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DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA E AS

ALTERAÇÕES TRAZIDAS PELA LEI N° 13.874/2019.

DISREGARD OF THE LEGAL PERSONALITY AND THE AMENDMENTS


BROUGHT BY LAW No. 13.874/2019.

BASSO, Isabella1

RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo analisar a desconsideração da


personalidade jurídica. Primeiramente estuda o conceito e aplicação e em
seguida, o trabalho passará a expor todas as modificações ocorridas com as
recentes mudanças na legislação que institui a desconsideração da
personalidade jurídica, tornando o sistema mais eficaz, com maior segurança e
com poder de responsabilização dos sócios que cometerem atos ilegais.
Posteriormente, abordará sobre as responsabilidades de acordo com a Lei n°
13.874/2019, buscando esclarecer que esta Lei surgiu com a finalidade de
incentivar o desenvolvimento, e se encerrando com a conclusão.

Palavras-chave: Alteração legislativa; Desconsideração da Personalidade


Jurídica; Lei 13.874/2019.

1
Graduanda em Direito pela Unisociesc. E-mail: bassoisabella35@gmail.com

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ABSTRACT

The present work aims to analyze the disregard of legal personality. First,
it studies the concept and application and then it will expose all the changes that
have occurred with the recent changes in legislation that institutes the disregard
of the legal personality, making the system more effective, with greater security
and with the power of accountability of the partners who commit illegal acts. Later,
it will address the responsibilities in accordance with Law Number 13.874/2019,
seeking to clarify that this Law appeared for the purpose of encouraging
development, and ending with the conclusion.

Keywords: Legislative alteration; Disregard of the Legal Personality; Law


13.874/2019.

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1. INTRODUÇÃO

A desconsideração da personalidade jurídica, no ordenamento jurídico


brasileiro, surgiu primeiramente no Código de Defesa do Consumidor e
posteriormente foi inserida em outras leis, apenas em previsão expressa. Em
2002, foi positivada pelo Código Civil, mantendo as ideias estabelecidas pelos
demais sistemas.
Surgiu para amover com os abusos e fraudes que ocorriam com a
personalização, ou seja, tendo como objetivo inibir a prática de ilícitos e o
desvirtuamento da pessoa jurídica, com intuito de não causar prejuízo a
terceiros. Dessa forma, a desconsideração da personalidade jurídica pode ser
considerada um instrumento para acabar com a má gestão das sociedades.
Portanto, ocorre uma superação à autonomia patrimonial, no momento em que
se torna possível atingir o patrimônio dos sócios que constituem a pessoa
jurídica.
Deve-se notar que a aplicação de desconsideração da personalidade
jurídica é apenas uma suspensão das consequências da personalização e que
ocorre apenas ao caso específico que levou a tal ato. E serão atingidos apenas
os sócios que contribuíram para a irregularidade, afastando a desconsideração
dos demais.
A referida Lei chegou para trazer novos aspectos e esclarecer conceitos
a partir da desconsideração da personalidade jurídica. De forma simples, pode-
se definir a liberdade econômica como a autonomia que os cidadãos de uma
sociedade possuem para criar atividades econômicas, trabalhar, criar suas
reservas e investir.
Referente a Lei de Liberdade Econômica, a mesma caracteriza-se como
o direito que as pessoas possuem de desenvolver atividades econômicas,
trabalhar, gerar reservas e investir sem muita interferência do Estado, aliviando
o peso da burocracia sobre o empreendedor.
Conforme o artigo 1° da Lei 13.874, de 20 de setembro de 20192, o mesmo
é responsável por definir normas que protegem a livre iniciativa de

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Artigo 1°. Fica instituída a Declaração de Direitos de Liberdade Econômica, que estabelece normas de proteção à livre
iniciativa e ao livre exercício de atividade econômica e disposições sobre a atuação do Estado como agente normativo e
regulador, nos termos do inciso IV do caput do art. 1º, do parágrafo único do art. 170 e do caput do art. 174 da Constituição
Federal.

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atividades econômicas e diminui a participação do Estado como agente de
intermediação e regularização.
Em 20 de setembro de 2019, a Medida Provisória n° 881 de 2019 (MP
881) foi convertida na Lei n° 13.874 (Lei da Liberdade Econômica), instituindo a
Declaração de Direitos de Liberdade Econômica e estabelecendo normas de
proteção à livre iniciativa e ao livre exercício da atividade econômica, bem como
dispondo sobre a atuação do Estado como agente normativo e regulador. Dentre
as alterações trazidas pela Lei da Liberdade Econômica, foi alterada a redação
do artigo 50 da Lei n° 10.406 de 2002 (Código Civil), reformando a disposição
legal aplicável ao instituto da desconsideração da personalidade jurídica.
A pesquisa teve como objetivo apresentar o instituto da desconsideração
da personalidade jurídica e as alterações trazidas pela Lei 13.874, de 20 de
setembro de 2019, se estendendo para alguns objetivos específicos, são eles:
apresentar o instituto da desconsideração da personalidade jurídica,
compreender a importância e o impacto do instituto da desconsideração,
apresentar a Lei 13.874/19, que institui a Declaração de Direitos de Liberdade
Econômica e analisar as principais alterações trazidas pela Lei 13.874/19.
Do ponto de vista metodológico, para a realização do projeto utilizar-se-á
o método dedutivo, cuja obtenção de dados será mediante documentação
indireta (leis, doutrinas e jurisprudências) e pesquisa bibliográfica.
O tema é de grande importância para o Direito, em especial ao Direito
Empresarial, pois o instituto da desconsideração da personalidade jurídica visa
extinguir, então, o limite existente entre o patrimônio da pessoa jurídica e o do
sócio, permitindo que os bens deste respondam pela obrigação pactuada pela
pessoa jurídica.
Organizou-se este artigo da seguinte forma: primeiramente, apresenta-se
o conceito e aplicação da desconsideração da personalidade jurídica, após, o
conceito e modificações por intermédio da Lei de Liberdade Econômica n°
13.874/19, bem como, dando sequência, traz-se os assuntos sobre desvio de
finalidade e confusão patrimonial com a inclusão dos parágrafos 1°, 2° e 5° como
requisitos autorizadores da desconsideração, seguindo com, a desconsideração
inversa e a inclusão do parágrafo 3°, e, por fim, o grupo econômico e a inclusão
do parágrafo 4°.

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O objetivo principal do projeto é apresentar o instituto da desconsideração da
personalidade jurídica e as alterações trazidas pela Lei 13.874, de 20 de
setembro de 2019.

2. CONCEITO E APLICAÇÃO REFERENTE AO INSTITUTO DA


DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA.

Para compreender a desconsideração de um modo geral, faz-se


necessário primeiramente criar uma análise sobre o que é a personalidade
jurídica, e ela, basicamente é uma ideia de que uma pessoa, seja física (pessoa
natural) ou jurídica (empresa, ente público, associação sem fins lucrativos) tenha
capacidade de adquirir direitos e contrair deveres na sociedade, ou seja, na
prática, no caso das empresas, tem-se que a personalidade jurídica confere à
sociedade uma existência diversa em relação aos sócios, sendo então uma
entidade jurídica individualizada e autônoma.
É por meio do Princípio da Autonomia Patrimonial que o manto da
personificação da sociedade permite que os bens dos sócios sejam
considerados distintos dos bens da sociedade, ou seja, os bens são
incomunicáveis. Assim a pessoa jurídica se torna protegida pela separação entre
o seu patrimônio e os patrimônios particulares dos sócios, ou seja, é o que a
doutrina chama de “princípio da autonomia patrimonial”.
Ante o exposto, é perceptível que a personificação da pessoa jurídica não
é absoluta, o que significa que ela pode sofrer momentaneamente uma
intervenção, ou melhor, uma ruptura da “rocha” instituída pelo princípio da
autonomia patrimonial, garantidor da separação do patrimônio da sociedade
empresária e seus respetivos sócios.
Dessa forma, paralisa a proteção proveniente do princípio da autonomia
patrimonial que por sua vez é objeto de críticas do doutrinador Carlos Roberto
Gonçalves. Pois na visão do doutrinador esse conjunto de padrões de conduta
presentes de forma implícita no ordenamento jurídico, favorecem a prática de
ilícitos que causam espécies de prejuízos aos credores. Sendo assim, o
doutrinador entende que a existência da personalidade jurídica sem a
intervenção da desconsideração oferece aos empresários instrumentos legais
para o cometimento de atos ilegais durante a gestão empresarial.

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Esse princípio da autonomia patrimonial possibilita que
sociedades empresárias sejam utilizadas como instrumento para
a prática de fraudes e abusos de direito contra credores,
acarretando-lhes prejuízos. Pessoas inescrupulosas têm-se
aproveitado desse princípio, com a intenção de se locupletarem
em detrimento de terceiros, utilizando a pessoa jurídica como
uma espécie de “capa” ou “véu” para proteger os seus negócios
escusos. (GONÇALVES, 2019, p. 265).

A partir da contextualização acima, cumpre então dispor acerca da


desconsideração da pessoa jurídica que é uma medida que coíbe a fraude ou o
abuso de direito em apertada síntese, respeitado o devido processo legal, o
credor deve alcançar os bens particulares dos sócios e administradores.
Segundo Flávio Tartuce, o instituto da desconsideração da personalidade
jurídica funciona como um instrumento de transferência da responsabilidade,
assim, suspende os efeitos de personificação da pessoa jurídica com a finalidade
de atacar o patrimônio dos sócios, a fim de coibir a existência de fraude e/ou
abuso de finalidade, assuntos estes que serão tratados mais a frente, no intuito
de proteger credores e terceiros que se relacionam com a empresa:

Tal instituto permite ao juiz não mais considerar os efeitos da


personificação da sociedade para atingir e vincular
responsabilidades dos sócios, com intuito de impedir a
consumação de fraudes e abusos por eles cometidos, desde que
causem prejuízos e danos a terceiros, principalmente a credores
da empresa. Dessa forma, os bens particulares dos sócios
podem responder pelos danos causados a terceiros.
(TARTUCE, 2019, p. 154).

Na ocasião, é importante destacar o que leciona o professor Pablo Stolze


Gagliano no sentido de que o instituto da desconsideração da personalidade
jurídica ocorre de forma específica e determinada, transcendendo a proteção
personificada da empresa, ou seja, proteção da personalidade jurídica, a fim de

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garantir os interesses de terceiros, em casos específicos de práticas de fraude e
abuso praticado pela própria atividade econômica empresarial. Observa-se:

Em linhas gerais, a doutrina da desconsideração pretende a


supressão da personalidade jurídica da sociedade, em caso de
fraude, abuso, ou simples desvio de função, objetivando a
satisfação do terceiro lesado junto ao patrimônio dos próprios
sócios, que passam a ter responsabilidade pessoal pelo ilícito
causado. (GAGLIANO, FILHO, 2019, p. 136).

Nesse contexto, entende-se que o instituto da desconsideração da


personalidade jurídica, ocorre de forma transitória e com determinadas
especificações, ou seja, sua existência está condicionada ao período satisfatório
do objeto pretendido. Para garantir a pretensão, o instituto ataca diretamente o
patrimônio dos sócios e administradores, ao menos na redação original da
legislação, e têm como razão, os sócios como legítimos responsáveis pelos atos
ilícitos cometidos pela sociedade empresária, obviamente, até o limite que a
legislação autoriza no que tange a pertinência da desconsideração.
O instituto da desconsideração da personalidade jurídica perdura de
forma abstrata no ordenamento jurídico brasileiro como um instrumento
fundamental para coibir possíveis atos ilegais no âmbito empresarial, ou seja, é
um instituto que serve para limitar e restringir a amplitude da personalidade
jurídica, em caso de má atuação. Assim, não restam dúvidas de que a
desconsideração ocorre, quando a pessoa jurídica é utilizada de forma
inadequada.
Deste modo, faz-se necessário entender a importância de observar a
definição legal acerca da desconsideração da personalidade jurídica, que se
encontra na lei civilista brasileira, no caput do artigo 50, do Código Civil Brasileiro
de 2002 que tem a redação dada pela Lei de Liberdade Econômica n°
13.874/2019, que será abordada no próximo tópico.
O artigo 50 do Código Civil explica sobre a materialidade da lei que dá
condições para contrariar/atacar o abuso da personalidade jurídica da sociedade
empresária no decurso da gestão empresarial, ou seja, em caso de abuso da
personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confusão

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patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte, ou do Ministério Público
quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos de certas e determinadas
relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos
administradores ou sócios da pessoa jurídica.
Dessa forma, pode-se classificar o abuso de personalidade como um
gênero que se divide em duas espécies denominadas de desvio de finalidade e
confusão patrimonial, que serão objeto de análise mais à frente. O instituto recai
basicamente sobre esses dois elementos, por isso é necessário conhecer suas
essências materiais, para posteriormente entender como aplicar no caso
concreto. Assim, leciona o doutrinador Nelson Nery Junior:

[...] Se a pessoa jurídica se põe a praticar atos ilícitos ou


incompatíveis com sua atividade autorizada, bem como se com
sua atividade favorece o enriquecimento de seus sócios e sua
derrocada administrativa e econômica, dá-se ocasião de o
sistema de direito desconsiderar sua personalidade e alcançar o
patrimônio das pessoas que se ocultam por detrás de sua
existência jurídica. (NERY JÚNIOR, 2018, p. 487 - 488).

Portanto, existe um sistema de direito desconsiderador de personalidade,


ou seja, existe um instrumento incidental de desconsideração da personalidade
jurídica que vai à contramão da própria personificação da sociedade empresária
em caso de cometimento das espécies ilícitas, em outras palavras, praticar atos
ilícitos ou incompatíveis com a atividade autoriza, bem como favorecer os sócios
de modo que esses enriqueçam por meio de recursos apropriados de forma
indevida da sociedade empresária.
O instrumento incidental de desconsideração da personalidade jurídica
está disposto no artigo 133 do Código de Processo Civil3 e trata-se de uma
modalidade de intervenção de terceiros que permite, incidentalmente ao
processo, desconsiderar a personalidade jurídica e, desse modo, conseguir
responsabilizar pessoalmente o integrante da pessoa jurídica (sócio ou

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Artigo 133. O incidente de desconsideração da personalidade jurídica será instaurado a pedido da parte ou do
Ministério Público, quando lhe couber intervir no processo. §1º O pedido de desconsideração da personalidade jurídica
observará os pressupostos previstos em lei.

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administrador) nos casos em que a lei material o autoriza, mas, não será objeto
de estudo no presente artigo.

3. CONCEITO E MODIFICAÇÕES POR INTERMÉDIO DA LEI 13.874/19.

A fundamentação legal da desconsideração da personalidade jurídica


encontra-se no artigo 50 do Código Civil, que anteriormente a Lei nº 13.874/19,
possuía a seguinte redação:

Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica,


caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confusão
patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte ou do
Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, que
os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações
sejam estendidos aos bens particulares dos administradores ou
sócios da pessoa jurídica. (CC/2002).

Deste modo, percebe-se que o ato antijurídico que caracteriza e dá origem


ao evento em comento é um gênero denominado de abuso da personalidade,
dividindo-se em duas espécies chamadas de desvio de finalidade e confusão
patrimonial. Contudo, o que deve ser analisado de forma específica é que o
instituto foi alterado por meio da Lei nº 13.874/19:

Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica,


caracterizado pelo desvio de finalidade ou pela confusão
patrimonial, pode o juiz, a requerimento da parte, ou do
Ministério Público quando lhe couber intervir no processo,
desconsiderá-la para que os efeitos de certas e determinadas
relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares
de administradores ou de sócios da pessoa jurídica beneficiados
direta ou indiretamente pelo abuso. (Redação dada pela Lei nº
13.874, de 2019).

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O caput manteve a redação, mas trouxe um melhor esclarecimento nos
parágrafos com relação ao desvio de finalidade e confusão patrimonial,
tornando-se mais relevante e atual.
A princípio cabe mencionar que em ambas as redações do artigo 50, ou
seja, antes, bem como com a posterior alteração do referido artigo, faz-se
necessário estabelecer a prova do desvio de finalidade e/ou confusão
patrimonial, demostrando assim, o abuso da personalidade jurídica.
No entanto, a nova redação do caput do artigo 50 traz mudanças
significativas, como por exemplo, a necessidade de indicar as partes
beneficiadas direta e/ou indiretamente pelo abuso da personalidade. O legislador
incluiu essa parte com o propósito de responsabilizar apenas quem cometeu o
ato lesivo, porque anteriormente, o entendimento que prosperava era o de que
todos os sócios ou administradores poderiam ser responsabilizados. Assim
sendo, a mencionada alteração aplica a responsabilidade aos beneficiados pela
prática ilegal.
No que tange a responsabilidade, avalia-se que houve alterações nítidas,
que não requer amplos comentários, por ser bem compreensível e de cunho
informacional. Nota-se que a Lei nº 13.874/19 trouxe a responsabilização de
caráter pessoal, levando assim em consideração a relação pessoal do agente
que direta e/ou indiretamente se beneficia do ato praticado. Nesse viés, pode-se
afirmar que apenas serão responsabilizados os agentes que de fato se
beneficiarem do patrimônio oriundo de fraude. Assim comenta Flávio Tartuce:

[...] nota-se que a lei passaria a possibilitar a desconsideração


da personalidade jurídica tão somente quanto ao sócio ou
administrador que, direta ou indiretamente, for beneficiado pelo
abuso, o que há tempos defendo, para que o instituto não seja
utilizado de forma desproporcional e desmedida, atingindo
pessoa natural que não tenha praticado o ato tido como abusivo.

Portanto, a responsabilização ora debatida evidencia a relação causal na


prática do ato lesivo e a conduta em si, atribuindo a responsabilidade ao agente
que de alguma forma se beneficiar da conduta lesiva ao patrimônio de forma
direta ou indireta.

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Ultrapassado os apontamentos acima, referentes ao caput e a
responsabilização, passa-se a abordar os parágrafos 1º, 2º e 5º que conceituam
legalmente os requisitos autorizadores da desconsideração, enquanto, os
parágrafos 3º e 4º, evidenciam a abrangência da desconsideração.
Cabe mostrar cada parágrafo de forma individualizada, a fim de expor as
referidas mudanças.

3.1. DESVIO DE FINALIDADE E CONFUSÃO PATRIMONIAL E OS


PARAGRÁFOS 1°, 2° e 5° COMO REQUISITOS AUTORIZADORES
DA DESCONSIDERAÇÃO.

O primeiro parágrafo do artigo 50, supra referido, conceitua um dos


elementos da desconsideração, assim é a disposição legal: “§1º. Para fins do
disposto neste artigo, desvio de finalidade é a utilização dolosa da pessoa
jurídica com o propósito de lesar credores e para a prática de atos ilícitos de
qualquer natureza.”
Anteriormente inexistia o conceito do elemento dito como desvio de
finalidade, o que veio a ser concretizado com a alteração imposta pela Lei nº
13.874/19, que, além disso, destaca uma responsabilidade subjetiva, ou seja,
analisando a conduta do sócio ou administrador para fim de caracterizar o ato de
desvio de finalidade, melhor dizendo, para haver o desvio de finalidade se faz
necessária a conduta de forma intencional e dolosa.
Segundo o princípio refletido na nova redação, o "desvio de finalidade"
passou a ser a instrumentalização da pessoa jurídica para lesar credores e
viabilizar a prática de atos ilícitos.
E por derradeiro o parágrafo 5º traz elementos que, se praticados, não
caracterizam a desconsideração da personalidade jurídica “§5º. Não constitui
desvio de finalidade a mera expansão ou a alteração da finalidade original da
atividade econômica específica da pessoa jurídica. (Incluído pela Lei nº 13.874,
de 2019)”.
Assim, nota-se a existência de um limite prudencial no que tange a
aplicação do elemento de desvio de finalidade. Ou seja, o desvio da finalidade
estende-se bem mais do que os elementos praticados nesse parágrafo para ser
reconhecido.

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Portanto, o parágrafo em comento exprime objetividade e restrição, sem
ceder margem para interpretação, quanto a sua incidência.
Por fim, o parágrafo quinto esclareceu, também de forma restritiva, que a mera
expansão ou alteração da finalidade original da atividade econômica não é
suficiente para possibilitar a desconsideração da personalidade jurídica.
Dessa forma é preciso apresentar a comprovação do ato de abuso da
personalidade, bem como quais são os sócios beneficiados. Ademais a nova
redação traz o conceito de desvio de finalidade e confusão patrimonial, ou seja,
trata especificamente de conceituar os elementos que originam a aplicabilidade
do instituto da desconsideração.
Na sequência, o parágrafo segundo do artigo 50 do Código Civil aduz as
possibilidades que configura a “confusão patrimonial”:

Art. 50 [...]
§2º. Entende-se por confusão patrimonial a ausência de
separação de fato entre os patrimônios, caracterizada por:
(Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)

I - cumprimento repetitivo pela sociedade de obrigações do sócio


ou do administrador ou vice-versa; (Incluído pela Lei nº 13.874,
de 2019);

II - transferência de ativos ou de passivos sem efetivas


contraprestações, exceto os de valor proporcionalmente
insignificante; e (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019);
III - outros atos de descumprimento da autonomia patrimonial.
(Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019);

Observa-se que a mencionada norma evidencia mais um requisito da


desconsideração da personalidade jurídica, bem como as possibilidades de
ocorrência. O citado parágrafo trata, especificamente, da ausência de separação
real entre o patrimônio da sociedade empresária e dos sócios, nesse caso, há
uma mistura do capital, sem que haja uma distinção do patrimônio da pessoa
“sócios” e da pessoa jurídica “sociedade empresária”, ficando assim, efetivada a
confusão patrimonial.

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Quanto aos incisos específicos, ensina e destaca Anderson Schreiber
(2019):
Os dois primeiros incisos deste parágrafo descrevem exemplos
corriqueiros de confusão patrimonial, como o cumprimento
reiterado de obrigações do sócio ou administrador pela pessoa
jurídica, ou vice-versa, e a transferência de ativos sem efetiva
contraprestação. O terceiro inciso refere-se genericamente a
“outros atos de descumprimento da autonomia patrimonial”,
possibilitando ao intérprete identificar, a partir de elementos do
caso concreto, outras modalidades de confusão, como, por
exemplo, a prestação de garantia pela pessoa jurídica em
negócio de interesse exclusivo do sócio (Schreiber, 2019).

Com base na instrução acima, percebe-se que os dois primeiros


parágrafos do artigo 50 do Código Civil, criaram requisitos, bem como
possibilidades que autorizam a desconsideração da personalidade jurídica que
anteriormente inexistia. Isso faz com que se constate imediatamente a grande
relevância no sistema jurídico atual, tendo em vista que nasce um marco
regulamentador de situações específicas até então inexistentes, cujo intuito é
regular um instituto necessário na aquisição de patrimônio frente a prática de
atos ilícitos dos sócios empresariais.
De uma forma simples e objetiva, a confusão patrimonial ocorre quando
os negócios dos sócios se confundem com os da pessoa jurídica, ou seja,
situações em que ocorre o abuso da personalidade jurídica, desvio de finalidade,
ou seja, casos em que a pessoa jurídica serve de instrumento para acobertar
atos ilícitos.
Em relação à "confusão patrimonial", a nova redação prevê duas hipóteses
em que ela restaria configurada, a saber:
A primeira hipótese é com relação ao cumprimento repetitivo de obrigações
do sócio ou do administrador pela sociedade, ou vice-versa;
Já a segunda hipótese, trata sobre a transferência de ativos ou de passivos
entre a sociedade e seus sócios ou administradores sem que haja
contraprestações efetivas, excetuadas aquelas de valor insignificante. O inciso
III do parágrafo segundo do artigo 50 contém referência a "outros atos de

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descumprimento da autonomia patrimonial" enquanto hipóteses de confusão
patrimonial, conferindo ao rol de definição um caráter amplo e exemplificativo.

3.2. DESCONSIDERAÇÃO INVERSA E A INCLUSÃO DO PARÁGRAFO


3°.

Dando continuidade, tem-se o §3º do artigo 50 do Código Civil, que determina


o seguinte: “§3º. O disposto no caput e nos §§ 1º e 2º deste artigo também se
aplica à extensão das obrigações de sócios ou de administradores à pessoa
jurídica. (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)”.
Destaca-se especificamente esse parágrafo, pois trata-se da denominada
teoria inversa da desconsideração, segundo a mencionada teoria, ataca-se
primeiramente os bens dos sócios que comentem os atos previstos nos
parágrafos 1º e 2º do artigo 50 do Código Civil. De modo que esta teoria vai na
contramão da Teoria Maior4 prevista no caput do artigo 50 do Código Civil, que
por sua vez procura atingir primeiro os bens da sociedade empresária para
depois chegar nos sócios.
As alterações não só proporcionaram requisitos novos de aplicação, como
vieram com o viés de regulamentar de forma teórica seu universo de aplicação.
Assim, ensina Anderson Schreiber:

A Lei 13.874/2019 acrescentou ao artigo 50 também o §3º, que


consagra a noção de desconsideração inversa da personalidade
jurídica, há muito admitida por nossa doutrina e jurisprudência.
Com efeito, não obstante a desconsideração ter sido concebida
para permitir que credores da pessoa jurídica alcançassem o
patrimônio dos sócios ou administradores, admite-se hoje a
invocação da teoria para justificar o movimento inverso [...].

O parágrafo terceiro do artigo contempla a denominada "desconsideração


inversa da personalidade jurídica", por meio da qual se faz possível
desconsiderar a personalidade de uma pessoa jurídica para atingir os bens da

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A Teoria Maior somente reconhece a desconsideração da personalidade jurídica quando ficar configurado que os
sócios agiram com fraude ou abuso, ou, ainda, que houve confusão patrimonial entre os bens da pessoa física e os
bens da pessoa jurídica.

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própria pessoa jurídica, de modo a satisfazer obrigações de seus sócios ou
administradores, caso reste comprovada a fraude por parte destes.
A este respeito, faz-se importante pontuar que a referida hipótese é prevista
pelo parágrafo segundo do artigo 133 da Lei n° 13.105 de 2015 do Código de
Processo Civil, já comentado acima, tendo sido ora recepcionada pelo Código
Civil. Se configurada a desconsideração inversa da personalidade jurídica,
deverão ser aplicadas as definições de "desvio de finalidade" e "confusão
patrimonial" ora invocadas pela Lei da Liberdade Econômica.
A desconsideração inversa ocorre, portanto, quando o sócio utiliza a pessoa
jurídica para proteger os bens que seriam do patrimônio pessoal. Na prática, isso
é feito por meio de transferência, ou da própria aquisição em nome da pessoa
jurídica.
Mesmo que seja inversa, a desconsideração ainda necessita que haja o abuso
da personalidade jurídica, ou seja, confusão patrimonial aplicada, desvio de
finalidade e o pontual o objetivo intuito de não honrar com suas dívidas.
Acerca da matéria, o Superior Tribunal de Justiça em voto de relatoria da
ministra Nancy Andrighi conceituou o tema muito claramente, como se vê em
ementa e trecho do Recurso Especial nº 948.117 – MS (2007/0045262-5):

PROCESSUAL CIVIL E CIVIL. RECURSO ESPECIAL.


EXECUÇÃO DE TÍTULO JUDICIAL. ART. 50 DO CC/02.
DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA
INVERSA. POSSIBILIDADE. I – A ausência de decisão acerca
dos dispositivos legais indicados como violados impede o
conhecimento do recurso especial. Súmula 211/STJ. II – Os
embargos declaratórios têm como objetivo sanear eventual
obscuridade, contradição ou omissão existentes na decisão
recorrida. Inexiste ofensa ao art. 535 do CPC, quando o Tribunal
a quo pronuncia-se de forma clara e precisa sobre a questão
posta nos autos, assentando-se em fundamentos suficientes
para embasar a decisão, como ocorrido na espécie. III – A
desconsideração inversa da personalidade jurídica caracteriza-
se pelo afastamento da autonomia patrimonial da sociedade,
para, contrariamente do que ocorre na desconsideração da
personalidade propriamente dita, atingir o ente coletivo e seu

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patrimônio social, de modo a responsabilizar a pessoa jurídica
por obrigações do sócio controlador. IV – Considerando-se que
a finalidade da disregard doctrine é combater a utilização
indevida do ente societário por seus sócios, o que pode ocorrer
também nos casos em que o sócio controlador esvazia o seu
patrimônio pessoal e o integraliza na pessoa jurídica, conclui-se,
de uma interpretação teleológica do art. 50 do CC/02, ser
possível a desconsideração inversa da personalidade jurídica,
de modo a atingir bens da sociedade em razão de dívidas
contraídas pelo sócio controlador, conquanto preenchidos os
requisitos previstos na norma. V – A desconsideração da
personalidade jurídica configura-se como medida excepcional.
Sua adoção somente é recomendada quando forem atendidos
os pressupostos específicos relacionados com a fraude ou
abuso de direito estabelecidos no art. 50 do CC/02. Somente se
forem verificados os requisitos de sua incidência, poderá o juiz,
no próprio processo de execução, “levantar o véu” da
personalidade jurídica para que o ato de expropriação atinja os
bens da empresa. VI – À luz das provas produzidas, a decisão
proferida no primeiro grau de jurisdição, entendeu, mediante
minuciosa fundamentação, pela ocorrência de confusão
patrimonial e abuso de direito por parte do recorrente, ao se
utilizar indevidamente de sua empresa para adquirir bens de uso
particular. VII – Em conclusão, a r. decisão atacada, ao manter
a decisão proferida no primeiro grau de jurisdição, afigurou-se
escorreita, merecendo assim ser mantida por seus próprios
fundamentos. Recurso especial não provido.

No mesmo sentido que a desconsideração da personalidade jurídica visa


coibir fraudes e abuso do ente jurídico, a desconsideração inversa busca
proteger a sociedade como se pessoa natural fosse, embora jamais seja
confundida, apenas para efeito de exemplificação.

3.3. GRUPO ECÔNOMICO E A INCLUSÃO DO PARÁGRAFO 4°.

O parágrafo §4º do artigo 50 do Código Civil: “A mera existência de grupo


econômico sem a presença dos requisitos de que trata o caput deste artigo não
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autoriza a desconsideração da personalidade da pessoa jurídica. (Incluído pela
Lei nº 13.874, de 2019)”, buscou coibir a prática da desconsideração da
personalidade jurídica frente à mera existência de um grupo econômico. A
redação em comento não proibiu a desconsideração da personalidade jurídica
de uma sociedade para atingir uma outra sociedade (desconsideração indireta
da personalidade jurídica), mas tão somente destacou que a simples existência
de um grupo econômico, sem o comprovado abuso da personalidade jurídica,
não tem o condão de ensejar a sua desconsideração.
Entende o Tribunal de Justiça do Mato Grosso TJ-MT - AGRAVO DE
INSTRUMENTO: AI 1008368-08.2017.8.11.0000 MT.
AGRAVO DE INSTRUMENTO – CUMPRIMENTO DE
SENTENÇA – ALEGAÇÃO DA EXISTÊNCIA DE GRUPO
ECONÔMICO – AUSÊNCIA DE PROVA DO ALEGADO –
DECISÃO MANTIDA – RECURSO DESPROVIDO.
Para a caracterização de grupo econômico, é preciso que exista
identidade societária, interligação de interesses, vínculo
contratual ou de capital e de controle e subordinação entre as
empresas coligadas, o que não está evidenciado nos autos e
demonstra o acerto da decisão recorrida.
Nota-se que os requisitos que tratam o caput do novo artigo 50 Código Civil,
são imprescindíveis para desconsideração da personalidade jurídica, ainda que
apresentem uma situação jurídica relacionada aos grupos econômicos. Assim
sendo, o simples fato de existir um grupo econômico enseja a autorização da
desconsideração da personalidade jurídica.
Essa inovação na legislação vem ao encontro da realidade atual, pois as
grandes empresas pertencem em sua maioria ao mesmo grupo econômico, e,
portanto, a inovação da Lei nº 13.874/19, oferece segurança para as pessoas
jurídicas pelo fato de apresentar elementos taxativos na aplicação da
desconsideração.
Diante das explanações expostas, nota-se que, com o advento da Lei nº
13.874/2019, surgiram significativas mudanças jurídicas com relação ao instituto
da desconsideração da personalidade jurídica, criando conceitos e hipóteses de
aplicação quanto ao aspecto de despersonalizar uma pessoa jurídica. Deste

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modo, a mencionada Lei é responsável pela reformulação no que tange a sua
aplicabilidade.
Ademais trouxe restrição no campo de aplicação, ou seja, hipóteses
específicas que ainda que sejam praticadas não autorizam o instituto. Ficando
assim exposto que o regramento normativo deixou a desconsideração mais
restrita, garantindo maior confiança para a atividade empresária.
Quanto a desconsideração perante o grupo econômico, tece a jurisprudência
julgada em 18/10/2011 pelo Relator Theophilo Miguel:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. INDISPONIBLIDADE DE


ATIVOS FINANCEIROS DECRATADA, CAUTERLAMENTE,
CONTRA PESSOAS FÍSICAS E JURÍDICAS ENVOLVIDAS
COM PRÁTICAS DE ATOS ILÍCITOS E FRAUDE CONTRA O
FISCO. VIABILIDADE DA MEDIDA. EXERCÍCIO DO PODER
GERAL DE CAUTELA EM SEDE DE PROCESSO DE
EXECUÇÃO FISCAL. EFEITOS IDENTICOS AOS PREVISTOS
PELA LEI N. 8.397/1992 (MEDIDA CAUTELAR FISCAL).
REDIRECIONAMENTO DA EXECUÇÃO FISCAL A OUTRAS
EMPRESAS E SEUS SÓCIOS-GERENTES. INDÍCIOS DA
EXISTÊNCIA DE GRUPO ECONÔMICO DE FATO. O
PRINCÍPIO DA PRESERVAÇÃO DA PESSOA JURÍDICA
EMPRESÁRIA DEVE SER BALANCEADO COM O PRINCÍPIO
GERAL DE DIREITO QUE IMPEDE O BENECÍO PRÓPRIO
MEDIANTE A PRÓPRIA TORPEZA. ADEQUAÇÃO JURÍDICA
DO BLOQUEIO DE DINHEIRO EM DEPÓSITO BANCÁRIO.
ARTS. 655-A DO CPC E 185-A DO CTN. 1. A decisão
interlocutória agravada não resolveu definitivamente a questão
jurídica relacionada ao redirecionado da execução fiscal. Ao
revés, conheceu o pedido da União/Fazenda Nacional como
•incidente de redirecionamento–, em sede de execução fiscal, e
determinou, em razão disso, a citação dos interessados para o
exercício do direito de defesa e contraditório. Essa decisão
revela-se perfeitamente adequada aos postulados
constitucionais da ampla defesa e do contraditório (CF, art. 5o,
LIV e LV). 2. Em sede de execução fiscal mostra-se
juridicamente cabível a decretação preventiva de

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indisponibilidade dos bens de titularidade dos responsáveis
tributários, quando presentes provas fortes ou indícios
suficientes a evidenciar a prática de fraude ou atos ilegais para
se esquivar do cumprimento das obrigações fiscais. Essa
medida cautelar de indisponibilidade de bens, que tem
fundamento no poder geral de cautela, poderá ser decretada
mesmo antes da decisão sobre o redirecionamento da execução
fiscal, pelo exercício do poder geral de cautela. 3. Diante de
fundadas provas da existência de fraude e ilícitos praticados no
seio de grupo econômico de fato, o princípio da preservação da
empresa (Lei nº 11.101/2005, art. 47), de inegável relevância
social, deve ceder espaço ao princípio geral de que ninguém
pode se beneficiar da própria torpeza (nemo turpitudinem suam
allegare potest). Diante disso, mostra-se juridicamente
adequada e proporcional a medida judicial que determina o
bloqueio dos ativos financeiros das pessoas envolvidas. 4. O
pedido de substituição da penhora de dinheiro por bem imóvel
deve ser rechaçado porque na decisão agravada o juiz da causa
condicionou o seu exame ao prévio pronunciamento da
União/Fazenda Nacional, em respeito à disciplina do art. 657 do
CPC. 5. Agravo de instrumento desprovido.

O respeito a autonomia patrimonial será mantido em caso de


desconsideração de personalidade jurídica que sejam integrantes de grupo
econômico. Em casos extremamente raros que serão vinculadas juridicamente
as obrigações de empresas participantes de um mesmo grupo econômico.

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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao longo deste trabalho, foram apresentados as principais alterações,


requisitos, efeitos e pontos que norteiam a desconsideração da personalidade
jurídica, focando a maior parte no artigo 50 do Código Civil, que sofreu grandes
alterações e que impactaram efetivamente no sistema atual.

Pode-se dizer que as alterações trazidas pela Lei nº 13.874/19 sobre o


artigo 50 do Código Civil Brasileiro, impactaram a ciência jurídica relacionada ao
tema, tendo em vista que além de modificar a redação do dispositivo,
concretizaram uma uniformização acerca do entendimento do assunto em sua
prática, que obviamente fará do novo instituto da desconsideração da
personalidade jurídica, um procedimento/processo jurídico mais limitado e
restritivo, pois, com a alteração legislativa e toda a inovação no artigo 50 do
Código Civil, surgiu também novos entendimentos que demarcaram a fundo as
inovações.

Além do mencionado acima, as alterações em comento criaram uma nova


possibilidade de responsabilização para o instituto da desconsideração, uma vez
que a Lei permite a imputação da responsabilidade aos sócios, referente a
relação direta ou indireta dos sócios com o fato.

Finalmente, conclui-se que o assunto abordado ao longo do trabalho


evidenciou as suas mudanças dentro de uma espeço jurídico pertinente, sendo
responsável pela criação e alteração de possibilidades com caráteres taxativos
relacionados à desconsideração que, por se tratar de norma de uso imediato
tende a melhorar e acrescentar o entendimento quanto ao instituto dentro do
ordenamento jurídico.

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5. REFERÊNCIAS

Todas as regras estabelecidas neste item seguem o preconizado pela


norma ABNT NBR 6023:2002.

Lei n° 13.874/19. Disponível em:


<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/lei/L13874.htm>.
Acesso em: 22 mai. 2021.

Código Civil. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/


L10406compilada.htm>. Acesso em 12 jun. 2021.

TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil. 5ª ed. Rio de Janeiro: Método,


2015.

GAGLIANO, Pablo Stolze. FILHO, Rodolfo Pamplona. Manual de direito


civil: volume único. 3ª ed. São Paulo: Saraiva Educação. 2019.

GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, volume 1: parte


geral. 17. ed. São Paulo: Saraiva Educação. 2019.

NERY JÚNIOR, Nelson. NERY, Rosa Maria de Andrade. Código de


Processo Civil Comentado. 17ª ed. revista atualizada e ampliada. São
Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2018.

SCHREIBER, Anderson. Alterações da MP 881 ao Código Civil – Parte I.


Disponível em: <http://genjuridico.com.br/2019/05/02/alteracoes-da-mp-881-
ao-codigo-civil-parte-i/>. Acesso em: 5 jun. 2021.

Superior Tribunal de Justiça - STJ - REsp: 948117 MS 2007/0045262-5,


Relator: Ministra NANCY ANDRIGHI, Data de Julgamento: 22/06/2010, T3 -
TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: DJe 03/08/2010.

TRF-2 - AG: 201102010033688 RJ 2011.02.01.003368-8, Relator: Juiz


Federal Convocado THEOPHILO MIGUEL, Data de Julgamento: 18/10/2011,
TERCEIRA TURMA ESPECIALIZADA, Data de Publicação: 08/08/2012 -
Página:121/122.

Tribunal de Justiça do Mato Grosso TJ-MT - AGRAVO DE


INSTRUMENTO: AI 1008368-08.2017.8.11.0000 MT, Relator: Clarice
Claudino da Silva, Data do Julgamento: 13/12/2017, SEGUNDA CÂMARA
DE DIREITO PRIVADO, Data da Publicação: 15/12/2017.

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