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TCC - Isabella Basso
TCC - Isabella Basso
BASSO, Isabella1
RESUMO
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Graduanda em Direito pela Unisociesc. E-mail: bassoisabella35@gmail.com
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ABSTRACT
The present work aims to analyze the disregard of legal personality. First,
it studies the concept and application and then it will expose all the changes that
have occurred with the recent changes in legislation that institutes the disregard
of the legal personality, making the system more effective, with greater security
and with the power of accountability of the partners who commit illegal acts. Later,
it will address the responsibilities in accordance with Law Number 13.874/2019,
seeking to clarify that this Law appeared for the purpose of encouraging
development, and ending with the conclusion.
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1. INTRODUÇÃO
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Artigo 1°. Fica instituída a Declaração de Direitos de Liberdade Econômica, que estabelece normas de proteção à livre
iniciativa e ao livre exercício de atividade econômica e disposições sobre a atuação do Estado como agente normativo e
regulador, nos termos do inciso IV do caput do art. 1º, do parágrafo único do art. 170 e do caput do art. 174 da Constituição
Federal.
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atividades econômicas e diminui a participação do Estado como agente de
intermediação e regularização.
Em 20 de setembro de 2019, a Medida Provisória n° 881 de 2019 (MP
881) foi convertida na Lei n° 13.874 (Lei da Liberdade Econômica), instituindo a
Declaração de Direitos de Liberdade Econômica e estabelecendo normas de
proteção à livre iniciativa e ao livre exercício da atividade econômica, bem como
dispondo sobre a atuação do Estado como agente normativo e regulador. Dentre
as alterações trazidas pela Lei da Liberdade Econômica, foi alterada a redação
do artigo 50 da Lei n° 10.406 de 2002 (Código Civil), reformando a disposição
legal aplicável ao instituto da desconsideração da personalidade jurídica.
A pesquisa teve como objetivo apresentar o instituto da desconsideração
da personalidade jurídica e as alterações trazidas pela Lei 13.874, de 20 de
setembro de 2019, se estendendo para alguns objetivos específicos, são eles:
apresentar o instituto da desconsideração da personalidade jurídica,
compreender a importância e o impacto do instituto da desconsideração,
apresentar a Lei 13.874/19, que institui a Declaração de Direitos de Liberdade
Econômica e analisar as principais alterações trazidas pela Lei 13.874/19.
Do ponto de vista metodológico, para a realização do projeto utilizar-se-á
o método dedutivo, cuja obtenção de dados será mediante documentação
indireta (leis, doutrinas e jurisprudências) e pesquisa bibliográfica.
O tema é de grande importância para o Direito, em especial ao Direito
Empresarial, pois o instituto da desconsideração da personalidade jurídica visa
extinguir, então, o limite existente entre o patrimônio da pessoa jurídica e o do
sócio, permitindo que os bens deste respondam pela obrigação pactuada pela
pessoa jurídica.
Organizou-se este artigo da seguinte forma: primeiramente, apresenta-se
o conceito e aplicação da desconsideração da personalidade jurídica, após, o
conceito e modificações por intermédio da Lei de Liberdade Econômica n°
13.874/19, bem como, dando sequência, traz-se os assuntos sobre desvio de
finalidade e confusão patrimonial com a inclusão dos parágrafos 1°, 2° e 5° como
requisitos autorizadores da desconsideração, seguindo com, a desconsideração
inversa e a inclusão do parágrafo 3°, e, por fim, o grupo econômico e a inclusão
do parágrafo 4°.
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O objetivo principal do projeto é apresentar o instituto da desconsideração da
personalidade jurídica e as alterações trazidas pela Lei 13.874, de 20 de
setembro de 2019.
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Esse princípio da autonomia patrimonial possibilita que
sociedades empresárias sejam utilizadas como instrumento para
a prática de fraudes e abusos de direito contra credores,
acarretando-lhes prejuízos. Pessoas inescrupulosas têm-se
aproveitado desse princípio, com a intenção de se locupletarem
em detrimento de terceiros, utilizando a pessoa jurídica como
uma espécie de “capa” ou “véu” para proteger os seus negócios
escusos. (GONÇALVES, 2019, p. 265).
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garantir os interesses de terceiros, em casos específicos de práticas de fraude e
abuso praticado pela própria atividade econômica empresarial. Observa-se:
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patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte, ou do Ministério Público
quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos de certas e determinadas
relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos
administradores ou sócios da pessoa jurídica.
Dessa forma, pode-se classificar o abuso de personalidade como um
gênero que se divide em duas espécies denominadas de desvio de finalidade e
confusão patrimonial, que serão objeto de análise mais à frente. O instituto recai
basicamente sobre esses dois elementos, por isso é necessário conhecer suas
essências materiais, para posteriormente entender como aplicar no caso
concreto. Assim, leciona o doutrinador Nelson Nery Junior:
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Artigo 133. O incidente de desconsideração da personalidade jurídica será instaurado a pedido da parte ou do
Ministério Público, quando lhe couber intervir no processo. §1º O pedido de desconsideração da personalidade jurídica
observará os pressupostos previstos em lei.
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administrador) nos casos em que a lei material o autoriza, mas, não será objeto
de estudo no presente artigo.
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O caput manteve a redação, mas trouxe um melhor esclarecimento nos
parágrafos com relação ao desvio de finalidade e confusão patrimonial,
tornando-se mais relevante e atual.
A princípio cabe mencionar que em ambas as redações do artigo 50, ou
seja, antes, bem como com a posterior alteração do referido artigo, faz-se
necessário estabelecer a prova do desvio de finalidade e/ou confusão
patrimonial, demostrando assim, o abuso da personalidade jurídica.
No entanto, a nova redação do caput do artigo 50 traz mudanças
significativas, como por exemplo, a necessidade de indicar as partes
beneficiadas direta e/ou indiretamente pelo abuso da personalidade. O legislador
incluiu essa parte com o propósito de responsabilizar apenas quem cometeu o
ato lesivo, porque anteriormente, o entendimento que prosperava era o de que
todos os sócios ou administradores poderiam ser responsabilizados. Assim
sendo, a mencionada alteração aplica a responsabilidade aos beneficiados pela
prática ilegal.
No que tange a responsabilidade, avalia-se que houve alterações nítidas,
que não requer amplos comentários, por ser bem compreensível e de cunho
informacional. Nota-se que a Lei nº 13.874/19 trouxe a responsabilização de
caráter pessoal, levando assim em consideração a relação pessoal do agente
que direta e/ou indiretamente se beneficia do ato praticado. Nesse viés, pode-se
afirmar que apenas serão responsabilizados os agentes que de fato se
beneficiarem do patrimônio oriundo de fraude. Assim comenta Flávio Tartuce:
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Ultrapassado os apontamentos acima, referentes ao caput e a
responsabilização, passa-se a abordar os parágrafos 1º, 2º e 5º que conceituam
legalmente os requisitos autorizadores da desconsideração, enquanto, os
parágrafos 3º e 4º, evidenciam a abrangência da desconsideração.
Cabe mostrar cada parágrafo de forma individualizada, a fim de expor as
referidas mudanças.
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Portanto, o parágrafo em comento exprime objetividade e restrição, sem
ceder margem para interpretação, quanto a sua incidência.
Por fim, o parágrafo quinto esclareceu, também de forma restritiva, que a mera
expansão ou alteração da finalidade original da atividade econômica não é
suficiente para possibilitar a desconsideração da personalidade jurídica.
Dessa forma é preciso apresentar a comprovação do ato de abuso da
personalidade, bem como quais são os sócios beneficiados. Ademais a nova
redação traz o conceito de desvio de finalidade e confusão patrimonial, ou seja,
trata especificamente de conceituar os elementos que originam a aplicabilidade
do instituto da desconsideração.
Na sequência, o parágrafo segundo do artigo 50 do Código Civil aduz as
possibilidades que configura a “confusão patrimonial”:
Art. 50 [...]
§2º. Entende-se por confusão patrimonial a ausência de
separação de fato entre os patrimônios, caracterizada por:
(Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)
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Quanto aos incisos específicos, ensina e destaca Anderson Schreiber
(2019):
Os dois primeiros incisos deste parágrafo descrevem exemplos
corriqueiros de confusão patrimonial, como o cumprimento
reiterado de obrigações do sócio ou administrador pela pessoa
jurídica, ou vice-versa, e a transferência de ativos sem efetiva
contraprestação. O terceiro inciso refere-se genericamente a
“outros atos de descumprimento da autonomia patrimonial”,
possibilitando ao intérprete identificar, a partir de elementos do
caso concreto, outras modalidades de confusão, como, por
exemplo, a prestação de garantia pela pessoa jurídica em
negócio de interesse exclusivo do sócio (Schreiber, 2019).
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descumprimento da autonomia patrimonial" enquanto hipóteses de confusão
patrimonial, conferindo ao rol de definição um caráter amplo e exemplificativo.
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A Teoria Maior somente reconhece a desconsideração da personalidade jurídica quando ficar configurado que os
sócios agiram com fraude ou abuso, ou, ainda, que houve confusão patrimonial entre os bens da pessoa física e os
bens da pessoa jurídica.
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própria pessoa jurídica, de modo a satisfazer obrigações de seus sócios ou
administradores, caso reste comprovada a fraude por parte destes.
A este respeito, faz-se importante pontuar que a referida hipótese é prevista
pelo parágrafo segundo do artigo 133 da Lei n° 13.105 de 2015 do Código de
Processo Civil, já comentado acima, tendo sido ora recepcionada pelo Código
Civil. Se configurada a desconsideração inversa da personalidade jurídica,
deverão ser aplicadas as definições de "desvio de finalidade" e "confusão
patrimonial" ora invocadas pela Lei da Liberdade Econômica.
A desconsideração inversa ocorre, portanto, quando o sócio utiliza a pessoa
jurídica para proteger os bens que seriam do patrimônio pessoal. Na prática, isso
é feito por meio de transferência, ou da própria aquisição em nome da pessoa
jurídica.
Mesmo que seja inversa, a desconsideração ainda necessita que haja o abuso
da personalidade jurídica, ou seja, confusão patrimonial aplicada, desvio de
finalidade e o pontual o objetivo intuito de não honrar com suas dívidas.
Acerca da matéria, o Superior Tribunal de Justiça em voto de relatoria da
ministra Nancy Andrighi conceituou o tema muito claramente, como se vê em
ementa e trecho do Recurso Especial nº 948.117 – MS (2007/0045262-5):
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patrimônio social, de modo a responsabilizar a pessoa jurídica
por obrigações do sócio controlador. IV – Considerando-se que
a finalidade da disregard doctrine é combater a utilização
indevida do ente societário por seus sócios, o que pode ocorrer
também nos casos em que o sócio controlador esvazia o seu
patrimônio pessoal e o integraliza na pessoa jurídica, conclui-se,
de uma interpretação teleológica do art. 50 do CC/02, ser
possível a desconsideração inversa da personalidade jurídica,
de modo a atingir bens da sociedade em razão de dívidas
contraídas pelo sócio controlador, conquanto preenchidos os
requisitos previstos na norma. V – A desconsideração da
personalidade jurídica configura-se como medida excepcional.
Sua adoção somente é recomendada quando forem atendidos
os pressupostos específicos relacionados com a fraude ou
abuso de direito estabelecidos no art. 50 do CC/02. Somente se
forem verificados os requisitos de sua incidência, poderá o juiz,
no próprio processo de execução, “levantar o véu” da
personalidade jurídica para que o ato de expropriação atinja os
bens da empresa. VI – À luz das provas produzidas, a decisão
proferida no primeiro grau de jurisdição, entendeu, mediante
minuciosa fundamentação, pela ocorrência de confusão
patrimonial e abuso de direito por parte do recorrente, ao se
utilizar indevidamente de sua empresa para adquirir bens de uso
particular. VII – Em conclusão, a r. decisão atacada, ao manter
a decisão proferida no primeiro grau de jurisdição, afigurou-se
escorreita, merecendo assim ser mantida por seus próprios
fundamentos. Recurso especial não provido.
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modo, a mencionada Lei é responsável pela reformulação no que tange a sua
aplicabilidade.
Ademais trouxe restrição no campo de aplicação, ou seja, hipóteses
específicas que ainda que sejam praticadas não autorizam o instituto. Ficando
assim exposto que o regramento normativo deixou a desconsideração mais
restrita, garantindo maior confiança para a atividade empresária.
Quanto a desconsideração perante o grupo econômico, tece a jurisprudência
julgada em 18/10/2011 pelo Relator Theophilo Miguel:
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indisponibilidade dos bens de titularidade dos responsáveis
tributários, quando presentes provas fortes ou indícios
suficientes a evidenciar a prática de fraude ou atos ilegais para
se esquivar do cumprimento das obrigações fiscais. Essa
medida cautelar de indisponibilidade de bens, que tem
fundamento no poder geral de cautela, poderá ser decretada
mesmo antes da decisão sobre o redirecionamento da execução
fiscal, pelo exercício do poder geral de cautela. 3. Diante de
fundadas provas da existência de fraude e ilícitos praticados no
seio de grupo econômico de fato, o princípio da preservação da
empresa (Lei nº 11.101/2005, art. 47), de inegável relevância
social, deve ceder espaço ao princípio geral de que ninguém
pode se beneficiar da própria torpeza (nemo turpitudinem suam
allegare potest). Diante disso, mostra-se juridicamente
adequada e proporcional a medida judicial que determina o
bloqueio dos ativos financeiros das pessoas envolvidas. 4. O
pedido de substituição da penhora de dinheiro por bem imóvel
deve ser rechaçado porque na decisão agravada o juiz da causa
condicionou o seu exame ao prévio pronunciamento da
União/Fazenda Nacional, em respeito à disciplina do art. 657 do
CPC. 5. Agravo de instrumento desprovido.
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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
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5. REFERÊNCIAS
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