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ANALISANDO AS CONTRIBUIÇÕES DOS PEDAGOGOS, SEUS

ENTENDIMENTOS DE CULTURA LÚDICA, NA INDÚSTRIA DE BRINQUEDOS E


DE GAMES EDUCACIONAIS

Os pedagogos são profissionais que necessitam carregar entendimentos


teóricos e práticos sobre a cultura lúdica infantil. Estes saberes articulados com as
práticas farão este profissional capaz de contribuir na escola, e em outros espaços
de sua atuação como indústrias de brinquedos e espaços educacionais produtores
de games educacionais, em tempos de ampliação dos usos de gamificações na
educação.
O que os pedagogos precisam saber sobre a cultura lúdica em que são
produzidos brinquedos industriais e games educacionais?
Os atuais brinquedos industriais são moderníssimos! Os games educacionais
são constantemente repensados e usam as inovações tecnológicas possíveis,
atualizadas constantemente. Já pensando na história dos brinquedos, há a
presença dos brinquedos, na Antiguidade (longo período que vai da invenção da
escrita, por volta dos 4000 a.C. até queda do Império Romano do Ocidente (476
d.C.), estão presentes nas cerâmicas e urnas funerárias. (Manson, 2014). Manson
(2014) afirma que em Atenas no século V a.C, já se confirma a presença de
comércio de brinquedos. As bonecas de terracota fabricadas em moldes são
brinquedos de crianças já comercializados e levadas via as bacias mediterrâneas.
(Territórios na Europa, parte do Centro e o Leste com a bacia do Mar Negro), o
Norte da África (até a bacia do Rio Nilo), zona mais ocidental da Ásia e Oriente
Próximo.
Manson (2014) aponta que pesquisas em vasos, lápides, no vocabulário e
textos no latim comprovam a prática infantil de uso de brinquedos na Grécia e Roma
antigas, incluindo o domínio galo-romano (a cultura romanizada da Gália sob o
controle do Império Romano) e a expansão cristã do Egito, os Povos Coptas.
Manson narra que a existência de corporações “como as de ceramistas para
brinquedos gregos de terracota ou os artesãos coptas foram profissionais dedicados
parcialmente ao serviço dessa produção”. (Manson, 2014, p.04).
O Brinquedo é um objeto essencial e revela a cultura e o tempo em que
viveram os brincantes e seus produtores. Especialistas defendem os efeitos do
brincar infantil no desenvolvimento infantil, isso no campo da psicologia do
desenvolvimento. Brinquedos indústrias atuais, games educacionais ou os
brinquedos que nossos bisavôs usavam estão fixados, dentro seus respectivos
sistemas sociais, com funções sociais relevantes, para a humanidade, independente
da época em que se viveu e brincou. Devemos a existência dos sentidos dos
brinquedos aos seus criadores, produtores, distribuidores e aos consumidores
infantis, adolescentes e aos jovens. (BROUGÈRE, 1995).
Receber brinquedos no natal e nos dias das crianças ou aniversário são
lembranças inesquecíveis da vida infantil. O brinquedo está encravado em um
sistema de doação ritualizada entre os pais, demais familiares e as crianças que os
recebem e jamais esqueceram. A função social do brinquedo é ser um presente
ofertado para a criança, seja qual for o uso posterior que esta dará ao objeto
presenteado. Isso costuma decepcionar um pouco os pais das crianças pequenas
que na ânsia de entender melhor a engrenagem de funcionamento de um brinquedo
que acaba de ganhar, termina por desmontá-lo e transformá-lo em outra forma de
brincar.
Todo brinquedo, sejam industriais ou artesanais, feitos de sucata (material
reciclado) ou pertencente ao mundo dos mais modernos games educacionais é
portador de significados rapidamente identificáveis. É um suporte de representação
(você olha para o brinquedo e percebe o que quer representar para quem brinca).
Estar com um brinquedo à mão remete ao real ou ao imaginário infantil (está na
literatura infantil brasileira a história de uma bonequinha de pano que virou
personagem, a famosa Emília, personagem de Monteiro Lobato).
Sejam os brinquedos indústrias ou games educacionais, estes objetos para
brincar possuem vivos valores culturais, já que cultura pode ser entendida como
conjunto de significações produzidas pela própria humanidade. Brinquedos e games
são carregados de significados para compreendermos as mais distintas culturas e
diversificadas sociedades que ainda existem ou já existiram. A criança que manipula
“um brinquedo possui entre as mãos uma imagem a decodificar. A brincadeira pode
ser considerada como uma forma de interpretação dos significados contidos no
brinquedo” (Brougère, 1995, p. 8).
Os adultos, jovens, adolescentes e crianças dedicam horas a buscar e
dominar os mediadores essenciais, ao seu redor, compostos de imagens, das mais
distintas representações, dos símbolos e dos significados que lhes cercam. Todo ser
humano, criança ou adulto, está imerso em uma cultura, e habitam muito mais do
que o real, os seres humanos vivem em mundos repleto de representações. As
crianças se apropriam, constantemente, de inúmeras imagens e intensas
representações. O brinquedo é uma dessas fontes de múltiplas representações.
Ainda que um adulto pense que uma caixa vazia é apenas uma caixa sem uso, já a
ponto de ser descartada, a criança pode transformá-la, em uma nave espacial, em
questão de minutos.
Os brinquedos são possibilidades concretas de suportes de condutas lúdicas
(as crianças pegam e já começam a entrar no mundo imaginário aos eu desejo, na
hora de brincar), de ação (as crianças interagem, fazem movimentos amplos,
estabelecem longos diálogos e papéis a serem desempenhados, somente enquanto
estiverem jogando. Brinquedos são cabíveis somente enquanto estiverem jogando.
Brinquedos são cabíveis de manipulação e fornecem, símbolos, imagens e formas
para serem manuseados. Assim percebemos que não são poucas as possibilidades
que são abertas no dado momento em que alguém está inserido em um jogo com
outras pessoas, quando uma menina pega a sua boneca ou quando um grupo de
crianças lidam com seus games educacionais.
Desde tempos imemoriais, que os adultos dedicam horas ao brincar infantil. E
as crianças usam os brinquedos feitos a mão ou industriais para entender a cultura
que habita. Usando um brinquedo, a criança se depara com uma imagem cultural
feita para ela mesma. E com amor, e com os brinquedos, que os adultos que
amamos nos apresentam a cultura que iremos ocupar. Não que seja uma
reprodução fiel, mas faz o seu papel significativo na vida das crianças, em todos os
tempos, da história da humanidade. Assim, a mais nítida representação que a
sociedade tem das crianças estão presentes, nas imagens dos brinquedos que lhes
são fornecidos. “O brinquedo se mostra a sociedade tem das crianças estão
presentes, nas imagens dos brinquedos que lhes são fornecidos. "O brinquedo se
mostra como um objeto complexo que permite a compreensão do funcionamento da
cultura." (Brougère, 1995, p. 9).
Pensar nos diferentes brinquedos industrializados oferecidos para meninos e
meninas, no papel dos Adultos especialistas no brincar infantil, pedagogos e pais,
que costumam indagar: É certa a escolha de brinquedos diferenciados segundo o
sexo da criança? Terão estes brinquedos preconcepções simbólicas de como ser
menino e ser menina? São reflexões que levam às respostas específicas e
conduzem as formas de agir dos adultos sobre os brinquedos das crianças E as
bonecas brancas, loiras e magras dão conta das nossas diversificadas diferenças
étnicas, do fato da maioria da população brasileira ser descendente das matrizes
indígenas e afro-brasileiras. Não ter bonequinhas negras é uma forma de incutir
racismo e preconceitos, diante da diversidade étnico-cultural brasileira? O que
presentear as crianças para favorecer o prazer de ser descendente de negros e
indígenas, realidade da formação étnica e cultural do povo brasileiro, já que a
maioria não é branca como os que nasceram em certos países realidade da
formação étnica e cultural do povo brasileiro, já que a maioria não é branca como os
que nasceram em certos países da Europa? Oferecer somente bonequinhas
brancas e loiras ou games educacionais que possuem somente personagens
brancos e loiros seriam favorecer a supremacia da cultura europeia branca
(somente uma das matrizes da formação do Povo brasileiro, esquecendo os
indigenas e os afro-brasileiros) como padrão hegemônico e de superioridade com
relação as demais culturas matrizes dos brasileiros?
Quando olhamos para uma boneca Barbie (boneca manequim) ou para
boneca-bebê é fácil reconhecer aspectos da contemporânea realidade cotidiana.
Elas representam a realidade em que a criança vive. E assim sociedades passadas
são conhecidas no momento em que em um museu é possível visualizar bonecas
de barro antigas, roupas usadas por um certo povo, em determinado lugar que pode
até só existir lá no museu ou seguem vivos e atuantes, com suas culturas. O certo é
que os brinquedos industriais, games educacionais e qualquer outro tipo de jogos
são objetos mediadores entre os mundos adulto e infantil.
Antes dos brinquedos industriais ou dos games educacionais chegarem nas
mãos das crianças, adultos especialistas, alguns pedagogos que fazem parte destes
grupos, levam horas planejando a funcionalidade, os materiais que serão usados
para realizar uma ideia. Mas não se pode esquecer que os brinquedos ou games
são reproduções das realidades contemporâneas aos especialistas e aos que vão
brincar com tais produções.
Pedagogos ajudam a elaborar projetos de brinquedos industriais e de games
educacionais, são brinquedos industriais e games educacionais que lembram o
universo doméstico (ainda majoritariamente remetido às meninas?), universos dos
diversos transportes e automóveis (destinados aos meninos preferencialmente?),
universos das vidas dos animais e de tempos longinquos. Segundo Brougère, são
associados à infância e a adolescência, por tradição cultural, são representações
"privilegiadas do masculino e do feminino. O universo do brinquedo feminino é neste
aspecto muito interessante por tratar-se daquele considerado como tal pela
sociedade, pelas crianças, pelos pais e pelos comerciantes" (Brougère, 1995, p. 43).
Não se pode pensar que somente uma reprodução fidedigna do mundo real. É uma
imagem cultural oferecida as crianças e aos adolescentes.
Os brinquedos são suportes em uma brincadeira e materialização de um
projeto dos adultos (entre eles estão pedagogos) para as suas crianças. Eles
possuem inúmeras formas: manufaturado (feito à mão, como se fazia no passado),
produzido por quem brinca (as crianças e adolescentes), de sucata, durável
enquanto brinca. "Tudo, neste sentido, pode se tornar um brinquedo e o sentido de
objeto lúdico só lhe é dado por aquele que brinca enquanto a brincadeira perdura.
(Brougère, 1995, p. 62). É também há objeto industrial, artesanal, reconhecido por
seus consumidores e por terem determinados traços dos seus produtores ou do
lugar onde vivem e produzem aquele brinquedo. Brinquedos ainda dão conta dos
lugares destinados aos seus produtores, no sistema social de distribuição de tais
objetos. Brinquedo é, contemporaneamente, uma mídia e transmite conteúdos
simbólicos, representações e imagens produzidas pela sociedade em que vivem as
mais diferentes crianças e adolescentes.
O Brinquedo, industrial ou não, difere do jogo por compor uma relação íntima
com a criança e ser usado de forma indeterminada, com ausência de regras, ou
apenas determinada pelo desejo na criança, no ato de brincar. A criança com sua
boneca e brincando poderá ter inúmeras formas de brincar. E quando se pensa no
jogo de xadrez ou jogos de construção são exigidos desempenhos oriundos de
habilidades definidas, nas estruturas fixas dos objetos ou nas regras imutáveis para
jogá- los. O brinquedo lança a criança no campo de representações, de reproduções
da realidade, e oferecem substituições de objetos reais. Um brinquedo
metamorfoseia, fotografa, reproduz objetos e a própria realidade social. É isso que
produz uma indústria de brinquedos!
E cabe lembrar que os brinquedos incorporam imaginários preexistentes e
vistos em filmes infantis, nos desenhos animados mais apreciados, baseados em
alguns personagens de histórias infantis e naqueles produtos multimídias criados
para o público infantil e de grande repercussão no mercado dos brinquedos
contemporâneos. Indústrias de brinquedos, produtores de games educacionais e
crianças usam, todos eles, o brinquedo para criar inúmeros mundos imaginários,
mutáveis para as mais diversas culturas, dentro de um imenso país como o Brasil.
O brinquedo sempre faz referência ao tempo de infância do adulto com
representações transportadas pela imaginação e memória. Este vocábulo não
poderá ser reduzido à "pluralidade de sentidos do jogo, pois conota criança e tem
uma dimensão material, cultural e técnica. Enquanto objeto é sempre suporte de
brincadeira. É o estimulante material para fazer fluir o imaginário infantil".
(KISHIMOTO, 1996, p.21)
Os brinquedos são testemunhas do olhar infantil e da sua cultura infantil, em
todos os tempos, criando representações da cultura de pertencimento dos
brincantes e dos que produziram estes objetos lúdicos, encaminhando formas
lúdicas apropriadas para os usos, levando em conta a inspiração de temas advindos
da literatura e do cinema. E é bom lembrar que alguns brinquedos da antiguidade
como o peão e alguns tambores medievais ainda estão bem vivos, geração após
geração. A funcionalidade lúdica deles parece manter relação estreita com as
etapas do desenvolvimento infantil e vão reaparecendo para novas gerações
sucessivas. Conseguem manter durabilidade do uso, das significações e dos
distintos lugares ocupados na cultura lúdica contemporânea. As indústrias não os
deixam de fora, com novas roupagens. Neste ponto último sem ser possível a
comparação com os povos antigos e medievais. (MANSON, 2014).

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