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Copyright © 2022 G. C.

Jiménez

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos


são produtos de imaginação do autor. Qualquer semelhança com nomes, datas e
acontecimentos reais é mera coincidência.

Capa: L.A Designer Capa


Beta: Hylanna Lima
Revisão: Aracy Nunes
Diagramação Digital: EVET Assessoria

Todos os direitos reservados.


São proibidos o armazenamento e/ou a reprodução de qualquer parte dessa obra,
através de quaisquer meios — tangível ou intangível — sem o consentimento da
autora.
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido pela lei nº 9.610/98 e punido
pelo artigo 184 do Código Penal.

Edição Digital ǀ Criado no Brasil


1ª Edição
Agosto de 2022
Sumário
SINOPSE
PLAYLIST
DEDICATÓRIA
PREFÁCIO
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8
CAPÍTULO 9
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
EPÍLOGO
AGRADECIMENTO
MENSAGEM DA BETA
CONHEÇA MEUS OUTROS LIVROS
ENCONTRE A AUTORA
“Eu não temo a morte.

Estive morto por bilhões e

bilhões de anos antes de nascer,

e isto não foi nenhuma inconveniência.”

(DESCONHECIDO)
SINOPSE

Colin Donovan tornou-se um dos maiores arquitetos da atualidade,


conquistando fama e respeito entre celebridades e figuras políticas. Seu nome
é sinônimo de inovação e modernidade no mercado imobiliário, mas um
segredo ameaça sua carreira e a segurança de sua família. Decidido a proteger
aqueles a quem ama e preservar suas vidas, ele decide se afastar antes que
acabe destruindo tudo pelo qual tanto lutou. Ele sabe que é uma questão de
tempo até que a verdade venha à luz, por isso precisa encontrar alguém que
seja seus olhos e ouvidos enquanto foge da realidade.

Não faz muito tempo que Andie Sullivan perdeu os pais em um


acidente de carro. Sozinha no mundo luta para seguir em frente apesar de
todos os percalços, mas um acontecimento inesperado coloca sua futura
carreira em risco e, para solucionar o problema necessita urgentemente de um
novo emprego ou terá que abandonar seus sonhos.

Um homem marcado por um segredo, uma jovem estudante à procura


de um emprego. Dois caminhos que se cruzarão por pura casualidade... ou
seria destino?

Realidade ou ficção?

Dois mundos colidindo diante da força implacável da paixão.


PLAYLIST

O que seria de uma linda história de amor sem uma boa trilha sonora?!

Para ter acesso à playlist, basta apontar o celular para o QR Code,


clicar no link ou procurar pelo título do livro no Spotify.

CLIQUE AQUI
DEDICATÓRIA

“Este livro é para você que também acredita que lendas possuem um fundo
de verdade. Espero que encontre o que tanto procura.”

Com Amor,
Glau
É comum crianças aprenderem que monstros e fadas não existem, a
não ser em suas próprias imaginações infantis. Mas, a cada ano um novo
relato assustador ou fantasioso ressurge reacendendo o interesse dos
aficionados pelo tema.

Prova disso é a quantidade de livros e filmes sobre o gênero que são


lançados todos os anos criando franquias milionárias que brincam com o
oculto e o imaginário das pessoas, atraindo cada vez mais adeptos para o seu
nicho de atuação.

Tamanho sucesso pode estar relacionado ao medo que muitas pessoas


têm de aceitarem que a vida humana possui um prazo de validade. O que
certamente deve ter contribuído para o surgimento de lendas sobre esses seres
imortais, capazes de viverem séculos inteiros sem temerem o fim de suas
existências.

É como se o desejo pela imortalidade negada desde o pecado original,


só pudesse existir na forma de criaturas místicas, nascidas da mais profunda
escuridão, contrapondo-se as leis divinas e ao juízo de Deus.

Por outro lado, sobrevive a teoria de que a existência de tais seres não
passa de relatos distorcidos de uma época na qual a humanidade mergulhou
na sua mais profunda escuridão, deixando que a vergonha por seus crimes e
atrocidades recaísse sobre criaturas amaldiçoadas por Deus, condenadas a
vagarem pelo mundo dos vivos sem um amor e totalmente isoladas do
convívio social.

Porém, apesar de muitas dessas estórias conterem relatos bárbaros,


havia entre elas algumas tão fantasiosas que foi inevitável atrair simpatizantes
seduzidos pela falsa ideia de uma vida sem morte ou sofrimentos, obrigando
a igreja a combatê-las veementemente, na clara intenção de desacreditá-las
perante a sociedade da época.

E, apesar de todos os esforços impetrados nesse sentido, uns poucos


corajosos arriscaram suas vidas repassando tais relatos de gerações em
gerações, como uma forma de alertarem os humanos sobre a existência de um
mal tão poderoso que jamais deveria ser desprezado.

Seja como for, independente do ponto de vista, tudo isso certamente


possui um fundo de verdade e, se essa for a teoria correta, então esses seres
inomináveis realmente existem e continuam vivendo na escuridão como uma
forma de se protegerem da obsessão do homem pela imortalidade ou... eles
apenas estejam esperando o momento certo para trazerem à luz toda a sua
maldade.

E, se essa for a verdade a humanidade necessitaria de uma força maior


e mais poderosa para detê-los como o amor entre companheiros.
“Um fio invisível conecta aqueles que estão destinados a se encontrarem, sem
importar com o tempo, o lugar, nem a circunstância. O fio pode esticar ou enrolar,
porém jamais se romperá.”
(SIR MUSE)

Andie Sullivan estava na pior, quando a oportunidade dos sonhos caiu


do céu através de um anúncio nos classificados. A vaga para assistente
pessoal remota era exatamente o que uma garota no primeiro ano de
faculdade de enfermagem desejava.

O salário acima do mercado e os horários flexíveis seriam a sua


salvação antes que fosse obrigada a trancar a faculdade e retornar para a
cidadezinha do interior com uma mão na frente e outra atrás. Por isso, não
pensou duas vezes antes de enviar o currículo por e-mail e agendar a
entrevista para o dia seguinte.

Sabia que um anúncio como aquele atrairia muitos candidatos, mas


alguma coisa em seu íntimo a fez acreditar que aquela vaga seria sua e de
mais ninguém. Por isso, passou o restante do dia pesquisando sobre as
atribuições de uma assistente pessoal a fim de impressionar em sua
entrevista.

Afinal de contas, desde cedo aprendera a encarar a vida de frente e


deixar as fantasias de infância no passado, pois nada nessa vida chegava de
mão beijada. Era necessário esforço para alcançar os objetivos, porque no
mundo moderno não existiam príncipes montados em cavalos brancos para
salvar as donzelas indefesas e, sim dragões em forma de empréstimo
estudantil, ávidos por cobrarem suas mensalidades com juros exorbitantes.

Dava graças a Deus pela criação de seus pais que a ensinaram que no
mundo real, as contas vencem todo fim de mês e doenças são curadas com
medicamentos caros, por isso Andie não se deixava levar por sonhos juvenis
e cresceu ciente de que suas conquistas seriam fruto exclusivo do seu esforço
pessoal e dedicação.

Então, quando perdeu os pais no último ano e se viu sozinha no mundo


soube que não restava outra saída a não ser seguir em frente, mesmo que
agora um pouco mais solitária e um tiquinho triste. Afinal de contas jamais
superaria o luto pela perda dos pais e a vida não teria pena de suas mazelas.

Foi por causa dessa filosofia de vida que ao ser aceita no curso de
enfermagem fez o que pode para se manter durante os primeiros meses,
aceitando todo tipo de ocupação que pagasse o aluguel do pequeno estúdio no
subúrbio da cidade e mantivesse as contas em dia.

No princípio as coisas estavam indo muito bem, até perder o emprego


na antiga livraria do bairro, que declarou falência por causa do baixo fluxo de
leitores que ainda se interessavam por um bom livro ao invés de ficarem
horas presos nas redes sociais assistindo a dancinhas estúpidas.

Aquilo havia sido uma lástima na sua opinião, não apenas pelo
emprego, mas também por ver tantos livros bons serem vendidos a preço de
banana para que o dono pudesse saldar suas dívidas com as editoras.

Logo nas primeiras semanas após se ver no olho da rua e sem nenhuma
perspectiva a sua frente, andou feito louca atrás de qualquer atividade que a
ajudasse a pagar as contas. Contudo a crise parecia estar por todas as partes a
fazendo duvidar de seu futuro.

Já estava quase entregando os pontos quando, naquela manhã, suas


esperanças foram renovadas ao ler os classificados. Se conseguisse aquele
emprego colocaria ordem em suas finanças e não precisaria abandonar a
faculdade.

Focada em disputar a vaga para assistente, procurou entre as roupas


algo que a ajudasse a causar uma boa impressão, pois sabia que o visual certo
contaria pontos em seu favor.

Pensando assim, separou uma calça social e uma blusa de seda manga
¾, com gola alta e laço no pescoço, ambas as peças na cor preta, que ficariam
perfeitas junto aos escarpins vermelhos. Adorava essa cor, sempre a achou
vibrante e feminina.

Com o visual certo em mãos, se concentrou no próximo passo, que


seria convencer o entrevistador de que ela era a melhor escolha para a função,
caso contrário daria adeus a universidade.

E, isso era inadmissível.

Essa sua vontade de vencer na vida tinha o lado positivo, porque a


permitia ir em busca de alternativas que pudessem mudar sua situação, mas
também provocava crises de ansiedade que a deixavam noites em claro.
Talvez fosse isso que a estivesse incomodando quando se deitou à noite em
sua cama.

Podia jurar que havia uma energia diferente vibrando por seu corpo
quando apagou as luzes do quarto. Ela não saberia explicar o que exatamente
estava sentindo, mas era como se tivesse a certeza de que sua vida estava
prestes a tomar um novo rumo.

Não era uma garota supersticiosa, tampouco acreditava em


pressentimentos, contudo se permitiu descansar com um sorriso nos lábios
enquanto mergulhava em um sono profundo, cheio de imagens confusas que
lhe roubaram suspiros inconscientes durante a madrugada.
O prédio da ARCADIS – Arquitetura, Construtora e Empreiteira,
ficava no centro da cidade, em um dos endereços mais cobiçados pelo
mercado imobiliário.

Segundo sua pesquisa, o empreendimento pertencia a família Donovan,


uma das mais tradicionais e influentes do ramo imobiliário.

O patriarca, o senhor Daniel Donovan, havia sido governador do


estado durante alguns anos antes de se dedicar inteiramente aos negócios, que
administrara ao lado dos filhos Colin, Jason e Katie, antes de se retirar há
alguns anos atrás, deixando o posto de CEO para o filho mais velho.

Colin Donovan era o arquiteto da família e vencedor de diversos


prêmios internacionais por causa de sua criatividade e inovação nos projetos
arquitetônicos. Devido ao seu inegável talento acabou se tornando o arquiteto
favorito das celebridades e personalidades políticas.

Já seu irmão, Jason Donovan, era o engenheiro civil que assinava os


projetos de diversos edifícios da cidade e de outros estados, uma verdadeira
autoridade quando o assunto era modernidade e sustentabilidade. Mas, a
estrela da família era a caçula, Katie Donovan.

Discreta em sua vida pessoal, a jovem de apenas vinte e seis anos


dedicava boa parte de seu tempo a criação de móveis para interiores, tendo
como marca registrada a sustentabilidade e o reaproveitamento de materiais
usados, trazendo para a ARCADIS diversos prêmios que colocaram a
empresa entre as queridinhas dos ambientalistas.

Então, quando Andie chegou a ARCADIS foi impossível não ficar de


queixo caído ao se deparar com o que estava diante de seus olhos.
O lugar refletia exatamente tudo o que havia descoberto em sua rápida
pesquisa, pois o design arrojado concedia ao ambiente um ar moderno e
familiar que encantava à primeira vista.

Havia painéis em madeira, nichos de trabalho com plantas e cores


vibrantes, sem contar que a iluminação do local era praticamente toda natural.
O mobiliário parecia confortável e totalmente adaptado para as necessidades
de seus funcionários, evidenciando que a intenção de quem havia projetado o
espaço era estimular a criatividade da equipe e dar mobilidade para que
qualquer um pudesse transitar sem obstáculos.

Andie não se importaria de passar mais alguns minutos admirando


cada detalhe do lugar, mas tinha uma entrevista de emprego esperando por
ela. Assim, tratou de se identificar na recepção de onde foi encaminhada para
o setor de RH e em seguida para uma sala na qual como já era esperado se
encontrava um número considerável de candidatos que disputariam aquela
vaga com ela.

Porém, nem mesmo o tamanho da concorrência foi capaz de abalar sua


confiança.

Estava determinada a dar o seu melhor, portanto quando chegou a sua


vez procurou ser objetiva em suas respostas, enfatizando que a faculdade não
atrapalharia seu trabalho.

Tal informação pareceu agradar a gerente, uma senhora de meia idade,


que lhe sorria ao final de sua entrevista, mesmo que mantivesse uma postura
imparcial, não dando nenhum sinal de que Andie seria a sua escolha.

Segundo a gerente, o cargo de assistente seria para atender as


necessidades de um dos sócios sênior que tiraria um ano sabático fora do país
e precisaria de uma pessoa de confiança para se ocupar de eventualidades que
pudessem surgir durante sua ausência.

Por essa razão uma das exigências para o cargo era que a pessoa
escolhida possuísse formação na área de engenharia ou afins.
— Andie, seu currículo é muito bom apesar de não ter nada a ver com
nossa área de atuação — a gerente parecia lamentar esse detalhe.

— Sei que não entendo nada de construção civil ou design de


interiores, mas estou disposta a aprender.

— Claro que está — sorriu complacente — sei que pode parecer que a
estou dispensando, mas veja bem — retirou os óculos — minha função aqui
não é eliminar ninguém e sim separar os melhores candidatos para a vaga e, o
que vejo no seu currículo apesar de me agradar bastante está fora do que
estamos buscando. Porém, deixarei isso para ser avaliado no devido tempo.
Talvez o senhor Donovan abra uma exceção depois de ler sua entrevista e
avaliar suas qualificações.

Aquilo realmente soou maravilhoso para Andie, porque não era


exatamente um não, ou seja, ela ainda tinha uma chance de se tornar
assistente de um chefe ausente, trabalhando de casa, com horário flexível e
salário acima do mercado.

— Agradecemos que tenha enviado seu currículo e comparecido à


entrevista senhorita Sullivan. Assim que finalizarmos essa primeira fase
entraremos em contato, independente de qual for o resultado.

— Muito obrigada! Eu realmente agradeço o seu tempo e ficarei


aguardando um retorno. — Devolveu o sorriso e apertou a mão da gerente
antes de sair.

Havia feito tudo o que estava em suas mãos para conseguir a vaga,
agora seu destino estava nas mãos de Deus e na boa vontade do tal senhor
Donovan.

Andie deixava a sala da gerente quando algo muito estranho lhe


ocorreu arrepiando os pelos de sua nuca.

De repente ela se sentiu nua, completamente exposta, como se alguém


a estivesse observando e pudesse desnudar sua alma, fazendo sua respiração
ficar errática e as pernas bambas.

O mal-estar repentino a fez estacar no lugar e olhar ao redor, mas tudo


o que viu foram outros candidatos esperando por sua vez entretidos em seus
celulares ou na leitura de algum livro.

Mas, isso não a ajudou a se livrar da impressão de estar sendo


dissecada.

Totalmente perturbada com a sensação inesperada, olhou novamente


ao redor tentando encontrar alguma explicação razoável para tal
pressentimento que fazia seu coração acelerar como um louco dentro do
peito.

— Está tudo bem?

Uma desconhecida perguntou tocando seu ombro.

— Estou sim, obrigada — tentou disfarçar com um sorriso.

— Tem certeza? Você está pálida e suando frio. Se quiser pode vir até
minha sala e tomar um copo com água — a jovem parecia realmente
preocupada.

— Agradeço sua oferta, mas não será necessário. Estou bem... de


verdade. — Desconversou seguindo com passos apressados em direção ao
elevador enquanto a sensação incômoda crescia em seu interior.

Ela jamais havia se sentido daquela maneira antes, a ponto de o


coração doer como se dedos o estivessem esmagando.

O mal-estar foi tão forte que quando entrou na caixa metálica Andie
apoiou o corpo contra o espelho fechando os olhos em uma vã tentativa de
conter a tontura repentina que se abateu sobre ela.

Puxou o ar duas vezes antes de voltar a abri-los e fixá-los sobre o


painel luminoso. Algo estava acontecendo além da dor em seu peito, não era
coisa de sua cabeça. Sabia disso, porque a cada passo que dava para longe
daquele lugar sua mente se rebelava.

“Isso é ridículo! Estou tendo um ataque de ansiedade isso sim”,


pensou, saindo do elevador e caminhando apressadamente pelo hall de
entrada. Porém, quando alcançou a calçada a dor em seu peito foi quase
insuportável, a obrigando a levar a mão contra o coração em busca de alívio.

Sentiu medo de que algo mais sério do que um simples ataque de


ansiedade estivesse ocorrendo, fazendo disparar um alarme em sua mente.
Desesperada, fez sinal para o primeiro táxi que apareceu e pediu que o
motorista a levasse diretamente até o hospital universitário onde poderia
receber atendimento médico.

Sua aparência devia refletir o quanto se sentia horrível, porque o pobre


homem pisou fundo no acelerador temendo que sua passageira enfartasse em
seu banco traseiro. Contudo, assim que ultrapassaram duas quadras a coisa
mais bizarra aconteceu. Da mesma forma que o mal-estar havia surgido, ele
simplesmente... desapareceu.

Isso sim, foi assustador.

Em um momento estava quase enfartando e segundos depois, como em


um passe de mágica, tudo havia desaparecido como se jamais tivesse
ocorrido. Mesmo assim, Andie fez questão de seguir para o hospital — o que
não foi de grande ajuda, uma vez que os médicos nada encontraram em seus
exames.

Segundo o plantonista, ela havia sofrido um ataque de ansiedade, nada


grave considerando toda a pressão psicológica que estava vivenciando nas
últimas semanas. E, só por precaução, o médico acabou receitando um
calmante que Andie fez questão de ignorar por não gostar de medicamentos
que alterassem sua percepção.

Quando retornou para casa estava exausta de todo aquele embrolho.


Por mais que seus exames estivessem ótimos ficaria de olho caso voltasse a
sentir aquela dor novamente. Não podia se dar ao azar de adoecer, não agora
que estava prestes a conseguir um novo emprego e resolver sua vida.

Como não havia mais nada que pudesse ser feito a respeito do seu
futuro, passou o restante do dia debruçada sobre os livros e trabalhos
acadêmicos, antes de convidar Brenda para comerem uma pizza em seu
estúdio.

Brenda Schneider, era uma colega de classe que morava no andar de


cima e adorava aproveitar a vida como se não houvesse amanhã. Por isso,
quando a amiga bateu à sua porta carregando duas caixas de pizzas e oito
latinhas de cerveja, sabia que se dependesse de Brenda amanheceria de
ressaca.

— Então, como foi a entrevista? — A amiga perguntou de boca cheia.

— Olha, sei que pode parecer loucura da minha cabeça até porque não
preencho todos os requisitos exigidos para a função, mas sinto que essa vaga
é minha — respondeu pegando mais um pedaço de pizza.

— É isso aí amiga — incentivou — pensamento positivo sempre e se


não der certo, podemos tentar outra coisa.

— Preciso desse emprego, Brenda. Caso contrário terei que abandonar


meu curso de enfermagem — lamentou-se.

— Levanta essa cabeça, mulher! Ninguém vai abandonar nada aqui. Já


falei que se precisar você pode vir morar comigo até conseguir um emprego.

— Sei disso, mas ainda tenho o crédito estudantil e não posso ficar
eternamente vivendo de favores.

— É para isso que existem os amigos, para se apoiarem nos momentos


difíceis. Não vejo problema em tê-la comigo até as coisas melhorarem para
você — enfiou o restante da pizza na boca fazendo uma careta engraçada.

— Sei disso e agradeço, mas vamos ver como vai ficar tudo. Sinto que
terei uma resposta positiva, preciso acreditar nisso.

— E você terá. No que depender dos meus pensamentos positivos você


já é a nova assistente pessoal de... quem é mesmo a pessoa para quem terá
que trabalhar de faz tudo?

— Não é faz tudo, sua louca — revirou os olhos — ainda não sei
exatamente para quem, mas isso não importa. Eu só preciso do emprego.

As duas ainda conversaram por várias horas antes de se despedirem


prometendo se encontrarem na faculdade no dia seguinte.

Somente então, Andie tomou um longo banho e depois se encolheu


debaixo das cobertas ainda pensando em tudo o que havia lhe ocorrido
naquele dia estranho. Não quis comentar nada com Brenda porque sabia que
isso seria o bastante para a amiga querer arrastá-la de vez para seu
apartamento.

Gostava de Brenda, mas dividir o mesmo teto seria como conviver com
a Arlequina de TPM e isso estava fora de seus limites, porque Andie adorava
paz e sossego.

Esse era um traço tão marcante de sua personalidade que quem a


conhecia bem sabia que preferia ficar em casa na companhia de um bom livro
ao invés de passar todo o fim de semana em meio a festas de fraternidades.

O silêncio para ela era como um lugar... um lugar no qual conseguia se


conectar consigo e evoluir.

Naquela noite em especial, optara por deixar as cortinas abertas para


que pudesse admirar a lua cheia, enquanto pensava em sua vida.

Assim como a maioria das pessoas, Andie gostava quando a lua estava
em seu máximo esplendor, porque mesmo não acreditando em príncipes
encantados esperava um dia poder encontrar um amor que a levasse para um
passeio ao luar enquanto compartilhassem do silêncio acolhedor.
Claro que para ela, isso não passava de uma hipótese distante, mas o
destino parecia ter outros planos para a jovem estudante.
“Nos encontramos por causalidade
E nos atraímos por natureza.”
(MOYA)

Tudo o que Colin Donovan desejava era um maldito ano sabático


longe de toda a pressão cotidiana que sua vida profissional colocava sobre
seus ombros.

Quem convivia ao seu lado sabia que a cada dia que passava seu
autocontrole estava por um fio. Era nítido que mais cedo ou mais tarde as
coisas sairiam dos trilhos e, se isso acontecesse, sua família seria arrastada
para o maior e mais inacreditável escândalo de todos os tempos.

Porém, seus irmãos estavam relutantes em assumirem tantas


responsabilidades. Certamente o medo de ficarem sem o irmão mais velho os
deixava inseguros. Por outro lado, Colin jamais tomaria tal atitude se não
confiasse plenamente que seriam capazes de tocar os negócios em sua
ausência.

Um dia seus irmãos compreenderiam que a necessidade daquele


distanciamento era a única forma de satisfazer sua natureza primitiva sem que
Colin representasse um perigo para todos ao seu redor.

Enquanto isso a ARCADIS estaria em boas mãos. Eles sobreviveriam


aquele ano sem ele.
O problema agora seria administrar o assédio da mídia e os clientes
narcisistas que gostavam de exigir sua presença constante em cada fase dos
projetos, mesmo que isso não fosse necessário.

Foi pensando nisso que tomou a decisão de contratar um assistente


pessoal para lidar com esses pequenos entraves enquanto ele colocava a
mente e o corpo em ordem novamente.

Os últimos anos haviam exigido tudo de si, uma dedicação que o


obrigou a negligenciar suas próprias necessidades para colocar a família em
uma situação confortável depois que seus pais decidiram que era hora de
deixarem os negócios sob sua responsabilidade.

Na época, Colin acreditou que estivesse pronto para o desafio, mas


logo descobriu o quanto estava enganado. Todos os anos de estudo e
especializações não foram suficientes para prepará-lo para a crueldade
capitalista do mercado imobiliário.

Os primeiros anos à frente da ARCADIS foram turbulentos e de


grandes perdas. Precisou realizar cortes na folha de pagamento, perdeu
projetos importantes e enfrentou a descredibilidade no mercado. Porém, em
nenhum momento desistiu.

Seus pais foram os seus maiores incentivadores e acreditaram em seu


potencial, sem jamais duvidarem de suas decisões.

Foi difícil, mas com o tempo, Colin transformou a ARCADIS na maior


e melhor empresa de construção civil do país.

Sua forma arrojada de administração determinou seu papel no mundo


dos negócios. Atualmente era respeitado por seus concorrentes da mesma
forma que os respeitava também, o que o ajudou a chegar no topo entre os
melhores.

Mas agora era hora de dar um tempo. Deixar que outros tomassem seu
lugar para que ele pudesse se reencontrar.
Por isso estava correndo com os preparativos, repassando o máximo de
detalhes possíveis aos irmãos, bem como finalizando projetos antes de passar
o bastão.

As coisas só não estavam mais adiantadas porque durante três dias a


cada lua cheia, Colin Donovan precisava se ausentar da empresa alegando
trabalho externo.

O que era uma grande mentira, mas isso somente sua família sabia.
Para os funcionários ele era um workaholic[1] que jamais deixaria o trabalho
para ficar em casa sem fazer nada. Estavam acostumados com seu ritmo e
faziam de tudo para manter a produtividade nos projetos, afinal de contas era
um privilégio poder trabalhar ao lado de um arquiteto renomado.

Entretanto, como estavam acostumados com a agenda do patrão, eles


estranharam sua presença no escritório naquela manhã, porque habitualmente
Colin deveria estar em campo inspecionando o andamento das obras.

O que os funcionários não sabiam era que ele estava ali atendendo a
um chamado urgente de sua irmã caçula, mas antes não o tivesse feito,
porque isso mudaria completamente os seus planos.

— Juro que estou fazendo um esforço enorme para tentar compreendê-


lo, mas está difícil, irmão. Se ausentar por um ano para fazer sabe lá Deus o
quê no fim do mundo, não me parece uma decisão que você tomaria.

Jason Donovan andava de um lado para o outro do escritório


exasperado enquanto tentava convencer Colin a desistir de largar tudo para se
isolar no meio do mato.

— Já expliquei meus motivos, porém você e Katie parecem ignorar


completamente minha situação — passou as mãos sobre o rosto apoiando os
cotovelos sobre a mesa de mogno.

— Nossa situação, Colin. Nossa! Não se esqueça que logo estaremos


no mesmo barco — largou o corpo sobre a cadeira à frente da mesa de seu
irmão mais velho.

— Esse é o ponto. Você não consegue entender minha necessidade de


sumir por um tempo, porque ainda não passou pela transformação, mas
quando chegar a sua hora compreenderá o quão difícil é viver com uma besta
invadindo sua mente a cada lua cheia.

Jason o encarou como se realmente estivesse disposto a entender seu


conflito, por isso Colin prosseguiu.

— Sinto que estou perdendo o controle sobre minhas emoções. Antes


conseguia conter os impulsos, mas já tem um tempo que venho perdendo a
paciência com facilidade e sinto uma raiva crescente surgir do nada. E,
quando isso acontece tenho que me esforçar ao máximo para não perder a
consciência e ceder espaço para... você sabe.

— Isso seria impossível! Papai deixou claro que a transformação só


acontece durante o ciclo da lua cheia — rebateu.

— Jason, nosso pai nunca viveu sequer um ano sem a sua peeira[2],
como ele pode ter tanta certeza sobre como nos comportamos longe de nossas
companheiras?

Colin estava certo e Jason sabia que seu ponto era válido, contudo, não
existia nenhum registro que comprovasse a teoria do irmão. Portanto, para ele
continuava sendo uma loucura a decisão de se afastar da empresa.

— Vendo por esse lado sou obrigado a te dar razão, mas também
precisa considerar que nunca houve sequer um relato a respeito de uma
transformação fora da lua cheia.
— Jason, isto é o que todos dizem, mas sabemos que qualquer verdade
sobre essa possibilidade se perdeu há muitos anos quando fomos caçados
pelos humanos como animais.

Eles estavam cientes de que havia sido a intolerância que fizera da


humanidade o maior perigo para a sobrevivência de sua espécie.

— Os humanos tendem a destruir o que não compreendem — Jason


lamentou.

— Não posso dizer que não os entendo, porque aqui entre nós — deu
um sorriso de lado — nossa origem é bizarra demais para ser dada como
verdade.

— Colocando nesses termos não posso discordar. Acha que algum dia
será possível revelar a verdade sobre nossa existência sem temermos sermos
atingidos por uma bala de prata na cabeça?

— Eu não sei, irmão. A única coisa da qual tenho certeza é de que


quando eu morrer vou acertar as contas com o filho da puta do Licaon[3]. Se
o desgraçado não tivesse sido um sádico que se divertia matando os viajantes
que passavam por Arcádia, Zeus jamais teria tomado conhecimento de sua
maldita existência.

— O imbecil era completamente louco — Jason balançou a cabeça —


quem em sã consciência tentaria assassinar Zeus servindo carne humana?

Os irmãos conheciam muito bem a história por detrás da maldição que


os homens de sua família eram obrigados a carregar até o dia em que a morte
colocasse um fim aos seus tormentos.

Se o rei Licaon não tivesse enfurecido Zeus, eles jamais teriam sido
amaldiçoados.

O deus grego ficou tão irado com a atitude do rei de Arcádia que o
condenou a viver como um lobo sempre que a lua cheia surgisse no céu,
fazendo com que nesse período ele e seus descendentes se transformassem
em bestas irracionais para nunca mais ousarem afrontar os deuses.

Dando origem a lenda sobre lobisomens.

Um ser metade homem metade lobo, condenado a viver sozinho e


longe de seus semelhantes. Caçado nas noites de lua cheia sem piedade,
alimentando-se de carne humana para saciar seu lado bestial.

Mas, no princípio esse não era o nome pelo qual a humanidade os


conhecia. Durante anos os descendentes de Licaon foram chamados de
licantropos[4], e somente após a Idade Média é que cada nação adotou o seu
próprio termo para designar os amaldiçoados.

— Colin, acha que algum dia você irá encontrar sua companheira? — a
pergunta feita em um murmúrio revelava o temor por sua resposta.

— Não sei. Talvez sim, talvez não, mas se ela realmente existir espero
que apareça logo, porque estou cansado de viver esse inferno.

— É tão ruim assim?

Colin suspirou pensando em como colocaria em palavras a intensidade


do drama que vinha vivenciando nos últimos anos. Jason era seu irmão e
merecia a verdade, porque em breve também seria forçado a viver o mesmo
dilema.

— Tente imaginar um dia comum, no qual você está consciente de


tudo a sua volta e no segundo seguinte sua mente sofre um apagão, voltando
a funcionar somente três dias depois com você completamente nu em meio as
próprias fezes e urina, usando uma corrente de prata ao redor do pescoço e
sem qualquer lembrança do que ocorreu para estar nesse estado. — Soltou em
um único fôlego.

— Jesus Santíssimo! Isso é horrível — gemeu.


— Horrível não chega nem perto de descrever como me sinto todas as
vezes que volto para o controle de minha mente.

— Eu pensei que conseguisse manter algo de sua consciência.

— Infelizmente não. Isso será possível quando, e se eu encontrar


minha companheira.

Jason podia ver a tristeza refletida em seus olhos claros.

Desde a transformação de Colin ele vinha assistindo o irmão se tornar


cada vez mais fechado e sisudo, evitando sair com amigos ou até mesmo se
recusando a passar mais tempo com a família.

Por mais que tentasse não conseguiria imaginar a dimensão de tudo o


que Colin estava passando. Não estava em sua pele e talvez nunca
descobrisse de fato como tudo isso estava sendo difícil para ele, porque ainda
tinha esperança de encontrar sua companheira antes de passar pela
transformação.

Colin era seu ídolo e melhor amigo e se pudesse faria qualquer coisa
para ajudá-lo.

— Você ficará bem sozinho?

— Claro que sim — Colin piscou tentando aliviar o clima.

— Então — engoliu em seco antes de prosseguir — tome seu tempo e


volte para nós, Colin. Você ainda será o meu irmão e eu sempre irei me
preocupar com você.

Os olhos de Jason estavam marejados porque no fundo ele não


desejava aquela separação, mas precisava pensar no bem-estar de seu irmão.

— Eu vou voltar, Jason. Não estou abandonando vocês, apenas preciso


fazer isso por mim... pela minha sanidade.
Nenhum dos dois ousou dizer mais nada. Havia um acordo tácito entre
eles que seria honrado a qualquer preço. Jason ficaria sem seu melhor amigo
e Colin sairia em busca de si mesmo.

Depois que Jason o deixou sozinho, Colin passou um tempo revisando


alguns projetos antes de se encontrar com Katie na sala de reuniões. Sabia
que era arriscado permanecer na empresa naquele dia, mas sua irmã precisava
de sua assinatura nas últimas cláusulas de um contrato milionário.

— Sinto muito por tê-lo obrigado a vir até aqui, mas temos que enviar
esse contrato ainda hoje — ela disse.

— Tudo bem, ainda é cedo — falou dando um beijo em sua cabeça


antes de se sentar para firmar os papéis.

Quando terminou, Colin estava pronto para voltar à casa, mas antes
que se erguesse da cadeira sentiu um impacto violento em sua cabeça. Como
se acabasse de ser atingido por um taco de beisebol.

— Está tudo bem? — A preocupação na voz de sua irmã o fez balançar


a cabeça para tranquilizá-la.

— Sim, acho que...

Um novo impacto o impediu de concluir a frase.

— Colin?!

Katie tentou se aproximar, mas sem perceber Colin se afastou como se


não pudesse suportar ser tocado naquele momento.

— Afaste-se!

A voz gutural não era a de seu irmão, sinal de que o seu lobo estava
lutando para vir à tona.

— Deus, Colin!
— Companheira — o timbre profundo tornou as palavras sombrias
enquanto as órbitas douradas cintilavam como duas pedras de Topázio.

Katie estremeceu diante da ferocidade que surgiu em seu semblante.


“Opte por aquilo que faz o seu coração vibrar...
Apesar de todas as consequências.”
(OSHO)

Não pode ser... isso é impossível.

Mas esse cheiro é... ela.

Colin se debatia entre tais pensamentos de incredulidade, enquanto


seus olhos permaneciam fixos sobre a jovem a poucos metros de distância,
como se uma parte de seu cérebro se recusasse a acreditar que finalmente sua
espera havia acabado.

Protegido por uma parede de vidro temperado ele se mantinha oculto


dos olhos aflitos que vagueavam perdidos pela sala de espera, como se o
buscassem com a mesma urgência que ele ansiava por tomá-la entre seus
braços.

Sua companheira era perfeita.

Muito mais linda e delicada do que havia desejado.

Olhar para ela era como assistir ao alvorecer, quando os primeiros


raios de sol incidem sobre o orvalho da madrugada incitando toda a natureza
ao redor a se erguer para saudá-lo, exalando os mais variados aromas,
enquanto pássaros de todas as espécies entoam seus cantos sem parar sobre as
copas das árvores.

Ao mesmo tempo que estava maravilhado com a intensidade de sua


beleza podia ver que existia certa calmaria em admirá-la, a ponto de sentir a
fúria da tempestade que o dominava diariamente ser aplacada apenas pela sua
presença. De estatura baixa e frágil seria impossível que seu lobo não se
rendesse aos seus encantos, fazendo-o desejar marcá-la com seu odor para
afastar outros machos de sua peeira.

Notou que apesar de seus cabelos estarem presos em um coque baixo


eram de um tom castanho que o recordavam os grandes carvalhos das
florestas ao sul de Portugal, formando um contraste magnifico com o verde
escuro de seus grandes olhos. Eles eram tão expressivos que Colin soube na
mesma hora que sua companheira seria como um lar para o seu lado
primitivo. Os lábios em forma de coração pareciam ainda mais macios sob o
vermelho vibrante que agitava suas entranhas por causa da expectativa
torturante para tocá-la com a máxima reverência.

Era impossível não absorver cada detalhe de sua pequena figura,


mesmo que estivesse fazendo o papel de um observador indesejado, que
cobiçava para si o que jamais deveria ser corrompido, não conseguia parar de
admirá-la mesmo temendo perder o controle sobre o mal que o habitava.

A decadência de sua existência era tão profunda que cobiçar um anjo


como aquele deveria ser motivo suficiente para que fosse condenado ao
inferno.

Monstros como ele deveriam ser mantidos longe de tudo o que


significasse pureza ou bondade, mas o destino, seu maior e pior inimigo
parecia discordar de sua opinião.

Infelizmente, maldições como a que ele carregava em seu sangue


sempre encontravam uma forma de tornar a existência de seus afligidos mais
pesarosa e indevida. Levando-os à difícil tarefa de terem que escolher entre o
certo e o errado... entre saciar suas necessidades egoístas ou poupar um
inocente de compartilhar sua condenação.

E, mesmo que desejasse mantê-la longe de sua escuridão, sabia que o


vínculo entre companheiros não poderia ser ignorado tão facilmente agora
que seus olhos a tinham enxergado. Ciente de que seus caminhos estavam
unidos para sempre daquele dia em diante, a única coisa que poderia fazer era
aceitar e se render ao inevitável.

Torcia para que a criatura angelical aceitasse seu destino ou estaria


condenando a ambos a uma vida de desespero e profunda agonia.

— É ela, não é? — Sua irmã perguntou a suas costas.

— Não sei do que está falando? — Tentou desconversar, mas seus


olhos estavam presos a pequena figura.

— Seus olhos estão amarelos — ela disse — não adianta fingir, Colin.
Eu sei que é ela.

— Ela ainda é muito jovem, Katie — trincou os dentes fechando os


punhos tão fortemente que seus dedos foram tomados pela brancura.

— Precisa ir falar com ela.

— NÃO! — Cortou, sentindo o corpo doer.

— Não? Ficou louco? Não pode rejeitá-la, isso seria o fim dos dois —
tocou seu ombro, mas ele a repeliu.

— Não a estou rejeitando. Ela é minha... jamais negaria nossa ligação


— declarou rosnando como um animal.

— Então qual é o problema? Por que não vai até ela e consuma o
vínculo?

— Porque ela é... perfeita.


— E como isso poderia ser um problema?

— E como poderia não ser? — Devolveu, dolorido demais para


explicar o que o atormentava.

Katie era sua irmã caçula, que mais parecia um pequeno furacão
quando decidia se envolver na vida dos irmãos. Mas Colin estava anestesiado
demais para ver o que a pestinha iria aprontar.

Exasperada com a inércia do irmão, Katie tomou as rédeas da situação


e quando Colin percebeu suas intenções já era tarde demais... ela já estava
com a mão sobre o ombro de seu pequeno anjo perguntando se precisava de
ajuda.

Ele conseguia ouvir perfeitamente a conversa de onde estava, sua


audição era tão apurada como a do animal que o habitava.

— Está se sentindo bem?

Ouviu sua irmã perguntar com delicadeza, como se temesse assustá-la.

— Estou sim, obrigada.

A timidez em sua voz quase o colocou de joelhos com a vibração que o


varreu em júbilo por sentir o elo se estabelecer entre ele e sua companheira.

Cada fibra de seu corpo estava sendo expandido em sua direção.

— Tem certeza? Você está pálida e suando frio. Quer um copo


d’água? — Katie insistiu.

— Tenho sim, obrigada, mas não é necessário. Estou bem de verdade.

O fato de sua companheira mentir o agitou ainda mais, porque não


esperava tal atitude de sua parte, não combinava com o que seus olhos viam
e, por mais que desejasse gritar para que dissesse a verdade se conteve para
não ter que revelar a verdade antes da hora. Esperaria pelo fim da lua cheia
ou não seria capaz de evitar que seu lobo entrasse em frenesi e a machucasse.

Por isso, quando a viu disparar na direção dos elevadores lutou com
todas as suas forças para não ir atrás e tomá-la para si. Colin sabia que a
jovem o acharia um louco se a colocasse sobre os ombros como um homem
das cavernas e a levasse para sua casa de onde nunca mais sairia.

Porém, não imaginara que sua partida provocaria tamanha dor


lacerante em seu peito ao ponto de fazê-lo se curvar contra o vidro fumê
batendo os punhos em desespero. Era como se seu coração estivesse sendo
rasgado de dentro para fora enquanto o lobo rosnava furioso.

— Colin!

Katie acabara de retornar e se lançou em sua direção tentando ajudá-lo


a se sentar, mas suas pernas estavam paralisadas no lugar como se tivessem
criado raízes sobre o carpete escuro. O suor brotava em grandes gotas por
todo o seu rosto e seus olhos ardiam como se estivessem jogando ácido
dentro deles.

— Vou chamar Jason — Katie saiu em disparada.

A pestinha poderia chamar a cavalaria que nada acalmaria seu


tormento. Era lua cheia e a fera dentro de si estava a cada segundo mais forte,
exigindo o controle.

Um controle que Colin não estava disposto a ceder sem que estivesse
na segurança de seu porão, em sua casa, bem distante de pessoas inocentes.

— O que ele ainda está fazendo aqui, Katie? — a voz de Jason


reverberou potente até seus ouvidos sensíveis.

— Eu o chamei para resolvermos o impasse do projeto para a


prefeitura — anunciou já arrependida.

— Sabe que Colin não deveria mais estar aqui. Porra! Precisamos tirá-
lo antes que alguém apareça e comece a fazer perguntas.
— Oh, meu Deus! Como faremos isso sem que todos vejam o que está
acontecendo? — Sussurrou desesperada.

Seus irmãos tinham razão, ele precisava sair daquele lugar. O cheiro
dela parecia estar impregnado por todos os lados e agitava o animal em seu
interior.

Contudo, deixar a empresa naquele estado seria imprudência de sua


parte, por isso lutou contra o animal em sua mente até que ele lhe cedesse o
controle novamente. Enquanto isso, ele a sentia se afastar também em agonia.
À medida que os minutos avançaram o som dos seus batimentos cardíacos
foram ficando cada vez mais distantes.

Até que a sentiu deixar o prédio.

A certeza de sua partida trouxe um misto de alívio e desespero ao


mesmo tempo que o permitiu recuperar o controle de seu corpo antes que o
pior ocorresse.

— Nossa! Essa foi por pouco — disse Katie à guisa de um sorriso


trêmulo.

— Precisamos levá-lo para casa, Colin — Jason tocou seu ombro — lá


poderemos conversar sobre o que aconteceu aqui... é a primeira vez que o
vejo próximo de perder o controle.

Após o episódio no escritório os irmãos de Colin relutaram em deixá-


lo em paz até que foram expulsos de sua casa.

— Sério que vai fingir que nada aconteceu esta manhã? — Sua irmã
colocou as mãos nos quadris pronta para o embate.

— Katie tem razão! Se tem certeza de que encontrou sua companheira


deveria estar indo atrás dela nesse momento, antes que seja tarde demais —
Jason reforçou.

— Mas, é exatamente isso que estou tentando dizer, Jason ele não fez
nada para reivindicá-la — disse Katie exasperada.

— Fale conosco, Colin — pediu seu irmão.

— Em outro momento — foi tudo o que Colin disse antes de pegar sua
pasta e caminhar para seu quarto ainda sob os protestos dos dois.

— Colin! — Katie o chamou.

— Agora não, pestinha — a cortou sem olhar em sua direção — quero


ficar sozinho, me deixem em paz! — Os dispensou.

Por mais que fossem unidos, apenas Colin estava carregando aquele
peso no momento e somente ele sabia o quanto havia custado se afastar de
sua companheira para que sua segurança estivesse acima de suas próprias
necessidades. Quando o ciclo da lua cheia findasse ele a traria de volta e
colocaria o mundo aos seus pés e a faria o amar antes que revelasse sua
natureza.

Agiria com cautela para que ela aceitasse o vínculo, caso contrário
estaria condenado à morte, porque não existia nada mais devastador para um
descendente de Licaon do que ser rejeitado por uma companheira.

Claro que Colin sabia que se desejasse poderia impor a força do


vínculo sob suas vontades, mas ele seria incapaz de tal ato porque acreditava
que ninguém deveria ser obrigado pelos laços do destino a viver ao lado de
uma criatura monstruosa contra sua própria vontade. Senão, para que serviria
o livre arbítrio?

Por essa razão, lutaria pelo amor de sua companheira dia após dia até
conquistá-lo, mas jamais imporia o vínculo acima de suas vontades e
escolhas.

Jason e Katie podiam estar eufóricos com a notícia do seu


aparecimento, mas ele preferia agir com cautela para não a assustar e acabar
de uma vez por todas com suas chances de se ver livre de boa parte daquela
maldição. O lobo em seu interior teria que aceitar sua decisão se quisesse
revê-la novamente. Zelar pela preservação de sua vida para que o animal não
a machucasse na ânsia de ter sua necessidade saciada era o mínimo que Colin
poderia fazer pela jovem.

Sua cautela tinha motivos, pois conhecia muitas histórias de


licantropos que assassinaram suas companheiras em um rompante de fúria
por não terem tido a devida prudência ao revelarem a verdade sobre suas
naturezas. O pior erro que sua espécie cometia era confiar que a força do
vínculo era suficiente para que uma companheira aceitasse sua nova
realidade, desconsiderando que há séculos suas existências eram
desacreditadas pelos contos de fadas que os retratavam como criaturas
abomináveis.

Colin não cometeria o mesmo erro dos outros, ainda que para isso
tivesse que suportar a dor física que a distância lhe causava agora.

Deixá-la partir não acabara com seu tormento, apenas lhe dera tempo
para controlar a fúria do lobo até que estivesse na segurança de sua casa.
Mas, agora que estava sozinho podia sentir o coração ser esmagado e suas
vísceras revirarem por causa do distanciamento. Era como se uma parte de
sua alma estivesse se rebelando para assumir o controle.

Quando olhou para o espelho seus olhos brilhavam em um dourado tão


intenso que ele quase conseguia ver o rosto da fera se projetando sob seus
traços humanos. O animal estava com raiva, muita raiva e logo tomaria o
controle de seu corpo.

Alarmado com a violência refletida no espelho, arrancou a camisa do


corpo, retirou os sapatos e correu para o porão onde ficaria até que a
transformação tivesse fim. Finalmente, viveria seu tormento pela última vez,
porque na próxima lua cheia ele estaria ao lado de sua peeira e ela o
confortaria enquanto estivesse aprisionado dentro do corpo de um animal.

Apenas um único temor ainda residia no fundo de sua mente.

Ele temia que quando estivessem frente a frente ela se assustasse com a
força do vínculo e acabasse fugindo do seu destino, porque isso forçaria o
lobo em seu interior a caçá-la e... quando a encontrasse temia ser incapaz de
contê-lo, pois duvidava de que o animal fosse paciente para cativá-la antes de
lhe rasgar a garganta com suas presas.

Mas, Colin Donovan estava prestes a aprender que maldições são


quebradas através do poder do amor e... isso está muito além de um simples
vínculo.
“Monstros existem e fantasmas também.
Vivem dentro de nós e, às vezes, eles vencem.”
(STEPHEN-KING)

Todos os Donovan sabiam que quando um licantropo encontrava sua


peeira era primordial que houvesse o acasalamento para que a união entre
homem e lobo pudesse ser realizada, colocando assim a consciência humana
acima da irracionalidade da besta. Porém, quando Colin se negou a
reivindicar sua companheira acabou condenando seu lobo a um sofrimento
avassalador nos dias que se seguiram.

A fera aprisionada no porão de sua casa uivava incessantemente


causando calafrios nos membros de sua família que se alternavam à frente de
sua porta. O humor do lobo oscilava entre momentos de profunda tristeza e
de ira extrema, fazendo com que os pais de Colin temessem pela vida do
filho, porque se o animal desistisse de viver acabaria o levando consigo.

Seu pai, Daniel Donovan, permanecia em sua forma lupina desde o


momento em que a lua despontara no horizonte tentando acalmar a fera para
que seu filho não lhe fosse tirado. Ao contrário de Colin, o destino havia sido
benevolente ao lhe apresentar sua peeira um ano antes de sua transformação,
por isso, desde o início nunca se tornara uma fera desgovernada e pudera
constituir uma família linda, além de uma carreira invejável.

Contudo, apesar de amar tudo o que havia conquistado na vida,


lamentava que seus filhos tivessem que carregar a maldição que atingia sua
família, por isso, fazia todo o possível para ajudá-los a suportar as
particularidades de suas condições. Mas, no caso de Colin, as coisas estavam
saindo do controle havia muito tempo, desde o momento em que ocorrera a
primeira transformação ele percebera que o filho gradativamente ia perdendo
a capacidade de dominar suas emoções mais básicas.

Jason pelo menos ainda teria um ano pela frente até que a maldição
atingisse seu ápice, por ora toda a sua atenção e esforços estavam
direcionados para Colin. O incidente na ARCADIS havia desencadeado a
pior e mais violenta transformação de seu filho. Por isso, durante o período
em que durou o ciclo da lua cheia ordenou que todos se reversassem nos
cuidados do lobo preto que se agitava a cada vez que as correntes de prata
tilintavam ao redor de seu pescoço, o impedindo de fugir em busca de sua
companheira.

Enquanto os Donovan trabalhavam para manter seu segredo em


segurança, o dia e a noite se confundiram dentro daquele porão dando a
impressão de que o tempo havia deixado de existir. O animal enlouquecido
por ser privado de sua liberdade e companheira aos poucos foi cedendo lugar
ao homem, à medida que a lua retirava seu domínio. E, quando finalmente
Colin recuperou o controle sobre o próprio corpo o silêncio preencheu o
ambiente.

Deitado sobre o solo frio e insalubre ele agradeceu a parca iluminação


que escondia sua nudez e a solidão que lhe garantia um tempo precioso para
que recolhesse o que havia sobrado de sua dignidade. O breu só não era total
por causa da pequena abertura no alto de uma das paredes, por onde entrava
os raios de sol e alguns poucos ruídos externos.

Gemendo por causa das dores musculares, mudou de posição cobrindo


os olhos com um dos braços, permitindo que as lágrimas fluíssem livremente
enquanto lutava em busca de suas últimas lembranças antes de ser jogado no
mais profundo esquecimento. Essa era a parte mais difícil pós transformação
porque tornava sua condição deprimente, pois sentia-se abandonado a própria
sorte.
Desde o seu trigésimo aniversário ele se viu obrigado a mudar todo o
seu estilo de vida por causa da presença de uma fera incontrolável que
passara a habitar uma parte de sua alma, se sujeitando a ser trancafiado
durante alguns dias a fim de evitar o assassinato de pessoas queridas.

Estava cansado disso, cansado demais para ter esperanças. Porém, a


jovem que encontrara na ARCADIS acabara reacendendo um antigo sonho
de poder conviver com a fera sem que significasse um risco para qualquer ser
humano. Ele sabia que isso seria possível, porque o lobo em sua mente; que
nunca havia feito questão de se comunicar com seu lado humano, falara pela
primeira vez.

É verdade que havia sido apenas uma única palavra, mas de tão
repetida Colin a compreendeu.

“Companheira”

Ou seja, a besta conhecia a verdade e agora não o deixaria em paz até


que encontrasse novamente a jovem e a trouxesse para sua vida. E, essa era
uma das razões pelas quais estava chorando. Sentia-se miserável demais para
ser digno de algo tão puro e perfeito como a garota que mais parecia um anjo
de tão perfeita que era.

— Sei que está acordado, Colin. — A voz de sua mãe soou do outro
lado da porta.

Não desejava ver ninguém, mas sabia que sua mãe não o deixaria em
paz até que se certificasse de que estava bem.

— Estou entrando — o trinco rangeu antes da porta ser aberta.

Mesmo assim, Colin não abriu os olhos permanecendo na mesma


posição. Talvez assim Greta Donovan se compadecesse e lhe concedesse
alguns minutos a mais de paz, mas se tinha uma coisa que não podia esperar
de sua mãe era que recuasse diante de um desafio.
Assim, a primeira coisa que sentiu foram as correntes em torno de seu
pescoço serem abertas, fazendo com que esse pequeno ato desencadeasse um
choro longo e doloroso, como há muito tempo ele não deixava escapar.

Ali, naquele chão frio e desprovido de qualquer sinal de dignidade ele


se deixou ninar nos braços de sua mãe, enquanto a ouvia falar das vantagens
de aceitar sua companheira e do quanto sua vida mudaria quando deixasse
que o amor entrasse sem reservas.

O problema não era aceitar que havia encontrado sua companheira e


sim fazê-la o aceitar junto com o lobo que agora sabia de sua existência.

Durante horas permitiu que sua mãe o embalasse até que se sentisse
pronto para deixar aquele lugar em busca de um banho quente e roupas
limpas. Depois de três dias vivendo como um animal selvagem sentia falta de
pequenos prazeres.

Quando finalmente se sentou à mesa do café da manhã encontrou toda


a família reunida, ansiosa para saber o que havia ocorrido na ARCADIS e se
a jovem era mesmo sua companheira como Katie havia dito.

— Então é verdade? Encontrou sua peeira? — A ansiedade estava


explicita na voz de sua mãe.

Mas, tudo o que Colin fez foi engolir um grande gole de café quente
deixando a todos apreensivos.

— Colin — sua irmã tocou sua mão com carinho.

— Quando vai aprender a não se meter em assuntos que não lhe dizem
respeito? Com que autoridade você toma a frente de algo tão importante para
mim sem que eu tenha tido a chance de assimilar o que realmente ocorreu? —
Dardejou chateado com sua intromissão.

— Por Deus, Colin — seu pai tomou a palavra — qual o problema de


sua irmã nos colocar a par de um assunto que interessa a todos nós? Juro que
estou tentando entender sua relutância em não querer falar sobre o fato de ter
encontrado sua companheira, mas está difícil, filho.

— Difícil? — Havia um gosto amargo em suas palavras — Acho que


precisamos achar uma definição melhor para essa palavra, porque
sinceramente — balançou a cabeça — eu não sei vocês, mas eu não faço a
menor ideia de como vou abordar uma jovem inocente e dizer que o mundo
que ela conhece na verdade não existe, que tudo o que aprendeu na escola
não passa de uma grande farsa para esconder a verdade da humanidade.
Como vocês acham que ela irá reagir quando eu for obrigado a revelar a
verdade, hein?

— Sabemos que não será fácil no começo, porém a ligação entre


companheiros é forte o suficiente para ajudar a criar o vínculo. Eu vi o que
aconteceu quando estiveram no mesmo ambiente, Colin.

Sua irmã tentou tocar novamente sua mão, mas ele recuou.

— O que você viu foi a porra do inferno, Katie. Não faz ideia do
quanto aquilo doeu. E, isso não é nem um terço do que sentirei se ela me
rejeitar.

— Está dizendo que não irá reivindicá-la? — Sua mãe estava


horrorizada com tal possibilidade.

— Claro que não! Mas, dá para vocês se colocarem no meu lugar só


por um mísero instante? — Encarou sua família — Estamos no século XXI e
não na Idade Média, se por uma casualidade a garota não enfartar o que
acham que ela fará quando souber que existe uma família de lycans[5]
vivendo entre os humanos como se fossemos iguais?

— Irá surtar com toda a certeza. — Jason deu de ombros quando seus
pais o recriminaram com o olhar. — Não adianta me olharem com essas
caras. Colin tem razão nesse ponto. Temos que ser realistas, pois não será
nada fácil absorver nossa história. Afinal de contas, para todos os fins não
existimos, não é mesmo?
— Viram só? — Colin ressaltou — Preciso de tempo para pensar em
como farei para me aproximar.

— Muito bem, então enquanto você fica aí pensando no que fazer


tenha em mente que aquela garota está lá fora aonde qualquer homem pode
cortejá-la e até mesmo propor um matrimônio — seu pai falou com os olhos
brilhando em dourado.

Somente a menção de que outro homem pudesse cortejar sua


companheira fez com que Colin rosnasse batendo o punho fechado sobre a
mesa. O lobo em seu interior jamais permitiria que algo assim acontecesse.

— Aí está! — Seu pai apontou — Pode negar e relutar o quanto quiser,


mas o vínculo já foi despertado e nem você e nem ninguém poderá interferir.
Então acho melhor deixar toda a sua ética de lado e tomar para si o que o
destino te entregou. Está na hora de aceitar que assim como nossos
antepassados foram amaldiçoados, também receberam uma dádiva para os
ajudar a cumprir sua condenação. As companheiras são a única forma de não
nos tornarmos bestas assassinas. Agarre sua chance, meu filho. — Fechou a
mão diante de seus olhos. — Não a deixe escapar.

Odiava que seu pai estivesse certo.

Contudo, Colin ainda faria um último teste para se certificar de que


realmente o vínculo havia sido despertado, porque se isso fosse verdade, ele
daria um jeito de fazer aquilo funcionar entre eles sem que a besta colocasse
suas presas na pobre garota.

— Se o senhor a tivesse visto entenderia meus motivos por querer


fazer as coisas devagar — balançou a cabeça.

— Sua irmã disse que ela é linda e que parecia tão perdida por causa
da conexão que foi negada.

— Acho que o que Colin está tentando dizer é que tem medo de não
conseguir se controlar quando... — Jason começou, porém não teve coragem
de colocar em palavras o pior temor de um amaldiçoado.

— Isso é besteira — seu pai abanou a mão em descaso — um


licantropo jamais machucaria sua companheira.

— Como pode afirmar isso? — Colin o enfrentou. — Sabe que não é


verdade.

— Colin! Sei que está assustado e com medo, mas posso garantir que
sua companheira não corre nenhum risco de ser ferida por seu lobo. Ele a
amará da mesma forma que você a amará. No momento que ela aceitar a
conexão vocês se tornarão apenas um e por isso jamais a feriria.

— Consegue ver o ponto na sua frase, pai? Se ela aceitar a conexão,


caso contrário meu lobo irá enlouquecer e matá-la.

— Isso não irá acontecer porque ela o aceitará! Estou certa disso.

A forma como sua mãe falou o fez suspirar.

Não tinha outro jeito. Ou aceitava que havia encontrado sua


companheira e corria o risco de matá-la no acasalamento ou a rejeitaria
condenando a ambos a uma vida vazia e sem amor.

Depois da conversa tensa que Colin teve com a família, ele e Jason
partiram para a ARCADIS com a missão de descobrirem quem era a garota
que havia despertado o vínculo. Jason assegurou que isso não seria um
problema e se empenhou em reunir todas as informações possíveis que
pudesse ajudá-los nessa missão.

Minutos depois ele reapareceu na sala de Colin com o suficiente para


não apenas encontrar a jovem como também para trazê-la para mais perto.

— Conseguiu? — Colin o questionou assim que o viu entrar.

— Está tudo aqui — ergueu uma pasta — sua companheira esteve aqui
para a entrevista a vaga de assistente pessoal. Isto aqui é a ficha dela com
nome e endereço — colocou o material sobre a mesa.

— Obrigado! Agora pode ir, eu cuido disso de agora em diante.

— Se quiser posso entrar em contato...

— Não, Jason! Você já me ajudou o bastante. Agora é comigo.

Não havia mais nada que Jason pudesse fazer ali, por isso desejou boa
sorte ao irmão e o deixou sozinho.

Quando Colin ouviu o clique da porta tomou a pasta entre as mãos


correndo os olhos ávidos por informações acerca de sua companheira. Esse
era apenas o primeiro passo para descobrir sua identidade e em seguida
providenciaria sua vinda até a empresa onde poderiam se conhecer em um
ambiente controlado e seguro para ambos — ou pelo menos era isso que ele
acreditava.

Ele não fazia ideia do poder que o vínculo exercia entre companheiros,
por isso, ainda racionalizava a questão como se ele fosse um ser humano
comum que não precisasse dividir seu corpo com um animal de paixões
selvagens.

O nome Andie Sullivan caiu como um raio em sua mente e ele o testou
nos lábios por longos minutos achando incrível que com apenas um nome ele
se sentisse mais próximo de sua companheira. Era como se a distância entre
eles estivesse diminuindo a cada segundo que passava descortinando o
mistério de sua identidade. Ele se sentia tão envolvido que já conseguia se
imaginar com ela em seus braços enquanto sussurraria seu nome até que
estivesse totalmente rendida aos seus carinhos.
Sorriu em um misto de tristeza e expectativa por saber que sua pequena
Andie não fazia ideia de que estava prestes a acasalar com um licantropo alfa,
que a desejava tão fortemente que Colin conseguia sentir suas garras
latejarem sobre as pontas de seus dedos e seus caninos doerem por causa da
sensibilidade. Era notório que o animal em seu interior ansiava por sua
companheira, por isso Colin a atrairia para seu território e jogaria com todas
as cartas que possuía para conquistar seu coração. Somente assim, homem e
lobo não correriam o risco de serem rejeitados.

Por outro lado, temia que a determinação do lobo o fizesse ceder aos
seus instintos mais primitivos e, isso era um pouco assustador para um
homem acostumado a estar no controle de todas as coisas, incluindo seus
relacionamentos. As mulheres que passaram por sua vida não duraram mais
do que alguns meses em sua companhia, apesar das vantagens de um
relacionamento com um homem influente e financeiramente estável, elas não
souberam lidar com seu lado dominador.

Mas, ele não poderia se apegar ao passado, pois nenhuma de suas ex-
namoradas eram sua companheira.

Respirou fundo, decidido a acabar com a enrolação. Ligou para o RH e


solicitou que convocassem a senhoria Andie Sullivan para uma entrevista
com o CEO da ARCADIS. Depois daquele encontro eles nunca mais
estariam sozinhos.
“Não se pode fugir do destino,
assim como não se pode negar o amor.”
(DESCONHECIDO)

Andie sentia-se esgotada, como se estivesse caminhando sobre uma


corda bamba, onde um passo em falso significaria o fim de seus sonhos. Ela
sabia que seu tempo estava acabando e que logo teria que tomar uma decisão
definitiva quanto a continuar cursando a faculdade ou voltar para o interior.

Se não conseguisse um emprego rapidamente não teria dinheiro nem


para o supermercado da semana, avaliou olhando sua dispensa praticamente
vazia. Isso só serviu para aumentar a angústia em seu peito e fazer sua cabeça
latejar diante de sua incapacidade.

Para completar seu quadro depressivo, desde sua entrevista na


ARCADIS ela estava dormindo mal, sonhando com coisas estranhas e
acordando no meio da noite com o coração a ponto de sair pela boca, como
acabara de acontecer. A princípio Andie acreditou que o estresse e as
preocupações estavam afetando o seu sono e por isso recorreu ao calmante
que o médico havia receitado. Mas, mesmo assim, ela não conseguia dormir
uma noite inteira.

Andava tão cansada que passara a cochilar entre uma aula e outra, a
ponto de deixar Brenda preocupada com seu estado de saúde. Por isso, não
quis comentar com a amiga que o motivo de sua fadiga eram os inquietantes
sonhos que se repetiam todas as vezes que fechava os olhos. Outra coisa
inédita em se tratando de Andie, porque raramente se recordava de seus
sonhos quando despertava.

Porém, estes eram diferentes não apenas por se repetirem como


também por deixá-la perturbada sempre que despertava.

O sonho sempre se iniciava com o som de um uivo longo e forte de um


lobo, algo tão poderoso que provocava arrepios nos pelos de sua nuca, mas
não de medo... era algo mais semelhante a uma urgência interior. Era como
se ela soubesse que o animal a estava chamando, ordenando que o
encontrasse no ponto mais alto da montanha antes que o sol despontasse no
horizonte. Andie se sentia tão compelida por seu chamado que começava a
correr por entre as árvores da densa floresta repleta de obstáculos que
feriam seus pés descalços, mas ela ignorava a dor porque sentia que a vida
do animal dependia de sua presença. Então, Andie corria, corria e corria
montanha acima. Saltando troncos e atravessando pequenas poças d’água
sempre com os olhos fixos na lua cheia que apontava o caminho em direção
ao animal. E, quando ela finalmente alcançava o topo da colina parava
diante de uma clareira imersa em uma bruma pálida que a impedia de
encontrar o animal. Então, sentia seu coração lacerado por ter chegado
tarde demais e começava a chorar angustiada e, era nesse momento...
quando estava prostrada no meio da clareira que a silhueta de um homem
surgia a poucos passos de si. Ele era alto, forte e exalava um perfume
semelhante aos pinheiros das montanhas de Quebec, tão intenso que Andie
sentia o corpo estremecer e seu estômago contrair com sua presença.
Durante um bom tempo o estranho permanecia imóvel e ela crispava os
olhos tentando ver seu rosto, mas tudo o que conseguia enxergar era o
dourado de seus olhos brilhando em sua direção antes de ele chamá-la de ...
companheira!

Infelizmente, Andie não conseguia responder ao seu chamado, pois


sempre que ia fazê-lo acordava com o corpo febril, a respiração afobada e o
coração apertado de saudade. Isso era tão ridículo.

Por essa razão, morria de vergonha de compartilhar com Brenda que


estava andando feito um zumbi porque passava as noites sonhando com um
desconhecido de olhos dourados que mexia com suas emoções. Certamente, a
amiga lhe passaria um sermão e diria que sua vida antissocial estava
provocando esse tipo de sonhos. Depois a forçaria a sair com estranhos na vã
tentativa de trazer alguma agitação para sua vida monótona.

O que Brenda não entendia era que se Andie não tinha um namorado
era por pura falta de opção. Todos os carinhas com quem havia aceitado sair
para tomar um chopp não lhe despertaram nenhum interesse que valesse a
pena um segundo encontro.

Distraída em seus pensamentos acabou se assustando quando o celular


tocou sobre a mesa da cozinha. Ao atender quase chorou de felicidade ao
descobrir que havia sido selecionada para a segunda fase do processo
seletivo, devendo comparecer à ARCADIS logo após o horário do almoço.

Ao conferir as horas percebeu que se quisesse chegar a tempo de


disputar a vaga precisaria correr, pois dessa vez não poderia se dar ao luxo de
pegar um táxi, teria que pegar o metrô que naquele horário, certamente,
estaria lotado de passageiros.

Escolheu um vestido verde simples, porém com um caimento leve que


chegava à altura dos joelhos e que ficaria perfeito com seus escarpins
vermelho. Amarrou os cabelos em um rabo de cavalo, passou rímel nos olhos
e um batom carmim nos lábios, fazendo uma rápida inspeção quando
terminou, constatando que sua imagem era sóbria, porém elegante.

Quem a visse naquele momento jamais imaginaria que se tratava de


uma simples estudante de enfermagem em busca de um emprego. Ela mais
parecia uma secretária executiva de uma grande empresa.

Sem perder tempo deixou o pequeno estúdio e correu para a estação,


que como previsto começava a lotar. Mas, nem mesmo todo esse
inconveniente foi capaz de abalar seu entusiasmo, creditando sua animação a
possibilidade de conseguir um emprego que garantiria sua permanência na
faculdade.
Ao chegar à ARCADIS recebeu o crachá de visitante e caminhou
apressadamente para os elevadores enquanto tentava acalmar seu coração que
batia feito um bumbo em seus ouvidos, obrigando-a a puxar o ar diversas
vezes para baixar um pouco a ansiedade.

Ciente de que se encontrava em desvantagem em relação aos outros


candidatos que tentariam a vaga para assistente, fez uma prece pedindo que
Deus a abençoasse e que por um milagre conseguisse o emprego, ou quem
sabe uma outra ocupação por ali mesmo na empresa. Do jeito que sua vida
estava indo, Andie seria capaz de aceitar até o serviço como copeira.

Precisava daquele emprego... na verdade, ela precisava de qualquer


emprego que resolvesse seus problemas.

— Boa tarde, tenho uma entrevista para a vaga de assistente pessoal —


se dirigiu a secretária da gerente do RH.

— Boa tarde! Deve ser a senhorita Sullivan, não? — Perguntou a


secretária com polidez.

— Sim, sou Andie Sullivan. Recebi uma ligação esta manhã


informando que fui selecionada para a segunda fase do processo seletivo.

— Recebi ordens para levá-la até a sala de reuniões. O senhor


Donovan a está aguardando. Por favor, siga-me.

Saber que seria recebida por um dos sócios a deixou inquieta, mas
disfarçou seu nervosismo acompanhando a jovem que abria caminho em
meio a diversas pilhas de trabalho, enquanto olhava ao redor em busca de
outros candidatos. O que foi estranho, porque não encontrou com mais
ninguém pelo caminho.

À medida que foram se aproximando de uma grande parede de vidro


temperado, Andie sentiu a ansiedade crescer dentro do peito e o coração
disparar como um louco, fazendo brotar uma fina camada de suor nas palmas
de suas mãos.
“Agora não, por favor”, suplicou em pensamento. Se começasse a
passar mal naquele momento poderia dar adeus as suas chances de conseguir
o emprego, porque ninguém em sã consciência contrataria uma pessoa doente
como assistente pessoal. Precisava de um tempo para se recompor, mas antes
que pudesse pedir que a jovem lhe mostrasse onde ficava o banheiro, a porta
a sua frente foi aberta e Andie estremeceu sob o jugo da sensação de
reconhecimento que sentiu ao se ver diante da silhueta de um homem em pé
de frente para a janela com vista para os arranha-céus da cidade.

De repente, a garganta fechou entorno da emoção e cada célula de seu


corpo vibrou fazendo uma lágrima brotar sem que Andie a impedisse... o
tempo parou ao seu redor e toda a sua vida foi reiniciada a partir daquele
instante.

Quando o estranho se virou em sua direção e a fitou com suas irises


claras, a lágrima escorreu por sua bochecha disparando novamente o
cronometro da vida, enquanto era sugada para dentro de seu olhar.

Então... a magia os envolveu.

Um encontro raro.

Uma dádiva concedida a poucos humanos.

Um elo inquebrável que uniria seus caminhos de agora em diante.

Uma força maior que a razão que os faria cativos do sentimento mais
poderoso... o amor entre companheiros.

Embriagada pelas emoções que explodiam em seu peito, Andie não se


deu conta do tempo que ficou parada diante do homem que a fitava sem
nenhum pudor, como se estivesse capturando sua alma e a aprisionando a
dele.

— Sr. Donovan, esta é a senhoria Sullivan. Ela veio para a entrevista a


vaga de assistente — o silêncio foi quebrado pela voz da secretária.

Se Andie estivesse em condições teria percebido o desconforto da


jovem com a cena que se desenrolava sem que qualquer um deles disfarçasse
a atração palpável que se estabelecera assim que seus olhos se encontraram.

— Obrigado, Ellen. Pode ir! — Sua voz soou profunda deixando os


joelhos de Andie frouxos.

Colin não abandonou seu olhar em nenhum momento deixando que o


vínculo fluísse sem pressa. Não queria assustá-la com gestos bruscos ou
palavras antes da hora, temia que ao menor erro seu ela escapasse porta a fora
assustada pela intensidade do que acontecia. Ele podia ver sua jugular pulsar
violentamente por causa do desejo que começava a nascer e suas pupilas
dilatarem à medida que os laços se expandiam. O rubor em seu rosto
demonstrava o anseio pelo seu toque.

Uma fina camada de suor cobria sua pele fazendo-o temer por seu
bem-estar caso sua companheira não suportasse o vínculo que se estabelecia
entre eles.

Por isso, pacientemente, seu espírito a guiou por entre os labirintos


secretos do amor verdadeiro deixando que os laços fossem tecidos com calma
e delicadeza, porque depois que estivessem unidos a conexão seria tão
poderosa que Andie se tornaria uma parte de si mesmo.

Enquanto esperava por sua aceitação, ele também travava suas próprias
batalhas, lutando contra o desejo voraz de tomá-la em seus braços e correr os
dedos livremente sobre sua pele até que seu interior se aquecesse com o
mesmo amor que o preenchia... ele a ansiara por tanto tempo... a amara
mesmo antes de pousar seus olhos sobre sua face e, ... agora todo o
sofrimento parecia nada diante da plenitude que preenchia seu peito, fazendo
com que ele e seu lobo, pela primeira vez desde a transformação, se
tornassem apenas um.

O alívio por finalmente poder ter sua mente restaurada quase o fez
chorar de alegria. O lobo não o estava empurrando como antes, agora se
deixava dominar com racionalidade, esperando sua vez, compreendendo que
Colin não era seu inimigo, mas parte de si.

Agora que homem e fera estavam unidos diante de sua companheira


concordavam que olhar para ela era como assistir ao amanhecer; quando os
primeiros raios de sol incidem sobre o orvalho da madrugada incitando a
natureza a se erguer para saudá-lo, enquanto o ambiente é preenchido pelos
diversos aromas de flores campestres.

Definitivamente sua beleza era um dos maiores paradoxos que Colin


presenciara, pois ao mesmo tempo que o impactava de forma avassaladora,
também aplacava sua selvageria. De estatura pequena e frágil Andie se erguia
soberana sobre o lobo em seu interior que recuava pacificamente à espera do
momento em que a marcaria com seu odor.

O castanho de seus cabelos o fez recordar os grandes carvalhos das


florestas ao sul de Portugal e, seus lábios sob aquele tom de vermelho vivo
que o excitava, tornava árdua a sua tarefa de se manter à distância.

— Estava a sua espera — quebrou o silêncio entre eles dando dois


passos em sua direção, tomando o cuidado para não romper o contato visual.

Sabia que Andie estava em seu limite porque também estava no seu.
Eles necessitavam de qualquer contato, por menor que fosse para suportarem
o calor que os consumia. Ele não fazia ideia do que estava passando pela
mente de sua jovem companheira, mas se fosse um terço do que estava
passando pela sua tinha certeza de que ela não o repeliria. Ao contrário,
receberia seu toque de bom grado.

— Sou Colin Donovan — disse com a voz ainda mais profunda e


quase sorriu ao vê-la puxar o ar com dificuldade para os pulmões antes de
aceitar sua mão.

— Andie... Andie Sullivan — sua voz não foi mais do que um


murmúrio.

Então, quando suas mãos se tocaram ambos foram atingidos pelo


frisson que se espalhou trazendo consigo a confirmação de pertencimento,
enquanto a alma de Andie se tornava prisioneira das irises claras que a
observavam em choque.

Pela primeira vez, Colin estremeceu sob o poder dos lindos olhos
verdes. Cativo de sua docilidade estendeu a mão e secou a lágrima que
escorria por sua face se deleitando com a maciez de sua pele.

Andie o analisava com a mesma surpresa com que ele a tocava. Estava
extasiada com suas feições, como se o seu rosto tivesse sido cinzelado por
um escultor. Tudo em seu semblante exalava uma masculinidade profunda,
quase violenta de tão selvagem que era. Certamente, ele não possuía uma
única sombra de suavidade; seu rosto era implacável e sua voz fazia com que
sua respiração raspasse na garganta e seus joelhos ficassem frouxos.

Estava tão abalada em estar em sua presença que mal percebeu que ele
a tocava como se temesse quebrá-la. Assim tão próximos, Andie o comparou
a uma obra de arte criada por Da Vince.

Seus lábios eram cheios e sensuais e estavam contornados por uma


espessa barba bem aparada sobre a mandíbula máscula que despertou o
desejo em Andie de afundar os dedos por entre os pelos grossos para testar
sua maciez.

Ele era alto... bem mais alto do que ela e possuía músculos que se
sobressaíam sobre a camisa branca social. As mangas dobradas revelavam
tatuagens nos dois braços... traços firmes e precisos que aguçaram sua
curiosidade.
Excitado pela forma como ela o analisava, Colin se aproximou ainda
mais não suportando aquela tortura. Precisava tê-la em seus braços ou
enlouqueceria. Soltando um rosnado baixo ele disse:

— Companheira.

Andie fechou os olhos emocionada demais com a forma como ele a


chamou. Estava completamente rendida, incapacitada de dizer ou pensar
sobre qualquer coisa com racionalidade. Tudo o que conseguia fazer era
sentir e se entregar as fortes emoções que entorpeciam sua mente.

De alguma forma sabia que aquele homem não era tão estranho assim e
que seu coração estava seguro ao seu lado.

Era como se algo dentro dela tivesse sido despertado e se conectado ao


homem que agora tocava sua cintura e a puxava para si enquanto rosnava
baixinho. O som deveria assustá-la, mas Andie só conseguia sentir a atração
crescer em seu peito.

Quando ele colou sua testa a sua e inspirou seu cheiro ela não conteve
o gemido que escapou de sua garganta. Era como estar embriagada com o
mais doce vinho.

Colin percebeu sua entrega, percebeu que se submetia ao seu toque e


isso o deixou ainda mais ousado. Desceu o rosto para a curva do seu pescoço
e beijou sobre a jugular que pulsava, sem resistir deixar uma pequena mordia
que provocou um tremor por todo o corpo de Andie. Ele a amparou nos
braços e cheirou mais profundamente o seu perfume.

Ela se aconchegou ainda mais entre seus braços e ele grunhiu em


aprovação, enquanto esfregava o rosto contra sua pele marcando-a como sua.

— Você é minha — soou brutal.

Andie estava perdida nas emoções.

Nada fazia sentido.


Ela nunca havia agido de forma tão ousada e agora... simplesmente não
conseguia impedir que seu corpo se rendesse aquela atração quase visceral.

— Não imaginei que nosso laço fosse ser tão forte, me desculpe
deveria ter previsto isso — ele falou ainda com o rosto enfiado em seu
pescoço.

— O que disse? — Perguntou confusa.

Ele sorriu com sua embriaguez.

— Vou beijá-la agora, Tinker Bell[6].

Antes que Andie pudesse dizer qualquer coisa teve seus lábios
saqueados em um beijo másculo, possessivo e dominador, que roubou o
restante de sua sanidade ao permitir que a língua de Colin a invadisse
reivindicando cada pedacinho do seu ser.

Nenhum beijo que já dera na vida poderia ser comparado ao que estava
recebendo daquele homem. Ele definitivamente sabia como beijar uma
mulher porque sua mente estava focada em beber daquela fonte de prazer que
fazia sua intimidade latejar e seus seios enrijecerem contra o atrito dos
corpos.

Nem percebeu quando uma das mãos de Colin desfez seu rabo de
cavalo e seus dedos se infiltraram por entre os fios, espalhando o cheiro de
jasmim no ar. Se dependesse de sua vontade ele a tomaria ali naquela sala,
sobre sua mesa até que gritasse o seu nome, mas ao contrário dela, Colin
ainda estava lúcido e precisava pensar no bem-estar de sua companheira antes
do seu próprio.

Contudo, ela não parecia disposta a facilitar as coisas para ele porque o
puxava para si deixando-o completamente excitado com seu cheiro. O lobo
em sua mente também a desejava, então, em um rompante ele se abaixou
passando as mãos por baixo de suas pernas a erguendo do chão para colocá-la
sobre sua mesa. O cheiro de sua excitação o atingiu deixando-o tonto de
tesão.

Os lábios eram tão macios que não teve piedade e os castigou contra os
seus dando leves mordidas, provocando gemidos deliciosos de sua
companheira.

— Se não me pedir para parar eu a tomarei aqui nesta sala — ele falou
contra seus lábios — é o que quer, Tinker Bell?

Era? Andie não sabia, mal conseguia lembrar o seu nome naquele
momento. Havia muito tempo que não era beijada... na verdade ela nunca
havia sido beijada daquela maneira, a ponto de ter o cérebro incapacitado de
tomar qualquer decisão.

— Eu... eu — engoliu tentando recuperar algum traço de sanidade —


Deus... eu nunca fiz isso... quero dizer... isso jamais me aconteceu.

— Acostume-se, Tinker Bell. Porque faremos muito mais do que trocar


simples beijos — raspou o polegar sobre os lábios inchados alucinado com o
batom todo borrado.

A beijou novamente, mordiscou de leve e sugou o lábio inferior com


malícia sorrindo internamente com o suspiro que ela deixou escapar. Andie
estava uma tentação com os olhos turvos, os lábios entreabertos e o pescoço
tombado para trás. Imaginou como seria tê-la ajoelhada com aqueles lábios
tentadores pintados de vermelho ao redor de seu membro.

Colin estava prestes a jogar a razão para o alto quando uma batida na
porta interrompeu suas intenções. Imediatamente sentiu Andie enrijecer sob
seu toque.

— Desculpe-me incomodar senhor Donovan, mas o secretário de


infraestrutura está aqui e quer vê-lo. Avisei que o senhor estava ocupado, mas
ele insistiu dizendo que precisa lhe falar com urgência — a secretária
gaguejou constrangida com a cena incomum.
Seu chefe jamais havia se envolvido com uma funcionária ou recebera
qualquer uma de suas namoradas no escritório e agora estava agarrado a uma
jovem que viera para uma entrevista de emprego.

— Saia! — Ele rosnou as palavras deixando clara a sua irritação.

Andie evitava seu olhar e havia se retraído, como se não desejasse


mais o seu toque.

— O que eu digo a ele? — Perguntou temerosa.

Colin gostaria de mandar o homem se foder, mas não poderia tratar o


secretário de infraestrutura como qualquer um. A ARCADIS possuía diversos
contratos com o estado e seria imprudência de sua parte menosprezar um
cliente tão valioso.

— Leve-o para minha sala — decidiu exasperado.

Depois tomou o rosto de Andie entre as mãos e a forçou a olhar em


seus olhos. A conexão havia se rompido, mesmo que permanecessem ligados
podia ver que sua companheira estava perdida e confusa agora que a névoa
do vínculo havia baixado.

— Hei — disse com suavidade apesar da irritação — fale comigo —.


Pediu.

A voz profunda não a deixava pensar com clareza. Estava constrangida


por seu comportamento inapropriado, como jamais estivera antes. Tinha
vontade de sair correndo e esquecer a vergonha de ter agido como uma
leviana tentando seduzir o seu futuro chefe.

— Eu... me desculpe... não sei o que deu em mim... eu nunca...

— Schiii não se desculpe — a silenciou pousando um dedo em seus


lábios — não quero que pense que fez algo de errado, porque não fez.
Imagino que esteja confusa com tudo isso e gostaria de poder ficar aqui e
ajudá-la a entender o que acabou de acontecer, mas tenho que ir — beijou
demoradamente sua testa — Droga! Juro que gostaria de ficar aqui e explicar
o que está acontecendo.

— Você precisa ir — sussurrou rogando em pensamento para que ele a


deixasse sozinha.

— Prometo não demorar. Quero que fique aqui e espere por mim.
Volto assim que me livrar dele. Então, poderemos nos sentar e conversar.
Tudo bem?

Andie anuiu concordando com seu pedido, mas no fundo não pretendia
cumprir com sua palavra. Estava tão constrangida com seu comportamento
que desejava cavar um buraco e se enfiar dentro.

— Não vá embora, Tinker Bell. Não me faça ter que ir atrás de você —
avisou pressentindo suas intenções.

Colin depositou um beijo rápido sobre seus lábios e contrariado


caminhou até a porta dando um último olhar em sua direção antes de fechá-la.
Torcia para que Andie tivesse percebido o quão difícil estava sendo ter que se
afastar naquele momento. Todo o seu corpo ainda estava aceso e seus
instintos estavam aflorados agora que ele e o lobo eram apenas um.

Sabia que em poucos minutos ela lhe daria motivos para caçá-la. Foi
fácil ler o que estava em seus olhos e na maneira como seu corpo se fechou
para ele. Colin ainda esperava que sua companheira reconsiderasse fugir, mas
se não o fizesse... seria um prazer caçá-la.
“A fuga é o instrumento mais seguro para se
cair prisioneiro daquilo que se deseja evitar.”
(S. FREUD)

Enquanto esteve nos braços de Colin Donovan, Andie não pensou nas
consequências de seus atos, tampouco se importou com o que ele poderia
pensar a respeito de seu comportamento liberal, mas agora que as emoções
intempestivas haviam soltado suas amarras a vergonha pesava sobre seus
ombros.

Nem poderia culpar Colin por achá-la uma mulher leviana, facilmente
impressionável e que não pensava duas vezes antes de se jogar nos braços de
um estranho. Certamente, importante do jeito que ele era, devia estar
acostumado com esse tipo de mulheres se jogando aos seus pés. Mas, Andie
não era desse jeito e, por essa razão se sentia mortificada.

Não tinha mais idade para agir feito uma adolescente inconsequente,
tampouco lhe faltava caráter para se valer de subterfúgios para atrair atenção
de um homem para si.

Oh, meu Deus! O que foi que eu fiz? Pensou cobrindo o rosto com as
mãos desesperada para sair daquele lugar antes que Colin retornasse para
acabar o que haviam começado antes de serem interrompidos.

Droga! Praguejou baixinho ao se dar conta de que além de ter


arruinado suas chances de conseguir um bom emprego também havia pagado
de piriguete diante da secretária, que a essa hora já deveria ter espalhado o
que viu para toda a empresa. É, não tinha outro jeito! O melhor a se fazer era
sumir dali com o que havia restado de sua dignidade antes que a vergonha a
consumisse viva.

Lembrou-se do olhar angustiado de Colin ao pedir para que o esperasse


e, por um segundo vacilou tentada a ficar. Pare de agir feito uma idiota!
Colin Donovan nem vai lembrar de sua existência depois de hoje. Você foi só
mais uma que não soube resistir ao seu charme! Ralhou consigo mesma.

O máximo que aconteceria quando ele não a encontrasse esperando


feito uma cadelinha adestrada como ordenara, seria ter que lidar com a
frustração de ter perdido uma foda com uma garota idiota. Logo encontraria
outra para substituí-la e se esqueceria de que Andie havia se oferecido de
bandeja no meio daquela sala.

Só de imaginar que Colin poderia estar acostumado a seduzir


candidatas a uma vaga de emprego, ficava horrorizada. Sabia que estava
sendo leviana ao julgá-lo sem o conhecer, mas se considerasse somente sua
aparência e suas atitudes não poderia negar que ele parecia ser o tipo de cara
que se achava o máximo só porque possuía um corpo bombado e muito
dinheiro no bolso.

Pensar dessa forma sobre ele fez seu coração doer, porque
independente das circunstâncias em que se conheceram, não queria acreditar
que o homem que despertara o fogo em sua alma fosse mais um canalha.

“Acabei de ferrar com a minha vida”.

Lamentou-se pegando a bolsa que havia sido esquecida em um canto e


correu para fora da sala, lutando contra o desespero que a invadia. Não
saberia dizer se era por não ter conseguido o emprego ou por abandonar
Colin Donovan.

Estava perturbada demais para refletir sobre o assunto, precisava


deixar aquele lugar com urgência, por isso não esperou pelo elevador, optou
descer pelas escadas, embora algo lhe dissesse para ficar.

Contudo, assim que alcançou a calçada em frente a ARCADIS,


caminhou a passos largos em direção a estação de metrô entrando no
primeiro vagão que encontrou na plataforma. Seus olhos ardiam e a garganta
arranhava enquanto tentava conter as lágrimas, porém tudo ruiu quando
encarou seu reflexo na janela de vidro, compreendendo o motivo dos olhares
de reproche que recebia dos outros usuários.

O batom outrora cuidadosamente aplicado, agora encontrava-se


borrado expondo sua indiscrição como se fosse uma mulher amoral, o que a
fez se sentir ainda mais miserável.

Com o coração em pedaços e a dignidade abalada, tentou se recompor


como pode enquanto seguia viagem até a segurança de seu estúdio, sem
imaginar o que viria pela frente, pois no instante em que deixara a
ARCADIS, Colin Donovan mandara seu cliente as favas e distribuíra ordens
para que a segurança do prédio impedisse sua saída.

Infelizmente para ele suas ordens chegaram tarde demais. Andie o


havia abandonado sem lhe dar chances para esclarecer sobre a conexão que
agora compartilhavam, provocando assim sua ira.

A raiva que o dominou foi tão primitiva que mal escutara os apelos de
Jason para que se acalmasse ou se dera conta da expressão de espanto no
rosto do secretário quando o assistiu agir como um louco. Mas, ele não dava
a mínima se estava assustando todos ao seu redor, sua mente estava focada
em um único objetivo... trazer sua companheira de volta.

Por isso, voltou para a sala de reuniões onde havia estado com Andie e
recuperou a pasta com seus dados pessoais antes de sair em disparada em
direção a garagem, onde pegou o carro e conduziu pela cidade feito um
maluco.

Certamente, no final do mês receberia as multas por excesso de


velocidade e, quando isso ocorresse recordaria Andie de jamais voltar a
desobedecê-lo. Seu lado animal a subjugaria na cama até que ficasse
incapacitada de pensar sobre qualquer coisa além do seu toque.

Ela ainda não sabia e nem era sua culpa, mas como companheira de um
licantropo possuía um laço de dependência inquebrável com Colin que a faria
adoecer no caso de se afastar de sua presença. Ou seja, não seria apenas ele
que sofreria com sua ausência, os laços a afetariam da mesma maneira.

A primeira coisa que Andie fez ao entrar em seu estúdio foi arrancar as
roupas e se enfiar debaixo do chuveiro. A água fria ajudaria a amenizar a
quentura que a castigava e apagaria os sinais de sua indiscrição.

Talvez até aplacasse os pensamentos impiedosos que a recriminavam


por fugir da ARCADIS feito uma criminosa, quando na verdade deveria se
sentir aliviada por estar longe da influência de Colin Donovan e seu charme
irresistível. Contudo, um lado seu continuava revoltado com sua atitude
covarde e não a deixaria esquecer do homem que castigara seus lábios com
beijos possessivos.

Somente a mera lembrança do momento fugaz que compartilharam foi


suficiente para provocar arrepios por toda a sua pele. Se fechasse bem os
olhos Andie conseguiria sentir a barba macia de Colin roçando a curva de seu
pescoço e seus dedos pressionando sua cintura.

“Doce Jesus, isso é loucura!”, gemeu ao deslizar a esponja por entre as


pernas notando sua intimidade sensível e desejosa como jamais estivera por
homem algum em sua vida.

Os mamilos começavam a empinar sob a pressão de seus dedos quando


a campainha soou insistentemente, provocando uma onda de irritação e
frustração por ter que deixar seu alívio para depois. Só havia uma pessoa que
tocava sua campainha daquela forma exagerada, sua amiga Brenda, por isso
apenas se enrolou em uma pequena toalha de banho não se importando que
seus cabelos estivessem molhando o piso enquanto corria para atender à
porta.

Estava pronta para passar um pito na amiga por sua falta de educação
quando a escancarou sem sequer verificar o olho mágico, se arrependendo
imediatamente por sua impulsividade. Parado diante de seus olhos estava a
personificação do seu tormento.

E, pela sua expressão irritada apostaria que Colin Donovan não estava
ali para lhe oferecer um emprego.

— O que está fazendo a...

— Eu mandei que esperasse por mim. Por que fugiu? — A cortou.

O tom imperioso não deixava dúvidas de que estava muito mais do que
irritado.

— Como me achou?

— Responda à pergunta. Por que não esperou por mim? — A


pressionou.

— Eu achei que... eu... — ela odiava quando seu cérebro a abandonava


quando mais precisava dele. Estava parecendo uma retardada gaguejando sem
parar. — Quer saber? Eu não te devo satisfação da minha vida. Sei que posso
ter dado a impressão errada, mas não costumo sair por aí beijando o primeiro
cara que atravessa o meu caminho, ainda mais um que poderia ser o meu
chefe se eu não tivesse ferrado com as minhas chances quando... — agitou a
mão no ar o deixando fascinado com sua explosão — quando... ah, você
sabe.

— Quando me beijou — disse, agora exibindo um sorriso sardônico.


— Eu não o beijei — se defendeu ultrajada — foi você que me agarrou
e beijou.

Ela era uma coisinha adorável tentando enfrentá-lo, mas o lobo ainda
estava contrariado por sua ousadia em abandoná-lo e queria puni-la por seu
comportamento. Contudo, Colin temia pressioná-la demais e ferrar com suas
chances de conquistá-la.

Embora suas almas estivessem ligadas, Andie continuava sendo dona


de suas próprias vontades.

— Se bem me lembro, foi você que invadiu meu espaço pessoal


quando apertamos as mãos — jogou a seu favor — assim como também me
recordo de ter avisado que a beijaria e — deu um passo para dentro do
pequeno apartamento adorando o rubor que tomou suas maçãs — que faria
isso muitas vezes a partir de hoje.

— O que pensa que está fazendo? — Perguntou em um fio de voz,


perturbada com sua aproximação.

Colin era suficientemente quente para tacar fogo em uma cidade inteira
e fazer brotar borboletas em sua barriga. Quando ele a encarava daquele jeito
voraz, seu fôlego ficava preso na garganta e uma estranha sensação lambia
sua pele, provocando um leve formigamento em seu corpo.

— Estou me defendendo de sua acusação, senhorita Sullivan e a


aconselho a vestir uma roupa senão quiser que eu a relembre de como é ser
beijada por um homem de verdade. — Piscou sem desviar o olhar.

Suas bochechas ficaram tão rubras que Colin acreditou que se


houvesse um buraco no chão sua companheira teria se enfiado nele para
escapar de sua inspeção.

— Agora seja uma boa menina e vá colocar uma roupa para que
possamos conversar sem que eu pense em arrancar essa toalha a cada
segundo e fazer exatamente aquilo que estou desejando desde que a deixei
em minha sala. Adianto que não sou um homem muito paciente, então é
melhor correr, Tinker Bell.

“Jesus Glorioso!” Se ele continuasse falando naquele tom, não teria


que esperar muito para vê-la como veio ao mundo.

Andie engoliu em seco, afogando um gemido de prazer que teimava


em subir por sua garganta ao se sentir sugada por seu olhar. Todo o seu corpo
parecia virar por estar perto dele.

— Não sei se percebeu, mas isso aqui é um estúdio. Preciso que saia
para que eu possa me trocar — sua voz saiu insegura.

— Você pode se trocar no banheiro. Não quero correr o risco de perdê-


la de vistas novamente.

Estava sendo um canalha por invadir seu espaço e roubar sua


privacidade? Com toda a certeza, porém nada o impediria de ficar o mais
próximo possível de sua companheira.

Se fosse um homem honrado diria que sua atitude era consequência do


medo de perdê-la novamente, mas a verdade era que havia sentido o cheiro
de sua excitação e isso ofuscou o seu bom senso.

Graças aos céus sua Tinker Bell não fazia ideia do quanto o afetava e o
quanto estava sendo difícil manter suas mãos longe de seu pequeno corpo,
quando tudo o que mais desejava era enfiar os dedos por entre seus cabelos e
puxá-la para seus braços.

Queria poder secar cada gota de água com a língua antes de invadir seu
interior sem piedade até que eles alcançassem o prazer extremo... suspirou
refreando suas paixões. Se continuasse com esses pensamentos, logo chegaria
ao seu limite e avançaria o sinal.

Ele a desejava em sua cama como nunca havia desejado nenhuma


outra, mas antes que a reivindicasse como sua, precisava conquistar seu
coração. Lamentava que as coisas tivessem que ser tão complicadas entre
eles, se ao menos os humanos não tivessem escolhido negar a verdade sobre
as lendas, contos e fábulas, se revelar à Andie não seria um problema. Temia
que quando descobrisse sobre sua natureza o considerasse uma aberração.

Talvez a solução fosse ocultar algumas partes de sua condição até


estarem devidamente acasalados. Certamente, ela o odiaria, mas não teria
maneira de voltar atrás. Ponderando sobre tal questão, decidiu agir com
cautela até que chegasse a hora de se mostrar por inteiro.

Fechou a porta atrás de si demonstrando sua intenção de permanecer


em seu estúdio e, assistiu pelo canto de olho Andie suspirar resignada antes
de abrir e fechar as portas de um guarda-roupa antes de correr de volta para o
banheiro deixando-o com uma ereção dolorosa entre as pernas.

— Ah, Tinker Bell, você ainda será a minha morte — murmurou para
si, enquanto observava o pequeno espaço em que ela vivia.

Apesar de ser um estúdio pequeno, o lugar era arejado e todas as coisas


pareciam estrategicamente ordenadas quase de forma compulsiva, revelando
que sua companheira gostava de manter tudo ao seu redor limpo e sob
controle, algo que Colin realmente valorizava.

Caminhou pelo pequeno espaço, aguardando pacientemente por seu


retorno, enquanto Andie parecia à beira de um colapso de nervos trancada no
banheiro.

Ela estava considerando a possibilidade de Colin ser o tipo de homem


que não lidava muito bem com um fora ou que tivesse confundido sua fuga
com um convite para invadir seu apartamento e terminar o que haviam
começado na empresa.

Se fosse qualquer uma dessas possibilidades Andie estaria muito


ferrada, porque tudo o que mais desejava no momento era desfazer o mal-
entendido e fingir que aquele encontro jamais ocorrera. Além disso, sua
apreensão era tão grande que tremia de medo só de pensar que teria que
encará-lo de frente, mas algo em seu interior lhe dizia para confiar nele.

Como poderia confiar, quando não confiava em si mesma ao seu lado?


A atração que sentia quando fitava aquelas írises claras colocavam abaixo
toda a sua prudência, a ponto de ela quase ter se jogado em seus braços
quando o viu parado diante de sua porta.

Colin era, definitivamente, o homem mais atraente que conhecera. Ele


era o sinônimo perfeito de solidez e poder. Por isso, se sentia uma bagunça
quando estava ao seu lado.
“As mulheres não foram feitas para a fuga.
Quando correm é porque desejam ser perseguidas.”
(ROUSSEAU)

Quando Andie reuniu coragem para sair do banheiro estava


determinada a não se deixar intimidar pela presença imponente de Colin em
seu minúsculo apartamento, tampouco permitiria que a forte atração
confundisse seus sentidos. Um homem como ele não iria querer nada sério
com uma garota como ela quando poderia ter qualquer outra, muito mais
bonita e interessante.

Além do mais, pertenciam a mundos diferentes.

Mas, bastou pousar seus olhos sobre ele para que sua determinação
esmorecesse como em um passe de mágica, quando o encontrou distraído
folheando um livro sobre endemias.

Ele parecia extremamente à vontade para alguém que nunca havia


estado ali antes.

— Gosto do cheiro do seu shampoo. Jasmim combina com você. —


Ele disse sem interromper a leitura.

Andie puxou o ar desviando sua atenção do estremecimento que suas


palavras causaram.
— Por que está aqui? — Perguntou, tentando usar o mesmo tom de
casualidade.

— Já disse — fechou o livro e a fitou — precisamos conversar.

— Se for sobre o que aconteceu mais cedo, eu sinto muito. Eu...

— Eu não sinto. Para ser honesto não vejo a hora de voltarmos a


repetir tudo outra vez, mas antes temos que resolver alguns assuntos —
passeou o olhar por seu corpo antes de voltar a fitar seus olhos.

— Senhor Donovan...

— Colin, Tinker Bell, me chame de Colin — interrompeu com a voz


macia — depois do que compartilhamos em meu escritório não vejo
necessidade para formalidades entre nós.

— Aquilo foi inapropriado — corou com as lembranças. — Lamento


se passei a impressão errada, mas não sou esse tipo de mulher que está
procurando.

— E qual seria? — Perguntou sem alterar a voz.

Andie mordeu o lábio incomodada com sua incapacidade de manter


uma conversa com ele sem que desejasse se jogar em seus braços. Era como
se estivesse sofrendo de abstinência após uma overdose de Colin Donovan.

— É melhor dizer logo a que veio, senhor Donovan. Tenho uma prova
para fazer na faculdade antes de encerrar o semestre — o encarou sem muita
convicção.

Sua expressão era pensativa quase serena e, isso a desarmou um pouco


mais. Não queria ter sido rude, apenas não sabia como agir quando estava em
sua presença. Havia algo em Colin que mexia com suas entranhas de uma
forma tão gostosa que Andie só pensava em ceder as suas próprias vontades.
Ela só não fazia isso porque temia acabar com o coração em pedaços.
— Gosto de seus cabelos molhados — deu um passo em sua direção,
olhando profundamente em seus olhos, como se sondasse sua alma. — Por
que foi embora, Tinker Bell?

Todas as vezes que ele a chamava daquela maneira, deliciosas faíscas


se espalhavam para cima e para baixo do seu baixo-ventre.

— Depois do que aconteceu... o que esperava que eu fizesse? —


Sussurrou.

— Que acatasse meu pedido e esperasse por mim — deu outro passo
em sua direção.

— Dá para você ficar onde está? Por favor — pediu sentindo crescer a
atração.

— Você também sente isso, não sente? — Deu outro passo.

— Isso o quê? — Passou os braços ao redor do corpo tentando se


proteger.

— Acha que é só você que se sente sugada quando nos encaramos?


Que o seu coração é o único que dói quando nos afastamos? Que meu corpo
também não arde quando estamos juntos?

A cada pergunta ele se aproximava mais e mais, fazendo sua pele se


arrepiar de... desejo.

— Eu mal consigo respirar quando olho para você — prosseguiu


tocando seu queixo — se esqueceu que eu também estava naquela sala
quando o mundo deixou de existir, Tinker Bell. Acha que foi só você que se
sentiu sem chão? — Tomou seu rosto entre as mãos a obrigando a encará-lo.
— Não sei o que está se passando por essa sua cabecinha, mas precisa
acreditar em mim quando digo que eu nunca senti nada semelhante antes de
te conhecer.

— Colin... — a respiração arranhava a garganta.


— Do que tem medo, Tinker Bell? — Segurou firme o seu rosto.

— Não deveria falar essas coisas. Isso é loucura, não vê?

— Não, eu não acho que seja loucura querer estar ao seu lado.

— Fala isso porque está interessado em acabar o que começou. — Em


um rompante de lucidez expos seus temores — Sei que dei a impressão
errada quando me deixei levar pelo momento e, ainda estou tentando
entender como isso foi acontecer. Mas, eu não sou esse tipo de mulher. Eu
não costumo ser tão liberal com estranhos, tampouco saio por aí me jogando
nos braços do primeiro homem que me aparece como se isso fosse algo
banal. Droga! Você não faz ideia de como eu me senti quando percebi que se
não fosse por sua secretária eu teria transado com você naquele escritório e...
— Respirou tentando conter o choro que se acercava. — Deus, Colin! Eu
ficaria arrasada se isso tivesse acontecido.

— Olhe para mim — apertou o seu rosto, sofrendo com sua agonia —
eu não teria ido até o fim, Tinker Bell. Eu não a possuiria sobre uma mesa
fria como se você fosse uma qualquer. Será que ainda não entendeu que eu
não estaria aqui se realmente não me importasse com você?

— Colin...

— Sei que está assustada — apontou — eu também, Tinker Bell. Eu


também — raspou o polegar sobre sua bochecha —, mas estou aqui e não
vou a lugar nenhum até que pare de fugir de mim.

— Não é de você que estou fugindo... é de mim — o fitou desolada —


você está certo quando diz que estou assustada, mas não é de você que eu
tenho medo e sim do que eu sinto quando estamos juntos. Você tira o meu
foco e eu não sei viver sem ter controle sobre minhas emoções.

— Isso não me parece um problema.

— Colin, até esta manhã tudo o que eu desejava era me sair bem na
entrevista de emprego. Mas, bastou olhar para você que eu esqueci
completamente meu objetivo. Depois, você apareceu aqui batendo à minha
porta como um louco e ao invés de chamar a polícia estou aqui tentando
lembrar o meu nome porque você nubla as minhas ideias e faz meu coração
bater tão forte que temo estar sofrendo um ataque de pânico.

— O emprego é seu — falou.

Andie se exasperou com a calmaria em sua voz.

— Não pode me dar o emprego só porque estou dizendo não para


você...

— O emprego já era seu antes de chegar a ARCADIS. Eu a chamei


para comunicar minha decisão, mas quando a vi tudo saiu do controle. Está
vendo? Não é só você que fica afetada quando estamos juntos. Sinto muito se
isso a deixa chateada, mas se quer saber, eu não mudaria nada em nosso
encontro — beijou sua testa.

— Não posso — ela murmurou.

— Não pode o quê, Tinker Bell? — Sorriu já imaginando sua


resposta.

— Ser sua assistente depois do que aconteceu, eu simplesmente não


conseguiria — lamentou ao lembrar das inúmeras contas sobre o aparador.

— Claro que pode. Uma coisa não tem nada a ver com a outra. O fato
de termos nos beijado não a desqualifica para a função, além disso, a
ARCADIS não possui nenhuma política de não confraternização entre
colegas de trabalho — piscou.

— Não somos colegas de trabalho. — Rebateu. — Se aceitasse ser sua


assistente, você se tornaria meu chefe e isso por si só já seria motivo
suficiente para me desqualificar para a função. — Tentou se afastar, mas
Colin a enlaçou pela cintura.
— Tenho que discordar de você. Se quiser posso elencar todas as
vantagens de trabalhar para mim.

— Estou falando sério.

— Eu também — sorriu malicioso — sabe o que eu acho?

— Não — ficou hipnotizada pelo seu sorriso.

— Que você tem medo de aceitar trabalhar para mim e ser obrigada a
ficar distante, mas posso garantir que isso não irá acontecer. Vamos passar
muito tempo juntos, Tinker Bell. Agora, vá se arrumar senão vai se atrasar
para a faculdade. Eu passo para te buscar, temos um coquetel para ir.

— Coquetel? Como assim?

— Hoje a ARCADIS receberá mais um prêmio da comissão de defesa


ao meio ambiente e preciso comparecer. Como minha assistente pessoal
espero contar com sua presença ao meu lado.

— Eu ainda não aceitei o emprego.

— Disse bem, ainda — pontuou — ou seja, você irá aceitar, só precisa


de tempo para ver as coisas com clareza e como não consegue pensar comigo
ao seu lado, vou deixá-la em paz para que faça isso com calma. Mas, tenha
em mente uma coisa, que a partir de hoje nada irá me afastar de você,
entendeu?

Andie o fitou feito um peixinho, abrindo e fechando a boca. Foi a coisa


mais fofa na opinião de Colin.

Em tão pouco tempo havia descoberto algumas particularidades


interessantes sobre sua companheira. Ela perdia facilmente a calma e quando
encorajada, também perdia o filtro e se danava a falar piscando os olhos de
maneira adorável.

Ela era um delicioso paradoxo. Uma confusão angustiante. Um


pequeno tornado que lhe daria fios brancos antes da hora.

— Use os scarpins vermelhos. Gosto do jeito que fica com eles —


depositou um beijo casto em seus lábios e depois a soltou lançando um
último olhar antes de deixá-la sozinha.

Assim como ela, Colin também precisava de espaço caso contrário a


jogaria sobre a pequena cama e fariam amor até se esquecerem do mundo lá
fora. Porém, a breve conversa deixou claro que sua companheira precisaria de
um tempo um pouco maior para se acostumar com a conexão entre eles.

Era visível que ela o desejava da mesma forma que ele a queria, mas a
sua insegurança tinha fundamento no pensamento e costumes humanos. Para
ela estava sendo difícil conviver com as faíscas do vínculo. Ele mesmo estava
tendo dificuldade em conter seus impulsos quando estavam tão pertos.

Por isso, seria paciente... muito paciente.

Quando Colin saiu, Andie se jogou de costas sobre a cama e levou as


mãos até os cabelos sem saber como digerir tudo o que haviam conversado.

A franqueza com que ele deixara claro suas intenções de repetir o que
haviam compartilhado em seu escritório, despertara sentimentos profundos
em seu coração. Contudo, precisava ser racional, não podia se deixar levar
por um punhado de palavras bem-ditas.

Mas então se lembrou do brilho que viu em seus olhos cristalinos.

Colin em nenhum momento desviou do seu olhar, ao contrário, ele se


expos corajosamente sem qualquer receio de ser rechaçado, ao passo que ela
continuava recuando e tentando sufocar as emoções dentro do peito.

Bufou exasperada com o rumo de seus pensamentos.

Claramente dividida entre a razão e suas emoções, Andie decidiu ir até


a pequena escrivaninha e rasgar uma folha de seu caderno para escrever os
prós e os contras de sua situação.

De um lado elencou as diversas contas a pagar e os gastos com o curso


de enfermagem. Do outro elencou as vantagens de aceitar o emprego na
ARCADIS, acrescentando no final da nota que teria que trabalhar
diretamente com Colin Donovan.

As vantagens salariais e os horários flexíveis de uma assistente pessoal


haviam sido os motivos que a atraíram para aquela entrevista de emprego,
porém na ocasião ainda não existia a forte atração pelo seu futuro chefe.
Então, pensou que se ignorasse esse pequeno detalhe poderia aceitar o
emprego.

Mas, pensar dessa forma era mesmo que cuspir para cima e esperar que
caísse bem no meio da sua testa, pois Colin não era o tipo de homem que se
ignorava, ainda mais quando ele havia feito questão de deixar claro o seu
interesse.

Sem saber o que fazer, correu para o armário e escolheu um tubinho


preto e separou os scarpins antes de se sentar para secar os cabelos parando
imediatamente ao lembrar do que ele dissera “gosto dos seus cabelos
molhados”.

“Deus, me ajude a tomar a decisão certa!”, orou baixinho tentando


aplacar a saudade que estava sentindo de sua presença.

Como era possível que já estivesse sentindo sua falta se não fazia nem
vinte minutos que ele estivera ali? O seu perfume ainda estava lá impregnado
no pequeno ambiente.
Andie mordeu os lábios antes de voltar a secar os cabelos usando o
barulho do aparelho para calar as vozes em sua mente. Precisava correr para
não perder a prova, era a última semana de aula antes das férias.

Quando chegou à faculdade Brenda foi a primeira a notar em suas


roupas.

— Nossa amiga! Para onde pensa que vai desse jeito toda produzida?
Não me diz que tem um encontro? — Provocou.

— Irei a um coquetel assim que terminar a prova. Sabe aquele


emprego que te falei?

— O de assistente pessoal?

— Esse mesmo.

— O que tem ele? Ah, não! Espera! — Se virou com um sorriso largo
no rosto — Você conseguiu?

Andie ficou feliz por ver que Brenda realmente torcia por ela.

— Mais ou menos. Ainda estou pensando, mas acho que vou aceitar —
disse tentando ser casual.

— O que tem para pensar, Andie? Você mesma disse que queria esse
emprego.

— Não é tão fácil quanto parece. Sabe que um dos pré-requisitos é que
a pessoa entenda de construção civil.

— Andie Sullivan — a puxou pelo cotovelo a fazendo parar no meio


do corredor — espero que não esteja pensando em desistir dessa
oportunidade. Se esse requisito fosse tão importante eles não a teriam
escolhido.

— Tem razão, Brenda — sorriu sem jeito, pois não diria a amiga os
motivos pelos quais foi aceita — acho que só estou nervosa por ter que ir a
esse coquetel.

— Besteira! Você verá que não é nada demais. Ainda bem que depois
de hoje entraremos de férias, assim você poderá se ajustar ao novo emprego.

— Tem razão.

Temendo revelar detalhes perturbadores de sua interação com seu


possível chefe, manteve-se calada. Caminhando ao seu lado fingindo
indiferença até chegarem à sala de aula, precisava tirar seus pensamentos de
Colin Donovan se não quisesse prejudicar o seu desempenho na prova.

A ansiedade por saber que a qualquer momento ele estaria à sua espera
não a deixava se concentrar. Seu coração parecia desgovernado a cada minuto
que o relógio avançava, o esforço para compreender as questões era ínfimo
diante das lembranças de seu último encontro com Colin.

Ela quase chorou quando o tempo da prova foi encerrado, pois sabia
que não havia se saído bem. E agora não havia nada que pudesse fazer para
reverter a situação a não ser correr ao encontro do homem que parecia ter se
apoderado de seus pensamentos.

— Vamos, Andie — Brenda a chamou — eu te dou uma carona até


esse coquetel.

— Obrigada, mas não será necessário.

Brenda a escrutinou com seus grandes olhos escuros.

— E por que não será necessário? — Perguntou lentamente, da mesma


forma que fazia quando queria descobrir algo.

— Porque o senhor Donovan disse que mandaria alguém me buscar —


mentiu porque não queria que Brenda soubesse do rolo em que havia se
envolvido.
— Caramba! Esse negócio de ser assistente pessoal é maneiro. Tem até
motorista particular.

— Colin não é meu motorista particular — respondeu rápido demais e


quase gemeu ao perceber a gafe.

— Colin? Colin Donovan? O CEO da ARCADIS? — A loira agora


estava com uma sobrancelha erguida.

— Brenda, por favor! Podemos falar disso em uma outra hora?

Ela gostaria de explicar tudo com calma para sua amiga, mas estavam
descendo as escadas em frente à entrada do prédio que alojava o curso de
enfermagem, quando seus olhos encontraram Colin recostado contra uma
Ferrari preta, usando um traje grafite escuro.

Se ainda tinha alguma dúvida de sua beleza agora havia evaporado. O


homem não conhecia limites. A criação havia sido mais do que generosa em
sua fisiologia e o sorriso em seu rosto era o de um predador nato.
“A força do destino é implacável e não há nada
que o impeça de conquistar seu intento.”
(DESCONHECIDO)

— Deixa eu ver se entendi — Jason passou a mão pelos cabelos


visivelmente incomodado com o pedido do irmão — você levará sua
companheira para o Canadá até que ela concorde em aceitá-lo. Enquanto isso,
eu e Katie ficaremos a frente da empresa por tempo indeterminado. É isso?
Ah, não espera — se apoiou contra a parede de pedra que revestia a lareira —
faltou a parte em que eu terei que mentir sobre uma obra que já foi concluída
para que sua companheira não suspeite de nada e acredite que vocês precisam
ir até lá para a última inspeção antes da obra ser entregue. Esqueci alguma
coisa?

— Não, é só isso mesmo — Colin continuou digitando algo em seu


notebook como se não estivesse lhe dando atenção. — Não é muito diferente
do meu plano inicial. Você e Katie já sabiam que eu me ausentaria da
empresa, só fiz um pequeno ajuste. Agora não precisarei ficar um ano
ausente, apenas algumas semanas ou meses.

— Ainda assim, você tá ligado que quando ela colocar os olhos no


prédio, vai sacar a sua mentira, não está?

— Isso não acontecerá, porque não a levarei para ver o prédio.


Jason olhou para o irmão com incredulidade por estar sendo ignorado
deliberadamente, como se o fato de o ter pedido para mentir em seu favor
fosse algo banal.

— Colin, acho que deveria pensar melhor sobre isso. Se a garota


descobrir que está sendo manipulada para ser seduzida por você, ela jamais o
perdoará.

— Sei que parece horrível o que estou pedindo, mas preciso de mais
tempo com a Andie sem que haja interferências. Mesmo que nosso vínculo
seja forte, ele não é o suficiente para fazê-la me aceitar.

— Como não? O vínculo pode subjugá-la a fazer qualquer coisa que


você desejar.

Colin ergueu o rosto revelando sua ansiedade para que o irmão


compreendesse seus motivos.

Era normal que pelo fato de Jason ainda não haver encontrado sua
companheira, ele acreditasse ser correto usar o vínculo para suplantar as
vontades de uma peeira.

— Se eu quisesse conviver com um robô usaria a força do vínculo para


impor minhas vontades, mas eu quero que Andie escolha ficar ao meu lado
por vontade própria e não porque teve suas emoções manipuladas. Isso
poderia funcionar no princípio, mas com o tempo quebraria seu espírito e
meu lobo sofreria junto.

— Então é isso. Você está com medo de repetir os erros do tio Angus
— constatou.

— Ele não foi o único a abusar do vínculo, temos outros exemplos em


nosso meio. Se tio Angus e os outros tivessem sido pacientes quando
encontraram suas companheiras, elas não teriam definhado de tristeza até a
morte. O papel do vínculo nunca foi impor nossa natureza e vontades sobre
as peeiras, mas sim nos manter em sintonia.
— Entendo.

— Jason, não estou pedindo que concorde com minhas decisões, mas
que respeite minhas escolhas. Minha companheira ainda não compreende a
força do nosso vínculo e, por isso o resiste tentando racionalizar o que
estamos sentindo. Levá-la para longe me dará tempo para aprofundar nossos
laços e conquistar seu coração. O que estou pedindo não é nada que eu
mesmo não faria por você.

Diante de tais argumentos, Jason acabou concordando com seu


pedido.

Colin tinha razão, ele não precisava concordar com seu plano, apenas
respeitá-lo, por isso fez algumas ligações antes de entregar tudo o que o
irmão precisaria naquela viagem. Depois procurou por Katie e explicou a
situação e, como esperado, precisou convencê-la a participar daquele
embrolho.

No fim, Colin estava aliviado por ver que seus irmãos o ajudariam,
ainda que não compartilhassem das mesmas ideias.

Com a primeira parte do seu plano resolvido, ele passou para o


seguinte passo... convencer Andie a viajar para o Canadá. Com isso em
mente, correu para o quarto e tomou um banho rápido, havia se
comprometido em buscá-la na faculdade para irem juntos àquele maldito
coquetel.

Quando recebera o convite há algumas semanas ele pedira para que a


irmã fosse em seu lugar e o representasse, pois odiava toda a pompa que
envolvia tais eventos. Mas, agora possuía um bom motivo para comparecer.
Ele queria impressionar sua companheira. Queria que ela sentisse orgulho de
seu trabalho.

Assim, escolheu com cuidado o traje e dirigiu até a faculdade onde


tinha certeza de que Andie o aguardava, pois sabia que mesmo que ainda
relutasse em aceitar a forte atração que os unia, o final seria sempre o
mesmo... com ela correndo para seus braços. Suas almas eram companheiras
e nada mudaria isso, nem mesmo sua razão.

Ao estacionar em frente a grande escadaria que dava acesso ao interior


da instituição, Colin desceu do veículo e ficou parado junto ao carro ansioso
para ver como ela reagiria em sua presença. E, ele não se decepcionou,
porque quando Andie despontou no alto de seus scarpins vermelhos suas
bochechas coraram ao ver que ele estava a sua espera.

Sua Tinker Bell ainda lhe provocaria um ataque cardíaco se


continuasse fazendo jogo duro.

— Me diz que aquele ali não é o tal Colin Donovan — a loira ao lado
de sua companheira perguntou.

— É.… o Colin.

Sorriu com o leve suspiro que ela deu ao pronunciar seu nome. Graças
ao seu lobo possuía uma audição privilegiada que lhe permitia captar sons a
quilômetros de distância.

— Por favor, me diz que ele não é gay.

Colin mordeu o lábio segurando o riso.

— Brenda! — A ouviu repreender a amiga.

— Andie, não é preconceito de minha parte, mas todo homem gostoso


que eu tenha conhecido nos últimos meses ou tinha namorada ou era gay.

— Pelo amor de Deus, vê se controla essa língua.

Colin estava extasiado com sua beleza. A cada passo que ela dava em
sua direção seu lobo se ajoelhava para reverenciá-la como faria se estivessem
diante de uma rainha.

Diferente de outras mulheres, sua companheira não se vestia para


chamar a atenção masculina, porém suas escolhas eram sempre elegantes e
sensuais na medida certa. Prova disso era a combinação perfeita entre o
tubinho preto e os escarpins vermelhos. Colin ansiava pelo momento em que
eles seriam a única coisa que Andie estaria usando quando sua cabeça
estivesse enfiada entre suas belas pernas.

“E que pernas!”, pensou sentindo uma dolorosa ereção se formar.

— Boa noite, Tinker Bell — ele a cumprimentou ignorando o fato de


não estarem sozinhos.

— Tinker Bell? — A loira virou o rosto para questioná-la.

— Boa noite, senhor Donovan. Essa é a Brenda, uma amiga — os


apresentou tentando fugir do embaraço.

O lobo se regozijou ao ver como ela se afetava com sua presença, o


rubor em sua face apesar de suave era a evidência cabal de seu embaraço.

— Olá, Brenda! É um prazer conhecê-la — apertou a mão da loira sem


desviar a atenção de Andie.

— Então, você é o novo chefe da minha amiga ou seria Tinker Bell?


— Ela tentou fazer charme, mas ele a ignorou sentindo a irritação do lobo por
ter outra fêmea se insinuando.

— Por enquanto sou apenas o chefe, mas em breve pretendo ser muito
mais — falou pesando as palavras. — Se nos der licença, estamos atrasados
para um compromisso.

— Ah, claro! A Tinker Bell aqui me disse que vocês irão a um


coquetel. Aproveitem a noite — se despediu com um abraço, murmurando
em seguida sem saber que ele podia ouvi-la — se você não o quiser eu
quero.

— Até mais Brenda — viu Andie se afastar desconsertada.


Pelo seu tom percebera que Andie desejava se ver livre dos
comentários provocativos da tal amiga. Ele também não havia gostado da
maneira aberta e pouco educada com que ela o encarara depois de haver
deixado claro seu interesse em Andie.

Por isso, quando tomou seu assento ao volante lançou um olhar duro
na direção da loira, antes de colocar o carro em movimento.

— Você está linda — falou tentando quebrar a tensão.

— Obrigada, me desculpe pelo comportamento de Brenda. Ela às


vezes é um pouco...

— Atirada?

— É, acho que essa seria uma boa palavra para definir seu
comportamento às vezes. Sinto muito.

— Não deve se desculpar pelas atitudes dos outros, Tinker Bell. Sua
amiga não foi apenas atirada, foi desrespeitosa depois de eu ter deixado claro
meu interesse em você. Ela não se importou com seus sentimentos e isso é
mais um motivo para não se desculpar por seus erros.

— Brenda só estava brincando — murmurou.

— Não a defenda. Uma amiga de verdade teria se importado com seus


sentimentos antes de se insinuar para seu acompanhante.

Andie nunca havia pensado dessa forma sobre a amiga, mas agora que
Colin havia comentado começou a ponderar sobre algumas de suas atitudes e,
não gostou do que encontrou.

— Desculpe, não deveria me envolver em suas amizades — ele disse


depois de um tempo.

— Tudo bem. Você não disse nada além da verdade. Às vezes


fingimos não ver certas coisas para evitar o trabalho de cortar os laços. Isso
nos obrigaria a encararmos as consequências de nossas escolhas.

— Aprendemos com as consequências, Tinker Bell. Mas, no seu caso,


acho bom aprender rápido antes que seu coração seja machucado de verdade.
Porque se isso acontecer é melhor que Brenda tenha crédito no céu, ela vai
precisar se eu tiver que tomar as suas dores.

Pegou sua mão e a beijou, conduzindo o restante do trajeto com a mão


dela presa a sua fazendo uma sensação de paz se espalhar pelo coração de
Andie.

Estranhamente ela sentia que Colin seria capaz de cumprir suas


palavras.

O lugar escolhido para a realização do coquetel de premiação ficava


próximo da faculdade, por isso eles não tardaram em chegar ao local.

Colin queria que Andie se divertisse àquela noite, queria aproveitar a


oportunidade de estarem em um lugar diferente para se conhecerem melhor e
assim estreitarem os laços.

Mas, infelizmente, assim que adentraram o salão de eventos seus pais e


irmãos os cercaram feito enxame de abelhas.

— Colin, não vai nos apresentar sua acompanhante? — Sua mãe


perguntou enquanto avaliava descaradamente sua companheira.

Ele gostaria de fazer isso aos poucos, mas sabia que seria inútil
convencer seus pais a irem com calma. De certa forma ele os compreendia,
afinal ela era a sua companheira, portanto também fazia parte da família.
Então, movido por seu instinto de proteção, pousou a mão contra a base de
sua cintura para demonstrar que se ela precisasse ele estaria ao seu lado.

— Andie estes são meus pais, Daniel e Greta Donovan. Mãe, pai esta é
a Andie, minha assistente pessoal.

Ele sabia que acabara de colocar o carro na frente dos bois, uma vez
que sua companheira ainda relutava em aceitar o emprego.

— É um prazer conhecê-la, Andie. Espero que meu filho não esteja


sendo muito exigente com você — seu pai brincou.

— Na verdade ele tem sido muito paciente — o fitou em um aviso


silencioso de que sua atitude não seria esquecida — Uma qualidade rara hoje
em dia.

— Colin, paciente? Isso é uma novidade para mim — sua irmã o


alfinetou. — Eu sou Katie, a irmã caçula e este é o Jason, nosso irmão do
meio.

— É um prazer conhecê-los — tentou esconder o choque com a beleza


da família Donovan. Agora ela sabia de quem Colin havia herdado tais genes,
embora isso não fosse o suficiente para aplacar sua irritação por tê-la
apresentado como sua assistente.

Pela forma sutil como Andie se afastou de seu toque, Colin soube que
a havia chateado com sua atitude precipitada, por isso não insistiu em uma
reaproximação. Deixaria que conversasse livremente com seus pais. Eles
pareciam saber exatamente como monopolizar sua atenção e fazê-la esquecer
seu pequeno deslize. Enquanto isso, ele se contentaria em ficar ali apenas
admirando sua beleza feito um bobo apaixonado.

Muitos diriam que ele não era esse tipo de homem, que se apaixonava
e ficava com os quatro pneus arriados por uma mulher.

Durante muitos anos seus amigos e clientes só conheceram um lado de


sua personalidade. As mulheres que passaram por sua vida nunca sequer
chegaram a tocar a fachada de seu coração. Foram apenas companhias
efêmeras com quem compartilhara satisfação física, mas nada que o fizesse
querer gastar mais do que dois minutos de seu tempo para admirar suas
belezas.

Mas, com Andie era diferente.

Ela era perfeita. Ela bagunçava o seu mundo perfeito. Ela se agarrava
tão profundamente em sua mente que respirar longe de sua presença parecia
um tormento. Por isso, ele não se importava se ela o estava evitando
deliberadamente, tampouco se irritava de ficar parado feito um idiota a espera
de uma migalha de sua atenção.

O salão podia estar fervendo de pessoas importantes e bonitas, ele só


desejava atrair a atenção de uma única pessoa naquele mar de gente. Ele só
ansiava pelos olhos de sua companheira... de sua Tinker Bell.

— Problemas no paraíso? — Katie o provocou.

Em outras circunstâncias ele a teria mandado embora, mas então, a


observou.

Sua irmã havia se tornado uma jovem atraente e logo, logo encontraria
um homem bom para fazê-la feliz e colocar um pouco de juízo na sua cabeça
de vento. E que Deus ajudasse o pobre homem que se apaixonasse por ela,
porque Katie conseguia tirar até um santo do sério quando contrariada.

Ele sabia disso, porque eram feitos do mesmo material. Suas mentes
eram férteis demais quando possuíam um objetivo. Prova disso era a ideia
que ganhava forma em sua mente.

— Por que está me olhando assim? — Ela o questionou.

— Você por acaso trouxe esse batom que está usando? — Apontou
para a bolsinha de mão.

— Desde quando se interessa por meus batons?


— Trouxe ou não trouxe?

Ele quase riu da sua cara. Ela não fazia ideia do que ele pretendia com
aquilo, mas Colin apostava na sua curiosidade para cooperar com seu
pequeno plano diabólico para ganhar o perdão de sua companheira.

— Sim, ele está aqui comigo. Por quê?

— Dê ele para mim — estendeu a mão com a palma aberta para cima,
observando se Andie ainda o ignorava.

— Por que eu daria o meu batom para você? — Sua irmã acompanhou
seu olhar.

— Porque eu estou mandando e você é uma ótima irmã quando não


está fuçando onde não deve.

— Colin, esse é um legítimo Yves Saint-Lauren. Sabe quanto custa um


desses?

— Compro outro para você. Aliás, se parar de fazer perguntas, eu te


dou mais dois de presente em seu aniversário.

— Porque não falou antes — abriu a bolsinha e retirou o objeto


cobiçado — espero que não esteja pensando em pintar os lábios com ele.

— E para que mais serve um batom, pestinha? — Deu um beijo em seu


rosto e se aproximou novamente de sua companheira. — Mãe, espero que
não se importe se roubar Andie de você. Quero apresentá-la a alguns amigos.

— Claro que não. Tenho certeza de que teremos outras oportunidades


para conversarmos, agora que ela trabalha para você.

— Tem razão, senhora Donovan — deu um sorriso educado.

Andie pediu perdão a Deus por estar prometendo algo que não tinha
certeza se seria capaz de cumprir, porque apesar de Colin ter lhe oferecido a
vaga, ela ainda não estava certa se seria uma boa ideia trabalhar como sua
assistente.

Desde a morte de seus pais, ela temia se envolver com alguém que a
desviasse do foco e, Colin era exatamente esse tipo de pessoa. Quando a
olhava com suas incríveis órbitas azuis claras era como ser sugada para
dentro de um tornado. Ficava completamente à mercê de suas emoções mais
decadentes e agia feito uma adolescente desmiolada.

Então, por que aceitara ir aquele coquetel se sabia o que aconteceria?

Porque, ainda que não fizesse nenhuma lógica, ela ansiava por passar
mais tempo ao seu lado. Era como estar viciada em uma droga potente.

Naquela noite, quando o encontrou em frente a faculdade, ela teve uma


pequena previa das emoções que sentia quando estavam juntos. Ficava
enfraquecida com sua beleza e, cada pequeno toque ou gesto seu fazia seu
mundo dar cambalhotas em sua cabeça.

Ao seu lado o coração disparava e suas mãos formigavam de tal


maneira que Andie ansiava por seus beijos.

— Ainda está chateada, Tinker Bell?

Um choque percorreu toda a sua espinha ao sentir o seu hálito em sua


orelha. Ele estava praticamente colado em suas costas, com uma das mãos
firmemente agarrada a sua cintura enquanto a conduzia por entre aquele mar
de gente elegante.

— Não deveria ter dito a sua família que sou sua assistente. Sabe muito
bem que ainda estou pensando sobre o assunto — o olhou de soslaio.

— Você acha que está pensando sobre o assunto. Mas, não estaria aqui
se já não houvesse se decidido.

— Está sendo presunçoso. Deve ter se esquecido que não me deu


chances para recusar sua proposta. Apenas largou a bomba em meu colo e
saiu dizendo que teria que acompanhá-lo esta noite.

— Ah, Tinker Bell! — Ele parou e a puxou contra si, baixando o rosto
para sussurrar em seu ouvido — você ainda não entendeu nada, não é
mesmo? — Raspou a barba contra seu pescoço. — Isso aqui não tem mais
volta.

— Colin — ela fechou os olhos.

Sua pele ficou toda arrepiada e seu ventre contraiu sob a carícia.
Incapaz de resistir a atração inclinou a cabeça para o lado, esperando que ele
continuasse o avanço.

— Eu sei, eu sei, Tinker Bell — o ouviu suspirar. — Mas, não aqui,


não no meio de toda essa gente — seus dedos apertaram sua cintura. — Vem
comigo — o ouviu sussurrar.

Impelida por seu toque ela continuou caminhando, deixando que ele a
conduzisse por entre todas aquelas pessoas, enquanto os sons das taças se
tocando, dos sorrisos exagerados e das vozes alegres eram abafadas pelos
seus batimentos cardíacos. E a despeito do que ela acreditava saber sobre os
homens, Colin também se sentia da mesma forma.

O seu mundo também estava em colapso desde que a encontrara.


“Resistir a paixão é o mesmo que tentar
aplacar a fúria de um vulcão.”
(ANÔNIMO)

Os olhos de Andie se arregalaram quando compreendeu que Colin a


levaria para o segundo andar do salão. Sentiu sua mão escorrer da cintura
para o quadril, provocando novas sensações sob sua pele.

A sutil mudança de seu toque foi como riscar um fósforo sobre


gasolina.

Os olhos dele brilhavam perigosamente, nenhum homem a olhara


daquela maneira antes. Era mais do que desejo, havia desespero refletido em
suas irises. O mesmo desespero que começava a comprimir seus pulmões.

Ela sabia que se ele a tomasse entre os braços seria incapaz de negar
seu desejo.

— Suba — a ordem veio em voz profunda e cortante.

Andie estremeceu sob seu domínio, fraca demais para lutar contra o
que a consumia. Sabia que se quisesse poderia impor sua vontade apenas se
recusando a subir, as pessoas ao redor a ajudariam a fugir de Colin, mas ela
não seria hipócrita. Não dessa vez.
Ela também o desejava, também ansiava para ser consumida pelo fogo
que queimava em seus olhos.

Podia ser inexperiente, mas não era idiota para não saber o que
aconteceria quando subissem aquelas escadas. A verdade estava estampada
no rosto de Colin e, acreditava que no seu também, por isso subiu os degraus
desviando das pessoas que desciam e subiam apressadamente.

A mão cuidadosamente pousada em seu quadril a estimulava a seguir


subindo ciente que a diferença de altura entre eles deixava sua bunda
praticamente enfiada no rosto de Colin. Mas, sempre que tentava reverter a
situação ele voltava a ficar dois degraus abaixo para que pudesse ter uma
visão privilegiada do seu bumbum.

Sua atitude descarada a fez arder ainda mais de desejo. Saber que ele a
cobiçava daquela maneira massageava seu ego e a fazia se sentir poderosa.

Alguém cumprimentou Colin e ela temeu que ele se detivesse para dar
atenção, estava desejosa por uma oportunidade de ficarem a sós. Graças aos
céus ele não se deteve até que alcançassem o segundo andar. Então,
percorreram um corredor, onde algumas pessoas conversavam mais
reservadamente, como se também estivessem buscando por privacidade.

Parou quando ele apontou para uma porta a direita. Colin deu duas
batidinhas antes de abrir e puxá-la para dentro. Foi então que percebeu que
estavam em um pequeno banheiro.

O ambiente era limpo e elegante, com uma grande bancada feita em


mármore italiano e um espelho sobre a pia maior que seu estúdio.

— Tome — ele estendeu um tubo dourado — quero vê-la passar para


mim.

Piscou aturdida com o pedido estranho.

— Quer que eu passe batom?


Colin teria rido de sua expressão decepcionada se não estivesse louco
para beijá-la.

— Vamos, Tinker Bell. Pinte-os para mim e veja o que acontece — a


provocou.

Andie respirou fundo antes de pegar o batom de sua mão, quando


retirou a tampa a cor vibrante saltou aos seus olhos. Ergueu o olhar ao
compreender seu pedido. Colin a fitava com intensidade, nitidamente ansioso
para vê-la pintar os lábios.

Então, girando o bastão entre os dedos deu-lhe as costas antes de


encontrar seu olhar através do espelho. Queria que seus olhos
acompanhassem cada traço sobre sua boca enquanto estivesse deslizando a
tintura.

À medida que o vermelho cobria seus lábios as irises claras de Colin


iam escurecendo de desejo. Ela o viu morder os lábios segundos antes do seu
rosto ser tomado por uma expressão violenta que disparou um formigamento
por todo o seu corpo até que seus olhos estivessem baços de paixão.

As mãos dele cavaram as laterais de sua cintura, puxando-a para si,


colidindo com suas costas contra seu peito másculo. Resfolegou quando ele
enfiou o rosto em seu pescoço mantendo-a cativa de seu olhar através do
espelho.

— Quero ouvi-la dizer que não sente isso — espalmou a mão sobre seu
abdômen — quero ouvi-la dizer que isso é loucura — correu a mão aberta
por entre o vale de seus seios até a fechar contra sua garganta — quero ouvi-
la dizer que não pode ser minha.

— Colin — soprou seu nome em súplica.

— Sabe o que faz comigo quando diz o meu nome? — Sua voz soou
profunda, quase áspera. — Tem ideia do que sinto quando vejo seus lábios
pintados de vermelho, Tinker Bell? — Correu a mão do pescoço para os
cabelos, enfiando os dedos por entre os fios sedosos a obrigando a inclinar a
cabeça para lhe dar acesso ao seu pescoço.

Cada vez mais embriagando pela paixão Colin esfregou o nariz pela
extensão perfumada. Sentia-se tão torturado por seus encantos que não evitou
a mordida forte que deu sobre sua jugular, provocando um gemido alto.

— Está na hora de você entender que isso aqui não é passageiro —


passou a língua para acalmar a pele — que não temos um prazo de validade,
que não existe a possibilidade de você fugir de nós. Isso aqui, Tinker Bell, é o
nosso para sempre. É a porra do nosso até que a morte nos separe.

O seu beijo foi voraz, quase brutal ao obrigá-la a girar a cabeça para
que pudesse castigar sua boca com seus lábios exigentes. A manteve presa
junto ao seu corpo. O braço ao redor de sua cintura era como uma barra de
ferro impedindo-a de escapar de seu domínio. Sabia que deveria afrouxar a
pressão dos dedos em seus cabelos, mas foi incapaz de fazê-lo estimulado por
seus gemidos. Era como se Andie estivesse renascendo em seus braços.

A forma como seu corpo correspondia ao seu toque lhe dizia que nunca
havia se sentido tão viva como agora que estava sob seu domínio.

Ela ansiava por mais. Ela também o queria.

E Colin estava certo, porque Andie se sentia como uma dependente em


busca de sua droga preferida quando ele a tocava daquela maneira tão
possessiva.

Quem em sã consciência ligaria para a razão quando tinha Colin


Donovan tacando fogo em sua alma?

Colin tinha razão.

Estava na hora de ela admitir que não tinha mais volta. Que negar o
que sentia quando estava em seus braços seria o mesmo que condenar a si
mesma a uma vida vazia e desprovida de emoções reais. E, para mostrar que
não levantaria mais obstáculos ente eles, Andie levou a mão até seu pescoço
e o puxou para mais perto, permitindo que sua língua explorasse sua boca.

Bebeu do que ele lhe oferecia e deu o que exigia.

Colin a girou entre os braços sem desgrudar suas bocas. Estava


completamente entregue ao seu toque. Sua companheira era suave, tímida,
delicada, mas não menos sedutora. Ela era como uma bebida de safra rara,
com aroma e textura únicos, que quando degustada tornava-se sua preferida.

Louco para satisfazer sua vontade de sentir sua pele sob a ponta de
seus dedos, ele desceu o zíper de seu vestido aproveitando a abertura para
sentir sua maciez. Então fogos de artifícios explodiram ao redor deles. Andie
gemeu alto e se agarrou ao redor de seu pescoço tremendo de tesão.

— Você é tão perfeita que escolher a melhor parte é tarefa impossível


— desceu o vestido por seus ombros sentindo o membro pulsar sob a visão
dos cabelos jogados displicentemente e dos lábios borrados de batom.

Ela era a própria imagem de Afrodite, uma deusa que merecia ser
adorada por sua beleza e paixão. Os seios eram dois montes encantadores
encobertos pela fina renda do sutiã.

Colin deslizou a ponta do dedo sobre a borda da peça se deliciando


com o movimento de subir e descer provocado pela respiração errática de sua
companheira.

—Quero ver se são tão lindos quanto a dona.

Enfiou os dedos baixando a renda expondo os mamilos rosados e as


veias azuladas. Eles eram firmes, pesados e empinados.

— Colin, por favor. Não deveríamos estar aqui, alguém pode aparecer
— suplicou.

— Tem certeza de que quer que eu pare, Tinker Bell — provocou com
um seio em sua boca.
— Oh, Deus! Não, não pare — gemeu, dividida entre a doce tortura e a
razão. Ninguém nunca a fizera queimar daquela forma antes.

Colin era ousado. Ele não pedia, apenas tomava para si. Sua boca a
consumia de forma tão abrasadora que fazia sua intimidade pulsar
dolorosamente.

Andie quase chorou quando ele chupou forte o mamilo, enquanto o


outro era castigado pela mão pesada. Ele brincava com seus seios, ora
passando a ponta da língua, ora mordendo para em seguida sugar e apertar até
vê-la totalmente ensandecida pelo desejo.

Vendo a fome em seu olhar, Colin abandonou os seios e a beijou


profundamente, erguendo sua saia até a cintura para ampliar o acesso ao seu
corpo, enquanto tocava cada curva com dedos habilidosos; explorando e
reivindicando cada pedacinho para si. Depois daquela noite Andie nunca
mais esqueceria quem era seu dono.

Percebendo que ela tremia sobre os saltos ele agarrou sua bunda e a
ergueu depositando-a sobre o mármore frio da bancada ficando entre suas
pernas e a puxando pelos quadris.

— Colin — ela gemeu seu nome como um encantamento, enrolando


suas pernas ao redor de seu corpo trazendo-o para mais perto.

— Peça o que quiser companheira — grunhiu contra sua pele.

Havia alguma coisa nele que a fazia derreter.

Seu beijo era algo inominável.

— Preciso de você — ela implorou completamente imersa no


vínculo.

Ela o beijava e tocava sem pudor, arranhando seu pescoço e costas em


busca de alívio. Então, ele pressionou sua ereção contra sua intimidade
excitado pelo seu cheiro de fêmea.
A euforia os envolveu.

— Preciso sentir o seu gosto, Tinker Bell — apertou as coxas grossas e


as afastou.

O lobo inspirou profundamente o cheiro de sua excitação... era doce,


rico e malditamente delicioso. Passou a palma da mão sobre o seu ventre
deleitando-se com a visão de sua calcinha encharcada pela sua essência.

— Veja isso, Tinker Bell. Veja como está toda molhada para mim —
esfregou o polegar sobre seu ponto sensível.

— Por favor... Colin... eu...

— Eu sei, Tinker Bell, eu sei. — Sussurrou. — Vou dar muito mais do


que você deseja, mas agora te darei apenas uma amostra do que farei com
você quando a tiver sobre uma cama.

Colin afastou a renda para o lado e deslizou o polegar sobre os grandes


lábios antes de afundar por entre eles tocando o clitóris inchado.

— Você é uma fadinha mesmo, Tinker Bell. Toda rosadinha até aqui
embaixo — colocou pressão sobre o dedo antes de o levar até a boca —
delícia — provou seu sabor.

O rosto de Colin era decadente, obsceno, perverso e provocativo.


Andie queria se perder nessas emoções, queria mergulhar tão profundamente
em sua luxúria que ergueu o quadril em sua direção, suplicando com o corpo
pelo seu toque.

— Eu vou comer você bem aqui, Tinker Bell — apertou seu nervo
entre os dedos. — Vou me alimentar de cada gota do seu prazer até você para
de fazer jogo duro comigo.

Quando ele se ajoelhou e encostou o nariz sobre sua intimidade para


inspirar profundamente, Andie jogou a cabeça para trás em abandono.
— Olhos em mim, Tinker Bell — deu um tapa sobre sua vulva
fazendo-a piscar para ele.

Andie voltou a fitar seus olhos, permanecendo presa sob seu domínio
enquanto o assistia soprar sua carne quente. Os pelos pubianos bem aparados
eram acariciados sem pressa alimentando seu tesão.

Como um animal no cio Colin colocou a língua para fora e a lambeu de


baixo para cima, enquanto seus olhos faziam amor com os dela.

A deliciosa obscenidade de sua chupada jogou Andie do alto de uma


montanha. Colin usava toda a boca para tomar sua intimidade, sua língua era
como um chicote certeiro em cima de sua carne pulsante, seus dedos
afastavam os grandes lábios deixando exposto seu nervo para atender suas
vontades.

Ele não a poupou, não mostrou clemência, não se importou com suas
súplicas, tampouco recuou quando lágrimas turvaram seus lindos olhos
verde-floresta, porque Andie lhe pertencia. O seu prazer lhe pertencia.

Rosnando como um animal cativo, sentiu quando o vínculo os puxou


para o centro do universo e fechou seus grilhões de ferro sobre eles,
aprisionando homem, animal e mulher sob seu governo.

Então, Andie explodiu em um orgasmo violento e os olhos de Colin


mudaram de cor. Ela assistiu o azul cobalto ceder lugar ao âmbar intenso tal
qual ouro derretido em fornalhas ardentes, o reconhecendo de seus
sonhos. Era ele o seu estranho.

Tomado pelo domínio do lobo, Colin se alimentou de seu prazer


emitindo rosnados guturais que fizeram Andie alcançar outro orgasmo mais
violento e intenso que o primeiro.

Os olhos dourados a sugaram para si acolhendo-a de tal maneira que


lágrimas nublaram seus olhos.
Ele não parou de sugar sua intimidade até que todos os resquícios de
seu gozo estivessem apagados, depois a beijou para que provasse o próprio
sabor enquanto seu corpo convulsionava pela violência das emoções.

Naquele banheiro em meio a um coquetel estúpido, Colin conseguiu o


que tanto desejava... Andie acorrentada a sua alma.

A respiração de Colin pesava contra seu pescoço, seu agarre


continuava firme em seu corpo como se temesse perdê-la. Durante longos
minutos Andie apenas lutou contra a voz da razão que tentava azedar a
alegria que preenchia sua alma.

Não tinha como prevê o que aconteceria agora que Colin havia
conseguido o que queria. Talvez ele a dispensasse de uma vez por todas ou
quem sabe ele a iludiria com palavras doces e a dispensaria com a célere
desculpa de que depois entraria em contato, ou faria ainda pior... agradeceria
o encontro furtivo e a dispensaria como uma qualquer.

— Eu não estou indo a lugar algum, Tinker Bell. Não estrague o


momento — beijou seu pescoço e ergueu os olhos para fitá-la. — Pare de
fugir de si mesma.

— Como sabe o que estou pensando? — Seus olhos marejaram.

— Você resmunga quando está aflita — acariciou sua face. — Agora


vem cá. Deixe-me ajudá-la.

Colin a ergueu da bancada e só a soltou quando teve certeza de que


Andie conseguiria ficar de pé sozinha. Seu corpo ainda estava excitado, seu
membro continuava firme como uma barra de ferro.
— Todos saberão o que fizemos, Colin — ela o encarou sob os cílios
trêmulos.

— E isso importa? — Arrumou as alças do sutiã, deslizando as costas


dos dedos sobre sua pele irritada pela fricção de sua barba.

— Sei que não deveria, mas me incomoda saber o que as pessoas irão
falar.

Ele sorriu e a puxou para um beijo lento.

— Pois não deveria — ergueu as mangas do vestido e subir o zíper,


depois de baixar a saia.

Andie não disse mais nada, estava inquieta demais para prolongar seu
embaraço, enquanto tentava tirar o máximo do batom em sua pele.

Colin a estava observando fazendo seu sangue correr mais rápido em


suas veias. “Jesus, o que é isso? Que efeito é esse que ele tem sobre mim”
arrepiou-se inteira. Colin a dissecava como um predador.

— Se continuar me olhando desse jeito seremos expulsos dessa festa.

Seu membro continuava latejando e suas bolas doíam de tanto tesão.


Ele queria se enfiar entre suas pernas e marcá-la como sua de uma vez por
todas, mas aquele não era o lugar certo para isso.

— Quero que durma comigo esta noite — disse afastando o cabelo de


seu pescoço.

— Dormir com você? — Perguntou feito uma boba. — Não sei se seria
uma boa ideia. — Sua mente havia disparado um alerta máximo.

Dormir com Coli seria a cereja do bolo para sua perdição.

— Do que tem medo, Tinker Bell? — Acariciou seus braços. — Eu a


quero e sei que também me quer. Somos adultos, livres, donos de nossas
próprias vidas, não vejo motivos para nos privarmos do que desejamos.

— Seus olhos mudam de cor — mordeu os lábios por ter dito a


primeira coisa que lhe ocorreu. — Eles ficam dourados.

Ele quase achou graça de sua patética tentativa para ganhar tempo e
encontrar uma recusa aceitável para seu convite, mas Colin não desistiria
assim tão fácil.

— Às vezes meus olhos mudam de cor. Isso ocorre quando


sofro mudanças bruscas de humor. Isso é muito comum com pessoas de olhos
claros. Os seus também mudam de tonalidade. Quando está excitada eles
adquirem um tom verde-floresta, quando está irritada parecem com duas
olivas com bordas douradas, mas quando está calma e satisfeita eles se
tornam verde claro, como agora — a virou para o espelho.

Colin tinha razão, sua mãe sempre dizia a mesma coisa.

— Não quer passar a noite comigo por causa da cor dos meus olhos,
Tinker Bell? Que feio — provocou. — Esperava que você fosse mais criativa
ao achar uma desculpa para me dispensar.

— Eu não disse que não queria passar a noite com você. Eu disse que
não sabia se seria uma boa ideia.

— E por que não?

— Não sei se percebeu, mas sou metódica em muitas coisas, então,


quando você me convida para passar a noite com você, minha mente
simplesmente dispara elencando uma série de coisas que preciso saber e fazer
antes de aceitar seu convite.

— Como o quê?

— Bem — deu de ombros brincando com a lapela do seu traje como se


precisasse de uma distração para poder organizar os pensamentos — minha
cama é de solteiro, mas isso você já sabe.
— Podemos dormir em minha casa — passou a mão em seus cabelos
distraindo-a de seu dilema. — Tenho uma cama muito grande — enfatizou
— poderia fazer com você tudo o que quisesse sem precisar realizar
contorcionismo.

— Isso me leva ao próximo problema, passar a noite em sua casa.

— E como isso seria um problema, Tinker Bell? — Estava extasiado


com seu jeito.

— Sou alérgica a gatos e talvez você tenha um felino de estimação o


que me faria tomar uma bomba de antialérgicos para não empolar feito um
baiacu. Além disso, eu não durmo sem fazer minha skincare[7], então se eu
aceitasse dormir com você teríamos que passar na minha casa primeiro, para
que eu pudesse pegar os antialérgicos, minha skincare e uma roupa para o dia
seguinte. É isso.

Colin explodiu em uma gargalhada sonora. Sua companheira era uma


pequena tagarela compulsiva por controle. Ele adorava isso.

— Fico feliz que meu toc o divirta — resmungou. — Mas, se quer


realmente tentar algo comigo precisa entender que sair da rotina é como um
gatilho para o meu problema.

— Ah, Tinker Bell — a puxou para um abraço apertado. — O que vou


fazer com você? Eu não me importo de passarmos em sua casa para
que pegue tudo o que precisa, com exceção dos antialérgico, porque eu não
tenho gatos, sou o único animal em minha casa — piscou. — Então? Será
que agora você aceita dormir comigo? Ou tem mais alguma exigência?
“Aquilo que se faz por amor está sempre
além do bem e do mal.”
(FRIEDRICH NIETZSCHE)

Quando Colin estava na faculdade teve o privilégio de ser aluno de um


dos maiores e mais brilhantes arquitetos de sua geração.

O homem era uma verdadeira lenda e uma autoridade no meio


arquitetônico. E, embora sua paixão pela profissão cativasse seus alunos e
colegas de profissão, ele possuía suas próprias limitações ocasionadas pelo
TOC[8].

Lembrava-se muito bem do dia em que ele falou sobre sua condição e
esclareceu as dúvidas dos mais curiosos sobre as principais características e
particularidades de uma pessoa com TOC. Por isso, quando esteve no estúdio
de Andie naquela tarde havia percebido os sinais sutis do transtorno.

A maneira como as suas canetas estavam separadas por cores sobre a


escrivaninha, como organizava os livros por tamanho, cor e ano e como
dobrava os lençóis de cama foram os elementos que denunciaram sua
compulsão por organização.

Então, quando a chamou para passar a noite ao seu lado não se


surpreendeu ao vê-la tentar encontrar uma desculpa plausível para recusar o
convite. Conhecer sua particularidade o ajudou a compreender o seu medo e
desconforto por se ver na eminência de ter sua rotina alterada bruscamente.

Por isso, com paciência apresentou soluções para cada uma de suas
ponderações, porque compreendia que o que parecia ser banal para ele era na
verdade um gatilho para sua companheira.

— Há quanto tempo tem toc? — Perguntou ao observá-la conferir os


itens dentro da bolsa que haviam recolhido em seu estúdio pela quarta vez.

— Um pouco antes da morte dos meus pais — suspirou fechando a


bolsa.

O silêncio de Colin a inquietou.

— Está tudo bem se quiser desistir — ela disse ao ser assaltada por
pensamentos negativos — eu vou entender.

— Não estou pensando em cair fora, mas sim em como encontrar uma
forma de me encaixar em sua vida sem que minha presença seja um gatilho
para você — confessou. — Quero estar ao seu lado pelo maior tempo
possível.

Andie mordeu o lábio ponderando suas palavras antes de dizer:

— Hoje foi minha última prova na faculdade — apertou a alça da bolsa


até seus dedos ficarem esbranquiçados — eu não planejei nada para amanhã e
nem para o resto da semana, além de procurar por um emprego.

— Você já tem um, esqueceu?

— Ainda não aceitei — o lembrou.

— Então aceite, Tinker Bell. Construa uma rotina ao meu lado, assim
passaremos mais tempo juntos sem que precise me encaixar na sua agenda —
pousou sua mão sobre as dela.

— Se eu aceitar ser sua assistente, você será a minha agenda, Colin —


riu baixinho.

— Exato, amor. Eu serei sua agenda do dia e da noite — piscou.

Andie estremeceu com seu tom aveludado, mas teve que reconhecer
que ele tinha razão. Trabalhar para ele os colocaria em contato diariamente e
ainda resolveria a sua questão financeira.

— Acho que podemos tentar — disse por fim.

Colin puxou sua mão e beijou o dorso, voltando a prestar atenção no


trajeto antes de soltar a bomba.

— Amanhã à noite você irá comigo para o Canadá.

— Amanhã? — sua cabeça girou tão rápido em sua direção que temeu
estar parecendo com a garota do exorcista.

— Respire, Tinker Bell — apertou sua mão, usando o poder do vínculo


para a tranquilizar — preciso realizar a inspeção final de uma obra antes de
ser entregue e, como não quero ficar longe de você, quero que vá comigo.

— Mas, Colin...

— Você disse que está de férias e eu sou seu único compromisso


agora, não tem razão para surtar. Temos tempo para organizar tudo antes de
nossa partida.

— O anúncio de emprego dizia que a vaga era para assistente remota e


não presencial.

— Isso foi antes de saber o quanto minha assistente é gostosa. Não me


culpe por querer devorá-la. Quem mandou ser irresistível — piscou.

— Colin! — ralhou.

— Eu sei, Tinker Bell. Também vou deixar você aproveitar o meu


corpo. Não se preocupe com isso, farei questão que me use como quiser.

Ele não podia dizer aquelas coisas para ela quando estavam presos
dentro do carro.

— Relaxe, respire fundo. Já estamos chegando, amor — lambeu o


dorso de sua mão disparando um raio para o meio de suas pernas.

Bom Deus, ele ainda seria o motivo de um infarto.

A casa de Colin ficava em um condomínio fechado e possuía um lindo


jardim que margeava toda a entrada até a garagem, onde havia mais um carro
e uma moto estilo Kawasaki.

Ele a guiou até a porta da frente sempre mantendo a mão em sua


lombar, sabia que o contato físico a ajudaria a permanecer calma.

— É linda! — Andie ergueu a cabeça para admirar a beleza de toda a


estrutura.

O pé direito da casa era alto e as vigas de madeira estavam expostas


tornando o ambiente acolhedor. As grandes janelas de vidro mais pareciam
com paredes inteiras e a cozinha era integrada com a imensa sala de estar.
Mais à frente ficava a sala de jantar e depois uma área de lazer interna.

— Gostou? — ele a observou maravilhado.

Seu peito se encheu de orgulho por ter projetado cada detalhe daquele
lugar. Quando fez os primeiros rabiscos tudo o que tinha em mente era
construir um lar para sua companheira, mesmo com a possibilidade de nunca
a encontrar. Porém, ele tinha fé que um dia ela chegaria.
Andie não sabia, mas ele a desejou e amou desde sempre.

— Eu nem tenho palavras para dizer o quanto é linda — havia emoção


em sua voz.

— Fico feliz que tenha gostado — a abraçou por trás cheirando seu
pescoço — vem, quero te mostrar tudo.

Ele a conduziu por cada um dos ambientes parecendo um garoto


mostrando um brinquedo novo, empolgado com a admiração estampada nos
olhos de Andie. Ela estava fascinada com o piso de madeira laqueada que
havia instalado em todos os cômodos da casa.

Quando chegaram ao seu quarto percebeu a surpresa em seus olhos


diante da organização. As camisas no closet estavam impecavelmente
organizadas por cores em seus cabides e as calças e ternos seguiam o mesmo
padrão. Os sapatos e relógios ficavam expostos de forma que cada item
pudesse retornar para o mesmo lugar após serem usados.

— Colin, você... — o olhou com a boca aberta.

— Não, amor — acariciou o seu rosto antes de esfregar o nariz contra


sua bochecha — eu só gosto de tudo no seu devido lugar.

Ela acenou, ainda surpresa por ver que sua casa seguia um padrão de
organização e limpeza que a agradava. Para alguém com TOC aquilo era
como um passe livre para a paz interior.

— Deve estar com fome. Vi que não comeu quase nada durante o
coquetel. O que acha de descermos e procurarmos algo para comer?

— Isso seria bom. Confesso que estou morrendo de fome.

“Ela está com fome!”

Dar-se conta de que havia negligenciado suas necessidades em prol de


seus próprios interesses provocou um rosnado no fundo de sua garganta.
“Que tipo de companheiro ele era para se esquecer de suas obrigações?”,
seu lobo vociferou em sua mente. O propósito de um companheiro era zelar,
prover e manter em segurança sua prometida, por isso Colin estava furioso
consigo mesmo.

Em menos de vinte e quatro horas se esquecera do básico.

Apertou os punhos e inflou as narinas tentando refrear a frustração que


sentia por ser tão inábil quando estava próximo de sua companheira.

— Eu disse algo que o aborreceu? Você parece estar com raiva.

Andie parecia assustada com a mudança brusca de seu humor.

— Fui negligente com você. Deveria ter providenciado algo para a


alimentar antes de virmos para casa — respirou fundo lutando para acalmar o
lobo em sua mente. — Venha, vou fazer algo para alimentá-la — estendeu a
mão — gosta de carne ou prefere peixe?

— Você vai cozinhar? — perguntou entre surpresa e apreensiva com


seu olhar feral.

— Claro que vou. Por que a surpresa? — Tomou sua mão


delicadamente entre a sua e a beijou para mostrar que estava tudo bem,
depois a conduziu para fora do quarto.

Por mais que lutasse para disfarçar ela ainda estava assustada por sua
mudança brusca. Colin não parecia feliz como há minutos. Por isso, pensou
na primeira coisa que veio a sua mente para tentar aliviar o clima pesado.

— Você não tem cara de quem cozinhar.

Colin a olhou e depois riu alto.

— Não? E, posso saber por quê?

— Sei lá — deu de ombros — você só não parece o tipo de homem


que cozinharia para uma mulher.

— Você não está totalmente errada ao pensar assim. Eu nunca cozinhei


para uma mulher além da minha mãe, você será a primeira — lançou um
olhar em sua direção para confirmar se suas bochechas estavam rosadas e...
elas estavam. “Linda! Nossa, minha companheira é linda!”

— Não tem que dizer essas coisas para mim, Colin. Estou bem ciente
que antes de mim você teve outros relacionamentos — mordeu o lábio — é
normal que tenha cozinhado para elas também.

Colin deteve o passo e a encostou suavemente contra a parede


baixando o rosto e se sobrepondo ao seu tamanho para fitar bem dentro dos
seus olhos. Andie precisava compreender que sempre fora e sempre seria a
única em sua vida.

— Ouça bem o que vou dizer, porque não vou repetir isso outra vez —
tocou seu rosto com delicadeza para demonstrar que não precisava temê-lo —
eu não minto para agradar as pessoas, Tinker Bell. Não faria isso nem mesmo
por você. A mentira só atrai desgraça e contenda, portanto nunca a espere de
mim, mesmo que ela pareça ser o melhor caminho para resolver nossas
diferenças eu jamais mentirei para você. Posso omitir algumas coisas se for
necessário até que esteja pronta para ver quem realmente sou, mas jamais e
em hipótese alguma mentirei para você. Isso seria o mesmo que apunhalar
minha própria alma. Você é a primeira mulher que já esteve nesta casa depois
de minha mãe e irmã, também será a primeira para quem farei questão de
cozinhar, porque não há nada mais importante para mim do que suprir suas
necessidades. Nada me daria mais prazer do que agradá-la e mimá-la todos os
dias.

A maneira como ele a tocava e dizia aquelas palavras deixavam suas


pernas tremulas e seu coração acelerado como um bobo. O perfume de
sândalo tinha um leve toque de cipreste e atingiu suas narinas como um
afrodisíaco a deixando rendida diante de sua imponência.

Por alguma razão desconhecida Andie sabia que suas palavras eram
verdadeiras.

—Desculpe, não foi minha intenção ofendê-lo — soprou baixinho.

— Não estou ofendido, Tinker Bell — beijou sua testa — eu só estou


deixando claro que você não precisa se preocupar com meu passado. Perto de
você ele é apenas uma sombra pálida e sem voz.

Beijou seus lábios delicadamente afundando seus dedos por entre os


seus cabelos. O gosto de seus lábios era como um bálsamo sobre sua
irritação, colocava o lobo sob controle e afugentava as nuvens que ainda
residiam entre eles.

Dando pequenos beijos foi se afastando devagar, maravilhado com a


beleza de sua entrega.

— Venha, Tinker Bell. Eu preciso alimentá-la antes de fazer tudo o


que pretendo com você — mordeu e sugou seu lábio antes de se afastar
totalmente e conduzi-la até a cozinha.

Fez questão de que Andie se sentasse em frente a bancada enquanto ele


separava os ingredientes e servia duas taças de vinho tinto. Ela queria ajudá-
lo, mas Colin fazia questão de cozinhar para sua companheira, queria
alimentá-la da maneira correta.

Montou um pequeno prato com queijos, azeitonas e salame para que


acompanhasse o vinho enquanto ele se ocupava dos pratos.

Andie o acompanhava com os olhos, como se estivesse hipnotizada por


seus traços e gestos. Colin era enorme, mas se movia com facilidade dentro
da cozinha cortando, picando e remexendo as panelas, fazendo um cheiro
delicioso se espalhar pelo ar.

A todo o momento ele dava um jeito de voltar e lhe roubar um beijo ou


colocar um pedaço de queijo em sua boca sempre fazendo questão de
demonstrar o quanto estava feliz com sua presença. Toda essa atenção a
deixava dividida entre a alegria e a timidez, afinal era a primeira vez desde
que perdera seus pais que era alvo exclusivo da atenção de alguém que fazia
seu coração bater mais forte.

— Como prefere a carne? Ao ponto ou bem passada — perguntou por


sobre o ombro.

— Bem passada — disse sem perceber que ele notara seu olhar
indiscreto sobre sua bunda.

A bunda de Colin deveria ser declarada obra prima de tão redonda e


firme que era, pensou passando a língua nos lábios.

— Gosta do que vê, Tinker Bell? — provocou, rindo ao ver o


vermelho tingir suas bochechas. — Se quiser eu deixo você pegar desde que
me deixe pegar a sua também — piscou.

Andie quase se engasgou com o vinho ao ser pega em flagrante.

— Não sei do que está falando — disse sem coragem de olhar em sua
direção.

— Estou falando de você secando minha bunda enquanto cozinho para


você — se aproximou e soprou em seu ouvido — você é uma fadinha
safadinha, Tinker Bell. Estou louco para ver todo esse fogo em ação quando
eu estiver entre suas pernas.

Andie arregalou os olhos aflita, quente e ansiosa.

— Não faça essa cara — beijou seus lábios — ou teremos que deixar o
jantar para depois e isso não seria muito cavalheiro de minha parte, não é
mesmo?

Colin a seduzia descaradamente, agitava as coisas em sua cabeça, fazia


seu corpo latejar de forma dolorosa e afetava sua capacidade de respirar cada
vez com mais frequência. As imagens do encontro no banheiro brilharam em
sua mente nublada pelo desejo febril.
Ele também conseguia sentir a energia erótica emanando por todos os
lados. Seu lobo se agitava com o cheiro de sua excitação e o apelo do vínculo
chegava a ser doloroso. Colin devia ser a porra de um masoquista para se
infligir tamanho tormento só porque acreditava que deveria fazer as coisas
acontecerem lentamente, mas talvez Andie o surpreendesse e provasse para
Colin Donovan que sua timidez não fazia dela um vaso de cristal.

Ambos estavam chegando ao limiar da paixão, em breve seriam


sugados para o abismo que o vínculo havia preparado para eles.

Quando a carne ficou pronta, Colin serviu acompanhada de batata e


aspargos ao alho e óleo, reabasteceu as taças e fez questão de se sentar bem
próximo de sua companheira.

— Espero que goste — ajeitou uma mecha atrás de sua orelha.

— Obrigada, tenho certeza de que se estiver tão bom quanto o cheiro,


vou gostar — o sorriso que ela lhe ofereceu fez o coração de Colin correr
solto.

Cozinhar era algo tão simples, quase banal para alguns casais, mas que
fora capaz de fazer sua companheira sorrir. Um sorriso sincero que aqueceu
seu coração.

Quando Andie colocou o primeiro pedaço na boca o sabor da carne


suculenta explodiu em suas papilas arrancando um gemido de aprovação,
Colin cerrou os dentes por causa da dor que atingiu a cabeça de seu membro.
Até se alimentando sua companheira tinha o poder de o deixar excitado.

— Continue gemendo assim e terei que fazer algo a respeito — sibilou


entre dentes.

—Desculpe — cobriu a boca para engolir em silêncio.

— Não peça desculpas por me fazer sentir vivo, Tinker Bell.

Incapaz de conter suas mãos ele a puxou pela nuca e colou seus lábios,
invadindo sua boca com a língua em uma vã tentativa de aplacar a paixão que
arranhava sua carne. Quando finalmente a soltou viu seus sentimentos
refletidos nas grandes órbitas verdes, escurecidas de desejo e sentiu sua pele
febril sob seus dedos.

— Termine de comer, amor — raspou o polegar sobre seu lábio —


precisa se alimentar.

— Precisa parar de me beijar — disse em um sussurro.

— Quer que eu pare de beijá-la? — franziu a testa.

— Acho que não — seus cílios bateram várias vezes.

— Porra, Tinker Bell — segurou firme em sua nuca e colou suas testas
— eu juro que estou tentando ser um cara bom aqui, mas você está acabando
comigo, amor.

Amor!

Uma palavra tão pequena, mas com um poder extraordinário. Capaz de


erguer reinos e abater impérios, de transformar senhores em escravos e servas
em rainhas. Um sentimento muitas vezes negado outras tantas ofertado, mas
sempre o causador das maiores mudanças da humanidade.

Não era a primeira vez que ele a chamava de amor, mas era a primeira
vez que ela enxergava verdade em seus olhos.

Andie queria chorar de emoção. O sentimento que nascia com tanta


ferocidade em seu coração não tinha nada de natural, estava além de sua
compreensão, além de suas reservas e muito além dos seus medos. Era
insano, absurdo e até mesmo ridículo se apaixonar por um homem em tão
pouco tempo.

Ainda mais sendo uma cética nata do amor à primeira vista, todavia
essa era a única explicação plausível para o que estava sentindo por Colin
Donovan.
Com muito esforço se afastou, colocando um pouco de distância para
que pudesse racionalizar ou quem sabe entender todo aquele novelo de
emoções, mas Colin não permitiu. Como se fosse algo muito natural fez
questão de alimentá-la mergulhando o jantar em um erotismo pesado, sagaz e
selvagem.

Seus olhos não a deixavam em tempo algum, sua mão pousada sobre
sua coxa sinalava sua possessão em relação a ela. Sem pressa a alimentou
deixando que o vínculo apertasse seus grilhões.

Não houve palavras... não havia necessidade, estava tudo ali, diante
deles, exposto como se o destino os houvesse dissecado cuidadosamente.

Desculpas, máscaras ou subterfúgios seriam inúteis de agora em


diante.

Andie sabia exatamente o que aconteceria quando aquele jantar


terminasse, portanto, quando engoliu o último pedaço e sorveu o último gole,
não gritou tampouco se assustou ao ser erguida por Colin. Suas pernas se
enredearam ao redor de sua cintura e suas mãos se prenderem em torno de
seu pescoço. Ele acariciou o seu rosto e a beijou lentamente, degustou do seu
sabor enquanto caminhava escada acima em direção ao quarto.

Naquela noite uma grande e poderosa barreira seria derrubada entre ele
e sua companheira. Andie descobriria o poder do elo inquebrável depois de
ser reivindicada como sua.
“As paixões são como ventanias que enfurecem
as velas dos navios, fazendo-os navegar;
outras vezes naufragar, mas se não
fossem elas, não haveria viagens,
nem aventuras, nem novas descobertas.”
(VOLTAIRE)

Colin fechou a porta com um chute leve, não tiraria suas mãos da coisa
mais preciosa que tinha nos braços. Sua companheira, firmemente agarrada
ao seu corpo, correspondia ao seu beijo com paixão e entrega, enquanto o ar
estalava ao redor, provocando arrepios quentes em sua nuca.

O perfume adocicado chegava as suas narinas o incitando, provocando,


desafiando a ir em busca de sua satisfação, mas ele tinha que ser cuidadoso,
se desse vazão ao seu lado animal Andie se assustaria com a intensidade de
seu lobo. Embora agora fossem um, a fera ansiava pelo acasalamento com
sua companheira de forma brutal.

Mas, Andie era tão pequena e delicada que temia pelo momento que
teria que subjugá-la e marcá-la como sua. Temia que não suportasse a
intensidade e acabasse machucada de alguma forma.

— Você é tão gostosa, Andie — disse ao depositá-la no chão se


afastando somente o suficiente para admirar seus olhos lindos.
Ver Colin tão perto e íntimo de seu corpo fez suas pernas vacilarem e
suas mãos formigarem. O roçar sutil de seus corpos a deixava fraca diante de
sua imponência e poder, como se ele fosse capaz de engoli-la por inteira,
agitando seus batimentos cardíacos. Seu peito subia e descia sôfrego em
busca de ar, movido pelo erotismo que a puxava lentamente para dentro de
seus olhos azuis.

O calor de sua mão era aconchegante contra a pele enquanto ele descia
o zíper lentamente como se temesse que ela fugisse, sem saber que essa já
não era mais uma opção para ela. Andie não tinha mais para onde ir, seu
destino estava traçado em sua direção, podia sentir essa certeza em seu
coração, como se um deus pagão a tivesse gravado a ferro e fogo em seu
espírito.

Colin se deliciava com as nuances que atravessavam seu olhar quando


seus dedos tocavam sua pele. Como se reverenciasse uma divindade ele se
abaixou deslizando o vestido até que o tecido tocasse o chão. Com seu olhar
aprisionado em suas esmeraldas beijou seu ventre se regozijando com o
gemido que escapou de seus doces lábios, depois subiu deslizando a mão por
suas costelas avançando pelas omoplatas até o fecho do sutiã para liberar os
dois montes que arrasavam com seu controle.

Os mamilos estavam duros, a pele febril e a respiração entrecortada,


mas ele não os tocou como ela desejava.

— Linda — a voz raspava obscura.

Andie estava tão envolvida pela luxúria que não saberia explicar como
seu vestido desaparecera de seu corpo, enquanto Colin seguia todo vestido.
Ela ofegou e mordeu o lábio sentindo as pesadas mãos percorrerem seu
traseiro possessivamente, apertando sua carne e espalhando brasa por sobre a
pele.

Calor se espalhou por cada célula de seu corpo. A excitação chicoteou


entre suas pernas nublando seus pensamentos para qualquer coisa que não
fossem ela e Colin naquele quarto.
Ela o fitou inebriada pelas emoções violentas que a assaltavam sem
piedade, puxou com dificuldade a respiração quando sua intimidade contraiu
sob o escrutínio de seu olhar selvagem.

O olhar predatório era quase ameaçador, impedindo que sua mente


cogitasse a possibilidade de lhe negar alguma coisa. Colin era intenso,
lascivo, faminto como um predador nato. Seu olhar não deixava dúvida de
que estava mais do que disposto a saciar a luxúria que o queimava.

— Você é minha, Andie. Toda minha — rosnou baixo.

Ele não lhe deu chances para que compreendesse a profundidade de


sua declaração, pois logo a agarrou pela nuca empunhando seus cabelos,
roubando seus pensamentos, afogando-a em seu gosto quando enfiou a língua
lasciva em sua boca.

Colin a beijou de uma forma voraz não deixando dúvidas quanto ao


seu desejo por ela.

Diante de seu furor incontrolável ela gemeu despudorada, agarrada em


suas roupas, enquanto o calor subia rapidamente abrindo passagem para a
paixão.

Colin correspondeu ao seu pedido por mais, beijou seu pescoço e


mordeu o lugar onde a marcaria como sua, enquanto cobria o seio com a
mão, sentindo o pequeno monte quente sob a palma. Massageou antes de
puxar o mamilo entre os dedos quando tornou a beijá-la ardentemente.

Empurrou seu quadril contra seu ventre para que sentisse o quanto
estava duro de desejo, em seguida baixou a cabeça sugando o mamilo para o
calor de sua boca.

— Colin — gemeu alto.

— Isso, Andie — chupou forte — grite meu nome... grite o nome do


seu macho.
As palavras cruas fizeram suas costas arquearem oferecendo seu corpo
para seu deleite como se suplicasse o toque de um deus sobre seu corpo
consumido pela luxúria. O desejo que Colin despertava em suas entranhas era
tão pungente que seus lábios expeliam murmúrios de prazer à medida que se
esfregava contra seu membro.

— Vamos, Andie — mordeu o mamilo depois o sugou forte até que ela
sentisse sua intimidade contrair dolorosamente — coloque suas mãos em
mim. Sinta o quanto a desejo, ajude-me a não morrer de tesão.

Uma necessidade latente de tocar sua pele se apossou de suas mãos.


Com sofreguidão ela o livrou do blazer, rasgando sua camisa para enfim tocar
seu peito rijo como rocha, admirando as tatuagens que cobriam boa parte dos
ombros e braços fortes.

Os desenhos eram enigmáticos e o tornavam ainda mais... obsceno,


como se fosse uma entidade demoníaca que aprisionava seus olhos e
vontades.

A verdade era que Colin despertava muito mais do que desejo em seu
corpo, embora não negasse a fome carnal que sentia por ele. Mas, seu
coração doía só de estar ali diante de seus olhos a ponto de Andie não querer
mais nada a não ser se unir a ele para sempre.

— Eu a quero, Andie. Eu a quero agora.

Como sempre, Colin não pedia, apenas dizia o que queria e tomava
para si. Aquilo era a porra de uma declaração brutal e machista, mas Andie
não se importou apenas o aceitou como era.

— É assustador, mas... eu o quero também — disse levando a mão até


o botão de sua calça, porém foi impedida por ele.

— Ainda não. Sente-se na cama e abra as pernas para mim. Deixe-as


bem abertas, quero ver o quanto sua calcinha está molhada, quero sentir o seu
cheiro de fêmea.
Um forte rubor tomou seu rosto, mas não de constrangimento e sim de
antecipação. A magia do vínculo a conduzia como desejava, liberando Andie
de amarras sociais incrustradas em sua mente, ensinando que o prazer devia
ser mútuo e cru. Por isso, ela o obedeceu sem desviar o olhar.

Não era uma virgem tampouco possuía experiência para saber como
seduzir um homem como Colin, porém queria agradá-lo.

Então, quando se sentou na cama e fez menção de tirar os escarpins


vermelhos ele a interrompeu novamente.

— Não! Quero que esteja com eles quando eu entrar fundo em você —
decadente como um cafajeste passou o polegar pelos lábios.

Ela arquejou sob o domínio de sua voz, depois timidamente separou as


pernas.

— Mais! — ordenou. — Eu a quero totalmente exposta para mim.

Seu olhar estava escuro, pesado, exigente.

Então, quando ela o atendeu, Colin se viu diante da imagem mais


fodástica de toda a sua vida. Sua fêmea era a visão do pecado com rosto de
anjo.

Os cabelos caíam livremente em uma cascata escura, os olhos


brilhavam de tesão, os lábios estavam inchados e o suor cobria sua pele como
seda. As coxas afastadas lhe brindavam com uma bela visão da mancha sobre
o fundo da calcinha e os sapatos vermelhos eram como um convite aberto
para o pecado.

Abatido como um animal por sua companheira, Colin se livrou do


restante de suas roupas, ficando como veio ao mundo, expondo-se orgulhoso,
como um macho se exibindo para sua fêmea. O sólido peito estava arfante, os
músculos tensos e seu membro pulsava duro, longo, grosso e todo babado
pelo pré-sêmen.
A boca de Andie se encheu de água e sua intimidade pulsou
violentamente quando o viu envolver o membro e massageá-lo lentamente.
Ela ofegou diante da visão. Nunca havia estado com um homem tão viril
quanto Colin. Um homem ciente de sua masculinidade... quase sentiu ciúmes
das outras que o tiveram antes dela.

— Pare de pensar besteiras, amor. Olhe para mim, sou eu aqui com
você.

— Você é tão perfeito — suspirou com a voz enrouquecida.

Colin tinha razão, não pensaria em seu passado.

Quando ele caiu de joelhos entre suas pernas estremeceu de


antecipação.

— Chegou a hora da sobremesa, Andie.

O cheiro de sua excitação golpeou suas narinas com tal força que seu
lobo jogou a cabeça para trás e uivou em sua mente. O pulsar forte e
descompassado do coração de Andie era como tambores em seus tímpanos,
fazendo sua ereção pulsar dolorosamente, com as veias latejando por toda a
sua longitude. Precisava de sua companheira muito mais do que precisava de
oxigênio.

Fechou os olhos quando aspirou profundamente contra o tecido fino da


lingerie deixando que a excitação dela batesse como ondas furiosas, antes de
voltar a abrir os olhos deixando que ela visse o âmbar faiscando em suas
órbitas. Seu lobo estava à espreita, ávido por seu momento.

— Colin.

A resignação em sua voz foi como música para seus ouvidos, sua
companheira não o temia, mas ansiava por seu toque. Seus seios estavam
inchados, os mamilos duros, o colo subindo e descendo em busca de oxigênio
e, em seu rosto estava a paixão por ele.
Ela era uma visão fodidamente infernal que lhe queimava as retinas
douradas e o colocava duro feito aço, fazendo seu lobo rugir furiosamente
tentando subir a borda, mas Colin o conteve. Sabia que o animal não a
machucaria, mas ele a tomaria de qualquer forma e ela inconscientemente
cederia. Mas, Colin a queria consciente do que estaria entregando, queria seu
coração, não apenas o seu corpo.

— Por favor, Colin — suplicou desesperada por alívio.

A magia do vínculo a pressionava.

Então, Colin enfiou os dedos por entre a renda da calcinha, a afastou


para o lado e lambeu a estreita fenda sem, no entanto, ultrapassar os grandes
lábios. Lançando um último olhar em sua direção viu seu tormento e decidiu
que era hora de lhe conceder alívio, separando os lábios com os dedos expos
seu nervo. Andie piscava para ele.

— Vamos brincar, Andie?

Com o clitóris exposto, Colin lambeu de baixo para cima, bebendo


direto da fonte cada gota de prazer que ela vertia em sua homenagem.

O seu sabor explodiu em sua boca fazendo seu membro pulsar de


tesão, o nervo estava quente e duro e ele o sugou com toda a boca. Ele a
tomou por inteiro como um macho deve fazer com sua fêmea. Ele a saboreou
não apenas pelas bordas, mas inteiramente, fazendo-a convulsionar em sua
boca enquanto gemia seu nome como um encanto.

— Oh, meu Deus! Colin, não pare.

Movida pelo prazer fechou as pernas entorno da cabeça de Colin, mas


se espantou com o estalo firme em sua lateral.

— Abra as pernas — ordenou. — Quero que você se ofereça para


mim, amor. Quero que mostre onde quer que eu enfie a boca.

— Deus!
O sorriso dele ampliou. Predatório, animalesco, perverso.

— Quero ter essa boceta rosada bem aberta para mim, enquanto eu te
chupo até que goze na minha boca.

Ela gemeu perdida na névoa do tesão. Sua carne ardia e latejava sob a
língua de Colin. Ele não a poupava, enfiava um, dois, três dedos tocando um
ponto sensível em seu interior enquanto sugava seu nervo. O ritmo foi
crescendo mais e mais rápido como se fosse o seu membro a entrar e sair de
seu interior até que Andie não suportou mais e explodiu gritando seu nome.

— Assim, amor. Desse jeito, deixe vir. Não se segure — tornou a


sugar faminto.

Ele manteve suas coxas bem abertas enquanto ela se derramava em sua
boca quase desfalecida pelo êxtase alcançado. Contudo, Colin não perdeu
tempo, continuou chupando seu nervo até que o corpo de Andie começasse a
se contorcer de prazer novamente.

— Colin — gritou seu nome — não pare, por favor. Oh, meu Deus!
Assim, isso.

Continuou lambendo, chupando até senti-la pulsar e tentar fugir de seu


ataque, mas ele a impediu forçando um novo orgasmo.

— Isso, Andie, venha para mim, amor. Goze gostoso.

— Não consigo... é demais.

— Claro que consegue, amor. Estamos só começando.

Enfiou os dedos mais fundo, mais duro até que ela se derreteu, seu
gozo cobrindo sua língua em abundância, aumentando sua própria
necessidade de estar dentro dela, envolto em seu calor, preso em sua
intimidade.

Beijou toda a vulva, lambeu obscenamente antes de subiu por seu


corpo, tocando, beijando cada pedaço de pele exposta.

— Abra os olhos, Tinker Bell. Quero ver seus lindos olhos, amor —
pediu beijando seus lábios.

— Oh, Colin — seu pedido foi sôfrego — preciso de mais.

Uma lágrima desceu pelo canto de seu olho, trazendo Colin para a
realidade. Sua companheira estava sofrendo com o peso do vínculo.

— Calma, amor, estamos apenas começando. Vamos fazer isso a noite


toda. Vou te comer tanto que seu corpo ficará viciado no meu. Agora seja
uma boa menina e cruze as pernas em mim — deu um puxão na calcinha,
rasgando a renda.

Encaixou o quadril entre suas pernas posicionado a cabeça do membro


na entrada estreita e quente, controlando-se para não se afundar em uma
única estocada. Apoiou seu peso nos braços e fitou seus lindos olhos em
busca de algum sinal de hesitação, mas tudo o que encontrou foi entrega
absoluta.

Suas almas se reconheciam. E, foi tudo o que bastou para que Colin a
tomasse novamente para si em um beijo quente, enquanto se enterrava
lentamente em seu interior, sentindo os saltos arranharem sua bunda.

O canal estreito parecia um punho de aço ao redor do seu pau.

— Tão apertada — gemeu contra sua boca. — Isso vai ser muito
melhor do que imaginei, amor.

Andie choramingou com a invasão. Colin era bem-dotado, e embora


estivesse muito excitada sentiu a resistência tornar a invasão ainda mais
quente. Seu corpo vibrava de tesão, desejo, luxúria, paixão. Sentia-se
arrebatada por ondas quentes e furiosas. Queria tudo não importava o preço.

Ela o queria inteiro.


Quando ele atingiu até o fundo, Andie jogou a cabeça para trás
açoitada por uma necessidade violenta, algo primitivo e abissal.

— Forte — suplicou — mais forte, Colin.

Ele travou os dentes cheirando o seu pescoço, estava tão próximo do


local onde colocaria sua marca que seus caninos latejaram dolorosamente.

— Que delícia! Quer mais, Andie? É isso o que quer? — grunhiu como
um animal estocando fundo.

— Isso, isso — arranhou suas costas.

— Ah, Andie — lambeu a curva entre o ombro e o pescoço, sentindo o


apelo do vínculo.

— Mais forte! — balbuciou perdida na bruma do acasalamento.

Colin sentiu o lobo subir, olhar para Andie e ver o reconhecimento


cintilar em suas órbitas escurecidas pela paixão... ela sabia, de alguma forma
ela sabia.

— Vire-se — ordenou saindo de seu interior fazendo a ambos sofrerem


pela falta do contato — quero montá-la.

A voz dele estava pesada, sombria e terrivelmente perigosa, porém


tudo isso só contribuiu para aumentar a sua excitação. Ele a virou de bruços
cobrindo seu corpo com o seu então, Andie se assustou com a rapidez dos
seus movimentos e tentou lutar, porém foi facilmente subjugada pela sua
força até desistir com um murmúrio resignado.

— Relaxa, amor — apertou as bandas de sua bunda sentindo a maciez


de sua pele contra a palma de sua mão. — Fique de joelhos, empine esse
traseiro para mim e baixe os ombros. Agora, fique quietinha.

Andie estava ofegante e suada, porém muito mais excitada. Era como
se seu corpo estivesse sob o efeito de alguma droga poderosa.
Quando Colin chupou sua intimidade e depois seu ânus ela estremeceu
violentamente com o prazer do proibido. Ele sondava com o polegar a
pequena abertura.

— Alguém já a tocou aqui, amor? — havia algo em sua voz que a fez
estremecer.

— Não — soprou

Colin apertou os olhos maravilhado por saber que seria o primeiro a


tomá-la naquele lugar. Ele passou a mão por suas costas para acalmá-la antes
de se abaixar e iniciar uma sequência de beijo grego que deixou as pernas de
Andie bambas por causa do prazer proibido que estava sendo despertado.

A bruma pesou sobre eles e, Colin, apertou ainda mais seu corpo
contra o dela disparando sensações para a ponta de seus dedos. Precisava do
calor de seu interior para aplacar a febre que o consumia. Posicionou o
membro na entrada de sua vagina e começou a afundar devagar até atingir o
fundo, depois retirou até a ponta para voltar a entrar novamente, repetindo o
movimento diversas vezes em um ritmo que roubava a sanidade dos dois.

A cada gemido de Andie ele ficava mais faminto e exigente,


imprimindo um ritmo pesado, punitivo e libertador. Ele a cobria como um
macho no cio, penetrando-a com vigor em busca de satisfação. Distribuindo
beijos por toda a extensão de suas costas ele chegou até o pescoço,
exatamente na curva com o ombro e deu uma mordida leve e suave, mas
capaz de fazer Andie estremecer por inteira.

A necessidade de ter novamente seus dentes sobre sua pele,


principalmente naquele ponto a fez suplicar.

— Por favor, me morde.

— Companheira — rosnou baixo, como um verdadeiro animal.

— Por favor, Colin — apertou os olhos tentando segurar a euforia —


por favor, me morde.

— Andie — grunhiu em sofrimento lutando contra o apelo.

— Me morde, por favor... me morde — choramingou.

Incapaz de conter a exigência do vínculo, Colin cravou os dentes sobre


a carne macia. A dor inicial se transformou em uma explosão de prazer
indescritível.

— Colin — suspirou em êxtase.

Seu corpo literalmente desfalecia de prazer, sua intimidade se fechava


ao redor do pau alojado em seu interior, arrastando Colin para o mesmo
abismo. Ele fincou os dentes em sua carne marcando-a como sua, liberando
sua essência com jatos quentes e pesados, enquanto a magia do acasalamento
concluía seu propósito.

Imagens de vidas passadas e futuras explodiam em suas mentes; Andie


correndo ao lado de um lobo preto, Colin carregando um filho nos braços
enquanto sorria para sua companheira grávida... imagens que contavam sua
história, que apontavam o caminho, que ditavam os termos daquela união.

Passado, presente e futuro fincados no centro de suas almas, evocando


o reconhecimento entre companheiros, consolidando um chamado eterno ao
amor.

Colin bombeou forte várias vezes até fechar seus braços ao redor de
sua companheira, desarmado pelas emoções que o desnudaram. Presa junto
ao seu corpo, Andie se sentiu em casa depois de tanto tempo... após uma
eternidade.
De repente imagens de vidas antigas, promessas acalentadas e
despedidas dolorosas despertaram do inconsciente de Andie, acabando com o
intervalo de tempo entre os destinados a se amarem eternamente.

Jamais a percepção do universo foi tão palpável como naquele ínfimo


instante em que sua alma se reconectou com sua outra metade. O amor
refletido nos olhos ambarinos ao mesmo tempo que era violento também
transmitia doçura, um paradoxo perfeito para seu coração tão cansado da
solidão.

Até aquele reencontro Andie não fazia ideia do quão sozinha estava e o
quão desamparada se sentia no mundo; não era como se agora sua vida se
resumisse a ele tampouco para ele, mas sim a partir dele.

Colin Donovan estava lá quando tudo começou e estaria lá quando


tudo se findasse.

O corpo podia ter adormecido consumido pelas horas de paixão que


compartilharam naquele quarto, mas sua mente permanecia desperta
embebecida na euforia do reencontro... agitada pela expectativa de voltar aos
seus braços.

Era como se a consciência de quem era houvesse finalmente voltado ao


controle de sua existência junto com a compreensão do seu propósito.

Agitada por tais pensamentos ela foi despertando entre os lençóis,


sentindo cada músculo de seu corpo reclamar morosamente pelos esforços
das últimas horas. Lembrava-se vagamente de adormecer com Colin
sussurrando palavras doces contra seu ouvido enquanto... ele lambia sua
pele?
Levou a mão até a curva entre seu pescoço e ombro gemendo com a
dor aguda despertada sob o toque brusco. Como se tomada pela realidade,
Andie, abriu os olhos e tentou enxergar o local onde a pele agora latejava,
mas seus olhos não alcançavam o ferimento. Aturdida se ergueu tropega indo
até o banheiro onde seus olhos se arregalaram ao ver a extensão do
ferimento.

A lesão latente estava avermelhada com leve coloração arroxeada pelas


bordas e as fissuras eram semelhantes a mordida de um cão... se aproximou
mais do espelho tentando analisar a gravidade do ferimento, se assustando
com a violência da mordida. Em sua mente ela sabia que em algum momento
havia pedido para que Colin a mordesse, mas jamais pensou que ele a
deixaria marcada daquele jeito.

A ardência incomodava menos que o medo crescente em sua mente.


Colin a havia mordido, embora a marca não se parecesse com a mordida de
um humano!

Sabia disso porque a circunferência era mais projetada, assim como a


profundidade dos caninos, parecia ter sido feita por algo muito maior que um
simples homem. De repente, a imagem de um lobo preto atingiu sua cabeça
com tanta intensidade que se ela não tivesse segurado firme na borda da
bancada teria desabado no chão. “Deus! O que é isso?” se perguntou quando
imagens de seus sonhos eclodiram furiosamente.

Colin sorrindo no meio de uma floresta, Colin cortando madeira, Colin


a beijando no cume de uma montanha, Colin amarrado sob uma fogueira,
Colin enjaulado, Colin espancado, Colin... Colin... e o lobo. O grande lobo
ferido com seus olhos âmbar fixos em sua direção enquanto sua vida se
esvaia aos poucos... gritos desesperados, súplicas por piedade rasgavam sua
garganta ao se ver contida por homens que a impediam de chegar até ele... até
eles!

Arregalou os olhos aflitos, coração disparado... respiração ofegante.

“Não! Não, isso não é possível... foi apenas um sonho... um pesadelo.


Isso não é real”

Um rosnado alto ecoou em sua mente estremecendo o seu corpo e


arrepiando os pelos de sua nuca.

“Os olhos mudam de cor”, uma voz animalesca sussurrou ao seu


ouvido. Andie virou-se para ver quem estava ali, mas nada encontrou.

“Ele rosnou para você” virou-se para o outro lado ainda mais
assustada com a proximidade daquela voz.

“Ele a mordeu”, tropeçou nos próprios pés.

“Companheira” o peito apertou.

“Minha” as pernas tremeram quase a derrubando sobre o chão frio.

Andie não compreendia o que estava acontecendo, não fazia ideia de


onde estava vindo aquela voz. Sentia-se perdida e totalmente encurralada por
uma força maior que sua razão... correu para o quarto tropeçando pelo
caminho, sentindo o ferimento latejar violentamente ao ponto de lhe roubar o
fôlego.

“Colin” gemeu chamando por ele.

Estava quase desfalecendo quando a porta foi aberta com brusquidão,


seu olhar encontrou o dele e foi como estar em casa novamente.

— Andie!

Colin correu para ela, mas Andie se afastou. Estava atordoada com as
imagens em sua cabeça, apavorada com tudo o que a voz havia sussurrado.

— Não! — disse fraca, olhos marejados — Por favor, não se aproxime


de mim.

— Andie? — havia dor em sua voz.


— Não! — seus lábios tremeram — Você... você me... mordeu! Oh,
Deus! Você me mordeu! Por quê? Como pode?

Andie estava fora de si, Colin podia ver isso em seu olhar e quase se
amaldiçoou por tê-la deixado sozinha por alguns minutos, sabia que aquilo
poderia acontecer. Deveria ter evitado, mas seu lobo queria correr.

— Calma, amor — disse com a voz suave — deixe-me ajudá-la.

— Não chegue perto de mim — soluçou sentindo o coração rasgar. —


Ah! Isso dói — dobrou o corpo em agonia.

— Não pode me recusar, amor. Isso só irá machucá-la ainda mais. Por
favor, deixe-me ajudar.

De repente, uma compreensão absurda totalmente desproporcional


explodiu na sua mente e as imagens antes fora de contexto, vistas em seus
sonhos, finalmente fizeram sentido. Nelas Colin se transformava no lobo e o
lobo em Colin, a assustando mais do que mil demônios.

Andie o encarou lívida.

— Quem é você?
“O encontro de almas gêmeas é como
um oceano agitado em busca da razão.”
(DESCONHECIDO)

O desespero estampado no semblante de Andie foi como um punhal


em seu coração. Colin não queria que as coisas tivessem acontecido daquela
maneira, não foi como havia planejado, precisava de mais tempo para marcá-
la, mas o vínculo havia exercido sua pressão sem piedade e, agora sua
companheira estava claramente apavorada.

Ela o temia e isso era como sentenciá-lo a morte em vida. Não podia
perdê-la depois de todo esse tempo. Ela era sua.

— Amor, olhe para mim — pediu mantendo a voz baixa.

Andie estava curvada apertando o corpo com os próprios braços,


sofrendo com a dor do afastamento. A ligação era poderosa, implacável,
podia sentir na própria pele sua dor.

— Não... não se aproxime de mim — ela pediu chorosa, imersa na


confusão de sua mente.

— Amor — suspirou derrotado diante do seu pânico — não vou me


aproximar, mas olhe para mim — tentou outra abordagem, porém Andie
permaneceu imóvel.
Os gemidos de dor estavam aumentando por causa da recusa a sua
aproximação. Quanto mais longe eles estivessem, maior seria o sofrimento
físico.

— O que está acontecendo? — sua voz saiu estrangulada pelo choro.


— O que você fez comigo?

Colin não sabia como explicar sem que a verdade a destruísse por
completo.

Andie era fruto de uma sociedade cética, imersa em sua própria


ignorância da realidade, não compreenderia o acasalamento.

No momento em que suas almas se reconectaram as lembranças de


outras vidas retornaram junto com todas as promessas de se reencontrarem no
futuro, mas ela tentava negar a verdade se recusando a abrir mão de todo o
conhecimento distorcido.

Sem suportar assistir seu sofrimento por mais tempo e sabendo que
talvez não fosse a melhor ideia, ele caminhou em sua direção, movido pela
urgência de aplacar sua dor. Tomou-a nos braços sem se importar que lutasse
contra seu toque arranhando o seu peito e braços, permitindo que gritasse
para que a deixasse em paz até que ela percebesse que a dor havia cessado.

Seria difícil aceitar sua nova realidade, mas esperava que o vínculo
entre companheiros fosse o suficiente para fazê-la compreender que não
tinham outra saída a não ser aceitarem o destino.

— Schiii, está tudo bem, Tinker Bell. Está tudo bem — afagou seus
cabelos ao senti-la relaxar em seus braços ao parar de lutar contra ele.

Deixou que chorasse até soluçar, mesmo que isso lhe ferisse a alma.
Talvez isso a ajudasse a relaxar antes de seu mundo ruir. Colin precisava ser
o elo forte daquela relação até que sua companheira estivesse pronta.

— Vamos conversar, amor. Deixe-me explicar tudo — murmurou.


— O que está acontecendo, Colin? Por que essas imagens não param
de chegar a minha cabeça? — fungou espremendo o rosto contra seu peito.
— Por que me mordeu desse jeito? E... essa voz? De onde vem essa voz?

Embora o cheiro dele a acalmasse não aplacava seu medo. Ao


contrário, sentia-se aterrorizada com as diversas possibilidades de respostas
para suas perguntas. Devia ter confiado em seus instintos antes de se envolver
com Colin Donovan. Devia ter resistido a forte atração. Maldita hora em que
respondeu aquele anúncio de emprego.

Colin se enfureceu com os pensamentos que a assolavam, pois a


faziam duvidar dos sentimentos que os unia. Andie era sua companheira,
rosnou perigosamente a assustando.

— Pare de pensar besteiras. Você é minha tanto quanto eu sou seu,


companheira — grunhiu.

— Como sabe o que estou...? — temeu estar ficando louca.

— Porque estamos ligados — disse afagando vigorosamente seus


cabelos despertando os efeitos do vínculo sobre ela.

— Que história é essa de que estamos ligados? — tentou se afastar,


porém ele não permitiu.

— Não se mova — ordenou — seu ferimento está sangrando.

Baixou a cabeça e começou a lamber sua pele como um animal,


fazendo Andie divagar entre o desejo e a razão.

— O que está fazendo? — perguntou perturbada por estar gostando de


ser lambida. Isso aplacava a ardência sobre a lesão e despertava o seu corpo
para o desejo.

— Cuidando de você, amor. Cuidando de você — falou contra sua pele


sensível.
Havia alguma coisa naquele gesto de Colin que a deixava incapacitada
para as demais questões que permaneciam sem resposta.

— Precisa prometer que irá me ouvir até o final, Tinker Bell. Precisa
me prometer isso, amor — passou as mãos por suas costas a sentindo relaxar
sob seu toque.

Isso era um bom sinal. Significava que o vínculo estava estabelecido,


mas, embora isso fosse verdade ele não o usaria para convencê-la de nada.
Colin a amava demais para forçá-la a ficar ao seu lado contra sua vontade.

O lobo se enfureceu com tal pensamento, mas não podia fazer nada
para que Colin mudasse de opinião.

— Como se sente? Está melhor? — apertou mais os braços ao redor de


seu corpo.

Andie estava completamente nua dificultando sua concentração.

— Sim... como isso é possível? — perguntou aérea.

— É o nosso vínculo.

— Vínculo? — franziu a testa — tipo uma espécie de ligação.

—Exato, amor — suspirou afastando o rosto para fitar seus olhos livres
do desespero de minutos antes — somos o que vocês humanos chamam de
almas gêmeas ou predestinados.

— Como assim “vocês humanos”?

Andie se afastou e dessa vez ele a deixou ir com muito custo. Doía em
sua carne vê-la impor distância, mas esse não era o momento para dar vazão a
sua personalidade animalesca. Querendo ou não tinha que ser paciente.

— Tome — puxou o lençol da cama para que ela se cobrisse — se


continuar olhando para você como veio ao mundo não serei capaz de formar
uma frase coerente.

O rosto de Andie se tingiu de um vermelho intenso ao se dar conta de


sua situação. Desajeitadamente enrolou-se no tecido e o segurou forte contra
o corpo, como se fosse um escudo que a manteria a salvo da influência de
Colin.

— Eu não faço ideia do que está acontecendo, mas sei que é algo que
eu não posso considerar normal.

Seu olhar refletia abandono e Colin suspirou sem saber como


conduziria aquela conversa. Ela merecia a verdade.

— Sente-se, Andie — indicou a cama — acho que vai querer estar


sentada para ouvir o que tenho a dizer — passou as mãos sobre o rosto e se
sentou na poltrona próxima a cama.

— Então, eu tenho razão — havia acusação em suas palavras — está


acontecendo algo, não está? Não são coisas da minha cabeça... o que está me
escondendo, Colin?

— O que sente quando estamos próximos, Andie?

A maneira como ele a questionou fez com que baixasse um pouco sua
guarda. Havia certo abandono em sua voz, como se temesse por sua reação.

— Diga, Andie — a encorajou — o que sente quando eu a toco? O que


sentiu quando esteve na ARCADIS à primeira vez?

Somente a breve lembrança do mal-estar provocou um calafrio em sua


espinha.

— Está falando de quando nos vimos em seu escritório? — sondou.

— Não! Estou falando da primeira vez que colocou os pés na


ARCADIS.
Alguma coisa nos olhos de Colin a impediam de mentir.

— Foi horrível — soltou em um fio de voz — eu estava bem até


encerrar a entrevista.

— O que aconteceu? — incentivou, queria que ela montasse o próprio


quebra-cabeça.

— Quando deixei a sala do RH senti como se estivesse sendo


observada — o encarou — mas, ninguém estava olhando em minha direção,
então achei que fosse coisa da minha cabeça.

— Continue.

— Quando entrei no elevador eu... senti como se... meu coração


estivesse sendo esmagado. No início pensei que fosse um ataque de pânico e
comecei a suar frio e a ter taquicardia... pedi para o taxista me levar até o
hospital universitário, mas após duas quadras a sensação simplesmente...
desapareceu.

Colin acenou com a cabeça.

— Quando voltou o que sentiu ao me ver?

Andie fechou os olhos como se pudesse reviver o dia anterior.

— Colin... — silêncio.

— Diga, Andie. O que sentiu? — pediu com delicadeza.

— Como se eu o conhecesse há muito tempo... como se...

— Estivesse esperando por mim.

Uma lágrima desceu pela bochecha de Andie.

— Eu senti o mundo girar. Perdi a noção do tempo, mas isso não


explica por que me mordeu.

— O que sente quando eu a toco?

— Pare, Colin — o cortou, precisava de resposta e não ser seduzida


novamente — uma coisa não tem nada a ver com a outra.

— Tem tudo a ver — se ergueu e caminhou para a janela com vista


para o jardim. — Você tem medo. Acho que se estivesse em seu lugar
também teria. Contudo, isso não anula o que sente por mim.

— Do que está falando? Pare de rodeios e vá direto ao ponto. Por que


me mordeu? Por que você... você...?

— Vamos, Andie! Faça sua pergunta — lançou um olhar cansado em


sua direção.

— Colin, o que está acontecendo? — sussurrou.

— Quer a verdade, Tinker Bell? — a desafiou.

— Você disse que nunca mentiria para mim. Eu só quero saber o que
está acontecendo aqui. Porque eu sei que isso não é normal. Só me diga a
verdade, por favor.

— A verdade é que estamos acasalados. Você acasalou com o que os


humanos chamam de lobisomens, mas na verdade somos licantropos.

De todas as coisas absurdas que Andie já havia ouvido na vida a mais


esdrúxula com certeza era a que acabara de ouvir. “Acasalada com um
lobisomem.”
O único problema era que o rosto de Colin não demonstrava estar
pregando uma peça ou tentando ser engraçado, além disso, as imagens em
sua cabeça pareciam vivas demais para serem ignoradas.

Lobisomem? Ele está brincando. Lobisomens não existem ou... não


isso é impossível. Mas, e... os olhos e... os sons? Humanos não produzem
esse tipo de som ou talvez sim.

Incredulidade, seria a palavra que definiria o estado de Andie, porém


Colin não parecia brincar. Seu rosto estava aberto, seus olhos não
desviavam... na verdade eles a desafiavam a desmenti-lo.

— Lobisomens não existem — disse sem muita convicção.

Ele riu desgostoso.

— Tem razão, Andie. Lobisomens não existem. Shifters[9] não


existem, porém Licantropos existem e você está diante de um — apesar de
baixa sua voz era imperiosa.

— Licantropo? O que é exatamente isso? Uma doença, uma condição


física, psíquica ou...

— Uma maldição — a cortou. — Licantropos são seres amaldiçoados


por Zeus.

— Como assim Zeus? Colin, está falando de Zeus o tal deus da


mitologia grega? Se for isso, sabe tanto quanto eu que não passa de uma
crença boba de um povo supersticioso.

— Tem certeza disso? Ou apenas está repetindo o que leu nos livros?
Porque até onde eu sei, foi Zeus que amaldiçoou Licaon e seus descendentes.

— Hei, quem é esse Licaon? — estava confusa com as informações


desencontradas.

Colin suspirou tentando encontrar palavras que a fizessem ouvi-lo


antes de o taxar como louco.

— Licaon[10] foi o primeiro rei de Arcádia — a observou sentindo que


sua felicidade estava em risco — era um fanático religioso que gostava de
sacrificar humanos em culto a Zeus[11], mais precisamente estrangeiros que
passavam por suas terras, violando assim a sagrada lei da hospitalidade. Suas
atrocidades foram tão grandes que o próprio Zeus decidiu averiguar tais
aberrações. Então, se disfarçou de peregrino e se hospedou no palácio de
Licaon que decidiu sacrificá-lo aos deuses como havia feito com os demais
viajantes. Porém, antes serviu a ele a carne de um escravo cozida. Enfurecido,
Zeus transformou Licaon em um lobo e incendiou seu palácio. Tempos
depois, seus filhos cometeram outras atrocidades tão cruéis quanto as do pai...
eles assassinaram o irmão mais velho, Níctimo e serviram suas entranhas a
Zeus, misturadas com entranhas de animais. Quando Zeus descobriu a
crueldade deles ficou tão enfurecido que os amaldiçoou transformando a
todos em lobos, assim como seus descendentes — suspirou pesado —
durante milênios a maldição acompanha sua linhagem conforme as palavras
de Zeus.

Por um breve momento Colin permaneceu calado como se fosse difícil


pronunciar as próximas palavras.

— Desde então, quando um descendente de Licaon completa trinta


anos a maldição se manifesta e ele passa a viver como uma besta irracional
durante o período da lua cheia.

— Está dizendo que na lua cheia você se transforma em um lobo?

Ele a olhou derrotado.

— Sim, Andie. Na lua cheia eu me torno um lobo ou pelo menos era


assim até você chegar.

— O quê?

— A maldição não pode ser quebrada, mas pode ser burlada. Há


muitos séculos na região da Galícia em Portugal, uma jovem bruxa se
apaixonou por um dos nossos, mas ele temia matá-la nas noites de lua cheia,
por isso estava decidido a abrir mão desse amor. Segundo relatos, essa bruxa
se recusou a desistir desse sentimento e fez um sacrifício para os espíritos da
floresta que atenderam ao seu pedido, criando para cada licantropo uma
companheira, uma alma gêmea, mais conhecida como peeira... um ser capaz
de orientar as criaturas raivosas e de espíritos perturbados como os
licantropos. Elas são como uma fonte de paz que nos acalma e nos permite
raciocinar quando estamos sob o feito da lua. As Peeiras são nossas
companheiras destinadas pelos espíritos da floresta a nos encontrar em um
determinado tempo para colocar sob controle o lobo aprisionado em nossas
mentes. Quando encontramos nossa peeira o vínculo exige o acasalamento
para que nossas almas sejam unidas conforme o destino.

— Por favor, não — balançou o rosto de um lado para o outro ao


compreender aonde ele queria chegar — não continue.

— Andie, quando você esteve na ARCADIS a primeira vez, você não


precisou me ver para sentir o chamado do vínculo e, quando nos encontramos
em meu escritório, você sentiu o mundo parar — deu um passo em sua
direção, mas parou quando a viu recuar. — Por favor, pare de fugir de mim.
Isso dói.

— Você está louco.

— Essa é a sua melhor desculpa para o que está acontecendo aqui? Se


estou louco você está o que, Andie? Porque minha loucura é baseada em
falsas verdades que você conhece desde criança, mas e quanto aos
sentimentos que surgem quando estamos juntos? Como os explica?

Seu mundo estava ruindo, o homem parado diante de si não


demonstrava qualquer sinal de loucura. Seus olhos, embora ansiosos,
expressavam uma lucidez inquestionável. Colin poderia ter mentido, criado
uma história mais leve ou sabe-se lá Deus o que, mas não, ele havia sido
sincero, arriscado tudo... arriscado perdê-la para lhe entregar a verdade e,
agora ela estava surtando. Negando a si mesma, negando a verdade
escancarada diante de seus olhos.

Um lobisomem... um licantropo...

A imagem do lobo espancado até a morte surgiu diante de seus olhos


provocando uma dor horrível em seu peito.

— Deus!

— Eu morri muitas vezes, Andie. Morri de tantas formas que


poderíamos passar o dia inteiro aqui falando sobre o quão cruel foi vê-la
sofrer sem poder fazer nada para me ajudar. Essas imagens são nossas
lembranças... recordações de todas as vezes em que eu a amei mais do que
minha própria vida.

Seus olhos marejaram ao vê-lo tão vulnerável, mas ainda assim era
insano demais acreditar em tudo aquilo. Lobisomens não existiam e se
existiam não deveriam caminhar entre os humanos, porém... abandonar Colin
e... tal criatura era como seguir em frente sem metade de seu coração.

— Não sei se... preciso pensar, estou confusa — balbuciou.

Colin respirou fundo, pronto para fazer o que mais temera desde que a
encontrara, mas era o certo a se fazer.

— Não vou obrigá-la a ficar e me aceitar. Sou seu companheiro, mas


não seu carcereiro. Se decidir ficar minha vida será dedicada a fazê-la feliz,
mas se quiser partir — se calou como se dizer aquelas palavras fossem uma
tortura — eu não a impedirei, ainda que isso signifique a nossa morte.

Quando Colin disse nossa, não se referia apenas a ele e ao lobo, mas
também a Andie, porque agora que estavam acasalados ela também sofreria
todas as consequências do afastamento.

— Eu te amo, Tinker Bell — sua voz saiu embargada — estive


esperando por você nesta vida e estarei esperando na próxima também.
Colin se aproximou e acariciou seu rosto com tanto carinho que
seu peito ofegou com o gesto. Ele se abaixou e beijou seus lábios, mas não da
forma como ela ansiava, foi mais como um roçar de lábios antes de se afastar
e deixá-la no mais profundo desespero ao sair do quarto como se carregasse o
mundo em suas costas.

Não havia mais nada que Colin pudesse fazer. Ele havia estragado suas
chances de viver ao lado de sua companheira quando a mordeu antes do
tempo previsto. E, embora possuíssem os grilhões do vínculo, seria
necessário amor para fazer Andie aceitá-lo com toda a sua natureza, sem
contar que não fazia a menor ideia do que ela faria com tal informação nas
mãos.

Deixar a decisão em suas mãos talvez fosse sua sentença de morte, mas
preferia morrer a viver ao lado de uma companheira que não o desejava por
vontade própria.

Então era isso? Ele estava abrindo mão dela?

Ele sim, mas o lobo não. Ele a caçaria e a traria de volta todas as vezes
que fossem necessárias a não ser que Andie renunciasse ao medo e decidisse
ficar por vontade própria.

Pânico!

Ela entrara em pânico depois que Colin se foi. O aperto ao redor do


pescoço era tão sólido que sua respiração estava pesada e arenosa. Seus olhos
turvos pelas lágrimas não se desviavam da porta, suplicantes por seu retorno.

Idiota!
A voz gritou em sua mente enfurecida por Andie não saber o que fazer,
quando estava óbvio que não havia outra escolha a não ser ficar. Contudo,
seu lado racional estava surtando, pois das duas uma, ou Colin era um louco
que possuía um sex appeal extraordinário ou ele era um monstro.

Presa entre razão e sentimento, ela se viu bombardeada pelas


lembranças da noite de paixão que compartilharam com tanta entrega que seu
ventre vibrava por mais. As imagens de outras épocas também não cessavam,
a obrigando a reviver o sentimento que atravessava as eras como larva
quente.

Era como estar sendo sugada por areia movediça, quanto mais se
debatia entre a lógica e a fantasia mais afundava no caos. Colin não era fruto
de sua imaginação, a marca em seu pescoço queimava como o inferno,
provando que tudo havia sido real demais para ser fruto de um episódio
esquizofrênico. Então, por que se recusava a aceitar a realidade?

Porque isso significaria aceitar que o homem que bagunçava seus


sentimentos era um monstro ou melhor... um demônio.

“Jesus! Lobisomens não existem.”

Dor rasgou suas entranhas a fazendo sofrer miseravelmente. Com


muita dificuldade recolheu suas roupas do chão e se vestiu da melhor forma
possível, precisava ir a um hospital antes que aquele ferimento infeccionasse,
já podia sentir o corpo febril, mas... o que diria aos médicos quando
perguntassem como havia sido ferida?

Por mais absurdo que fosse toda aquela história de Colin, sabia que
não poderia repeti-la sem ser considerada uma demente, por isso diria que
fora atacada por um cachorro.

Sentindo as pernas fracas e a respiração cada vez mais errática,


caminhou tropega para fora do quarto tateando as paredes do corredor
enquanto seu corpo lutava para se manter em pé. Contudo, quando Andie
chegou à escada sua vista embaçou e precisou se recostar na parede ao sentir
uma vontade imensa de chamar por Colin.

“Deus, isso é loucura! Preciso de um médico.”

Respirando fundo tentou mais uma vez descer as escadas, porém suas
mãos agarraram firme o corrimão quando uma lembrança muito antiga a
atingiu. Andie já o havia deixado uma vez e... isso foi o motivo de sua
morte... Colin havia morrido de tristeza!

A culpa aflorou impiedosa a fazendo recordar de seu próprio


sofrimento quando soube o que havia ocorrido após abandoná-lo. Foi
impossível conter as lágrimas.

Chorou como se pudesse tocar seu corpo inerte outra vez. Chorou
por ver seu corpo ser coberto por pelos escuros como a noite, impedindo-a de
olhar para Colin uma última vez, como se o lobo em seu interior a punisse
por sua morte.

A recordação foi tão forte que seus joelhos cederam e Andie gemeu
seu nome em desespero, mas Colin não veio, quem apareceu imponente em
sua selvageria foi o grande lobo preto com seus olhos faiscando um âmbar
tão vibrante que pareciam duas tochas acessas.

Ao vê-lo surgir ao pé da escada seu coração travou. Ele era enorme


para um animal comum, seus caninos estavam amostra e as patas pareciam
punhos fechados sobre o chão de madeira. O animal parecia pronto para o
ataque, seus olhos a estudavam como se esperasse que ela tentasse fugir, na
verdade, ele parecia desafiá-la a isso. Mas, Andie estava paralisada pelo
medo para tentar uma fuga.

Então, quando o viu subir os degraus lentamente em sua direção


estremeceu em um misto de pavor e... expectativa. O rosnado baixo, ao
mesmo tempo em que era assustador, também deixava seu corpo arrepiado de
desejo. À medida que ele se aproximava podia ver suas narinas dilatarem
com o peso de sua respiração, como se ele a estivesse farejando.
— Por favor, não — seu pedido soou débil.

O animal, porém, não recuou de sua intenção. Era um predador nato e


estava no seu direito de reivindicar para si sua companheira. Ele e Colin
haviam concordado em tentar tudo o que fosse possível para convencer Andie
a permanecer ao seu lado e, se isso significava revelar toda a verdade sobre
sua natureza, então que ela pudesse ver nos olhos da fera que ele jamais
representaria um perigo para sua vida.

Assim, quando estava bem próximo e a ouviu suplicar para que não a
machucasse, o lobo se deitou no chão apoiando a cabeça sobre as patas e
bufou como se estivesse entediado com seu comportamento. Essa pequena
atitude ajudou Andie a se acalmar um pouco, mas logo em seguida, quando o
animal começou a rastejar em sua direção voltou a tremer.

Ele era enorme, imponente, assustador... “Jesus, glorificado! Ele era


um lobo selvagem. Uma criatura irracional capaz de matá-la apenas com
uma mordida.”

— Por favor, não — suplicou em um gemido frouxo.

Porém, o lobo continuou rastejando suavemente em sua direção até


tocar o focinho em seu joelho dando lambidas pequenas como uma leve
carícia. Embora a sensação fosse reconfortante ela não tinha coragem de abrir
os olhos, afinal de contas, ele era um lobo. Um grande e terrível lobo preto
que segundo Colin era metade homem também.

Andie não sabia o que fazer, nunca havia se sentido tão exausta
emocionalmente como nas últimas vinte e quatro horas. Nada daquilo fazia
sentido, os livros de romances sobrenaturais de nada serviam diante de sua
realidade. As estórias dos cinemas pareciam uma piada diante do terror que
estava sentindo, mas, ainda assim, não podia negar que seu coração estava
inclinado para Colin e.… o lobo.

O animal não fez nenhum outro gesto para se aproximar ou ganhar sua
atenção. Na verdade, ele parecia resignado com sua apatia, então, decidiu
abrir os olhos devagar e o fitou observando seus olhos incríveis. Havia um
mundo de emoções ali dentro das quais Andie também compartilhava.

Estava sendo estúpida? Com toda a certeza! Imprudente? Também.


Mas, a fera parecia lhe pertencer de alguma forma, então, embora receosa,
levantou a mão e tocou sua cabeça, correndo os dedos suavemente por entre
as orelhas e deixou escapar um sorriso involuntário ao vê-lo ronronar. Algo
em seu interior se aqueceu e Andie colocou o choro em segundo plano,
assumindo uma postura mais exploratória.

Se aquele lobo também era Colin, então talvez ele a pudesse ouvir e a
compreendesse.

— Me desculpe, Colin. Eu estou assustada... não pense que isso não


está doendo em mim, mas é inevitável sentir medo — mordeu o lábio
encostando a cabeça contra a parede sem desviar os olhos do seu — não sei o
que fazer.

O animal suspirou pesado, ele também não sabia.

— Por favor, não me olhe com essa cara. Eu quero ficar, mas minha
mente diz para partir — disse — o que faria se estivesse em meu lugar,
Colin? O que acontece se eu ficar? — sussurrou. — Devo estar louca! Estou
conversando com um lobo que possivelmente não me entende, não é?

As orelhas do animal se ergueram como se a compreendesse e Andie


se viu sorrindo para ele.

— É acho que estou enganada — ponderou — se consegue me


entender — acariciou suas orelhas — pode trazer o Colin de volta? Acho que
precisamos conversar... eu estou mais calma agora.

Quase se repreendeu por estar falando com um animal, mas sua voz
morreu ao vê-lo se erguer e começar a transformação. O som de ossos
estalando e chiados espremidos preencheram o ambiente. De olhos
arregalados Andie assistiu os pelos sumirem, a mandíbula recuar, o crânio
inchar, a caixa toráxica retorcer violentamente até que fosse possível o
distinguir semelhando-se a um homem. Os olhos foram a última coisa a
mudar em Colin, o ambarino tornou-se azul cobalto e, somente então ela
compreendeu sua nova realidade.

Seus lábios tremiam diante do inexplicável, contudo, não se afastou.


Agora não restava mais nenhuma dúvida sobre as palavras de Colin.

— Oi, Tinker Bell — seu olhar era tão terno.

— Colin... — sentiu-se sugada por sua presença.

— Por favor, não tenha medo. Não vou machucá-la — murmurou.

Andie engoliu em seco, tentando absorver tudo sem que seu cérebro
entrasse em colapso total. Era muita coisa para assimilar em tão pouco
tempo.

— Sei que não me machucaria — disse baixinho.

— Imagino que não deve estar sendo fácil para você, mas preciso que
fique, por favor, amor — ele suplicou — nos dê uma chance, apenas uma.

O que deveria dizer? Dizer não quando o seu coração e sua alma
sabiam a quem pertencia?

— Precisa ser paciente comigo, Colin. Isso tudo é novo para mim —
baixou os olhos antes de voltar a fitá-lo — eu não sei o que fazer, mas... não
sei se consigo partir... não suporto a ideia de vê-lo sofrendo.

Andie se jogou em seus braços e Colin a trouxe para junto do peito. A


caminhada não seria fácil, mas ela estava lhe dando uma chance... uma que
Colin não desperdiçaria.
“A sabedoria consiste em aceitar o nosso destino como se nós próprios o tivéssemos
escolhido.”
(LOUIS LAVELLE)

O cheiro de Colin invadiu suas narinas como se fosse um bálsamo para


suas aflições. Era estranho que a solução para os seus problemas estivesse
nos braços do próprio problema e fosse capaz de convencê-la a viajar para o
Canadá, com a justificativa de que esse tempo juntos traria as respostas para
sua nova realidade, a levando a agir na contramão da razão.

Contudo, desde que encontrara Colin a razão era a última coisa que
exercia alguma espécie de governo sobre sua vida. Bastava estarem próximos
para que ela mandasse as favas a prudência, fazendo de imagens avulsas
de vidas passadas sua justificativa para se lançar de cabeça naquela loucura.

É verdade que ninguém poderia considerá-la o tipo de pessoa


espiritualizada, mas Andie tinha certeza de que não havia como tudo aquilo
ser apenas uma invenção de sua imaginação... todas aquelas lembranças e
sentimentos eram reais demais para serem desconsiderados... ela e Colin
possuíam um passado... um passado que pelo visto estava de volta.

Contudo, sua mente ainda combatia violentamente contra essa certeza,


por isso, sentada na primeira classe em um voo direto para o Canadá, ela se
questionava se havia tomado a decisão certa ou se havia enlouquecido de vez.
Afinal, se fosse qualquer outra pessoa em seu lugar teria abandonado Colin e
seu lobo e procurado ajuda psiquiátrica, ou talvez coisa pior... teria colocado
a boca no mundo e gritado aos quatro cantos do planeta que lobisomens
existiam e estavam vivendo entre os humanos como iguais, mesmo que isso
significasse a morte de Colin e sua família.

“Não seja estúpida!” sua consciência a acusou. “Você não quer


carregar a culpa pela morte de Colin em suas costas outra vez.” Lembrou-se
das imagens que haviam despedaçado sua alma... ela já o havia traído uma
vez... ela o abandonara até que a tristeza o consumisse e, quando se
arrependera já era tarde demais. Suspirou pesarosa por ter errado
absurdamente com alguém que claramente a desejava mais que a própria
vida.

Colin a amava tanto que estava disposto a deixá-la partir mesmo


sabendo do perigo que isso significaria para ele e o lobo, só para que ela
pudesse seguir sua vida do mesmo jeito egoísta que a maioria da sociedade.
Quem faria tal coisa se não estivesse realmente apaixonado? Por isso, não
conseguiu dizer não aquela viagem. Talvez ele estivesse certo e esse tempo
juntos a ajudasse a compreender melhor o que Colin chamava de vínculo.

Além disso, a marca em seu ombro só parava de latejar quando


estavam próximos, como agora com ele sentado na cabine ao lado, que
mesmo entretido com alguma reportagem em seu laptop, não parava de
estender a mão para tocar a sua a todo o momento. Quando isso acontecia a
ardência sobre a ferida abrandava e ela conseguia relaxar um pouco.

Mas, quando o serviço de bordo foi finalizado e as luzes da


cabine desligadas suspirou ao sentir Colin se deitar ao seu lado e a puxar
contra o peito.

— Vem aqui, Tinker Bell — beijou seus cabelos — estava contando os


minutos para tê-la em meus braços.

— Colin, não cabemos os dois nesse espaço — o fitou assombrada


com o âmbar de seus olhos.
— Claro que cabemos, amor. Olhe só como seu corpo se molda
perfeitamente ao meu. Além disso, preciso ver como está a cicatrização de
sua marca — falou como se realmente essa fosse sua única intenção.

Apesar do semblante sereno, Andie, sabia que seu ferimento era apenas
uma desculpa para as outras intenções estampadas em seu olhar. Se fosse
sensata teria recusado seu pedido, mas já não era mais dona de suas vontades.
Assim, deixou que seu corpo se acomodasse perfeitamente sobre o seu peito.

Colin tinha razão, as cabines da primeira classe possuíam espaço


suficiente para que ambos pudessem se acomodar sobre o assento-cama.
Assim, encostou a cabeça em seu peito e o envolveu em seus braços.

— Colin, alguém pode aparecer — disse ao vê-lo fechar as cortinas


para que tivessem privacidade.

— O serviço de bordo já encerrou e não retornará a menos que seja


solicitado — afagou seus cabelos — deixe-me ver como está sua marca.
Deve estar ardendo.

— Um pouco — confessou, deixando que ele afastasse a gola de sua


blusa de lã branca para verificar o curativo.

— Voltou a sangrar — removeu a gaze para ter acesso ao ferimento.

Andie estremeceu quando Colin começou a lamber as bordas da ferida.


Não havia nada no mundo que pudesse explicar a miríade de sensações que a
atingiam sempre que ele fazia aquilo. Era como se seu corpo todo despertasse
de um sono profundo e começasse a correr uma maratona insana.

— Colin... — gemeu baixinho.

— Porra, amor! — lambeu todo o ferimento — gemendo desse jeito


não irei apenas cuidar do seu ferimento.

Andie afundou as unhas no tecido de sua camisa tentando conter a


onda de luxúria que se erguia sempre que ele tocava em seu ferimento.
Aquele ponto estava se tornando uma parte altamente erótica para ela. As
faíscas se agitavam furiosamente em seu baixo-ventre.

— Melhorou? — perguntou sorrindo contra sua pele.

— Sim, por favor, continue — suspirou inebriada pela sensação.

Sem afastar a língua de seu ombro Colin ergueu os olhos apenas para
confirmar o que já sabia... Andie estava sob o efeito do frenesi que acometia
aos recém acasalados.

Desde que embarcaram naquele avião os sinais tornaram-se cada vez


mais perceptíveis. Porém, como ela não entendia nada sobre licantropos e
acasalamentos não percebia que a inquietação que a acometia sempre que ele
a tocava era na verdade o frenesi exercido pelo seu domínio.

Para os recém acasalados a proximidade e o toque eram uma forma de


amenizar a luxúria avassaladora dos primeiros dias. Licantropos e
companheiras tinham necessidades emocionais que precisavam ser saciadas,
mas também possuíam necessidades físicas tão violentas que se fossem
ignoradas poderia levar um dos parceiros à morte.

Por isso, Colin estava tão ansioso para que o serviço de bordo findasse,
porque assim ele poderia tomar Andie nos braços e amenizar seus efeitos.

— Colin... me beije — Andie pediu ébria pelas emoções.

Tentando controlar o desejo ele colou seus lábios com suavidade, mas
sua companheira parecia pronta para uma briga ao puxá-lo pelos cabelos e
aprofundar o beijo. Senão estivesse tão envolvido no momento teria rido de
sua afobação. Era perceptível como o vínculo a deixava muito mais receptiva
ao seu toque.

Não era estúpido de achar que isso significava que Andie o havia
aceitado completamente, mas já era um começo. Ele havia pedido uma
chance e faria todo o possível para convencê-la a ficar para sempre.

Por isso, lançava mão de toda e qualquer oportunidade para prendê-la


em seus braços e a beijar ardentemente, explorando sua boca doce com a
língua sem o mínimo de pudor. Desejava que Andie perdesse a razão em seus
braços, queria que sua alma se rendesse completamente ao destino,
ansiava apagar qualquer dúvida sobre a relação deles.

Decidido a seduzi-la sua mão encontrou o caminho sobe a blusa de lã


em direção ao seio pequeno, onde seu polegar esfregou o mamilo de maneira
provocativa até que ela começasse a soltar suspiros involuntários.

— Estou louco para montá-la, amor — sua voz não foi mais que um
rosnado. — Preciso tocá-la ou vou enlouquecer.

— Não, Colin, alguém pode nos ouvir — disse perdida.

— Só se você gemer alto, amor. Só se gemer alto — apertou o mamilo


— gosta disso? — provocou.

— Sim...

— Quer que eu pare? — lambeu a ferida sabendo o efeito que isso


tinha sobre ela.

— Não... por favor, não pare.

Era impossível resistir a Colin quando seu corpo inteiro vibrava de


prazer sob seu toque. Quando usava aquela voz rouca em seu ouvido ou
quando esmagava seus seios sem piedade. A língua em seu ombro parecia um
chicote de fogo incendiando cada terminação nervosa até seu centro de
prazer... Jesus, ela jamais seria capaz de resistir a tudo isso... jamais.

Colin tinha poder sobre ela, poder sobre suas vontades, poder sobre
seus pensamentos e definitivamente poder sobre seu corpo.

Seria suicídio tentar impor qualquer tipo de resistência quando sentia


que sua vida dependia daquela aproximação, por isso não o impediu quando
abriu o botão de sua calça jeans e começou a puxar o tecido para fora de seu
corpo, tampouco se importou quando puxou as laterais da calcinha para cima
fazendo a delicada renda entrar de forma dolorosa em sua fenda encharcada.
O elástico exercia a pressão certa sobre seu nervo e provocava um
estremecimento em seu ventre.

— Já gozou em um avião, amor? — puxou mais as laterais a ponto de


senti-la empinar a bunda para aumentar o atrito.

— Não — disse sôfrega — mas, acho que estou prestes a fazer isso se
continuar desse jeito — sorriu contra seus lábios.

O brilho luxurioso do verde-floresta foi o combustível que faltava para


Colin montá-la sobre seu corpo deixando suas intimidades separadas somente
pelo seu jeans.

— Está sentindo isso? — gemeu empurrando o membro inchado contra


sua intimidade. — É assim que você me deixa... de pau duro, Andie. Ele fica
tão duro por você, amor, que sou capaz de jurar que morrerei se não o
colocar todinho nessa buceta — puxou o elástico mais uma vez.

— Colin — gemeu contra seus lábios — isso dói — arfou agarrada em


seus ombros enquanto esfregava sua pélvis contra a dele.

— Quer que eu pare? — mordeu seu lábio depois o chupou antes de


liberá-la.

— Não... — Respondeu enfraquecida de tesão.

Colin sentia o membro tão inchado que sua mente só pensava em se


afundar dentro de Andie. Levado pela paixão agarrou sua cintura e a ajudou a
se esfregar sobre seu jeans até que seu líquido marcasse o tecido deixando
seu cheiro impregnado no ar.

Andie por sua vez agia totalmente fora de seus padrões.


A timidez tão inerente de sua personalidade havia evaporado e dado
lugar a uma impetuosidade que a impelia a atuar como uma mulher segura de
si, dona de suas próprias vontades. Com mãos ávidas ela se afastou somente o
suficiente para o encarar antes de desafivelar o cinto e abrir a calça jeans para
tocar seu membro sob o tecido de algodão da boxe branca.

O pré-gozo molhou a palma de sua mão quando apertou o pênis


inchado. Colin não havia mentido quando disse que estava duro. Ele parecia
uma barra de ferro entre seus dedos e não resistiu a se curvar para beijá-lo
sob o tecido antes de baixar o elástico e lamber a extremidade.

Imediatamente o gosto salgado explodiu em sua língua e seu gemido se


fundiu ao dele quando lambeu e chupou a cabeça redonda provocando uma
sucção torturante para Colin. Ele lutou para se controlar e não gozar em sua
boca antes da hora. A língua quente e macia associadas a pressão da sucção
eram enlouquecedoras.

— Porra, Andie — grunhiu, afundando os dedos por entre seus cabelos


e os segurando em punho e, com a outra mão guiando seu membro — abra a
boca e tome tudo. Quero foder até o fundo essa boca gostosa.

Ela o obedeceu engasgando-se com sua invasão.

— Relaxe a garganta — orientou — respire pelo nariz.

Ele era enorme, grosso e exigente, mas a lascívia do ato falou mais alto
e Andie se lançou naquela aventura de cabeça. Como uma boa aluna deixou
que ele invadisse sua boca até lágrimas brotarem em seus olhos e sua vagina
pulsar ansiosa.

— Isso, gostosa. Mama no pau do seu macho — disse entre dentes —


toma tudo nessa boca deliciosa, Andie. Isso... até o fundo, amor. Assim,
devagar.

A decadência de sua voz quase a fez gozar. Colin não era o tipo de
homem que se escondia atrás de belas palavras, ele gostava de expor seus
desejos e depravação sem medo e, isso só o tornava ainda mais pecaminoso.
A mão em seus cabelos não a deixava recuar ditando um ritmo brusco, porém
altamente erótico. Sentia-se dominada e livre ao mesmo tempo.

— Delícia, minha mulher é uma delícia — ele disse com os olhos


vidrados sobre a boca pintada de vermelho.

A imagem daqueles lábios ao redor do seu pau era a porra de um


afrodisíaco que fazia seu lobo uivar alto. Ele seria capaz de passar o restante
do voo naquela posição, mas o cheiro inconfundível de sua excitação não o
deixaria em paz até que estivesse alojado em sua vagina.

— Vem aqui! Hora de cavalgar o seu macho, companheira — se


retirou de sua boca e a sentou sobre seu pau, puxando o elástico da calcinha
para o lado — sente-se bem devagar, quero sentir cada centímetro dessa
buceta no meu pau — rosnou em seu ouvido.

Andie jogou a cabeça para trás quando a ponta pressionou sua entrada.
Mesmo excitada sentia a ardência da invasão causada por sua largura.

— Colin — gemeu.

— Schiii, amor. Tem que gemer, baixinho — sussurrou em seu ouvido


mordiscando a ponta de sua orelha.

Seu pedido era infame diante do tesão que exigia liberação, mas Andie
o atendeu deixando que seus gemidos se tornassem murmúrios ininteligíveis.

Colin a guiava com as mãos cravadas em seus quadris, ditando um


ritmo enlouquecedor que a impedia de buscar sua liberação antes da hora. Era
visível que ele a queria na borda, pois batia fundo enquanto esfregava o
polegar contra seu clitóris fazendo seu canal contrair e relaxar
involuntariamente, consumindo a ambos sem piedade.

— Por favor, Colin, por favor... me deixe gozar — suplicou baixinho,


lançando um olhar angustiado em sua direção.
Suas pernas tremiam por causa do esforço de subir e descer. A vagina
pulsava ansiosa... não iria durar muito se continuasse assim.

— Mostre os seios para mim — ordenou — quero que aperte os


mamilos enquanto goza no meu pau, Andie.

Aquilo foi demais.

Ensandecida retirou a blusa de lã, baixou as alças do sutiã e expôs os


seios para deleite de Colin. Os lindos montes estavam rígidos, pesados e tão
sensíveis que bastou um leve toque de seus dedos sobre os bicos para que um
orgasmo furioso varresse o corpo de Andie.

Grito preso na garganta, cabeça jogada para trás, olhos turvos de


paixão formaram a imagem mais erótica que os olhos de Colin haviam
presenciado em toda a sua vida. Sua companheira era a materialização do
pecado encarnado... a porra de uma deusa sedutora que explodia o seu
autocontrole.

O aperto da vagina em torno de seu pau o fez gozar com estocadas


violentas, bombeando para dentro sua semente quente até que vazasse por
entre eles, enquanto o vínculo os arrastava para mais uma rodada de sexo
quente e proibido.

Sem perder tempo, Colin, agarrou Andie pela nuca abocanhando um


dos seios enquanto a outra mão deslizava pelas costas até se alojar na brecha
que o levaria ao inferno. Sem pedir licença enfiou o indicador pela abertura
até alcançar a entrada do ânus fazendo uma leve pressão.

— Relaxa, amor. Vou comer o seu rabo bem gostoso também — sua
voz era algo tão decadente.

As pálpebras de Andie tremeram lânguidas por causa do orgasmo, mas


ela não se negou a atender seu desejo. Parecia que seu corpo havia ganhado
vontade própria diante das necessidades de Colin, então, mesmo enfraquecida
deixou que ele a erguesse devagar e posicionasse a cabeça de seu membro na
entrada intocada.

— Respire, vou colocar só a ponta — empurrou sentindo a resistência


— respire, Andie — passou as mãos por suas costas — vamos fazer isso
juntos. Sente-se bem devagar, deixe que meu pau encontre o caminho.

Não tinha jeito. A razão há muito a havia abandonado. Já não se


recordava de estar transando dentro de um avião, tudo que piscava em sua
mente eram as imagens de suas lembranças ao lado do grande amor de sua
vida. De alguma forma seu corpo sabia o que fazer, então, ela apenas deixou
que as coisas seguissem o seu fluxo colocando a dor em segundo plano e... se
fosse honesta reconheceria que era o tipo de dor que incitava a queda.

Como uma mulher livre de amarras sociais, ela deixou que o membro
de Colin afastasse suas pregas e adentrasse o seu corpo enquanto se
devoravam em um beijo pecaminoso.

Mãos possessivas exploravam seu corpo fazendo seu mundo despencar


em mil pedaços.

— Linda — gemeu contra seus lábios — rebola esse rabo no meu pau,
Andie. Vamos gostosa me deixa entrar em você.

Ela não precisou de mais nada para beirar a loucura.

O tesão que encontrou nos olhos de Colin a fez se sentir poderosa


acima da dor, assim, enfiando as mãos por entre os cabelos dele começou a
rebolar sem pudor adorando vê-lo se perder naquele momento de pura
luxúria.

Andie finalmente reconhecia que havia sido derrotada pelo capricho do


destino e aceitou o vínculo entregando-se as suas algemas. Ela estava
baixando suas armas e mandando a razão à merda, pois tinha certeza de que
nenhuma mulher em sã consciência abriria mão de um homem como Colin
Donovan. Então, quando gozou deixou que ele soubesse que ficaria para
sempre.
— Eu te amo, Colin... amo vocês dois — gemeu perdida entre seus
lábios.

Colin a abraçou e a amparou naquele turbilhão, deixou que seu amor o


envolvesse e lhe desse a paz que há muito ansiava, retirando um peso de
sobre seus ombros. Finalmente, sua companheira, o havia aceitado... aceitado
a ele e ao seu lobo. O que mais ele poderia desejar.

— Eu também te amo — estocou forte — eu te amo, Andie Sullivan.


Farei de você a mulher mais feliz desse mundo.

Aquilo era uma promessa que ele cumpriria com a própria vida se
fosse necessário, porque nada seria mais importante que sua companheira.

Quando desembarcaram Colin a levou para uma cabana no alto da


reserva florestal onde sua família costumava passar férias. Durante uma
semana eles se amaram como se não houvesse limites para tanto desejo.

O vínculo não os poupou, tampouco afrouxou seu domínio deixando


que Andie aprendesse sobre a importância de uma companheira na vida de
um licantropo. Aprendeu também sobre as lendas que na verdade eram
histórias de almas que teriam sido condenadas a um destino de solidão e
desespero se não fosse a coragem de uma mulher em superar a maldição para
ficar ao lado de seu grande amor.

Sentia-se cada vez mais seduzida pelas pequenas coisas que Colin fazia
para agradá-la, de como sempre achava uma forma de tocá-la ou afagar seus
cabelos. Ele parecia realmente interessado em tudo que ela dizia. Fazia
perguntas simples sobre sua vida, rotina e planos para o futuro.

E, foi somente então, que ela percebeu que havia muito tempo que
alguém realmente não a escutava sem interrompê-la ou dar sua opinião sobre
tudo.

Por sua vez Colin fez questão de compartilhar todos os seus desejos e
conhecer todas as limitações de sua companheira. Para ele era um prazer
saber cada detalhe de sua personalidade perfeccionista e aprender mais sobre
sua condição, absorvendo cada informação como uma esponja, montando o
incrível quebra-cabeça que era a sua companheira.

Descobriu que Andie era uma jovem com objetivos claros, criada com
um senso de realidade assustador, seus posicionamentos sobre política ou
economia eram sempre sensatos e nem um pouco radicais. Quando surgia
algum tema do qual ela não tinha uma ideia formada pedia sua opinião e o
ouvia atentamente.

Era uma jovem linda, espirituosa e inteligente. Havia muito tempo que
não se sentia bem ao lado de uma mulher, claro que o fato de ser sua
companheira pesava para que se encontrasse tão à vontade em sua
companhia, mas independentemente do vínculo, ele tinha certeza de que teria
sido inevitável que acabasse apaixonado por sua Tinker Bell.

Até seus pequenos gestos eram encantadores. A maneira como o


olhava, como umedecia os lábios, como frequentemente afastava uma mecha
invisível quando se sentia tímida em sua presença ou como prendia a
respiração quando ele a tocava... cada maldito detalhe o hipnotizava.

Andie era muito mais que sua companheira, era sua alma gêmea, sua
metade... seu mundo.
O tempo compartilhado no Canadá colaborara para que Andie tivesse a
certeza de que tomara a decisão certa em permanecer ao lado de Colin.

Algumas semanas após retornarem ele a convencera a se mudar para


sua casa alegando que desde o momento em que o vínculo fora estabelecido
eles não poderiam mais se afastar. Na verdade, tudo não passava de uma
grande desculpa criada por Colin devido ao resquício de medo que ainda
sentia ao imaginar que Andie poderia mudar de ideia.

Por isso, quando ela se instalara em seu novo lar, ele fizera questão de
que ela adaptasse a casa as suas necessidades e não reclamara quando a viu se
desfazer de alguns objetos que não se encaixavam em seus padrões de
organização.

— Tem certeza de que não se importa se eu substituir esses enfeites?


— ela perguntara em uma tarde fria.

— Amor, a casa é sua — ele dissera — faça o que você quiser —


piscou antes de entrar no banheiro e sorrir para a bancada onde seus produtos
de higiene pessoal haviam sido organizados por tamanho e cor.

Fez questão de memorizar cada um em seu devido lugar para que


Andie percebesse que ele a valorizava acima de suas próprias necessidades,
porque isso era amor.
Para Colin, o amor não era se anular em função do outro, mas entender
e apoiar suas limitações para que se sentisse parte de sua vida. E, Andie era
parte dele, portanto, tudo o que lhe dizia respeito era do seu interesse
também.

Para ele não fazia diferença alguma se as toalhas estivessem dobradas


ou não, se seus produtos estivessem organizados ou não por tamanhos e
cores, se os enfeites sobre a lareira fossem descartados na lixeira... desde que
ela estivesse feliz ele também estaria, porque amar era isso, fazer o outro
feliz.

— Será que sua mãe vai gostar da torta de camarão?

Era a terceira vez que ela lhe fazia a mesma pergunta.

— Vem aqui, Tinker Bell — bateu sobre a coxa.

Colin havia convidado os pais e os irmãos para o almoço de domingo,


pois ele ainda não havia retornado ao trabalho, tampouco reservado um
tempo para ver a família, por isso, Andie o havia convencido a reunir todos
para um almoço.

— Colin, não temos tempo para isso. Seus pais chegarão a qualquer
momento e ainda não concluí a sobremesa — disse desviando do seu olhar.

Mas, ele não se deu por vencido.

— Ah, Tinker Bell! Adoro quando você me contraria, amor — bateu as


duas mãos sobre a coxa. — Isso me obriga a provar meu ponto de vista.

Sem que Andie percebesse foi agarrada firme pela cintura e teve sua
boca saqueada em um beijo possessivo que roubou seus pensamentos.

Colin a ergueu do chão a obrigando a abraçar sua cintura com as


pernas e caminhou até o quarto onde a colocou deitada sobre a cama.

— Colin — suspirou por entre o beijo — seus... pais...


— Concentre-se em mim, amor — mordeu seu lábio — abra as pernas
— ordenou.

Como sempre, ela o obedeceu para em seguida ser invadida sem


piedade até que seu corpo atingisse o céu e se quebrasse em milhões de
pedacinhos. Colin sabia como distraí-la quando estava à beira de um dos seus
surtos. Ele havia se tornado a válvula de escape para suas obsessões.

Quando ele tornou a admirar seus lindos olhos, sorriu com a languidez
que a cobria.

— Tome um banho, amor. Eu cuido do resto, prometo que tudo estará


em ordem quando você descer — beijou a ponta do seu nariz antes de se
erguer e fechar a calça como se não a tivesse tomado loucamente. — Não
quero que se canse muito, tenho planos para você essa noite — piscou antes
de sair do quarto.

Andie tinha um sorriso bobo nos lábios quando ficou sozinha, pois se
lembrava muito bem da última vez que Colin havia feito uma promessa
similar àquela e de como ficara incapacitada de se sentar sem que uma
dorzinha gostosa a fizesse se recordar do quanto ele podia ser viril e
exigente.

Ao seu lado ela se tornava uma devassa, constatou mordendo os lábios


antes de correr para o banheiro e apagar os vestígios do interlúdio amoroso.

Enquanto isso, Colin cumpria com sua palavra deixando tudo pronto
para a chegada de sua família. Ele fizera questão de enviar mensagens a todos
a fim de que evitassem mexer nos objetos ou reorganizar a mesa para que
Andie não se sentisse perturbada por causa do TOC, pois sabia que sua
família faria todo o possível para que sua companheira se sentisse acolhida.

Eles eram uma matilha muito unida e costumavam se apoiar em tudo,


por isso, quando todos chegaram se alegrou ao ver a maneira como
respeitaram as mudanças ocorridas em sua casa.
— Hoje é lua cheia — seu pai disse misterioso.

— Sim — Colin respondeu sem desviar os olhos de Andie que estava


sentada na companhia de sua mãe e de Katie.

Após o almoço haviam decidido tomar um refresco perto da piscina.

— Como foi a interação com seu lobo? Acha que ela está pronta? —
seu pai perguntou.

— Está sim — havia convicção em sua voz — Andie sabe que


não precisa temê-lo.

— Fico feliz em ver que finalmente está bem, meu filho — apertou seu
ombro — eu e sua mãe oramos muito para que encontrasse sua companheira
e quando a achou, oramos para que ela o aceitasse.

— Obrigado, pai — sorriu — sei que tornei as coisas difíceis entre nós
por um tempo, mas agora tudo será diferente. Embora Andie ainda esteja se
adaptando a nossa realidade, ela tem se mostrado uma companheira
maravilhosa.

— Isso é bom, meu filho. Isso é muito bom. Sua mãe também parece
gostar muito dela — observou como as duas interagiam — acho que serão
ótimas amigas.

— Assim espero.

— O que fará esta noite?

— Ainda não sei, mas acho que ficarei em casa. Talvez Andie queira
assistir um filme.

Colin estava ansioso para ver como ela reagiria a presença de seu lobo.
Ele não pretendia passar a noite toda transformado, mas sabia que o animal
merecia seu tempo ao lado de sua peeira.
Mesmo que eles já tivessem interagido não tinha certeza se ela ficaria
contente em passar a noite ao lado de um animal peludo.

— Estou vendo uma ruga se formar em sua testa. Qual é o problema?

— Será que ela ficará à vontade sozinha com ele?

— Só há uma forma de descobrir — seu pai disse com um sorriso


malicioso.

— Como? — o fitou realmente interessado, sabia que podia confiar em


seu pai para orientá-lo quanto ao assunto.

Daniel Donovan deu um passo à frente e começou a tirar os sapatos


com toda a calma do mundo, depois deu uma piscadela para Colin antes de
começar a tirar a camisa. Quando compreendeu o que seu pai tinha em mente,
Colin embarcou na brincadeira e começou a se livrar das roupas sem que as
mulheres se dessem conta do que estavam aprontando.

Quando deixaram seus lobos assumirem o controle a primeira a notar


suas presenças foi Andie que prontamente abriu um sorriso largo para o
grande animal de pelagem preta. O uivo alto aqueceu seu coração como se a
saudasse no âmago de sua alma.

— Eles são lindos, não são — sua sogra sussurrou acenando para que o
lobo marrom ao lado do filho se aproximasse.

— Sim, eles são — Andie disse recebendo Colin com carícias atrás das
orelhas — ele nunca me disse como seu lobo se chama.

— Ah, querida — Greta acariciou o esposo dando tapinhas em seu


peito robusto enquanto dizia — eles não têm nome até encontrarem suas
companheiras.

— Como não?

— Até que um licantropo encontre sua alma gêmea ele está


incompleto, somente quando o vínculo se estabelece é que ele pode receber
um nome dado por sua companheira. Você pode escolher um se quiser ou
perguntar a Colin a sua preferência, mas acho que ele gostaria que você
mesma decidisse isso.

Andie encarou o grande lobo preto de olhos ambarinos como se o


estivesse questionando, de repente o nome Kratos brilhou em sua mente.

— Kratos — disse encarando o animal — o que acha desse nome


Colin?

O lobo lambeu sua mão e começou a ronronar antes de uivar alto,


fazendo Katie gargalhar.

— Nossa, irmão! Nunca pensei que ficaria tão feliz ao receber o nome
de uma personagem de jogos eletrônicos.

— Pare com isso, Katie — sua mãe ralhou — Andie escolheu um


nome forte para presentear seu irmão.

— Mamãe tem razão, pestinha — Jason entrou segurando uma bandeja


com as xícaras de café. — Acho que os dois aí vão perder o café da tarde —
apontou para os lobos antes de pousar a bandeja sobre uma mesinha.

Kratos correu pelo jardim seguido por seu pai que o perseguia em um
jogo particular entre os dois animais. Enquanto isso, Andie continuava se
distraindo na companhia de sua sogra e dos cunhados, mas sempre com um
olho sobre seu lobo.

Ela jamais imaginou que um dia faria parte de uma família de


licantropos e peeiras, mas estava feliz por ter sido escolhida pelo destino para
viver ao lado de seu companheiro. É verdade que no início precisou vencer
suas inseguranças e até mesmo suplantar a razão para aceitar a realidade de
Colin, contudo, agora que seu coração havia triunfado sobre todas as
inseguranças, estava pronta para passar o resto de sua vida amando e sendo
amada pelo único homem que realmente a desejava com todas as forças.
Assim, quando a noite caiu, ela e Katie começaram a organizar as
coisas para que tudo ficasse em seu devido lugar enquanto Jason e sua sogra
terminavam de limpar a área externa. Mas, quando finalizaram ela quase
infartou ao ver os dois lobos deitados com as patas sujas de terra sobre o
tapete da sala.

— Colin Donovan — Andie gritou com as mãos na cintura — juro que


se não voltar agora e limpar toda essa sujeira vai dormir no sofá a semana
inteira.

O lobo prontamente ergueu a cabeça e as orelhas muito atento a sua


ordem antes de sair porta afora atrás de suas roupas, ele jamais aceitaria
dormir longe de sua companheira, isso seria inadmissível.

Depois que retornou e deixou tudo limpo como ela desejava aguardou
que a noite caísse para cumprir sua promessa. Sua companheira era uma
mulher insaciável quando estava em seus braços e ele um homem faminto por
seu corpo, ou seja, o casamento perfeito. Se continuassem naquele ritmo em
breve aumentariam a família, mas por enquanto queria aproveitá-la somente
para si. Havia muito ainda para compartilharem antes de darem o próximo
passo.

A felicidade do casal foi como um alento para os pais de Colin, agora


só faltava Jason encontrar sua companheira antes que fosse tarde demais.

FIM
AGRADECIMENTO

Eu quero agradecer a todos que me ajudaram a criar este livro, exceto


aqueles que não conseguiram entender que eu tenho meu próprio tempo
criativo — estou brincando.

Este talvez tenha sido o livro mais rápido de todos, não porque a
estória já estivesse pronta em minha cabeça, longe disso, mas por ter sido
escrito dentro de uma pressão imposta por mim e minhas próprias
necessidades pessoais em me disciplinar como autora.

Esse processo foi totalmente novo e exaustivo em diversos aspectos,


por isso, eu preciso agradecer a Deus pelo dom criativo para essa construção,
por ter me dado um esposo paciente e compreensivo que abriu mão de noites
sem minha companhia e de mais quatro dias de nossas férias para que eu
pudesse concluir esse livro. Eu te amo tanto, meu amor. Sou tão grata por sua
vida.

Quero agradecer também a minha assessora e beta que não largou


minha mão em nenhum momento, abrindo espaço em seu tempo particular
para me atender e incentivar todos os dias. Hylanna, se não fosse você e sua
incrível paciência eu não teria concluído essa estória, esse livro é tão meu
quanto seu. Colin e Andie são o resultado dessa parceria incrível, te amo.

Não posso esquecer da Silmara, uma leitora amiga que ganhei nessa
caminhada insana e que me ajudou muito na compreensão do TOC e todo o
seu processo na vida de uma pessoa dentro dessa condição. Obrigada por me
atender no meio do expediente e por se doar tão abertamente, você é linda e
tem um lugar em meu coração.

E por fim, as minhas leitoras que divulgaram Colin e Andie antes


mesmo de serem lançados na Amazon. Vocês são incríveis, espero que a
estória de amor desse casal maravilhoso tenha conquistado os seus corações.
Com amor,

Glau
MENSAGEM DA BETA

Como foi especial participar do processo de criação desta obra.

Já estamos trabalhando juntas a algum tempo e praticamente uma sabe


o que a outra está pensando, mas o trabalho realizado neste livro foi especial.

Acredito que o encontro de almas entre Colin e Andie foi tão intenso e
poderoso que nos absorveu completamente.

Quero agradecer mais uma vez pela confiança em mim e ressaltar o


quanto trabalhar com você é gratificante e enriquecedor.

E aos leitores, desejo que o amor de Colin e Andie tenha contagiado


vocês e alegrados seus corações.

Nos vemos em breve, na próxima criação maravilhosa da nossa


querida G.C Jiménez.

Com Carinho,

Hylanna Lima

(Assessora e Beta)
CONHEÇA MEUS OUTROS LIVROS

ALIANÇA - O NOVO PAKHAN

LIVRO 1

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SINOPSE

A maior organização criminosa da Ásia, tem um novo chefe.

Alexei Dubrov, mais conhecido como Darkness, assume a liderança da


Bratva e planeja ser aclamado como Pakhan da Irmandade, controlando dessa
maneira a maioria das famílias da organização e expandindo o seu poder de
atuação pelo mundo do crime. Mas, o Conselho de Anciãos não está
convencido de sua capacidade para liderar a máfia mais poderosa da história,
e teme por sua aclamação, pois acreditam que seu temperamento volátil
colocará a vida de todos em risco.

As incertezas na Bratva agitam o submundo e ameaçam a estabilidade


da organização, obrigando Alexei a lutar pelo seu direito de sangue, o
coagindo a formar alianças que garantam o seu poder.

Amanda Abramov retorna à Moscou, após cinco anos longe do lugar


onde teve seu coração dilacerado. A herdeira da Tríade precisa apoiar as
decisões de sua família e garantir que os Abramov permaneçam no poder,
para isso terá que lutar contra sentimentos que acreditava ter sepultado após
sua partida.

Uma aliança precisa ser feita para garantir o status quo na Irmandade.
Alexei e Amanda podem ser a chave para acalmar os ânimos, ou podem ser o
motivo para uma guerra.

Entre segredos, mentiras, ciúmes e traições, os dois herdeiros lutarão


pela sobrevivência de suas famílias e a honra de seus mortos.
ALIANÇA - SEGREDOS REVELADOS

LIVRO 2

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SINOPSE

A aliança entre os herdeiros da máfia transformou Alexei Dubrov no


Pakhan da Bratva e concedeu à Amanda acesso ao seu coração, mas um
atentado ameaça destruir suas conquistas e arruinar com os planos de
dominar a Europa.

Agora eles precisarão lutar contra um inimigo que se mantém à


sombra, enquanto lidam com sentimentos controversos. Alexei quer preservar
a alma de sua esposa, mas ela deseja vingança a qualquer preço e ele terá que
mostrar o quão arriscado pode ser perder sua humanidade.

Em meio à busca por vingança, eles estão dispostos a formar uma nova
aliança usando desta vez a herdeira da Tambovskaya e o Chefe dos
Executores, sem saber que tal união trará à tona segredos mortais que farão
com que laços de sangue sejam desfeitos e o passado volte para cobrar os
seus pecados.
Entre incertezas e traições, Alexei descobrirá que Amanda é muito
mais que um meio para permanecer no poder e será surpreendido por sua
força e sagacidade, quando assistir à máfia se render aos seus pés.

Amanda Dubrova está disposta a provar porque merece ser a dama da


Bratva e governar o submundo ao lado do Darkness.
ALIANÇA - HONRA, LEALDADE E SANGUE

LIVRO 3

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SINOPSE

Os últimos acontecimentos colocaram a Bratva no centro das atenções


do crime organizado, uma vez que diversas facções acreditavam que com o
retorno de Irina Dubrova o antigo status quo será restaurado na máfia russa,
possibilitando o retorno de acordos comerciais abolidos pelo novo Pakhan.

Mas, o que ninguém sabia era que Alexei estava disposto a tudo para
evitar que isto acontecesse, inclusive romper com laços eternos e iniciar uma
guerra pelo controle absoluto da Irmandade. Para isto, ele contava com a
lealdade de sua companheira e a fidelidade de seus homens, que acreditavam
que a união dos dois herdeiros colocaria a maioria das facções criminosas sob
seu comando e influência.

Além disso, a notícia da bravura e determinação de Amanda se


espalhou pelos quatro cantos da Rússia, fazendo com que o mundo do crime,
até pouco tempo governado por homens, reverenciasse a esposa do Darkness
e reconhecendo sua capacidade de lidar com sua brutalidade, deixando Alexei
confortável para viver sem parte de sua humanidade sabendo que Amanda o
aceitava sem qualquer reserva.

Finalmente, o Pakhan está pronto para trazer destruição sobre seu


maior adversário, aquele que acreditou que poderia se esconder por entre as
sombras e continuar vivendo no meio de sua família sem levantar suspeitas.

Um novo capítulo está sendo escrito na história da Bratva e ninguém


está pronto para o casal que trará sangue sobre a própria mesa. O medo agora
possui um nome e até os mais inocentes irão temer a aliança de sangue.
O DESTINO DA CIGANA

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SINOPSE

No ano em que os reis católicos conquistaram Granada, a população


das terras Andaluzas acreditava que a paz finalmente reinaria. No entanto,
tudo não passou de um grave equívoco, pois com a ascensão do Reino de
Castela e Leão, veio também o governo da Igreja Católica e a severa
perseguição religiosa na região, expulsando judeus e pagãos de seus lares.
Agora, um século depois, a Coroa Espanhola precisa combater a Revolta dos
Mouriscos e, para isso, convoca o valente capitão Fernando Lozano. Por sua
vez, ele se valerá de sua missão para fugir da dor em seu coração machucado,
deixando para trás uma jovem cigana com um bastardo em seu ventre.

Entregue à própria sorte, Dandara sofrerá nas mãos daqueles que


destruíram seu grande amor. Mas o destino se encarregará de trazer Lozano
de volta, para correr contra o tempo e salvar a única mulher que amou em sua
vida.

Em meio a preconceitos, presságios e armações, o amor será posto à


prova e o destino da cigana estará traçado nas rodas do tempo.
O DESTINO DO BARÃO

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SINOPSE

Juan Diaz acaba de retornar vitorioso da Guerra contra os Mouriscos.


Aclamado por todo o reino espanhol como um grande herói, é convocado
pelo Rei Felipe II para mais uma missão que mudará o rumo de sua vida:
casar-se com a jovem Isabelle Bremen, filha do Conde de Limburgo do Sacro
Império Germânico. Tudo o que o Barão de Valladolid não desejava era
casar-se novamente, ainda mais com uma jovem com idade para ser sua filha.

Com as tensões religiosas se espalhando pela Europa do século XVI. O


casamento de Juan e Isabelle promete fortalecer a aliança entre os nobres
católicos de ambos os reinos. O único problema é que a jovem em questão é
simpatizante das ideias de Martinho Lutero e uma crítica fervorosa das
atrocidades cometidas em nome da fé pela Santa Inquisição e seu futuro
esposo é o atual Comandante do Terço e defensor da Santa Igreja.

Um homem que despreza o amor e uma jovem de língua afiada


descobrirão que nem todos os segredos devem ser guardados e que nem tudo
o que se vê é a realidade.
RELATOS EM CHAMAS

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SINOPSE

O cotidiano de cidadãos comuns é abalado quando a guerra se


inicia entre duas nações irmãs, colocando suas vidas em risco, enquanto
assistem de suas janelas suas cidades serem devastadas pela brutalidade do
confronto.

Um jovem casal obrigado a se separar em um momento delicado. Um


comandante austero que só pensa na carreira. Uma correspondente de guerra
que negligencia a família e, um garoto sonhador, terão suas vidas marcadas
pela guerra.

Relatos em Chamas traz quatro contos inspirados nos noticiários e que


se interligam pelas consequências dos ataques brutais em meio a luta pela
sobrevivência.

Por trás de cada um, há uma história de vida, um amor, uma disputa,
uma negação... um sonho.
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[1] Termo utilizado para determinar uma pessoa que trabalha compulsivamente.
[2] Peeira ou fada dos lobos é o nome que se dá às jovens que se tornam guardadoras ou companheiras
de lobos. Elas são a versão humana e feminina do lobisomem e fazem parte das lendas de Portugal e da
Galícia A peeira tem o dom de comunicar e controlar alcateias de lobos.
[3] Segundo as lendas da Grécia Antiga, Licaon reinou na região conhecida como Arcádia e, foi punido
por Zeus, após tentar assassiná-lo ao servir carne humana para o deus grego.
[4] Vem da palavra grega Lykosanthripos que significa Lykos (lobo) e Anthropos (homem) daí o termo
Lobisomem.
[5] Lycan é o termo usado para definir um lobisomem.
[6] Desenho animado sobre uma fada que leva esse nome.
[7] Nome dado para a rotina com os cuidados com a pele.
[8] TOC ou transtorno obsessivo-compulsivo, é um distúrbio psiquiátrico de ansiedade descrito no
“Manual de Diagnóstico e Estatística de Transtornos Mentais – DSM V” da Associação de Psiquiatria
Americana. A principal característica do TOC é a presença de crises recorrentes de obsessões e
compulsões.
[9] Seres com habilidade para mudar de forma: animal ou hibrida. Ao contrário dos lobisomens esses
seres são racionais e não podem ser transformados, ou seja, eles nascem assim e não são influenciados
pela lua.
[10] Licaon ou Licaonte na mitologia grega era filho de Pelasgo, primeiro rei mítico da Arcádia.
[11] É considerado o pai dos deuses na mitologia grega.

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