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LP II - Língua Portuguesa - IFK - ISPC
LP II - Língua Portuguesa - IFK - ISPC
1.1. Língua oficial, língua materna (língua primeira), língua segunda, língua
nacional, dialecto, falante nativo, protolíngua
A língua materna - é aquela que se aprende em primeiro lugar, ou seja, a língua em que
se começa a produzir enunciados orais.
Segundo Inês Duarte, uma língua natural é língua materna de uma comunidade linguística
quando é ela que as crianças nascidas nessa comunidade desenvolvem espontaneamente como
resultado do processo de aquisição da linguagem.
Em suma, designa-se como língua materna, aquela que uma criança aprende primeiro, em
casa com a mãe (ou com quem a substitua) e com a família mais chegada, mais tarde, à que a
socialização se vai alargando, com amigos de brincadeira e com os outros adultos do seu grupo
linguístico.
Língua segunda é, por sua vez, língua não materna (da maioria) dos falantes de uma
determinada sociedade, ou de grupos de imigrantes, usada como meio de escolarização e como
língua veicular nas instituições administrativas e oficiais.
A aprendizagem da língua segunda faz-se normalmente no contexto escolar e permite a
inserção do indivíduo no sistema sociopolítico dominante, constituindo mesmo um factor de
ascensão social.
A língua nacional pode ser definida em duas perspectivas. Na primeira, é a língua falada
num país, com uma abrangência total ou quase total. Na segunda, é a língua de origem local, aquela
que acarreta consigo uma herança étnico-cultural.
O dialecto: não o considere como língua marginalizada nem dos mais atrasados. O
dialecto, no ponto de vista linguístico, é a variedade regional da fala de uma língua, ou seja, a
variante de uma língua falada numa dada região geograficamente falando. Essa variação se nota
através de algumas palavras, sendo que o conteúdo da língua é idêntico.
Para tal, nunca se considere o Kimbundu, o Kikongo, o Cokwe, o Umbundu, o Ngangela como
sendo dialectos de Português.
Falante nativo: “termo usado na linguística para fazer referência a alguém que tem uma
língua concreta como sua língua nativa (também chamada de primeira língua ou língua materna).
O termo implica, como essa língua foi adquirida de maneira natural desde a infância, que
é aquela que o falante terá suas intuições mais confiáveis e, portanto, se pode confiar no juízo de
um falante sobre o uso da língua. Por consequência, quando se investiga uma língua, é
recomendado tentar obter informações dos falantes nativos.
No caso de o indivíduo possuir essa capacidade de expressão em mais do que duas línguas,
com as quais contacta regular e frequentemente, pode considerar-se multilingue.
Existem vários graus de multilinguismo, verificando-se, quase sempre, uma especialização
do uso das línguas conforme a situação comunicacional, o contexto ou o tipo de interlocutor. O
ambiente multilingue, quer de indivíduos, quer de comunidades, é mais frequente do que se pode
supor e é muitas vezes decorrente ou promovido por políticas linguísticas específicas.
Todas as comunidades linguísticas têm direito a usar a sua língua e a mantê-la e promovê-
la em todas as formas de expressão cultural.
Em Angola, as línguas autóctones coabitam com a língua portuguesa de forma pacífica,
apesar de que nesta relação a língua portuguesa tem um funcionamento prestigiado, dada a sua
posição exclusiva de língua de poder.
O panorama linguístico da humanidade é constituído por mais de 7.000 línguas conhecidas,
umas com representação ou código escrito, outras apenas com uma realização oral. São essas
línguas que permitem a inter-relação entre os membros das diferentes comunidades humanas. Não
importa se esta ou aquela língua é de maior ou menor expressão que as outras. O essencial é que
todas elas servem de instrumento de comunicação para os seus utentes, cada uma delas reflectindo
a realidade sociocultural e histórica da sociedade circundante.
Para a África, no meio dessa imensidão de línguas, na senda angolana, encontram-se as
duas grandes famílias linguísticas genética e estruturalmente diferentes. Trata-se:
• das línguas africanas de origem bantu;
• das línguas africanas de origem não bantu.
As línguas bantu e não bantu (com excepção do português) não gozam de nenhum estatuto
definido, servindo somente de línguas de comunicação a micro-nível, quer dizer, entre os membros
de um mesmo grupo etnolinguístico.
A realidade linguística de Angola é, culturalmente, tão diferenciada quanto a diversidade
de etnias existentes, realizando as funções socioculturais e identitárias da população. O país tem
seis línguas “nacionais” de carácter mais abrangente: kimbundu, kikongo, umbundu, chokue
(tchokwe), fiote e kwanyama.
Notas:
1. Angola é um país plurilingue (além do português são faladas outras línguas);
2. Luanda, por ser a capital, tem um maior número de falantes de outras línguas além do
kimbundu. A sua natureza faz dela o viveiro de pessoas oriundas de outras etnias;
3. O umbundu é a língua mais falada em Angola (além do português);
4. Angola é um país plurilingue (além do português são faladas outras línguas);
5. O kimbundu é uma língua com grande relevância, por ser a língua tradicional da capital.
Hoje, provavelmente, com mais de 10 milhões de habitantes.
• Clareza - qualidade primordial (mais a correcção) da expressão escrita ou falada. Espelha a lisura
do pensamento e facilita-lhe a pronta percepção.
• Precisão - escolha acertada do termo próprio, da palavra exacta para a ideia que se quer exprimir.
• Originalidade - qualidade inata ao falante ou escritor, um dom natural, que a arte não dá, mas
pode estimular e aprimorar.
• Harmonia – correcta disposição das palavras, de tal maneira que o período se imponha pelo
ritmo, equilíbrio e harmonia.
• Colorido e elegância - virtudes que dão à obra literária o acabamento ideal e o toque da perfeição.
Decorrem do uso criterioso das figuras e dos ornatos de estilo, e exigem imaginação fértil e
brilhante e o perfeito domínio da técnica literária.
Figuras de estilo são recursos especiais de que se vale quem fala ou escreve, para
comunicar à expressão mais intensidade e estética. Podem ser:
a) Figuras de palavras (ou tropos)
b) Figuras de construção (ou de sintaxe)
c) Figuras de pensamento
Figuras de palavras são desvios de significação a que são submetidas as palavras, quando
se deseja atingir um efeito expressivo.
Ilustração:
o O tigre é uma fera. [fera= animal feroz: sentido próprio, literal, usual]
o Pedro era uma fera. [fera = pessoa muito brava: sentido figurado, ocasional]
Catacrese: é uma espécie de metáfora em que se emprega uma palavra no sentido figurado
por hábito ou esquecimento de sua etimologia:
o Vou embarcar num autocarro. (autocarro não é barco)
o O Isata enterrou uma agulha na pele. (pele não é terra)
Antonomásia - designa os seres por meio de algum de seus atributos ou de um facto que
os celebrizou:
o O poeta da Sagrada Esperança (= Agostinho Neto)
o O pai da psicanálise (= Sigmund Freud)
Perífrase: consiste em substituir uma palavra ou conceito breve por uma expressão
analítica longa e indirecta com o mesmo significado:
o Venho da cidade das mulheres belas, terra das acácias rubras. (= venho de Benguela)
o Quando surgiram os primeiros raios de sol, saiu de casa. (= quando amanheceu)
Nota: - Muitos autores preferem chamar antonomásia ou perífrase, entretanto, vale destacar que,
as duas figuras têm o mesmo efeito em fenómenos diferentes. Antonomásia envolve pessoas,
perífrase envolve coisas ou espaços.
Nota: - A elipse uma espécie de economia de palavras, entretanto, interessa a elipse como figura
de estilo.
Silepse – é uma concordância feita não com o termo, mas com a ideia transmitida pelo
mesmo. Pode ser:
a) de género – a concordância é feita com o género do termo a que se refere e não com o
termo em si:
o Vossa Majestade será informado acerca de tudo. (Vossa Majestade = o rei)
o De longe, viu o seu amor, vestida de véu e grinalda. (amor = mulher, esposa)
Ironia – consiste em dizemos o contrário do que pensamos, quase sempre com intenção
sarcástica:
o Parabéns! Tiveste a classificação de zero.
o Grande gesto, bater em senhoras indefesas.
As palavras não só podem ter uma acepção primária, mas também diversas acepções; tudo
dependerá do contexto. A semântica trata de todas as possibilidades de significação, envolvendo
nosso conhecimento de mundo, experiência de vida e outros factores extralinguísticos, como a
região em que vivemos, a idade que temos, o grupo social ou profissional a que pertencemos, etc.
Tudo isso vai influenciar os matizes da palavra.
A palavra isolada tem um significado primário; no entanto, tem vários sentidos secundários
dentro de contextos específicos. Vale dizer também que, em nossa língua, gramaticalmente
falando, há inúmeros factores que podem alterar o significado das palavras, como:
Campo semântico
Campo semântico – conjunto dos significados que uma palavra pode ter nos diferentes contextos
em que se encontra:
- Campo semântico de "peça": "peça de automóvel", "peça de teatro", "peça de bronze",
"és uma boa peça", "uma peça de carne", etc.
1
- Relação
de hierarquia semântica entre palavras, em que o significado de uma (designada por
hipónimo), por ser mais específico, se encontra incluído no de outra palavra (designada por
hiperónimo).
2
- Relação de hierarquia semântica entre palavras, em que o significado de uma (designada por
hiperónimo), por ser mais geral, inclui o de outras (designadas por hipónimos).
- A palavra "animal" é um hiperónimo de "peixe". A palavra "peixe" é um hiperónimo de
"carapau".
Lexemas homónimos são aqueles que tem forma idêntica, mas sentidos não relacionados,
ou seja, não têm traços semânticos ou semas comuns. É o caso de vocábulos tais como manga, que
pode significar parte da roupa ou fruta, sem que haja qualquer relação de sentido entre esses dois
sentidos; também banco seria um caso de homonímia, pois o objecto para sentar-se nada tem a ver
com a instituição financeira.
Costuma-se distinguir entre os homónimos homógrafos, que têm a mesma grafia e a
mesma pronúncia, como os exemplos dados anteriormente, e os homônimos homófonos, que têm
o mesmo som, mas grafias diferentes, como sela (arreio do cavalo) e cela (prisão).
Por outro lado, a polissemia se refere aos casos em que um mesmo lexema tem mais de
um significado, sendo que estes guardam relação entre si, ou seja, possuem semas comuns. É o
caso de lexemas como coroa (de flores ou de rei) que, em ambas as acepções, tem em comum o
traço semântico de circularidade; ou rede (de deitar ou de computadores) que tem em comum o
sema de entrelaçamento.
3
- Relação semântica entre duas ou mais palavras que podem ser usadas no mesmo contexto, sem
que se produza alteração de significado do enunciado em que ocorrem: fiel/leal; débil/fraco/frágil;
distante/afastado.
4
Relação semântica entre duas ou mais palavras que, embora partilhando algumas propriedades
semânticas que as relacionam, têm significados opostos: grande / pequeno; quente / frio; bonito /
feio.
3.2. A pragmática
O contexto
O conceito de contexto deve ser melhor explicitado para que possamos apreciar plenamente
a sua importância na produção e compreensão dos enunciados linguísticos. Há, naturalmente,
sempre um contexto físico, que é o espaço onde uma conversa tem lugar, por exemplo.
O lugar físico é, sem dúvida, um factor condicionante dos enunciados linguísticos.
Certamente, uma conversa que tenha lugar no interior de uma igreja, por exemplo, terá
características diferenciadas de outras que se passem, digamos, em um bar ou em um estádio de
futebol.
Há também um contexto epistêmico, ou seja, o conhecimento compartilhado pelos
interlocutores. O contexto discursivo em que uma sentença ocorre, ou seja, o discurso que
antecede ou que se segue ao enunciado interfere decisivamente no seu significado. Uma frase
extraída de seu contexto discursivo pode ter significado bem diverso daquele que tinha
originalmente. O contexto extra-linguístico, isto é, as expressões faciais, os gestos, a entonação
ao se proferir uma frase também podem modificar completamente o seu significado. Finalmente,
o contexto social em que uma interação verbal tem lugar é outro factor importante para a sua
interpretação.
5
Relação de hierarquia semântica entre palavras, em que o significado de uma (designada de
holónimo) refere um todo do qual a outra (designada de merónimo) é parte constituinte:
- Carro / volante -> carro estabelece uma relação de holonímia com volante; corpo / braço; barco
/ vela.
6
Relação de hierarquia semântica entre palavras, em que o significado de uma (designada de
merónimo) remete para uma parte constituinte da outra (designada de holónimo):
- A palavra “dedo” é um merónimo da palavra “mão”.
Campo lexical
Uma língua não permanece a mesma em toda a extensão do território onde é falada. Um
dos traços mais marcantes da identidade característica de uma pessoa é, sem dúvida, a sua origem
geográfica. No âmbito da língua portuguesa, por exemplo, é comum tentar-se caracterizar a origem
de uma pessoa com base em sua pronúncia ou em suas preferências de uso lexical. Assim, pode-
se ouvir, no dia-a-dia, classificações informais sobre os falares regionais brasileiros, tais como, o
falar mineiro, o falar carioca, o falar nordestino, etc. Nem sempre estas classificações conseguem
ser precisas, pois não é tarefa simples isolar variantes puramente geográficas dos demais tipos de
variantes linguísticas, tais como as variações decorrentes da classe social, grau de educação, idade,
estilo, etc.
De facto, a variação linguística é um fenómeno tão pervasivo que se pode até mesmo falar
da variação individual do uso linguístico, conceito expresso pelo termo idioleto, que designa,
exatamente, as particularidades próprias da língua falada por cada um de nós, uma vez que todos
temos nossas preferências lexicais e características de pronúncia individuais.
O estudo das variantes geográficas é feito por uma disciplina denominada Geografia
Linguística ou Geolinguística, relacionada a uma disciplina mais antiga e abrangente, a
Dialectologia.
A Geolinguística teve seu início com as pesquisas feitas pelo alemão Wenker e pelos
franceses Gilliéron e Edmont. Estes últimos tornaram-se célebres pelo Atlas Linguístico da
França, lançado na primeira década do século XX, tendo o segundo autor percorrido de bicicleta
grande parte do território francês, em uma tarefa meticulosa de documentação dos falares
regionais. De fato, a Geografia Linguística procura representar as variantes espaciais de uma
língua em mapas ou atlas.
Idade: as diversas faixas etárias dos falantes que compõem uma sociedade
apresentam correlatos linguísticos, muitas vezes mais aparentes no plano do
vocabulário, mas que podem, também, manifestar-se na pronúncia e nos tipos de
construção frasal preferenciais. Pode-se distinguir facilmente a linguagem infantil da
linguagem do adulto, mas há também outras faixas etárias que, geralmente, apresentam
peculiaridades de linguagem, tais como os adolescentes e os anciãos.
Posição social: o status dos falantes dentro do grupo social a que pertencem
também actua como um elemento diferenciador da linguagem. Esse factor está
estreitamente relacionado ao factor profissional e ao factor escolaridade.
Um mesmo falante de uma dada língua deve ser capaz de variar sua maneira de se expressar
dependendo da situação em que se encontra. Por exemplo, ao se dirigir a um velho amigo em uma
festa, certamente o falante deverá usar a linguagem de modo distinto daquele que usaria se
estivesse em uma entrevista de emprego.
Uma língua está em permanente transformação. Não falamos hoje como falávamos há
alguns anos; em todas as gerações, os jovens sempre falam diferente dos velhos, têm outras
preferências vocabulares e de construção frasal e até pronúncias distintas. A mudança
linguística é inexorável, afectando todos os níveis de organização das línguas, que vão se
transformando, abandonando certas pronúncias, palavras e construções e adoptando novos
itens lexicais e estruturas sintácticas.
Assim, em cada momento da história de uma língua, encontram-se arcaísmos e
neologismos. Os arcaísmos são vocábulos ou construções sintáticas que deixaram de ser usados.
Por exemplo, palavras como alpendre, itajer, supimpa, outrossim, são arcaicas, podendo ainda ser
ouvidas, talvez, apenas na boca dos mais idosos. Além dos vocábulos, as construções frasais
também envelhecem. Por exemplo, no século XIX, eram comuns frases como “Ninguém não veio,
em que uma palavra de sentido negativo precedia o verbo, sem que se omitisse o advérbio de
negação”. Nessa época usava-se também a construção ambos os dois, atestada mesmo em textos
literários. A expressão é, hoje, considerada incorrecta pela gramática normativa, que a caracteriza
como um caso de pleonasmo, redundância a ser evitada. Também eram bem mais comuns o uso
da mesóclise (far-se-á), do pretérito mais-que-perfeito (amara, bebera, partira) e de algarismos
romanos, hoje de uso já bastante restrito.
TEMA 5: O DEBATE
5.1. Conceito
O debate é uma técnica comunicativa cujo objectivo visa aprofundar o conhecimento sobre
um tema polémico ou relevante, através do confronto de ideias e opiniões.
Para a realização de um debate é, necessariamente, a existência dos seguintes elementos:
os participantes, ou seja, os contendores, um moderador e, sempre que necessário, um secretário.
Debate regrado é um gênero oral em que duas ou mais pessoas se reúnem para conversar
sobre duas ideias diferentes, levantando argumentos que defendam a sua linha de pensamento.
O debate é bastante comum durante campanhas políticas, em escolas, faculdades e
comunidades. O debate regrado, como o nome indica, segue determinadas regras que foram dadas
antes de o debate começar, como tempo de fala e direito a réplicas e tréplicas. Este tipo de debate
é muito comum durante o período eleitoral, onde os candidatos se reúnem e apresentam suas
propostas de governo.
Não basta apenas ter uma opinião sobre um assunto, mas é preciso saber expor, falar sobre
a opinião.
O debate amplia a capacidade dos alunos de encontrar uma solução a partir da escuta aos
outros, sendo que o objectivo do trabalho com os gêneros do domínio do argumentar é encontrar,
a partir do raciocínio coletivo, soluções viáveis para situações colocadas que estão sendo
discutidas.
Além disso, o debate regrado tem a finalidade de desenvolver as capacidades
argumentativas e contribuir para a formação de valores como o respeito pela opinião do outro e o
cuidado com o acto da fala, pois, saber falar, não importa em que língua, é dominar os gêneros que
nela emergiram historicamente, dos mais simples aos mais complexos.
O objectivo do debate regrado é desenvolver estratégias argumentativas a serem utilizadas
não em um gênero textual escrito, conforme já havia sido feito em sala de aula, mas com um gênero
da modalidade oral, ou seja, o “debate regrado”.
A principal característica do debate regrado é que as pessoas têm o direito de expor suas
opiniões e ideias, ouvir e respeitar os demais, mesmo que sejam opostas, de uma forma organizada
e objectiva. Para que haja um debate regrado faz-se necessário:
O debate é uma atividade que decorre naturalmente da vida em sociedade e que nos permite
a troca de ideias, o confronto de pontos de vista e a reflexão. Além disso, a informação aumenta,
aprende-se a tomar a palavra, a demonstrar e a convencer.
Durante o debate, dois secretários tomam notas das principais ideias emitidas que permitirão
fazer o balanço final.
2. Tempo, frequência, duração, ordem ou sucessão - esses situam o leitor na sucessão dos
acontecimentos ou das ideias. Por esse motivo, são muito explorados em textos narrativos. Alguns
deles são:
• enfim;
• logo;
• logo depois;
• imediatamente;
• logo após;
• a princípio;
• pouco antes;
• pouco depois;
• anteriormente;
• posteriormente;
• em seguida;
• afinal;
• por fim;
• finalmente;
• agora;
• actualmente;
• hoje;
• frequentemente; etc.
Exemplo: Logo após sair da aula, Ariela teve um encontro com Montalvo.
5. Continuação ou adição - utilizamos esses conectivos para acrescentar algo ao texto e que
esteja relacionado com o que anteriormente foi apresentado. São eles:
• além disso;
• demais;
• ademais;
• outrossim;
• ainda mais;
• por outro lado;
• também;
• e;
• nem;
• não só;
• como também;
• não apenas;
• bem como.
Exemplo: A Leontina é médica legista, além disso, é especialista em cardiologia.
Aspectos pertinentes
Argumentação: sobre o conceito de argumentar
Argumentar é um meio de persuasão. Segundo Aristóteles, a Retórica é, sobretudo, a arte
de saber escolher o meio mais adequado para atingir a persuasão de um dado auditório em um
determinado momento. Isso quer dizer que aquele que deseja tornar-se um bom orador precisa
sensibilizar-se ao seu público para poder melhor comunicar-se com ele, e a Argumentação é um
desses meios.
Aristóteles destaca três meios persuasivos - ethos, pathos e logos - e assim os define,
respectivamente:
O primeiro depende do caráter pessoal do orador, o segundo, de levar o
auditório a uma certa disposição de espírito; e o terceiro, do próprio
discurso no que diz respeito ao que demonstra ou parece demonstrar.
É válido ressaltar que um discurso não precisa limitar-se a um desses apelos; em verdade,
é aconselhável pautar pela variabilidade.
Num outro prisma, argumentar é sistematizar a fala. É possível identificar blocos de fala
ao escutar um discurso e dizer algo como “isso é a ideia principal”; “isso é uma referência”, e
assim por diante. Pois bem, um argumento é composto de partes que se interagem entre si. Assim,
para argumentar, analisar discursos e preparar uma refutação, é importante ser capaz de identificar
esses blocos.
Com isso, não se quer dizer que argumentação pode ser convertida em uma técnica fechada.
O que se busca, em verdade, é habilitar o orador a comunicar-se melhor, a transmitir o que pensa
de maneira mais clara, objetiva e eficiente, porém, sem desconsiderar os valores que carrega
consigo e sua boa vontade. É tornar a escolha do conteúdo do discurso uma actividade consciente;
é melhorar um processo que o cérebro faz normalmente.
Ideia: uma ideia é uma construção abstracta que clama por aceitação como verdade. É uma
sentença declarativa. Por exemplo “Cabinda é uma cidade culturalmente viva”; talvez você
acredite nessa ideia da maneira como está, talvez você consiga comprovar essa ideia a partir da
sua própria vivência, porém, o enunciado acima não inspira essa confiança por si só. São
necessários factos para suportá-lo.
Opinião: uma opinião é uma ideia cara ao orador, isto é, é uma frase a qual o orador atribui
sua própria confiança. Observe que há uma grande diferença entre a ideia e a opinião: somente
nesta há investimento pessoal do orador. Ambas precisam do suporte de factos para serem críveis
ao ouvinte, porém, a opinião é uma ideia adoptada pelo orador como verdade.
Crença: uma crença é uma ideia “improvável”. É uma construção abstracta para a qual é
impossível apontar factos. Em outras palavras, o investimento pessoal do orador é um acto de fé.
5.5. Refutação
A refutação, ou o acto de refutar é, em essência, a apresentação de evidências que
enfraquecem ou anulam um argumento apresentado pela parte oposta. É uma fala que pretende
demonstrar a falta de razão, verdade ou validade na fala do outro.
5.6. Contrarrefutação
Todo discurso deve ter como ponto de partida a conquista da atenção do público. Afinal,
uma plateia desatenta não será informada, motivada ou persuadida de forma eficiente. Isso não
significa que toda forma de atenção seja positiva; é possível que um orador chame atenção para si,
mas não para o tema de sua fala. Para garantir que isso não aconteça, é preciso definir o objectivo
do discurso antes de estruturá-lo. Uma forma eficiente de determinar esse objectivo é seguir o
paradigma de Aristóteles e escolher entre informar, motivar ou persuadir.
Além de um objectivo definido, existem outros elementos necessários para a confecção de
um discurso eficiente. Os mais clássicos deles são os conceitos de Logos, Pathos e Ethos,
desenvolvidos por Aristóteles como os pilares da Oratória, anteriormente introduzidos.
LOGOS: é a capacidade de convencer através da racionalidade, demonstrando uma
argumentação intelectualmente coerente e embasada. No que diz respeito ao LOGOS, é
recomendado que o discurso seja construído pensando na coerência interna e, no contexto dos
debates competitivos, na integração com a bancada. Também é fundamental trazer dados que
corroborem seus argumentos e citar as fontes dessas informações para que a plateia possa verificá-
las.
ETHOS: é a credibilidade do orador para falar sobre um determinado assunto; tudo que
faça o público acreditar que o orador em discurso é a pessoa mais adequada para falar sobre aquele
tema.
Três características que se destacam dentro desse conceito: a honestidade, o conhecimento
de causa e a polidez.
Mesmo que o orador conheça o assunto que está a abordar e se porte de forma polida, a
plateia resistir a compactuar com suas ideias se acreditar que ele tem interesses escusos. Por esse
motivo, demonstrar honestidade - é fundamental para o convencimento através do ETHOS.
Uma forma de transmitir esse valor é expor evidências de que o tema do discurso está
presente na vida do locutor há muito tempo ou que houve trabalho investido para chegar nas
conclusões apresentadas. Afinal existe uma tendência a acreditar que uma mentira não seria
sustentada com tanta dedicação ou por um período tão longo.
Vale destacar que existem estratégias para que uma fala tenha mais impacto. O orador deve
informar o público caso tenha uma vivência ou formação acadêmica que lhe tenha provido uma
intimidade maior com o tema do discurso.
Deixar essas informações claras é fundamental para que a plateia perceba que ele tem uma
experiência além do comum sobre o assunto ao qual está se referindo.
O aspecto da polidez engloba vestimenta, terminologia em usos. Diferentes públicos vão
cobrar diferentes formas de expressão e, por vezes, a formalidade excessiva pode chegar a
distanciar o orador da plateia. Nesse sentido, é fundamental que o orador tenha algum
conhecimento sobre seus ouvintes para garantir que vai se portar de uma forma que eles
legitimariam como vinda de alguém que sabe muito sobre o tema.
S.P.R.I
Essa estrutura tem, como principal objetivo, a transmissão dinâmica de informações
complexas. Costuma ser utilizada em exposições de inovações nas mais diversas áreas de actuação
profissional, sobretudo, na área tecnológica. Sua maior qualidade é a capacidade de capturar a
atenção de um público que seja leigo sobre o tema do discurso, mesmo quando é preciso falar
sobre o assunto de forma técnica e aprofundada.
Cada letra do S.P.R.I simboliza um momento do discurso que deve seguir exactamente a
ordem que as letras se apresentam na sigla.
etapa da estrutura S.P.R.I, o debatedor vai falar sobre como a proposta que ele está
trazendo resolve o problema anteriormente citado. A resolução deve ser explicada de forma
simples e objectiva, pois na etapa seguinte o orador pode apresentar conceitos mais
complexos.
S.O.S.R.A
O discurso S.O.S.R.A é um convite a uma ação, é o modelo ideal para discursos que se
encerrem propondo que a plateia tome uma medida concreta e adote a proposta do debatedor para
mudar a situação em que eles se encontram. Assim como no modelo anterior, cada letra da sigla
S.O.S.R.A representa um momento da fala e esses momentos devem seguir a mesma ordem que
eles seguem no título da estrutura.
• A ou ACÇÃO: é a etapa onde será lançada uma proposta para mudar a realidade
apresentada na observação.
Essa proposta deve se amparar nas ideias apresentadas na etapa da reflexão e nas emoções
apresentadas na etapa dos sentimentos.
Estrutura Clássica
Estudiosos da Retórica como Cícero e Quintiliano chamavam-na de dispositio. Apesar de
ser uma estrutura pensada para uma realidade muito diferente da atual, o dispositio ainda pode ser
útil, sobretudo em debates que prezem pela polidez típica dos clássicos.
Abaixo, as etapas do dispositio serão apresentadas em ordem cronológica, já adaptando algumas
recomendações para o contexto dos debates competitivos.
Narratio: humanização da situação. Nessa fase, o debatedor vai falar sobre as pessoas que estão
envolvidas nas questões que estão sendo debatidas, é recomendável expor os vícios daqueles que
estiverem sendo acusados ou as virtudes daqueles que estão sendo defendidos, afinal essa fase do
discurso é fundamental para provocar sentimentos.
Divisio ou Partitio: nesse momento, o orador vai expor seus argumentos secundários
que não tiveram força suficiente para ser incluídos no exordium.
Confutatio: refutação de possíveis argumentos que tenham surgido como contraponto aos seus.
Caso o orador em discurso seja o primeiro do debate, essa etapa pode ser reservada para antecipar
e refutar previamente alguns dos argumentos mais óbvios que poderiam ser trazidos pelas outras
bancadas.
Peroratio: momento de conclusão que deve trazer um fechamento memorável para que a plateia
continue reflectindo sobre o discurso mesmo depois que ele se encerre. Caso haja disponibilidade
de tempo, é recomendável recapitular os principais argumentos antes da conclusão propriamente
dita.
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