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Aula 4 - Filosofia
Aula 4 - Filosofia
AULA 4
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Neste Tema 1 estudaremos a formação do pensamento contratualista
para, mais adiante, compreendermos de que forma ele foi determinante ao lado
do Iluminismo francês do século XVIII e do idealismo alemão do século XIX para
a construção do que hoje entendemos como direitos humanos. Mas o que
caracteriza o contratualismo? Vamos estudar o assunto com maior
profundidade..
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1.2 Thomas Hobbes: “O homem é lobo do próprio homem”
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da liberdade no estado civil, pois, embora seja um direito natural, pode
representar um ato deliberado contra o outro, como matar ou usurpar objetos.
Hobbes considera, desse modo, que o direito natural à liberdade deve ser
limitado. Defende o absolutismo monárquico como forma de garantir o monopólio
do soberano (ou do rei) nas decisões políticas, a fim de controlar e usurpar a
liberdade dos súditos com a intenção de evitar ao máximo o eventual retorno ao
estado de natureza, ou seja, a guerra de todos contra todos.
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ao direito de ir e vir, à liberdade de pensamento e à posse sobre o próprio corpo,
não podendo nenhum indivíduo ser escravizado ou usurpado de sua liberdade
ou integridade física. O filósofo considera ainda que o pacto social que deu
origem ao Estado e aos governos foi criado pelos indivíduos com o objetivo de
preservar ainda mais, sob a forma de leis, os direitos fornecidos pela natureza
(propriedade privada, igualdade e liberdade).
Por estes motivos, John Locke é considerado pai do liberalismo político,
corrente que se opõe ao absolutismo monárquico defendido por Hobbes. O
liberalismo político compreende que o direito natural à liberdade está presente
na liberdade de expressão (política e religiosa), na autoridade que cada indivíduo
tem sobre seu corpo (propriedade privada) e ao que permite a manutenção
desse mesmo corpo, como no caso da propriedade da terra. O liberalismo
promove limites ao Estado em nome da defesa das liberdades e dos direitos
individuais. Dessa forma, liberdade, igualdade e propriedade privada constituem
direitos invioláveis, cuja origem é o estado de natureza. Assim, tais direitos
devem ser protegidos e mantidos pelo Estado, ou na condição civil.
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sobretudo a liberdade (principalmente a de expressão e econômica) –, a
igualdade e a propriedade privada (com exceção de Rousseau, conforme vimos).
Dessa forma, foram desenvolvidos os direitos naturais nas legislações
desses países. A Independência (ou Revolução) estadunidense, em 1776,
consolidou a Constituição e a Declaração de Direitos, de 1787, a qual entrou em
vigor em 1791. A Declaração de Direitos passou a limitar o poder do governo
federal, de modo que sua principal função passou a ser garantir e proteger
direitos como igualdade jurídica, as liberdades econômicas e políticas, a
propriedade privada, assim como a privacidade dos cidadãos. Na França, a
revolução de 1789 deu origem à Declaração dos Direitos do Homem e do
Cidadão, que estabeleceu como universais e invioláveis os direitos individuais,
que tiveram como base os debates dos pensadores contratualistas, conforme
abordamos no tema anterior.
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Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831) é outro pensador idealista
alemão a avaliar com otimismo o estabelecimento dos direitos à liberdade,
igualdade e propriedade privada, além do Estado burguês. Na obra
Fenomenologia do espírito (1807), ele concebe que a Revolução Francesa e as
expansões napoleônicas teriam conduzido a humanidade ao que definiu como
sendo o “fim da história”. Hegel, ao ver Napoleão Bonaparte invadir sua cidade
na Alemanha, teria percebido “o espírito absoluto montado num cavalo".
Para este pensador, o fim da história se dá com a realização do espírito
absoluto no mundo. Trata-se do fim dos conflitos entre os seres humanos (Hegel
dirá que é o fim da dialética entre o senhor e o escravo), pois, a partir de então,
com a Revolução Francesa e as expansões napoleônicas pela Europa, todos os
seres humanos passariam a gozar de liberdades individuais e igualdade jurídica,
não havendo mais margem para a tirania dos reis ou a superstição das religiões.
O raciocínio de Hegel revela não somente o otimismo diante de sua época e dos
progressos racionais; remete também a uma concepção na qual o mundo
ocidental teria alcançado seu apogeu. Esta concepção será igualmente
questionada por Karl Marx (estudaremos esta crítica no Tema 5).
Artigo 7º - Todos são iguais perante a lei e, sem distinção, têm direito
a igual proteção da lei. Todos têm direito a proteção igual contra
qualquer discriminação que viole a presente Declaração e contra
qualquer incitamento a tal discriminação.
[...]
Artigo 10º - Toda a pessoa tem direito, em plena igualdade, a que a
sua causa seja equitativa e publicamente julgada por um tribunal
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independente e imparcial que decida dos seus direitos e obrigações ou
das razões de qualquer acusação em matéria penal que contra ela seja
deduzida. (ONU, 1948)
Neste Tema vamos nos dedicar à análise da crítica que Marx (1818-1883)
faz aos princípios universais do contratualismo, Iluminismo e idealismo alemão.
Marx é um pensador anterior à elaboração da Declaração Universal dos Direitos
Humanos, de modo que não se trata de realizar a oposição entre marxismo e
direitos humanos, senão a certos princípios defendidos no interior das correntes
filosóficas desenvolvidas entre os séculos XVII e XVIII. Vale dizer que muitos
marxistas hoje defendem os direitos humanos, porém com ressalvas,
essencialmente, ao princípio de Locke em torno do direito à propriedade privada.
Vamos aprofundar estas questões a partir de agora.
As obras Crítica da filosofia do direito de Hegel (1843); Manifesto do
Partido Comunista (1848), escrita em parceria com seu amigo Engels; e O
Capital (1867), demonstram contradições do discurso universalista das correntes
filosóficas contratualistas, iluminista e do idealismo alemão, além do
questionamento do também caráter universal da revoluções burguesas. A
contradição diz respeito ao fato de Marx não considerar que estas revoluções
tenham sido de fato universais, senão meramente burguesas e em favor
unicamente dessa classe.
A constatação de Marx se deve ao fato de que com as revoluções
burguesas, a ascensão do capitalismo e a implementação dos direitos individuais
não significaram o fim dos conflitos e dos problemas sociais. Durante o século
XIX, Marx verificou que trabalhadores viviam em condições de pauperismo. Seus
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salários eram suficientes para garantir condições adequadas de existência. Além
disso, havia um exército de desempregados e condições indignas de trabalho
nas fábricas. A igualdade jurídica (que privilegiava apenas a classe
economicamente dominante, a burguesia) jamais havia promovido igualdade
social.
A pobreza generalizada da classe trabalhadora fez com que Marx
desmitificasse os discursos otimistas frente aos logros das revoluções burguesas
e do Iluminismo. Exemplos disso são as críticas a afirmações como as de Kant,
que julgava que havíamos alcançado a “paz perpétua” e “a dignidade humana”,
ou a Hegel, fiel à ideia de que havia sido promovido o “fim da história” com o fim
dos conflitos humanos, sobretudo entre senhores e escravos. Essas visões
acabavam por deturpar a realidade. Marx designa com o conceito de ideologia
essas formas de interpretação da realidade.
A ideologia se caracteriza em Marx como o mascaramento da realidade,
com falsas ideias que sistematicamente apresentam visões distorcidas do
mundo. A ideologia ocorre também quando os oprimidos ou explorados passam
a incorporar, como se fossem seus, os preconceitos, os pontos de vista, visões
de mundo ou a moral dos dominadores, incorporando-os em suas subjetividades
como se fossem naturais ou normais.
Segundo Marx, o Iluminismo e as revolução burguesas não puseram fim
aos conflitos no interior das relações humanas. Na visão marxista, a sociedade
liberal e capitalista deu origem às lutas de classes entre burgueses e
proletariado. A burguesia é definida com base na propriedade privada dos meios
de produção (terras, máquinas, fábrica, ferramentas, ou seja, tudo o que é
necessário para garantir o processo de produção); o proletariado, por sua vez, é
caracterizado pela venda da força de trabalho (que pode ser braçal ou
intelectual), correspondendo, portanto, à classe trabalhadora.
A crítica de Marx à concepção de propriedade privada de John Locke (que
acreditava ser ela um direito natural) está fundada na avaliação de que a referida
propriedade está concentrada e sob o domínio hegemônico da classe burguesa.
Contraditoriamente, leia-se dialeticamente, os trabalhadores são explorados
com salários baixos, fortalecendo o acúmulo de propriedades e riquezas nas
mãos da própria burguesia. Esses elementos revelam o caráter conflituoso
presente na sociedade burguesa. Por isso, Marx, ao defender o socialismo,
propõe o fim da propriedade privada, de modo a torná-la coletiva ou de posse
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estatal. O objetivo desse procedimento seria compartilhar entre todos os
trabalhadores as riquezas oriundas dos processos produtivos, agrícolas e
industriais, no interior das propriedades, agora socializadas.
Segundo Marx, enquanto houver a exploração de um indivíduo sobre o
outro jamais abandonaremos a pré-história da humanidade. Para este filósofo, o
motor da história são as lutas de classes. Ao lado de Engels, Marx afirma, em
seu Manifesto do Partido Comunista “A história de toda sociedade existente até
hoje tem sido a história das lutas de classes” (Marx; Engels, 1977, p. 25). A
verdadeira história da humanidade (ou o fim da história da exploração) será
originada a partir da promoção da emancipação do gênero humano por meio de
uma revolução promovida pela classe trabalhadora. Seria, na visão de Marx, o
fim dos dominadores e dos dominados e a realização da liberdade humana.
NA PRÁTICA
FINALIZANDO
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Em seguida, no Tema 2, estudamos as intenções universalistas presentes
no Iluminismo e revoluções burguesas no que diz respeito ao emprego da razão
e aplicação dos direitos individuais. Foi possível observar como esses
movimentos históricos contribuíram também na constituição do idealismo
alemão, estudado no Tema 3, sobretudo com as filosofias de Kant e Hegel.
Evidenciou-se a herança iluminista na construção, por exemplo, do conceito de
dignidade humana de Kant.
O Tema 4 foi dedicado à análise da presença e influência de princípios
contratualistas, iluministas e kantianos no interior da Declaração Universal dos
Direitos Humanos, elaborada pela ONU no ano de 1948. Constatamos as raízes
filosóficas do que hoje é conhecido como um dos principais documentos
produzidos no decorrer da história da humanidade, à medida que a Declaração...
estabelece direitos como liberdade, igualdade, propriedade privada, segurança,
entre outros.
O Tema 5 permitiu a compreensão da crítica marxista ao pensamento
iluminista e burguês, e conhecemos o entendimento de Marx sobre o que
significa a emancipação humana por meio da superação da luta de classes.
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REFERÊNCIAS
LOCKE, J. Dois tratados sobre o governo civil. São Paulo: Martins Fontes,
2001.
ROUSSEAU, J.-J. O contrato social. São Paulo: Nova Cultural, 1999. (Coleção
Os Pensadores, v. 1).
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