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10/05/2024, 10:02 Envio | Revista dos Tribunais

Coisa julgada arbitral: a natureza jurídica da sentença arbitral imutável

COISA JULGADA ARBITRAL: A NATUREZA JURÍDICA DA SENTENÇA ARBITRAL IMUTÁVEL


Res judicata in arbitration: the legal nature of the immutability of the arbitration award
Revista de Arbitragem e Mediação | vol. 65/2020 | p. 189 - 207 | Abr - Jun / 2020
DTR\2020\7579

Caio César Bueno Schinemann


Mestrado em Direito Processual Civil em andamento na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (Largo de
São Francisco). Bacharel em Direito pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Especialista em Direito Processual
Civil pela Academia Brasileira de Direito Constitucional (ABDConst). Advogado. buenocaiocesar@gmail.com

Área do Direito: Processual; Arbitragem


Resumo: Este trabalho pretende analisar a natureza jurídica da imutabilidade que recai sobre a sentença arbitral de
mérito e verificar se é possível enquadrar esta categoria no conceito de coisa julgada a partir do desenvolvimento do
instituto para o processo judicial. Verifica-se as características fundantes deste instituto em âmbito judicial para que
seja possível verificar sua repetição no processo arbitral. Dessa forma, será analisado especificamente o processo
arbitral para fins de verificação da possibilidade de efetivamente se falar em coisa julgada arbitral.

Palavras-chave: Arbitragem – Coisa julgada – Jurisdição estatal – Estabilidade processual – Limites objetivos e
subjetivos
Abstract: This study intends to analyze the legal nature of the immutability of the arbitration award and to verify if it is
possible to fit this category into the concept of res judicata as it is conceived in the judicial process. From the extraction
of the founding characteristics of this institute, it is possible to verify its repetition in the arbitration proceedings. Then,
based on the assumptions made so far, the arbitration proceedings will be specifically analyzed to verify the possibility
of effectively referring to res judicata in arbitration.

Keywords: Arbitration – Res judicata – State jurisdiction – Procedural stability – Collateral estoppel
Sumário:

I –Introdução - II – A relevância de se verificar a existência (ou não) da coisa julgada arbitral - III –Natureza jurídica da
arbitragem: seu caráter jurisdicional como premissa para a conformação de uma coisa julgada arbitral - IV –Coisa
julgada arbitral? - V –Limites objetivos e subjetivos da coisa julgada arbitral - VI –Conclusão - Referências

I –Introdução

A coisa julgada é um dos mais intrincados e complexos temas da teoria da justiça civil1, sendo um permanente objeto
de discussão e disputas teóricas na doutrina processual brasileira – ou, como resume Barbosa Moreira, “ainda e
sempre a coisa julgada”2. A temática assumiu novos contornos e ganhou novas complexidades no ordenamento
jurídico brasileiro a partir do Código de Processo Civil de 2015 no que concerne a seu conceito, abrangência, utilidade
e repercussões práticas.
A expressão “coisa julgada” é usualmente utilizada para indicar a ocorrência de fenômeno equivalente à coisa julgada
da jurisdição estatal em outros ambientes procedimentais. Por exemplo, é o que ocorre quando se menciona a
(bastante questionável) existência de uma “coisa julgada administrativa”3-4 e, para os fins do que importa neste
trabalho, quando se fala em “coisa julgada arbitral”.
No entanto, é estritamente necessário que seja verificada a adequação da reprodução desta categoria a outros
âmbitos que não a jurisdição estatal. Diante de estrutura intrincada, seria muito fácil – e até mesmo natural – que a
transposição deste conceito a outros âmbitos se operasse de modo inadequado e pouco sustentável dogmaticamente.
O cenário justifica a relevância do estudo. É necessário destrinchar a natureza jurídica da sentença arbitral imutável
para que seja possível verificar qual é o regime jurídico que sobre ela recai. Em outras palavras, é necessário
responder se existe uma coisa julgada arbitral – tal qual existe coisa julgada na jurisdição estatal – ou se, na
arbitragem, se verifica uma modalidade distinta de estabilidade processual.
II – A relevância de se verificar a existência (ou não) da coisa julgada arbitral

Uma ampla parcela da doutrina utiliza o termo “coisa julgada arbitral”5. Ao mesmo tempo, falta reflexão aprofundada
para que se verifique se, de fato, o que ocorre na arbitragem é coisa julgada, tendo como parâmetro a estrutura e a
função reputada a esta categoria no processo judicial.
A resposta não é óbvia e demanda reflexão. Primeiro, porque é coisa julgada aquilo que, a partir de parâmetros
jurídico-positivos, possa ser enquadrado neste instituto. No caso, a Lei da Arbitragem prevê, em seu art. 31, que a

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sentença arbitral possui os mesmos efeitos da sentença da jurisdição estatal. No entanto, a coisa julgada não é um
efeito, mas uma situação jurídica.
Por óbvio, isso não afasta, de pronto, a possibilidade de se verificar a existência de coisa julgada na arbitragem –,
afinal, a resposta para tanto decorre da sistemática que circunda o instituto, e não na literalidade da lei6. Ao mesmo
tempo, o que se verifica é que a resposta para a existência da coisa julgada arbitral não está no texto de lei, o que
torna necessário que se faça uma avaliação estrutural e funcional do instituto.
São dois os questionamentos que se colocam. Primeiro, não é óbvio que, ao estabelecer a existência de sentença
imutável, a Lei da Arbitragem está determinando a existência da coisa julgada arbitral? Segundo, quais são as
repercussões práticas de se estabelecer a existência de uma coisa julgada arbitral equivalente ao instituto judicial?
A resposta ao primeiro desses questionamentos é negativa. Não há obviedade nesse campo porque, como já dito, a
Lei não fornece resposta pronta a este questionamento. E, também como já mencionado, muito embora a maior parte
da doutrina utilize o termo “coisa julgada arbitral”, não se verifica o devido aprofundamento neste ponto.
Em verdade, o que se verifica é que, em geral, quando há reflexão mais aprofundada sobre a temática, exsurgem
diversos questionamentos acerca da possibilidade de se falar em coisa julgada no âmbito da arbitragem.
Dos posicionamentos que questionam a possibilidade de se falar em coisa julgada arbitral, há dois de especial
relevância: o de Antonio do Passo Cabral, mais recente e sustentado a partir da lógica própria do CPC/2015
(LGL\2015\1656); e o de Alexandre Freitas Câmara, anterior ao CPC/2015 (LGL\2015\1656), mas que sustentava
premissas bastante similares às contemporaneamente utilizadas.
O que Antonio do Passo Cabral sustenta, em especial a partir do CPC/2015 (LGL\2015\1656), é que a sistemática
processual brasileira incorporou um conceito de “estabilidade processual” enquanto gênero, que compreende
diferentes espécies. A coisa julgada é só uma destas espécies.
A crítica reside na percepção de que, no direito brasileiro, “o fenômeno da estabilização do conteúdo de um ato
processual não é compreendido como algo mais amplo e abrangente do que a coisa julgada”7, sendo necessário que
se afaste da “suposição equivocada de que a coisa julgada é a estabilidade processual ‘por excelência’”8.
Além de toda a série de implicações que a noção de um “sistema de estabilizações” impõe ao direito processual civil
como um todo, Antonio do Passo Cabral identifica a afirmação de uma coisa julgada arbitral como demonstração do
“vício metodológico de tentar enquadrar todas as formas de estabilidade como sendo a coisa julgada”9.
Assegura-se, a partir disso, que, muito embora seja inequívoca a estabilidade à qual é submetida a sentença arbitral
de mérito, esta não necessariamente forma “coisa julgada”. Seria possível, dessa forma, afirmar a existência de uma
estabilidade própria da sentença arbitral, que constitui espécie inserida no gênero “estabilidades processuais”. Não
haveria identificação com a coisa julgada, outra espécie de estabilidade processual.
O que Alexandre Freitas Câmara propôs em momento anterior é bastante similar – embora alheio a todo o arcabouço
teórico próprio do CPC/2015 (LGL\2015\1656): a arbitragem é processo e, como tal, se dá mediante atos processuais;
estes atos são submetidos a regimes próprios de estabilização processual, “mas não se pode afirmar que aquele
provimento seja alcançado pela autoridade da coisa julgada material”.10
Não se está, neste momento preliminar, aderindo ou rechaçando estas concepções. No entanto, isso demonstra,
desde logo, a existência de disputa doutrinária acerca da temática, o que justifica seu estudo verticalizado.
O segundo questionamento cuja resposta deve ser adotada como premissa diz respeito à repercussão prática de se
estabelecer a estabilização da sentença arbitral enquanto “coisa julgada” ou outra espécie própria de estabilidade
processual.
A coisa julgada judicial é uma forma de estabilidade processual bastante específica, com expresso respaldo
constitucional e cujo regime jurídico a qualifica como a mais forte forma de estabilidade existente no direito processual
civil brasileiro. Identificar a estabilidade da sentença arbitral de mérito com a categoria “coisa julgada” é submetê-la a
um regime todo especial e próprio.
Na prática, esta possibilidade de categorização da estabilidade da sentença arbitral enquanto coisa julgada permite
que se compreenda adequadamente uma série de repercussões. Por exemplo, a imutabilidade da questão prejudicial
decidida em sentença arbitral; a utilização de sentença arbitral em benefício de terceiro; a extensão de suas eficácias
positiva e negativa; a solução de conflitos entre sentenças contrapostas, entre outras.
III –Natureza jurídica da arbitragem: seu caráter jurisdicional como premissa para a conformação de uma
coisa julgada arbitral
Somente atos jurisdicionais podem ser cobertos pela autoridade da coisa julgada, muito embora nem todos o sejam.
Como explica Eduardo Talamini, isso decorre de uma exigência própria do Estado de Direito: todas as lesões e
ameaças de lesão a direito podem ser levadas à jurisdição. Isto posto, o Estado de Direito impede a ingerência de
outros poderes sobre os provimentos jurisdicionais definitivos, de modo que, “se algum ato está a tender à
imutabilidade, esse ato é o jurisdicional, e não os outros”11.

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Estabelecer o caráter jurisdicional da arbitragem é, por isso, premissa elementar para que se possa falar na existência
de uma coisa julgada arbitral. Inclusive, entre os que negam a existência de uma coisa julgada arbitral, a ausência do
caráter jurisdicional do procedimento é elementar para tanto12.
A natureza jurídica da arbitragem foi uma temática muitíssimo relevante e objeto de amplo estudo doutrinário quando
de um período de afirmação da arbitragem enquanto meio alternativo de resolução de conflitos no Brasil. Isso se deu
especialmente no momento anterior à Lei da Arbitragem e, ainda mais especificamente, antes da decisão do Supremo
Tribunal Federal na SE 5.206, em dezembro de 200113.
De lá para cá, não há muitas dúvidas de que a arbitragem é constitucional e que o árbitro profere decisões
obrigatórias às partes, as quais, em regra, não poderão ser sindicadas pelo Poder Judiciário estatal. A partir da ampla
aceitação deste quadro, em que pese ainda seja possível haver alguma discussão teórica acerca da natureza jurídica
da arbitragem – se jurisdicional ou não –, esta acaba por perder sua relevância prática.
Para fins de tomada de posição neste trabalho, se demonstra apropriada a conclusão de Guilherme Recena Costa: é
inadequada e deve ser descartada “uma tomada de posição intransigente sobre a ‘natureza jurídica’ pretensamente
unitária do instituto (jurisdicional ou contratual)”14, a qual, sem qualquer utilidade prática, se demonstra “fonte apenas
de confusão e equívocos”15.
É necessário reconhecer que a arbitragem é sui generis, pois conjuga natureza contratual e jurisdicional, sem que
uma negue a outra. Sem autonomia da vontade não há arbitragem – o que identifica seu viés contratual; mas, da
mesma forma, é inegável que esta autonomia da vontade leva à submissão das partes a um instituto que operará tal
qual a jurisdição estatal, o que afasta qualquer negação absoluta ao caráter jurisdicional da arbitragem.
Sem que se negue a existência de autores que, ainda na contemporaneidade defendem a inexistência de caráter
jurisdicional na arbitragem16, parte-se, aqui, da premissa de que a arbitragem é atividade jurisdicional, como entende
parcela relevante da doutrina contemporânea17.

O árbitro, tal qual o Juiz togado, põe fim a litígios por meio de decisões obrigatórias e que substituem18 a vontade das
partes ao formular a regra concreta aplicável ao caso. Ademais, a sentença arbitral produz os mesmos efeitos da
sentença judicial (art. 31 da Lei da Arbitragem) e independe de homologação judicial (art. 18 da Lei da Arbitragem).
É fato que árbitros não detêm o imperium estatal, não podem adotar medidas coercitivas e, “toda vez que dela
necessitarem, precisam recorrer à autoridade judiciária”19. Porém, isso não decorre de uma ausência de caráter
jurisdicional da arbitragem, sendo uma opção de política judiciária feita pelo modelo brasileiro. Até porque não é
inconcebível se falar em particulares dotados de poderes executórios, existindo exemplos nesse sentido no direito
comparado20.
O que houve, no modelo brasileiro, a partir de opção de política judiciária, foi a restrição legal da competência
jurisdicional do árbitro. A jurisdição é una e indivisível, contudo, a lei pode repartir a competência jurisdicional. O
árbitro não é dotado de competência ampla e irrestrita para a prática de qualquer ato jurisdicional, no que se incluem
os de natureza executiva. Mas nenhum Juiz o é.
Um Juiz cível não detém poder para executar uma sentença penal; um Juiz do Trabalho não detém poder para
executar uma sentença cível; um Juiz de 1º grau não pode julgar uma apelação; um Tribunal não pode julgar a ação
rescisória relativa à decisão de outro Tribunal; enfim, os exemplos são inúmeros, e em nenhum destes casos se cogita
falar na ausência do caráter jurisdicional da atividade desempenhada.
A razão para tanto é elementar: o critério aqui não é jurisdição, mas competência. O árbitro exerce jurisdição, mas
“não detém competência funcional para executar suas próprias decisões”21. Isso porque assim a lei determinou, bem
como é a lei que define (e restringe) a competência de todos aqueles que exercem jurisdição. Caso se sustentasse
que o árbitro não exerce jurisdição por não deter poderes executórios, “por imperativo lógico, ter-se-ia que defender
que apenas quando houvesse execução haveria jurisdição”22, o que é inconcebível.
Dessa forma, o caráter jurisdicional da arbitragem decorre da própria configuração, função e objeto deste instituto. Por
ser exercício de jurisdição, a arbitragem se submete aos princípios de direito processual constitucional23 e deve ser
compreendida por meio da teoria geral do processo24-25.
Adotar esta perspectiva não significa realizar uma mera e descontextualizada subsunção da arbitragem às normas do
CPC (LGL\2015\1656), uma vez que, como identifica Carlos Alberto Carmona, “se os princípios do processo civil
orientam e permeiam o processo arbitral, o Código de Processo Civil tem utilização bem mais restrita”26. Entretanto,
torna possível a análise contextual do processo arbitral por mediante uma tentativa de compatibilização com
categorias historicamente pensadas para o processo estatal, como é o caso da coisa julgada.
IV –Coisa julgada arbitral?
Encerrados os prazos das medidas possíveis no processo arbitral – especificamente a espécie de “embargos de
declaração” prevista no art. 30 da Lei –, a sentença arbitral de mérito não poderá mais ser modificada. Esse é o

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regime que se extrai dos artigos 18 (ausência de recursos e desnecessidade de homologação pelo Judiciário), 31
(equiparação dos efeitos à sentença judicial), 32 e 33 (que descrevem as excepcionalíssimas hipóteses de sindicância
da sentença arbitral pelo Poder Judiciário) da Lei.
De início, é importante salientar que eventual compreensão segundo a qual a estabilidade da sentença arbitral é uma
estabilidade própria, e não propriamente coisa julgada material, para que mantenha sua coerência, deve também
aceitar que essa suposta estabilidade própria da sentença arbitral é mais “fraca” do que a coisa julgada judicial. Não
há, no ordenamento jurídico brasileiro, forma mais robusta de estabilidade processual do que a coisa julgada, em
razão do regime constitucional próprio ao qual este instituto é submetido.
Além da já exposta compreensão de Antonio do Passo Cabral, segundo a qual a sentença arbitral é submetida a uma
espécie do gênero estabilidade processual que não necessariamente é coisa julgada, Felipe Scripes Wladeck propõe
solução no mesmo sentido.
De acordo com essa compreensão, a imutabilidade da sentença arbitral “não exerce exatamente o mesmo papel da
coisa julgada (material) oriunda de processos judiciais”27. A distinção realizada, neste aspecto, seria da função da
imutabilidade da decisão em cada um desses campos.
A coisa julgada judicial, além de conferir segurança jurídica às sentenças de mérito, contribuiria “para que a
convivência harmônica entre os “Poderes” estatais seja plena e efetiva – retirando do Legislativo e do Executivo a
opção de rediscutir livremente (mesmo judicialmente) a solução jurisdicional”28. A imutabilidade da sentença arbitral,
por sua vez:
“em nada contribui[ria] para garantir a convivência harmônica entre os ‘Poderes’ do Estado. Quando muito, pode-se
dizer que ela assegura a convivência harmônica entre o instituto da arbitragem e o Estado – impedindo que o
Judiciário ou qualquer dos outros ‘Poderes’ estatais se imiscua no mérito da sentença ‘transitada em julgado’.”29
Muito embora, em última análise, o resultado prático seja muito semelhante ou idêntico – uma vez que Felipe Scripes
Wladeck, embora entenda não se tratar de instituto análogo à coisa julgada judicial, reconhece a imutabilidade forte da
sentença arbitral de mérito –, o raciocínio empreendido é passível de objeções.

A coisa julgada existe para pacificar e estabilizar relações sociais. É uma garantiafundamental30 que opera mais em
favor do jurisdicionado do que em benefício do Estado (compreendido em sentido amplo). Como garantia, restringe a
possibilidade de qualquer outra pessoa, mas principalmente do Estado, de alterar situação consolidada coberta pela
coisa julgada. O próprio dispositivo constitucional indica essa prevalência da segurança do jurisdicionado: fala-se que
a lei não prejudicará a coisa julgada. É o Estado quem edita leis, e não outros particulares. A Constituição está
nominalmente protegendo o jurisdicionado contra possível intervenção estatal.
Entender que a coisa julgada se prestaria sobretudo a manter uma relação harmônica entre os Poderes retira do
jurisdicionado (destinatário da garantia fundamental assegurada) o protagonismo no instituto da coisa julgada e o
repassa à estrutura do Poder Judiciário. A proteção ao Poder Judiciário é um fator que conforma a coisa julgada, mas
não é o principal.
Em outras palavras, o respeito às decisões judiciais transitadas em julgado tem por uma das facetas a dignidade que
deve ser conferida às decisões da jurisdição estatal, contudo, não é esta a razão de ser (ao menos não a principal) da
coisa julgada. Se assim fosse, o próprio Poder Judiciário poderia livremente dispor da coisa julgada. Não é o que
ocorre. A coisa julgada é intangível para os Poderes Legislativo e Executivo, mas também o é para o próprio Poder
Judiciário. Internamente à jurisdição estatal, não há qualquer risco à “convivência harmônica entre os Poderes”, e,
mesmo assim, a coisa julgada continua impassível de desconsideração, porque o sujeito primordialmente por ela
protegido (o jurisdicionado) não pode ser submetido à insegurança dentro do Poder Judiciário.
De fato, a imutabilidade da sentença arbitral não contribui ou prejudica a “convivência harmônica entre os Poderes”,
mas, a partir do exposto, este não parece ser um parâmetro adequado para que se disponha acerca do que forma ou
não coisa julgada.
Além disso, em relação a todas as concepções que afastam da arbitragem a possibilidade de formação de coisa
julgada, é necessário que se questione: se não há coisa julgada arbitral, como a estabilidade processual própria da
arbitragem se relaciona com a coisa julgada judicial?
Para que se mantenha a coerência diante de uma sistemática constitucional que estabelece a coisa julgada como a
estabilidade processual mais forte concebível, a estabilidade específica da arbitragem, necessariamente, seria mais
fraca que a coisa julgada judicial. Sérgio Cruz Arenhart expressamente entende nesse sentido: “embora a sentença
arbitral seja dotada de estabilidade entre as partes, é certo que ela não é, nem de longe, tão intensa como a coisa
julgada.”31 Todavia, uma estabilidade menos intensa contrariaria toda a lógica que permeia a arbitragem.
Se a sentença arbitral não forma coisa julgada tal qual a sentença judicial, o que impediria que a parte discutisse
livremente a sentença arbitral no Poder Judiciário em busca de um provimento jurisdicional mais estável? Seria
possível sustentar que haveria simples vedação legal; mas, nesse caso, essa vedação não seria inconstitucional?
Afinal, a coisa julgada é uma garantia fundamental do jurisdicionado. A lei não poderia obstar a possibilidade de o
jurisdicionado buscá-la de modo definitivo.

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Essas considerações e questionamentos preliminares desde logo indicam a tendência – e até mesmo a necessidade
sistemática – de se compreender pela existência da coisa julgada na arbitragem. Porém, sendo a coisa julgada aquilo
que a lei diz que é, é essencial escrutinar a arbitragem para que se saiba se, do ponto de vista legal, existe formação
de coisa julgada nesse processo à luz do direito posto.
A coisa julgada é a forma de estabilização mais forte existente, pois é expressão direta da segurança jurídica e
conforma o Estado de Direito. Diante de sua relevância constitucional, a legislação conferiu a este instituto
características próprias (excepcionalidade das hipóteses de desconstituição; submissão a prazo decadencial; eficácia
preclusiva da coisa julgada; eficácia positiva e negativa; abrangência da questão prejudicial) que não se repetem na
mesma abrangência, intensidade e concomitância em outras formas de estabilidade processual. Cabe verificar se
estas características são vislumbradas também no processo arbitral.
O primeiro ponto é a excepcionalidade das hipóteses de desconstituição. Uma análise prematura poderia
compreender que, nesse ponto, haveria absoluta distinção entre o regime da coisa julgada judicial e o da estabilidade
da sentença arbitral. Isso porque é evidente e decorre da literalidade da lei que a sentença arbitral estável e a coisa
julgada judicial são impugnáveis por meios distintos e em hipóteses diversas (art. 32 da Lei da Arbitragem e art. 966
do CPC (LGL\2015\1656)).
No entanto, esse raciocínio não se sustenta. Em primeiro, o cabimento da ação rescisória não é elemento constitutivo
da coisa julgada. A coisa julgada, enquanto instituto de direito processual, existe independentemente da ação
rescisória. A ação é rescisória é tão somente um meio possível de eventual impugnação da coisa julgada32, com
procedimento estabelecido pela lei, mas que não compõe o conceito de coisa julgada.
Só poderia se entender em sentido diverso – ou seja, que o cabimento de ação rescisória seria elemento constitutivo
da noção de coisa julgada –, se se sustentasse que em face de toda e qualquer coisa julgada fosse possível ajuizar
ação rescisória. Não é o caso. Não havendo incidência das hipóteses taxativas do art. 966 do CPC (LGL\2015\1656),
não cabe ação rescisória e nem por isso há afastamento da coisa julgada.
É fato que não cabe ação rescisória contra sentença arbitral. Mas também não cabe ação rescisória contra a maioria
das sentenças judiciais de mérito – quais sejam, aquelas que não se enquadram nas taxativas e restritas hipóteses de
rescindibilidade do art. 966 do CPC (LGL\2015\1656). Nem por isso se fala em inexistência de coisa julgada nesses
casos.
O parâmetro a ser observado aqui, do ponto de vista da razão de ser constitucional da coisa julgada, diz respeito
menos ao procedimento de impugnação e mais ao caráter de excepcionalidade conferido pelo legislador.
Nesse aspecto, é possível que se fale em coisa julgada arbitral. As hipóteses de desconstituição da sentença arbitral
de mérito transitada em julgada não só são excepcionalíssimas, como são ainda mais restritivas do que as verificadas
nas hipóteses de rescindibilidade da coisa julgada judicial. Ao contrário do que ocorre em algumas hipóteses de
viabilidade de ação rescisória, “não é admissível o controle do mérito da decisão arbitral, excluída, portanto, eventual
revisão sobre eventual error in judicando”33.
O prazo para a propositura da ação de declaração de nulidade da sentença arbitral, de 90 dias, aponta no mesmo
sentido de maior intangibilidade da estabilidade no âmbito arbitral do que em relação ao equivalente judicial. Afinal, o
legislador, nesse ponto, diminuiu – em muito – o prazo decadencial quando em comparação aos dois anos possíveis
para o ajuizamento da ação rescisória. Quando se considera, ainda, que, no regime do CPC (LGL\2015\1656), na
hipótese de rescindibilidade decorrente de prova nova, o prazo decadencial da ação rescisória pode atingir até cinco
anos depois do trânsito em julgado (art. 975, § 2º), fica claro que a sentença arbitral é submetida a um regime de
estabilização ainda mais rigoroso do que quando comparada à coisa julgada judicial.
No entanto, novamente, como não existe uma forma de estabilidade processual mais forte que a coisa julgada, a
existência de um caráter mais restritivo quanto à sindicabilidade da sentença arbitral não revela nova espécie de
estabilidade processual, mas tão somente uma densificação, pelo legislador infraconstitucional, ainda mais restritiva,
da coisa julgada no caso da arbitragem.
O segundo ponto diz respeito à eficácia preclusiva da coisa julgada. Em âmbito judicial, a eficácia preclusiva da coisa
julgada estabelece que as partes não podem se valer de “argumento que poderia ter sido suscitado anteriormente
para promover nova demanda com o escopo de destruir o resultado a que se chegou no processo onde a decisão
passou em julgado"34. É evidente que o mesmo ocorre na arbitragem.
Ao restringir as hipóteses de questionamento da sentença arbitral à verificação de erros formais e procedimentais, a
Lei afasta a possibilidade de a parte, na tentativa de questionar a solução conferida pelo árbitro, suscitar “alegações e
defesas para opor tanto ao acolhimento quanto à rejeição do pedido” tal qual previsto no art. 508 do CPC
(LGL\2015\1656).
O terceiro ponto diz respeito à eficácia negativa e positiva da coisa julgada, também amplamente verificáveis no caso
das sentenças arbitrais. Mesmo entre os que negam a existência de uma plena equiparação entre a coisa julgada
judicial e arbitral, é inequívoco o reconhecimento de que o resultado do processo arbitral “abrangido pela ‘coisa
julgada’ deverá ser observado em futuro processo judicial cuja solução dele dependa para ser obtida”35, o que
configura a eficácia positiva da coisa julgada arbitral. O mesmo, é claro, vale para outros processos arbitrais.

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Por sua vez, a eficácia negativa da coisa julgada – impossibilidade de judicializar a mesma demanda entre as mesmas
partes – é também facilmente verificável no âmbito da arbitragem. Se o árbitro profere sentença definitiva, obrigatória
e vinculante às partes, é evidente que a demanda não poderá ser novamente submetida a qualquer outro juízo arbitral
ou estatal.
Do ponto de vista jurídico-positivo, as excepcionalíssimas hipóteses em que poderá haver submissão da sentença
arbitral ao Poder Judiciário, em que podem ser alegados vícios exclusivamente de forma e de procedimento, e não
mérito, confirmam a existência dessa eficácia negativa. Por fim, com o término da arbitragem, “também os árbitros
estarão impedidos de rever o que eles próprios decidiram sobre o mérito”36, – tal qual ocorre com o Juiz estatal.
O último ponto – a abrangência da autoridade da coisa julgada sobre questão prejudicial – será tratada em específico
na sequência. Mas, adianta-se desde logo, é também verificável na arbitragem.
Do exposto, a conclusão a que se chega é a de que existe coisa julgada arbitral tal qual verificado em âmbito judicial.
Disso decorre a exigência hermenêutica e sistemática de que a imutabilidade da sentença arbitral seja também
compreendida a partir de pressupostos e parâmetros afirmados para a coisa julgada judicial, ressalvadas as
especificidades expressas em lei (nomeadamente, a maior restrição às hipóteses de desconstituição).
V –Limites objetivos e subjetivos da coisa julgada arbitral
O anteriormente exposto estabelece que a sentença arbitral faz coisa julgada tal qual a sentença judicial. Por isso,
merecem exame específico as repercussões acerca dos limites objetivos e subjetivos da coisa julgada no âmbito do
processo arbitral, considerando o regime diferenciado estabelecido a partir do CPC/2015 (LGL\2015\1656) nestes
pontos.
Em primeiro, os limites objetivos. A imutabilidade da decisão do árbitro é adstrita ao dispositivo da sentença arbitral ou
abrange também questão prejudicial decidida expressa e incidentemente no processo, como previsto no CPC
(LGL\2015\1656)?
Sendo a coisa julgada arbitral dotada rigorosamente da mesma natureza jurídica que a coisa julgada judicial, em
princípio, não haveria razão para que se entendesse pela inaplicabilidade do regime da coisa julgada sobre questão
prejudicial estabelecido pelo CPC (LGL\2015\1656). A coisa julgada é uma opção política, assim como é política a
definição de sua abrangência e extensão. O legislador brasileiro optou por uma coisa julgada que não se restringe ao
dispositivo e isso deve ser observado no processo arbitral. Mesmo porque a razão de ser da coisa julgada sobre
questão – ou seja, os motivos políticos que levam a esta opção – são aplicáveis à arbitragem. A arbitragem também
deve ser estável, não havendo razão para que se retire a estabilidade do que foi decidido porque a questão principal
era outra; a arbitragem também possui autoridade e imperatividade, o que seria desafiado caso se permitisse a
rediscussão de questão incidental já resolvida.
Sendo assim, a opção legislativa que define os limites objetivos da coisa julgada deve ser “necessariamente
prestigiada e efetivamente realizada em todos os locais em que alguém possa negar, modificar, diminuir, permitir a
rediscussão ou redecidir uma questão prejudicial”37, seja a arbitragem, seja a jurisdição estatal.

Esta compreensão não é unânime na doutrina38-39, mas, sem previsão específica em sentido contrário na Lei da
Arbitragem, e considerando que a compreensão que embasa o regime do CPC (LGL\2015\1656) é igualmente
aplicável ao processo arbitral, é defensável a ampliação dos limites objetivos da coisa julgada também no processo
arbitral. Mas também não é possível que se proceda com a aplicação do Código de Processo Civil à arbitragem. Ainda
que se entenda pela incidência da coisa julgada sobre questão na arbitragem, é necessário que isso seja adequado à
natureza própria do processo arbitral.
Felipe Scripes Wladeck, por exemplo, compreende que, se a coisa julgada arbitral “anteriormente formada disser
respeito à questão que seja prejudicial em futura arbitragem, os árbitros nomeados para esta não serão obrigados a
observá-la”40, a não ser que “as partes tenham convencionado expressamente o contrário”41. Ressalvado que o autor
em questão, ao contrário do que aqui defendido, entende que a coisa julgada arbitral não é a mesma verificada no
processo judicial, bem como que o entendimento em comento foi manifestado antes do CPC/2015 (LGL\2015\1656), a
questão da convenção entre as partes é exemplificativa dos contornos do regime da coisa julgada sobre questão
prejudicial na arbitragem.
Não há estrita vinculação das partes aos efeitos da sentença imutável. É absolutamente possível, como explica
Eduardo Talamini, “no âmbito das relações disponíveis, abdicar da solução de eliminação da incerteza dada pelo juiz e
consensualmente estabelecer outra”42. O que não é mais possível, ainda que consensualmente, é a obtenção de novo
pronunciamento jurisdicional acerca daquela relação.
A arbitragem é, por excelência, um campo de discussão de direitos disponíveis. Por isso, nada impede que, mediante
a convenção entre as partes, não seja considerado o resultado da coisa julgada sobre questão anteriormente
resolvida. Isso não retira a autoridade da coisa julgada sobre questão da sentença arbitral anterior, mas tão somente
relativiza os efeitos dessa sentença imutável porque, consensualmente, as partes assim dispuseram. O mesmo
raciocínio é absolutamente válido para as sentenças judiciais.

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A possibilidade de convenção entre as partes para que sejam afastados os efeitos de sentença arbitral imutável,
inclusive, também é fator extremamente relevante para o segundo questionamento que se propõe: quem é abrangido
pela coisa julgada arbitral?
Novamente, na linha do aqui defendido, a coisa julgada arbitral, quanto aos seus limites subjetivos, muito embora a
arbitragem não se submeta ao CPC (LGL\2015\1656), a racionalidade que, no Código, permite a ampliação dos
limites subjetivos da coisa julgada em âmbito judicial, também é verificada na arbitragem. Por isso, em regra, serão
abrangidas apenas as partes, mas é possível que a coisa julgada arbitral opere em favor de terceiro.
A lógica que fundamenta a opção do CPC (LGL\2015\1656) em estender a coisa julgada a terceiros quando esta lhes
for favorável é a vedação da rediscussão de questão já exaurida definitivamente, sendo indiferente, para tanto, se a
questão é suscitada entre as mesmas partes ou por partes distintas. O parâmetro é o exercício de ampla defesa e
contraditório pela parte prejudicada na formação da coisa julgada anterior. Essa racionalidade é replicável na
arbitragem43.
Uma problemática se destaca neste campo. Como visto anteriormente, é possível que, por convenção, as partes
afastem os efeitos da sentença arbitral imutável que decidiu questão prejudicial. Neste caso, ainda é possível se falar
na utilização desta coisa julgada sobre questão por terceiro?
Entende-se que a solução perpassa pela mesma compreensão concebida para situação análoga em âmbito judicial.
No caso, o terceiro juridicamente interessado que se oponha à solução consensual dada pelas partes em sentido
contrário ao estabelecido pela sentença imutável pode fazer valer a subordinação das partes do processo arbitral à
coisa julgada ali formada44.
A convenção entre as partes pode afastar os efeitos da sentença imutável, mas jamais poderá dispor acerca da
autoridade da coisa julgada que recobre o comando sentencial. Se o terceiro demonstra interesse jurídico para tanto,
tem a favor de si comando sentencial imutável que pode ser plenamente aplicado ao caso, sem qualquer influência de
eventuais convenções referentes à incidência concreta dos efeitos sentenciais na relação jurídica originária. A
disposição a respeito dos efeitos da sentença entre as partes é adstrita às partes negociantes, não abrangendo o
terceiro.
VI –Conclusão
Este estudo se propôs a escrutinar a natureza jurídica da sentença arbitral imutável e a conclusão a que se chega é a
de que o instituto da coisa julgada, como concebido no processo civil estatal, é também verificado na arbitragem.
Disso decorre a exigência hermenêutica e sistemática de que a imutabilidade da sentença arbitral seja também
compreendida a partir de pressupostos e parâmetros afirmados para a coisa julgada judicial, ressalvadas as
especificidades expressas em lei (nomeadamente, a maior restrição às hipóteses de desconstituição).
Nesse aspecto, a coisa julgada arbitral replica o regime restritivo da coisa julgada judicial, uma vez que a) suas
hipóteses de desconstituição não só são excepcionalíssimas, como são ainda mais restritivas do que as verificadas
nos casos de rescindibilidade da coisa julgada judicial; b) possui eficácia preclusiva, pois a Lei afasta a possibilidade
de a parte, na tentativa de questionar a solução conferida pelo árbitro, suscitar alegações e defesas para se opor tanto
ao acolhimento quanto à rejeição do pedido; c) é dotada de eficácia positiva e negativa própria da coisa julgada, pois o
resultado do processo arbitral deverá ser observado em outro processo – arbitral ou judicial – cuja solução dele
dependa, assim como não é possível a demanda seja novamente submetida a qualquer outro juízo arbitral ou estatal;
d) abrange questão incidentalmente decidida no processo.
Referências
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1 TARUFFO, Michele; MITIDIERO, Daniel. A justiça civil: da Itália ao Brasil, dos setecentos a hoje. São Paulo:
Thomson Reuters Brasil, 2018. p. 492.

2 BARBOSA MOREIRA, José Carlos. Ainda e sempre a coisa julgada. Revista dos Tribunais, São Paulo, v. 59, n. 416,
p. 9-17, jun. 1970.

3 Como será exposto oportunamente, não é possível falar em “coisa julgada” em atos alheios à função jurisdicional.
De toda forma, ressalvadas as diversas críticas possíveis a esta concepção, cabe pontuar que parcela da doutrina
administrativista se refere à existência de fenômeno denominado “coisa julgada administrativa”, consistente na
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impossibilidade de alteração, pela via administrativa, de determinada decisão proferida em processo administrativo.
Cf. MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 26. ed. rev., atual. São Paulo: Malheiros,
2009; CARVALHO FILHO, José dos Santos. Processo administrativo federal. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2013. p. 341.

4 Além do acolhimento de parcela da doutrina supramencionado, a expressão “coisa julgada administrativa” – no


sentido conferido pela doutrina administrativista – foi utilizada pelo STJ, cf. AgInt no RMS 51043/MA, rel. Min. Mauro
Campbell, 2ª T., j. 27.09.2016.

5 A título exemplificativo: CARMONA, Carlos Alberto. Arbitragem e processo. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2009; ARRUDA
ALVIM, Eduardo; DANTAS, André Ribeiro. Direito processual arbitral: natureza processual da relação jurídica arbitral e
incidência do direito constitucional processual. Revista de Processo, São Paulo, v. 234, ago. 2014; DINAMARCO,
Cândido Rangel. Aarbitragem na teoria geral do processo. São Paulo: Malheiros, 2013; ARRUDA ALVIM, José Manoel
de. Manual de direito processual civil. 16. ed., São Paulo: Ed. RT, 2013. p. 198-200; PARENTE, Eduardo de
Albuquerque. Processo arbitral e sistema. São Paulo: Atlas, 2012. p. 304.

6 Donaldo Armelin realizou justamente esta distinção a fim de entender que o termo utilizado pela lei não é suficiente
para afastar a possibilidade de formação da coisa julgada em âmbito arbitral: “embora a coisa julgada não seja um
efeito, mas sim uma qualidade da sentença, pode-se reconhecer nela a imutabilidade correspondente à coisa julgada
material no plano do processo civil.” Cf.: ARMELIN, Donaldo. Notas sobre ação rescisória em matéria arbitral. Revista
deArbitragem e Mediação, São Paulo, n. 1, p. 11-20, jan.-mar. 2004.

7 CABRAL, Antonio do Passo. As estabilidades processuais como categoria incorporada ao sistema do CPC
(LGL\2015\1656)..., cit., p. 26.

8 CABRAL, Antonio do Passo. As estabilidades processuais como categoria incorporada ao sistema do CPC
(LGL\2015\1656)..., cit., p. 27.

9 CABRAL, Antonio do Passo. As estabilidades processuais como categoria incorporada ao sistema do CPC
(LGL\2015\1656)..., cit., p. 34.

10 CÂMARA, Alexandre Freitas. Arbitragem: Lei n. 9.307/96 (LGL\1996\72). 3. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2002.
p.135-137.

11 TALAMINI, Eduardo. Coisa julgada e sua revisão..., cit., p. 48.

12 ARENHART, Sérgio Cruz. Breves observações sobre o procedimento arbitral. Disponível em: [https://goo.gl/
aeHx1v]. Acesso em: jul. 2019.

13 O estudo de 1990 de Carlos Alberto Carmona retrata este contexto. CARMONA, Carlos Alberto. Arbitragem e
jurisdição. Revista de Processo, São Paulo, v. 58, 1990.

14 COSTA, Guilherme Recena. Partes e terceiros na arbitragem. Tese (Doutorado em Direito) – Universidade de São
Paulo, 2015.

15 Idem.

16 A título exemplificativo de obra recente que nega o caráter jurisdicional da arbitragem: MARINONI, Luiz Guilherme;
ARENHART, Sérgio Cruz; MITIDIERO, Daniel. Curso de processocivil: tutela de direitos mediante procedimentos
diferenciados. Muito embora nesta obra, escrita por três autores, seja exposta esta concepção, em outros textos
também recentes nos quais é o único autor, Luiz Guilherme Marinoni aparenta aceitar o caráter jurisdicional da
arbitragem. Cf. MARINONI, Luiz Guilherme. Arbitragem e coisa julgada sobre questão. Revista de Arbitrageme
Mediação, v. 58/2018, p. 99-117, jul.-set. 2018.

17 Cf. CARMONA, Carlos Alberto. Arbitragem e processo..., cit., p. 26; CINTRA, Antonio Carlos de Araújo;
GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel. Teoria geral doprocesso. 31. ed. São Paulo: Malheiros,
2015. p. 177; SALLES, Carlos Alberto de. Arbitragem emcontratos administrativos. Rio de Janeiro: Forense, 2011. p.
90.

18 CARMONA, Carlos Alberto. Arbitragem e jurisdição..., cit.

19 TALAMINI, Eduardo. Arbitragem e estabilização da tutela antecipada. Revista de Processo, São Paulo, v. 246,
2015.

20 O exemplo recente mais proeminente é o caso português, no qual, por meio da figura do “agente de execução”,
ente privado que detém competência para prática de atos executivos, incluindo os expropriatórios. Cf. CILURZO, Luiz

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Fernando. A desjudicialização na execuçãoporquantia. Dissertação (Mestrado em Direito) – Faculdade de Direito,
Universidade de São Paulo, São Paulo, 2016.

21 CARMONA, Carlos Alberto. Arbitragem e jurisdição..., cit.

22 MONTEIRO, André Luís; FICHTNER, José Antonio; MANNHEIMER, Sergio Nelson. Novostemas de arbitragem.
Rio de Janeiro: Editora FGV, 2014. p. 311.

23 Conforme explica Marcelo José Magalhães Bonizzi, o processo depende da Constituição para ser legítimo. Nesta
medida, o estudo dos princípios fundamentais da organização judiciária e do processo, constantes na Constituição, é
uma das facetas do direito processual constitucional. Cf. BONIZZI, Marcelo José Magalhães. Princípios do processo
no novo Código de ProcessoCivil. São Paulo: Saraiva, 2016. p. 30.

24 DINAMARCO, Cândido Rangel. A arbitragem na teoria geral do processo. São Paulo: Malheiros, 2013. p. 15.

25 MONTEIRO, André Luís; FICHTNER, José Antonio; MANNHEIMER, Sergio Nelson. Novostemas de arbitragem...,
cit., p. 313.

26 CARMONA, Carlos Alberto. Em torno do árbitro. Revista de Arbitragem e Mediação, São Paulo, v. 8, n. 28, p. 47-
63, jan.-mar. 2011.

27 WLADECK, Felipe Scripes. Meios de controle judicial da sentença arbitral nacional. Dissertação (Mestrado em
Direito) – Faculdade de Direito, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2013.

28 WLADECK, Felipe Scripes. Meios de controle judicial da sentença arbitral nacional..., cit., p. 54.

29 WLADECK, Felipe Scripes. Meios de controle judicial da sentença arbitral nacional..., cit., p. 55.

30 Não existe diferença estrutural entre direitos e garantias fundamentais. Didaticamente, no entanto, é possível
afirmar que o vocábulo garantia remete à noção instrumental e assecuratória de direitos. SARLET, Ingo Wolfgang. A
eficácia dos direitos fundamentais: uma teoria geral dos direitos fundamentais na perspectiva constitucional. 10. ed.
Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2009. p. 24.

31 “O poder de declarar o direito (com coisa julgada) é a nota fundamental da atividade jurisdicional: a forma do
processo declaratório aliado à coisa julgada que última esta atividade é a representação nodal da função jurisdicional.
Não há dúvida de que, dentro desta definição, a arbitragem não pode ser incluída como jurisdicional. Embora a
sentença arbitral seja dotada de estabilidade entre as partes, é certo que ela não é, nem de longe, tão intensa como a
coisa julgada. Aliás, a lei de arbitragem autoriza, até mesmo, a discussão da sentença arbitral, dentro de certas
circunstâncias, em juízo (arts. 31 a 33, da lei), o que indica que o fenômeno operado sobre aquela decisão não pode
ser equiparado à coisa julgada. Assim, em que pese o fato de que a arbitragem possui, em seu procedimento, a
mesma forma declaratória exigida para caracterizar a jurisdição dentro desta perspectiva, falta-lhe a tônica da coisa
julgada, que é essencial nesta visão para caracterizar aquela atividade.” Cf. ARENHART, Sérgio Cruz.
Brevesobservações sobre o procedimento arbitral..., cit.

32 A ação rescisória é “ação de natureza constitutiva negativa, instauradora de novo processo cujo objeto é a revisão
de julgamento anterior, com sua substituição por outro ou, em alguns casos, apenas sua invalidação”. In: TALAMINI,
Eduardo. Coisa julgada e sua revisão..., cit., p. 137.

33 YARSHELL, Flávio. Ainda sobre o caráter subsidiário do controle jurisdicional estatal da sentença arbitral. Revista
de Arbitragem e Mediação, São Paulo, v. 50, 2016.

34 FUX, Luiz. Curso de direito processual civil: processos de conhecimento, processo de execução, processo cautelar.
Rio de Janeiro: Forense, 2004. p. 837-838.

35 WLADECK, Felipe Scripes. Meios de controle judicial da sentença arbitral nacional..., cit., p. 56.

36 WLADECK, Felipe Scripes. Meios de controle judicial da sentença arbitral nacional..., cit., p. 56.

37 MARINONI, Luiz Guilherme. Arbitragem e coisa julgada sobre questão. Revista de Arbitrageme Mediação, são
Paulo, v. 58, p. 99-117, jul.-set. 2018.

38 Leonardo de Faria Beraldo, por exemplo, entende que “o § 1º do art. 503 é uma determinação para o juiz, e, não,
para o árbitro”. Cf. BERALDO, Leonardo de Faria. O impacto do novo código de processo civil na arbitragem. Revista
de Arbitragem e Mediação, São Paulo, v. 49, abr.-jun. 2016.

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39 No direito italiano, Giovanni Bonato, em análise do regime jurídico acerca da coisa julgada sobre questão,
compreende que a natureza eminentemente privada da arbitragem impede a expansão dos efeitos da sentença para
além de seu dispositivo. Cf. BONATO, Giovanni. La natura e gli effetti del lodo arbitrale. Studio di diritto italiano e
comparato. Napoli: Jovene, 2012. p. 90-92.

40 WLADECK, Felipe Scripes. Meios de controle judicial da sentença arbitral nacional..., cit., p. 61.

41 Idem.

42 TALAMINI, Eduardo. Coisa julgada e sua revisão..., cit., p. 40.

43 “Ora, se o collateral estoppel favorece terceiro contra a parte vencida, e essa é quem confere ao árbitro –
juntamente com o seu adversário – poder para resolver o conflito e decidir a questão prejudicial, obviamente não há
qualquer diferença ou problema em admitir o collateral estoppel em favor de terceiro com base em sentença arbitral.”
Cf. MARINONI, Luiz Guilherme. Arbitragem e coisa julgada sobre questão..., cit.

44 TALAMINI, Eduardo. Coisa julgada e sua revisão..., cit., p. 40-41.

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