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ANE PIMENTEL - Série Os Albuquerques 2 - Destino
ANE PIMENTEL - Série Os Albuquerques 2 - Destino
1ª EDIÇÃO
Produção Editorial: Editora Angel
Capa: Elaine Cardoso
Revisão: Raquel Escobar
Diagramação Digital: Beka Assis
Fernanda Albuquerque
— Eu não topei vir para cá para ouvir essa safada dizer que
acabou de ter uma noite fodástica. Certeza que vocês são minhas
amigas? — resmungou Soraia, provocando uma crise de risos em
todas nós.
— Você é uma vadia! Eu vivo dizendo que por trás dessa pose
de patricinha há uma Bruna Surfistinha habitando. — Meu
comentário provocou uma gargalhada geral.
***
Patricinhas no Caribe era a mais recente boate da classe alta
paulista. Apesar do nome fazer referência ao ritmo latino, o que se
ouvia no amplo galpão eram hits de sertanejo universitário e música
eletrônica. Um dos diferenciais dessa boate era o "Espaço Patricinha",
um mini salão de beleza dentro da boate, com direito a maquiadores à
postos para retocar a maquiagem.
— Já disse que na outra vida quero ser você? — elogiou Lu, que
estava incrivelmente linda com uma saia preta curta e uma cropped da
mesma cor.
— Mais de dez vezes, mas eu ainda posso ouvir isso mais outras
dez! — brinquei, abraçando-a .
— Aposto que ela não vem. Aquela ali quando vai para
a Luxúria parece que é abduzida. Sinto muito, Fê, mas ela não deve
aparecer — lamentou Gabi.
Sorri e segui com ele pela porta dos fundos da boate, enviei
mensagem para o grupo das minhas amigas avisando que não me
esperassem. As carícias continuaram no meu carro, ele deslizava as
mãos sobre minhas coxas, enquanto eu dirigia. No apartamento dele,
meu orgasmo foi maravilhoso; além do físico de babar (barriga
tanquinho, bíceps fortes e sorriso sedutor), o cara sabia como dar
prazer a uma mulher. Tive uma noite de sexo casual perfeita,
agradeceria as meninas mais tarde pela ideia de ir à boate.
— Não vai dar. Estou de mudança para o Rio, mas foi muito
bom te conhecer. — Depositei um selinho nos seus lábios e saí.
— Oi — emiti, sonolenta.
— Idiota!
— Também te amo.
— Mas, Fê, você conheceu o cara na boate e foi para cama com
ele? Ele podia ser um assassino. — Minha amiga tinha uma mente
bastante fértil.
— Ser mãe não está nos meus planos, pelo menos pelos
próximos dez anos, que é o tempo que ficarei na presidência.
Marcos Castro
Já tinha visto aquela cara muitas vezes e sabia muito bem o que
significava: ela me achava um babaca filho da puta. Mas não foi disso
que ela me chamou quando estava gemendo algumas horas atrás. Juro
que não entendo as mulheres, eu não prometi nada além de um bom
sexo... E cumpri. Do que elas reclamavam tanto?
Quando estacionei o carro perto do ponto de táxi, a mulher fez
uma última tentativa.
— A gostosa do bar...
— Você é um cafajeste!
Deve ter desistido, pensou bem e viu que é mais vantajoso gastar milhões no
shopping.
— Tá de brincadeira, né?
Fernanda Albuquerque
Bati a porta da minha nova sala mais forte do que achei que fosse
capaz, afinal era de vidro. Já não bastava o fato de ter chegado
atrasada, coisa que eu detesto, a reunião que eu planejei tão
meticulosamente não saiu como eu esperava.
Como aquele... aquele... Insolente pode ter conseguido me afetar com tão
pouco? Minha vontade era mandá-lo sair da sala e passar no setor
pessoal para acertar as contas.
Respirei fundo. Calma, Fernanda, não deixe que o dia que você tanto
esperou perca o brilho. Você está no seu lugar, você está em casa. Repeti esse
mantra umas três vezes, antes do Fernando entrar na sala.
— Ainda não entendi... Por que seu foco está todo nesse mero
incidente? — perguntou, encarando-me.
***
Marcos Castro
— O que foi aquilo na reunião? — indagou Thalita, enquanto
almoçávamos.
— Ela ficou uma fera com as suas gracinhas. Mas foi engraçado
ver a mulher desnorteada, cara — completou Mateus, sorrindo.
— Você parece não ter noção do quanto sua cabeça está em risco
nessa empresa. — Apenas assenti e continuei saboreando meu salmão
defumado. — Marcos, você não tem nada a dizer em sua defesa? —
prosseguiu Thalita.
— Viu só, Mateus? Quem vai querer uma mulher que faz cena
no meio da rua?
Fernanda Albuquerque
***
Marcos Castro
Kkkkkkkkkkkkkkkkkkk
***
Fernanda Albuquerque
— Vamos, mas não ache que vai fugir do assunto. Ser líder é
ouvir a todos e até dar o braço a torcer, mesmo que o cara do outro
lado seja o Marcos.
Longo dia.
CAPÍTULO V
Marcos Castro
— Topo.
— O Fernando me convidou...
— Ele conseguiu o que JP não conseguiu em anos.
— Em coma alcoólico.
— Mas pedi...
— Tchau, Marcos.
***
Fernanda Albuquerque
— Do jeito que meu estômago protesta, até um hot dog cai bem.
Passei pelo carro dele e entrei no meu. Fiz questão de olhar pelo
retrovisor para notar que o Marcos olhava a cena embasbacado.
Acelerei e sai cantando pneu, talvez agora ele entenda quem era
a foda da história.
CAPÍTULO VI
Marcos Castro
Foda!
***
— Dona Maria, não me diz que esse almoço é para mim — falei,
entrando na cozinha e mexendo nas panelas.
— Até.
***
— Ah, não, cara, não me diz que você é Lusa, também? Não
mereço passar a noite ouvindo devaneios de dois torcedores da
Portuguesa. — O sorriso de Fernando se alargou antes dele entoar o
hino mais lindo do mundo, juntei-me a ele, cantando sob os protestos
do Alê e da Thalita.
Não dei tempo para ela pensar, parti para cima, dando-lhe um
beijo. Mesmo surpresa, ela correspondeu, segurando meus cabelos.
Segurei sua nunca e sua cintura, puxando-a para mais perto, como se
isso fosse possível, estávamos colados. Foi um dos beijos mais lascivos
de que me lembro. Fernanda se afastou, buscando recuperar o fôlego.
Seus lábios estavam vermelhos e seus cabelos, desgrenhados pela
força que apliquei quando a puxei para perto.
— Erro ou não, não dá para negar o clima que está rolando aqui.
Deixa para pensar nisso... — Não precisei completar a frase; ela se
jogou em mim, beijando-me com a mesma urgência, parando apenas
para sussurrar ao meu ouvido que deveríamos ir para um lugar mais
íntimo.
Fernanda Albuquerque
Marcos percorreu o olhar sobre meu corpo nu, exposto para ele.
Afastou-se de mim o suficiente para retirar sua calça e sua cueca,
deitando sobre mim, pele com pele, nenhuma roupa entre nós. Deixei
escapar um gemido, meu quadril se ergueu de encontro à sua ereção.
Ele não se distanciou dessa vez ao estender a mão em direção ao
criado-mudo. Demorou alguns instantes me distraindo com beijinhos.
***
Não lembro quando caí no sono, mas despertei com uma fresta
de luz que entrava pela janela do seu quarto, diluindo a penumbra.
Acordei antes do Marcos, suas mãos estavam envoltas em meu corpo.
Virei-me e o observei. Relaxado, ele não tinha nada do cara
presunçoso e babaca do escritório, mas a expressão marota
permanecia, ainda havia um maldito sorriso presente no seu rosto.
Aproveitei o momento para inspecionar completamente o
homem nu ao meu lado, admirando cada um dos seus músculos
rígidos e definidos, capazes de enlouquecer a mais sensata das
mulheres. Sua barba por fazer o deixava com um rosto másculo, viril.
Parei na sua boca, a mesma boca que me fez desejar mais a cada
minuto. Detive-me nos braços ao meu redor, mãos fortes me puxando
para si, ainda que inconscientemente. Libertei-me dos seus braços com
cuidado para não o acordar. Peguei minhas roupas espalhadas pelo
chão e comecei a vesti-las rapidamente, achei meu salto embaixo da
cama e saí com eles nas mãos.
— Li, mas...
— Mas não é por que eu irei correr, que sairei de qualquer jeito
— imitou a minha voz.
— Foi mal amiga. Mas e aí? O que isso significa? Você vai voltar
para ele? — despejei as perguntas.
— Esse seu drama não me faz sentir culpada, sorry! Mas não há
muito que dizer.
— Pegada a gente já viu que ele tem, deixou até marca! — falou
Gabi, provocando risos.
— Fê, seu pescoço está com uma marca de chupão, está roxo,
isso o que tá visível — Gabi informou com um sorriso nos lábios,
enquanto me entregava um espelho.
— Relaxa e goza, gata! Não, espera, você deve ter feito isso
muitas vezes ontem. — Um sorriso surgiu involuntariamente nos
meus lábios e eu tentei contê-lo antes que elas percebessem. Tarde
demais.
— Qual a parte que foi apenas sexo e foi coisa de momento vocês
não entenderam? — perguntei já com raiva.
— Calma, Fê, é só curiosidade feminina... O advogado tem pelo
menos nome? — ponderou Lu.
Marcos Castro
Saí e fui até a sala, ela também não estava. Interfonei para a
portaria só para ter certeza de que ela tinha ido embora sem ao menos
se despedir. O porteiro informou que minha visitante havia partido há
cerca de duas horas. Sorri. Estava fascinado por essa mulher. Além de
boa de cama, ainda evitava o constrangedor dispensar do dia
seguinte... Embora eu tivesse outros planos antes de dispensá-la.
Carne nova?
Sim.
Passa o número...
Cai fora, Alê!
Sem chance!!
Marcos, Marcos...
Encontro vc lá.
— Errou feio.
— Deixa de ser maricas e conta logo!
— Cara, pelo sorriso que não sai do seu rosto, a noite foi foda!
***
Fernanda Albuquerque
— Quando ela não está? Da última vez que me distraí, saí com
minhas partes baixas doloridas — completou Gustavo, fazendo o
nosso grupo de seis mulheres gargalhar.
— Eu não pago caro para ficar olhando para seus belos olhos
azuis, Fabrício — respondi, atingindo-o com um chute na cabeça,
defendido por ele.
***
Marcos Castro
— Você está errada, há uma passagem bíblica que diz que amar
o seu irmão é fácil, difícil é amar o inimigo — citei, sorrindo.
— E modesto, também!
— Um bom sexo.
— Babaca!
— Gostosa!
Fernanda Albuquerque
Filho da puta. Que ódio de mim mesma por ter caído no charme
desse babaca. Agora ele achava que podia ter intimidade comigo.
Qual é o problema em entender que foi só uma boa noite de sexo?
Chegou ao fim. Isso é que dá não ouvir o conselho do meu pai, agora
vou ter que aturar seus olhares e comentários maliciosos. Mas ele já
estava na minha lista negra e, ao menor vacilo, eu o demitiria.
— Sim, hoje não estou para ninguém. Se alguém passar por essa
porta, eu vou trucidar.
— Roberto Pagani.
No fim da tarde vou direto para o hotel. Fiz apenas uma mala de
mão, já que deixei muito das minhas roupas na casa dos meus pais,
tomei uma ducha gelada, arrumei-me e aguardei o Fernando para me
levar ao aeroporto. Pontualmente, meu irmão bateu à porta do meu
quarto.
— Não é só pela foto, mas sim pelo que isso representa. Você
sabe o quanto o papai sempre foi cuidadoso sobre a menininha dele
entrar no mundo dos negócios. Ele dizia que era uma briga de leões e
conquistar isso foi provar que a leoa aqui tem vez. — Fernando
apenas sorriu e concordou com um balançar de cabeça — Além do
mais, o próprio Marcelo Lopes fez questão da minha presença.
— Pode deixar, vou apenas dar uma festinha na casa para umas
cinquenta pessoas enquanto eles estão fora.
— Menina, o que faz aqui e a essa hora? E por que não avisou
que viria, eu teria preparado o jantar! — indagou Dita com sua voz
doce.
Corri e a abracei com força. Não sabia que sentia tanta falta da
minha casa até pôr os pés lá, tampouco o tamanho da saudade
da bá Dita. Permaneçamos ali abraçadas sem dizer nada. Benedita foi
babá minha e dos meus irmãos. Cresci com sua vigilância constante e
amor de mãe, era ela quem me acobertava quando eu voltava tarde,
foi ela quem ouviu meu choro quando terminei com meu primeiro
namorado. Ela me chamava de “filha do coração” e eu retribuía
chamando-a eternamente de minha bá. A relação de afeto era tão forte
que, mesmo quando crescemos, ela continuou em nossa casa, como
uma espécie de ama. Vivia para atender meus desejos e, pouco tempo
depois, tornou-se a governanta.
— A casa sem você não tem mais graça, seu pai vive dizendo
isso.
— Eu sinto falta de vocês também, falta da minha cama, dos seus
doces...
— Por isso que te amo e, assim que eu alugar uma casa, vou
roubar você para mim.
Marcos Castro
— Então fechou!
— Ainda não sei, mas aquela cena de vocês dois aqui em frente a
sala me fez achar que tem algo acontecendo.
— Seu babaca.
Sorri.
— Mas em minha defesa, o nosso namoro durou, o quê? Uns
dois, três meses?
— E quando viu que era, deve ter pensando: nossa, como ele está
ainda mais gato, né?
— Faltou o quê?
Fernanda Albuquerque
Sexta -feira. Não eram nem onze da manhã e meu corpo já pedia
cama e minha bexiga, banheiro. Felizmente, era o último dia do
Congresso Nacional de Administradores, porque eu já não aguentava
mais ficar sentada, ouvindo palestrantes que só conheciam a teoria da
administração.
Tô quase pronta!
Banho já tomei =)
Sabia kkkkkkkkkk
Escolhi uma calça pantalona preta para usar com uma blusa
dourada justa de um ombro só; nos pés, meus indispensáveis saltos
agulha. Meus cabelos modelados nas pontas com cachos.
Ok.
— Então larga meu braço para não queimar meu filme. Não
quero que pensem que sou o gigolô da coroa aqui.
— Que lindo ver você todo homem aí. — Estiquei-me para dar
um beijo no seu rosto.
— Não, eu quem estava tão encantada com as fotos que não te vi.
— É fotógrafo?
— Sou jornalista.
— Seria um prazer.
— Até — respondi.
— Vou ligar para ele e dispensar, não vou deixar você voltar
para casa só. — Já começava a sentir os olhos pesarem com sono
quando meu irmão colocou o carro em movimento e acionou o viva
voz para falar com o Marcos.
— Boa noite é o correto. Vamos tentar mais uma vez: Boa noite,
Fernanda.
Marcos Castro
Captei o que estava por vir, por isso, optei por permanecer em
silêncio, enquanto logava meu notebook para acesso e pensava em
uma reposta. A verdade era que eu não tinha nenhuma plausível,
minha raiva era um misto de ter esperado por horas e pela exigência.
Qual era a dele com a Fernanda?
— Diz a ela que o tal Júnior Diniz solicita a presença dela para
assinar a droga do contrato. O cara disse que vai fazer uma viagem e
quer que a tal reunião seja quinta à noite — informei enquanto me
servia do cafezinho ali disponível, por falta de uma bebida mais forte.
Fernanda Albuquerque
— Fê...
— Boa tarde, Lúcia, foi sim. Aliás, fiquei encantada com tantas
árvores durante o trajeto, o ar aqui parece bem mais puro.
— Essa casa não estava nas fotos que te mandei, foi desalugada
há pouco tempo, por isso ainda não está no catálogo. Mas algo me diz
que você gostará, vamos entrar?
— Fico no aguardo.
***
O voo ocorreu tranquilo na maior parte do tempo, com exceção
das ânsias de vômito que me acompanharam boa parte do percurso;
em uma delas, precisei correr até o banheiro e vomitar todo o lanche
que comi. Lavei o rosto e a boca na tentativa de me livrar do gosto
ruim. Após me certificar de que não havia mais nada para ser
excretado, voltei para minha poltrona e engoli um remédio para enjoo
oferecido pela aeromoça.
— Vocês vão ficar aqui por mais tempo? Que tal jantar? Conheço
um restaurante que tenho certeza que iria agradá-las — pergunta ele.
— Mas...
Fernanda...
— Ótimo!
— Não acredito que está em São Paulo e não pretendia nos fazer
uma visita, Nandinha — reclamou minha mãe com seu jeito doce.
— Seu pai até queria, mas eu não deixei. — Sorriu do outro lado
da linha e esse sorriso me fez perceber quanta falta sentia de vê-lo
diariamente. — Já conversei com sua secretária e hoje à noite vocês
virão jantar comigo, seu pai está viajando — completou.
— Uma vez só não faz mal, além do mais, estou sonhando com
essa macarronada faz tempo.
— Sem graça? Acho que você ainda não entendeu que te vejo
como amiga, por isso não há porque ficar sem graça. A menos que
você não queira tocar no assunto, aí tudo bem. Eu retiro a minha
pergunta.
— E rolou?
— Fernanda... — ponderou.
***
Eu preciso me desculpar com ela pelo ocorrido, não sei o que está
acontecendo comigo nas últimas semanas, ando com uma mudança de humor
constante.
— Sério que ainda cabe algo em você? Ainda estou cheia do café
— falou, sorrindo.
Saí do banho mais cansada do que entrei, não sabia como isso
era possível. Vesti um short jeans e uma camiseta branca, os primeiros
que encontrei, e prendi o cabelo em um coque. Caminhei descalça
pelo corredor, decidida a fazer o que eu já deveria ter feito há muito
tempo.
— Já que não posso voltar atrás e mudar o que foi feito, vim te
pedir desculpas. — Ela tentou dizer algo, mas eu a interrompi. —
Cátia, sei que fui infantil ao cobrar sua amizade e, muito mais, ao te
colocar contra a parede com a questão do cargo. Eu não sou assim...
Não sei o que está acontecendo comigo. A verdade é que eu me sinto
sozinha no Rio, todas minhas amigas são daqui e vi em você muito
mais que uma secretária, por isso insisti em querer saber do seu
encontro. E fui uma idiota quando você se negou a contar, é um
direito seu.
— E você?
***
— Não vou cair na sua pilha e comer, não tenho sua genética,
comer fritas e milk-shake vai me render duas horas na esteira e estou
fugindo disso.
— Credenciais, no plural?
— Até, Fê.
— Até amanhã.
***
Quarenta minutos antes do horário marcado, cheguei ao
restaurante. A recepcionista me guiou até o bar, já que a mesa não
estava liberada. No fim das contas, havia dado tempo de passar no
hotel, tomar banho e me preparar para o jantar de negócios. Decidi
sair assim que me aprontei, para não correr o risco de adormecer,
exausta.
— Engano?
— Sim, a mesa é para dois e seremos três.
Marcos Castro
— Creme brûlée.
— Acontece que essa conta não será paga por mim... — Sorri. O
Júnior parecia querer arrancar a roupa da Diana com os olhos. Devo
dizer que ela era linda, cabelos negros longos, seios turbinados, olhos
verdes, sorriso perfeito. Foi um caso antigo. Fernanda escolheu esse
momento para retornar a mesa e observou a Diana dos pés a cabeça,
antes de sorrir e sentar no seu lugar.
— Você não muda nada, mas tudo bem, vou ver o que posso
fazer por você, gato. Algum de vocês deseja uma comida especial?
— Vou, mas o menor sinal que você avançar, te jogo para fora do
carro sem pensar duas vezes, entendeu? — Não respondi nada e tentei
abrir a porta do carona, que permanecia travada. — Estamos
entendidos? — ela repetiu a frase.
— Sem problemas.
— Ei, a sua casa não fica na outra direção?
— Mas pelo que me lembro não fui eu que parti para cima no
restaurante...
— Minto?
— Mente. Para se livrar do sujeito, você só precisava dizer ao
velho que eu era seu namorado, mas escolheu me beijar.
— Ahan.
— Eu achei que...
— Que nada. Eu sou uma imbecil por perder meu tempo com
você, agora sai do meu carro.
— Imbecil!
— Geniosa!
— Babaca!
— Teimosa!
— Cafajeste!
— Gostosa!
— Você está demitido! — ela disse, avançando em minha
direção.
— Que seriam...?
— Quer dizer que acabei de receber uma suspensão por não ficar
longe de você?
— Exatamente.
— Então foda-se!
Não dei tempo para ela pensar e parti para cima, beijando-a com
força. Ela tentou protestar, mas segurei suas mãos e a beijei com
desejo. Aos poucos, ela foi relaxando e se entregando. Empurrei seu
corpo em direção ao carro, fazendo ela sentar no capô; seu vestido
subiu e eu tive vontade de deixá-la nua ali mesmo.
Fernanda Albuquerque
Há pouco, só não fui para cama com ele porque não quis dar o
braço a torcer e o babaca me puniu por isso, deixando-me ainda mais
excitada. Eu nunca fui descontrolada, mas acabei de protagonizar uma
cena em frente ao hotel em que eu estava hospedada. O que esse homem
faz comigo?
Oi?
Fê, contextualiza!
— Agi por impulso, mas isso não dá o direito de ele achar que
pode sair me agarrando por aí! — falei na defensiva.
— Não um convencional.
— Nem pelo avesso. Que parte do "eu odeio o Marcos" você não
entendeu? — falei, já gritando
— Tá, e ele?
— Sei lá dele.
— Ele deve tá na sua, amiga.
— Pois que saia, espero que ele pondere tudo até sua volta ao
trabalho e não me procure mais.
— Ahan.
— Desgraça? Você tem um homem louco aos seus pés e acha isso
desgraça? Se joga!
— Tchau, Sol.
Marcos Castro
Segurando meu copo, saí para dar uma volta no bar. A pista era
improvisada e o som da noite era funk; fiquei admirando as mulheres
dançando sensualmente. Estava tão absorto nas bundas que subiam e
desciam que não notei quando alguém se aproximou de mim. Fui
abraçado por trás e ouvi o sussurro em meu ouvido:
— Fernanda...
***
— Não, não tá. Estou com o dia agitado por culpa sua e pela
primeira vez na vida preocupada de verdade com você.
— Em que ocasião?
— Thalita, não tenho respostas para suas perguntas, talvez a
Fernanda tenha.
— Ela está num mau humor hoje... Foi a copa pegar um café,
encontrou a gente conversando e deu a maior bronca, disse que não
pagava para ficarmos ali. A mulher tá numa TPM horrível.
— Sabe?
— Gata, adorei ser acordado pela sua voz, mas preciso desligar,
o porteiro está interfonando, devo ter visitas... — menti para me livrar
da Thalita.
Gostosa vai...
Thalita diz: Não achei tudo isso não.
Felipe diz: Cola em mim que aprende kkkkkkkk. Sua chefe não disse?
Felipe diz: Opa! Vamos marcar essa consultoria aí kkkkk
— Fala, Alê!
— Finalmente.
— Aceita?
— Vamos aos fatos. Minha família mantém contato com seu pai
e, por meio de amigos em comum, descobrimos que a Marília, esposa
do seu pai, estava internada por conta do tratamento de câncer no
estômago. Ontem, quando te liguei, ela teve uma piora significativa e
acabou falecendo ontem mesmo no decorrer da noite. Te liguei várias
vezes, mas não atendeu. O sepultamento será hoje às dezesseis horas.
— Pai? Nunca tive... Aliás, meu pai sempre foi a dona Ana, que
me educou e nunca deixou faltar nada. Esse homem que você fala
apenas foi o doador do esperma que me gerou.
— Mágoa um caralho! Você fala isso porque não foi seu pai que
te abandonou para seguir uma carreira.
— Acabou?
— Puta que pariu! Acha que estou aqui pela merda do dinheiro?
— Para me comover que não deve ter sido. Agora fora! — digo,
apontando para a porta.
— Ainda não.
— Folgado.
Fernanda Albuquerque
— Meninas, sorry! Mas hoje não tenho ânimo para sair. Estou
com cansaço de uma vida, essa semana foi corrida, trabalhei até a
tarde hoje.
— Já comeu?
— Vou ligar para saber, apesar de ter entendido que você estava
sem fome... — falou, sorrindo.
***
— Ai, gente, não estou me sentindo bem com essa roupa... —
disse Sol, vestindo uma saia jeans e a camisa do camarote customizada
pela Lu. O modelo era frente única.
***
— Eu não, já você...
— Deita aqui e chora tudo que tem para chorar! — disse Sol,
levando-me até a cama.
— Minha filha, não sei o que está acontecendo com você, mas
posso te dizer com toda experiência de vida que tenho: vai passar... E
enquanto não passa, não há problema algum em correr pro colo da
mãe, tenho certeza que lá é o seu lugar! — ela falou, apertou minha
mão e foi embora, acompanhada do marido.
— Além de ser mãe não estar nos seus planos, acho que o fato de
o Marcos ser o pai agrava a situação.
— Ainda não sei, só sei que ele ou ela não pode ser culpado pelo
meu erro.
— Qual seria seu erro, Fê? Ir para a cama com um caro gostoso,
engravidar dele? E se esse cara for legal, já pensou nisso?
— Mãe — olhei para ela —, você acha que meus filhos teriam
orgulho de mim?
— Você não precisa ser igual a mim para ser uma boa mãe.
— Não, mãe! Tira esse sorriso dos lábios que não há menor
chance de eu os apresentar.
— Se vai... Ele sempre quis ter um neto correndo pela casa, mas
achávamos que o Felipe seria o primeiro a nos dar um neto.
— Eu também...
— Minha, mas era para ela se defender e não sair por aí socando
as pessoas... — meu pai falou, encolhendo os ombros e com um
sorriso para mim que dizia "essa é minha menina".
***
***
Quando voltei para a casa, minha mãe disse que meu pai estava
no escritório e queria me mostrar uns projetos em que estava
trabalhando. Mesmo sem ser presidente, meu pai continuava
administrando de longe; passou um tempo sendo diretor-geral de
uma das filiais, mas aos poucos ia abrindo mão do dia-a-dia dentro da
empresa.
Ele paralisou.
— Que cena linda! Mas seu amigo Carlos está aí, meu bem, e,
Nanda, precisamos terminar aquele assunto...
Marcos Castro
— Para você ter me ligado a essa hora, deve ser para me dizer
boas novas. Diz pra mim que a chefinha sentiu minha falta e pediu
para eu retornar. — Ela gargalhou do outro lado linha.
— Cadê a marrentinha?
— Ela sabe que você a chama assim? Porque se ela sonhar, você
será transferido para a Antártida! — Ela sorria enquanto falava.
— Algo grave?
— Cátia...
— Diz!
***
— Sou eu, gata, não me diz que transformou nossa sala num
motel?
— Não dá, que tal dar uma voltinha? Já estamos acabando aqui.
— Terão duas gostosas aqui, mas nenhuma pro seu bico. Agora
vaza!
— Foi mal, mas a menos que meu presente seja você rebolando,
não vou tirar essa imagem da cabeça.
***
— Isso é pela minha irmã! — ele disse ao acertar meu nariz. Uma
linha de sangue começou a escorrer.
— Felipe, para! — pediu Thalita, ficando entre nós, enquanto eu
gemia de dor. O fedelho tinha batido para valer.
— Até que fim resolveu sair das saias da Thalita. Como você
pôde trair minha confiança, cara?
— Você e a Fernanda...
— Thalita, meu problema não é com você, mas você tem razão,
vamos acabar essa conversa lá na rua.
— Ah, vai! Vai quando minha irmã está envolvida nessa vida.
— Não, não precisa, o calhorda aí não vai morrer por isso. Felipe,
eu te disse para esperar eu chegar...
— Me poupe você, só fiquei com sua irmã uma vez, o pai pode
ser outro... — Foi a vez do Fernando dar um passo a frente.
— E o pai?
— Basta a mulher estar fértil para que essa única vez vire uma
gestação.
— E o que eu faço?
Fernanda Albuquerque
— Sim, pretendo, mas essa semana não terei como ir, contratei
um decorador para modificar o meu quarto e queria estar por perto
para acompanhá-lo. Aconteceu alguma coisa na Albuquerque's?
— Então por que cargas d'água o meu irmão o atacaria? Eles são
amigos...
— Será, né? Minha genética é boa, serei uma mãe bem gata.
— Cátia...
— Ele quem?
— Não, não contei, mas fiquei com o coração apertado, ele estava
tão angustiado.
— Mas...
— Os mesmos que eu! Não quero discutir com você sobre isso.
Agora vamos nos concentrar no trabalho, porque passei muito tempo
fora e essa pasta que você trouxe deve ter uma série de documentos
para eu conferir e assinar! — falei, pondo fim no papo de gravidez,
pelo menos por ora.
— O Fernando vai?
— Beleza então!
— É isso?
— Claro que é. O que mais seria? — perguntei na esperança que
ele assumisse seu erro.
— Até, beijos.
— Menina, você não pode estressar assim, faz mal para o bebê!
— advertiu minha bá, toda preocupada.
— Faz mal para o bebê ter dois idiotas como tios, isso, sim.
Fernando, como você permitiu que o Felipe agredisse alguém dentro
da Albuquerque's?
— Fernanda, não vem com esse papo de irmã mais velha. Fiz o
que tinha que ser feito! — ele disse, dando de ombros.
— Não, não apoio. Mas não tinha muito que fazer. Quando
cheguei lá, o Marcos já estava no chão.
— Mas, Fernanda...
— Felipe?
— Tá...
— Ótimo.
Marcos Castro
— Puta que pariu, Alê, esse remédio arde pra cacete! — reclamei,
enquanto meu amigo me auxiliava a cuidar dos ferimentos.
— Fica calado vai, senão não consigo acabar aqui — ele falou
enquanto passava uma gaze com soro para limpar o olho inchado.
Nem preciso comentar o quanto a sua mão era pesada, a cada vez que
ele passava a gaze sobre o ferimento, eu proferia uma série de
xingamentos.
— Atende a porta.
— Ahan.
— Apesar de achar que você tem toda razão, Alê, eu não posso
acusar ele assim. Tadinho, está todo destruído! — ela falou,
apontando pra mim.
— Eu sempre disse que eu era foda, você que não quis testar; a
essa hora, teríamos Marquinhos e Thalitinhas correndo pela sala. —
Ela sorriu perante meu comentário.
— Você não toma jeito. Mas o que pretende fazer?
— Sim.
Fernanda Albuquerque
— Fico no aguardo.
— Pode ir, eu não pretendo sair daqui tão cedo — ele desafiou
novamente.
— Mas, Fer...
— Pode ir, esta tudo sob controle. — Indiquei a cadeira a minha
frente para que se sentasse, mas ele continuou de pé, encarando-me.
Inspirei fundo na tentativa de me preparar para o que viria a seguir.
Não fazia ideia do teor do assunto, qualquer coisa poderia sair da sua
boca e por isso mesmo eu temia.
— Eu discordo.
— Parte em?
— Foi mal mesmo, cara, mas você e minha irmã juntos e ainda
com um filho a caminho, foi demais pra minha cabeça.
— Não precisa sentir ciúmes, Fê, o Marcos não faz meu tipo.
— Ok, cunhadinho.
— Exceto um bebê.
— Não temos mais nada para conversar, agora solta meu braço.
Vamos, Felipe!
— Mais?
— NÃO! — gritei.
Marcos Castro
— Não, obrigada.
— Oi?
— Isso não vai dar certo, Marcos... Essa conversa não está
fluindo.
Por mais que minha vontade fosse dar uns tapas nessa mulher
frustrante e fazê-la entender que esse filho era meu e que estaria ao
lado dele, contive-me. Deitei-a devagar e venerei seu corpo. Beijei seu
pescoço lentamente, mordi de leve seu ombro e finalmente cheguei
aos seus seios. Eles pareciam sentir falta da minha boca, estavam
prontos quando minha língua tocou o bico. Provoquei lentamente e
senti que ela estava impaciente.
— Marcos...
Não notei que tinha adormecido até que senti seu corpo se
afastar do meu. Abri os olhos, que doíam bem menos, devagar,
imaginando que ela estivesse indo ao banheiro. Surpreendi-me ao vê-
la ir em direção a sala. Segui seus passos e a encontrei vestindo as
roupas.
Fernanda Albuquerque
Um mês depois.
Evitei todo e qualquer contato com ele. Isso não significava que
não nos esbarrávamos no elevador ou nos corredores da empresa, mas
eu sempre dava um jeito de sair rapidamente, pelo menos quando o
lugar permitia.
Puta que pariu. Por que ele não calava a boca e por que Sara
assistia a tudo com um sorriso no rosto?
— Você apenas deu margem pra fofoca e me fez ficar ainda mais
puta com você.
— Não grita comigo! — Ai, por que meus olhos estão cheios de
lágrimas?! Não chora, Fernanda, não chora.
Marcos Castro
Hoje tá foda.
***
— Você desmaiou.
— Liga pro Felipe, então. Ele não tem obrigação de ficar. Além
do mais, eu estou melhor.
— Eu não vou a lugar nenhum até ter certeza que vocês estão
bem — falei ao entrar no quarto.
— É grave?!
— O senhor é o pai?
— Sim.
— Apresentou sangramento?
— Nada disso.
Puta que pariu, ela parece não querer ouvir o que a médica diz.
— Sem sexo, Fernanda, até termos garantia que o bebê está bem.
— Pronto, agora que sabe que está tudo bem, pode ir.
— Eu vou passar a noite aqui só por garantia.
— Acha mesmo que só estou aqui por isso? — Fitei seus olhos
com fúria.
— Fala sério. Vai dizer pra mim que o que sentimos vai além da
atração física?
— Mas...
— Deita aqui, vai, não quero que acorde com dores nas costas,
para não trabalhar usando essa desculpa. — Deitei ao seu lado e
acariciei seus cabelos.
— Não, não é.
— Eu meio que gosto desse Marcos amigo, mas deve ser o sono e
o efeito da medicação, não se anime. — Ela acabou adormecendo em
poucos minutos.
Adormecemos abraçados.
CAPÍTULO XXV
Fernanda Albuquerque
Assim que cheguei à cozinha, parei na porta com a cena que vi:
Marcos sem camisa cortando verduras na bancada. Com sua voz
grave, ele acompanhava minha bá numa cantoria.
— Um beijo, Fernanda.
— O bebê está bem, não sinto mais cólica, vou tentar seguir as
ordens médicas.
***
Devo confessar que o almoço estava maravilhoso. Salmão ao
forno, arroz cremoso e salada, tudo tão saboroso que acabei repetindo
e esquecendo a dieta da minha nutricionista.
— Ok.
Marcos Castro
— Nesse caso, seria do carro mesmo. — Ele riu. — Mas sério, ela
estava te convidando para ficar.
— Tá de sacanagem, né?
— Você não notou? — disse ironicamente.
— Com ela ou com você? Porque acho que ela ia ficar feliz com o
elogio.
— Completamente.
— Convencê-la que posso ser o cara certo não só para ser o pai
do seu filho, mas também para ser o homem da sua vida. — Alê
gargalhou.
— Vou precisar.
***
— Não sabia que você tinha um lado frágil — brinquei com ela.
— Hahaha!
— Cadê o Batman?
— Batman?
— Sim, Superman era meu amigo João Pedro. Fernando é das
trevas, todo misterioso, portanto é o Batman.
Ela gargalhou.
— Fato! E vocês?
— Quem?
— Você e Fernanda.
— Então tchau.
— Beijos, gatas.
— Marcos Castro.
— Sim.
— Como assim?
— Já. E por mais que eu tente invadir a sua redoma de vidro, ela
sempre dá um jeito de me expulsar.
— Eu acho que posso te ajudar...
— Você a conhece...
Fernanda Albuquerque
Minha cama era King Size e havia espaço para mais duas pessoas
aqui. Além do mais, estar com a Sol ali, ao meu lado, era como voltar a
infância, época que acampávamos uma na casa da outra e fingíamos
que éramos rainhas de um castelo. Note que não falei princesa, nosso
foco sempre foi poder, dominação, não é à toa que hoje presidimos as
empresas de nossas famílias.
— Como?
— Transferindo a sede da Luxúria pra cá. Não é uma excelente
ideia?
— Você entendeu...
— Você acredita que ele me disse que o instinto paterno diz que
será menino? Mas eu sonhei com menina.
***
— Tenho certeza que meu irmão irá venerar ainda mais a Thalita
quando ela estiver esperando um filho. — Thalita sorriu pra mim.
— Sim, infelizmente.
— Ok, obrigada.
— Claro.
***
Passava da hora do almoço e eu estava atolada em trabalho,
havia inúmeros documentos para ler, mas o estômago já reclamava. A
maçã que havia levado na bolsa não foi suficiente para saciar minha
fome. Prometi a mim mesma que assim que acabasse de ler a proposta
para expandir a franquia Albuquerque's no Nordeste, eu sairia para
almoçar.
***
— Assim como?
Fernanda Albuquerque
Filhote, vou logo avisando que a mamãe não é zen não, deixa só você
nascer que vou castigar o Bob.
— Acho que a Soraia não vai descer para tomar café agora, filha.
— Quem disse que é pra ela? Bá, agora eu como por dois e já que
vou embarangar mesmo, resolvi enfiar os dois pés na jaca! — falei,
sorrindo.
— Odete, vou te dar um aumento para elevar meu ego com essas
frases todos os dias.
— E nada modesta.
— Isso sim seria uma prova que na outra vida eu fui muito má.
— Desmarque!
— Como é? — ele indagou, irritado.
Pela forma que meu irmão respirou, eu sabia que estava puto de
raiva com a minha atitude, mas também sabia que, embora a vontade
dele fosse discutir, seu lado racional e profissional falaria mais alto.
Ele respirou fundo mais uma vez e me lançou um olhar gélido antes
de falar:
***
— Provavelmente não.
— Você terá muita fralda para trocar e nem pensará nisso! — ela
disse, rindo.
— Boa tarde, Dra. Heloísa. Ele vai muito bem, né, filhote? —
falei, acariciando minha barriga. — Essa é minha amiga, Soraia.
Eles nem são tão altos assim, têm uns seis centímetros.
— Não incomodam.
— Quem disse que ser mãe é uma dádiva, hein? Agora até dos
meus saltos vou abdicar! — resmunguei.
Marcos Castro
— Prontos, papais?
— Tchau, titia.
— Tô em choque.
— Não. Porque agora caiu a ficha que tem uma parte de mim
crescendo aí e isso me deixou desnorteado. Queria poder acompanhar
seu crescimento de perto, ver seu primeiro sorriso, ouvir papai pela
primeira vez, gravar vídeos dela engatinhado, estar ao seu lado
quando ela acordar no meio da noite chorando por conta de um
pesadelo... — Minha voz embargou e eu respirei fundo para conter o
choro. — Eu quero ser um pai presente, quero ela tenha orgulho de
mim — falei, já sem conseguir conter as lágrimas que escorriam pelo
meu rosto.
***
Fernanda Albuquerque
Será que existia uma fórmula certa para essa equação? Seja lá o
que estivesse por vir, iríamos conversar e tentar chegar a um
denominador comum. Dirigia ansiosa para chegar em casa quando
minha mãe me ligou. Atendi no comando de voz do carro.
— E os móveis? As roupinhas?
— Fernanda...
— Estou me sentindo com doze anos quando fui pedir para ficar
com a garota mais gata da escola — ele disse, rompendo o silêncio.
— Ela aceitou?
— Pois é... Já tive meus dias ruins... Estou morrendo de medo ser
dispensando novamente.
— Sim.
— Marcos, o que a gente tem é bom, eu diria até que muito bom.
Nossos corpos se encaixam perfeitamente na cama, você já
demonstrou ser um cara bacana. Mas não sei se eu e você podemos
dar certo, entende?
— É...
Marcos Castro
Mas dessa vez não havia desculpas que ela pudesse apresentar.
Eu havia dado a chance de ela dizer não e ela me disse, com todas as
letras, que me queria. Mas por que agora ela encarava o teto em
silêncio?
— Falar o quê?
— Ah! Isso... Não ia dizer isso agora. Você me ouviu dizer o que
eu queria — ela falou, virando o corpo na minha direção.
— Sim. Embora ser mãe não estivesse nos meus planos, não
posso negar que estou feliz por isso. — Acariciou a barriga. — Depois,
o tesão falou alto mais uma vez...
— Impossível, Marcos.
— Uma baleia loira linda — falei, sorrindo. Mas ela não sorriu,
pelo contrário, começou a chorar. Um choro copioso. O que eu falei de
errado? — Fernanda, o que foi? — perguntei, assustado.
— Eu não vou embora até ter certeza que você está bem.
— Marcos, eu disse que não ia dar certo. Não disse? Melhor você
ir encontrar uma sereia. A baleia aqui está encalhada.
— Marcos...
— Confirmar?
***
Fernanda Albuquerque
Como não se deixar envolver por tanto carinho? Merda, Marcos!
Você deveria ser cafajeste e não ficar ao meu lado enquanto choro.
Não tive como não baixar a guarda, mesmo que momentânea, perante
as investidas dele. Tentei fugir o máximo que eu pude.
— Intimidade.
— Mais?!
— Quero saber o que temos aqui. Se vamos ficar feitos um casal
de adolescentes que namoram escondidos dos pais.
— Não sabia que você era tão antiquado assim. — Não pude
evitar sorrir. — Você me disse que íamos deixar rolar, sem rótulos,
sem marcações. Lembra?
— Vou ter que ir embora após fazermos sexo ou você irá fugir?
— Como assim?
— Na verdade, você fez isso por nossa filha, para ela não nascer
com cara de jabuticaba — falei, sorrindo.
Fernanda Albuquerque
— Marcos, você não vai tomar banho? — Ainda não sabia por
qual motivo eu o havia convidado para ir também.
— Nove minutos...
— Filha, você não terá uma mãe, mas uma general em casa.
Ele usava uma calça jeans escura e uma camisa social rosa.
Mesmo escondidos sobre o tecido, era notável como os seus bíceps
eram musculosos. O homem exibia um lindo sorriso com todos os
seus dentes brancos e perfeitos, parecia ter saído de um comercial de
creme dental.
— Ele não teria motivo para mentir. Afinal, ele está com você por
vontade própria. Sabe quantos homens teriam pulado fora após uma
gravidez não planejada?
— É isso que você quer? Que ele seja apenas o pai da sua filha?
— É diferente.
— O que é diferente?
— E aí?
— Aí o quê?
— Acho que falei demais e posso ter jogado um balde água fria
nesse relacionamento.
— Imbecil.
— Irritadinha.
— Por que não consegue passar mais de vinte e quatro horas sem
me ter por perto?
— Leblon.
Marcos Castro
— Vou contar até dez, você larga isso e vamos embora. Mas, se
quiser dificultar, eu vou até onde você está e te arrastarei até o
restaurante.
— É um contrato importante.
— Nove.
— Oito.
— Sete.
— Seis.
— Cinco.
— Assim é sacanagem...
— Desafio aceito!
— E você, Sara?
— Não sei. Apenas não gosto da energia dela. Acho que é algo
da outra vida.
— Sim. Na outra vida, ela deve ter sido uma vaca que tentou me
destruir. Enfim, não gosto e pronto.
— Vocês mulheres...
— Não.
— E com a Thalita?
— Fome de Fernanda.
***
— Tá, desculpa. Vou ouvir todas elas, mas isso não significa que
vai valer alguma coisa.
— Sofia.
— Yasmim, com Y.
— Nina.
— Diz!
— Babaca-Love?
— Sim, meu babaca amado.
— Eu também, presida-love.
— Odiei esse presida. Você disse que não era a presidente que
você queria ao seu lado.
Fernanda Albuquerque
Após quase vinte dias exaustivos, nos quais tive que dar conta
de uma agenda de mais de um mês, estava voltando para casa. Nesse
tempo, consegui dar conta das reuniões que consegui antecipar.
— Claro que vou junto, estou louca para conhecer seu advogado.
— Vadia!
***
— Que eu estou cada dia mais linda e que mesmo que isso
aconteça ele não vai sair do meu lado.
— Que fofo!
— Fofo?! Fiquei irritada, isso sim. Foi o mesmo que ouvir: você
está bem acima do peso, mas ainda assim eu te amo. Eu sei, eu estou
surtando com todos esses hormônios da gravidez! — Suspirei. —
Agora vamos a única coisa que eu ainda tenho controle, o trabalho.
— Sim, senhora.
— Bom dia, presidente. Você não sabe quanta. Como está minha
sobrinha?
— Eu e o Marcos, juntos?!
— Eu posso ir.
— Algum problema?
— Como assim?
A sala era enorme e divida por cabines, cada uma ocupada por
um funcionário, mas incrivelmente, todos estavam de pé em volta de
uma única cabine.
— Tudo isso é pelo Marcos?! Você não deveria agir assim tão
passionalmente. Ele vai se cansar de você daqui a pouco — provocou-
me.
Eu bem que avisei para a Sara não cruzar o meu caminho. Nunca
fui com a cara dela, seu cargo era mantido pois não havia reais
motivos para demiti-la, era uma boa funcionária, apesar de
constantemente estar envolvida em fofocas. Mas fazer bolão a respeito
da paternidade da minha filha foi a gota d'água. Conhecendo-a, sei
que o que ela falou não foi da boca para fora. Ela iria mover uma ação
judicial contra a Albuquerque's e isso não me assustava nem um pouco.
Thalita faria o possível e o impossível para derrotá-la no tribunal.
Assim como eu, ela também não ia com a cara de Sara e eu acabei de
jogar no seu colo a chance de confrontá-la no que ela mais gostava de
fazer: advogando.
***
— Cheguei hoje.
— Dessa vez não. Ele ainda está em São Paulo. Vou encontrar a
Dani e uns amigos.
Não que estar grávida fosse ruim, pelo contrário, eu até estava
curtindo minha gravidez, com Marcos ao meu lado, tudo ficava mais
divertido. Mas eu sentia falta de ser apenas a mulher, aquela que era
desejada, que saía para curtir a noite com os amigos...
— Imagino.
Eu sabia o que viria, mas não podia evitar e me deixei levar. Ele
estava prestes a me beijar, mesmo com uma barriga enorme entre nós.
Eu deveria fugir. Mas a sensação de me sentir desejada falou mais
alto. E eu permiti que seus lábios encostassem nos meus.
Marcos Castro
— Um momento.
— Disponha.
— É diferente...
— Era isso que você vivia me dizendo, que o que tivemos foi
uma boa transa e só, e olhe onde estamos.
***
Fernanda Albuquerque
Como o Marcos podia ser tão idiota? Quantas vezes eu já havia
dito que nunca senti por ninguém o que sentia por ele? Foi a droga de
um beijo sem importância. Um beijo insignificante. Um beijo que não
provocou nenhuma reação no meu corpo. Mas ele me ouviu? Não!
Ficou cego de ciúmes!
Fernanda Albuquerque
— Dá para perceber?
— Conta do início.
— Fernanda, pelo que você disse, ele apenas pediu para que
você assumisse que o amava...
Eu não vou correr atrás dele. Não vou deixar me levar pela emoção.
— E a Albuquerque's?
— Fernanda! — repreendeu-me.
Sempre acreditei que amar era muito mais do que dizer “eu te
amo”. Era estar presente nos melhores e piores momentos, ser
presença mesmo na ausência. E, acima de tudo, querer bem mesmo
quando o outro não merecia. E era assim que eu me sentia em relação
ao Marcos, agora via com clareza. Nossa relação foi estabelecida sobre
divergências, companheirismo, brigas e reconciliações, mas nossas
trocas de olhares diziam o mais claro “amo você”, mesmo sem
proferir, de forma automática, tais palavras. Mas o importante era que
agora eu tinha certeza e conseguia nomear o meu sentimento pelo
babaca: amor.
— Fernanda?
— Não, não vai. Você sabe onde fica São Pedro da Aldeia? A
viagem é longa.
Seu carro seguiu o meu até a minha casa. A mala que eu havia
solicitado que Dita fizesse já estava pronta quando eu cheguei, de
modo que só fiz estacionar o carro, pegar a mala e entrar no carro do
Alexandre.
— O Marcos ou o pai?
— Ambos.
— Posso imaginar... Mas o pai dele não foi um canalha que não
assumiu o filho.
— E o apartamento hoje?
— Meu pai está passando por uma cirurgia nesse exato momento
e eu tenho tanto medo que... — Ela não conseguiu completar,
chorando compulsivamente.
— E você aceitou?
Como era de se imaginar, ela estava com tanta fome quanto eu.
Comemos com urgência, enquanto ela me contava um pouco da sua
vida.
— Por quê?
— Entendo.
— Isso não significa que meu pai tenha esquecido dele, de forma
alguma. Ele acompanhava sua vida por meio de notícias de amigos,
através das redes sociais... Meu pai cometeu muitos erros, mas é um
bom homem.
— Agora que sabemos que seu pai está fora de perigo, vamos
para casa. Amanhã ele não vai querer ver a filha dele com aspecto de
quem foi atropelada por um ônibus.
— Sim, minha tia avó e vou pedir para Duda, minha melhor
amiga, ir passar a noite lá comigo.
— Não está mentindo, né?! — falei, encarando-a.
— Sem problemas.
— Não vou.
— Marcos...
— Não há motivos para você ficar aqui. Eu não quero você aqui.
— Não tenho nada a ver com ela. E ele já está fora de perigo.
— Vai ficar fingindo que isso não te afeta até quando? Ficar
empurrando os problemas para uma gaveta secreta não fazem eles
desaparecerem e você sabe disso.
— Não posso impedir que você apresente nossa filha a ele, mas
não conte comigo para isso — ele falou e foi embora, deixando-me ali,
parada no corredor.
CAPÍTULO XXXVI
Marcos Castro
À noite, fui procurá-la para avisar que deveria partir com Alê, já
que eu não fazia ideia de quando conseguiria sair daquele pesadelo,
mas a teimosa simplesmente trouxe à tona tudo que eu evitei por
anos. Cada uma de suas palavras me trouxe ainda mais mágoa e raiva.
— Faz isso e acaba logo com esse sofrimento. Minha vida tá uma
merda mesmo. Você sabia que agora ganhou mais uma aliada para
campanha perdoe seu pai?
— A Fernanda?
— E? Não é com o outro que ela está aqui, é? Não foi a irmã do
outro que ela teve que consolar e cuidar, foi? Não foi pelo outro que
ela chorou de preocupação.
— Eu a fiz chorar?
— Você foi um completo imbecil hoje e sabe tão bem disso que
teve que recorrer ao porre para lidar com a culpa.
— Você precisa dormir. Com a cara cheia desse jeito só vai piorar
ainda mais a situação.
***
Acordei com uma forte dor de cabeça e uma ressaca moral ainda
maior. O álcool não minimizou minhas dores, pelo contrário, agora eu
sabia que era preciso enfrentar toda essa situação, só não sabia como.
Na verdade, eu sabia, mas não estava pronto para engolir meu
orgulho e virar de vez essa página.
— Ela não pode ouvir o som da sua voz que já fica toda agitada.
— Juntou a sua mão à minha.
— Minha mãe, dona Ana, foi a pessoa mais doce e justa que
conheci. Ela nunca permitiu que o término do seu relacionamento
afetasse a relação pai e filho, mas isso não impediu que nos
afastássemos. Era difícil aceitar um pai que só aparecia no Natal. Na
escola isso era evidente, pois nas atividades em que eu deveria
desenhar minha família, não havia espaço para esse desconhecido.
Éramos apenas minha mãe, meus avós e eu. Nas celebrações do dia
dos pais, eu elaborava presentes que nunca seriam entregues.
Concentrei minha atenção em sua barriga e a vi se esticar,
Mariana também estava agitada. Levantei o olhar e encontrei os olhos
da Fernanda marejados. Suas pernas ao redor da minha cintura me
apertavam firme. Não sei se ela tinha medo que eu saísse correndo ou
era sua forma de dizer que me entendia. Só sei que isso me deu força
para continuar.
Fernanda Albuquerque
Nunca mais.
— Amor, não precisa ficar. E só para você saber, ele não beija
bem. Na verdade, depois do seu beijo, os outros são só outros.
— Eu sou sua.
Marcos Castro
com Cecília. Olhei mais uma vez para o relógio, faltavam cinco
minutos para que a visita fosse autorizada. Ainda dá tempo de ir embora.
— E a gratidão?
filha. Tenho certeza que ela vai te amar. Aliás, quem não te ama,
babaca-love? E só pra saber — aproximou-se de mim, parecia que ia
me revelar algo que ninguém mais podia ouvir —, eu te amo. — A
voz saiu baixa e sussurrada.
— Sim.
— Claro.
— Marcos, eu sei que ela te obrigou a vir até aqui. Minha esposa
tentou fazer o mesmo comigo até o último dia da sua vida, mas fui
cabeça-dura... E dar tempo ao tempo talvez não tenha sido a melhor
escolha. Sei que você dever ter muito para falar, mas eu queria falar
primeiro, tentar explicar... Quando eu recebi a proposta de emprego
para ser gerente regional de uma rede de supermercados, fiquei
realizado, eu poderia proporcionar uma vida boa a minha família, era
minha ascensão pessoal. O problema era que, no dia seguinte, eu teria
— Sou Lusa.
— Seu avô recrutou você para o lado dele. — Ele sorriu. — Perdi
tudo isso, não sei seu gosto musical, sua comida favorita, seu time do
coração.
— Não sei se viverei mais trinta anos, por isso eu peço que fique.
Não estou pedindo seu perdão, porque sei que não é fácil conseguir,
estou apenas pedindo que escute. Eu já fiz muita merda na minha
— Valeu.
— Entendo.
conhecer o avô. Assim como minha mãe nunca privou você de me ver,
mas é só. Acredito que com o tempo poderemos estar no mesmo
ambiente sem que sua presença me agite, sem que eu olhe para você e
me pergunte “por quê”... Mas hoje não.
— Não dá. Mas dá para você ser um avô bacana, como o meu foi
para mim.
Era o início de uma nova página, não com o final feliz que todos
esperavam, até por que esses só existiam nos contos de fadas. Na vida
real, os erros não eram facilmente esquecidos, as mágoas nem sempre
perdoadas e as feridas nem sempre cicatrizavam. Assim era a vida.
CAPÍTULO XXXVIII
Fernanda Albuquerque
Puxei-o pela gravata para mais perto e colei meus lábios nos seus
para impedir seu protesto. Instintivamente, seu corpo se colou ao
meu, suas mãos percorreram minha camisola e minha bunda foi
apalpada com força. Minhas mãos buscaram o zíper da sua calça e
foram impedidas de chegar até o destino. Segurando minhas mãos
sobre minha cabeça, ele me guiou box adentro. O tecido fino da
camisola não impediu que eu sentisse o azulejo frio contra as minhas
costas. Sua boca traçou um caminho de beijos pelo meu colo. Minhas
mãos ainda permaneciam impedidas de tocá-lo. Ele sabia como me
enlouquecer. Eu já estava entregue ao desejo quando sua língua
invadiu minha boca com urgência. O Fernando que espere. Sem que eu
percebesse e tivesse tempo de agir, uma ducha de água gelada atingiu
todo o meu corpo por completo e o Marcos estava seco fora do box,
gargalhando.
— Sério?!
***
— Cadê a Thalita?
— Marcos, a mulher é sua! Estou fora dessa. Doma ela antes que
ataque o presidente da confederação por estar atrasado.
— Tá se sentindo bem?
— Pareço mal?
O ritmo perfeito.
***
Marcos Castro
— Sendo assim, já é.
— Gabi, você deveria pelo menos fingir que não estava tão a fim
de ir à festa.
— Já gostei do Alê!
— Espera só até você ver. Vai ficar de quatro...
— Fernanda! — repreendi.
— Amor, só tenho olhos para você. Mas isso não significa que eu
não aprecie a paisagem — falou, sorrindo e me dando um selinho
rápido. — Até a noite.
***
— Não preciso disso para sair. Ela confia no homem que tem. —
Sorri.
— Ora, ora, ora se não é o Marcos. Ouvi dizer que quem é vivo
sempre aparece — Carla, prima do Alê, falou, beijando-me no canto
da boca, já fiquei com ela algumas vezes.
— Oi... Pensei que tivesse voltado para os Estados Unidos.
— Legal — respondi.
— Ai meu Deus! Vivi para ver você domado por uma mulher. —
Ela sorriu. — Sendo assim, deixe eu sair daqui antes que sua dona
chegue e me mate por estar ao seu lado. — afastou-se, sorrindo.
— Foi mal, cara. Foi mal mesmo, eu não tinha como saber.
— Puta sorte!
— E a loira panicat?
***
— Você fala isso pelos meus seios, que quase não cabem na
roupa, ou pelas minhas pernas à mostra? — Seus olhos verdes me
encaravam e um sorriso estampava seu rosto.
— Por que não pensei nisso antes?! Não vejo hora de chegarmos
em casa, para que eu possa te despir completamente usando apenas a
minha bo... — Ela não permitiu que eu terminasse, colando sua boca a
minha, beijando-me com vontade. Fernanda me puxou pelos cabelos e
só parou de beijar quando o ar pareceu ter desaparecido do ambiente.
— Ok, ok. Vamos, depois eu ligo para a Cátia e peço que faça
algumas alterações na minha agenda.
***
Dessa vez, fomos para meu apartamento. Ela seguiu direto para
o banho, alegando cansaço. Eu me despi como de costume, ficando
apenas de cueca, deitado em minha cama. Minha intenção era fazê-la
se recostar em meu corpo e acariciar seus cabelos até dormir, mas meu
corpo reagiu ao vê-la usando uma camisola de seda preta. Seus seios
ficaram estufados no detalhe de renda e sua barriga avantajada fazia a
peça ficar ainda mais curta, deixando muito pouco para a imaginação.
Ela encarou meu olhar, trazia um creme hidratante nas mãos.
— Ainda fico admirado com a sua beleza. Você pode achar que
não, mas está ainda mais gostosa e graças a mim...
— O quê?
— Mariana será tanto minha quanto sua e você continua gostoso,
com todos os músculos da barriga definido, os braços fortes, a cara
safada... e... — Passei a massagear o outro pé.
— Sua mãe só quer ver seu rosto... E se eu não quisesse tanto isso
também, desejaria que ela ficasse grávida por mais um tempo — disse
para sua barriga e pontuei com um beijo demorado na parte superior,
senti ali mais um chute. — Ela quer sair daí, também. — Olhei para
Fernanda, que me encarava.
Fernanda Albuquerque
— Viu o que você faz comigo sem nenhum esforço? — Foi a vez
dele se esfregar em mim, totalmente duro. Gemi baixinho. —
Consegue sentir o quanto eu te acho gostosa e quero ter você? — Ele
apertou o bico do meu seio para me lembrar que podia não ser tão
gentil. — Você adora que eu te foda com força, gosta que eu me perca
em seu corpo... É isso que você quer agora?
Ele mordeu meu ombro com uma força calculada para ficar entre
o prazer e a dor.
— Sim, é isso que eu quero — sussurrei, era exatamente o que eu
queria.
— Você não disse que estava cansada, amor? — Agora ele tinha
as duas mãos nos meus seios, continuava se esfregando em mim e
sussurrando ao meu ouvido.
— Marcos... — pedi.
— Marcos!
Prazer.
Carinho.
Paixão.
Amor.
— Oi?!
— Fernanda...
— Eu te amo, presida-love.
Marcos Castro
sorte. Tinha uma mulher maluca, que gritava, mandava, fazia de mim
gato e sapato e que me amava, amava com tesão, com gestos, com
palavras, com todo o seu coração. Prova disso era seu pedido de
casamento pré-gozo. Somente Fernanda Albuquerque para me
surpreender dessa maneira.
“Amor,
Sei que sumi, mas é por uma boa causa. Confie em mim.
Tenha um bom dia,
Te amo, babaca-love.”
Assim que acabei de ler o bilhete, liguei para ela. Caixa Postal. O
que ela estava aprontando? Tenha um bom dia, vou passar um dia
inteiro sem vê-la? Ela não deveria estar falando sério. Sorri ao ver, no
criado-mudo, uma bandeja com o café da manhã que deduzi que
Responde!!
ouvido, disse que eu não poderia entrar na casa por ordens da noiva.
gostaria de vê-la.
será que ao menos uma ligação você não poderia tentar? Apenas para
ouvir a voz dela, saber se realmente está tudo bem.
— Não, não pega nada mal. Você será o noivo mais apaixonado
da história de todos os casamentos.
— Tchau, amor.
— O que devo fazer até a hora de te ver?
— Ok. — Sorri.
— Marcos?
— Oi.
Fernanda Albuquerque
— Pensei que nunca iria atender — falei baixo para não acordar
Marcos.
minutos.
S.O.S
Vou casar!!
Lu diz: ?????????????????????????
Se vira, gata ;)
temesse a resposta.
— Nem me fale. Papai vai surtar, né, filha, quando descobrir que
sumimos.
— Como assim?
— Babaca-love?
— Fico muito feliz por vocês de fato. Pode ter certeza que
ganhou um companheiro para todas as horas. Já avisou ao Fernando?
***
Marcos Castro
dos solteiros.
indo para seu próprio casamento. O que essa mulher fez com você,
— Não sei. Mas seja lá o que for, eu tô feliz pra caralho. Vamos
— Agora que me conheceu, viu que sua filha fez a escolha certa.
— Perco o sogro, mas não a piada.
— Nervoso, Marcos?
— Muito!
— Sim.
Chegou a hora.
É, filha, só está faltando você pra ficar perfeito. Que lágrimas são
essas que escaparam dos meus olhos? Marcos, você é patético, pensei,
quando recebi de Soraia um lenço de papel.
Fernanda Albuquerque
— Brigadeiro?
— Sua bunda ficou ainda maior com essa calda. Papai Marcos
vai gostar. — Esse era o jeito de Gabi elogiar.
— Certo.
— Eu preciso! Já fui largada uma vez. Não quero ser outra vez —
Sol disse, levantando a barra do vestido e colando seu nome.
— Ainda bem que desse mal eu não sofro. — Gabi sorriu, seus
pais eram divorciados e seu pai já havia se casado algumas dezenas de
vezes com mulheres mais novas.
— Por que não? Dizem que as grávidas são mais sensíveis aos
estímulos sexuais. — Nisso ela estava certa. — Está considerando a
hipótese, amiga? — perturbou.
Ele deslizou a aliança pelo meu dedo anelar e beijou minha mão.
— Que discurso foi esse? Você quer acabar comigo, né? — disse,
sorrindo.
FIM
EPÍLOGO
Marcos Castro
Ouvir o nome da minha filha fez meu coração bater ainda mais
acelerado.
— Não, Marcos, ano que vem! Claro que é agora. — Ela arfou. —
Liga para a obstetra... Diz que a bolsa estourou.
— Não vai surtar! Se tem alguém prestes a fazer isso, sou eu que
estou sendo castigada por contrações... Celular na sua mão. —
Apontou. — Claro que temos que ir ao hospital. Ou quer que ela nasça
aqui no quarto?
— Confortável, amor?
— Essa é a hora que tenho que dar a resposta fofa e dizer "ao seu
lado tudo fica bom"? — Ela me encarou.
— Mas...
— Mas nada, Marcos, não solta minha mão. — Acariciei sua mão
e ela apertou com força.
— Marcos, só promete.
— Não.
— Fernanda...
— Você já é pai?
— Tá tenso, né?
— Muito!
— Porra!
— Oi, filha! — ela falou entre lágrimas. — Mamãe não via a hora
de ver seu rostinho. — Sua mão delicadamente acariciou Mariana.
Fernanda Albuquerque
Minha filha nasceu. A minha união com o Marcos estava
aninhada no meu colo. Não contive as lágrimas e chorei de felicidade.
Marcos, por sua vez, também não conteve a emoção; éramos nós que
parecíamos dois bebês chorões. Nossa princesinha permanecia
tranquila, enquanto os papais babavam.
Eu soube realmente o que era ser mãe quando ouvi o primeiro
som vindo de Mariana. Um choro que capturou todos os meus
sentidos, que anunciou o seu nascimento. Um som que aguçou em
mim um instinto protetor, até animalesco. Ao ouvi-la, compreendi o
que era amar alguém mais que sua própria vida. O contato das nossas
peles, o calor que emanava dos nossos corpos e os nossos corações
batendo no mesmo ritmo acelerado, fizeram-me chorar mais uma vez.
— Avisei aos seus pais que deu tudo certo no parto, sua mãe
disse que na primeira hora do dia estará aqui para ver a neta.
— Sim, mas seu pai surtou bem mais. — Sorri. — Até nota
anunciando o nascimento da neta ele já fez questão de soltar na
imprensa. — Sorrimos juntos.
***
— Ouve bem, Mari, porque o papai aqui não vai pegar leve com
esses aproveitadores.
— Thalita...
— Fala isso pela Soraia, né? — Meu marido não perdia a chance
de provocar meu irmão.
— É linda — murmurei.