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Material Iii
Material Iii
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Dando continuidade a matéria, e conforme frisado nas aulas anteriores, o artigo 242 do Código Civil Brasileiro, que
trata das modificações e frutos dos bens na obrigação de dar coisa certa na modalidade restituir nos remete ao direito
de propriedade bem como a necessidade de verificação de conceitos relativos ao possuidor de boa fé e má fé.
Art. 242. Se para o melhoramento, ou aumento, empregou o devedor trabalho ou dispêndio, o caso se regulará pelas
normas deste Código atinentes às benfeitorias realizadas pelo possuidor de boa-fé ou de má-fé.
Parágrafo único. Quanto aos frutos percebidos, observar-se-á, do mesmo modo, o disposto neste Código, acerca do
possuidor de boa-fé ou de má-fé.
Portanto, para entendimento do artigo 242, caput, obrigatoriamente temos que nos remeter ás disposições relativas às
benfeitorias, conforme já detalhado nas aulas anteriores.
Passemos a transcrição das disposições legais relativas ás benfeitorias constantes no Código Civil, frisando que o
conceito e classificação de benfeitorias esta expresso no artigo 96 do Código Civil Brasileiro, o qual prevê:
Quanto á realização das benfeitorias pelo possuidor de má fé e boa fé (devedor do bem na obrigação de restituir),
temos ás seguintes disposições constantes no artigo 1219 e 1220 do Código Civil Brasileiro:
Art. 1.219. O possuidor de boa-fé tem direito à indenização das benfeitorias necessárias e úteis, bem como, quanto às
voluptuárias, se não lhe forem pagas, a levantá-las, quando o puder sem detrimento da coisa, e poderá exercer o
direito de retenção pelo valor das benfeitorias necessárias e úteis.
Art. 1.220. Ao possuidor de má-fé serão ressarcidas somente as benfeitorias necessárias; não lhe assiste o direito de
retenção pela importância destas, nem o de levantar as voluptuárias.
Das disposições constantes no Código Civil Brasileiro podemos concluir que Benfeitoria é toda obra
realizada pelo homem na estrutura de um bem, com o propósito de conservá-lo, melhorá-lo ou
proporcionar prazer ao seu proprietário.
As benfeitorias podem ser: necessárias, úteis ou voluptuárias, ressaltando-se que cada uma delas produz
um efeito jurídico.
Necessárias são aquelas que se destinam à conservação do imóvel ou que evitam que ele se deteriore.
Exemplo: os reparos de um telhado, infiltração ou a substituição dos sistemas elétrico e hidráulico
danificados serão benfeitorias necessárias, vez que conservam o imóvel e evitam sua deterioração.
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As benfeitorias úteis são obras que aumentam ou facilitam o uso do imóvel. Exemplo: a construção de
uma garagem, a instalação de grades protetoras nas janelas, ou o fechamento de uma varanda são
benfeitorias úteis, porque tornam o imóvel mais confortável, seguro ou ampliam sua utilidade.
Já as benfeitorias voluptuárias não aumentam ou facilitam o uso do imóvel, mas podem torná-lo mais bonito ou
mais agradável. Exemplo: as obras de jardinagem, de decoração ou alterações meramente estéticas. Ou ainda as de
cunho recreativo como piscinas (a piscina não aumenta a utilidade da casa ou apartamento para a finalidade dele,
que é de servir de moradia e abrigo)
Portanto, tomando por norte ás disposições do artigo 242, caput, e artigo 1219 e 1220 do Código Civil, podemos
estabelecer os seguintes esquemas acerca das melhorias realizadas em bens quando se trata de obrigação de
restituir:
BENFEITORIA NECESSÁRIA Possui Direito à indenização pelos Poderá reter a coisa até o efetivo
gastos pagamento
BENFEITORIA ÚTIL Possui Direito à indenização pelos Poderá reter a coisa até o efetivo
gastos pagamento
BENFEITORIA VOLUPTUÁRIA O devedor pode levantar o bem Não há direito a retenção.
desde que não cause detrimento do
bem, restando ao credor Se as benfeitoria não puderem ser
proprietário a opção de indenizar o levantadas sem detrimento do bem
devedor pela benfeitoria não haverá direito a indenização
voluptuária e permanecer com esta
BENFEITORIA NECESSÁRIA Possui Direito à indenização pelos Não pode reter a coisa
gastos
BENFEITORIA ÚTIL Não possui Direito à indenização Não pode reter a coisa
BENFEITORIA VOLUPTUÁRIA Não possuir direito a levantamento Não pode reter ou levantar a coisa
ou indenização
O artigo 242, parágrafo único do Código Civil prevê o seguinte acerca dos frutos gerados pelo bem:
Parágrafo único. Quanto aos frutos percebidos, observar-se-á, do mesmo modo, o disposto neste Código, acerca do
possuidor de boa-fé ou de má-fé.
Desta forma, o artigo 242, parágrafo único do Código Civil nos remete aos artigos 1214 e 1216 do Código Civil, os
quais dispõe o seguinte:
Art. 1.214. O possuidor de boa-fé tem direito, enquanto ela durar, aos frutos percebidos.
Parágrafo único. Os frutos pendentes ao tempo em que cessar a boa-fé devem ser restituídos, depois de deduzidas as
despesas da produção e custeio; devem ser também restituídos os frutos colhidos com antecipação.
Art. 1.216. O possuidor de má-fé responde por todos os frutos colhidos e percebidos, bem como pelos que, por culpa
sua, deixou de perceber, desde o momento em que se constituiu de má-fé; tem direito às despesas da produção e
custeio.
Primeiramente, para fins de melhor entendimento da matéria, necessário frisar quais são as espécie de frutos:
Naturais
São aqueles que provêm diretamente da coisa principal, eventualmente com o concurso do trabalho humano (ex:
produtos agrícolas, partes aproveitáveis de animais),aqueles que não são passados pela indústria.
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Industriais
Assim se denominam os que aparecem pela mão do homem, isto é, os que surgem em razão da atuação ou indústria do
homem sobre a natureza, como a produção da fábrica.
Civis
Os frutos civis são os rendimentos produzidos pela utilização econômica da coisa principal, decorrentes da concessão
do uso e gozo da coisa (ex: juros, aluguéis, prestações periódicas, em dinheiro, decorrentes da concessão do uso e
gozo do bem).
Acerca dos frutos percebidos, também irá depender se o possuidor da coisa (devedor na obrigação de restituir) está de
boa-fé ou má-fé, sendo possível estabelecer as seguintes conclusões:
Frutos Percebidos (já colhidos): pertencem ao devedor enquanto durar a boa fé.
Exemplo: João arrenda de José uma fazenda na qual existe uma plantação de pés de laranja.
João esta cumprindo devidamente com a contraprestação financeira compactuada e o prazo do contrato ainda esta
vigente. As laranjas (frutos), colhidas neste período pertencem a João.
Frutos Pendentes (não colhidos), pertencem ao credor (proprietário do imóvel), quando termina a boa fé do
devedor:
Exemplo: No exemplo anterior João passa a descumprir o acordo celebrado entre ás partes gerando a sua notificação e
consequente rescisão do contrato em dezembro de 2023, passando a deixar de configurar sua boa fé. Nesta data
(dezembro de 2023), haviam laranjas verdes ainda pendentes de colheita, cessada a boa fé do devedor os frutos
pendentes são pertencentes ao proprietário do bem (credor).
Observação: Neste caso o proprietário (credor) deverá pagar ao devedor (possuidor) pelas despesas de produção e
custeio.
No exemplo anterior, João, em novembro de 2023, antes de cessada a boa fé mas já ciente que iria deixar de cumprir o
contrato e dar causa a rescisão, colhe antecipadamente todas as laranjas verdes da colheita antes do período correto.
Tais frutos pertencem ao credor, sendo de direito do devedor somente as despesas para custeio e produção.
No exemplo anterior, após a configuração da má-fé o devedor (João) colhe todas as frutas verdes e maduras existentes
na plantação.
Neste caso João deverá devolver os frutos ou indenizar José, sendo devido a João tão somente as despesas realizadas
para produção e custeio.
Após o inicio da má-fé João abandona a colheita deixando que todas ás laranjas apodreçam no pé.
Neste caso José deverá ser indenizado por estes frutos, porém, também é devido a João as despesas de produção e
custeio.
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DA OBRIGAÇÃO DE DAR COISA INCERTA (ARTIGO 243 A 246):
Art. 243. A coisa incerta será indicada, ao menos, pelo gênero e pela quantidade.
Art. 244. Nas coisas determinadas pelo gênero e pela quantidade, a escolha pertence ao devedor, se o contrário não
resultar do título da obrigação; mas não poderá dar a coisa pior, nem será obrigado a prestar a melhor.
Art. 246. Antes da escolha, não poderá o devedor alegar perda ou deterioração da coisa, ainda que por força maior
ou caso fortuito.
Antes de adentrarmos na matéria é de suma importância salientar que a grande maioria da doutrina entende que a
nomenclatura obrigação de dar coisa incerta esta incorreta, eis que a coisa no presente caso é elegível, passível de
escolha e definida por gênero e quantidade (exemplo: 01 cavalo), mas não é incerta!
A obrigação de dar coisa certa é definida por gênero, qualidade e quantidade (01 cavalo marrom de peso tal, raça tal,
idade tal)
No caso da obrigação de dar coisa incerta estamos nos referindo ao objeto determinável, ou seja, que será futuramente
escolhido (determinado).
Quanto a escolha da coisa incerta, esta é definida como concentração e esta expressa no art. 244 do Código Civil:
“Nas coisas determinadas pelo gênero e pela quantidade, a escolha pertence ao devedor, se o contrário não resultar
do título da obrigação; mas não poderá dar a coisa pior, nem será obrigado a prestar a melhor”.
O artigo 244 segue o critério da qualidade média, o devedor não pode dar a coisa pior e nem é obrigado a dar a coisa
melhor.
Após o credor ser cientificado da escolha a obrigação passa a ser de dar coisa certa!
O artigo 246 se refere a perda e deterioração “Art. 246. Antes da escolha, não poderá o devedor alegar perda ou
deterioração da coisa, ainda que por força maior ou caso fortuito”.
O gênero não perece (genus nunquam perit), portanto, enquanto incerta, não realizada a concentração (escolha) não
poderá ser alegada a perda ou deterioração da coisa.
Disposição Doutrinária:
Denominada obrigação genérica, a expressão obrigação de dar coisa incerta indica que a obrigação tem por objeto
uma coisa indeterminada, pelo menos inicialmente, sendo ela somente indicada pelo gênero e pela quantidade,
restando uma indicação posterior quanto à sua qualidade que, em regra, cabe ao devedor. Na verdade, o objeto
obrigacional deve ser reputado determinável, nos moldes do art. 104, inc. II, do CC.
A título de exemplo, pode ser citada a hipótese em que duas partes obrigacionais pactuam a entrega de um animal que
faz parte do rebanho do vendedor (devedor da coisa). Nesse caso, haverá a necessidade de determinação futura do
objeto, por meio de uma escolha.
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Assim, coisa incerta não quer dizer qualquer coisa, mas coisa indeterminada, porém suscetível de determinação futura.
A determinação se faz pela escolha, denominada concentração, que constitui um ato jurídico unilateral. Assim,
enuncia o art. 243 do atual Código Civil que a coisa incerta será indicada, ao menos, pelo gênero e pela quantidade.
O art. 244 do mesmo diploma civil expressa que nas coisas determinadas pelo gênero e pela quantidade a escolha ou
concentração cabe ao devedor, se o contrário não resultar do título da obrigação. De qualquer forma, cabendo-lhe a
escolha o devedor não poderá dar a pior. Ademais, não será obrigado a prestar a melhor.
A segunda parte do dispositivo legal apresenta o princípio da equivalência das prestações, pelo qual a escolha do
devedor não pode recair sobre a coisa que seja menos valiosa. Em complemento, o devedor não pode ser compelido a
entregar a coisa mais valiosa, devendo o objeto obrigacional recair sempre dentro do gênero intermediário. Aplicando-
se a proporcionalidade ao art. 244 do CC, se a escolha couber ao credor, este não poderá fazer a opção pela coisa mais
valiosa nem ser compelido a receber a coisa menos valiosa. Mais uma vez aplica-se o princípio da equivalência das
prestações, fixando-se o conteúdo da obrigação no gênero médio ou intermediário.
Em todo o conteúdo do art. 244 do CC, valoriza-se a vedação do enriquecimento sem causa (arts. 884 a 886 do CC),
sintonizada com a função social obrigacional e com a boa-fé objetiva.