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1.

O respeito pela vida – O sexto mandamento

Textos: Êxodo 20.13, Mateus 5:21-26 e 1 João 3:12ª

- Conforme vimos nas aulas passadas, a base da ética cristã é a Escritura. Aquilo
que é certo ou errado é definido pela Palavra de Deus.

- Quando falamos de pena de morte, legitima de defesa, guerra, aborto, suicídio e


eutanásia, o fundamento para analisarmos se há uma quebra de principio ético é o
sexto mandamento, Não matarás.

- Em uma era de tanta violência e de tamanha desvalorização da vida humana, a partir de


agora, entraremos em uma aula que está envolvida em muitos assuntos polêmicos nos
nossos dias, a morte do outro.

- O sexto mandamento, não matarás, tem sido ora negligenciado, ora mal compreendido.
E, algumas vezes, parece que até mesmo os cristãos estão perdidos com relação a este
mandamento. Afinal, qual é a extensão do "não matarás"? O que significa não matar? O
sexto mandamento é aplicável em situações de guerra? Qual a resposta bíblica diante da
crescente criminalidade? O homem tem direito de morrer com dignidade e sem dores?
Até quando é justo prolongar a vida por meios artificiais?

- A dúvida fica ainda mais notória quando um jovem cristão é alistado para a guerra, por
exemplo – algo que, pela graça de Deus, não é comum em nosso país, mas que o é em
outros lugares do mundo onde há crentes.

- Também surge grande divergência de opiniões quando o assunto é pena de morte ou


aborto... Enfim, a compreensão do sexto mandamento é fundamental para que nos
posicionemos com relação a algumas questões sociais nas quais ou estamos ou podemos
estar envolvidos.

- O princípio bíblico é sempre o de valorizar a vida humana, por ser imagem de


Deus. - Thiago Guerra
1. O que é o sexto mandamento?

- Algumas confusões são feitas entorno do sexto mandamento. Por exemplo, quando se
fala em questões sobre o cristão poder ser ou não a favor da pena de morte, ou se o cristão
pode matar em legitima defesa, muitos que se posicionam contra apelam para este
mandamento.

- Mas, será que o mandamento proíbe tais ações?

- Primeiro devemos perguntar, quais os pecados proibidos no sexto mandamento?

- De acordo com o Catecismo Maior de Westminster, pergunta 136, diz que os pecados
proibidos são “Os pecados proibidos no sexto mandamento são: o tirar a nossa vida ou
a de outrem, exceto no caso de justiça pública, guerra legítima, ou defesa necessária;
a negligência ou retirada dos meios lícitos ou necessários para a preservação da vida;
a ira pecaminosa, o ódio, a inveja, o desejo de vingança; todas as paixões excessivas e
cuidados demasiados; o uso imoderado de comida, bebida, trabalho e recreios; as
palavras provocadoras; a opressão, a contenda, os espancamentos, os ferimentos e tudo
o que tende à destruição da vida de alguém.”

- O princípio é o seguinte, quebramos o sexto mandamento quando causamos males a


nossa vida ou a do próximo.

- Uma segunda pergunta que devemos fazer é, o que significa matar?

- Há pelo menos sete termos hebraicos traduzidos por matar no português.

- O sexto mandamento foi traduzido de uma maneira que acaba gerando estas dúvidas. A
tradução literal é: Não assassinarás. No hebraico é uma sentença bem simples: lo (‫ ל ֹא‬-
partícula de negação) + ‫ רצח‬ratsach, a sentença fica: ‫֥ ֖ל ֹא ִֿתּ ְר ָ֖צֽ ח‬
- O verbo ratsach encontra-se no tempo verbal do QAL, no hebraico, lembre-se que o
tempo verbal no hebraico tá mais ligado a ação do verbo do que o momento em que ele
foi executado. Neste caso, ratsach significa o ato de assassinar alguém de forma
premeditada ou como vingador. Ou seja, se refere à matança ilegal de seres humanos.
- Detalhe, este verbo nunca é usado para indicar um assassinato em legitima defesa,
morte por acidente, execução de assassinos (pena capital), ele não é usado para o
abate de animais ou para morte na guerra. Porém é ele é usado para referências ao
suicídio.

- Bom, este mandamento parece ser bem obvio. Porém, outras perguntas precisam ser
feitas para compreendermos o que de fato ele proíbe, como esse mandamento se faz
relevante nos nossos dias e de que maneira Jesus aprofunda e redireciona esse
mandamento.

2. O que o sexto mandamento não proíbe e quais as considerações teológicas

- De forma bem breve, o sexto mandamento proíbe tirar a vida de um inocente.

- Note que, quando alguém cometia um crime de assassinato, esta pessoa podia se
abrigar nas chamadas Cidades de Refúgio, para fugir de amigos e parentes
enfurecidos em busca de vingança, enquanto os juízes analisam o caso.

- Numa definição ética do que vem a ser um crime, podemos definir como: Um crime
ocorre quando um ato é praticado, ou negligenciado, violando uma lei pública
considerada necessária para a proteção e o bem-estar geral das pessoas governadas
por esta lei.

- Sendo assim, invadir uma propriedade privada é crime.

- Isto porque, a pena capital por assassinato era administrada pela família da vítima no
antigo Israel.

- No antigo testamento podemos ver que o sexto mandamento não proíbe a autodefesa.
Veja Êxodo 22.1-3.

- Note que, se a única opção da pessoa se defender da intrusão fosse matar o invasor,
essa pessoa não seria condenada.
- Porém, se o crime estivesse ocorrendo pelo dia, e a pessoa fosse capaz de discernir que
não era necessário matar, mas ainda assim matasse, então, este seria culpado

- O ponto chave aqui é, se há uma opção de evitar a morte de uma pessoa, então faça.
Caso contrário, você não será culpa caso mate alguém em legitima defesa.

- Uma conclusão que podemos extrair daqui é que uma ameaça à nossa vida deve ser
reprimida com força letal. Depois que “o sol houver raiado” parece referir-se a um
julgamento diferente daquele permitido à noite. À noite é mais difícil discernir se o intruso
é um ladrão ou um assassino. Além disso, a noite torna mais difícil a tarefa de defender-
se e, ao mesmo tempo, evitar matar o ladrão. Durante o dia, seria melhor livrar-se do
perigo, caso contrário, a defesa torna-se vingança, e esta é prerrogativa do magistrado.

- Em Provérbios 25:26, nós lemos: “O homem justo que cede ao perverso é como uma
fonte que foi turvada e poluída.” Certamente, cederíamos ao perverso se escolhêssemos
estar desarmados e incapazes de resistir ao assaltante que pudesse ameaçar nossa vida.
Em outras palavras, não temos o direito de abrir mão de nossa vida -- que é presente de
Deus -- para o perverso. É um erro grave igualar a sociedade civilizada àqueles que se
ocupam em assolá-la com maldade, ao invés de serem pessoas decentes.

- Outra coisa, resistir a um ataque não deve ser confundido com fazer vingança, a qual é
domínio exclusivo de Deus (Rom. 12:19). Ela tem sido delegada ao magistrado civil, que,
como lemos em Romanos 13:4, “...é ministro de Deus para teu bem. Mas se fores mal,
teme; pois não é em vão que vem a espada; pois é ministro de Deus, um vingador para
castigar o que pratica o mal.”

- Os meios de vingança pessoal podem tornar alguém um criminoso se agir depois que
sua vida não está mais em perigo, ao contrário de quando alguém está se defendendo de
um ataque. Esse é o ponto crucial que têm sido confundidos por cristãos pacifistas que
querem tomar a passagem do Sermão do Monte sobre dar a outra face (o que proíbe a
vingança pessoal) como um mandamento para anular-se ante o perverso.

- Consideremos também o que nos diz o Sexto Mandamento: “Não matarás.” Nos
capítulos seguintes, Deus dá a Moisés algumas situações que requerem a pena capital.
Evidentemente, Deus não está dizendo que nunca se deve matar, mas que não devemos
tirar a vida de um inocente. Considere também que o magistrado civil é um terror para
aqueles que praticam o mal. Essa passagem não está de modo algum significando que o
papel da lei obrigatoriamente é prevenir crimes ou proteger os indivíduos dos criminosos.
O magistrado é um ministro que serve como “um vingador para castigar o que pratica o
mal” (Rom. 13:4).

- Sendo assim, a bíblia dá suporte para a legitima defesa.

- Neste ponto temos também a questão da posse de arma. Um assunto bem discutido
e que gera controvérsias e dúvidas.

- Precisamos deixar claro algumas coisas. A bíblia não é contra a posse de armas
para um cristão. Não há nenhum texto que explicitamente proíba um cristão de ter
uma arma em casa para defender sua família.

- Porém, o cristão não é OBRIGADO a ter uma arma em casa, caso ele não queira.
O que ele não pode afirmar é que a bíblia é contra e assim, julgar aqueles irmãos
que optam por ter uma arma em casa.

- Precisamos entender o seguinte, muitas pessoas, inclusive Cristãos, assumem que


Cristo ensinou o pacifismo. Eles citam em seu favor Mateus 5:38-39. Nesse verso Cristo
disse: “Vocês ouviram o que foi dito, ‘Olho por olho e dente por dente.' Porém, eu vos
digo, não resistais ao perverso; mas a qualquer que te ferir a face direita, dá também a
outra.”

- O Sermão do Monte, onde essa passagem se encontra, trata da correta conduta pessoal.
Em nossa passagem, Cristo está esclarecendo uma confusão que as pessoas faziam em
pensar que a conduta apropriada para o governo civil – isto é, fazer vingança – era também
apropriada para um indivíduo.

- Até mesmo as palavras que Cristo escolheu indicam que Ele estava aludindo à uma
confusão, ou a uma distorção, que era corriqueira. Diversas vezes no restante do Sermão
do Monte, Cristo usou: “vocês ouviram dizer isto”, uma figura de discurso para expor o
engano e a falsidade ensinada pelos líderes religiosos da época.
- Contraste isto ao uso que Cristo faz da frase “está escrito” quando Ele apelava para a
autoridade das Escrituras (por exemplo, ver Mateus 4 onde em três ocasiões durante sua
tentação pelo Diabo, Cristo respondeu a cada uma das mentiras de Satanás pela Escritura
com as palavras: “está escrito”).

- Para perceber melhor o fato de que Cristo estava corrigindo os líderes religiosos sobre
seu ensino do “olho por olho” aplicado à vingança pessoal, considere que no mesmo
sermão, Cristo condena veementemente o falso ensino: “Qualquer que quebrar algum
destes mandamentos, por menor que seja, e assim ensinar aos homens, será considerado
mínimo no reino dos céus...” (Mt. 5:19). Fica claro, então, que Cristo não estava
ensinando nada sobre a auto-defesa diferente daquilo que é ensinado em outras partes da
Bíblia. Caso contrário, Ele estaria se contradizendo, pois estaria agora ensinando os
homens a quebrar um dos mandamentos.

- A referência “olho por olho” foi extraída de Êxodo 21:24-25, que trata de como o
magistrado deve agir em relação ao crime. A saber, a punição acompanha o crime. Os
líderes religiosos do tempo de Cristo haviam distorcido a passagem que se aplicava ao
governo e, de forma errada, a haviam aplicado como um princípio de vingança pessoal.

- A Bíblia claramente distingue entre os deveres do magistrado civil (o governo civil) e


os deveres de um indivíduo. Ou seja, Deus delegou ao magistrado civil a administração
da justiça. Os indivíduos têm a responsabilidade de proteger suas vidas dos agressores.
Cristo se referiu a esta distinção na passagem de Mateus 5. Vamos agora examinar alguns
detalhes do que as Escrituras dizem sobre as normas para os indivíduos e o governo civil.

- Tanto o Antigo quanto o Novo Testamento ensinam a auto-defesa pessoal, mesmo que
isto implique em tomar a vida do agressor, em determinadas circunstâncias.

- Cristãos pacifistas podem tentar argumentar que Deus mudou Sua mentalidade do tempo
em que Ele deu os Mandamentos a Moisés no Monte Sinai. Eles podem, por exemplo,
querer que nos convencer de que Cristo cancelou os Dez Mandamentos de Êxodo 20 ou
a base para o assassinato justificável de um ladrão em Êxodo 22. Mas o escritor aos
Hebreus deixa claro que não é assim, porque “Jesus Cristo é o mesmo ontem, hoje e
eternamente” (Heb. 13:8). No Velho Testamento, o profeta Malaquias grava da seguinte
maneira as palavras de Deus: “Pois eu sou o Senhor, eu não mudo.” (Mal. 3:6).
- Paulo estava se referindo à imutabilidade da Palavra de Deus quando escreveu a
Timóteo: “Toda Escritura é dada por inspiração divina, e é útil para o ensino,
admoestação, correção, para instrução na justiça, para que o homem de Deus possa ser
perfeito, completamente capacitado para toda boa obra” (2 Tim. 3:16-17). Evidentemente,
Paulo encarava toda a Escritura, incluindo o Velho Testamento, como útil para instruir os
cristãos em cada área da vida.

- Devemos considerar também que Cristo disse a seus discípulos em suas últimas horas
com eles: “...Mas agora, quem tem uma bolsa, tome-a, e faça o mesmo quem tiver uma
espada; e quem não tiver uma espada, venda sua capa e compre uma” (Lc. 22:36). Tenha
em mente que a espada era a mais letal arma ofensiva disponível para um soldado
individual – seria o equivalente hoje a um rifle militar.

- Os pacifistas cristãos provavelmente irão objetar nesse ponto que algumas poucas horas
mais tarde, Cristo repreende Pedro por usar uma espada para cortar a orelha de Malco,
um servo do sumo sacerdote em companhia de um destacamento de tropas. Vemos ler o
que Cristo diz a Pedro em Mateus 26:52-54:

- Embainha a tua espada, pois todo aquele que usa a espada irá perecer pela espada. Ou
você pensa que eu não posso agora orar a Meu Pai, e ele me mandaria mais do que doze
legiões de anjos? Como, então, pode ser cumprida as Escrituras dizendo que isto deve
acontecer?

- Na passagem paralela em João 18, Jesus diz a Pedro para guardar sua espada e diz que
beberá do copo que Seu Pai lhe tem dado. Não era a primeira vez que Cristo explicava a
seus discípulos porquê ele veio à terra. Para cumprir a Escritura, o Filho de Deus teve de
morrer pelos pecados do homem, uma vez que o homem era incapaz de pagar por seus
próprios pecados, livrando-se do fogo do inferno. Cristo poderia ter salvado sua vida, mas
então os crentes perderiam suas vidas eternamente no inferno. Essas coisas tornam-se
claras para os discípulos somente depois de Cristo ter morrido e levantado dos mortos, e
depois do Espírito ter vindo ao mundo no Pentecostes (ver Jo. 14:26).

- Quando Cristo disse a Pedro “ponha sua espada no lugar,” evidentemente ele não disse
que a deixasse lá para sempre. Isto contradiria o que ele havia dito aos discípulos apenas
algumas horas antes. A espada de Pedro era para proteger sua própria vida mortal do
perigo. Sua espada não era necessária para proteger o Criador do Universo e o Rei dos
Reis.

- Anos depois do Pentecostes, Paulo escreve em uma carta à Timóteo: “Mas se alguém
não provê para si próprio, e especialmente para os de sua casa, ele abandonou a fé e é pior
do que um incrédulo” (1 Tim. 5:8). Essa passagem se aplica a nosso assunto porque seria
absurdo comprar uma casa, abastecê-la com comida e outras necessidades de uma família,
e então recusar-se a instalar fechaduras e a prover os meios de proteger a família e a
propriedade. Do mesmo modo, seria absurdo não tirar, se necessário, a vida de um ladrão
noturno para proteger os membros da família (Ex. 22:2-3).

- Um relato e um conceito até mais amplo é encontrado na parábola do Bom Samaritano.


Cristo sintetizou um sumário de todas as leis bíblicas do Velho Testamento em dois
grandes mandamentos: “‘Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a
tua alma, com toda a tua força, e com todo o teu entendimento; e a teu próximo como a ti
mesmo'” (Lc. 10:27). Quando perguntaram quem era esse próximo, Cristo contou a
parábola do Bom Samaritano (Lc. 10:30-37). Foi o Bom Samaritano que cuidou da vítima
de ataque, o samaritano era o “próximo” da vítima. Os que passaram perto e ignoraram a
situação da vítima não agiram como “próximos” dele.

- À luz de tudo o que vimos a Escritura ensinar sobre este ponto, podemos perguntar: se
pudéssemos salvar a vida de alguém das mãos de um agressor por meio de um tiro no
agressor com nossa arma deveríamos “dar a outra face”? A Bíblia não fala disto como
correto. Fala somente das nossas responsabilidades em face de uma agressão – como
criaturas individuais feitas por Deus, como chefes de família, ou diante do nosso próximo.

- Em Gênesis 9.6, vemos também que a pena capital não é uma violação do sexto
mandamento.

- Isto porque, o crime de assassinato premeditado era uma violação a imago dei. O
que Deus está dizendo em Gênesis 9.6 é que a vida humana é tão preciosa que tirá-
la era motivo de punição severa., porque era um ataque a sua imago dei.
- Então note que a famosa Lex Talionis (Lei de Talião) não era cruel, nem desumana e
nem uma punição incomum. Note que havia o princípio da equivalência. Não dente por
olho, braço por cabeça. A lei estabelecia que a punição deveria ser igual ao crime.

- Roubou, restitui. Matou, morre. Vida pela vida, nem mais nem menos. Esse mesmo
princípio é reiterado em Romanos 13.

- Este assunto acaba sendo polêmico, visto que hoje, os países não vivem mais num
sistema teocrático. Poucos são os países que tem em suas constituições princípios e
valores morais que foram extraídos das Escrituras.

- O principio em Genesis 9.6 é o seguinte: Vitimas de assassinato não são animais. A


pergunta em torno do texto é – Quais sãos exigência de Deus à sociedade quando
alguém é assassinado por maldade de forma premeditada?

- O texto nos mostra três coisas: Primeiro, Deus exige prestação de contas da
sociedade (v.5); Segundo, Deus exige que o culpado seja castigado (v.6a); e Terceiro,
Deus exige que o valor da vida corresponda ao dom da imagem de Deus (6b).

- Sendo assim, O governo, portanto, é ordenado por Deus a punir o assassino. Isso não
contradiz ou nega o ensinamento de qo seu Filho para morrer pelos pecados do mundo,
inclusive os do assassino (Jo 12.47). Em seu perdão teológico, nosso Senhor assume de
forma vicária a dívida e assim oferece perdão a todos. No entanto, ser perdoado não
elimina as consequências civis do ato de tirar prematuramente a vida de outra pessoa.
- Portanto, um homicida pode realmente vir a se arrepender posteriormente e receber o
perdão de Deus, mas esse crime foi tão violento que seus efeitos são permanentes na
vítima. Para evitar que a vida se tome menos valiosa a cada novo crime, esses assassinos
que matam premeditadamente devem ser castigados de acordo com a ordem de Deus, que
foi anunciada muito antes de a Lei ter sido transmitida a Moisés.

- Basta lembrar os ladrões na cruz, um se arrependeu e o outro não. Mas ainda assim, o
que se arrependeu foi punido pela lei dos homens.
- Alguns poderão alegar que a “revelação progressiva” elimina a necessidade de insistir
nessa abordagem antiga do problema do homicídio qualificado. Se as exigências da Lei
civil e cerimonial foram abolidas, então por que, de acordo com o mesmo raciocínio, essa
injunção anterior à Lei também não foi abolida?

- Além do mais, o Novo Testamento não exige que tenhamos misericórdia e perdão, o
que substituiria qualquer exigência de justiça do Antigo Testamento? A morte de Cristo
não pagou todos os nossos pecados, tomando qualquer expiação adicional
sem sentido e uma evidência de falta de fé?

- Na verdade, a “revelação progressiva” é o desdobramento gradual da verdade de Deus


na história da revelação divina. Portanto, Deus realmente tomou sua revelação conhecida
a nós ao longo das eras de forma proporcional e gradativa. Mas também é verdade que
precisamos encontrar um princípio no texto que mostre que a ordem original de Deus foi
anulada com o progresso da revelação. Infelizmente, nenhuma passagem pode ser
encontrada.

- Essa ordem também não está simplesmente vinculada à teocracia ou à Lei de Moisés,
que vieram depois. Além disso, o Novo Testamento concedeu ao governo humano o poder
da pena de morte em Romanos 13.4, e o apóstolo Paulo reconhecia haver crimes que
mereciam a morte. Paulo, em sua defesa diante de Festo, disse: “Se, de fato, sou culpado
de ter feito

- O fato é que tanto os que defendem quanto os que condenam a pena de morte apresentam
argumentos e contra-argumentos teológicos e filosóficos para justificar sua posição.

- Por exemplo, os que são contra usarão casos como o de Caim em Gênesis 4.15; o
episódio de Jesus e a mulher adultera; e a cruz e a graça perdoadora.

- Além desses argumentos teológicos, os que defendem a extinção da pena capital


afirmam que não se pode excluir por completo a possibilidade de um erro judicial e
que, na maioria dos países, ela recairia sobre os mais pobres.
- Por exemplo o caso da mulher adultera. O texto de João 8.1-11, embora não trate de
um caso de homicídio, é citado frequentemente como um exemplo em que Jesus não
aplicou a Lei mosaica.

- O que temos ali na narrativa é os escribas e fariseus tentando pegar Jesus em alguma
falha da Lei.

- Numa breve exegese deste texto podemos notar o seguinte:

- Primeiro, os escribas e fariseus alegavam que apanharam a mulher em adultério.


Certo, como eles sabiam que ela estava praticando tal ato ao amanhecer?
Geralmente quem comete adultério, o faz num momento em que não tenham muitos
“olhos” a vistas. Então, essa uma armadilha contra Jesus.

- Segundo, onde estava o homem envolvido no adultério? Ele também deveria ser
julgado.

- Terceiro, qual era o local em que Jesus estava quando a mulher foi levada até ele?

- Quarto, porque quando Jesus depois de ficar em silêncio e escrevendo no chão


(nota: não qualquer referência sobre o que ele escrevia no chão, qualquer afirmação
sobre o teor do que estava ali é especulação), falou que aquele não tiver pecado atire
a primeira pedra que com que aos poucos, os acusadores começaram a ir embora,
os mais velhos, primeiro, até que somente Jesus e a mulher ficaram ali. Qual seria o
motivo desse repentino recolhimento, especialmente depois de haverem empenhado
tanto esforço e determinação para pegar Jesus em uma armadilha?

- Podemos interpretar que O fato de Jesus ter se curvado no templo e escrito no chão
deve ter suscitado no coração e na mente deles a única passagem que fala a respeito
dessa situação desconfortável no Antigo Testamento. Em Números 5.16-24, o marido
que suspeitasse do adultério da esposa a traria ao tabernáculo diante do Senhor. O
sacerdote então pegaria um jarro de barro com água sagrada e misturaria nela um
pouco de pó do chão do tabernáculo (seria essa situação que Jesus estava
representando
novamente aqui?). E então, com a água na mão, o sacerdote faria com que a mulher
prestasse um juramento e bebesse aquela água amarga como um tipo de prova. Se
ela fosse culpada, seu corpo incharia; se fosse inocente, nada aconteceria. A questão
parecia estar no inchaço do corpo causado pelo impacto psicossomático da culpa. De
acordo com a crença tradicional, esse teste também poderia ser exigido do marido,
caso a esposa suspeitasse que ele fosse culpado do mesmo crime que acusava sua
mulher de praticar. Nesse contexto, os mestres da lei e os fariseus estavam agindo
no lugar do marido enciumado. Aparentemente, quando viram Jesus se abaixar e
continuar a escrever ou rabiscar na areia do templo, a mente treinada deles os fez
voltar a Números 5, e eles decidiram que seria melhor sair dali antes que as coisas
ficassem complicadas demais para eles.

- Jesus reconheceu que a mulher havia pecado. Por isso, ela deveria ir e não pecar mais.
A questão é que a acusação legal contra ela havia desmoronado quando os acusadores
decidiram subitamente abandonar a armadilha que haviam tramado de forma tão
calculada para pegar Jesus. Parece que eles não teriam passado pelo teste, por isso, era
melhor deixar para lá e aguardar outra oportunidade em que poderiam pensar em um
plano diferente contra Jesus. Jesus ofereceu perdão religioso à mulher, mas não havia
perdão civil ou jurídico possível, já que a acusação legal contra ela tinha desmoronado.
Caso tudo isso chegasse aos ouvidos de seu marido, e ele voltasse com a esposa perdoada
e algumas testemunhas, a acusação legal ainda poderia ser mantida, mesmo tendo sido
perdoada espiritualmente.

- O ponto é que aquele julgamento não era justo porque não feito de acordo com a Lei.

- Outro argumento que os que são contra a pena de morte usam é a questão Caim,
alegando que o fato ali era que Deus estava proibindo a pena capital.

- O fato dele suspender a pena de morte para Caim não indica que isto seria uma
regra. Veja, primeiramente, o próprio Senhor disse: ‘A voz do sangue de teu irmão clama
da terra a mim’ (Gn 4.10). Clama para quê? Para a justiça, sem dúvida. O princípio
bíblico é que somente outra vida pode satisfazer a justiça de uma vida perdida (c/.
Lv 17.11; Hb 9.22).
- Em segundo lugar, o temor de Caim de que alguém no futuro o mataria demonstra que
a pena capital era sua própria expectativa natural: ‘... quem comigo se encontrar me
matará’, exclamou (Gn 4.14). A pessoa naturalmente prevê a perda de sua própria
vida como consequência de tirar a vida doutrem.

- Em terceiro lugar, a resposta de Deus a Caim subentende a pena capital: ‘Assim


qualquer que matar a Caim será vingado sete vezes’. Isto, sem dúvida, significa que a
pena capital seria usada contra qualquer pessoa que matasse a Caim. Destarte, de
modo contrário àquilo que talvez pareça na superfície, o caso de Caim é a ‘exceção’
que comprova a regra. Desde o princípio, era a intenção de Deus que os crimes
capitais recebessem penas capitais.”

- Depois temos a questão da aliança com Noé que é a primeira referência direta à pena
capital.

- Noé e sua família sobreviveram ao grande dilúvio, que foi precipitado pela maldade
e pela violência daquela civilização antediluviana (cf. Gn 6.11). Quando Noé emergiu
da arca. Deus lhe deu a seguinte injunção: ‘Se alguém derramar o sangue do homem,
pelo homem se derramará o seu; porque Deus fez o homem segundo a sua imagem’.

- O assassinato é errado porque é matar Deus em efígie, e quem tirar a vida dos
outros homens deve ter sua vida tirada pelas mãos dos homens. Os antediluvianos
tinham enchido o mundo com violência e derramamento de sangue. Pelo uso da pena
capital os homens deveriam abafar a violência e restaurar a ordem da justiça. Deus
instituiu a ordem e a paz sociais e deu ao governo a autoridade sobre a vida para
garantir à humanidade estes benefícios.

- Diferentemente do que alegam os que são contra a pena de morte, Jesus não aboliu
esta lei. Ele reafirma o princípio da pena capital no sermão do monte e eleva o
conceito do sexto mandamento. Veja Mateus 5.17, 21 e 22.

- Na igreja primitiva temos o caso de Ananias e Safira, que foi condenado a morte
pelas palavras apostólicas de Pedro.
- Estevão e Tiago, é um exemplo de pena capital injusta, mas que mostra que o poder
de aplicar a pena capital é dos magistrados.

- O ensino de Paulo sobre esta questão também é claro. Romanos 13.1-2 vemos que
Deus deu a espada às autoridades humanas para protegerem a vida. O uso da espada
para o bem da sociedade inclui em alguns casos a pena de morte. Porém, ela não
deve ser empregada indiscriminadamente.

- Pena capital é um assunto polêmico.

- Você pode ser a favor ou contra, porém, jamais poderá dizer que a Bíblia é contra
esta punição.

- Além da pena de morte, a guerra é outro assunto que traz mais questionamentos acerca
se viola ou não o sexto mandamento.

- Os cristãos têm basicamente três posições principais como alternativas no que diz
respeito à guerra e à intervenção militar.

1. O ativismo, que defende o apoio cristão a todos os esforços militares sempre que seu
país declarar guerra. Como as Escrituras afirmam em Romanos 13.1-7 que devemos nos
submeter aos líderes políticos que nos governam, presumimos que esses líderes têm mais
acesso às informações do que nós; portanto, nesse contexto, confiamos no discernimento
do governo e seguimos sua liderança.

2. O pacifismo, que defende que, para o cristão, nunca é correto participar de uma guerra,
visto que, como discípulos de Cristo, precisamos viver como ele viveu —
de uma forma não violenta. O caminho do mundo é o caminho da espada, mas o caminho
da cruz é totalmente diferente. As guerras conduzidas no Antigo Testamento não servem
de apoio para a maneira pela qual nós, cristãos, devemos agir, e também não devemos
oferecer resistência a uma pessoa má (Mt 5.39), ao contrário, devemos amar nossos
inimigos (Mt 5.44).
- Dentro do pacifismo temos o pacifismo absoluto, também conhecido como pacifismo
filosófico, que vai defender que qualquer seja a questão envolvida neste assunto de guerra,
o homem jamais deve reagir fisicamente com violência. Os representantes dessa escola
são Mahatma Gandhi e o filósofo cristão Leon Tolstói (1828-1910), que se tornou famoso
com a frase: “A cruz de Cristo é o sinal da passividade total e não-violência”.

- Temos o pacifismo moderado, também chamado e pacifismo cristão, que se opõe


ao serviço militar. Não se opõe necessariamente ao exército, mas acha que a tarefa do
cristão é servir aos feridos, dar assistência médica e social, esperar o reino pacífico de
Cristo, aceitar as consequências de uma invasão, não resistir com violência, mas praticar
a desobediência civil e orar em favor dos governos, usando o bom exemplo e as atitudes
cristãs expostas no sermão do monte para ganhar as autoridades para Cristo.

- E o pacifismo ideológico ou político.

3. O seletivismo, que defende que os cristãos podem participar e lutar em algumas


guerras, quando elas estão fundamentadas em causas moralmente defensáveis descritas
nas sete diretrizes de uma “guerra justa”.

- A posição mais equilibrada para está questão é o seletivismo. Um cristão precisará


analisar a luz da Escritura se uma guerra é justa ou não. E a partir dai tomar a
decisão ética de participar ou não. Indo ou não ele irá ter de assumir as
consequências.

- Deuteronômio 20.1-20 norteia os princípios de uma guerra justa.

- Algumas questões devem ser avaliadas no contexto de julgamento de uma guerra


ser justa ou não:

1. Uma causa justa. Toda forma de agressão deve ser completamente rejeitada. Uma
guerra sem motivos não é razão para que uma nação lute contra outra. Só podemos
participar se houver uma causa justa ou uma razão sustentável.

2. Uma intenção justa. As nações não podem ir à guerra por vingança ou para
conquistar o território de outra nação; devem fazê-lo para assegurar a paz de todas as
partes envolvidas.

3. Como último recurso. Somente depois de uma nação haver proposto um acordo de
paz e utilizado a diplomacia e todas as formas de pressão econômica para evitar o
conflito, ela poderá ir à guerra como último recurso.

4. Declaração formal. Deve haver uma declaração de guerra formal para o início das
batalhas.

5. Objetivos limitados. A destruição completa de outra nação ou algo semelhante é


um objetivo inadequado. A guerra deve ser travada para garantir a paz como resultado
e quando for o único caminho para o fim da violência. 6. Meios proporcionais. Os
tipos de armas e a força militar devem limitar-se ao necessário para reprimir a
agressão e assegurar uma paz justa.

7. Imunidade de não combatentes. As operações militares devem evitar


cuidadosamente o envolvimento de pessoas que não estejam participando do conflito.
Somente as forças governamentais e seus agentes podem ser alvos da ação

- Embora a guerra seja uma obrigação extremamente desagradável a ser cumprida por um
governo de tempos em tempos, as regras para uma “guerra justa” precisam ser sempre
aplicadas de forma completa. Ainda que os cristãos discordem quanto à obrigação de
servir pessoalmente ao governo em alguma guerra justa, o ensinamento de Romanos 13.1-
7 e de Deuteronômio 20 parece não dar margem a essa opção.

- Então, o sexto mandamento não proíbe o homicídio em legitima defesa, a pena


capital e guerras justas.
- Entretanto, ele proíbe o homicídio premeditado com intenção de matar e o não
premeditado, o homicídio por imprudência, ou involuntário, como ocorre quando
alguém dirige bêbado e matar alguém. Embora aquele motorista não tivesse a
intenção de real de matar alguém, a sua imprudência ocasionou a morte de alguém.
- Na Lei de Israel, havia uma distinção entre matar por ódio ou morte acidental (Dt
19.1-13)

- Só depois de considerar a intenção por trás de uma morte é que era aplicada a
sentença. Veja Deuteronômio 22.8 e Êxodo 21.28-29.

- Note que estas leis é Deus dizendo que devemos cuidar dos nossos semelhantes a
ponto de preserva-lhes a vida.

- Então note que o sexto mandamento vai além apenas de proibir assassinatos
premeditados a sangue frio. Ele proíbe assassinar ou causar a morte de alguém de
qualquer pessoa legalmente inocente por meio de uma ação direta ou indireta.

1. De que forma o sexto mandamento é relevante para nossa cultura?

- Bom, o sexto mandamento certamente se aplica a nós de maneiras variadas. Ainda nos
preocupamos com homicídios, sejam premeditados ou não. Porém, em adição ao
entendimento do sexto mandamento há pelo menos três aspectos importantes e polêmicos
relacionados ao homicídio.

a) O sexto mandamento proíbe o suicídio

- Suicídio sempre é um tópico doloroso de se falar, principalmente quando se há


conhecimento de parentes ou amigos que praticaram tal ato.

- Primeira coisa que precisamos ter em mente é que o suicídio é pecado, não é um
pecado imperdoável, mas é pecado.

- O termo suicídio origina-se do latim sui (a si mesmo) e caedere (cortar, matar). A


Bíblia nunca emprega essa palavra, embora fale do assunto.

- São múltiplas as formas e os motivos que levam homens, mulheres e até crianças a
praticar este ato.
- Tanto na filosofia quanto na ética cristã, falamos de dois motivos principais para o
suicídio: o heroísmo e o desespero. Diante disto precisamos ter cuidado ao
glamourizar o suicídio ou demonizar o que praticam o ato.

- Em todos esses casos dramáticos, o suicídio parece ser a única solução possível para
um grande problema, um ato redentor que acabaria com um tremendo pesadelo.

- Fatores como uso de drogas, alcoolismo, depressão, transtornos psíquicos, fortes


abalos emocionais, grandes fracassos (acadêmicos ou profissionais), graves
problemas financeiros ou fracasso espiritual podem provocar a busca voluntária da
morte.

- Agora, biblicamente falando, em grande parte dos casos, é correto nos enxergarmos o
suicídio como uma escolha moralmente culpável e condenável. Por isto, por séculos a
igreja já tem olhado para o suicídio como uma quebra do sexto mandamento, tendo em
vista que matar a si mesmo não deixa de ser um assassinato.

- Nas Escrituras temos cinco ocorrências de suicídio: Sansão (Jz 16.30), Aitofel, falso
conselheiro de Absalão (2 Sm 17.23), Zinri (1 Rs 16.18-19), Saul (1 Sm 28.1-19 e 31.1-
4) e Judas (Mt 27.3-5).

- Todos eles se deram em contexto de derrota e vergonha.

- Além disto, temos pessoas de caráter mais nobre que pedem a Deus que tirem a vida
delas (Jonas e Jó), claramente, Deus enxerga estes pedidos com autodestrutivos e não
atende.

- As implicações em torno do suicídio são muito grandes. O assunto comporta várias


interpretações.

- Crisóstomo, Eusébio, Ambrósio e Jerônimo apoiaram as mulheres cristãs que


cometeram suicídio para escapar das mãos sujas de perseguidores que queriam colocá-las
em bordéis.
- Agostinho, por sua vez, apesar de louvar-lhes a fé, condenou o suicídio dessas mulheres,
ensinando que a pureza reside no coração e não no corpo físico (Mt 5.8). Agostinho
também condenou o suicídio de Sansão.

- Tomás de Aquino, considerado o maior teólogo católico (o principal representante do


alto escolasticismo), classificou o suicídio como o pior de todos os pecados e ensinou que
a pessoa que se suicida mata o próprio corpo e a alma. Por isso, a Igreja Católica Romana
procurou coibir sua prática, estabelecendo normas diferentes de enterro (método e local)
para o suicida. A partir disto criou-se a interpretação de que um suicida vai para o inferno.

- As igrejas evangélicas tradicionalmente condenam o suicídio, mas não o suicida. “O


suicida se torna culpado somente diante de Deus, o Criador e Senhor de sua vida. O
suicídio é condenável como pecado de falta de fé por haver um Deus vivo...”

- O que a bíblia ensina acerca do suicídio?

- Primeiro, não há mandamento explícito que proíba o suicídio. Porém, por ser um auto
homicídio, ele está ligado ao sexto mandamento.
- Segundo, suicídio sempre é errado porque é o assassinato de um ser humano feito a
imagem de semelhança de Deus.
- Terceiro, suicídio é errado porque a Bíblia ensina que devemos amar uns aos outros
como a nós mesmos.
- Quarto, O cristão que se mata por desespero ou por descontrole emocional ou mental
peca porque não crê numa intervenção de Deus, mas, mesmo assim, não se separa do
amor do Criador (Rm 8.38,39; 14.7-9). E aqui temos um ponto importante.

- Um suicida vai para o inferno? Ao se tratar um suicida não cristão, sim. Mas ele não vai
para o inferno por causa do ato do suicídio, mas pelo fato de estar fora de Cristo, então,
sendo por suicídio, homicídio, morte natural, qualquer que seja a causa mortis, o homem
sem Cristo já tem como destino o inferno.

- Outro ponto, a bíblia fala que o único pecado que não tem perdão é a blasfêmia contra
o Espirito Santo. Sendo assim, falando de um cristão que comete suicídio não podemos
afirmar que ele foi para o inferno, visto que o único pecado sem perdão para o cristão é a
blasfêmia contra o Espirito Santo.

- Conforme mencionado acima, Rm 8.38,39; 14.7-9 vai mostrar que nada poderá nos
separar do amor de Deus. Amor aqui num sentido de salvação. Sendo assim, será que um
cristão verdadeiro, que por alguma razão adversa, caiu em depressão a ponto de chegar
no nível de cometer suicídio estaria separado do amor de Deus?

- ATENÇÃO, NÃO ESTOU AFIRMANDO QUE AGORA DEVEMOS INCENTIVAR


AS PESSOAS EM DEPRESSÃO A COMETEREM SUICIDIO, VISTO QUE NÃO É
UM PECADO IMPERDOAVEL.

- O candidato ao suicídio precisa vencer a honra ferida, o fracasso financeiro e os


graves erros pessoais.

- Não há então lei humana ou divina que possa evitar o gesto; somente o consolo da
graça e o poder da intercessão fraternal podem ajudar em tal provação. Não é o
direito à vida, mas a graça de poder continuar vivendo sob o perdão de Deus que
pode resistir a essa tentação do suicídio.

- Mas quem haveria de afirmar que a graça de Deus não pode abranger e carregar
também o fracasso diante desta mais dura tentação?

- Quinto, O suicídio é errado porque a pessoa julga não ter mais nenhum outro recurso
para resolver seu problema, enquanto a Bíblia nos convida a confessar nossos pecados e
a lançar nossa ansiedade sobre Cristo (1 Jo 1.7; 1 Pe 5.7)

- O suicídio é um gesto de solidão, os últimos e decisivos motivos quase sempre


permanecem ocultos.

- Cabe a igreja cuidar dos seus nas questões espirituais, emocionais e físicas. Deus
nos deixou meios extraordinários e ordinários para lidar com as tempestades da
vida. Se alguém está numa situação em que pensa em tirar a vida, ela precisa de
acompanhamento espiritual e profissional (psicólogo), carinho, atenção, graça e
misericórdia.

b) O sexto mandamento proíbe o aborto

- De todas as questões morais as mais urgentes são aquelas que envolvem vida e morte.

- E nessa temática, o aborto é uma das questões mais delicadas e cuja a prática tem ceifado
muitas vidas.

- Com certeza, o aborto não é um fenômeno recente, pois essa prática, ou a rejeição
dela, tem uma longa história no Mundo Antigo. Para os sumérios, os babilônios, os
assírios e os hititas, o aborto era um crime sério.

- O juramento de Hipócrates, até pouco tempo recitado pelos médicos em sua


formatura, declarava: “Não darei a nenhuma mulher um pessário para provocar
um aborto”.

- Outro exemplo de forte oposição ao aborto na Antiguidade vem do código legal do


Império Medo-Assírio do século 12 a.C. Sem medir palavras, os antigos assírios
afirmavam: Se alguma mulher abortar intencionalmente, depois de julgada e
condenada, deverá ser empalada em estacas sem enterro. E se tiver morrido ao
abortar, a empalarão em estacas sem enterrá-la.

- No entanto, a cultura grega tolerava a prática do aborto. Platão defendia que a mulher
grávida de embrião defeituoso não deveria dar à luz. Aristóteles achava que as crianças
deformadas deveriam ser abandonadas para morrerem.

Definindo aborto

- Antes de entrarmos na questão se o aborto em alguma instância é justificável,


precisamos definir o que é aborto.

- E aqui eu quero me valer da definição do Franciso Razzo no seu livro Contra o Aborto.

- Aborto é decisão consciente e voluntária de uma mulher de interromper a gravidez


em qualquer estágio e cuja consequência, reconhecida por ela e por todos que
colaboram com o ato, levará à morte de uma pessoa.
- Sendo assim, ser contra o aborto significa não encontrar razões suficientes para
aceitar a decisão voluntária de uma mulher de interromper a gravidez.

- O aborto é um assunto que envolve questões filosóficas, teológicas, antropológicas,


éticas e civilizacionais. É neste âmbito que devemos pensar sobre o aborto.

- O aborto é, antes de tudo, uma decisão moral — e uma decisão moral com
desdobramentos jurídicos.

O que o aborto não é

- Primeiro, o aborto não é um problema de saúde pública. Aborto não é doença, mas
decisão. Ninguém “pega gravidez” e resolve abortar como se estivesse a combater
um câncer.

- Segundo, o aborto não é uma questão e liberdade privada. Também não é um


assunto que deve ser decidido pelo Estado e nem deve ser decidido unicamente pela
mãe.

Quais as posições básicas acerca do aborto

- Há ao menos três posições básicas para justificar ou não o aborto e todas elas estão
centradas na condição humana do nascituro.

- Primeiro, temos os que defendem que os nascituros são subumanos. Estes defendem
o aborto sob demanda.

- O fundamento para esta visão é qualidade de vida da pessoa. E na questão do direito


da mãe, o que vale é privacidade acima do direito à vida.

- Para estes, o nascituro não é um ser humano real.

- Os defensores desta visão se valem de “argumentos” bíblicos para mostrar que o feto
é subumano.

- A base deles é alegar que o folego de vida, ou seja, a respiração é o que dá o start
para a vida começar. Sendo assim, um feto não respira, se não respira então é não é
humano.
- Eles usam textos como: Gênesis 2.7; Jó 34.14-15; Isaías 57.16; Eclesiastes 6.3-5; Mateus
26.24 para alegar que não existe vida humana antes da respiração.

- Há também os argumentos filosóficos para sustentar esta visão:

- O argumento da autoconsciência. Um bebê não é um ser humano até possuir


autoconsciência.

- O argumento da dependência física. Estes vão dizer que o bebê é uma extensão do
corpo da mãe, sendo assim, ela tem o direito de controlar seu próprio corpo e seu sistema
reprodutor.

- O argumento da transmissão de sinais hormonais. Ele passa a ser Ser Humano


quando emite sinais hormonais para o corpo da mãe.

- O acerca da segurança da mãe. Aqui entra a questão de saúde pública com o fato de
várias mulheres morrerem anualmente por praticarem aborto em clinicas ilegais.
Mediante a legalização a vida destas mulheres podem ser salvas.

- O argumento do direito de autonomia que a mãe tem sobre o corpo e ao seu


consentimento para o sexo. O direito de privacidade da mãe e a questão de que o
consentimento para o sexo não é consentimento para a gravidez.

- O argumento do abuso e negligencia e do estupro.

- O argumento da malformação. Aqui entra o principio da evolução. Há uma


preocupação com a pureza genética da raça humana.

- O argumento da incapacidade de saber quando a vida humana começa.

- Como refutar?

- Primeiro, o folego não é o inicio da nossa humanidade. A bíblia fala da vida humana
começando no ventre mesmo antes do inicio da respiração. Os textos utilizados mostram
informações sobre o acontecimento inicial que chamamos nascimento. No ventre da mãe
o bebê tem outros meios para manter a respiração. E o caso de Adão foi exclusivo.

- Segundo, não é necessário autoconsciência para caracterizar um ser humano. Se


assim for, então, aqueles que se encontram em coma não são mais seres humanos. Além
disto, a psicologia diz que crianças não adquirem autoconsciência até atingirem a idade
de um ano e meio. Se a base para o aborto for esta então podemos praticas o infanticídio
neste período.

- Terceiro, embrião não é extensão da mãe. Isto é fato cientifico.

- Quarto, à transmissão dos sinais hormonais. O fato de a mãe não ter consciência da
presença do bebê antes da implantação não significa que ele esteja lá. Há aí uma confusão
de quando a vida começa, ou seja, concepção, e como ela é protegida e nutrida do seu
começo até o nascimento.

- Quinto, aborto legalizado não salva vidas.

- Sexto, sobre os direitos de autonomia. A mulher tem direito de controlar o seu corpo
em situações normais, no entanto, quando ela carrega um ser humano em seu corpo
há um conflito de dois direitos: o do bebê a vida e o da mãe controlar o seu corpo.

- Na questão do consentimento do sexo, vale lembrar que o sexo foi criado por Deus
com duas finalidades, procriação e prazer mutuo entre homem e mulher, e que este deve
ser realizado dentro do casamento. Por causa do pecado, o sexo foi banalizado, porém,
o princípio ainda é valido. Não existe sexo sem risco de gravidez. Tendo todo ambiente
propicio, uma gestação pode aparecer.

- Sétimo, a questão do abuso, malformação e estupro. No primeiro, foge da questão


inicial sobre se o nascituro e ou não humano e se caminha para uma questão social. Já a
malformação do feto, só faz sentido se o nascituro não for em hipótese alguma ser
humano.

- Já a questão do estupro, sabemos que é uma questão emocionalmente delicada.


Contudo, ainda assim, não se justifica o assassinato de uma criança.

- Apelar para a simpatia pela vítima do estupro não evita a questão da justiça vítima do
aborto.

- Outra coisa, o aborto não remove a perversão do estupro, ele acaba adicionando
outro mal a esse ato perverso. O problema do estupro não é resolvido com a morte
do bebê.

- O que é necessário fazer é punir o estuprador e não o bebê.


- Outra coisa, se uma vitima de estupro receber tratamento médico imediato, a concepção
pode ser evitada em todos os casos, visto que ela não acontece de forma instantânea.

- Em caso de estupro, adoção e não o aborto é melhor alternativa.

- Segundo, temos os que defendem que o feto é uma ser humano em potencial.

- Dentre os argumentos deste grupo temos:

- Alguns textos bíblicos que indicam não a comprovação de que o feto é um ser
humano, mas que ele é um ser humano em potencial (Êx 21.22-23; Sl 51.5, 139.13-
16).

- A personalidade humana se desenvolve de forma gradual.

- O desenvolvimento humano está conectado ao desenvolvimento físico.

- Analogia com outros seres vivos. Uma manga não é uma mangueira, nem um ovo não
é uma galinha, assim, o embrião está para o ser humano do mesmo modo que o ovo está
para a galinha.

- Como refutar?

- A questão bíblica veremos mais à frente.

- Primeiro, personalidade é diferente de ser humano. Há uma confusão entre


personalidade e pessoalidade. Personalidade é um conceito psicológico. Pessoalidade
é uma categoria ontológica, ou seja, é a substância da humanidade.

- Segundo, desenvolvimento físico não define se é ou não ser humano.

- Terceiro, nem uma manga nem um embrião representam uma vida em potencial.
Na botânica não se pensa numa manga como uma mangueira em potencial. Uma manga
é uma minúscula mangueira dentro de uma casca. Um embrião não é uma vida em
potencial, um embrião é uma vida humana com um grande potencial.

- Bom, temos então o terceiro grupo, os que defendem que o feto é plenamente
humano

- Aqui veremos os argumentos bíblicos e filosóficos.

- Quando falamos da vida humana, estamos tratando de uma semelhança com Deus
sem igual na criação.
- As Escrituras não esperam, como fazem os modelos de desenvolvimento da vida, para
constatar a imagem de Deus só na pessoa racional e autoconsciente que já nasceu; na
verdade, a pessoa já é portadora da imagem divina independente dessas
considerações (como o nascimento ou mesmo quaisquer boas obras) sempre que
houver vida.

- O salmista retrata a humanidade como distinta de todo o restante da criação por causa
da imagem de Deus.

- Há dois textos que ensinam sobre o valor e a santidade da vida e nos ajudam a
compreendê-los: Salmos 139.13-18 e Êxodo 21.22-25. Note que estes textos foram
utilizados pelos defensores do aborto, só que agora veremos a exegese correta deles.

- O primeiro é o Salmo 139. É um salmo que retrata os atributos de Deus como


onipotência, onisciência e onipresença. Porém eles captam a essência de que um
embrião é visto por Deus com um ser humano.

- Deus é quem cria o homem no interior da mãe: O verso 13a o verbo criar vem da raiz
(‫ קנה‬qanah). Há seis passagens no Antigo Testamento (Sl 139.13; Gn 14.19,22; Dt 32.6;
Sl 74.2; Pv 8.22) em que esse verbo parece ter o sentido de “criar”.

- Originalmente a palavra era uma metáfora para a procriação, mas depois veio a
significar a atividade criadora de Deus. O fato é que os mortais são conhecidos e
cuidados pelo Senhor desde a origem de seu ser.

- A palavra interior (‫ כליה‬kilyah) significa rins. Uma referência literal ao órgão físico.
Bom, levando em consideração que nossos órgãos reprodutores também são os
excretores, faz sentido o salmista usar este termo. A questão é, a bíblia afirma que o
que está sendo formando ali dentro é uma vida.

- A obra do Criador é descrita de modo vívido: ele “tece, trança, entrelaça” nossos ossos,
tendões, veias e assim por diante (v. 13b). Com uma linguagem intensamente pessoal, o
salmista volta a dizer “eu” e meu”.

- O versículo 15 começa com as palavras “minha estrutura”, referentes principalmente à


forma de nosso esqueleto e a nossos ossos, mas que também incluem a soma dos
elementos de nosso ser.
- De forma ainda mais impressionante, o texto afirma que os “olhos” do próprio Deus
“viram o meu corpo ainda informe A palavra hebraica para “corpo ainda informe” é
(‫ גלם‬golem) que significa feto ou embrião. Fica evidente que a obra e o cuidado do nosso
Senhor remontam à nossa origem e formação no útero. Para Deus, o embrião não é
“só um punhado de tecido” sem vida; ao contrário, Deus já sentia amor e afeto por
nós quando estávamos sendo tecidos no útero de nossa mãe.

- O outro texto é o de Êxodo 21.22-25. Este trecho também suscita uma das questões
mais centrais no debate sobre o aborto: em que estágio o feto pode ser considerado um
ser humano criado à imagem de Deus?

- O “Livro da Aliança” (Êx 24.7) apresentou várias leis casuísticas como parte da
constituição civil que Deus revelou a Moisés. Na seção que trata de danos físicos contra
a pessoa (Êx 21.12-36), é descrita uma situação hipotética em que dois homens estão
lutando um contra o outro. De repente, uma mulher grávida intervém na luta, talvez a
mulher de um dos homens, e ela sofre um golpe acidental. Com o resultado, acaba
entrando em trabalho de parto e “a criança sai” (A sentença ‫ יצא‬yatsa’ ‫ ילד‬yeled –
weyatseu yeladeha - literalmente vir para fora a criança, ou seja, ou nascimento
prematuro). Visto que o texto fala que não houve dano.

- Porém, há uma segunda situação. Se vier a causa danos e o bebê vier a morrer, então
a lei da retribuição é aplicada. Neste caso, um aborto.

- A lex talionis era apresentada de acordo com uma fórmula padrão que, em nossos dias,
seria algo semelhante a: “tal crime, tal pena” ou “a pena deve ser proporcional ao crime
praticado”. Mas fica claro que, se o bebê ou a mãe morressem como resultado dos danos
causados na briga, a situação seria tratada conforme as leis que regiam os crimes capitais.
A vida real de uma pessoa real havia se perdido!

- Então veja, Deus demonstra enorme respeito e cuidado pelo embrião desde os
primeiros instantes de sua concepção até o dia de sua morte.

- Há inúmeros outros textos que retratam que o embrião é um ser humano e Deus o
vê desta forma.

- Vejamos agora os argumentos extrabíblicos contra o aborto.


- Primeiro, há inúmeras evidencias cientificas que comprovam a humanidade do
nascituro. A ciência moderna conseguiu abrir a janela do útero, mostrando que a vida
humana individual começa no exato momento da concepção.

- A fetologia moderna trouxe à luz alguns fatos acerca do embrião e do feto:

- No 1º Mês todas as características humanas estão presentes. Em uma semana ou um


pouco mais ele se implanta no útero da mãe. O musculo cardíaco pulsa após três semana
e sua cabeça, seus braços e suas pernas começam a aparecer.

- No 2º Mês as ondas cerebrais podem ser detectadas, isso em torno de 40 a 42 dias. Nariz,
olhos, ouvidos e dedos aparecem. O coração bate e o seu sangue (já com o tipo sanguíneo
definido) fluem. Seu esqueleto se desenvolve. Ele já passa ter suas próprias impressões
digitais. Apresenta reflexos e sensibilidade e todos os seus sistemas corporais estão
presentes e em funcionamento.

- No 3º mês ele já engole, faz caretas e nada ao redor. Já consegue segurar com as mãos
e movimente sua língua. Consegue até chupar o dedão. E entre 8 e 13 semanas já pode
sentir dor orgânica.

- No 4º mês todas as características humanas estão presentes. Seu peso aumenta seis
vezes. Cresce até atingir 20 à 24cm de comprimento e já pode ouvir a voz da sua mãe.

- No 5º Mês, sua pele, cabelos e unhas se desenvolvem. Já tem possibilidade de viver fora
do ventre (em casos emergenciais) e esta meio caminho da data do seu nascimento.

- Então veja, do primeiro momento até o ultimo um embrião é uma vida. Embriões
humanos não são minerais, nem vegetais, nem animais, são plenamente humanos.

- Segundo, as evidencias sociais da humanidade dos nascituros. Eles possuem pais


humanos, sendo assim, são humanos.

- A vida humana nunca para, há sempre um recomeço.

- O pai da fetologia moderna Dr A. Liley observou que um feto necessita de tantos


cuidados quanto um bebê nascido. Sendo assim, ele é tão humano quando o bebê
fora do útero.

- A medicina tem possibilitado que bebês prematuros vivam fora do ventre materno
antes do tempo. Então, se fora do útero o médico não mata um bebê prematuro,
porque é um ser humano, então, porque dentro do útero ele é passível de morte caso
a mãe queria?

- A defesa do aborto abre precedente para a prática do infanticídio e da eutanásia.

- Como vimos no começo, desde o início da civilização, tirar a vida de uma criança
no ventre é visto com algo errado, quer entre cristãos, quer entre pagãos.

- Aborto é um tipo de descriminação.

- Terceiro, há uma perspectiva filosófica acerca do aborto.

- Outra coisa que precisamos ter em mente é que opiniões tem consequências.

- Uma opinião pode nascer e morrer no mundo mental sem produzir grandes efeitos.
Por séculos se acreditou que a Terra fosse o centro do Universo. Mais tarde o Sol assumiu
esse lugar. Hoje, sabe-se que o Cosmos não tem centro. Além de não corresponderem
mais aos fatos — embora correspondam às impressões que as pessoas têm dos fatos —,
essas opiniões variam com o tempo e com o avanço das ciências, mas seus efeitos éticos
demoram a ser sentidos; isso se produzirem tais efeitos. Eu mesmo já ouvi falar de gente
com firme convicção de que a Terra é plana e, até onde sei, essas pessoas continuam
seguindo suas vidas numa boa. Vivem como se a Terra fosse plana, o que não afeta em
nada o dia a dia delas — e, para falar a verdade, o de ninguém.

- Por outro lado, há opiniões com efeitos imediatos e devastadores na vida das
pessoas. O filósofo Jean-Jacques Rousseau acreditava — seguindo uma longa tradição
de filósofos — que mulheres deveriam ser excluídas da vida política.

- Outro exemplo marcante foi a eugenia. Em 1883, Francis Galton, primo de Charles
Darwin, criou o termo “eugenia” ao se referir à ciência cujo objetivo era a
procriação dos “bem-nascidos”.

- Segundo ele, era possível melhorar a sociedade melhorando características


biológicas humanas a partir de soluções simples: homens talentosos devem se casar
com mulheres talentosas. O produto seria uma raça de alto nível. Afinal, pessoas
notáveis têm filhos notáveis; os degenerados, filhos degenerados. A ideia era fazer
“seleção artificial” dos seres humanos.

- Cinquenta anos depois, Adolf Hitler, ao ser eleito na Alemanha, promulgou leis de
esterilização para deficientes mentais e físicos como parte do programa de
aperfeiçoamento e pureza da raça. Foi um importante passo para o processo de
homicídio em massa e genocídio como projeto de poder.

- No caso do aborto, opiniões têm efeitos imediatos.

- Quem defende a interrupção voluntária da gravidez traz consigo um conjunto de


opiniões específico a respeito do início da vida, da liberdade da mulher e dos limites
da coerção do Estado na vida do indivíduo. Quem se opõe ao aborto, pelo contrário,
fundamenta seu juízo em opiniões distintas e divergentes.

- Não tenho dúvidas de que a escolha de interromper a gravidez, na imensa maioria


dos casos, é movida mais por erros do que por instinto assassino.

- Na história de pessoas que decidiram abortar, não são incomuns depoimentos


sinceros de mulheres arrependidas com escolhas que fizeram. Preço a se pagar mais
à consciência do que à justiça. No entanto, quando a pessoa toma a iniciativa de
interromper a gravidez, acredita estar eliminando um amontoado de células cujo
valor precisa ser menor do que o valor da liberdade que ela exerce sobre o próprio
corpo. Não é uma equação simples, mas tampouco deixa de ser cálculo. Matar o filho
não gera arrependimentos que se resolvem mergulhando as angústias em uma caixa
de bombons.

- O exemplo mais famoso no mundo de arrependimento relacionado ao aborto é o


de Norma L. McCorvey, do caso Roe versus Wade, de 1973, quando a Suprema
Corte dos Estados Unidos julgou legítimo que a mulher tivesse poder de decisão
sobre a gravidez.

- Curiosidade: McCorvey não abortou a filha porque os juízes não concluíram o


julgamento a tempo, mas se arrependeu por ter influenciado a liberação da prática
nos Estados Unidos e por seu caso ter gerado todo o debate atual a respeito. Um dia
ícone da liberação do aborto, hoje símbolo de defesa da vida não nascida.

- Agora, fato é que a pessoa mergulhada em conflitos morais precisa de abraço,


atenção e cuidado. Uma mulher prestes a interromper a gravidez não precisa de
argumentos filosóficos. Ela precisa do apoio de sua família, de seus amigos, pais,
enfim, do generoso acolhimento de sua comunidade.

- Porém, nenhuma decisão moral acontece no vazio.


- Quem defende a tese segundo a qual uma mulher pode tomar a decisão sobre o seu
próprio corpo e escolher matar o filho precisa levar a sério o conjunto de crenças
responsável por justificar escolhas como essas.

- Então veja, se o nascituro é uma pessoa, e não pode ser abortado por isso, devo
esclarecer e dar boas razões teóricas para garantir a veracidade das minhas crenças.

- Quem diz o contrário, quem diz que o aborto deve ser permitido, é moralmente
obrigado a fornecer razões melhores do que as minhas ou de qualquer outro crítico
do aborto.

- No caso do aborto, todas as discussões dependem, primeiro, da resposta consistente


a esse desafio: quais critérios objetivos determinam o status pessoal e moral do
embrião como um fato antropológico no mundo?

Algumas questões pontuais sobre se o aborto deve ou não ser permitido

a) Se a vida da mãe estiver ameaçada? Se olharmos as perspectivas éticas, cada uma


vai dar uma resposta.

b) E os óvulos que não possuem os 46 cromossomos? Se um óvulo tem 45


cromossomos teremos uma criança com síndrome de Turner, se for com 47, temos
síndrome de Down.

c) E uma criança com encefalia?

d) E o estupro? Os defensores do aborto desviam a atenção da grande maioria dos abortos


(99%) ao colocarem o foco sobre o estupro e o incesto por causa do fator simpatia. Eles
dão a falsa impressão de que a gravidez é comum nesses casos. No entanto, nenhuma
criança é um “produto desprezível de um estupro ou incesto”, mas sim uma criação
de Deus única e maravilhosa feita à sua imagem. Para uma mulher vitimizada, pode
ser muito mais benéfico ter e carregar uma criança do que saber que uma criança morreu
em uma tentativa de reduzir o seu trauma.

- Em seu livro, Victims and Victors [Vítimas e Vencedores], David Reardon e associados
trazem a experiência de 192 mulheres que ficaram grávidas como resultado de estupro ou
incesto.
- Acontece que quando as vítimas da violência falam por si, a opinião delas sobre o aborto
é quase unânime e exatamente o oposto do que a maioria poderia prever: quase todas as
mulheres entrevistadas disseram que se arrependeram de abortar seus bebês concebidos
através de estupro ou incesto. Dentre as mulheres que deram uma opinião, mais de 90 %
disseram que desencorajariam outras vítimas de violência sexual a fazerem abortos.
Nenhuma das que deram à luz uma criança expressou arrependimento.

Conclusão:

- Toda criança no ventre é obra de Deus e faz parte do seu plano. Cristo ama essa criança
e provou isso, tornando-se semelhante a ela – ele mesmo passou nove meses no ventre de
sua mãe.

- Assim como os termos criança e adolescente, embrião e feto não se referem a seres não
humanos, mas a seres humanos em diferentes estágios de desenvolvimento. É
cientificamente incorreto dizer que um embrião humano ou um feto não é um ser
simplesmente porque ele está em uma fase mais prematura do que uma criança. Isso é a
mesma coisa que dizer que uma criança não é um ser humano, porque ele ainda não é um
adolescente.

- Algo que não é humano não se torna humano ou mais humano ao ficar mais velho ou
maior; tudo o que for humano é humano desde o início, ou não é humano de jeito nenhum.
O direito à vida não aumenta com a idade e o tamanho; caso contrário, as crianças e os
adolescentes teriam menos direito de viver do que os adultos.

- Uma vez que reconhecemos que os nascituros são seres humanos, a questão sobre
o seu direito de viver deve ser resolvida, independente da forma como foram
concebidos.

- É desigual a comparação entre os direitos das mães e os direitos dos bebês. O que está
em jogo na grande maioria dos abortos é o estilo de vida da mãe, em oposição à vida
do bebê.

- Para nós, o aborto não é justificável em nenhum momento.

- Aborto viola a santidade da vida. Viola a imago Dei.

- A morte de qualquer homem me diminui, porque sou parte do gênero humano.


c) O sexto mandamento proíbe a eutanásia

- A palavra eutanásia deriva do grego eu (boa) e thanatos (morte), e significa


qualquer ação intencional que possibilite a boa morte de um moribundo, seja por
métodos diretos ou indiretos, ativos ou passivos, omissivos ou permissivos, naturais
ou artificiais.

- A eutanásia, já em seu conceito nos traz o significado que é o de provocar de uma


maneira menos dolorosa a pessoas que sofrem de uma doença incurável ou está em
um estado terminal a fim de pôr fim a um grande sofrimento. É a morte por
compaixão. A eutanásia, não é um acontecimento comum na sociedade, por isso são
poucos os países que tratam dela em suas legislações.

- A questão da eutanásia não é apenas um problema de ética individual do paciente


moribundo ou seus familiares. Ela faz parte da ética social, pelo fato de incluir também a
classe médica e a legislação em geral.

- A eutanásia nem de longe é um assunto pacificado, nem do ponto de vista do direito


e nem do ponto de vista da saúde. Alegam aqueles que são contrários a essa prática,
princípios religiosos e sucessão de bens. Para quem defende, apontam a vontade do
enfermo e o direito a uma morte mais digna.

- Essa discussão envolve motivos de ordem ética, religiosa, social e cultural, é uma
gama de valores que mexem com a formação de opinião de cada pessoa.

- Além disto, teme-se que uma a legalização da eutanásia tentaria muito facilmente
famílias fracas a sugerir a seus membros incômodos ou pesados que escolhessem a
eutanásia e, assim, deixassem o teatro da vida”.

- Em todo o mundo, a eutanásia é um assunto bastante discutido, a fim de ser ou não


admitida como prática legal ou ilegal e ainda impor limites para a sua prática.

- As questões que surgem por trás da eutanásia são: o doente desenganado tem o direito
de morrer com dignidade? É justo prolongar artificialmente a vida de um paciente
terminal? É lícito aniquilar, por meios indolores, uma vida que já não vale a pena?
- Percebe-se que nos tempos atuais a eutanásia deixou de ser vista apenas como homicídio
ou a possibilidade de causar a morte a um enfermo, ela passa a ir muito além disso, nos
questionando sobre o poder do homem de tirar a vida de outro sem sofrermos as
devidas sanções.

- A questão teológica é esta: é possível ter uma boa morte? É bom lembrar que a
Bíblia não define a morte como positiva, boa ou amiga. Ela a descreve como inimiga
do homem. O que Deus criou era bom (Gn 1.31), mas a morte é o resultado da
pecaminosidade do homem (Gn 2.17). Essa ideia é reafirmada por Paulo (Rm 3.23;
5.12). A Palavra de Deus valoriza a vida, fala de sua preservação e proteção (Gn 9.6).
O homem é imago Dei (Gn 1.27, 28), mas a morte permanece como sua inimiga.

- Quanto a sua origem, a eutanásia é um fenômeno bastante antigo. Nas sociedades


antigas já era comum sua prática. O que regia os povos eram suas crenças e seus costumes
e não nenhum tipo de código, com normas tipificadas. Vários povos tinham a prática de
os filhos matarem os pais quando estes estivessem velhos, e, também, de que crianças
com anomalias fossem sacrificadas. Em Atenas, o Senado tinha o poder de definir sobre
a morte dos velhos e incuráveis, através do envenenamento. O motivo de tal ato era que
essas pessoas não contribuíam para a economia, apenas davam despesas ao governo. Na
Esparta, recém-nascidos eram jogados de um precipício se nascessem deformados.
Durante a Idade Média, guerreiros feridos em batalhas recebiam um punhal para que
tirassem a própria vida, e assim se livrassem da dor e do sofrimento.

- Na Índia, os doentes incuráveis eram jogados no Rio Ganges com as bocas e narinas
obstruídos com barro, que era chamado de lama sagrada. Em Roma, os próprios doentes,
cansados de viver procuravam os médicos a procura de um alívio, que se dava através da
morte, e aqueles defeituosos tinham de ser eliminados, pois o Estado tinha esse direito de
não permitir a presença de tais pessoas na sociedade.

- Na América do Sul, onde a população era rural, e obrigatoriamente nômades, e devido


a isso, sacrificavam anciãs e enfermos, para não os abandonar aos ataques de animais
selvagens. No Brasil, algumas tribos deixavam à morte seus idosos, principalmente
aqueles que não participavam das caças.
- Em toda a antiguidade crianças aleijada e débeis eram sacrificadas, o objetivo era a
produção de homens robustos e aptos para a guerra.

- A discussão sobre o uso da eutanásia vem desde a Grécia Antiga, daí a origem
etimológica da palavra eutanásia. Eu + thanatos que significa boa morte ou morte
sem dor. Para outros estudiosos, eutanásia também significa “morte fácil e sem dor”,
“morte boa e honrosa”, “alivio da dor”.

- Em sentido geral, a eutanásia é uma interferência na vida, é o ato de provocar a


morte por compaixão em um doente incurável ou em estado terminal, com uma
morte serena para acabar com o sofrimento intenso. Não se aplicará jamais a
eutanásia em pessoas que se encontram em pleno gozo de saúde, não importando se
é jovem ou idoso.

- Historicamente, a eutanásia vem sendo amplamente praticada ao longo dos tempos.

- Tradicionalmente se reconhece que a eutanásia é um crime contra a vontade de


Deus expressa no decálogo e contra o direito de vida de todos os seres humanos. Até
os anos 50, a morte de uma pessoa era determinada pela parada cardíaca irreversível.
Com o avanço tecnológico da medicina moderna, porém, tornou-se extremamente
difícil determinar o momento exato da morte.

- Atualmente, a eutanásia pode ser classificada de diversas formas, sendo bastante difícil
estabelecê-las.

- Surgiu, então, um novo conceito de morte: a morte clínica, cerebral ou cortical.

- A morte cerebral é determinada por critérios neurológicos, enquanto a morte biológica


é determinada por critérios cardiológicos. Mas logo surgiram novas incertezas.
Quando se pode falar de morte cerebral?

- Inicialmente, a morte clínica foi definida como a degeneração irreversível da massa


cerebral do ser humano. Outros referem-se mais especificamente à “morte cortical”,
contrariando o conceito da morte de “todo o cérebro”, porque o conhecimento e a
personalidade da pessoa dependem do córtex cerebral.
- A problemática da morte clínica está no fato de o ser humano poder continuar vivendo
vegetativamente por muito tempo. Ou seja, o coração e o pulmão podem continuar
funcionando, apesar da morte cortical.

- O problema entorno da eutanásia é o seguinte:


• Para os juristas, a questão é saber se a pessoa morre por vontade própria, contra
a vontade ou sem manifestar sua vontade.
• Para os filósofos, a pergunta é se o doente incurável tem o direito de morrer com
dignidade, como defendia Francis Bacon (1561-1626).
• Para o cristão, a questão é decidir se provocar deliberadamente a morte de um
paciente desenganado é um ato de misericórdia humana ou um crime.

- Em termos morais e jurídicos, distingue-se entre eutanásia ativa e passiva:

• Eutanásia ativa — medidas ativas tomadas por terceiros (injeções, remédios),


com ou sem o consentimento do paciente moribundo, que provocam a morte do
paciente de maneira rápida e sem dor.
• Eutanásia passiva — medidas passivas adotadas por terceiros (privação de
remédios, calorias, alimentação, respiração artificial), que aceleram a morte do
paciente terminal.

- Os que defendem a eutanásia argumentam que não é justo e nem humano manter
artificialmente a vida subumana ou pós-humana em estado vegetativo.

- Que se deve evitar dores excessivas, sofrimentos intoleráveis, doenças irreversíveis e


moléstias prolongadas do paciente desenganado. Que o desejo do moribundo ou da
família devem ser respeitados. Todo homem tem direito de morrer com dignidade.

- Os que são contra argumentam que não existe vida subumana ou pós-humana,
porque Deus trata o ser humano em sua totalidade, como alguém que possui corpo,
alma e espírito.
- Não se deve jogar a responsabilidade de decidir pelo fim da vida tão somente sobre os
médicos. Eles não podem determinar os critérios finais de modo arbitrário e
subjetivo.

- Deve-se valorizar a vida, mesmo a vida do moribundo, usando todos os meios


disponíveis para aliviar suas dores, para que ele possa concluir dignamente sua
existência terrena. Os médicos e os juristas ainda não chegaram a um consenso
quanto à definição exata da morte clínica e, portanto, não se justifica o uso de meios
ativos para tirar a vida de quem ainda tem fôlego.

- Entende-se que a eutanásia sempre é errada porque é um crime contra a vontade


de Deus expressa nos dez mandamentos, contra a dignidade humana e contra a
obrigação médica de preservar a vida. Nunca se pode ter a certeza de que o doente vai
morrer.

- E uma violação da lei divina, um ataque à dignidade humana e um crime contra a vida
que Deus proporcionou. A Palavra de Deus ensina claramente que “não há nenhum
homem que tenha domínio sobre o vento para o reter; nem tão pouco tem ele poder
sobre o dia da morte” (Ec 8.8).

- A eutanásia é uma fuga da realidade, da dor, que tem um significado na experiência


humana; é uma ideia materialista, egoísta, que não crê que. o sofrimento pode fazer parte
de um plano maior (Rm 8.28).

- Provavelmente, a legalização da eutanásia se constituiria num meio fácil de as


famílias fracas se livrarem de seus membros incômodos.

- Há uma terceira via para os problemas que envolvem a Eutanásia?

- Existe uma terceira alternativa, intermediária, cristã, que não apoia a eutanásia nem
nega o problema da vida artificial, mantida apenas com aparelhos modernos da
tecnologia médica.
- Eticamente, devemos diferenciar entre tirar uma vida e deixar a pessoa morrer
naturalmente.

- Esta terceira posição não significa precipitar a morte do moribundo usando


injeções venenosas e mortais ou negando-lhe assistência médica, mas permite o
desligamento dos aparelhos para que o paciente desenganado possa morrer
naturalmente.

- Neste caso, os remédios e alimentação continuariam a ser fornecidos e o paciente não


morreria por descuido médico, mas por falta de resistência física natural.

- A Bíblia até recomenda drogas para aliviar as dores do moribundo: “Dai bebida
forte aos que perecem” (Pv 31.6).

- Outro fato a ser considerado é que morrer misericordiosamente não é o mesmo que
matar misericordiosamente; “... retirar o medicamento de um paciente terminal e deixá-
lo morrer naturalmente não precisa ser um mal moral”

- Uma vez que Deus é o doador de toda a vida, é ele quem pode tirá-la no tempo que
designou.

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