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Escrito por Cristiano Gomes e Zeliane Sampaio

2024

Clube do Professor Brincalhão


As crianças são imersas em jogos de linguagem, onde

cada uma, em seu contexto específico, desenvolve uma

forma particular de se comunicar. Por exemplo, as

crianças que crescem em uma comunidade de

pescadores à beira-mar podem desenvolver jogos de

linguagem que refletem o ambiente e as práticas dessa

comunidade. Da mesma forma, crianças que vivem em

ambientes urbanos, cercadas por ônibus e outros meios

de transporte, podem incorporar esses elementos em

sua linguagem.

Para Wittgenstein, esses jogos de linguagem não são

apenas formas de comunicação, mas também refletem

a subjetividade e a realidade daqueles que os utilizam.

Cada jogo de linguagem é moldado pelo contexto


cultural, histórico e social em que ocorre, refletindo não

apenas como as pessoas se comunicam, mas também

como pensam e percebem o mundo ao seu redor.

Assim, Wittgenstein nos convida a pensar na linguagem

não como algo fixo e universal, mas como algo

dinâmico e contextualizado. Cada grupo, comunidade

ou cultura pode ter seus próprios jogos de linguagem,

suas próprias maneiras de dar sentido ao mundo e de

se expressar. Essa perspectiva destaca a importância

do contexto na compreensão da linguagem e da

comunicação, mostrando como as palavras e os

significados estão enraizados nas práticas e nas

experiências cotidianas das pessoas.


As crianças produzem textos mesmo antes de

serem alfabetizadas?

Sim, elas produzem por meio de diferentes linguagens. A foto

do desenho acima é de Pedro (5 anos) e reflete exatamente

como o contexto e a observação das crianças são

evidenciados mesmo antes da escrita. A imagem mostra a sua

visão da janela de sua casa. Nela podemos ver a chuva, os

ônibus e até mesmo os aviões. A observação da imagem


revela ainda mais detalhes, como por exemplo os ônibus

biarticulados e até mesmo a marca "AZUL" nos aviões. Enfim,

um texto complexo da sua visão de mundo foi representado

por um desenho que conta uma história complexa.


A teoria dos "túneis de realidade" de Robert Anton

Wilson segue na mesma linha de pensamento,

sugerindo que cada criança possui seu próprio "túnel de

realidade". Por exemplo, crianças que crescem em

ambientes rurais estão imersas em termos como

agricultura, colheita, plantio, nomes de animais, e

principalmente, em relações ecológicas. Esses "túneis

de realidade" mostram que cada criança tem seu

conjunto único de símbolos, signos, expressões, lendas

e histórias.

Isso significa que mesmo falando o mesmo idioma, as

crianças podem interpretar e criar significados de

maneiras diferentes, de acordo com o contexto em que

estão imersas.
Assim como Wittgenstein, Wilson nos leva a refletir

sobre como a linguagem e a percepção são moldadas

pelas experiências individuais e pelo ambiente em que

cada um está inserido. Cada "túnel de realidade" é único

e pessoal, refletindo não apenas a linguagem, mas

também as crenças, valores e experiências de vida de

cada pessoa.

Dessa forma, os "túneis de realidade" de Wilson e os

"jogos de linguagem" de Wittgenstein convergem em

mostrar que a comunicação e a compreensão não são

universais e estáticas, mas sim dinâmicas e

contextualizadas. Cada criança, assim como cada

indivíduo, tem seu próprio mundo de significados e

interpretações, moldado por seu contexto cultural,

social e experiencial.
Um texto que reflete os signos, símbolos e

imaginário, formando um túnel de realidade.

A imagem acima é de um projeto desenvolvido pelo Lar Dorcas

em Minas Gerais. As crianças fizeram uma pergunta intrigante

para as professoras: "Existe vida em outros planetas?" E as

professoras, ao invés de darem uma resposta, fizeram uma

nova pergunta: "O que vocês acham? Vamos inventar?" E


dentre muitos planetas surgiu este chamado de planeta

"Crente", mostrando o túnel de realidade de algumas das

crianças. Com elementos trazidos das vivências delas,

podemos ver nascer um planeta constituído por elementos que

fazem parte da tradição e da cultura.

Além do planeta "Crente", surgiram também o planeta de gelo,

o planeta roxo e o planeta de fogo. Os desenhos compõem

uma resposta à pergunta: "Existe vida em outros planetas?" e


acabam sendo textos complexos que envolvem vegetação,

geologia, personagens e tramas. Esses desenhos são textos

que contam uma história. O interessante desse projeto foi que

as professoras começaram a incluir as palavras que

constituíam as histórias.
Sim, as crianças produzem textos mesmo antes de serem

alfabetizadas, e isso está ligado ao conceito de letramento

multimodal. Este último envolve a compreensão de que a

comunicação não se limita apenas à linguagem escrita, mas

também engloba diversas formas de expressão, como

imagens, gestos, sons, entre outros.

O letramento multimodal reconhece que as crianças estão

constantemente envolvidas na produção de textos, que podem

ser manifestados em diferentes contextos e através de

diversas linguagens. Por exemplo, elas podem criar textos em


forma de desenhos, pinturas, esculturas, brincadeiras,

pesquisas científicas, entre outras atividades.


Para pensarmos em letramento multimodal, devemos

considerar os múltiplos meios de comunicação. Um

gesto comunica, um sinal comunica, a fala comunica, e

desenhos, pinturas, vídeos e outros elementos

comunicam.

Assim, antes de falarmos sobre escrita e leitura,

podemos pensar nessa escrita que vem antes das

letras. Desenhos podem dizer muito sobre a imaginação


das crianças, suas dúvidas, seus questionamentos e as

respostas que dão às perguntas.

Este texto visa exatamente a fala de Célestin Freinet:

"não é apenas sobre escrever, e sim sobre o que

escrever".

Nessa ótica de produção de textos que ocorre antes do

processo de alfabetização, o incentivo à produção

textual, à criação de narrativas e à elaboração de

histórias pelas crianças traz consigo uma potência do

seu imaginário. Muitos desses desenhos nos contam

histórias complexas e cabe ao professor, nessa fase,

escutar, registrar e documentar os processos de criação

realizados pelas crianças.

As cem linguagens das crianças.


A pedagogia da escuta nasce e emerge na cidade de

Reggio Emilia, na Itália. Após a Segunda Guerra Mundial,

onde a cidade estava completamente destruída, os

moradores construíram uma escola com suas próprias

mãos e colocaram no muro da escola: "para que nossos

filhos tenham uma vida diferente e diversa na nossa."

Esse ato simbólico e poético de escrever com as mãos

no muro daria o tom do que a cidade viveria nos

próximos quarenta anos.

Mas a grande virada de chave do processo em Reggio

se deu com a figura do ativista pedagógico Loris

Malaguzzi, que trouxe para as escolas que estavam

sendo construídas seus conceitos de escuta,

observação e documentação dos processos de escuta

com as crianças.
Nesse mesmo cenário, Malaguzzi lutou pela presença

de um ateliê e de atelieristas nas escolas, justamente

pensando nessas múltiplas linguagens, o que tem

relação direta com o letramento multimodal.

Nas escolas de Reggio, a pintura, escultura, poesia,

rimas, leituras e construção com as crianças em

múltiplas linguagens possibilitaram que as escolas de

Reggio recebessem a menção de melhores escolas do

mundo.

Na poesia crítica de Loris Malaguzzi, "As cem

linguagens das crianças", ele chama a atenção

justamente para as escolas que dão foco apenas no

formato mecânico e transmissivo, como por exemplo o

processo engessado de letramento e alfabetização, e

mostra em um dos trechos do poema que a criança tem


cem linguagens, mas que as escolas pensam apenas

em uma. No final do poema, ele diz: "as crianças têm

cem linguagens e precisamos restituir as outras 99".

Um livro produzido pelas crianças antes

de serem alfabetizadas.

O livro abaixo fez parte do projeto "Histórias que

Brincam" e foi conduzido pela Professora Aline de

Estrela, do Rio Grande do Sul. Durante a brincadeira, em

que foi apresentado um livro invisível com tinta que só

as crianças conseguiam ler, elas começaram a narrar

uma história.

Durante as negociações dos personagens, seus nomes

e seus enredos, a professora agiu como "escrivã", ou


seja, escrevendo todas as ideias que vinham das

crianças e, durante o processo, estimulando seu

imaginário.

Mas o livro não era composto apenas por palavras, e a

cada cena do livro surgiu um convite para brincar e

interagir.

Depois da história que a professora coletou, ela dividiu

em cenas, e a cada cena existia uma materialidade

diferente para compor a narrativa utilizando o formato

proposto pelo projeto "Histórias que Brincam".

Segue abaixo o livro desenvolvido em conjunto com as

crianças:
“Não é tanto sobre escrever e sim sobre

o que escrever”

Celestin Freinet tinha a ideia da participação das

crianças como um dos pilares de seus métodos. Ele

encorajava a construção de histórias, narrativas e

principalmente os eventos que ocorriam na turma, com

seus famosos diários e o jornal da escola.

Dessa forma, sua técnica visava não apenas a escrita,

mas também o processo que ocorre antes da

alfabetização: a construção lógica, a capacidade de

contar uma história, a lógica e a cronologia dos fatos.

Ele era abertamente crítico do método mecânico e

transmissivo.
A abordagem pedagógica de Freinet valorizava a

experiência e a vivência das crianças como base para a

aprendizagem. Ele acreditava que as crianças

aprendiam melhor quando estavam envolvidas

ativamente no processo de construção do

conhecimento.

Por meio dos diários e do jornal da escola, as crianças

podiam expressar suas ideias, contar suas experiências,

registrar suas descobertas. Isso não apenas

desenvolvia suas habilidades de escrita, mas também

estimulava a criatividade, o pensamento crítico e a

autonomia.
Ao incentivar a produção de textos, Freinet possibilitava

que as crianças se tornassem protagonistas de seu

próprio aprendizado, aprendendo a expressar suas

ideias de forma clara e organizada, a respeitar as

opiniões dos outros e a colaborar em projetos coletivos.

Este enfoque na participação ativa das crianças e na

valorização de suas vivências influenciou

significativamente a educação, inspirando muitos

educadores a adotarem práticas mais democráticas e

centradas no estudante.

As diferentes linguagens e a construção

de uma história.
Quando as crianças brincam, elas compõem mundos

com seus diversos personagens e enredos. As coisas

acontecem e se desdobram, mas cotidianamente não

existe o hábito dos professores ouvirem essas

brincadeiras. Quando nos perguntam por onde começar

a escutar, sempre falamos: Comece escutando uma

brincadeira.

E foi isso que aconteceu no livro abaixo, essa história foi

coletada pela professora Raquel, de Tupandi, Rio Grande

do Sul.

Ele fala de uma grande confusão que aconteceu na

floresta, e também, pensando nesse letramento

multimodal, escuta e múltiplas linguagens das crianças,

cada cena foi dividida gerando amplas oportunidades


de interações com as crianças, tanto na produção de

elementos como os dinossauros, até os desenhos que

foram produzidos para a narrativa.

Vocês poderão notar que existe, nesse projeto, uma

intenção comunicativa e que cada trecho da história foi

pensado no sentido do livro, tendo inúmeras habilidades

contempladas durante a produção.


As práticas tanto de Célestin Freinet quanto de Loris

Malaguzzi abrem caminho para as metodologias ativas,

onde as crianças são convidadas a compor textos

mesmo antes de serem alfabetizadas. Essa coleta de

registros e falas das crianças possibilita a emergência

de "túneis de realidade" e jogos de palavras, nos quais o

contexto delas é evocado.

Eles também consideram a possibilidade de criação de

textos através de desenhos, fotografias, filmes,

modelagem em argila e brincadeiras teatrais. Tudo isso

favorece a cultura do letramento e o processo de

alfabetização, permitindo que as crianças expressem

suas ideias, experiências e visões de mundo de maneira

diversificada e criativa.
Nesse sentido, as abordagens de Freinet e Malaguzzi

valorizam a expressão livre e autêntica das crianças,

incentivando a criação de textos em diferentes formas e

linguagens. Através dessas práticas, as crianças podem

explorar, experimentar e comunicar-se, desenvolvendo

suas habilidades linguísticas e expressivas desde cedo,

antes mesmo de dominarem o código escrito,

decodificar(ler) e codificar(escrever).

Essas metodologias ativas também promovem a

construção de significados a partir das experiências

vivenciadas pelas crianças, permitindo que elas

desenvolvam uma compreensão mais profunda de si

mesmas e do mundo ao seu redor.


Um texto não se limita apenas ao escrito. Quando as

crianças brincam, elas criam histórias e narrativas que

contam com enredos complexos, concatenação de

idéias e lógicas de desenvolvimento e desdobramento

do que acontece na história.

Portanto, um texto pode ser muito mais do que apenas

palavras escritas. Ele pode ser uma história contada

oralmente, uma narrativa expressa através de desenhos,

uma peça teatral improvisada durante uma brincadeira,

uma série de imagens em um filme feito com um celular,

ou até mesmo uma escultura em argila que conta uma

história visual.
Nas abordagens de Célestin Freinet e Loris Malaguzzi, o

conceito de texto é ampliado para incluir todas essas

formas de expressão. Quando as crianças brincam e

criam, elas estão desenvolvendo habilidades narrativas,

linguísticas e criativas, mesmo antes de dominarem a

escrita convencional. Eles estão construindo enredos,

explorando personagens, desenvolvendo cenários e,

assim, criando textos ricos em significado e

complexidade, mesmo que não estejam sendo

expressos em palavras escritas.

Portanto, ao considerarmos os textos na perspectiva

das crianças, é importante ampliar nossa definição para

abranger todas as formas de expressão criativa. Isso

inclui desenhos, pinturas, esculturas, peças teatrais

improvisadas, histórias contadas oralmente e qualquer


outra forma de comunicação que as crianças utilizem

para dar vida às suas ideias, experiências e imaginação.

Essas diversas formas de texto são vitais para o

desenvolvimento das habilidades linguísticas, narrativas

e expressivas das crianças, preparando o terreno para a

alfabetização e para uma vida inteira de criatividade e

comunicação. Criarmos espaços repletos de

intencionalidade pedagógica e atenção para as práticas

sociais como fortalecimento dos pilares para

garantirmos leitores e produtores de textos seguros. O

que exige refletirmos e articular diversos métodos

nesse processo desde a escuta para momentos ricos

que revelem a intenção comunicativa e escrita na vida

das crianças. Como uma lista de combinações do dia,


anotações do cardápio do dia , cantos de brincar com

teclados, telefones , blocos de recados em que possam

esbanjar nos seus jogos simbólicos e apropriação das

ferramentas das diversas formas de comunicação.

O papel do professor como um "escriba", conforme

consta na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), é

de grande importância na valorização e no registro das

múltiplas linguagens das crianças. Ao registrar suas

falas, pensamentos e produções, o professor cria um

documento que reflete não apenas as vozes individuais

das crianças, mas também suas múltiplas culturas e

entendimentos.
Nesse sentido, o registro das crianças vai além de

apenas documentar o que elas dizem ou fazem. Ele se

torna um testemunho vivo das diferentes formas de

expressão, criatividade e imaginação presentes em suas

vidas.

Ao registrar as narrativas, histórias, desenhos,

dramatizações e outras produções das crianças, o

professor está capturando um mundo rico em

diversidade, onde cada voz é única e valiosa.

Esse documento, então, se torna um testemunho da

pluralidade de experiências, culturas e conhecimentos

das crianças. Ele reflete a riqueza das múltiplas formas


de ser e estar no mundo, evidenciando as diversas

linguagens que as crianças utilizam.

A produção de histórias pelas crianças durante o

brincar pode ter várias conexões com o aprendizado

lógico e filosófico. Vamos explorar algumas delas:

​ 1. Causalidade e Sequência: Ao criar histórias, as

crianças precisam entender a relação de causa e

efeito. Isso implica em conectar eventos de forma

lógica, o que é um aspecto fundamental da

narrativa. Por exemplo, se o personagem escorrega

em uma casca de banana, isso causa uma queda.

Esse entendimento básico de causa e efeito é

essencial para a lógica.


​ 2. Resolução de Problemas: Muitas histórias têm

um problema que precisa ser resolvido. Quando as

crianças criam histórias, elas estão frequentemente

pensando em soluções para os dilemas dos

personagens. Isso requer um pensamento lógico

para conectar o problema à sua solução de forma

coerente.

​ 3. Organização de Ideias: A narrativa requer uma

certa estruturação para ser compreensível. As

crianças aprendem, ao contar histórias, sobre a

introdução de personagens, o desenvolvimento da

trama e a conclusão. Isso desenvolve habilidades

de organização lógica de ideias.


​ 4. Pensamento Abstrato: Em muitas histórias

infantis, elementos como magia, animais falantes e

mundos fantásticos são comuns. Ao incorporar

esses elementos em suas histórias, as crianças

estão exercitando o pensamento abstrato, uma

habilidade lógica que é importante para a filosofia.

​ A dificuldade de brincar.

​ Você pode estar pensando que criar é algo que seja

fácil, e talvez o seja na infância, mas a verdade é

que muitos adultos precisam reaprender a brincar.

Durante o projeto "Histórias que Brincam", notamos

que os professores não demoravam para entender


a técnica, mas tinham grandes dificuldades em

exercer sua criatividade.

​ Então, para entender o projeto, todo ano fizemos

uma imersão com grupos de professores para

vivenciar o "Histórias que Brincam" na prática. No

final, eles sempre se surpreendem, pois descobrem

que também podem se tornar criadores de

histórias. Além de propor enredos com as crianças,

conseguem também contar suas próprias fábulas,

destravando seu processo criativo.

​ Segue abaixo o livro: “Jacaré de Boa na Lagoa”

inventado por professoras durante a formação

"Histórias que Brincam":


"A importância do trabalho realizado pelas professoras

da Educação Infantil e Anos Iniciais se mostra de uma

relevância ímpar. Ao serem desafiadas a criar uma

história, elas mergulharam no universo lúdico, nos jogos

de linguagem e nas diversas formas de expressão visual

que emanam das múltiplas linguagens. Nesse processo,

puderam vivenciar a essência das concepções de

Freinet e Loris Malaguzzi, que nos ensinam que

podemos não apenas construir materiais envolvendo o

letramento em suas diversas facetas, mas também nos

tornarmos facilitadoras desse processo junto às

crianças.

Ao entrarem em contato com a brincadeira como

fundamento pedagógico, inspiradas pela visão


freinetiana de que a aprendizagem se dá no diálogo

entre o indivíduo e o meio, as professoras passaram a

compreender que a ludicidade é uma via poderosa para

a construção do conhecimento. Da mesma forma, ao

explorarem as múltiplas linguagens, ecoando o legado

de Malaguzzi e sua abordagem Reggio Emilia, elas se

viram diante da riqueza de possibilidades de expressão

que podem ser oferecidas às crianças.

Assim, ao imergir nesse universo de histórias que

brincam, essas educadoras não apenas criam narrativas

ricas em significados, mas também se tornam

mediadoras sensíveis do processo de letramento. Sob a

luz desses pensadores, compreendem que o ensino se

dá em um ambiente de interações dinâmicas, onde a

curiosidade, a criatividade e a investigação são as


ferramentas que impulsionam o aprendizado. Dessa

forma, cada conto, cada desenho, cada jogo se

transforma em um convite para a descoberta e a

construção conjunta do conhecimento, fazendo da sala

de aula um espaço vivo e pulsante de experiências

enriquecedoras para todos os envolvidos."

A natureza do método "Histórias que

Brincam" é inspirada na pedagogia da

escuta, nas metodologias de Freinet e no

contexto de criação de histórias coletivas

no contexto brasileiro.
(EI03EF06) Produzir suas próprias histórias orais e

escritas (escrita espontânea), em situações com

função social significativa.

Esse trecho da BNCC é muito importante para o nosso

projeto, não só porque ele fala da produção de histórias

espontâneas, bem como do professor que escreve e

registra as falas das crianças. O que propomos ao longo

do projeto é uma forma sistematizada de como realizar

essa operação com as crianças. São elas:

● Como iniciar uma história?

● Como criar um roteiro a partir da história

inventada?

● Como dividir em cenas?

● Como pensar nas múltiplas linguagens e no

letramento multimodal?
● E ainda, como essas histórias inventadas podem

inserir as crianças no mundo letrado.

Um dos principais problemas do ensino tradicional, que

se baseia em decorar e codificar as falas, é que os

textos utilizados, tanto em folhas prontas para imprimir

quanto em frases prontas do tipo "Ivo viu a uva", em

nada contribuem para a produção textual das crianças.

Esse método mecânico acaba, de certa forma, por inibir

a criatividade. É por isso que o presente trabalho

praxiológico existe, no sentido de alertar que as

crianças produzem textos complexos mesmo antes de

serem alfabetizadas. E nos assegurando na BNCC,

podemos pensar em incluir esse professor que registra


as narrativas inventadas pelas crianças, antes mesmo

do processo de alfabetização, no sentido de garantir

sua criatividade e pensamento lúdico ao longo do

processo.


Para finalizar o ebook, colocaremos abaixo na íntegra a

partilha do livro "Uma Poção Incompleta", no qual as

professoras realizaram imersões em histórias que

brincam online e ao vivo, tendo a oportunidade de

começar as histórias para que as crianças as

terminassem. Este livro foi escolhido dentre tantos de

nosso arquivo por apresentar a proposta de forma

lúdica, prática e apaixonante. Boa leitura!


Terminamos este ebook sobre as histórias que brincam,

afirmando que ele apresenta caminhos para um

letramento multimodal, demonstrando as possibilidades

das produções de textos antes mesmo da

alfabetização. Em conjunto com o material em vídeo e

áudio, fazem parte do projeto "Histórias que Brincam -

Especial: Letramento e Alfabetização".

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