisar motivação para seguir o processo de busca de
funcionalmente com o adolescente, as variáveis informação.
das quais o comportamento de escolha Desta forma, considera-se que Análise
profissional é função. Por outro lado, os do Comportamento possa contribuir com a

Rev. Estudos de Psicologia, PUC-Campinas, v. 19, n. 1, p. 5-14, janeiro/abril 2002


ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO 9

prática de orientação profissional a medida Local: Os atendimentos foram realizados


em que estabelece um referencial teórico que nas dependências da Clínica Psicológica da
coloca a escolha profissional em uma Universidade Estadual de Londrina.
perspectiva abrangente, tornando o orientando Procedimento:
sujeito ativo em sua escolha. Além disso,
O procedimento constou de três fases:
dispõe de um conjunto de procedimentos de
intervenção que dão conta de aspectos centrais 1ª Fase: Pré-Teste: Antes do início dos
da tomada de decisão. Estas contribuições atendimentos foi feita uma caracterização dos
parecem suficientemente amplas para abarcar sujeitos e o levantamento preliminar da
o conjunto de variáveis envolvidas na escolha situação atual dos adolescentes em relação a
escolha da profissão através de um instrumento
profissional e fornecer ao adolescente o apoio
contendo questões referentes a indicadores
necessário para a superação de seus conflitos
relevantes da escolha profissional (adaptado
rumo a uma escolha consciente, baseada em
de Vasconcellos, Oliveira & Carvalho, 1976).
suas possibilidades concretas.
2ª Fase: Intervenção: O programa de
Orientação Profissional constou de nove
Objetivo
sessões estruturadas para discussão da
problemática vocacional dos adolescentes, os
O objetivo deste trabalho foi avaliar uma
quais receberam atendimento em grupo. As
experiência de Orientação Profissional segundo
sessões foram focalizadas no desenvolvimento
o enfoque da Análise do Comportamento do processo de auto-conhecimento e
através da verificação de mudanças ocorridas conhecimento das profissões. Cada grupo
no comportamento de escolha profissional de atendido constou de sessões semanais com
adolescentes que foram submetidos aos duração de duas horas, sob a coordenação de
Programa de Orientação. Hipotetizou-se que dois orientadores e tiveram a presença de um
uma intervenção sistematizada e focalizada observador, que permaneceu na sala para
nesta problemática e em seus determinantes registro dos dados.
poderia levar a ocorrência de progressos O Programa de intervenção foi estruturado
significativos no comportamento de tais da seguinte maneira: as sessões de um a três
adolescentes em relação aos indicadores da deram ênfase para o trabalho de auto-
escolha profissional e assim demonstrar a conhecimento, visando promover discriminação
efetividade da aplicação do enfoque de habilidades, aptidões, interesses,
comportamental à Orientação Profissional, aspirações, perspectivas pessoais e sociais
apontando um caminho para o aprimoramento relacionadas com as condições de vida de
da presente proposta em investigações futuras. cada adolescente. As sessões de quatro a
seis estão voltadas para o trabalho de
fornecimento de informação sobre as
Método
profissões visando aumentar a consciência
das contingências relacionadas com: carreiras,
Sujeitos: Participaram da intervenção
cursos de nível técnico e superior, vestibulares
10 adolescentes, sendo 06 femininos e 04
e mercado de trabalho. Buscou-se ainda
masculinos com idades entre 15 e 19 anos, desenvolver habilidades básicas de busca de
todos cursando o Ensino Médio. Três grupos informações concretas e atualizadas sobre
foram atendidos concomitantemente, e os uma dada profissão. Por último, as sessões
resultados dos 10 sujeitos que completaram de sete a nove visaram a integração das
integralmente o processo de intervenção foram informações obtidas até então e fomento à
agrupados para fins de análise. tomada de decisão efetiva.

Rev. Estudos de Psicologia, PUC-Campinas, v. 19, n. 1, p. 5-14, janeiro/abril 2002


10 C.B. MOURA & J.M. SILVEIRA

3ª Fase: Pós-Teste: Para que os dados ao Programa. Os fatores “gosto pela profissão”;
fossem comparados, ao final das nove sessões, “habilidades e aptidões”; “contato prévio (com
os adolescentes foram novamente submetidos a profissão)” e “orientação profissional” não se
ao mesmo instrumento utilizado no pré-teste. alteraram, comparando-se o pré e o pós-teste.
Os adolescentes esponderam ainda a um Ao final do processo, seis adolescentes
questionário de Auto-avaliação e de Avaliação consideraram-se bem informados acerca de
do Programa de Orientação. uma profissão favorita. Outros quatro
adolescentes passaram a se considerar bem
Resultados informados sobre suas segundas e terceiras
opções de escolha profissional, enquanto que
Os resultados apresentados a seguir no início da intervenção, para qualquer das
referem-se ao agrupamento comparativo dos
opções consideradas, o nível de informação
dados provenientes de três grupos de
era muito baixo, variando de zero a dois.
intervenção que foram atendidos
concomitantemente. Como houveram algumas No pós-teste, houve uma diminuição da
desistências nos grupos, os dez sujeitos que influência de fatores que dificultavam a tomada
finalizaram os atendimentos foram agrupados de decisão em relação à profissão para todos
para fins de análise, uma vez que o mesmo os participantes. Entretanto, 50% das
procedimento foi mantido para os três grupos respostas indicaram que os adolescentes ainda
de sujeitos. sentiam-se atraídos por diferentes carreiras.
No início, todos os adolescentes O fator “pouco conhecimento sobre as
apresentaram dúvida entre três opções profissões”, indicado com alta freqüência no
profissionais, ao passo que, ao final, 50% pré-teste, deixou de ser relatado pelos
considerou entre uma e duas profissões para adolescentes após a intervenção. Apenas um
escolha. Entre os que mantiveram três opções, participante indicou que tinha pouco
alguns rearranjaram a ordem de prioridades e conhecimento sobre os cursos no pós-teste,
outros incluíram opções não antes enquanto que três o indicaram no início. Os
consideradas. fatores “dificuldade para estudar fora da cidade”;
A influência da opinião da família e de “falta de base para o curso”e “falta de método
amigos foi minimizada ao final da intervenção, adequado de estudo”, indicados no início não
sua freqüência foi reduzida de um para zero; foram citados no pós-teste como fatores que
enquanto que a percepção sobre caracte- dificultam a decisão.
rísticas pessoais incompatíveis com certas
Quanto aos sentimentos descritos pelos
profissões apresentou aumento de dois para
quatro. Verificou-se que a probabilidade de adolescentes no processo de decisão, verifica-
empregar-se na profissão foi um fator indicado -se um aumento dos relatos de experiências
duas vezes no início e três vezes no pós-teste. subjetivas no sentido “segurança”, considerando-
As vantagens financeiras oferecidas foram -se um continuum insegurança-segurança. No
citadas cinco vezes ao final do programa e três pré-teste, nenhum adolescente considerou-se
vezes no pré-teste. O status social atribuído “inteiramente seguro”, em contraposição a
às profissões passou a exercer influência na dois que assim se descreveram ao final do
escolha profissional, tendo sido indicado uma processo de Orientação Profissional. A
vez no pós-teste. Por outro lado, somente um indicação de “sinto-me inseguro” ocorreu cinco
adolescente indicou o fato de “dispor de vezes no pré-teste e apenas duas vezes ao
informações apenas sobre uma dada profissão” final do programa. Entretanto, quatro dos
como influente na escolha, após ser submetido adolescentes não descreveram mudanças nos

Rev. Estudos de Psicologia, PUC-Campinas, v. 19, n. 1, p. 5-14, janeiro/abril 2002


ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO 11

sentimentos de segurança, comparando-se o dos adolescentes. Em contrapartida, o status


pré e pós-teste. social atribuído às profissões, as possibilidades
Observa-se que, ao final do processo de de emprego e vantagens financeiras que, antes
orientação, quatro dos dez adolescentes não exerciam influência sobre os critérios de
estavam decididos quanto à profissão, o que escolha, passaram a ser consideradas. Talvez
fora indicado por apenas um deles no pré- isso se deva ao fornecimento de informações
teste; quatro consideraram-se “quase sobre as profissões e à aproximação do
decididos” (três o indicaram no pré-teste) e orientando às contingências relacionadas a
outros dois localizavam-se entre “indecisos” uma dada carreira, diminuindo expectativas
(três indicaram esse fator no início) ou “com irreais. Essa interpretação parece ser
dificuldade” para efetivar uma escolha, tendo corroborada por uma freqüência menor de
sido indicado duas vezes no pré-teste e duas apontamentos, no pós-teste, do fator “dispor
vezes no final do programa. de informações apenas sobre uma profissão”
como influente na escolha. Um número maior
Discussão de adolescentes foi capaz de identificar
“profissões incompatíveis com suas
A comparação do pré e pós-teste sugere habilidades”, como um fator que influenciou a
que a prática de Orientação Profissional sob exclusão de opções, o que sugere um aumento
enfoque da Análise do Comportamento parece do auto-conhecimento e do conhecimento das
se constituir numa forma promissora de características das profissões. De fato, o
intervenção em aconselhamento clínico.
número de adolescentes que se considerou
Embora uma das estratégias de bem informado sobre as opções profissionais
intervenção consistisse na promoção de entre as quais estavam em dúvida aumentou
aumento na variabilidade de opções e critérios sensivelmente no pós-teste.
de escolha, o efeito, ao final do processo de
A Orientação Profissional não foi indicada
orientação, foi uma restrição do número de
antes, nem depois do processo de
opções entre as quais os adolescentes
aconselhamento como fator que estivesse
apresentavam dúvida. Isto sugere que o
influenciando a escolha da profissão. Isso
processo de Orientação Profissional foi eficaz
parece indicar que o processo de
na modelagem de comportamentos
aconselhamento não teve caráter coercitivo,
relacionados à tomada de decisão. Os
embora fosse diretivo. Aparentemente, a
adolescentes parecem ter eliminado algumas
orientação apenas esteve relacionada com a
opções de profissões que, inicialmente
diminuição da influência de outros fatores
consideravam interessantes, ao receberem
coercitivos. Já o “contato prévio” com as
mais informações sobre diversas profissões.
profissões, o gosto por elas e as “habilidades
Investigar o processo individual dos
e aptidões” foram fatores indicados como
adolescentes que se mantiveram em dúvida
influentes na escolha, tanto antes quanto ao
entre três opções profissionais, ou seja, que
não apresentaram mudança com o curso do final da Orientação Profissional.
processo, poderia lançar luz sobre quais Os conselhos parecem ter sido menos
estratégias de intervenção mereceriam ser indicados como influentes na escolha, ao final
acrescentadas ou removidas em do processo, pelo fato de os adolescentes
aconselhamentos futuros. terem sido encorajados a buscarem de modo
Verificou-se, após a orientação, que a autônomo e direto as informações relevantes
opinião da família e dos amigos deixou de sobre as profissões. Isso parece ser
exercer influência marcante sobre a escolha corroborado pela indicação dos adolescentes

Rev. Estudos de Psicologia, PUC-Campinas, v. 19, n. 1, p. 5-14, janeiro/abril 2002


12 C.B. MOURA & J.M. SILVEIRA

que afirmaram estar mais informados, sobre a são variáveis relevantes a serem consideradas
opção profissional de maior interesse, (se como influentes, principalmente em se tratando
primeira, segunda ou terceira) propor- de adolescentes.
cionalmente, o que sugere um processo ativo Finalmente, deve-se considerar a
de busca de informação relevante. necessidade de aprimoramento do instrumento
A intervenção pareceu diminuir a empregado no pré e pós-teste, pois algumas
quantidade de fatores que dificultavam a decisão informações relevantes sobre o processo
individual pareceram se dispersar nas
profissional. Embora ainda houvesse dúvidas
categorias estabelecidas, dificultando a
no pós-teste quanto ao mercado de trabalho
confrontação dos dados para fins de
e os cursos, pode-se notar que o pouco
comparação, enquanto outras questões foram
conhecimento das profissões, freqüentemente muito amplas para que os adolescentes
apontado no pré-teste, deixou de ser um fator pudessem expressar de forma objetiva os
que dificultava a decisão ao final da orientação. ganhos obtidos com o processo de
Verifica-se que 50% dos adolescentes ainda orientação.
sentiam-se atraído por diferentes carreiras ao
Além disso, as estratégias de
final da orientação, porém, a maior parte dos
intervenção eficazes no desenvolvimento da
relatos subjetivos dos sentimentos vivenciados
habilidade de selecionar opções profissionais
pareceu migrar de “inseguros” para “seguros”
prévias merecem ser propostas e testadas.
e “inteiramente seguros”.
Afinal, os dados sugerem que essa
Ao término do processo de orientação, habilidade se traduz em um passo inicial,
quatro, dos dez adolescentes consideraram-
sem a qual o repertório de tomada de decisão
-se decididos quanto a profissão e outros dois torna-se inefetivo, fazendo com que a tarefa de
afirmaram estar “quase decididos”. A escolha profissional seja custosa e arriscada
orientação pareceu auxiliar mais àqueles
para o adolescente.
adolescentes que estavam indecisos, mas já
dispunham de algumas opções, do que àqueles
que ainda não tinham selecionado as opções
CONCLUSÃO
a serem consideradas. Esse dado sugere que
estratégias diferentes devam ser empregadas O presente estudo, apesar de constituir-
para ajudar adolescentes que ainda não
-se numa avaliação inicial de uma experiência
dispõem de opções para escolha profissional,
integrando Análise do Comportamento e
ao passo que, para aqueles que já dispõem
Orientação Profissional, sugere que uma
dessas opções, o programa sistematizado
intervenção sistematizada e focalizada na
demonstrou ser promissor.
problemática da escolha profissional e em
Quanto a este resultado, deve-se seus determinantes pode levar a ocorrência de
considerar ainda que tais adolescentes não progressos significativos no comportamento
participaram do mesmo grupo de orientação. de adolescentes em relação aos indicadores
Sendo assim, mesmo sob influência das da escolha profissional.
mesmas estratégias clínicas, o resultado mais Partindo-se dos conhecimentos prévios
ou menos próximo de uma tomada de decisão quanto a importância de se trabalhar com
segura, também deve ser atribuído a forma de auto-conhecimento e conhecimento das
condução dos grupos por diferentes terapeutas. profissões (Lucchiari, 1993; Billups e Peterson,
Sabe-se que a forma como as estratégias são 1994; Neiva, 1995; Macedo, 1998) foi possível
empregadas e as características pessoais avançar não apenas sobre a proposição de
mais ou menos facilitadoras dos terapeutas estratégias adequadas aos objetivos, mas

Rev. Estudos de Psicologia, PUC-Campinas, v. 19, n. 1, p. 5-14, janeiro/abril 2002


ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL E ANÁLISE DO COMPORTAMENTO 13

sobre a forma como tais estratégias foram testando formas de intervenção que fomentem
implementadas no processo de tomada de o desenvolvimento desses requisitos básicos,
decisão. e auxiliem tais adolescentes, da mesma forma,
As estratégias de intervenção visaram no processo de decidir seu futuro profissional.
principalmente o aumento na variabilidade No momento, este estudo nos permite
comportamental dos adolescentes quanto concluir que, assim como no modelo de
ao contato com o contexto das profissões. Reabilitação Profissional proposto por Azrin e
Partia-se do pressuposto que aumentando as Besalel (1980), os princípios comportamentais
informações quanto a critérios relevantes de mostraram-se úteis para o desenvolvimento de
escolha (aqueles relativos a características programas estruturados de Orientação
pessoais e das profissões), os adolescentes Profissional com adolescentes. Desta forma,
fossem mais capazes de restringir suas a Análise do Comportamento parece oferecer
opções com base na seleção de seus uma base conceitual promissora para que os
próprios critérios (Gati, 1986; Gati, Shenhav programas de Orientação Profissional possam
e Givon, 1993). fundamentar-se numa análise cuidadosa da
A escolha de critérios de seleção/ dificuldade de escolha de cada adolescente,
exclusão de opções é muito importante no oferecendo uma forma de auxilio efetivo neste
processo de tomada de decisão, pois sabe-se processo, qualquer que seja seu repertório de
que a integração do conhecimento sobre si entrada quanto à tomada de decisão.
mesmo e sobre profissões não leva mais a
uma combinação única homem/profissão
(Macedo, 1998). Desta forma, os adolescentes REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
foram levados a explorar as profissões através
de material atualizado, que possibilitasse a AZRIN, N.H. & Besalel, V.A. (1980). Job Club
eles acesso a informações específicas sobre Counselor’s Manual: A behavioral approach
as mudanças emergentes dos cursos e to vocational counseling. Austin: Pro-ed.
mercado de trabalho. E a conhecer não só
BILLUPS, A. & Peterson, G.W. (1994). The
seus atuais interesses e habilidades, mas
Appreciation of Career Literature in
também suas potencialidades, as quais podem
Adolescents. The Career Development
vir a ser desenvolvidas mediante um bom
Quarterly. 42, 229-237.
treinamento técnico, para atenderem a
exigências profissional que sejam de interesse BOHOSLAVSKY, R. (1977). Orientação
pessoal. vocacional: A estratégia clínica. São Paulo:
Além disso, a presente avaliação permitiu Martins Fontes.
identificar no repertório dos adolescentes, GATI, I. (1986). Making career decision - A
aspectos comportamentais considerados sequential elimination approach. Journal of
requisitos básicos para que uma escolha efetiva Counseling Psychology, 33, 408-417.
se torne mais provável. Por exemplo, a diferença
observada entre os adolescentes que trouxeram GATI, I., Shenhav, M. & Givon, M. (1993).
Process involved in carrer’ preferences and
opções prévias para a Orientação e os que não
compromises. Journal of Counseling
dispunham delas. Os que haviam selecionado
Psychology. 40 (1), 53-64.
previamente algumas opções a serem
consideradas responderam melhor às HERSHENSON, D. S. & Roth, R. M. (1966). A
estratégias utilizadas neste modelo de decisional process model of vocational
intervenção. Estudos ulteriores poderão development. Journal of Couseling
explorar mais este aspecto, propondo e Psychology,13 (3), 368-370.

Rev. Estudos de Psicologia, PUC-Campinas, v. 19, n. 1, p. 5-14, janeiro/abril 2002


14 C.B. MOURA & J.M. SILVEIRA

HILTON, T. L. (1959). Career decision- NEIVA, K. M. C. (1995). Entendendo a


making. Journal of Couseling Orientação Profissional. São Paulo: Paulus.
Psychology, 6, 291-298.
ROE, A. (1972). Psicologia de las profesiones.
HOLLAND, J. (1971). Técnica de la elección Madri: Marova.
vocacional: tipos de personalidad y modelos SKINNER, B. F. (1974). Sobre o Behaviorismo.
ambientales. México: Trillas. São Paulo: Cultrix.
LUCCHIARI, D.H.P.S. (Org). (1993). Pensando SKINNER, B. F. (1989). Ciência e
e Vivendo a Orientação Profissional. São Comportamento Humano. São Paulo:
Paulo: Summus. Martins Fontes.
MACEDO, R. B. M. (1998). Seu diploma, sua VASCONCELLOS, M. J .E., Oliveira, A. L. Q.
prancha: como escolher a profissão e & Carvalho, M. A. V. (1976). Curso de
surfar no mercado de trabalho. São Paulo: Informação Profissional, Belo Horizonte:
Saraiva. Vigília, Rio de Janeiro: FENAME.

Rev. Estudos de Psicologia, PUC-Campinas, v. 19, n. 1, p. 5-14, janeiro/abril 2002

Você também pode gostar