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2022

Nome da obra: A ESPOSA QUE ESCOLHERAM PARA MIM – FAMÍLI


MONTGOMERY I
Revisão e Preparação de Texto: Dani Smith Books
Leitura sensível: Valdirene Gonçalves
Diagramação: Mavlis
Capa: Mavlis
Nome do autor: Mari Cardoso
www.maricardoso.com.br

Copyright © 2022 por Mariana Cardoso

INFORMAÇÕES
Esta é uma obra de ficção que não deve ser reproduzida sem
autorização. Nenhuma parte desta publicação pode ser transmitida ou
fotocopiada, gravada ou repassada por qualquer meio eletrônico e
mecânicos sem autorização por escrito da autora. Salvo em casos de
citações, resenhas e alguns outros usos não comerciais permitidos na lei de
direitos autorais.
Esse é um trabalho de ficção. Todos os nomes, personagens, alguns
lugares, casos envolvidos, eventos e incidentes são frutos da imaginação da
autora. Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas, ou eventos reais
é apenas espelho da realidade ou mera coincidência.
Sumário
SINOPSE
CARTA DA AUTORA
PRÓLOGO
PRÓLOGO
Capítulo Um
Capítulo Dois
Capítulo Três
Capítulo Quatro
Capítulo Cinco
Capítulo Seis
Capítulo Sete
Capítulo Oito
Capítulo Nove
Capítulo Dez
Capítulo Onze
Capítulo Doze
Capítulo Treze
Capítulo Quatorze
Capítulo Quinze
Capítulo Dezesseis
Capítulo Dezessete
Capítulo Dezoito
Capítulo Dezenove
Capítulo Vinte
Capítulo Vinte e Um
Capítulo Vinte e Dois
Capítulo Vinte e Três
Capítulo Vinte e Quatro
Capítulo Vinte e Cinco
Capítulo Vinte e Seis
Capítulo Vinte e Sete
Capítulo Vinte e Oito
Capítulo Vinte e Nove
Capítulo Trinta
Capítulo Trinta e Um
Capítulo Trinta e Dois
Capítulo Trinta e Três
Capítulo Trinta e Quatro
Capítulo Trinta e Cinco
Capítulo Trinta e Seis
Capítulo Trinta e Sete
Capítulo Trinta e Oito
Capítulo Trinta e Nove
Capítulo Quarenta
Capítulo Quarenta e Um
Capítulo Quarenta e Dois
Capítulo Quarenta e Três
Epílogo
SOBRE A AUTORA:
AGRADECIMENTOS
SINOPSE
Daniel Montgomery é herdeiro de uma rica família, famosa no
cenário político dos Estados Unidos. Frio e controlador, aceitou fazer parte
de planos ambiciosos para que o pai chegasse à presidência do país.
Necessitando manter uma fachada de família tradicional e conservadora,
após um evento catastrófico, Daniel se vê noivo de uma mulher que nunca
viu antes e que não fazia parte de seu estilo de vida.
Dominante há dez anos, ele não imaginava que, um dia, poderia ter
um relacionamento sem um contrato previamente estabelecido. No entanto,
há uma grandiosa surpresa quando a doce srta. Madero cruza seu caminho e
se mostra ser muito mais do que aparentava.

"Sendo um dominante, eu não teria uma mulher usando minha aliança e


sobrenome sem estar curvada à minha frente, pronta para tomar uma boa
surra antes de ser tomada."

Giselle estava acostumada a lutar pelo que queria. Perdeu a mãe aos
dezoito anos e precisou morar de favor com velhos amigos enquanto
terminava a faculdade. E mesmo com a vida financeira tomada por
empréstimos estudantis, ela não perdia a esperança de conseguir um bom
emprego, principalmente ao ser chamada para ser camareira de uma família
influente na cidade.
Ela só não esperava se tornar uma peça de um perigoso jogo de poder,
noivando com um homem desconhecido e entregando-se a ele em
submissão, descobrindo sua liberdade sexual, um amor avassalador e a
verdade do passado de sua mãe.

"Finalmente entendi por que nunca me senti próxima dos homens. Não
tinha nada de errado comigo. Eu apenas precisava de mais."

Mergulhe nesse conto de fadas distorcido, no qual os mocinhos não


vivem sob regras honestas e fazem parte de uma conspiração conhecida nos
livros da Elite de Nova Iorque. Este é o primeiro volume da série Família
Montgomery, que começa a desvendar segredos escondidos debaixo do
tapete de uma dinastia poderosa.
CARTA DA AUTORA
A delícia de lançar um novo livro nunca vai mudar, ainda mais uma
história que estava guardada há tantos anos e eu finalmente pude reescrever,
transformando-a em uma série que sei que caíra no agrado das minhas
leitoras. Romances com conspiração política, mistérios e investigações me
enchem de prazer e eu espero que vocês curtam o amor de Daniel e Giselle
assim como eu. Mas antes, algumas considerações importantes:
Este livro contém personagens que possuem parafilia, tem um pouco
(bem pouco mesmo) de rivalidade feminina (dentro do meu estilo de
escrita), apesar das cenas de sexo intensas que compõe o BDSM, não é
dark, é gostoso e possui um lindíssimo final feliz. O amor dos personagens
é palpável a cada nova página e uma delícia de acompanhar. Trata-se de
cenas distorcidas da realidade que conhecemos e por isso, saliento, é um
livro não real, portanto, as ações dos personagens não devem ser aplicadas a
um cotidiano conhecido fora dessas páginas.
E compondo essa série, teremos o livro de Patrick e Snow assim
como de Tuck e Jasmine. E talvez... mais um, porém, essa conversa é para
outro momento.
Com amor,
Mari Cardoso
Estava caminhando em direção ao altar, onde estava o homem que
havia chicoteado as minhas nádegas como comemoração de sua despedida
de solteiro.
Aturdida, chocada com a quantidade de pessoas que não faziam ideia
de quem eu era de verdade e com a pele ardendo, me perguntava como iria
me casar com um homem que não conhecia completamente. Tínhamos
muito a viver juntos e descobrir sobre o outro. Mas eu diria sim.
Eu queria dizer sim.
Eu me tornaria a esposa dele.
PRÓLOGO
Giselle
Passei os dedos pelo desenho fincado na madeira da pequena
caixinha de música que ganhei da minha mãe, aos seis anos. Era a única
coisa que tinha dela, da boa mulher que conheci, doce e encantadora. Uma
bailarina cheia de sonhos. Alguém que, com a filha pequena nos braços,
atravessou o mar bravo em busca de uma boa vida. Alguém que imaginou
que a América lhe traria benefícios.
Eu sentia saudade dela todos os dias. Só havia sobrado uma foto
desbotada. A filha com quem ela atravessou não tinha sido eu e sim, minha
irmã mais velha, que não resistiu muito tempo depois de contrair uma
doença viral durante a viagem. O primeiro evento de minha mãe em Miami
foi o velório da filha de três anos de idade.
Em alguns momentos tristes, sentia falta dela, também sentia saudade
de uma vida que nunca tivemos. Desejava que minha irmã jamais tivesse
morrido, assim não ficaria sozinha para enfrentar a vida. Provavelmente
ainda tinha parentes vivos em Cuba, mas eles sequer sabiam da minha
existência, considerando que mamãe não manteve contato depois que fugiu
de casa.
Ela era casada e o marido, um abusador. Assim como muitas mulheres
imigrantes, buscou uma vida melhor, encontrando muito trabalho pela
frente. Mamãe não era do tipo que tinha medo. Apesar de não saber quem
era meu pai, que ela descrevia como um príncipe viajante de sotaque
perfeito, nós duas batalhamos muito para termos o pouco que construímos.
Vivemos no mesmo bairro desde que nasci e aos meus dezoito anos,
infelizmente, eu a perdi.
Quando recebemos o diagnóstico, busquei todo tipo de matéria e
artigo na internet sobre pessoas que venciam o câncer. Eu me apeguei
àquela realidade de que conseguiríamos sair vitoriosas daquela batalha.
Mas, na verdade, só tivemos alguns meses antes dela não resistir à doença e
me deixar. O dia mais triste da minha vida foi quando precisei me despedir
para sempre e entender que a vida adulta havia acabado de começar.
Estava no primeiro ano da universidade. Fui aprovada com dolorosos
créditos estudantis que arrombaram a minha conta bancária. Estudava Artes
e Dança, era bailarina como ela e dançar era tudo que me mantinha de pé.
No entanto, aquela profissão não me levou a lugar algum além de um palco
em uma boate escura, de gosto duvidoso, com clientes tenebrosos e gorjetas
sendo colocadas em minha calcinha.
Respirei fundo e guardei a caixinha na bolsa, sem tempo para ouvir a
melodia que me confortava. Coloquei a peruca loira e as lentes de contato,
ajustando o bojo do sutiã, quando minha vizinha e colega de trabalho entrou
no camarim, com um sorriso no rosto e os cabelos bagunçados. Preferi
fingir que ela não havia acabado de transar com o dono do local, que era um
porco que tentava ser meu cafetão a todo custo e passava de todos os limites
com ela.
Ignorando-a, terminei de me arrumar e o segurança bateu na porta
dizendo que era o meu momento de brilhar no palco. Envolvida em um
roupão de cetim, eu me preparei, contando mentalmente os segundos em
que poderia dar o fora dali e ter uma vida um pouco mais digna. A vida de
princesa que merecia e que minha mãe muito sonhou para mim.
As luzes acenderam e eu sorri, sensual, provocativa, encarnando uma
personagem de mulher fatal que, na realidade, estava longe de ser. Meus
quadris rebolavam, simulando movimentos sexuais, como se eu tivesse a
mínima experiência no quesito. Estava acostumada a dar, visualmente, o
que os homens queriam. Era apenas um teatro. Eu não era do tipo fatal e
poderosa, mas precisava do dinheiro.
É só uma questão de tempo — prometi para mim mesma e continuei
fazendo o meu trabalho.
PRÓLOGO
Daniel
— Ele está descontrolado, Laurel. Precisa de domínio e
aconselhamento. — Ouvi minha tia falar baixo com minha mãe dentro do
escritório. — Precisamos buscar a fundo onde está surgindo tamanha raiva.
Ele sempre foi uma criança inteligente, de certo modo distante, mas nunca
agressivo.
— Não sei o que fazer. É a quinta escola que ele é expulso. — Mamãe
fungou.
— Um suicídio social — papai comentou.
Aquela era a preocupação dele?
— Como ele terá amigos se as crianças têm medo dele? — papai
continuou. — Devemos buscar um psicólogo. Isso está além de nossas
mãos.
— Eu não quero que ele sinta que é um garoto problema…
Eu me afastei da porta do escritório, com o nariz doendo e os nós dos
meus dedos latejando. Estava cansado de ouvir meus pais discutindo sobre
o que fazer comigo. Não queria uma psicóloga e que enfiassem todo aquele
aconselhamento no rabo.
Meu problema, ninguém podia resolver.
Capítulo Um
Giselle
A peruca loira saiu com facilidade. Peguei o lenço e tirei o batom
vermelho da boca, puxando os cílios postiços e rapidamente tentei limpar a
maior parte da maquiagem pesada que quase me fazia parecer outra pessoa.
Essa era a intenção. Eu nunca desejei ser reconhecida como a garota que
dançava sensualmente nos palcos, apenas queria ganhar o dinheiro e passar
ilesa. Por mais que, pessoalmente, não tivesse nada contra a profissão, a
sociedade era injusta e machista.
Eu não queria perder boas oportunidades no futuro porque, no
passado, precisei rebolar minha bunda com uma calcinha fio dental para
conseguir pagar todas as contas. Desde que mamãe morreu, tive que aceitar
todo tipo de trabalho para manter as dívidas em dia, o aluguel pago, comida
na mesa e minhas chances de mudar de vida no futuro. Mamãe fez muitos
sacrifícios para me colocar na universidade. Ela batalhou com todas as
forças que tinha em seus braços e eu não iria decepcioná-la.
Puxando o capuz sobre a minha cabeça, me cobri bem e saí pelos
fundos da boate já com o sol nascendo. Estava um pouco frio do lado de
fora. Caminhei até meu carro, com o spray de pimenta em uma das mãos, as
chaves e um canivete na outra. Entrei bem rápido, batendo a porta para que
fechasse, pois estava com a borracha ruim. Abaixei o pino, e demorou a
pegar. Suspirei e tentei até quase perder a paciência.
O cheiro de gasolina dominou o interior, abri um pouco o vidro e
acelerei pelas ruas, bocejando, morrendo de vontade de tomar um copo
enorme de café. Parei em uma lanchonete e, sem sair do estacionamento,
pedi um sanduíche de queijo quente, matando meu desejo de cafeína com
um grande copo térmico e não perdi tempo.
Eu morava em um dos bairros mais pobres, no quartinho dos fundos
de uma simples casa de um casal de senhores que me acolheu quando perdi
meu dormitório e não tinha para onde ir. Estacionei na rua, na mesma vaga
de sempre, e acenei para os vizinhos. Guilhermo e Maria Hernandez eram a
única família que tinha. Pagava aluguel do meu quartinho e ajudava nas
despesas, todos nós vivíamos em uma situação delicada e toda ajuda era
bem-vinda.
— Você já comeu? — Maria apareceu na porta do meu quarto,
enrolada em um velho roupão.
— Sim, parei para comprar alguma coisa. Está tudo bem?
— Levantei para cozinhar ovos. Guilhermo sairá para a fábrica agora.
— Ela me deu um beijo na testa. — Durma. Te acordo para almoçar.
— Obrigada.
Guilhermo era um homem trabalhador. Lidava com máquinas pesadas
e perigosas mesmo na idade avançada, eles nunca tiveram muito dinheiro
na vida para pensar em um plano de aposentadoria. O único filho que
tinham mudou-se para o interior do estado, depois de casar com uma moça
de lá e começar a trabalhar na fazenda da família dela. Maria e minha mãe
eram amigas de trabalho, ambas camareiras de um hotel luxuoso na cidade.
Quando mamãe morreu, Maria foi convidada para trabalhar na casa de
uma família rica e famosa. Ela ganhava bem o suficiente, porém, com as
dívidas e os custos do tratamento contra diabetes, o salário não era o
suficiente.
Estava cansada. Exausta. Minhas coxas ardiam pelo tempo em pé com
saltos altíssimos sem poder tirar ou ficar muito tempo sentada. Eu não fazia
dança no colo, ficava longe, no palco, a atração intocável, sendo a mulher
misteriosa por quem os homens eram loucos. Meu chefe recebia propostas
realmente absurdas de velhos tarados querendo chegar perto de mim, ter
uma noite ou apenas tocar uma punheta segurando a minha calcinha. Era
nojento.
Ele sabia que eu iria cair fora. Embora eu não fosse idiota e soubesse
que, sendo perigoso e calculista, me colocaria em problemas sem que
houvesse qualquer pessoa para lutar por mim, mas o lucro da minha
apresentação estava no mistério. Quem era a mulher fantasiada no palco,
que provocava milhares de fantasias sexuais por segundo e ninguém podia
tê-la?
A vida não era fácil no distrito. Nem barata.
Enquanto não encontrasse um emprego que pudesse me manter
mesmo na faculdade, era preciso dançar com as minhas opções.
Tomei um banho quentinho agradável e, de pijama e meias, deitei em
minha cama no chão, logo caindo no sono. A única cama que tive quebrou
há anos e depois, não achei necessário gastar dinheiro com algo que pouco
usava. Ter o mínimo de coisas possíveis era o meu projeto. Depois que
pudesse alugar um lugar, compraria móveis e faria a decoração dos sonhos.
Um dia, teria tudo que merecia.
Maria me acordou na hora do almoço. Sanduíches de queijo, sopa de
tomate e suco de laranja fresco era o nosso banquete do dia. Como de
costume, peguei o jornal, circulando vagas, anotando e-mails para enviar
minha apresentação, quando percebi que ela apenas me encarava do outro
lado da mesa, parecendo que gostaria de falar algo e não sabia como.
— O que foi? O que aconteceu? — Abaixei o jornal.
— Não sei como te dizer isso, querida. — Ela soltou o copo de suco.
— Guilhermo e eu tivemos que tomar a triste decisão de vender nossa casa
e ir morar com nosso filho. — Maria soltou, nervosa. — As contas médicas
estão aumentando cada vez mais e eu não consigo trabalhar. Estou cansada
e velha.
— Eu entendo. — Estiquei a mão e peguei a dela. — Quando irão?
— Não quisemos estabelecer uma data para que não precise correr.
— Adoro a casa, se pudesse, a compraria, mas estou afundada nos
empréstimos estudantis e pagando o que posso.
— Sei disso. Mas, agora que vai começar sua nova jornada na
universidade, como uma pós-graduanda, seus horários de estudos serão
flexíveis e conversei com a minha chefe. Ela disse que pode assumir minha
vaga de camareira na família Montgomery. — Ela apertou meus dedos. —
Não é o trabalho que merece, mas, por enquanto…
Era um refletor no fim do meu túnel. Por alguns segundos, entrei em
pânico. O que iria fazer? Onde dormir? Meu carro me mataria em semanas.
— É muito bom. O que tenho que fazer?
— Eles te darão moradia, não será a única funcionária vivendo na
residência, sabe as regras, já fez o curso e eu posso te treinar em casa
enquanto Aramita te ensinará tudo que for necessário para se adaptar.
Dei a volta na mesa, sentindo uma gratidão imensa, que apesar de
perdê-los para a distância, ela não deixou de cuidar de mim. Abracei-a
apertado, triste por nossa separação. Sentiria falta deles. Eram tudo que eu
tinha, mas não iria embora com eles para a fazenda. Não era o que sonhava
para mim e, começando a pós-graduação em artes e ciências, minhas
chances só aumentariam para buscar um emprego na minha área de atuação.
Estava feliz por eles, mereciam o descanso e se o filho podia recebê-
los com conforto, melhor ainda. Nunca esqueceria o que aquele casal fez
por mim.
Na mesma tarde, Maria me levou até a mansão da família
Montgomery. Ela contou que Vanessa, nossa vizinha e também minha
colega de trabalho, estava louca por uma vaga ali e vivia pedindo. Prometi
que não contaria nada a ela até realmente estar com o trabalho. Talvez nem
falasse nada. Éramos “amigas”, porém, cada uma por si.
Os funcionários passavam por uma entrada discreta na lateral,
arborizada, bem bonita e monitorada por câmeras. O carro ficava depois da
casa de máquinas da piscina, escondido para não atrapalhar a visão
esplêndida do jardim, a piscina grande tinha uma área gourmet sofisticada
que nunca vi na vida.
Depois de se identificar mais uma vez com um segurança, ele passou
um detector de metais na minha bolsa e tive que entregar meu canivete.
Maria arregalou os olhos.
— Sou uma mulher que anda sozinha, não me julgue. — Encolhi os
ombros, sem graça. Não queria parecer louca e violenta, quando na verdade,
a sociedade que era.
— Ela está certa, mas por enquanto, deixe-o aqui comigo. — O
segurança deu um tapinha no bolso. Na plaquinha dourada presa em seu
terno bonito, dizia se chamar Phillip.
Passamos pela cozinha e Maria me levou para uma salinha de visitas
bem bonitinha. Parecia uma decoração inglesa. Uma jovem menina entrou
uniformizada, empurrando um carrinho com chá e biscoitos. Nunca cheguei
perto de uma louça de porcelana refinada como aquela. Mordi o lábio, sem
saber se deveria aceitar, se era um teste.
— Aramita virá nos ver em alguns minutos. — Maria pegou o bule e
serviu um pouco de água quente na xícara. — Hibisco? Açúcar?
— Sim, por favor.
A jovem funcionária serviu biscoitos e com um aceno, além de um
sorrisinho encantador para Maria, pediu licença e voltou para a cozinha.
Caramba. Eu não poderia quebrar nada ali dentro ou não receberia
pagamento pelos próximos dez anos. Tomei o chá delicioso e o biscoito
estava mais ainda, e limpei minha boca quando a governanta se aproximou.
Por algum motivo, imaginei que ela era uma senhora de expressão severa,
uma pinta grande no rosto e ar de bruxa má dos filmes.
Aramita era nova, provavelmente pouco mais de trinta anos, cabelos
loiros impecavelmente penteados em um coque elaborado, usava preto,
sapatos de luxo e estava cheirosa. Era linda, educada e tinha um sorriso
cortês que me acalmou um pouco. Ela me fez perguntas pontuais, leu meu
currículo de trabalho, escolar, deixando-me tonta com o quanto queria saber
da minha vida.
Assinei uma autorização para que a equipe de segurança fizesse uma
verificação da minha vida, se eu tinha antecedentes criminais e garanti que
além de muitas dívidas, não tinha problemas com a polícia. Nos despedimos
com um aperto de mão e ela desejou sorte a Maria, com carinho, porém,
mantendo uma distância polida. Meu carro demorou a pegar, explodindo
um cheiro terrível de combustível e soltei risadinhas.
— Vou cuidar disso quando receber meu primeiro pagamento, eu
prometo — garanti a Maria e apertei seus dedos. Ela tinha a pele enrugada
desde que me lembrava. Quando criança, gostava de ficar traçando os
padrões das rugas e apertar suas veias salientes. Ela foi a avó que a vida me
deu.
Meu coração apertou um pouco por ficar sozinha. Sempre foi o maior
medo da minha mãe quando ela ficou doente, sobre quem cuidaria de mim,
mas estava com vinte e três anos, começando a pós-graduação, tentando
pagar a faculdade, dançando para ganhar a vida e tentando um emprego na
área de Literatura, pois era formada em Inglês. Um emprego não era fácil e
minha descendência latina, tornava ainda mais complicado.
Giselle Madero não parecia boa o suficiente para as empresas da
cidade. Eu falava francês e espanhol, além do inglês. No entanto, sem
conhecimentos e uma estrutura que eles aceitavam para que eu fizesse
parte.
Não consegui dormir naquela noite e nem nas outras seguintes,
mesmo que boa parte fosse por causa do meu horário dançando na boate. A
ansiedade em saber se seria aceita ou não me deixou com os nervos à flor
da pele, principalmente ao começar a ajudar Guilhermo e Maria a
empacotar as coisas. Uma corretora foi visitar a casinha duas vezes para
fotografar os cômodos e começar os anúncios.
— Aramita está ligando! — Maria gritou da cozinha. Larguei as
caixas na sala, pulando outras, Guilhermo soltou uma risada rouca, de
fumante há muitos anos. Agarrei meu celular, tirando-o do carregador e
atendi.
Ela foi direto ao ponto para dizer que meu teste seria no dia seguinte e
eu precisava estar lá no horário, o uniforme estaria pronto e passado no
vestiário dos funcionários e me aguardaria para as primeiras instruções. Dei
vários pulinhos no lugar, gritando quando encerrei a chamada. Morando no
local, poderia começar a juntar dinheiro, negociar meus débitos, consertar
meu carro sem ser de um jeito paliativo e aos poucos, mudar minha vida.
Maria estourou uma garrafa de champanhe que ganhou na sua cesta de
fim de ano que nunca abriu. Brindamos e bebemos em copos plásticos,
mantendo o clima de felicidade. A despedida deles estava chegando e a
única coisa que me mantinha de cabeça em pé, era a esperança de que todos
nós iríamos ficar bem.
— Sua mãe estaria muito orgulhosa de você, minha menina. — Maria
acariciou meu rosto com carinho. — Ela sempre soube que voaria longe.
Começar sua carreira como camareira é o primeiro degrau de grande
sucesso da sua vida. De lá, irá para um lugar melhor, com um salário digno.
— Te amo, Maria. — Abracei-a bem apertado e ela também mostrou a
força que tinha, apertando-me de volta ao ponto de me erguer do chão.
Comecei a rir e as lágrimas caíram junto. Respirei fundo, com amor e
gratidão. Tudo daria certo. Era a única coisa que pedia repetidamente aos
céus.
Capítulo Dois
Giselle
Puxei todos os meus fios de cabelo para trás, usando gel para mantê-
lo firme e preso no lugar. Enfiei mais alguns grampos no coque. Meu cabelo
era volumoso, longo e pesado. Parei na frente do espelho, penteando minha
sobrancelha que era um pouco mais grossa, estava até na moda, eu era
apaixonada. Meus olhos castanho-claros eram um contraste com a pele
clara, cabelos pretos, uma raiz escura e lisa que ia enrolando nas pontas.
Não era proibido usar maquiagem conforme o livreto que recebi, só
não podia ser chamativo. Fiquei na base, corretivo, rímel, blush e gloss.
Usei um perfume suave, o único que tinha, passei a mão no uniforme,
mantendo o avental bem amarrado, e terminei de ler minha lista de tarefas.
Recebi um tour pela manhã, memorizei a maior parte dos cômodos que
visitei. Aramita não se importou de eu ter usado o bloco de notas do meu
telefone para anotar tudo.
Saí do vestiário e fui para a cozinha, higienizando minhas mãos e
junto à outra camareira, Tori, arrumamos os guardanapos de linho. Ela
parecia tímida, falava baixo, era bem nova e foi simpática. Acostumada
com mulheres competitivas no trabalho, querendo foder com a outra a cada
instante, fiquei um pouquinho desconfiada, mas a tratei bem também.
Afinal, algumas pessoas podiam matar as outras apenas com um sorriso no
rosto.
Minha primeira tarefa era dobrar todas as toalhas de banheiro que
chegavam da lavanderia. Eram muitas. Estavam cheirosas e quentinhas,
separei por tamanho e cores. Chegava a dar vontade de me deitar nelas. Fiz
o trabalho rápido, em seguida, alinhei-as no carrinho, levando boa parte
para o armário e Aramita me orientou a abastecer os quartos enquanto Tori
estava arrumando-os.
Eu a ajudei com os rolos de papel higiênico, tirei o lixo, recolhi cabelo
do ralo e limpei espelhos. Era muito pó. Tentei não ficar deslumbrada com
o quanto a casa era linda, em uma decoração requintada, provando que os
Montgomery eram ainda mais ricos do que um dia imaginei. Nós
andávamos pelos corredores fazendo o maior silêncio possível. De longe, vi
uma jovem mulher, saindo da academia. Ela nos deu um aceno, correu para
o quarto e logo uma música alta começou a soar lá de dentro.
— Agora, vamos limpar a academia. Recolher as toalhas e borrifar
álcool nos estofados, para que o próximo que for usar, encontre tudo limpo
— Tori me explicou.
Havia outras empregadas. Uma auxiliar de cozinha, uma para lavar as
louças e a cozinheira, que preparava os pratos conforme uma tabela
nutricional e receitas de uma chef. Nós também podíamos comer, havia um
refeitório próximo à cozinha, reservado, com uma comida maravilhosa. Era
raro conseguir uma refeição decente e eu fiquei muito satisfeita.
No descanso, fui levada para uma sala onde os funcionários ficavam
jogando, fumando, jogando conversa fora até a hora de voltar ou o sino
soar. Não era bem um sino, mas sim uma campainha, que soava como um.
Parecia Downtown Abbey. A família rica acima da terra e os funcionários,
na cozinha e abaixo do nível, em um subsolo.
O dia foi exaustivo, mas não me senti cansada mentalmente como na
boate. Eu não fiquei exposta e todas as pessoas foram legais em um nível
razoável.
— Você já terminou seu turno? — Aramita me encontrou na cozinha.
— Sim. Acabei de dobrar todas as toalhas de mão da cozinha.
— Pode não ter parecido, mas a senhora Montgomery também te
avaliou durante o dia e ela deu o sinal verde para sua contratação. Você
pode trazer sua mudança amanhã, às cinco e meia, antes da padaria chegar
ou irá atrapalhar a entrada de carga. — Ela tirou uma chave do bolso e um
cartão. — Seus dados de acesso. Esse cartão te permite entrar em todos os
quartos, a segurança vai liberando conforme o cronograma do dia. Vem,
vou te mostrar os seus aposentos.
Eu mal conseguia respirar. Não consegui ter uma reação. Queria gritar,
pular e rodopiar. Não ficaria na rua, nem precisaria dormir no meu carro,
muito menos precisaria ceder aos encantos de Alexander na boate e deitar
com os clientes. Prendi a mecha de cabelo que escapou do meu coque e a
segui pelo corredor, quando abriu a porta, revelou um quarto digno de hotel.
Era em tons de creme, com cama de casal, vários travesseiros e roupas de
cama tão luxuosas quanto as do andar superior.
O banheiro era espaçoso, com banheira e closet. Também havia uma
arara com todos os meus uniformes, já passados e dentro de um plástico.
— Seja bem-vinda à nossa equipe, Giselle. Espero que possamos fazer
um excelente trabalho juntos. Os patrões costumam ser gentis, mas eles
vivem lá no mundo deles e nós, aqui, sem invadir o espaço do outro. No
mais, estou à sua disposição para todas as dúvidas. — Ela me deu um
sorriso profissional.
Agradeci imensamente, tentando não parecer uma lunática e corri para
o meu carro, empolgada em fazer as malas e tirar o peso de não ter para
onde ir dos ombros de Maria e Guilhermo. Eles estavam colocando a mesa
do jantar.
— Fui contratada! — gritei e eles ficaram de pé, me abraçando. —
Estou muito feliz!
Faminta, devorei a salada, comi o frango e passei a madrugada
arrumando minhas coisas, que cabiam tudo em uma mala de trinta e dois
quilos preta. Não tinha muita coisa. Roupas, documentos, sapatos e
pouquíssimas coisas pessoais, como fotos com minha mãe e dos tempos da
escola. Deixei tudo organizado, preparado para sair bem cedo e me
comprometi a voltar na folga para terminar de ajudá-los na mudança.
Quase não dormi. Minha ansiedade não me permitiu. Enviei uma
mensagem a Alexander, avisando que não voltaria mais à boate. Não
tínhamos um contrato formal, nem informal, era tudo de boca, tanto que ele
me pagava quando queria. Ele visualizou, não respondeu e como não me
interessava mais o que ele poderia falar, bloqueei o número. Vanessa estava
acordada quando liguei meu carro, ela abriu a janela, me chamando, acenei
e fui embora precisando estar logo na mansão.
— Essa é a sua mudança? — Phillip me recebeu ainda fora das roupas
de trabalho, de jeans e camiseta. Ele era um homem alto, atraente, forte e
provavelmente, deixava a mulherada um pouco afetada.
— Sim, é tudo que eu tenho. — Dei um tapinha na mala.
— Nós reservamos a entrada de carga porque imaginamos que seriam
caixas — ele explicou e esticou a mão para pegar. — Deixe-me ajudar com
isso.
— Não precisa. Eu posso levar — garanti e soltei as rodinhas.
Phillip foi na frente, liberando o corredor e eu entrei no quarto. Tinha
duas horas antes de começar o turno, decidi espalhar apenas as coisas do
banheiro, deixando as roupas para mais tarde. Lavei meu cabelo, sequei,
trancei e prendi bem apertado. Era impossível ficar completamente preso,
reforcei o fixador, ficando com a roupa perfeita e alinhada.
— Bom dia, Giselle. — Aramita me recebeu na cozinha.
— Bom dia, estou pronta para começar.
— Antes, vamos tomar café, ainda está cedo. Vou te apresentar ao
restante da equipe. — Ela abriu a porta e saímos, descendo as escadas para
o refeitório.
Conheci o jardineiro, as assistentes, seguranças, cozinheiras,
governanta auxiliar e os motoristas. Depois de comer, ganhei as senhas.
Tudo era monitorado e meu registro precisava estar nos locais que eu fosse
mexer, como despensa e armários, para que a segurança mantivesse o
controle. Aramita fez um tour mais completo e Tori me deu dicas dos
lugares que poderia andar tranquilamente sem encontrar qualquer morador.
Tori e eu começamos a arrumar a mesa do café da manhã. Na casa,
oficialmente, viviam todos os filhos. O mais velho, Daniel, estava
atualmente na Inglaterra. Eu não sabia o que fazia, não perguntei e não
pesquisei. A segunda mais velha, era casada com um empresário famoso,
ex-jogador de futebol americano e, atualmente, dono de uma rede de lojas
femininas. Lanna Pierce-Montgomery era ex-modelo, deixou a carreira com
o casamento e gravidez, a filha já tinha um ano e meio.
Conheci uma das babás, mas elas ficavam mais reservadas.
A casa deles estava em reforma, segundo fofoca da Tori e por isso,
estavam morando ali temporariamente. O terceiro filho, Patrick, era
solteiro, trabalhava na política como o pai e ainda não era um candidato
oficialmente. A quarta filha, Leah Montgomery, ainda tinha dezessete anos,
mas já tinha um relacionamento adulto com um playboy milionário. Calvin
Reagen era famoso nas redes sociais pelo comportamento rude, as brigas e
o namoro conturbado.
Nós ainda estávamos com as frutas quando as portas duplas foram
abertas e um homem impecavelmente vestido de terno e gravata entrou. Era
o patriarca, Thomas Montgomery. Segundo as pesquisas, era um candidato
muito forte à presidência. Tendo uma vida política expressiva, não fiquei
surpresa, mas, sua popularidade nos últimos anos assustava um pouco. Foi
como se um homem discreto que trabalhava nos bastidores, de repente,
ganhasse milhares de holofotes.
— Bom dia, meninas — ele soou firme, porém, simpático. — Você é a
nova camareira. Srta. Madero, certo?
— Isso mesmo. Bom dia, senhor. — Dei um passinho para trás e dei
espaço para que se sentasse. — O senhor gostaria dos seus ovos agora?
— Vou esperar minha esposa descer, obrigado.
Na dica, a sra. Montgomery passou pelas portas, usando um vestido
azul perfeito, os cabelos bem penteados e ostentando joias lindas.
— Bom dia, meninas. Seja bem-vinda, srta. Madero. — Ela foi para o
lugar dela.
Rapidamente a sala de jantar ficou cheia. As duas filhas com roupas
de ginástica, a bebê amassando frutas e esfregando-as na cadeira alta. As
mulheres falavam sem parar, os homens ocupados em seus telefones, a
criança chamando atenção para si mesma. Parecia uma família comum,
exceto que eram ricos, dominavam muito a alta sociedade e naquele
momento, as pessoas que precisava agradar para manter meu salário.
Nós não precisávamos ficar o tempo todo servindo-os, apenas paradas
próximas à sala, para poder ouvir se chamassem. Enquanto eles comiam,
ajudei na louça. O trabalho nunca parecia acabar. A manhã foi muito
corrida, quando dei por mim, era o almoço. Somente a srta. Montgomery
comeria em casa, levei um sanduíche de frango light com suco em seu
quarto, deixei na mesa e saí antes que retornasse do escritório ao lado, onde
fazia aula online.
— Estou ocupada com as toalhas. Pode recolher o lixo do quarto
principal? — Tori passou por mim com os braços cheios.
— Claro. Vou buscar o carrinho. — Adiantei-me, pegando novos
sacos de lixo e comecei a esvaziar todas as lixeiras. Bati na porta, avisando
de minha entrada, falei com mais clareza, mas o quarto parecia vazio. A
cama já estava feita. Abasteci as roupas de cama limpas, papel higiênico e
recolhi o lixo.
— Seu nome é Giselle, certo? — Tomei um susto e me virei. —
Desculpe. Estava escrevendo na varanda.
— Sinto muito, senhora. Acreditei que o quarto estava vazio.
— Sem problemas. Eu te ouvi e sei que precisam fazer o trabalho. —
Ela sorriu. Laurel Montgomery era loira, aparentava ter mais de cinquenta
anos, cabelos cuidadosamente arrumados, botox, mas não muito. Tinha uma
postura clássica de alguém que nasceu na realeza.
— Posso ajudar em algo mais?
— Sim, por favor. Traga-me um chá gelado, com limão e sem açúcar.
— Imediatamente, senhora.
Ela não iria almoçar. Pelo menos, não estava listada na cozinha. Fiz o
que estava pendente rapidamente, troquei meu avental com cheiro de cloro
e lavei bem as mãos. A copeira serviu o chá em uma bandeja ornamentada,
levei com cuidado e pousei na mesa ao lado de seu computador. Ao
agradecer, pediu para deixar a porta encostada. Respirei fundo depois de ter
feito tudo direito.
Pela primeira vez, reparei na foto de família. Era um quadro enorme e
eu nunca tinha olhado. Os filhos eram lindos, todos arrumados, a fotografia
da família americana que a mídia amava perseguir e a sociedade ficava
sedenta em acompanhar cada minuto de suas vidas. Nunca fui muito
interessada em fofocas, acompanhava algumas coisas, lia revistas, mas nada
como uma perseguidora.
Deveria ser bom fazer parte de uma família grande. Ter alguém para
quem ligar, comemorar conquistas, aniversários, fazer viagens, registros de
momentos únicos que jamais se repetirão. Minha história foi interrompida
com minha mãe. Nós tentamos viver, só não conseguimos fazer muito, com
as muitas horas de trabalho que ela se dedicou para me criar e me dar
chances no futuro.
Era um sonho ter uma família e poder ter tudo que nunca tive.
Um dia, iria conseguir.
Capítulo Três
Daniel
A mulher à minha frente ajeitou o decote sutilmente e apenas o ato
de chamar minha atenção para seus seios, já me faria colocá-la sobre meus
joelhos. Eu não precisava que ela me dissesse o que fazer, nem como
desejá-la. Arqueei minha sobrancelha, tomando meu chá e ignorei o morder
de lábios. Eu era um homem em perfeito controle dos meus desejos e meu
pau era do tipo que sabia o que queria.
E não era aquela mulher.
Desviei meu olhar para o homem ao lado e lhe dei atenção. Todos nós
fazíamos parte da equipe de literatura da universidade, trabalhávamos no
mesmo projeto e por mais tentador que fosse foder uma mulher bonita
como ela estava deixando claro que queria, eu não me envolvia
sexualmente no meu trabalho. Até porque, era difícil encontrar uma
parceira que gostasse das mesmas coisas que eu sem encarar aquilo como
uma fantasia.
Era um estilo de vida. Minha escolha.
Sendo dominante há dez anos, tive várias submissas e um
relacionamento amoroso a longo prazo, além do sexo previamente
estabelecido em contrato. Era seguro para todos os lados, porque havia a
cláusula da segurança e consentimento. Eu também fazia sexo casual, mas
não significava que era o meu momento favorito, servia apenas para matar a
necessidade.
Assim que a reunião acabou, me despedi deles e declinei o convite
dela para uma bebida no bar. Não tinha nada contra mulheres agressivas,
que mostravam o que queriam, mas eu preferia manter a distância por não
ser como elas.
Dando a noite por encerrada, voltei para a minha casa temporária na
Inglaterra. Eu até havia cogitado alugar um apartamento mais próximo da
universidade, mas o local me ganhou pelo escritório aconchegante. Eu
podia passar horas ali dentro preparando os textos, minha parte no projeto e
também, as aulas, rodeado de livros antigos e primeiras edições exclusivas
que estava negociando a compra com o dono da casa.
Aquele lugar era um palacete no coração de Londres, muito maior do
que precisava, principalmente estando sozinho. Havia empregados à
disposição, assim como na casa dos meus pais, o lugar em que cresci.
Minha casa em Washington era só minha, sem cozinheira ou camareiras,
apenas eu, meus livros, minha rotina e o silêncio. Minha mãe tentava me
convencer a montar uma equipe, mas estava bem com a limpeza sendo feita
quando eu não estava presente e preparando a minha própria comida.
Depois de tomar banho, preparei-me para a chamada de vídeo entre
meus pais e irmãos, com o propósito de uma reunião para alinhar a imagem
da família. Em alguns meses, meu pai se tornaria oficialmente candidato à
presidência e com isso, ele e minha mãe estavam cheios de planos
ambiciosos. Como eu estava longe, a assessora de imprensa, Diana Parker, e
a marketeira política e advogada, Sienna Miller, marcavam encontros
semanais.
Inicialmente, minha mãe e elas tagarelavam sobre qualquer coisa que
não me interessava, então fingia estar fazendo anotações, quando, na
verdade, escrevia tópicos importantes da minha aula no dia seguinte.
— As pesquisas mostram que a vida solteira de Patrick não é um
incômodo, na verdade, ele se torna um candidato elegível para ser o
solteiro cobiçado — Diana começou a falar e ergui meus olhos. — No
entanto, peço desculpas sobre como estou abordando o assunto, mas Daniel
nunca teve um relacionamento amoroso público e isso gera a especulação
de que, na verdade, ele seja homossexual e isso não tem uma aceitação por
parte da família. Acaba gerando um buzz negativo com a comunidade e a
intenção da campanha é mostrar que o candidato está aberto a diálogo
com todas as áreas, com equilíbrio e justiça.
— Por que meu irmão é um solteiro elegível e eu sou gay? — Entrei
no assunto.
Patrick soltou uma risadinha. Levou tudo de mim para não erguer o
dedo médio e mandar meu irmão à merda. Ele era um dos muitos que me
enchia o saco sobre ter uma namorada, quando o mesmo não sossegava o
pau com uma única mulher. Nunca passou mais de duas semanas com a
mesma garota e queria me dar conselhos de relacionamento. Um hipócrita.
— Ele é visto tendo encontros com algumas damas — Diana
respondeu com as bochechas vermelhas. Ela tinha medo de mim, porque ao
contrário da minha família, não me fazia gentil e acessível.
— Eu só sou mais discreto do que ele.
— Existe a possibilidade de que tenha um relacionamento? — Diana
sugeriu.
— Podemos organizar um, se for necessário — Sienna disparou a
falar sobre como minha imagem de professor, o homem perfeito na
sociedade, seria ainda mais incrível junto a uma mulher engajada na
campanha. Os eleitores amavam um casal para acompanhar, se inspirar e
não precisava ser real, apenas perfeito o suficiente para a campanha.
Estava disposto a ter um casamento de mentira para que meu pai fosse
o presidente? Não. Mas prometi aos meus pais que me esforçaria para fazer
parte da família e dos planos em comum, algo que eu normalmente não me
importava e mantinha a distância. Porém, assim como todos, existia limites.
Uma mulher vivendo na minha casa e fingindo ser minha esposa só
atrapalharia toda a minha vida privada.
Mamãe percebeu o meu silêncio e mudou de assunto, focando na
pesquisa sobre as aparições da minha irmã caçula, Leah, com roupas mais
sóbrias e também, tirando mais fotos com Lanna e nossa sobrinha, Annie,
provando que eram melhores amigas, assim como os eleitores gostariam.
Não era como se elas fossem inimigas, mas Lanna era quieta e calma, uma
pessoa realmente doce, gostava de ficar em casa, ver filmes ou estar com o
marido na casa de campo. Já Leah, se pudesse, viveria dentro de uma boate,
mesmo muito jovem. Ela era agitada, tagarela, brincalhona, tudo era sobre
gritos e choros.
Patrick e eu éramos mais amigos, porque ele sabia como eu era e eu
sabia muito bem como ele era. Respeitávamos nossos limites, mas Lanna eu
também podia considerar uma amiga. No entanto, todos os meus irmãos me
buscavam para conselhos e apoio. Eu era o mais velho e carreguei essa
responsabilidade de cuidar deles, principalmente de Leah, já que alguém
precisava colocar juízo na cabecinha dela.
Saí da chamada antes do assunto terminar completamente. Estava
tarde, ainda tinha trabalho a fazer. Meu telefone vibrou e a tela acendeu,
com uma mensagem de um amigo, que também era dominante, e um
convite para uma apresentação em um clube que costumávamos frequentar.
Aceitei, saindo da cadeira para me vestir e peguei o carro. As ruas estavam
tranquilas e molhadas pela garoa fina que caía e antes de entrar, ajustei
minha gravata, prendendo os botões do casaco.
— Seja bem-vindo de volta, senhor. — A recepcionista mascarada,
usando um corpete de renda transparente e uma longa saia de cetim,
caminhou sensualmente na minha frente, levando-me até o camarote.
Jamie estava com um copo de uísque na mão e a mulher, Elena, de
joelhos ao lado dele. Ela não desviou os olhos do chão, mantendo a postura,
com as mãos pousadas nas coxas, nua da cintura para cima e usando uma
pequena calcinha. Ele me cumprimentou. Pedi uma bebida antes que a
recepcionista saísse e ficamos sozinhos, com a maioria das luzes apagadas.
Enquanto conversava comigo, Jamie manteve um carinho nas costas
da esposa. Eles eram o único casal que me fazia sentir inveja de manter um
relacionamento real e a dominação. Casados há seis anos, ela começou
como submissa e houve muito treinamento de ambas as partes para
conseguir dar certo. Antes do casamento, costumávamos fazer cenas juntos,
Elena gostava de ser dominada por ele enquanto outro homem a fodia, mas
ambos abriram mão do ménage para fidelizar o matrimônio.
Se um dia, algo que duvidava profundamente, encontrasse uma
esposa, entendia a necessidade de manter tudo privado. Eu já gostava de
extrema discrição e mesmo tendo feito cena com outras submissas e
dominantes, não compartilharia minhas mulheres porque a minha natureza
obsessiva e egoísta não permitia. Quando algo era meu, estava levando a
sério a possessividade da palavra.
O show foi intenso, excitante o suficiente para me deixar animado e
considerar levar uma das garotas para um jogo no quarto disponível para o
camarote. Jamie e Elena não compartilhavam mais, porém, não tinham
problemas em serem assistidos e também deram um excelente show. Mas
eu não pensava só com meu sangue quente. Se fosse foder, não seria rápido
e tinha um compromisso de trabalho bem cedo. Eu não tolerava atrasos e
nunca me atrasava para nenhum compromisso.
Saindo do clube, ignorei as chamadas em meu telefone. Era Lanna.
Deveria estar sem sono, querendo conversar e não estava com estado de
espírito para ser um bom irmão mais velho. Já em casa, não levei muito
tempo para dormir, mas fui acordado com as chamadas insistentes da minha
irmã. Dessa vez, era Leah. O que elas queriam?
— Você não ligou a televisão, idiota? — Leah explodiu assim que
atendi a chamada.
— O que aconteceu? Alguma invasão alienígena? Tem que ser um
bom motivo para me acordar no meio da noite, Leah — resmunguei, com
sono.
— Mamãe foi sequestrada. — Leah soltou e me sentei na cama,
pensativo. — Precisa vir com urgência. Papai…
— O que eu tenho com isso? Eles precisam de mim para pagar um
sequestro?
— Você não pode vir? É a mamãe, Daniel! — Leah chorou e suspirei.
— Lanna e eu não sabemos o que fazer. Patrick está lidando com a polícia
e os sequestradores, mas ele perdeu a cabeça e arrebentou um policial no
soco. Pode vir? Por mim? — ela pediu e respirei fundo.
— Estou indo.
— Obrigada. Eu te amo. Venha logo. — Leah continuou chorando e
encerrei a chamada.
E a campanha ainda nem havia começado.
Capítulo Quatro
Giselle
Meus braços estavam cheios de mantimentos enquanto ajudava a
descarregar a grande van depois que Aramita foi ao mercado. Ela gostava
de ir pessoalmente pegar a maior parte dos produtos, para garantir a
qualidade e que não houvesse falhas com a comida programada pela chef. O
jantar seria rosbife com um molho delicioso no qual a sra. Montgomery era
viciada.
Estava chovendo um pouco e acabei escorregando na rampa, rasgando
minhas meias. Aramita disse para ir descansar, pois já estava fora do meu
horário. Aceitei, precisava estudar. De “férias” da faculdade ou não, mesmo
formada, eu ainda precisava manter um ritmo de estudo para passar em
qualquer teste de emprego que surgisse inesperadamente. A maioria das
empresas exigia aptidão para quem não tinha experiência.
Meu quarto ficava em um lado silencioso. Em mais de uma noite,
dividi pizzas com Phillip e Aramita, assistimos filmes e bebemos cerveja
nas noites de folga. Melhor dizendo, eles beberam e eu dei alguns goles
ocasionais. Não era de beber nada, não fui acostumada e não tinha afinidade
com álcool. No entanto, eles eram divertidos. Enquanto os patrões ficavam
na parte de cima vivendo suas vidas, existia outro universo na parte de
baixo.
Guilhermo e Maria haviam se mudado há uma semana, a casa ainda
estava à venda, sendo reformada para que pudessem pedir um valor melhor.
Eu fui lá algumas vezes para mostrar quando a corretora estava ocupada
demais. Se eu pudesse, compraria para mim. Seria um sonho ter a minha
própria casa. Não era desconfortável morar no trabalho, apenas não era o
meu local, mas eu tinha privacidade e precisava estar sempre pronta para
atender aos pedidos dos patrões, não importando a hora do dia.
De vez em quando, a srta. Montgomery começava a brigar com o
namorado, Calvin Reagan, e eles quebravam o pau até altas horas da
madrugada, sem se importar com o sono de mais ninguém. Lanna Pierce-
Montgomery era a mais calma de todos, sempre no quarto com o marido e a
filha, ou na brinquedoteca. O sr. Pierce era outro bastante gentil, brincalhão
com os seguranças, mas vivia ocupado.
No mais, eu tinha muito contato com a sra. Montgomery. Ela gostava
do jeito que arrumava o quarto dela e passou a pedir minha opinião nas
roupas. A assistente de estilo a vestia bem, mas às vezes, as roupas eram
sérias e sóbrias demais para eventos com pessoas mais simples. Eu queria
ser uma boa funcionária para que eles me indicassem para um bom
emprego ou, no mínimo, aceitassem escrever uma excelente carta de
recomendação que abrisse muitas portas para mim no futuro.
Entre dias preenchidos com muito trabalho e estudo, cada folga que
tive aproveitei para dormir. Não atendia mais as ligações de Vanessa,
ignorando sua fúria por ter ficado com a vaga que ela achava que era dela e
muito menos, os convites do namorado psicótico para voltar à boate. Ele
estava claramente com muita raiva que o deixei. Se quisesse minha
permanência, deveria ter me valorizado e pago o que merecia por noite.
Amava dançar, só não queria ser stripper para sempre.
O ballet era a alma da minha mãe e salvou minha mente mais de uma
vez quando as coisas ficaram difíceis. Entregar meu corpo a outros ritmos
foi apenas um passo natural, mas eu continuaria sendo uma bailarina até
meu último suspiro. Precisava fazer parte de uma boa escola de dança para
conseguir dar aulas, minha pós-graduação em artes me garantiria uma vaga
no núcleo de Ballet da universidade e em seis meses, poderia me candidatar
como professora nas escolas mais tradicionais da cidade, as que pagavam
muito.
Em uma semana chuvosa, a maioria dos funcionários externos ficava
mais tempo no refeitório ou nas salas de descanso, a casa silenciosa e a
família mais recolhida em seus aposentos.
— Giselle, certo? — Patrick abriu a porta do quarto, sem camisa, de
cueca e o cabelo todo bagunçado. — Pode me ajudar?
— É claro, senhor. — Deixei as velas no aparador.
— Minha acompanhante teve suas roupas um pouco avariadas — ele
falou, esfregando a mão no peitoral e uma mulher enrolada em um lençol
apareceu atrás dele. Estava com os cabelos bagunçados e lábios inchados.
— Ela precisa ir embora. A chata da minha irmã se recusa a emprestar
alguma coisa.
E eu iria encontrar uma roupa para aquela mulher aonde?
— Irei providenciar, senhor.
Ela gritou o quanto vestia com um pouco de orgulho e ignorei, me
apressando até as escadas e fui procurar Aramita. Fui instruída a encontrar
um vestido na caixa de roupas para doação. Eu fiquei enfiada entre um
monte de peças até encontrar algo adequado, suada, descabelada e um tanto
irritada. Por que eles rasgaram as roupas? Sexo selvagem elevou ao nível de
ficar sem as vestimentas na casa de um homem?
Aparentemente, eles não se conheciam, apenas transaram, porque a
irmã dele não negaria uma roupa para uma possível cunhada, certo? Eu
sabia que Patrick era solteiro. A mídia adorava especular quem seria a
próxima namorada dele.
Toda a família era muito conservadora. Ele só assumiria um
relacionamento quando estivesse pronto para começar oficialmente a
carreira política.
Entreguei a roupa para a mulher, que abriu a porta nua, sem nenhuma
vergonha de seu corpo e dei as costas, saindo o mais rápido possível. Fui
chamada no quarto da sra. Montgomery e bati antes de entrar.
Ela saiu do closet usando um vestido vermelho.
— Muito justo? Devo colocar um terninho por cima?
— Um branco, para não soar clichê com o azul — opinei e o sr.
Montgomery saiu do banheiro de pijama, com um roupão por cima e o rosto
cheio de espuma.
— Você ainda não se barbeou? Não quero sair atrasada! — ela soou
meio irritada com ele, que sorriu e voltou com um tubo de creme nas mãos.
— Preciso que peça a Aramita que confirme a lista do jantar de hoje e que
reserve uma noite essa semana para que tenha um momento privado com
meu marido. Escolha um dia em que as crianças estejam fora com seus
compromissos.
— Tudo bem, senhora.
— Peça que me responda por mensagem, não terei tempo para vê-la
hoje.
Com um aceno, saí do quarto, em um misto de confusão. Ser
empregada era se acostumar a ser invisível diante da rotina comum de uma
família enquanto você não possuía nada na vida além de servir. Sem querer
ser hipócrita, eu daria muito para estar do outro lado da moeda, porque o
mundo não iria mudar. As classes não eram justas.
Quando era menina, sonhava em ser filha de um homem rico. Ficava
sentada na janela, imaginando que um dia ele pararia com seu carro luxuoso
na calçada e diria a minha mãe que finalmente a encontrou depois de terem
perdido contato em Nova Iorque. Ele ficaria feliz em saber da minha
existência e juntos, viveríamos em um palácio. Meu armário seria cheio de
vestidos bufantes lindos e eu teria todos os brinquedos que quisesse.
Ele nunca chegou e minha mãe raramente falava sobre o homem
estrangeiro que a deixou grávida. Sempre contou que nunca teve tempo de
contar que estava esperando por mim e não o encontrou mais. Perdeu as
esperanças quando decidiu se mudar para o distrito e construir a vida no
centro político do país. Nova Iorque não era muito boa com imigrantes e ela
não queria estar nos estados mais quentes, para não correr o risco de ser
encontrada pelo primeiro marido.
Em uma noite chuvosa, cheguei de uma consulta médica e parei na
cozinha para beber água rapidamente. A maioria dos funcionários estava de
folga e fui surpreendida ao encontrar a sra. Montgomery na despensa.
— Sabe se tem chocolate meio amargo? Quero fazer a sobremesa
favorita de Thomas e é bem provável que ele tenha comido tudo. — Ela
suspirou, segurando uma cestinha com vários mantimentos. — Também não
tem o tipo de filé perfeito para essa massa. Pode me acompanhar ao
mercado?
— É claro, senhora. Vou colocar meu uniforme.
— Não precisa. Pretendo não demorar. — Ela deixou a cesta no
balcão e foi até a sala pegar a bolsa.
Phillip não iria nos acompanhar, ele costumava andar com ela por
todo lado, mas estava de folga. Somente o motorista, que também era
altamente treinado, nos conduziu a um mercado de luxo. Peguei o carrinho
e fui empurrando, ignorando os fotógrafos que perceberam a presença dela,
assim como as outras pessoas, que erguiam seus telefones e tiravam fotos.
Eles pareciam não se importar. O assédio era muito pior com Leah.
Nas três vezes que a acompanhei em compras no shopping, também sem
meu uniforme, fomos cercadas e perseguidas. Ela ficava nervosa e foi
preciso acalmá-la dentro de um banheiro antes de conseguirmos ir embora.
— Gostaria de qual tamanho de filé, senhora? — questionei, parando
no freezer.
— Não precisa ser muito grande, apenas o mais sem gordura possível
— respondeu-me, distraída com alguns legumes congelados e pegou uns
pacotes.
Escolhi a carne, um pouco chocada com o preço. Ela ficava embalada
em um saco resistente, muito diferente das que costumava comprar. Fazia
muito tempo que não ia ao mercado porque tinha refeições no trabalho e
mantinha uma gaveta de guloseimas para beliscar enquanto assistia
televisão no quarto.
— Tenho tudo da minha lista, vamos pagar.
Empurrei o carrinho ao lado dela, passando os mantimentos e ela tirou
o cartão da bolsa, sendo simpática com a atendente, mas eu sabia que fazia
parte da personagem acessível que a marketeira mandou que ela
interpretasse. Uma mulher que o povo poderia confiar, que era agradável,
gentil e apaixonante. Alguém que eles se inspirariam. Ser vista no mercado
com a empregada, fazendo coisas comuns, a tornava humana.
O motorista carregou as compras para o carro, sentei-me no banco de
trás com a sra. Montgomery e nós conversamos sobre flores. Ela era quem
fazia os arranjos de casa, eram todos bonitos e eu me apaixonei por flores
por causa da minha mãe, que sonhava em ter um imenso jardim. Falamos
sobre a reforma da casa de Lanna e a mudança que seria feita em alguns
dias. Eu me perguntei se perderia meu emprego, considerando que haveria
menos pessoas na casa, mas não parecia ser a realidade.
O carro parou em um pequeno engarrafamento.
— O que está havendo, Lion? — Ela inclinou-se no banco. A mulher
controlava tudo, sempre atenta, parecia uma raposa. Ou uma águia.
— Parece que um caminhão está no meio da rua, senhora. Vou dar a
volta — ele explicou e de repente, o vidro foi atingido, mas não quebrou,
por ser blindado. Gritamos quando o carro parecia ter afundado no chão e
eu demorei a perceber que, na verdade, os pneus foram atingidos pelos
homens armados, vestidos de preto e encapuzados.
Não havia como fugir.
Com uma espécie de arma grande, um deles apontou para John e o
vidro da frente explodiu em vários pedaços. Sangue voou no meu rosto e eu
gritei histericamente. As portas foram destravadas, fui puxada pelos cabelos
até o chão e a sra. Montgomery também. Eu não a vi mais quando
colocaram uma venda e um saco escuro, fedido, no meu rosto.
Tentei gritar e me debater, lutei com tudo que tinha, o cheiro era
repugnante e me deu vontade de vomitar. Fui jogada em uma superfície
dura e escorreguei até o fundo, o que fez com que a venda saísse em parte
dos meus olhos, me dando um pouco de visão através dos meus cílios.
Arrastei-me até a sra. Montgomery, chamando-a, mas com a boca
amordaçada, meus gritos eram abafados.
Sem perceber a presença de outra pessoa, tomei um susto ainda maior
quando minhas mãos foram amarradas com algo que queimava meus
pulsos. Movi minhas pernas cegamente, querendo dar chutes, mas ele era
mais forte e mais atento. Deu um soco na minha cabeça e, lentamente, me
vi perdendo a consciência. Caída de lado, sentia o carro se mover, mas não
encontrava forças para lutar.
Eu ia morrer e não havia nada que pudesse fazer para me salvar.
Capítulo Cinco
Giselle
Minhas costas doíam e minha cabeça latejava. Abri os olhos e estava
em um quarto hospitalar. Havia um homem parado contra a janela, usando
uma camisa social escura e com as mãos nos bolsos. Percebi seu olhar pelo
reflexo, mas não conseguia me mover e pedir água. Meus lábios estavam
ressecados. Tentei me mover, mas minhas pernas pareciam pesadas como se
fossem de concreto, então fechei os olhos novamente.
Acordei assustada com uma enfermeira ao lado da cama, mexendo nos
fios conectados a mim e consegui pedir um pouco de água. Ela me sentou
na cama, senti dor no abdômen, coloquei a mão no suporte para me apoiar e
mordi o lábio para não gemer de dor. Meus olhos ardiam, toquei minha testa
enfaixada, desci um pouco mais e senti um curativo no queixo. Não sabia
como tinha ido parar ali no hospital, mas as lembranças do que havia
acontecido ainda piscavam na minha mente de maneira assustadora.
Meu coração acelerou e a enfermeira conversou comigo suavemente.
Depois de beber água, cansada, voltei a dormir. Eu não tinha muita força
para me manter acordada. Fiquei nesse limbo por vários momentos, sem ter
noção do tempo. Fui abruptamente acordada com a porta sendo aberta e
dois homens entraram. Eles me assustaram e gritei, pedindo socorro.
Ambos se assustaram, erguendo as mãos.
— O que pensam que estão fazendo? — Outro entrou e eu o conhecia
de algum lugar. Era quem estava no meu quarto da primeira vez.
— O médico disse que ela poderia ser acordada para o depoimento.
Em seguida, um homem vestido de azul com um estetoscópio
pendurado no pescoço segurou meu pulso, falando com a enfermeira:
— Não dessa maneira — ele retrucou e meu coração seguia acelerado.
— Eu disse que iria acordá-la e avisar do depoimento.
— O depoimento não pode ser avisado. Ela teria tempo para mudar a
versão.
Minha versão? Eu estava presa? Olhei para os meus pulsos e havia
algemas. Gritei mais ainda, batendo nelas e chutei a ponta da cama. Os
enfermeiros me seguraram no lugar e eu fui levada de volta ao pesadelo dos
homens encapuzados jogados em cima de mim, arrancando minha calça
jeans pelas pernas e arrebentando minha calcinha enquanto a sra.
Montgomery implorava para que parassem.
Quando acordei de novo, minha cabeça doía menos. Não estava
sozinha no quarto. Lanna Montgomery mexia em seu telefone celular, não
havia mais algemas e meu peito parecia menos oprimido. Ela se virou ao
me perceber acordada e abriu um sorriso contido.
— Vou avisar ao médico que acordou.
Dei um aceno, sem saber o que falar.
A equipe médica retornou e eram outras pessoas, assim como percebi
tardiamente que o quarto era outro. Maior, mais chique, com um sofá e
banheiro. Ouvi atentamente que estava com alguns ferimentos de luta
corporal, hematomas e cortes superficiais espalhados pelo corpo que
estavam em processo de cicatrização. Falaram sobre meus exames e em
seguida, que a polícia precisava conversar comigo sobre o sequestro da sra.
Montgomery, acompanhada de um advogado da família.
O homem era alto e loiro, parecendo um escocês das terras altas como
descrito nos romances. Seu olhar intenso fez com que eu me sentisse
pequena.
— Olá, srta. Madero. Eu sou Adam Byrne, advogado da família
Montgomery e estou aqui para defender seus interesses.
— Por que preciso de um advogado se fui pega com a sra.
Montgomery? — questionei, precisando entender o terreno em que estava
pisando.
— A senhorita conhece essa pessoa? — Ele tirou uma foto do bolso.
Era a foto de Vanessa, morta, no que parecia uma autópsia. Seu cabelo
loiro estava molhado e ainda era possível ver alguns resquícios de sangue.
Pálida e com hematomas visíveis. Meu estômago embrulhou com a
imagem, desviei o olhar e encarei minhas mãos.
— Sim, ela era minha vizinha quando morava com Maria e Guilhermo
Hernandez no subúrbio da cidade. O que aconteceu com ela?
— Foi encontrada morta no mesmo local do sequestro.
Franzi o cenho, tendo algumas lembranças confusas.
— Eu não a vi lá. Apenas homens, um deles era grande, o cheiro dele
era familiar e o outro, a voz não me era estranha, mas não os vi. A venda
caiu um pouco e amassou meus cílios, depois que tiraram minha calcinha,
um homem de terno…
— Um homem de terno? — Adam me interrompeu, interessado.
— Sim. Era terno e calça social. Sapatos caros. Eu vi o rosto dele, de
relance. Ele mandou que parassem. — Minha voz soou trêmula. — Iam me
estuprar — constatei, me sentindo sem chão.
— Eu sinto muito, srta. Madero.
Ele até poderia se importar, mas estava ali para ouvir o que eu sabia e
me conduzir no depoimento. Com ele e com os policiais, fiquei cansada,
com dor de cabeça, sentindo medo de cada homem que passava pela porta.
Inicialmente, eles me prenderam porque acreditaram que eu tinha
envolvimento com os sequestradores, mas depois viram que eu não tinha
nenhum contato com Vanessa há várias semanas e estava sem meu telefone
celular no momento do sequestro, o que impedia qualquer comunicação.
Vasculharam toda a minha vida para provar que eu era inocente.
Aramita e Phillip depuseram a meu favor, no sentido de que eu nunca fiz
perguntas e não fazia nada fora do programado.
— Por que tem uma cama no chão do seu quarto? — Adam
questionou.
— Eu durmo no chão há anos e não me acostumei com a cama do
quarto. Não iria reclamar sobre isso com Aramita e por esse motivo, optei
por arrumar um lugar confortável como dormia antes — expliquei, um
pouco envergonhada.
— A situação do sequestro é crítica e está com uma cobertura voraz
pela mídia. Até agora, conseguimos protegê-la, assim como a sra.
Montgomery, mas evite conversar sobre o caso com as enfermeiras ou
médicos. Não é possível confiar em ninguém no momento — Adam
aconselhou e dei um aceno para mostrar que ouvi.
Os policiais saíram em seguida. Não eram os mesmos, foram mais
calmos e profissionais. Fiquei sozinha, lamentando de dor, chateada por
estar envolvida em uma situação crítica daquelas e que não tinha nada a ver
comigo. Vanessa namorava Alexander, ela também infernizou Maria por
uma vaga na casa dos Montgomery. Essa era a única ligação óbvia que
conseguia concluir no momento.
A enfermeira ligou a televisão ao deixar meu almoço, uma sopa meio
sem gosto, porém, boa o suficiente para minha falta de apetite. A série era
sobre um ex-fuzileiro vivendo em uma pequena cidade e uma jovem
enfermeira especializada em partos, na vibe de cara irritado e mocinha
forasteira que atraiu minha atenção o suficiente para não pensar em mais
nada.
Ouvi uma suave batida na porta, virei o rosto e a sra. Montgomery
estava entrando.
— Você está bem, senhora? — Sentei rapidamente e senti dor, então
voltei a me deitar.
— Estou melhorando. — Ela caminhou, puxando seu suporte de soro.
— Só agora consegui convencer a enfermeira a me deixar vir te ver. Como
está, Giselle?
— Dolorida e confusa.
— Sinto muito que tenha sido jogada em um pesadelo desses comigo.
— Ela encostou-se na ponta da cama. — E, infelizmente, além do fato de
que fomos sequestradas, o resgate foi pago e que a polícia nos encontrou
horas mais tarde, não sabemos de nada. Soube que reconheceu a sua vizinha
como a mulher morta no local.
— Eu contei o que sei para a polícia. Vanessa queria uma vaga na sua
casa, mas Maria negou e me indicou no lugar. Seria esse o motivo do
sequestro?
— Oh, querida. Não seja tão inocente. Essa mulher queria entrar na
minha casa e descobrir como o esquema de segurança funcionava — ela
rebateu e mordi o lábio. — Eram próximas?
Torci meus dedos, um pouco nervosa sobre o que iria confessar.
— Mais ou menos. Tentei. Ela me apresentou o clube que dancei no
último ano e que, apesar do pagamento atrasar, a gorjeta era ótima. Só que
ela tinha comportamentos que me tiravam a paciência e acabei me
afastando.
— Clube? — A Sra. Montgomery arqueou a sobrancelha.
— Fui stripper. Eu usava uma fantasia erótica, para não revelar a
minha identidade.
— Aramita colocou uma stripper dentro da minha casa?
Não importava o que fosse acontecer, eu não permitiria que ela falasse
comigo daquela maneira.
— Eu sou bailarina profissional. Depois que minha mãe morreu,
fiquei afundada em dívidas hospitalares, da universidade e também
precisando viver — falei bem firme. — Não me envergonho. Precisava do
dinheiro.
— E até onde você foi por dinheiro?
— Apenas dancei, não me tornei uma prostituta, embora, se tivesse
sido, a senhora não teria direito de julgar minhas escolhas — rebati e ela
apenas me olhou com os lábios crispados. — Além do mais, o que isso te
importa?
— Importa que, agora, a mídia acredita que você é mais do que uma
empregada. E sendo uma testemunha vital do que aconteceu conosco,
precisará fazer parte da minha vida. Meu marido será presidente, Giselle.
Nada irá nos impedir de chegar até a Casa Branca e assim como todos na
minha casa, você também vai dançar a mesma música. — Ela inclinou-se
para frente. — Não foi divulgado que você era uma camareira da minha
casa, tanto a assessoria de imprensa quanto nossa marketeira viram que
seria uma imagem negativa.
— O que isso quer dizer? — Procurei me sentar devagar, ainda
sentindo o meu peito doendo.
— Não foi definido, apenas saiba que não irá embora até
conseguirmos fazer justiça com o que aconteceu. — Ela foi enfática.
— E se eles nunca forem pegos? — perguntei baixinho.
— Eles quase te estupraram na minha frente, Giselle. Eles me bateram
até que perdi a consciência. É mais do que justiça. É honra. Eles precisam
ser pegos e que paguem por isso.
Dei um aceno, com os olhos ardendo querendo chorar, mas eu não iria
ceder. Não na frente dela. Depois que saiu, porque a filha e o médico
apareceram atrás dela, deixei que as lágrimas caíssem. Usei a caixa de
lenço, me sentindo solitária e um tanto amargurada, porque não havia nada
que pudesse fazer para curar meu corpo e apagar da minha mente tudo que
havia acontecido.
Não recebi mais visitas e me deram alta uma semana depois. Aramita
me ajudou no último dia, carregando minha pequena mala e eu pensei que
seria conduzida até meu quarto nos fundos, mas Phillip me pegou no colo e
subimos as escadas até um dos quartos de hóspedes. Ele me deixou na cama
e foi quando reparei que todos os meus itens pessoais estavam ali.
— O que está acontecendo? Por que estou aqui em cima?
— Eu ainda não sei, Giselle. Apenas recebi uma ordem. — Aramita
me cobriu com a colcha dourada e marrom. — O médico disse que precisa
de repouso e comer alimentos leves. A cozinha está preparando um
cardápio especial para você e a sra. Montgomery.
— Ela está bem?
— Teve uma pequena queda no hospital, porém, também já recebeu
alta. — Aramita terminou de ajeitar minhas coisas.
— Estou me sentindo mal com você mexendo aqui como se eu fosse
um dos membros da família.
— É assim que acontece quando recebemos ordens. — Ela sorriu
gentilmente. — Desculpe não poder ficar com você no hospital. Não
pudemos. Eles reduziram as visitas e até as meninas precisavam avisar
quando iam ver a mãe, para que a segurança liberasse.
— Ah, não se preocupe com isso. Obrigada.
Sozinha no quarto, fiquei com medo de me mover bruscamente e
acabar quebrando alguma escultura que ficava na mesinha ao lado. Aramita
deixou meus doces na gaveta do lado da cama, peguei um chocolate e comi.
Ficar deitada fazia com que minha bunda ficasse dormente e, com calma,
fiz uma no chão, ligando a tevê. Estava quase dormindo no final de um
filme, mas abri os olhos com uma batida na porta e me sentei.
Era Tori, para me ajudar a ir até o quarto da sra. Montgomery, porque
ela queria me ver.
— Não preciso de ajuda, posso ir andando devagar. — Fiquei de pé
com dificuldade. — Ouviu alguma coisa?
— Não. Apenas sei que ela está com a equipe principal da campanha
desde que chegou do hospital com o marido. Os filhos mais velhos entraram
e saíram diversas vezes, mas não ouvimos nada — Tori cochichou e
suspirei, apoiando minhas mãos nas paredes e indo com calma. — Boa
sorte, Gi.
— Obrigada. — Respirei fundo e bati na porta. Ouvi um "entre" e
aprumei minha postura para não demonstrar estar sentindo tanta dor ao ficar
de pé. — A senhora não deveria estar descansando?
— Eu vou descansar depois de apagar todos os incêndios envolvendo
nossos nomes. — Ela apontou para uma poltrona. — Quero que conheça
Sienna Miller, ela é uma peça fundamental da nossa campanha e estamos
lidando com o caos negativo do sequestro.
— Por que estariam vendo a família negativamente se foi uma
tragédia? — Sentei-me com cuidado, com o curativo na minha barriga
repuxando.
Sienna me deu um olhar cuidadoso.
— Algumas pessoas são capazes de dizer que foi feito de propósito,
para gerar comoção, e outras, acusam a família de se aproveitar de pessoas
em situação de fome para trabalhar na casa. Sabemos que é imigrante — ela
explicou e eu até considerei o fato, mas, na verdade, eles pagavam muito
bem e eu não era ilegal. Descendia de cubanos, mas nasci no país, portanto,
era americana.
— Estou com medo de perguntar o que estou fazendo aqui.
— Não precisa perguntar, irei te dizer mesmo assim. — Sienna virou-
se em seu lugar. — Precisamos que tenha um relacionamento por contrato
com Daniel Montgomery. Vamos divulgar sua presença na família como
namorada do sr. Montgomery e, enquanto isso, dar um recado a quem foi o
mentor do sequestro de que você não era uma mera empregada a ser
torturada. Vai aumentar a comoção pública e caso seja necessário um
julgamento com júri popular, teremos muitas coisas ao nosso favor.
— Já pensando em um julgamento? — Lambi meus lábios, tonta com
a informação sobre ter um relacionamento com um homem que nunca
conheci.
— Uma boa defesa começa no primeiro segundo possível.
— Por que eu aceitaria um relacionamento falso?
A sra. Montgomery limpou a garganta, atraindo meu olhar.
— Vamos te pagar. Um milhão para que forme a família perfeita com
meu filho e ajude na campanha e um acordo nupcial muito generoso,
Giselle. Também estou disposta a negociar. — Ela foi firme e senti um
arrepio na espinha.
Capítulo Seis
Daniel
— Nem fodendo, Patrick! — Bati com meu copo de uísque na mesa.
Foda-se que era cedo para beber, eu não me importava. — Não vou me
casar para que meu pai se torne presidente!
Meu irmão se afastou da janela com uma expressão carrancuda e
sentou-se à minha frente, com os cabelos molhados bem arrepiados e sem
camisa, suado depois de malharmos juntos. Batemos um no outro até a
exaustão, porém, não foi o suficiente para aplacar a fúria dentro do meu
peito da armadilha que caí ao voltar para os Estados Unidos e cuidar de
todos os detalhes do sequestro da mamãe.
— Ah, vai sim! Você prometeu que faria de tudo para nos ajudar na
campanha que fundamentaria a minha em alguns anos. — Patrick secou o
suor e pegou meu copo, virando o que tinha de bebida ali. — Mamãe não
forjou essa porra, pare de achar isso.
— Como tem certeza? — Arqueei a sobrancelha, irritado. Laurel
Montgomery era conhecida por não ter limites para atingir os objetivos.
— Eu acredito no depoimento de Giselle. — Patrick deu de ombros.
— A garota não tem nada a ver com a confusão e agora está envolvida
até o último fio de cabelo. — Recostei-me no sofá, relaxando, e Tori entrou
com uma bandeja, nos servindo chá gelado. Ela saiu rapidamente, sempre
correndo na minha presença, com medo de mim. Não era a única. Minha
fama não era das melhores.
— Acha que ela já aceitou?
— Mamãe não dará a ela muitas opções — garanti, ficando de pé. —
Meu trabalho aqui já está feito. Encontro com vocês na França.
Patrick parou o movimento de pegar o copo e abriu a boca. Antes
mesmo que ele pudesse falar, já expliquei:
— Eu prometi que lhe daria uma carreira política e eu vou dar. Quanto
ao casamento, irei pensar.
— Não precisa ser de verdade — ele falou atrás de mim.
— Como ter uma mulher vivendo dentro da minha casa e não ter um
relacionamento verdadeiro? — Virei rapidamente, com a mão na maçaneta.
— Ela pode não gostar do seu estilo de vida e talvez concorde que
tenha uma submissa em particular. — Patrick soou esperançoso. Ele
precisaria deixar de ser inocente antes de se tornar um político de verdade.
Faltava cretinice naquela desculpa.
Sendo um dominante, eu não teria uma mulher usando minha aliança e
sobrenome sem estar curvada à minha frente, com a bunda para o alto e
pronta para tomar uma boa surra antes de ser fodida. Saindo da sala em que
estávamos, parei no corredor e vi a moça, andando devagar, sozinha e em
direção a um dos quartos de hóspedes. Ela parecia com dor, usava um
vestido branco longo e seus cabelos muito escuros estavam soltos.
Nunca a tinha visto antes. Leah comentou que havia uma nova
empregada legal, que não parecia uma completa tonta e era inteligente. No
hospital, a observei por um instante: parecia a branca de neve, os cabelos
negros e a pele excessivamente pálida, que estava decorada com hematomas
que me fariam cometer um assassinato com a pessoa que teve coragem de
machucar aquela mulher.
Meu pai estava na academia e passei direto. Ele me deu um aceno,
ignorei e fui embora, precisando fazer minhas malas. Já tinha ficado muito
tempo fora de Londres, com meu trabalho sendo acumulado. Minha parte
no projeto não poderia ser feita por outra pessoa e eu tinha um contrato para
cumprir.
Aramita deixou minhas coisas prontas conforme havia solicitado
depois do café. Tomei banho e vesti minha roupa cuidadosamente antes de
ir para o aeroporto. Minha família, no momento da divulgação de bens,
abriu mão do avião particular para não parecermos esnobes. Facilitava a
minha vida não ter que pegar um voo comercial, porém, me ajustei com a
primeira classe. A comissária era uma gostosa, foi o único pensamento
bobo que tive antes de abrir meu computador e voltar a trabalhar nos meus
textos.
O voo até Londres foi tranquilo. Consegui um carro para me buscar e
não tive problemas para chegar em casa. Antes de dormir, organizei todas
as minhas coisas cuidadosamente, assim, não me atrasaria no dia seguinte.
Ordem era mais do que necessário na minha vida. Eu não suportava um
ambiente bagunçado. Qualquer desordem, me deixava estressado.
Com um pouco mais de tempo, antes de dormir, assisti todos os vídeos
de reportagem sobre o sequestro. O sensacionalismo exagerado fez com que
a opinião pública estivesse dividida e sendo um tanto cruel. A polarização
nunca era um bom resultado. A guerra de opinião só fodia com a estratégia
política, mesmo podendo aproveitar do caos, na atual fase da campanha era
preciso equilíbrio.
Minha mãe não iria parar. Ela faria meu pai presidente e daria a ele o
que tanto queria. No fundo, era o sonho dela também. Entre os Vaughn na
corrida, nós sabíamos que o resultado das eleições seria conforme os
verdadeiros mandantes da campanha decidissem. O jogo político era mais
do que ligações e apertos de mãos entre empresários. Havia muito por trás e
uma grande manipulação que dominava a mente da população.
Com o advento da internet, nem era preciso pagar tantos jornais. O
público sedento e furioso fazia o trabalho sem muito incentivo.
Antes de desligar o iPad, acessei o sistema da família e peguei a pasta
de arquivos de funcionários. Abri a letra M e busquei o sobrenome dela,
clicando, olhando a foto primeiro. Era muito bonita. Os olhos puxados e
expressivos, castanho-claros, em tom de mel. Eram impressionantes. Os
cachos nas pontas dos cabelos pareciam naturais. Eu li a ficha e, para minha
completa surpresa, vi que era formada na mesma universidade que eu dava
aulas e estava inscrita para o programa de graduação no fim do verão.
Estava perto dos quarenta e a garota ainda começando a vida.
A mãe dela faleceu, ambas tinham o ballet como paixão. Na internet,
de modo geral, não havia nada sobre elas. Giselle também não tinha redes
sociais públicas, o perfil era privado e continha apenas seis fotos que não
tive acesso. Entrei no sistema da universidade e usei minha senha para ler a
opinião dos professores, assim como as notas e ela foi exemplar. Também
devia muito em créditos estudantis.
Giselle tinha grandes motivos para aceitar a proposta. Minha mãe a
pegaria na curva financeira, além do fato de que poderia balançar o mundo
perfeito dos Montgomery como se fosse um conto de fadas.
Eu tentei desviar meu olhar da foto dela e não consegui até a tela
apagar sozinha. Encarei o meu reflexo com um ar crítico. Uma mulher
comum, de origem humilde e precisando de ajuda financeira não parecia se
encaixar na minha vida (e em tudo que eu gostava). Não tinha planos de ter
uma esposa e só o pensamento me enchia de raiva, o desconforto crescia,
pelo fato de estar abrindo ainda mais da minha vida por conta de planos
ambiciosos dos meus pais.
Quando seria o suficiente para eles?
Em quanto tempo filhos seriam necessários para completar o quadro
de família perfeita que eles insistiam em divulgar?
Fechei os olhos depois que coloquei o telefone para despertar. Os
últimos dias haviam sido exaustivos. Papai e eu negociamos com os
sequestradores, mesmo que a polícia tenha dito que não. Depois de doze
horas, eu não acreditei que os federais encontrariam minha mãe a tempo e,
por fim, foi uma boa decisão pagar. Elas foram encontradas em menos de
duas horas e pelo estado crítico de ambas, poderiam não sobreviver à
madrugada naquele galpão abandonado.
Embora eu tivesse considerado que minha mãe havia armado o circo
para chamar a atenção da mídia, no fim, sabia que ela foi vítima de um
plano arquitetado. Pelas imagens das ruas, ela estava sendo observada há
nove meses. Foi sutil e bem articulado para não atrair a atenção da equipe
de segurança. Carros comuns, horários de pico, até mesmo frequentando os
eventos públicos que ela havia organizado.
Minha família tinha inimigos e não era nenhuma novidade. Meus pais
irritaram muitas pessoas importantes e igualmente perigosas para alcançar
seus objetivos. Tentar descobrir quem machucou minha mãe seria como
iniciar uma caçada de uma agulha no palheiro.
Levantei-me no horário costumeiro, preparei o café e ajustei a gravata
na frente do espelho para que não ficasse torta. Quando meu relógio apitou
eu já estava no carro, preparado para sair. Não deveria desviar o foco do
trabalho, era um projeto importante, faria ainda mais meu nome no meio e
para construir minha carreira independente do meu sobrenome, foi
necessário muita dedicação. No entanto, os olhos castanhos de certa morena
não paravam de me desconcentrar.
Uma nova obsessão estava surgindo e eu odiava a falta de controle
sobre isso. Não podia desejar ver o quanto aquela pele poderia ficar
vermelha com as palmadas que eu daria em sua bunda e as marcas dos
meus dedos em seu pescoço enquanto ela gozasse intensamente com meu
pau enterrado em sua bunda. Na minha mente perversa e suja, amarrá-la na
minha cama e fodê-la do jeito que gostava seria uma ótima maneira de
começar o dia.
— Porra. Fodido Patrick por enfiar essas ideias malucas na minha
cabeça, caralho. — Respirei fundo, esfregando meu rosto.
— Falando sozinho, sr. Montgomery? — Lisa, a assistente do projeto,
estava parada na porta da sala com um sorriso sensual.
— Nada que seja do seu interesse — rebati e seu rosto ficou
ruborizado, perdendo a postura por alguns segundos. — Precisa de algo
mais?
Sua expressão era de quem queria gritar o quanto eu era um cuzão
grosseiro que não estava me rendendo ao seu charme, mas o
“profissionalismo” a impediu de abrir a boca. Sem falar nada, deu as costas,
não perdendo o rebolado e entrou na sala da frente, onde deveria ter mais
idiotas que não podiam ver um belo par de seios para começar a babar feito
cachorros.
Voltei minha atenção para o trabalho e percebi que no canto da folha,
desenhei os olhos dela.
Fodida Giselle.
Eu não poderia lidar com o desastre de outra submissa fixa.
Capítulo Sete
Giselle
O prato à minha frente parecia eca. Peguei a taça de vinho e dei um
gole para tomar coragem de provar. Tirando sushi, eu não conseguia
conceber a ideia de comer carne crua. Ergui meu olhar para o homem do
outro lado da mesa e fingi costume. Era um chique restaurante no coração
de Paris, no qual todas as pessoas ao meu redor pareciam ricas e esnobes.
Provei um pouco e apesar do sabor rico do tempero, a carne seguia
crua, porra. Bebi mais vinho e limpei a boca, pedindo licença para ir ao
banheiro. Soei doce e elegante, como uma mulher refinada que estava
interpretando naquele passeio que nunca considerei que iria viver antes.
Quando poderia ir a Paris na minha condição de vida?
Três meses e toda minha vida mudou.
Um mês trabalhando para os Montgomery antes do sequestro e quase
dois meses depois dele, me preparando para assumir minha nova
identidade. Eu ainda seria Giselle Madero, mas dessa vez, me relacionando
por contrato com um homem que não vi depois que deixou a mansão e com
quem sequer falei. A mãe dele, minha nova sogra, me fez assinar um
contrato que tratava da nossa privacidade, além da garantia de um
pagamento que iria mudar toda a minha existência.
Minhas dívidas foram quitadas. Meu saldo no banco era positivo.
Quando terminasse minha pós-graduação, eu teria uma carreira. Tudo que
precisava fazer era ser a esposa perfeita (em público) de um homem rico.
Eu não sabia se ele era gay ou algo do tipo, a mãe me jurou que ele era
apenas discreto. Parada em frente ao espelho, olhei minha aparência. Meu
cabelo escuro estava preso de maneira elegante em um coque banana com
uma maquiagem que deixava minha pele parecida com porcelana.
Nas últimas semanas, tive aulas de etiqueta, maquiagem e cabelo.
Também mergulhei em uma reconstrução do meu armário enquanto
recuperava o corpo dos ataques brutais causados no sequestro. A mídia
ainda sugou o que pôde sobre o evento catastrófico, mas a família se
reservou no direito de não falar sobre, para que tivesse bastante espaço para
manipular a verdade a favor da campanha.
Eu não me importava muito. Queria duas coisas: mudar minha vida e
que os bastardos fossem pegos. Se os Montgomery iriam ganhar a eleição
ou não, estava além do meu controle. Agarrei a oportunidade, não só por
mim, como para ajudar Maria. Seu tratamento médico, com ou sem a ajuda
do filho, ainda demandava muitos gastos e ela teria todo o conforto que eu
pudesse dar.
Não ter dívidas tirando meu sono e não precisar servir ninguém, era
bom. Deixei bem claro que não serviria o filho dela com meu corpo e com
um sorriso suave, acompanhado de tapinhas nas minhas mãos, ela disse que
não seria necessário. Era um contrato. Daniel seria discreto com seus casos.
Não me importaria ter fama de corna, contanto que minha conta bancária
continuasse gorda.
Voltei para a mesa, ciente de que estava sendo observada e evitei
rebolar. Meu andar era muito sensual, segundo Sienna, e me controlava para
não atrair mais olhares do que deveria. Minha postura era perfeita. Como
Laurel disse: ser bailarina era importante para a imagem que eles queriam
passar para o público. Minha formação acadêmica também.
Só não era boa o suficiente para um emprego.
— Está tudo bem? — Thomas questionou com delicadeza. Ele era um
coroa muito bonito, conservado e atraente. Mais de uma vez, fiquei curiosa
sobre os rumores dele ser infiel.
— Sim, claro. Esse lugar é maravilhoso. — Abri um sorriso
simpático.
Meu futuro sogro retribuiu.
— Tomei a liberdade de pedir um filé com purê de batata e quatro
queijos que é uma delícia. Acredito que o primeiro prato não agradou o seu
paladar. — Ele pegou sua taça e deu um gole. Pela minha visão periférica,
vi um fotógrafo do outro lado da rua. O flagra foi puramente armado.
Eu não consegui disfarçar minha expressão de alívio.
— Obrigada.
A nova comida era definitivamente muito melhor. Decorava o centro
do prato um filé da grossura do meu dedo, uma rodela simples e o purê
adornado com tomates-cereja confitados. Estava ótimo, mas certamente,
sentiria fome em trinta minutos. Bebi todo o meu vinho e aceitei a dica dele
para a sobremesa, um chocolate branco recheado com creme de maçã e uma
cobertura caramelizada por cima. Delicioso.
Assim que a conta foi paga, ele tocou minhas costas gentilmente e me
conduziu para o carro. Phillip me deu uma piscadinha, ajudando-me a entrar
e eu me sentei com cuidado para que meu vestido branco não voasse além
do que deveria e mostrasse minha calcinha.
Thomas era um homem em que a política corria nas veias, porque ele
sabia como conduzir um assunto com qualquer pessoa como se aquilo fosse
o momento mais importante de sua vida. Olhava nos olhos e dava completa
atenção. Se falasse daquela maneira com cada eleitor, certamente
conseguiria muitos votos. O carro entrou na garagem subterrânea do hotel
pois devido ao sequestro, a família andava com o dobro de segurança.
Esperei a verificação do andar, dos elevadores e segui Phillip
conforme sua ordem. Meu quarto tinha uma belíssima visão para a torre e
eu tirei tantas fotos que estava usando a nuvem, para não ocupar toda a
memória do meu telefone, embora ainda tivesse muito espaço. Ganhei um
novo e moderno aparelho, estava registrando cada momento único porque
não fazia ideia de quando iria vivê-los novamente.
Haveria um baile importante naquela noite, na embaixada americana,
era o principal motivo de estarmos ali. No entanto, Laurel, como queria ser
chamada a partir do momento em que deixei de ser sua “funcionária”,
queria fazer uma reunião para alinhar todos os planos. Segui o grupo em
silêncio, andando com calma pelo tapete bonito do corredor. Sempre que
ficava diante de toda a família, me sentia intimidada, mas uma nova
presença foi o motivo da minha pele arrepiar:
Daniel.
Ele estava perto da janela, com as mãos enfiadas nos bolsos,
parecendo olhar a paisagem lá fora, mas o reflexo indicou que seu olhar
estava diretamente em mim. Engoli seco e desviei, incapaz de sustentar
aquela potência que fez com que minhas pernas tremessem um pouco.
Patrick puxou uma cadeira ao lado da irmã, Leah, que estava de mãos dadas
com o namorado, Calvin. Ela me deu um sorriso.
— Como foi o almoço? — Laurel questionou, digitando em seu
telefone.
— Fotografias feitas. A comida estava boa — Thomas respondeu e foi
para o bar, servindo uma dose de uísque.
— Perfeito. Logo receberemos o retorno disso — ela comentou e me
deu uma olhada, como se aprovasse meu vestido. — O baile de hoje será
uma importante noite para nossa campanha, faremos contatos necessários e
muitas ligações para obtermos apoio o suficiente dentro do partido. Nossa
imagem pública está em jogo, portanto, sem brigas. — Laurel virou-se
incisivamente para a filha mais nova, que deu um aceno depois de revirar os
olhos. — Sem momentos adultos no banheiro com desconhecidas. — Girou
para Patrick, que riu sem nenhuma vergonha. — Sem namorar e ignorar o
restante dos convidados. — Dessa vez, a dica era para Lanna e o marido. —
E, por fim, seja gentil.
— Sou sempre gentil. — Daniel foi o único que rebateu secamente de
seu lugar.
— Mais do que acredita ser — Thomas adicionou e o filho ficou
quieto.
— Todas as roupas estão prontas? — Laurel conferiu, precisando ter
certeza de que tudo correria muito bem.
Concordei, sem muito a dizer. Ela nos dispensou e casal por casal foi
saindo. Patrick ficou, assim como o irmão, e eu esperei a fila quando ouvi
um suave "fique". Olhei sobre meus ombros para saber se era comigo e
percebi que sim.
— Desculpe?
— Você ouviu. — Daniel virou-se pela primeira vez e olhei em seus
olhos. Suprimi um suspiro. — Como será sua roupa esta noite?
Ele estava falando sério? Pela expressão, parecia que sim. Dei uma
olhada para Patrick que, divertido, comia azeitonas que deveriam ser
servidas em martínis.
— Um vestido. — Encolhi os ombros.
— Seja mais específica.
Seu tom me deu nos nervos. Patrick murmurou, pedindo para que ele
fosse com calma.
— É um vestido azul-escuro, não faço ideia o modelo, é bonito, de
uma marca cara e com joias perfeitas combinando — recitei, entediada.
— Algum decote ou lascado?
Eu não podia responder aquela pergunta. Experimentei milhares de
roupas antes de Aramita me ajudar com as malas e já não lembrava mais
dos detalhes.
— Irá descobrir mais tarde. — Abri um sorriso e girei nos meus
saltos, saindo rapidamente da sala. Ouvi o som do seu profundo
descontentamento e ignorei, me apressando até meu quarto. Tudo parecia
no lugar e eu fiquei aliviada por ter algumas horas sozinha, sem precisar
manter a máscara da garota perfeita.
Lavei meu cabelo, hidratei e usei uma máscara facial comendo
chocolate no centro da cama com a televisão ligada. Não estava entendendo
uma palavra e fiquei repetindo conforme a legenda. O filme era sobre uma
mulher que havia perdido o orgasmo e eu refleti sobre a sensação de que
nunca havia experimentado aquilo antes. Meu contato com o sexo
masculino teve uma pausa abrupta quando minha mãe ficou doente.
Eu não tinha tempo para nada além de estudar, trabalhar e passar as
noites no hospital ao lado dela. É difícil ter encontros quando você não
pode dar a atenção devida, precisando correr de um lado ao outro, sem
contar que os homens com quem me relacionei exigiam mais do que
estavam dispostos a dar. Sempre me senti vazia, incompleta, insatisfeita e
um tanto solitária. Mamãe me aconselhava que enquanto não me sentisse
segura, não deveria fazer sexo e eu a ouvi, porém, me arrependia
amargamente.
Deveria ter transado com todos os idiotas que passaram na minha
vida. Teria histórias para contar e não seria uma virgem reprimida no corpo
de uma mulher de vinte e três anos, que sabia como seduzir e ser uma
fantasia erótica na mente de muitos, mas não tinha uma mísera gota de
experiência real. Era uma fraude.
Horas mais tarde, passei o batom rosa escuro com tranquilidade e
coloquei as joias que Phillip me entregou alguns minutos antes. Eram de
Laurel, brincos perfeitos e um colar que brilhava como um ponto de luz
entre meus seios, unidos como duas almofadas no decote discreto. Nunca
me vi tão bonita.
Tirei uma foto contra o espelho, deixei o telefone no silencioso e junto
aos meus documentos e cartão de crédito, com muito mais limite do que
achava possível, guardei na pequena bolsa. Três minutos antes do horário
de estar no carro, ouvi uma firme batida na porta. Olhei antes de abrir e
suspirei. Ele iria me acompanhar mesmo? Bom, teria que me acostumar
com a presença dele, por mais assustador que fosse.
Abri a porta. Daniel estava impecável. Minha boca ficou seca e bebi a
visão de sua imagem na minha frente como um deus pronto para ser
adorado. Sua roupa era toda escura, os cabelos que antes tinham cachos
suaves, estavam cuidadosamente penteados para trás e a barba feita.
— Está pronta, imagino.
— A não ser que falte alguma coisa na sua opinião.
— Algo que cubra o colo dos seios. — Seu olhar caiu o suficiente e
logo voltou para o meu rosto.
— Não tem. Meu decote não é chamativo. — Olhei para os meus
peitos, ciente de que estava muito bom, não era como se eu tivesse uma
comissão de frente enorme. Eram singelos e redondos, apenas em um
tamanho normal.
— Vamos. Não quero chegar atrasado.
Lembrando ser um homem educado, ofereceu seu braço, então fechei
a porta e guardei o cartão chave na minha bolsa. O cheiro dele me atingiu e
eu quis enfiar meu nariz em seu pescoço, querendo tudo que estava
acumulado ali. Chamou o elevador com dois seguranças, entramos todos e
reparei nossa aparência no reflexo das portas douradas. Era um casal
chamativo o suficiente.
Na garagem, esperamos a verificação de segurança e meu salto
prendeu no vestido. Daniel abaixou, tirando o tecido com cuidado e ergueu
a mão para que eu pudesse subir no carro alto sem me atrapalhar toda.
Deslizei no banco de couro, reunindo as saias e ele entrou em seguida.
Phillip fechou a porta e entrou no banco da frente, dizendo ao motorista que
poderíamos seguir.
Ficamos todos em silêncio e percebi que aquela seria uma longa noite.
Capítulo Oito
Giselle
Fiquei impressionada com a beleza da embaixada. O carro circulou a
entrada principal antes de parar e o tapete azul-escuro da entrada estava
repleto de pessoas bonitas, bem arrumadas, olhando para as luzes dos
flashes com sorrisos deslumbrantes. Daniel desceu primeiro, com uma
expressão taciturna, olhando para todos como se fosse bom demais para
respirar o mesmo ar que aqueles reles mortais e com um único aceno,
Phillip se afastou, dando espaço para que ele segurasse minha mão e me
ajudasse a sair.
Minha saia caiu fluida, esticada em minhas costas e andamos
conforme a orientação de uma funcionária toda vestida de preto. Ela
apontou onde deveríamos parar. Eu me preparei para colocar a expressão de
mulher doce que muito ensaiei, mas a presença de Daniel me sufocava.
Fiquei tímida. Ele segurou minha cintura com possessividade, espalhando
os dedos até meu quadril e me puxou para perto.
Com a boca próxima ao meu ouvido, ele me mandou sorrir. Não foi
um pedido, nem mesmo uma sugestão. Foi uma ordem. E por algum motivo
misterioso, eu respirei fundo e sorri, olhando para as câmeras com mais
segurança. Ele deveria estar acostumado a ter todas as pessoas obedecendo-
o, porque parecia austero, potente, um homem completamente poderoso.
Entramos no grande salão e evitei abrir minha boca em choque. Era
lindo. Estava decorado de uma maneira impressionante, fantasiosa, parecia
um sonho. Segurando o braço dele, caminhamos pelas mesas e fui
apresentada a diversas pessoas apenas no caminho para o nosso lugar.
Fomos os últimos a chegar, foi proposital, para que simplesmente
aumentasse o burburinho da minha presença em Paris.
Daniel puxou a cadeira, eu me sentei e ele ficou em pé, falando com o
irmão e o cunhado.
— Você está incrível, Giselle. — Lanna abriu um sorriso do outro lado
da mesa.
— Muito obrigada. Você que está deslumbrante. — Eu devolvi.
Ela usava um vestido preto brilhante, simplesmente lindo. O cabelo
estava solto, fluido, com uma maquiagem suave e apenas um batom
vermelho como atração principal. Leah usava rosa escuro, parecia uma
musa de cinema, e estava distraída com a própria aparência no pequeno
espelho, retocando o gloss. Thomas e Laurel conversavam com um casal
que eu não conhecia nem mesmo da televisão, porém, assim como todos,
aparentavam ser ricos.
— Vacas se aproximando — Lanna cochichou com Leah. Elas ficaram
de pé. — Vem, Giselle — chamou e fui atrás, mesmo sem entender.
Cada uma cercou o namorado e marido. Parei próximo a Daniel, que
abriu espaço para que eu ficasse entre Patrick e ele.
— Está maravilhosa, cunhada.
Demorei a entender que ele estava falando comigo.
— Ah, sim. Obrigada! — Abri um sorriso gentil e ele devolveu uma
piscadinha galante. Minhas bochechas ficaram quentes, provavelmente,
coradas.
— Pare com isso — Daniel falou com ele de forma severa. Patrick
ignorou e deu uma olhada no meu decote, balançando as sobrancelhas.
Sem falar nada, Daniel me trocou de lado e pegou uma taça de
champanhe. Eu não bebia e fiquei sem graça de negar, o gosto não era o que
me atraía, mas dei um golinho bem simples para não fazer desfeita. Leah e
Lanna me puxaram para um assunto discreto, comentando sobre as roupas
das mulheres ao redor e as ditas vacas se aproximaram para falar com
Patrick, empolgadas.
— E agora, o circo vai começar — Leah murmurou com a taça na
boca.
— Merda. — Patrick bufou.
Daniel continuou olhando para a frente, imperturbável.
Um casal se aproximou de Thomas e Laurel, empolgados, eram
obviamente latinos. Atrás deles, com as mãos unidas na frente e usando um
perfeito vestido magenta, estava uma mulher mais jovem e muito bonita.
Seu cabelo estava cuidadosamente preso e o pescoço com um colar bonito.
Daniel mudou o peso do pé e foi a única reação dele à presença das novas
pessoas.
Não ouvi o começo da conversa, todos cumprimentaram a família e
Laurel me deu um olhar, que pareceu vulnerável, como o que
compartilhamos no chão frio do galpão. Eu me senti protetora, pronta para
reagir. Daniel manteve a mão na minha cintura e a apertou.
— Giselle, querida. Gostaria que conhecesse nossos amigos de longa
data, Sonia e Antonio Gutierrez.
Ele era um forte candidato do outro partido. O que aquilo significava?
Entre ele e o Vaughn, eu ainda comia cereal com leite pela manhã. Muita
inocência.
— E claro, a filha deles, Isabel.
— É um prazer conhecê-los. — Fui contida. A maneira como Daniel
me segurava me impedia de fazer qualquer coisa. Fiquei na dúvida se ele
não queria que me movesse ou se estava me usando como escudo pela
forma que Isabel o olhava como um cachorrinho que havia sido chutado de
uma mudança.
Ela tocou o colar e ele estremeceu, desviando o olhar e enterrando o
nariz nos meus cabelos, falando baixinho para irmos nos sentar. Seu tom,
mais uma vez, não foi um pedido.
— Lembra quando estivemos aqui antes do nosso noivado, Daniel?
Esse lugar é perfeito. — Isabel deu um passo à frente, fazendo a íntima. Eu
olhei para o rosto dela, reparando na maquiagem de alguém que sabia que
era bonita e não precisava de muito. Não dei a ela o prazer de me sentir
insegura. Era o que ela queria. Causar desconforto e atrito, porque não sabia
da realidade do nosso relacionamento.
Se fosse verdadeiro, seria o suficiente para causar uma briga.
Eu, pelo menos, era insegura o suficiente para cair na armadilha.
Daniel a ignorou e me levou para a mesa novamente. Por sorte,
parecia que era o momento do evento começar e aperitivos foram servidos.
Eu podia sentir minha nuca quente, discretamente movi minha taça e
reparei que Isabel me olhava fixamente. Bebi um pouco de água.
— Não quer mais champanhe? — Daniel quis saber.
— Eu não bebo muito — confessei e brinquei com o guardanapo de
linho no meu colo. — Mal consigo passar de uma taça.
— Tudo bem. — Ele deu um aceno e bebeu a segunda taça que havia
para mim. Continuei na água, depois, chamou um garçom e pediu suco
natural sem açúcar para que eu pudesse beber. Eu também não bebia suco,
quer dizer, bebia, mas com bastante açúcar. Meu paladar infantil era do tipo:
quanto mais doce, melhor.
Cruzei minhas pernas, ajeitando o vestido e ri das piadas que Calvin
contava com Zachary. Mordi o lábio, precisando me conter. Daniel
balançou a cabeça e o máximo que esboçou foi um pequeno sorriso, mas ele
parecia atento à outra mesa. Leah cochichou que um homem não parava de
me olhar e, discreta, tentei verificar, mas não o reconheci. Não era nenhum
cliente da boate, pelo menos, não fazia o estilo e também parecia robusto
demais para ser qualquer um que participou do sequestro.
Era só um velho tarado que não podia ver um conjunto de mulheres
bonitas. Lanna moveu-se desconfortável e nem mesmo a olhada de Zachary
o fez parar. Daniel colocou a mão na minha coxa, possessivo e dominante.
Eu olhei para seus dedos acumulando um pouco de tecido entre eles e
parecia que sua palma causava uma queimação na minha pele e ia se
alastrando até a planta dos meus pés.
— O leilão vai começar em breve — Laurel anunciou, empolgada, e
virou-se para o marido. — O que vai arrematar para mim?
— O que quer? — Thomas respondeu, pegando a mão dela e
entrelaçando os dedos. Eles pareciam apaixonados.
— Algo belo. — Laurel sorriu, encantadora.
— Você terá tudo que quiser. — Ele a beijou suavemente nos lábios.
Daniel recebeu o catálogo do que estava disponível no leilão e eu
olhei as peças por alto, chocada com o preço. Cheguei mais perto, para ter
certeza de que um vaso de cerâmica podia custar tanto. Será que era com
fios de ouro? Puta merda. Como rico continuava com dinheiro consumindo
tantas peças caras? Aquele mundo era realmente bizarro.
A família inteira marcou peças que gostariam de arrematar como
investimento. O jantar começou a ser servido e eu suspirei. Porra! Qual era
o tesão por coisas cruas? Minha versão de espaguete à carbonara era com
ovo mexido e bacon, misturado na massa, mas eles usavam gema crua!
Podia ser refinado e famoso, eu simplesmente não conseguia comer e, pior,
o prato seguinte estava demorando uma eternidade.
— Troque comigo — Leah sussurrou. — Eu não gosto de sopa.
— Se ela estiver cozida, eu não tenho problemas — cochichei de volta
e nós mudamos nossos pratos de lugar.
— Calvin, não pegue os pães com as mãos — Laurel ralhou baixinho.
— Eu não vou comer pão com garfo e faca — ele rebateu, também
inclinado para frente. — É uma sopa.
— Use a pinça — ela pediu e eu tentei pensar na logística de afundar
o pão na sopa e morder usando uma pinça como apoio. Iria me sujar. Optei
por não comer as torradas.
Daniel pegou uma torrada com a mão, afundou no molho e me
ofereceu uma mordida, basicamente deixando claro que eu deveria ficar à
vontade para fazer minha refeição da forma que quisesse. Aceitei, tímida e
limpei a boca em seguida, preocupada com a minha aparência.
— A sopa está do seu agrado?
— Está deliciosa — garanti e ele voltou a comer sua comida.
Lanna murmurou que preferia comer uma pizza. Eu não entendia nada
de cardápios como aqueles e tudo parecia bom, então, se eles diziam que a
comida não era espetacular, acreditava. Todos estavam acostumados a
frequentar os melhores lugares. Até mesmo a chef de casa era incrível.
O leilão foi divertido de acompanhar e quase uma análise pessoal de
como a sociedade rica vivia em um universo paralelo completamente
diferente do que fui criada. A banda começou a tocar e Laurel disse ser o
momento de socializar. Daniel limpou a boca do doce que comia e se
levantou, esticando a mão com uma ordem silenciosa de acompanhá-lo. Eu
obedeci sem pensar.
Era irritante e ao mesmo tempo, incrivelmente fácil seguir o ritmo
dele. Com sua liderança, fomos para a pista de dança. Vários casais estavam
ali, valsando e, finalmente, uma única coisa que eu tinha habilidade. Daniel
colocou ambas as mãos na minha cintura e eu apoiei as minhas em seus
ombros, olhando para seu rosto com calma e tranquilidade pela primeira
vez desde que nos conhecemos.
A construção óssea do rosto dele era perfeita. O tipo de homem que
muitos pagariam para um cirurgião plástico reproduzir. Queixo quadrado,
maçãs do rosto proeminentes, um olhar marcado com írises azuis brilhantes
que causavam um rebuliço no estômago. Era hipnotizante. Seus lábios
tinham o formato arredondado com um corte suave no meio que dava
vontade de mordiscar.
Desci meu olhar para o furinho no queixo, o pomo de Adão e a
gravata preta milimetricamente centralizada. Balançamos de um lado ao
outro e percebi que ele me analisava com a mesma atenção que eu lhe
dedicava. Sua mão direita me puxou mais para si e a esquerda, subiu pelas
minhas costas, trilhando um caminho pela parte nua, passando pelo fecho,
até pressionar minha nuca de uma forma que me fez exalar e liberar toda a
tensão dos meus ombros.
Ele não disse uma palavra. Seu olhar me consumia como lambidas de
fogo alto.
A música encerrou e nós fomos para o bar.
— Daniel Montgomery? — Um senhor robusto, careca e com os
óculos na ponta do nariz, se aproximou com uma tosse de quem fumava há
muitos anos.
— Olá, professor. — Daniel parecia feliz e ao mesmo tempo
impassível. Sua expressão era difícil de ler.
— Imaginei que fosse você. — Ele ajeitou os óculos. — Já faz muitos
anos e eu quero te parabenizar por esse trabalho incrível em Londres. Tive
acesso aos textos e estou fascinado com a riqueza da sua pesquisa.
Hum, interessante.
Ao contrário de todos os membros da família, Daniel não era um
empresário, embora ele tivesse diversas empresas em seu nome e uma
fortuna enorme separada da família. Há alguns anos, trabalhava como
professor de Literatura em Georgetown. Eu ouvi falar dele no campus sem
saber que era ele.
Carrasco, tenebroso, não aliviava nada e cobrava muito. Era isso que
diziam os alunos dele.
— Estou lisonjeado com sua leitura. É uma pena que temos o retorno
programado para os Estados Unidos amanhã, ou convidaria o senhor para
um café. — Daniel tocou a base da minha coluna. — Deixe-me apresentar
minha namorada, Giselle Madero.
Estiquei minha mão e ele a colocou entre as dele de um jeito
carinhoso que me fez sorrir. Oh, sim. Encantador.
— Ah, que beleza! Essa é infinitamente mais simpática do que a outra.
Eu dei uma olhada para Daniel com um arquear de sobrancelha e ele
apenas sinalizou para o garçom trazer uma bebida, se despedindo do
homem sem dar mais assunto e me levando para o outro lado. Hum…
Isabel era a ex. Restava descobrir por que o relacionamento chegou ao fim.
Não mudaria nada na minha vida, porém, as reações dele me deixavam
bastante curiosa.
Capítulo Nove
Daniel
Eventos de modo geral me deixavam cansado. Aqueles em que eu não
queria estar, mais ainda. No final do baile, acompanhado de minha futura
esposa por contrato, saí pelos fundos para evitar a imprensa aglomerada
querendo um vislumbre dos convidados bêbados e alterados. Abri a porta
para Giselle entrar, acenando para meu irmão que nos veríamos no hotel e
depois entrei, percebendo que Phillip estava tenso.
Soltei os botões do meu punho, afrouxando-os. Giselle inclinou-se,
mexendo no tornozelo, a sandália deixou uma marca bonita na pele e eu
imediatamente imaginei o quão belo seria retirar as amarras e beijá-la para
acalmar o orgasmo.
— Problemas no paraíso, Phil? — Voltei minha atenção para o
segurança.
— Apenas no ninho, senhor.
Ele não queria falar na frente dela. Giselle ficou olhando pela janela,
parecendo admirada e alheia a minha vontade de tocar suas pernas bonitas.
Por alguns segundos, me deixei fantasiar com suas panturrilhas malhadas
apoiadas em meus ombros ou quanto seria divertido descobrir toda a
elasticidade de bailarina, mantendo-a amarrada na minha cruz de Santo
André.
Ainda estava na dúvida se ela era uma mulher submissa, precisando
desesperadamente de um dominante para dar-lhe sentido na vida ou era
apenas tímida. Ela navegava entre as duas coisas, me deixando realmente
confuso e pensativo. Aceitar a porra do casamento era o maior chute nas
minhas bolas que eu mesmo dei ao prometer ao meu irmão que lhe daria
uma carreira política e também, cedendo aos pedidos da minha mãe.
O plano todo fazia sentido e eu não era o único fazendo sacrifícios
terríveis para a campanha e por essa razão, não me sentia no direito de
reclamar, embora, tivesse motivos. De volta ao hotel, vi minhas irmãs
saindo de seus carros com seus companheiros, esperando os protocolos de
segurança e quando chegou a nossa vez, Giselle soltou um bocejo.
— Sinto muito — pediu baixinho, desviando os olhos. Eu lhe daria
uma palmada bem firme na bunda por não ser capaz de sustentar meu
olhar.
Saí primeiro e fomos direto para o elevador.
— Por que tem gente no meu quarto? — Ela parou abruptamente
quando chegamos ao andar que estava toda a minha família.
— Parece que alguém tentou invadir o aposento ao ponto de danificar
o acesso com cartão. Temos um reconhecimento. É um famoso fotógrafo
francês, conhecido por entregar segredos das celebridades. — Papai se
adiantou e eu tirei meu terno, colocando-o nos ombros dela. — Já pedi um
novo quarto.
— Não há quartos disponíveis nesse andar e isso afetará toda a
logística de segurança. Giselle ficará comigo. — Meu tom não deixou
espaço para discussões. — Leah, ajude-a a recolher as coisas — pedi a
minha irmã, que pegou a mão de Giselle e foram para o quarto. Lanna
entregou o terno do marido e foi atrás. — Phillip? Quero ver as imagens.
— Alguma esperança de que possa reconhecê-lo, sogra? Talvez… —
Zachary sugeriu e minha mãe parecia cansada e abatida.
— Não. Ele não tem nada a ver com aqueles homens. Eram jovens e
fortes, cruéis. Eles riam — mamãe respondeu, olhando para o nada. —
Estou cansada.
— Vamos para o quarto, querida. — Papai passou o braço em seu
ombro e eles foram andando, sendo acompanhados pelo guarda-costas.
— Quero um plantão monitorando esse corredor e a cabeça do gerente
por permitir essa falha — falei a Phillip. Ele deu um aceno e foi falar com a
equipe.
Meus cunhados e Patrick me seguiram para o quarto. Zachary foi
direto para o bar, servindo uísque e quis um copo, tirando minha gravata.
Patrick ligou a televisão, colocando em um noticiário local que falava sobre
o baile e fazia sentido a invasão no momento em que estávamos fora. Todo
o lado externo da embaixada estava sendo filmado em tempo real e eu não
tinha certeza se quem articulou o sequestro estava com um alcance
internacional.
Calvin tinha um contato mais íntimo com a imprensa e pediu para seus
conhecidos fazerem uma verificação sobre o tal fotógrafo. Invadir um
quarto para uma exclusiva não era completamente um absurdo, por
dinheiro, o ser humano era capaz de fazer qualquer coisa, mas era uma
atitude extrema e preocupante sobre como a mídia se tornaria agressiva
quando a campanha começasse de verdade.
Leah e Lanna entraram com as coisas de Giselle e ela veio mais atrás,
com uma pequena mala, parecendo deslocada.
— Nos encontramos amanhã. — Eu os dispensei.
Patrick terminou de beber e foi para o quarto dele. Era melhor que ele
não abrisse aquela porta.
— Você pode usar o banheiro primeiro — ela murmurou, mordendo o
lábio. — Ainda vou organizar minhas coisas para podermos sair amanhã
cedo.
— Tudo bem, eu posso esperar. O hotel trará roupa de cama extra para
o sofá.
— Obrigada. — Ela foi em direção à sala.
— Não. Eu vou dormir no sofá e você no quarto — expliquei e seu
olhar para a cama foi conflituoso. Não iria deitar no mesmo espaço que ela
quando mal conseguia abrir a boca na minha frente, seu jeito tímido só
aumentava minha vontade de tê-la amarrada submissa a mim.
— Agradeço a sua gentileza, mas eu prefiro o sofá. — Seguiu o
caminho e fui atrás.
— Não é uma opção, Giselle. Você vai dormir na cama. — Apontei
para o quarto. — Pode se arrumar lá. Agora.
Com as bochechas vermelhas, passou por mim segurando a pequena
mala e bateu a porta. Estremeci, fechando os olhos e meu irmão enfiou a
cabeça através da porta que ligava nossos quartos. Arremessei uma
almofada, ele fechou e fui até a fechadura, trancando. O idiota não me
deixaria em paz. Servi uma bebida, sentei-me no sofá, no escuro, apenas
ouvindo os barulhos dela no quarto por um tempo antes de tudo ficar em
silêncio. Passei a madrugada ali, sem dormir muito, e quando o dia
amanheceu, abri a porta e a vi dormir embolada em uma poltrona, toda
torta.
A cama estava perfeita.
Filha da puta.
Respirei fundo para não explodir e peguei minhas coisas que estavam
ordenadamente arrumadas. Ela não acordou enquanto organizava minha
mala e apenas quando saí do banheiro, vestido e pronto para sair, foi que
seus olhos abriram. Assustada, quase caiu, secou o rosto e me deu um olhar
envergonhado antes de pegar o telefone para conferir a hora. Sua roupa
estava dobrada em uma cadeira e, passando por mim sem falar nada, foi se
vestir.
Giselle demorou quase quarenta minutos para ficar pronta. Naquele
tempo, era possível fazer um pequeno tour no centro de Paris.
— Phillip está aqui para levar as malas — avisei e ela guardou o
batom rapidamente, conferindo se não estava esquecendo nada. — Eu não
quero me atrasar.
— Você pode ir. Sei me virar sozinha.
— Nós iremos juntos no mesmo carro, portanto, eu não quero me
atrasar.
Bufando, uma atitude adolescente que me irritava profundamente,
ficou pronta. Abaixou-se para pegar suas coisas e eu a impedi, carregando o
peso e levando até o carrinho do lado de fora. Para controle, Phillip
etiquetou tudo, pedindo que um funcionário levasse para a van que
despacharia todas as bagagens no avião particular que meu pai alugou para
a viagem. Meu tempo na Inglaterra estava quase no fim e eu precisava
arrumar minha casa e escritório para retornar a Georgetown, assumindo
minhas turmas regulares.
Minha família estava reunida em uma sala privada para o café da
manhã. Giselle entrou na frente, deixando sua bolsa na cadeira e parou o
movimento, o que me atraiu a olhar na mesma direção. Foda-se.
— Bom dia, queridos. Dormiram bem? — Mamãe nos recebeu com
alegria.
— Muito bem — Giselle respondeu com um sorriso.
— Isabel precisa de uma carona para casa — mamãe explicou. Meu
pai não desviava os olhos do café, Lanna parecia sem graça e Leah tentava
não rir.
— Meus pais decidiram esticar a viagem como uma lua de mel e eu
não consegui passagens a tempo para meu primeiro compromisso — Isabel
explicou com um sorriso doce, brincando com o pingente de seu colar. —
Espero que não seja um problema para você, Daniel.
Eu não me dei ao trabalho de responder. Peguei o prato de Giselle,
indo até o buffet e perguntei o que queria. Precisava de uma ocupação e me
preocupar com que ela iria comer parecia uma boa maneira de me distrair
da presença irritante da minha ex-namorada e submissa. Não ter controle
daquela situação me deixou profundamente irritado. Isabel sabia que eu não
podia fazer nada, pegar uma carona ainda não classificava perseguição para
ser excluída da comunidade, mas eu estava furioso.
Giselle parecia perdida. Ela sentou-se ao meu lado, aceitando tudo que
lhe ofereci sem questionar e comeu, conversando com Lanna, que sempre
era simpática e adorável com todas as pessoas ao redor. Leah, por outro
lado, decidiu que poderia fazer uma entrevista sobre os motivos urgentes
que Isabel precisaria estar nos Estados Unidos.
Patrick entrou na sala, assobiando, e pegou café.
— Bom dia, família! — Ele se sentou e esticou as pernas, dando um
olhar azedo para Isabel. — Bom dia, monstro.
— Comporte-se, Patrick — mamãe ralhou. — Peço desculpas. — Ela
falou com Isabel.
— Está tudo bem. Sei que Patrick tem ressentimentos sobre o término
do noivado.
Merda. Giselle ergueu o olhar do prato e se moveu desconfortável.
— Seu pescoço está doendo? — questionei ao perceber que tentava
massagear discretamente.
— Dormi em uma péssima posição. — Ela pegou a xícara com
delicadeza.
— É o castigo por ser teimosa.
— Eu avisei que não dormiria na cama — Giselle murmurou com um
sorrisinho desafiador. Peguei seu prato. — Espere? O que está fazendo?
— É o castigo por ser respondona. — Terminei de comer sua comida,
imperturbável.
Com um beicinho, pegou seu telefone celular e ficou brincando em
um joguinho de cartas até dar a hora de sairmos. Lanna ofereceu para que
Isabel fosse no mesmo carro que ela, me livrando de aguentar sua presença,
não que Patrick fosse preferível, já que ele foi falando sem parar e sendo
terrivelmente irritante, fazendo perguntas indiscretas a Giselle e tentando
deixá-la sem graça.
— Você é sempre inconveniente assim ou é apenas sua tentativa de me
deixar sem jeito? — Ela cruzou os braços e sorri, sem desviar os olhos do
computador.
— Estou tentando te irritar. — Patrick inclinou-se para a frente. —
Preciso conhecer bem a minha nova cunhada. Até que ponto pode aguentar
uma provocação sem reagir? — Ele arqueou a sobrancelha.
— Não há ninguém nesse carro que não saiba a verdadeira natureza
desse relacionamento. — Giselle continuou, desafiante.
— Seu pescoço amanheceu dolorido?
— Comporte-se, Patrick. — Entrei no assunto. Ele riu e voltou para o
seu lugar.
— Só para deixar bem claro, nós não dormimos juntos, de nenhuma
maneira — ela enfatizou, fazendo com que meu irmão risse e sem saber,
dando muito combustível a ele para encher o saco.
Não demoramos a embarcar, muito menos a decolagem. Com uma
família grande, conseguir organizar todo mundo em seus lugares com
rapidez era artigo de luxo. Entreguei a Giselle fones de ouvido, ela os pegou
com um sorriso e se cobriu, segurando um livro surrado. Era uma versão de
Emma, de Jane Austen, e estava cheio de anotações. Eu odiava que
escrevessem em meus livros e ficava louco quando meus alunos faziam o
mesmo.
Giselle não só grifava, como marcava com post-it cheio de notas,
como se cada parágrafo precisasse da opinião dela. Sua formação
acadêmica era mais impressionante do que imaginei. Ela estava inscrita
para a pós-graduação e ainda não sabia a grade, nem como a universidade
reagiria, porque era proibido um professor se relacionar oficialmente com
uma aluna, mesmo que nós nunca tenhamos nos encontrado antes. No
entanto, as pessoas não sabiam disso e fazia parte da nossa história dizer
que nos apaixonamos nos corredores.
Isabel tentou me atrair para uma conversa mais de uma vez e eu não
dispensei o uso dos meus fones, colocando diversos tipos de ritmos para me
distrair, corrigindo trabalhos, anotando minha tese e dormindo no tempo
que sobrou. Acordei sentindo um pouco de calor e percebi que Giselle
dormia com a cabeça encostada no meu braço e a colcha em cima de mim.
— Desculpe. Peguei no sono. — Ela cobriu a boca e bocejou.
— Já iremos pousar novamente e dessa vez, em definitivo.
Ela voltou a fechar os olhos, parecendo um anjo perfeito, com uma
feição adorável e lábios convidativos que me atiçavam de uma maneira que
merecia ser punida. Eu me perguntei como lidaríamos com a dinâmica de
sermos completamente desconhecidos dividindo o mesmo teto.
Capítulo Dez
Giselle
Acordei assustada e me sentei na cama, olhando ao redor. Saí do chão,
jogando as cobertas no colchão no alto. O espelho de corpo inteiro mostrou
o quanto estava descabelada, babada e com o rosto inchado. Fui até o
banheiro, tomei banho para tirar o cheiro de cama e domar meu cabelo que,
depois da viagem, ainda estava duro com o fixador do baile. Exausta, soltei
diversos bocejos, escovei os dentes e enrolada na toalha, fui até o closet
para escolher uma roupa.
Ouvi uma batida na porta e desviei o caminho, abrindo. Ao invés de
ser Aramita, era Daniel.
— Você sempre abre a porta enrolada na toalha?
— Ninguém além de Aramita costuma vir até meu quarto a essa hora.
Ele arqueou a sobrancelha.
— E em outros momentos, recebe visitas?
Inclinei minha cabeça para o lado. Estava muito cedo para aguentar
aquela babaquice sem motivos. Ignorei o arquear de sua sobrancelha e
simplesmente fechei a porta, mas ele impediu com o pé. Suspirando, deixei-
o para trás e fui para a minha missão anterior. Olhei no telefone se havia
algum compromisso que deveria atender e vi que Laurel havia colocado
“um café da manhã na rua com Daniel para fotografias públicas”.
Era por isso que o idiota estava ali. Senti vontade de demorar, mas eu
não estava sendo paga para ser petulante. Escolhi um romântico vestido
branco com flores vermelhas, marcado na cintura e com uma saia rodada,
sandálias plataformas e meu cabelo meio preso com adoráveis presilhas
brilhantes. Gostei do resultado no espelho. Coloquei as joias delicadas, fiz
uma rápida maquiagem e meu estômago roncou.
Arrumei minha bolsa e me surpreendi ao constatar que ele ainda
estava no quarto me esperando.
— Aramita virá arrumar suas coisas enquanto estivermos fora. Sua
mudança para minha casa acontecerá enquanto eu estiver aqui e quando
retornar a Inglaterra, irá comigo. Ficarei duas semanas e será estranho que
fique aqui, considerando que ainda não começou a pós-graduação e ainda
não tem um emprego — Daniel informou, colocando seu telefone no bolso
e só dei um aceno, quase explodindo por dentro.
Eu que não iria reclamar de passar um tempo podendo conhecer
Londres.
Sentei-me no banquinho, peguei o frasco do creme hidratante e o
reforcei nas pernas, percebendo que ele não desviou o olhar. Passei perfume
e anunciei que estava pronta. Sem falar nada, Daniel foi na frente. Não
encontrei nenhum funcionário ou membro da família a caminho da
garagem, onde imaginei que Phillip estaria nos aguardando, mas ele abriu a
porta de um dos luxuosos carros.
— A segurança irá nos acompanhar de longe — Explicou e entrei.
Daniel inclinou-se e prendeu o cinto como se eu fosse uma criança pequena
incapaz de fazer o mesmo e senti seu perfume intenso, eu tinha que admitir,
ele poderia até ser mandão, mas também era muito sexy e atraente. Nosso
relacionamento era de mentira, mas será difícil ficar imune ao charme e ao
jeito autoritário dele. Ele olhou em meus olhos antes de se afastar, fechar a
porta e dar a volta.
— Por que temos que sair novamente?
— Deverá se acostumar com a minha presença. Ainda temos muito o
que provar como casal para o público, a história está sendo comprada, mas
precisa ter solidez. — Ele saiu da garagem e acelerou pela rua sem
necessidade, mas a velocidade foi gostosa. Relaxei no banco, apreciando o
ronco do motor, brincando com alguns fios do meu cabelo.
Daniel escolheu uma sofisticada confeitaria no centro, point favorito
de vários professores universitários e políticos. Ficava no coração da
cidade, perto o suficiente do capitólio e de alguns escritórios de editoras.
Ele parou o carro em um estacionamento comum, sem medo de ser
assaltado, afinal, além da segurança, ali não era um bairro perigoso.
Ele saiu primeiro, pedindo que o esperasse para abrir a porta e não
discuti. Soltei o cinto e peguei minha bolsa, segurando sua mão. Daniel
entrelaçou nossos dedos, senti na hora um choque, não sabia o que estava
acontecendo, mas de alguma forma ele estava me afetando. Fazendo um
sinal para o carro que avançava devagar para parar e atravessamos. Ele era
o típico homem que eu não precisava mover uma palha para nada, abriu a
porta, puxou a cadeira, deu a volta e ainda se certificou de que o sol não
ficasse batendo no meu rosto, ajustando o guarda-sol. Sua maneira protetora
estava ganhando a minha atenção..
Não conhecia o cardápio, só havia passado na frente diversas vezes.
— O croissant e a torta de morango com chocolate branco são um dos
meus pratos favoritos.
Fiquei surpresa ao perceber que era um dos itens mais simples do
cardápio. Ele não comia pelo preço e sim, pelo paladar. Curiosa, pedi as
duas coisas, com café preto e suco de laranja. Ele escolheu uma omelete
que parecia deliciosa somente pela foto e fiz um beicinho pensativo,
questionando internamente se deveria trocar meu prato.
Apesar de cheio, a cozinha tinha um layout aberto e os pratos saíam
rapidamente. Eles forneciam várias revistas de palavras-cruzadas. Peguei
um lápis, marcando metal nobre com quatro palavras: GOLD. Fixado com
cinco letras… hum.
— Glued. — Daniel leu por cima. — E aqui é reserved.
Era o nível avançado. Peguei outra revista, em espanhol, ele riu e deu
uma olhada nas palavras, me ajudando a preenchê-las. Trocando de lugar,
ficou ao meu lado e sua voz grossa me deixava arrepiada. Era o tipo de
timbre que dava vontade de fechar os olhos e apreciar a sensação intensa
que se alastrava pela minha pele. Virei meu rosto quando preenchemos
tudo, olhei para sua boca e desviei quando senti o inesperado desejo de
sentir o sabor dos lábios dele.
Daniel tirou o cabelo do meu ombro, jogando-o para o outro lado e
aproximou o nariz da minha pele, arrastando suavemente com os nós dos
dedos descendo pelas minhas costas, até abrir a palma e segurar minha
cintura, puxando-me mais para o lado na cadeira. Eu me virei, surpresa, e
apoiei minha mão em sua coxa, olhando em seus olhos. A tensão apertava
meu estômago.
Meus mamilos doíam, roçando contra o vestido e era só a porra de um
toque simples. Inebriada pelo perfume dele, fechei meus dedos em sua
calça, ele agarrou meu pulso e ergueu, beijando acima da minha pulsação
acelerada. Meu coração estava além da palpitação. Pressionei minhas coxas,
sentindo outra parte do meu corpo, uma adormecida e intocada, que estava
ardendo por um alguém que eu não conhecia direito.
O garçom trouxe a nossa comida, quebrando o momento, e virei-me
para o meu prato. Daniel organizou tudo cuidadosamente à nossa frente,
dividi meu croissant no meio e ofereci a ele, ganhando uma garfada do
omelete, que estava uma delícia. Cruzei minhas pernas, com meu pé
tocando sua panturrilha e ao me afastar, ele a puxou de volta, mantendo a
mão em mim e comendo com a outra.
Seu polegar arrastando de um lado ao outro me causava um rebuliço,
que mal me deixava comer. Minha mente ficou dispersa. Eu olhei para seu
braço, pensando nos significados das tatuagens que não reparei das outras
vezes em que o vi, por estar com os braços cobertos. Ele tinha alguns
desenhos que não pareciam muito compreensíveis aos meus olhos, uma
serpente, duas caveiras e uma corrente entrelaçada em ambos os punhos.
Entretida com as cores, toquei sua pele, que arrepiou. Daniel estava
olhando para meu rosto, trilhei uma veia saliente e os pelos loiros. Espalmei
as costas de sua mão, entrelaçando nossos dedos e ele nos levou para minha
coxa, subindo o tecido e o tapa estalado na minha pele me fez saltar e soltar
um arquejo. Minha reação foi uma completa surpresa.
O que eu estava fazendo?
Senti meu rosto aquecer e desviei o olhar, dando um bom gole do meu
suco de laranja. Daniel e eu terminamos de comer, ele pagou a conta e sem
me soltar, levou-nos para o carro. Ele ainda não havia falado nada, não era
necessário, meu peito parecia esmagado com tudo que estava sentindo e
mal prestei atenção no caminho, percebendo tardiamente que não
estávamos indo para a mansão dos pais dele.
Olhei para o bairro arborizado, que ficava próximo ao lado mais
animado e cultural da cidade. Daniel parou em frente a uma belíssima
mansão, saindo e abriu minha porta. Olhei para a casa à minha frente com
curiosidade e o segui, subindo os degraus da frente. Ele abriu a porta e
entendi, apenas pelo quadro na entrada, que era a casa dele. Só um homem
que entendia de literatura teria uma arte que se referia ao inferno de Dante
ali.
A entrada tinha uma mesa redonda com uma escultura de ferro com
duas mãos presas por uma corrente e um cestinho para chaves com
controles de alarme. Para a esquerda, a escada que levava ao segundo andar
e uma porta dupla fechada. Ele a abriu e espiei, muitos livros, uma mesa e
dois computadores.
— Ainda estou decorando, preciso de um sofá confortável e uma nova
cadeira. Costumo usar a poltrona da sala — ele explicou atrás de mim e dei
um aceno, encantada com a quantidade de livros.
— É adorável.
Tocando a base das minhas costas, conduziu-me para a sala de visitas,
que tinha uma decoração sofisticada em tons claros. Descemos alguns
degraus e ele mostrou a sala de televisão, mais escura, com sofás de couro,
aparadores e um banheiro. Passando por um corredor, havia sala de jantar,
que abria portas para o quintal com gramado e uma piscina. A cozinha era o
sonho de qualquer um. O tipo de coisa que só apreciávamos depois que
crescíamos.
— Aqui fica o porão e ainda não tem nada do seu interesse lá. — Ele
me empurrou adiante. A casa tinha três andares, o segundo, quatro quartos,
apenas dois mobiliados. O principal e o de hóspedes. A escada para o sótão
era mais estreita, o espaço amplo, com uma mesa de sinuca, um bar, alguns
sofás e poltronas, decorado como um lugar para festas mais íntimas com
amigos.
— Esse será seu quarto.
— É maravilhoso, obrigada. Mas como faremos quando recebermos
visitas?
— Eu nunca recebo visitas. Meus amigos, quando vêm aqui, não
entram no meu quarto e não ficam para dormir. Moram perto e sabem que
irei chutá-los para um táxi se passarem dos limites com a bebida —
explicou e dei uma olhada no banheiro, o closet era espaçoso e a cama
parecia incrível, porém, tinha um espacinho no chão bom o suficiente para
forrar no carpete. — Poderá decorar do jeito que quiser.
Daniel levou-me para o seu quarto e reparei em duas argolas presas à
parede, próximas a cabeceira, além de um suporte nas pernas da cama, que
pareciam fixá-la no chão. Não sabia o que era, achei curioso e um tanto
peculiar. Apesar de ser um pouco maior, o modelo do banheiro e do closet
eram parecidos. As janelas grandes davam para a rua e tinha uma árvore
bonita, que deveria ser uma visão espetacular na primavera.
— Aramita trará suas coisas, assim como vai arrumar suas malas para
Londres conforme o cronograma que eu lhe passei — Daniel falou atrás de
mim e o encarei pelo reflexo. — Enquanto eu estiver trabalhando, espero
que aproveite o tempo livre e conheça a cidade. Não há impedimentos,
contanto que mantenha contato e sempre me diga onde estiver.
— Você é um homem controlador ou está apenas preocupado que eu
cometa algum deslize? — Arqueei a sobrancelha, encarando-o. — Sei o
meu papel e o que devo fazer. Nós seremos um casal apaixonado para o
público, se depender de mim.
— Não é com a sua capacidade de interpretar uma boa namorada que
estou preocupado. — Ele deu uns passos à frente e senti sua presença forte
nas minhas costas. Mordi o lábio, respirando fundo. — E sim, sou
controlador. Se está comigo, eu quero saber como está, onde e o que fará.
Cada passo que der é muito importante para mim.
— E se eu não quiser te dar satisfações? — Toquei o pingente do meu
colar.
Daniel segurou minha cintura e inclinou o rosto, cheirando meu
pescoço e roçando a boca no meu ouvido, me deixando maluca. Fechei
meus olhos com um gemido escapando dos meus lábios e minhas pernas
deram o sinal de que falhariam, para que eu pudesse me jogar em seus
braços e ter toda a definição do corpo dele junto ao meu. Toquei sua mão,
ele estendeu os dedos até meu pulso e com um movimento rápido, me
virou, pressionando-me contra o vidro gelado da janela.
Com ambas as mãos dele nas laterais da minha cabeça, ergui meu
olhar e admirei seu rosto determinado. Algo conflituoso travava uma
batalha em seus olhos, e sorri ao perceber que, de certo modo, eu também
provocava intensas reações nele. Foi uma boa massagem para o meu ego.
No entanto, o controle dele era admirável de um lado e completamente
irritante do outro.
Capítulo Onze
Giselle
Londres nos recebeu com muita chuva. Com minha bolsa no ombro,
calça de moletom e camiseta, fiquei parada próximo ao carro, enquanto o
senhor milimetricamente organizado estava colocando as malas com
precisão, sem querer minha ajuda. Minha cabeça estava explodindo e não
tinha nenhum remédio para tomar. Assim que terminou, Daniel passou a
mão pelo cabelo, tirando as gotas de água e abriu a porta. Soltei um risinho
pelo nariz, encantada pela mão contrária.
Escorreguei no banco para lhe dar espaço e o motorista logo nos levou
para o trânsito, que estava um pouco complicado devido ao mau tempo.
Peguei meu telefone e havia mensagens de Laurel, querendo saber se
estávamos bem; respondi que tirando a dor de cabeça, ainda estávamos a
caminho da casa e ela enviou um áudio sobre uma reunião com Adam e os
policiais que estavam investigando o sequestro, além do caso ter passado
para o FBI, que no começo só estava acompanhando.
Eu me perguntei como ficariam os planos da campanha com agentes
federais na nossa cola, duvidando de cada momento de pesadelo que
vivemos. Digitei as mensagens, tomando cuidado com as palavras, sem
demonstrar frieza e muito menos preocupação demais. Pessoalmente
poderíamos falar mais abertamente. Esfreguei minha nuca, um pouco
enjoada e senti a mão dele na minha perna.
— Está tudo bem? — Daniel parou de ler em seu iPad. O olhar dele era
tão profundo que minha mente não considerava lhe entregar nada além da
verdade.
— Sinto dor de cabeça e um pouco de cansaço da viagem — confessei
e ele deu um aceno, olhando ao redor e inclinou-se no banco para falar com
o motorista. — O que foi?
— Encoste na próxima esquina e me aguarde — comandou e o homem
assentiu, movendo o carro para o canto da rua e parando. — Fique aqui.
Daniel saiu sem mais explicações e entrou em uma loja logo à frente,
que não conseguia entender ao certo o que era. Bocejei e meus olhos
lacrimejaram, cansada de todas as atividades pré-viagem. Tive que ir ao
médico, fazer uma revisão pós-internação e ainda me ofereci para ajudar
Lanna a arrumar a mudança para sua casa nova. Quando voltasse aos
Estados Unidos, me comprometi a organizar seus armários como fiz na casa
de Daniel e ela havia adorado.
Voltei a olhar para a calçada e Daniel saiu correndo com um saco de
papel e uma garrafa de água. Entrou no carro com o casaco molhado e tirou
o remédio para dor de cabeça, o comprimido, arrancando o lacre e me
entregando. Seu cuidado me deixou emocionada e eu me senti idiota por
isso, estava acostumada a cuidar de todas as pessoas ao meu redor, servir e
o ato dele parar tudo por minha causa trouxe calor ao meu peito.
— Obrigada.
Ele sorriu um pouco e voltou a ler. Recostei-me no banco, olhando o
que podia através da chuva pesada e chegamos à casa, que, na verdade, era
um palacete lindo. Não pude ver muito do lado de fora, Daniel foi na frente
para abrir a porta e um funcionário saiu com um guarda-chuva. Ele pediu
que entrasse primeiro, tirei o casaco molhado, o mordomo pegou e ofereceu
chá.
— Eu aceito, estou com frio.
— Acenderei a lareira enquanto a temperatura da casa se ajusta. A
propósito, sou Jeffrey e estarei ao seu dispor nos próximos dias.
— Muito obrigada. — Sentei-me na cadeira acolchoada e chique,
tomando o chá delicioso. Daniel entrou em seguida. — Não sabia que tinha
um mordomo.
— Costumo dispensá-lo quando estou sozinho, porém, com minhas
horas de trabalho não poderei estar por perto para fornecer qualquer ajuda
que precisar — explicou e abriu o pote com biscoitos. — Prove. São de
manteiga.
— Devem ser uma bomba calórica. — Peguei um e provei.
— Você não precisa se preocupar com isso. — Ele me deu outro e
como nas outras vezes, me alimentou. — Assim que comer, descanse.
Nosso quarto fica na primeira porta à esquerda, é o principal.
— Nosso quarto?
— Jeffrey é um homem comum como qualquer outra pessoa, que não
precisa saber dos detalhes do nosso acordo. — Ele deu um gole do chá. —
Não se preocupe. A cama é grande.
Aquela não era a minha preocupação. Perguntei-me se Jeffrey passaria
a noite e provavelmente, sim, arrumando os quartos com outros
funcionários ele saberia.
Os patrões não fazem ideia do quanto os empregados ouvem
absolutamente tudo que é dito dentro de uma casa.
— Posso fazer uma cama no chão e levantar antes que ele entre para
organizar suas roupas de trabalho.
Daniel limpou a boca com um suspiro exasperado e se levantou.
— Não comece o dia me irritando. Vá descansar, tenho que ligar para a
universidade. — Saiu da sala e eu relaxei na cadeira, me sentindo esgotada
com um embate simples e inesperadamente culpada porque ele parou no
meio de um trânsito caótico para comprar um remédio para mim.
Ficava envergonhada por não conseguir dormir na cama. Não tinha
uma noite de sono boa e sempre acordava dolorida, talvez fosse como
Aramita disse, eu ainda tinha medo de acreditar que minha vida havia
mudado e minha conta bancária estava cheia o suficiente para comprar uma
loja de colchões.
Não fui atrás dele. Uma funcionária desfazia minha mala e perguntou
se eu gostaria que preparasse um banho, aceitei, porque ela precisava fazer
aquilo ou seria chamada a atenção pelo chefe. Nem sempre uma governanta
entendia que os patrões pediam privacidade. Fui repreendida por Aramita
mais de uma vez quando Leah decidia arrumar a própria cama e dispensava
meus serviços.
Na banheira quentinha, cheia de espumas, foi quando percebi que
minha cabeça já não doía tanto e até poderia descansar lendo um livro.
Escolhi outro conjunto de camiseta e calça confortáveis, ficando enrolada
em um casaco e peguei um livro. Encontrei uma sala bonita, silenciosa e
abri a página onde estava. Era um romance da lista do New York Times de
best-sellers e a autora era independente. As cenas eram picantes o suficiente
para me deixar empolgada.
Depois de ler uns quatro longos capítulos, peguei no sono no sofá,
confortável o suficiente porque ele não era mole como um colchão. Acordei
assustada com um galho batendo na janela e um trovão, a chuva ainda caía
torrencialmente, estava escuro e a sala um pouco fria. Faminta, fui até o
quarto, me surpreendendo ao encontrar Daniel na cama, lendo.
— Pensei que fosse passar a noite no sofá.
Ele tinha uma visão de que eu era teimosa e implicante.
— Estava lendo e dormi.
Daniel analisou minha expressão para saber se estava mentindo.
— Vou pedir que subam com o seu jantar.
Dei um aceno, confusa com a mudança repentina de humor e fui ao
banheiro. Jeffrey serviu a sopa de entrada e o delicioso filé com legumes
assados na mesinha do canto, comi tudo e, satisfeita, escovei os dentes antes
de enfrentar o espaço vazio ao lado dele. Eu não dormiria muito, mas deixei
a luz do abajur apagada e me deitei de costas, para não pensar que tinha que
preencher o silêncio com alguma conversa obrigatória.
A cama realmente tinha espaço e não foi a maciez que me deixou
atenta e sim, a presença dele, que mesmo sem fazer nada, era difícil de
ignorar. Quando o quarto ficou todo escuro, tentei dormir, fechei meus
olhos e invoquei o sono de diversas maneiras, mas ele não apareceu. De
fininho, saí da cama, mas ele se moveu.
— Vai dormir na poltrona?
— Posso ir ao banheiro? — Meu tom saiu ríspido.
— Depende. Vai dormir na banheira?
Virei, tentando enxergá-lo no escuro.
— Por que se importa onde irei dormir?
— Eu já te disse que tudo que envolve você, agora me interessa.
— Faz muitos anos que eu não durmo em uma cama, também nunca
tive acesso a algo confortável, dormia no chão, por isso, não encontro uma
posição boa para dormir — confessei, cansada que ele pensasse ser apenas
birra. Não estava interessada em gastar minha energia contrariando-o.
Daniel não falou nada por um tempo, até pensei que tinha desistido da
conversa e voltado a dormir.
— Ainda quer ir ao banheiro ou era apenas inquietação?
— Inquietação.
Ele moveu a colcha e bateu no espaço vazio bem ao meio.
— Vem aqui. Eu vou te ajudar a dormir.
Um pouco relutante, fui. Eu confiava nele, talvez por não ter motivos
para desconfiar e meus sentidos sempre pareciam descansar em sua
presença. Daniel colocou minhas pernas entre as dele e nos cobriu. Aquela
posição foi o mais íntimo que cheguei de um homem e eu sequer havia o
beijado, chegar àquela conclusão me deixou confusa, mas seu toque não era
sexual como das outras vezes. Como ele tinha um controle sobre isso
também me causava um misto de sentimentos difícil de compreender.
Seguindo sua liderança, ele falou baixinho no meu ouvido, pedindo
que fechasse os olhos e relaxasse. A maneira como o corpo dele moldava ao
meu, o calor, a firmeza de seus músculos e o som da respiração misturando-
se com o da chuva foi me relaxando ao ponto de que não conseguia manter
meus olhos abertos. O sono chegou de maneira suave e encantadora. Eu
adormeci com a paz e tranquilidade que perdi quando minha mãe morreu.
Não me senti sozinha ou perdida.
Acordei ouvindo passarinhos cantando na janela e sorri antes de abrir
os olhos. Ouvi uma risada suave e percebi que ainda estava grudada em
Daniel como se a minha vida dependesse daquilo. Ergui meu olhar e sua
expressão divertida me saudou como um bom dia. Dei-lhe um sorriso um
pouco maior e cobri a boca para bocejar. O relógio despertou na cabeceira e
eu tinha que levantar para me preparar. Iria acompanhá-lo em um evento na
universidade, um dos muitos de conclusão do projeto de literatura que ele
foi um dos coordenadores.
A imprensa estaria presente e eu tinha que desempenhar meu papel
perfeito. Sem querer sair do casulo gostoso, porém, sendo responsável,
comecei o preparo de me tornar uma perfeita dama da alta sociedade
usando um vestido de , um casaco um pouco mais escuro, o cabelo
escovado com cachos nas pontas e joias delicadas para colaborar com a
imagem de boa moça, encantadora e feminina.
Segundo Sienna, meus olhos puxados davam muita sensualidade à
minha aparência, porque eu parecia um felino prestes a atacar. Não me via
daquela maneira, mas segui as ordens. Daniel estava no corredor, falando
francês e eu julguei mal minha capacidade de compreender a língua quando
estivemos em Paris, o que aprendi na faculdade não se comparava à
velocidade que uma pessoa fluente era capaz de falar e eu tentava entender,
porém, me perdia no meio do caminho.
Espanhol era muito mais fácil, fluido e confortável para mim.
— Pode fechar o botão do meu vestido atrás? — pedi a ele, parando na
porta. — A manga é justa e limita esse movimento.
— Vire-se — ordenou e, sem pensar, girei e depois soltei um som de
puro descontentamento com seu tom. — Ouça o seu corpo e não a sua
mente — falou antes de fechar e eu o encarei pelo espelho. — Você está
linda.
— Obrigada.
O rubor das minhas bochechas o fez sorrir novamente e para um
homem que vivia muito sério o tempo todo, as covinhas que surgiam e as
pequenas rugas ao redor dos olhos eram bastante fofas. Eu peguei minha
bolsa, pronta e juntos, descemos para comer mesmo que houvesse um
brunch para os convidados. Jeffrey preparou um banquete, muita comida
para duas pessoas e eu fiquei desconfortável pelo desperdício.
— Pode dizer ao mordomo que não precisamos de tanto?
Daniel desviou o olhar do jornal. Ele mal tinha acordado e já estava
lendo sobre o mercado financeiro. O cérebro dele nunca ficava cansado?
— Eu direi.
— Se não for incômodo, gostaria de assumir esses cuidados com as
casas, em gerenciar o cardápio e a arrumação, me dará uma atividade. Não
estou acostumada a ficar sem trabalhar e ainda sinto desconforto em ser
servida a todo momento.
— Você poderá cuidar disso, contanto que siga todas as minhas regras.
Eu não gosto de determinados pratos, assim como não suporto ambiente
bagunçado — ele explicou e assenti. Já estava acostumada com patrões
exigentes, um homem criado tendo tudo na mão não me assustava.
— Basta me explicar, eu sou inteligente e uma boa menina. — Usei um
tom de voz doce, disfarçando o desejo de rir, bebendo meu café. Ele me deu
uma olhada intensa, que eu podia interpretar como uma boa vontade de me
colocar em seus joelhos e dar umas palmadas.
Ele não seria capaz.
Seria?
Capítulo Doze
Giselle
O local do evento era lindo. Um museu com peças bonitas que eu
perdi quase uma hora olhando uma a uma enquanto um palestrante
discursava sobre o projeto. Li tanto sobre o trabalho de Daniel que poderia
saber mais do que qualquer pessoa ali, apenas para não errar quando alguém
me perguntasse o que ele ficou fazendo na Inglaterra, em seu ano sabático.
Em algumas semanas, voltaria a dar aulas em Georgetown e eu saberia de
perto se a fama de professor terrível era verdadeira.
Ou apenas eram alguns alunos preguiçosos. Havia pessoas ricas na
universidade que acreditavam que o mundo estava ali para servi-los e isso
nunca foi minha realidade. O que era dito em sala de aula, para mim, era lei.
Respeitava cada mania de professor e me ajustava às regras, para ter o
melhor material e tirar excelentes notas.
A humilhação da universidade é diária, matérias que nunca vimos na
vida sendo faladas com naturalidade. Estudei em boas escolas, todas
públicas, porém, as melhores da cidade. Tirei notas altas a minha vida
inteira, participava de campeonatos de química e matemática, assim como
fui líder de torcida. Tudo para acumular pontos e um currículo exemplar
para ser aceita.
Mamãe dizia que não tínhamos muito, mas aquilo nunca seria
desculpa para não estudar. Cansei de ficar sentada no chão dos trabalhos
dela com cadernos ou fazendo meus exercícios atrás do balcão que ela
trabalhou como garçonete durante muitos anos.
— Vamos para o salão social agora. — Daniel pegou minha mão
quando estava admirando um belíssimo quadro. — Poderá retornar aqui
com calma durante a semana.
— Tudo bem. Já tem algum exemplar do livro para os convidados?
Ele me deu um olhar divertido.
— Infelizmente as gráficas não trabalham na pressa da nossa
ansiedade, mas temos um manuscrito preparado para apresentação ao
público — Daniel me explicou e entramos, sendo anunciados formalmente
e um garçom nos abordou com água, vinho e suco. Eu peguei água, ele
vinho e assim, seguimos adiante.
Britânicos podiam ser muito interessantes quando se tratava de
produzir um evento social, mas era o sotaque forte entre tantas conversas o
que me deixava fascinada. Daniel ficou ao meu lado a todo momento,
mantendo a mão na base das minhas costas e também por me apresentar
como namorada para uns e companheira para outros.
A imprensa questionava se o nosso relacionamento era sério o
suficiente para ir adiante, em um noivado, o qual Laurel apenas esperava o
momento que o sequestro deixasse de ser pauta nos jornais noturnos e
principalmente, nas páginas de fofocas, para anunciar. A mídia comprou o
fato de que o reservado Daniel Montgomery estava apaixonado, afinal, tudo
começou como um romance proibido nos corredores de uma universidade,
mas a seriedade ainda causava dúvidas.
Minha não descendência sofisticada também, e por esse motivo, sabia
que todos os meus atos eram observados de perto por qualquer um.
No almoço, sentamos lado a lado. Daniel sempre se surpreendia
quando me via capaz de manter uma conversa com pessoas de nível
intelectual avançado. Eu não era uma camareira por opção. Estudei muito e
infelizmente, não nasci privilegiada o suficiente para conseguir uma boa
vaga de emprego por mérito.
No entanto, sua surpresa não era negativa, ele me deixava à vontade
para entreter os ansiosos em ter um pouco de atenção dele e por fazer o tipo
mais calado, observador, quando abria a boca, dominava a atenção de todos
sem esforço. Era atraente o modo que falava e eu me vi pendurada em cada
palavra que saía de sua boca.
— Um pouco mais de vinho verde? Parece que gostou desse —
Daniel ofereceu e abri um pequeno sorriso cúmplice.
— Já posso dizer que gostei de alguma bebida alcoólica — brinquei e
peguei a taça. — Esse é delicioso.
Houve uma troca de lugar e um homem mais novo, bonito e cheiroso
se sentou ao meu lado. Ele se apresentou como editor de uma revista de
esportes, o que me deixou atenta, independente do ramo, era um jornalista.
Dei-lhe um sorriso e voltei a comer, mas a cada minuto, o homem
encontrava um jeito de puxar assunto sem que eu tivesse outra alternativa a
não ser responder.
Uma mulher atraente sentou do outro lado, parecendo feliz e
simpática em reencontrar Daniel. Entre ela chamando-o a todo momento e o
fofoqueiro ao meu lado, eu me senti insegura e frustrada. Daniel não me
apresentou a nenhum dos dois. Ele também não me tocou desde que a
mulher esteve por perto e me perguntei se ela era um dos casos que ele
manteria em discrição.
Meu humor despencou em diversos níveis. Eu saí da nuvem perfeita
de ter dormido em seus braços, para um ódio borbulhante em como me
deixei levar por um homem que não era nada meu. Tudo entre nós não
passava de interpretação por um plano maior e eu detestei mais ainda o
quanto eu me senti carente. Queria ter tido mais experiência nesse quesito,
uma casca mais grossa. Daniel e suas constantes mudanças enigmáticas
iriam me esmagar.
— Você ficou repentinamente quieta. Gastou todas as suas palavras
com o amigo ao lado? — Daniel questionou no carro e se não fosse a
presença do motorista, eu jogaria meu sapato na direção dele.
Soltei um som de puro descontentamento e virei meu rosto para a
janela, sem querer assunto. Ao chegarmos, agradeci Jeffrey por nos esperar
com um chá e declinei, sem querer ficar mais um minuto na presença de
Daniel. Subi as escadas, tirei minha roupa e para lavar toda a irritação,
tomei banho, escolhi um vestido longo, bonito e de ficar em casa. Meias
nos pés e meu livro.
Conversei por quase uma hora com Maria. Ela estava no hospital
fazendo o tratamento e implantando o dispositivo que a ajudaria com a
diabetes, assim como havia terminado todos os exames do problema
cardíaco. Eu amava poder cuidar deles. Quando mamãe morreu, eles me
deram tudo que podiam, um teto, comida, carinho e apoio. Nunca me
deixaram na rua. Eu era a única jovem que não tinha muitos amigos por
preferir ficar na presença de dois idosos.
— Eu amo você, te ligo amanhã.
Encerrei a chamada e deixei meu telefone ao lado.
— Com quem estava falando? — Daniel parou na porta da sala.
— Curioso ou preocupado? Não se preocupe, sua mãe me orientou a
ser discreta.
Laurel não queria que Maria e Guilhermo ficassem na mira da mídia,
ou a nossa história poderia ter muitos furos e a imprensa cavaria a vida
deles.
— Não foi isso que eu perguntei. E para eventos futuros, quando fizer
uma pergunta, quero que responda.
Virei o rosto, torcendo o nariz, querendo irritá-lo assim como eu
estava irritada profundamente. Por que ele não me tocou quando a mulher
bonita estava por perto?
— Por que eu faria isso? — Fui petulante de propósito. Ali, ele não
era nada meu e não havia funcionários por perto para termos que fingir um
relacionamento.
Daniel travou o maxilar e fechou as mãos em punhos, saindo da sala
com passadas duras e desceu a escada, batendo a porta do escritório. Jantei
sozinha, assistindo a um filme, lendo um livro em francês e repetindo
algumas palavras em voz alta para melhorar a minha pronúncia. Tarde da
noite, senti fome novamente e encontrei Jeffrey na cozinha. Ele preparava
chá.
— Gostaria de levar para o seu noivo, senhora?
Ele não era meu noivo ainda, pensei com amargor. Abri um sorriso e
aceitei, para que não pensassem que estávamos brigados. Equilibrando a
bandeja, roubei um biscoitinho e comi, batendo na porta antes de entrar.
Daniel ouvia o áudio da mulher de mais cedo. Era sobre trabalho e ainda
assim, acendeu a fogueira que estava em fogo baixo desde que havia me
acalmado pouco antes do jantar.
Bati a bandeja em sua mesa e ele ergueu o olhar das gotas de chá que
molharam um documento. Sua ira me trouxe um arrepio. Daniel não
suportava nada sujo e eu manchei as letras de algo importante. Uma parte
pensou: merda. Outra, mais perversa, abriu um sorrisinho e disse bem feito
bem baixinho.
— Já chega desse comportamento, Giselle. — Ele ficou de pé e deu a
volta na mesa. — Você precisa de um corretivo para que se lembre como
deve falar comigo.
— Eu peço desculpas.
— Não aceito. — Ele foi até a porta e a fechou, o clique suave soou
na minha cabeça e uma onda de frustração por tudo que não conseguia
entender durante o dia, os sentimentos confusos e a explosão do meu humor
trouxe lágrimas para os cantos dos meus olhos. — Está demonstrando falta
de respeito e raiva, sendo que eu sou o único sendo atacado pelo seu humor
confuso. Está no seu período? Não minta.
— Não estou. — A resposta verdadeira escapou dos meus lábios
tamanho domínio que ele exalava naquele ambiente.
— Petulante e arredia. O que deu em você hoje? — Daniel se
aproximou e pegou a régua branca, grossa, de mais de quarenta centímetros
da mesa. — Incline-se sobre a mesa, levante seu vestido e empine a bunda.
Agora.
O quê?
Arquejei e sem entender, fiz. Meu olhar se concentrou no reflexo
distorcido dele em um vaso de cerâmica branco que ficava atrás da mesa.
Daniel se posicionou e acertou minhas nádegas com a régua, ordenando que
contasse. Eu obedeci, sôfrega, sem entender porque meu corpo estava tão
desesperado por obedecer seus comandos e mais ainda, por que estava me
sujeitando a apanhar de um homem sendo uma mulher adulta?
Conforme os números saíam da minha boca, a picada da régua ardia
ainda mais e eu queria que o chão me engolisse tamanha confusão. Ao
mesmo tempo, a raiva ia saindo a cada novo acerto. Doze vezes e eu queria
sair correndo. Daniel parou, respirando fundo, com o peito ofegante como
se tivesse corrido uma maratona e eu estava congelada no lugar.
— Vá para a cama, tire o vestido, deite de bruços e me espere — ele
ordenou e eu saí correndo, subindo as escadas um pouco cega com as
lágrimas. Entrei no quarto e tirei o vestido, virei-me contra o espelho e tive
uma crise ao ver o quanto minhas nádegas estavam vermelhas.
Deitei na cama, abraçando o travesseiro, sem saber o que fazer, com
meu peito explodindo de tão forte que meu coração batia no peito. Parecia
que a minha caixa torácica não era o suficiente para contê-lo. Irritada,
nervosa, me perguntei se estava com medo dele e percebi que não. Quando
mandou erguer meu vestido e empinar a bunda, deveria tê-lo mandado a
merda e eu não o fiz. Eu… obedeci.
Como era possível dizer não? Minha mente não computava a ideia de
dizer não. Eu diria qualquer coisa, menos que não. A frustração que me
dominava antes se dissipou e eu me sentia pesada por não entender o que
estava acontecendo e mais ainda por estar sentindo minha boceta melada e
latejando com um desejo que não sabia explicar.
Daniel entrou no quarto e acendeu apenas a luz de um abajur. Foi até
o banheiro, voltando com um frasco de óleo e uma pomada, e mostrou
ambos antes de deixar ao meu lado, começando a se despir. Eu quis
perguntar o que estava fazendo, mas a língua parecia enrolada dentro da
boca. Babei a visão do seu corpo seminu, apenas de cueca, e observei
enquanto subia na cama, esguichando óleo nas minhas costas, tocando-me
suavemente, começando uma massagem que me fez relaxar. As lágrimas
continuavam caindo, porém, não me atormentava.
Com a pomada nas palmas, ambas as mãos tocaram meu bumbum,
apertando, cuidando e me excitando. Estava lívida com as reações do meu
corpo. Nós… o que era aquilo? Daniel acalmou minha ânsia, deitando-se ao
meu lado e moldando o corpo ao meu, me fazendo sentir parte do seu ser.
Era um encaixe perfeito. Fechei meus olhos e permiti que me ninasse,
levando-me para o mundo dos sonhos, mesmo que a minha cabeça estivesse
pesada por não compreender nada do que havia acontecido.
Capítulo Treze
Daniel
O quarto estava escuro e a chuva caía lá fora, o tempo oscilava em
Londres e parecia corresponder ao meu humor. Minha mente era uma única
trovoada, dolorida e assustadora. Meu coração parecia apertado no peito ao
observar Giselle dormindo no centro da cama, ainda só de calcinha,
abraçada ao travesseiro bastante molhado de lágrimas que eu causei.
Cometi o maior erro da minha vida: puni uma mulher que não era minha
submissa.
Eu, um dominante experiente, perdi a cabeça com uma mulher que
não era nem mesmo minha submissa em treinamento. Giselle não era minha
em nenhum sentido da palavra, apenas por um contrato, um teatro, e eu me
sentia terrivelmente possessivo e louco. Algo novo, porque nunca fui
intenso com uma submissa antes. Bebi todo meu uísque, acalmando meus
nervos, porque teria uma manhã carregada ao me desculpar e explicar a
Giselle quem eu era, para compreender, tanto quanto possível, o que havia
acontecido.
Pela primeira vez, liguei para Jamie, o dominante que me treinou e
amigo de longa data, para pedir um conselho. A linha tênue que enfrentaria
com Giselle a partir daquele segundo era o que mais me assustava. Isso se
ela não desejasse sair correndo e não permanecer no plano da minha família
nem mesmo por todo o dinheiro do mundo. Perto do dia amanhecer, tomei
banho, coloquei uma calça jeans e camiseta e fiquei descalço, porque eu
não iria para a universidade e sim, trabalharia de casa.
Eu queria malhar para explodir toda a energia contida, mas era preciso
acalmar meus nervos e dar a Giselle um ambiente seguro. Eu errei muito.
Perdi o mais importante: meu domínio. A verdade por trás daquela explosão
era o que mais me envergonhava. Senti ciúmes dela e eu não tinha o direito
de tal sentimento.
Estava na sala, esperando Jeffrey terminar a bandeja de café da manhã
para levar ao quarto quando ouvi seus passos na escada. Giselle estava com
o rosto lavado, sem maquiagem, porém, demonstrava o inchaço da noite de
sono mal dormida e o choro. Suas lágrimas, em outro momento, me
excitariam, mas naquele instante, apenas trouxe culpa. Ela usava o cabelo
preso, com o robe longo de cetim, sem sutiã e pela transparência, ainda com
a mesma calcinha pequena e tentadora da noite anterior.
Parada, mudando o peso de um pé para o outro, eu estiquei minha
mão. Ela pegou, um pouco hesitante e se aproximou.
— Sente-se, por favor — pedi e ela pegou uma almofada,
considerando se deveria ficar ou não ao meu lado. Deixando no chão, caiu
de joelhos na minha frente, entre minhas pernas. Porra. Ela tinha noção do
que estava fazendo e brincando comigo?
— Acho que ainda não consigo ficar sentada assim completamente —
explicou rapidamente, com as bochechas coradas e eu engoli em seco.
Ela estava de joelhos na minha frente.
— Giselle, você sabe o que é dominação e submissão?
Erguendo o olhar com timidez e confusão, a boca crispada, negou
suavemente. Ela uniu as mãos, esperando, e o olhar repleto de lágrimas
estava ali novamente.
— Eu já li algumas coisas, mas não posso dizer que sei o que
significa.
— É um estilo de vida que eu me adequei há muitos anos como
dominante. Faço parte de uma comunidade e tive algumas submissas, que
entregavam a mim o controle de suas vidas, seus desejos sexuais, fantasias
e um pouco além… cediam tudo. — Eu me inclinei para frente. — Ontem,
cometi um erro grave e não tenho palavras para me desculpar por ter te
punido sem ser minha submissa, sem termos um contrato ou uma palavra
segura. Vou entender se quiser me denunciar à minha comunidade e,
principalmente, se afastar.
— Não entendo — Giselle balbuciou, com um suspiro choroso. — Por
que eu te obedeci? Por que eu sequer considerei sair correndo? Não entendo
o que aconteceu comigo ontem, fiquei frustrada e com raiva de você porque
depois de me fazer dormir em seus braços, não me tocou na frente daquela
mulher. Eu me odeio por desejar seu toque, me odeio por não conseguir
compreender meus sentimentos e sendo imatura, quis te irritar e provocar
até que explodisse.
— Giselle… — Toquei seu queixo. — Você tem traços de uma mulher
submissa. E há algumas semanas, percebo que temos uma conexão
corporal, nossas mentes se entrelaçam com facilidade e conseguimos nos
comunicar bem, mas sem um conjunto de regras e clareza, sem o contrato e
a palavra segura, o que aconteceu ontem foi uma catástrofe.
— Eu? Submissa?
— Sim. A submissão não é como o mundo conhece e entende, mas
sim, um meio de ceder o controle da sua vida em vários aspectos que você
não consegue lidar, é conhecer os limites do corpo e da mente, entender o
que quer e o que não quer. Ser uma submissa é lindo. — Acariciei seu rosto
e sequei a lágrima. — Eu sinto muito por te fazer chorar.
— Não estou com raiva de você, talvez um pouco de mim mesma e
confusa.
— Eu sei.
— Como posso entender o que está acontecendo? Tem alguma coisa
errada comigo? — Ela me olhou, devastada.
— Não, Giselle. Vem aqui. — Puxei-a para um abraço. — Não tem
nada de errado com você ou comigo. Apenas temos uma maneira diferente
de agir, a vida nos fez assim e por esse motivo, seu corpo reage ao desejo
sexual através de conexão, cuidado, não somente por prazer. Você precisa
sentir segurança.
— Como sabe que sou virgem?
Eu não sabia de fato, porém, ela demonstrava ser. Qualquer mulher
“normal” não-virgem depois da conexão e intensidade que compartilhamos
em dois momentos específicos, estaria montada no meu pau e eu não
negaria, porque meu desejo por ela era além do que podia expressar como
um homem normal. Era cru, visceral, desejava fazer tantas coisas que
minha mente se perdia dentro das minhas fantasias.
— Não quis dizer nesse sentido, mas sim, explica muita coisa.
Giselle voltou a sentar sobre seus calcanhares e eu escorreguei para o
chão, sentando-me à sua frente. Por uma hora, contei minha história como
dominante, para que ela sentisse que meu mundo não era monstruoso como
muitas pessoas pintavam por aí. Eu não chegava a ser um sádico, apenas um
dominante com bastante inclinação ao sadomasoquismo. Giselle disse ser
virgem, porque nunca sentiu uma conexão e a mãe sempre a aconselhava a
não ceder enquanto não estivesse segura com um homem.
Por um lado, eu podia entender a mãe. Mulher que criava a filha
sozinha, sendo imigrante, provavelmente se preocupava com as decisões
que Giselle poderia tomar. E eu também sabia que dado a sua veia
submissa, Giselle nunca encontraria em um homem jovem as habilidades
necessárias para relaxá-la o suficiente. Na idade em que eu comecei,
também não passava firmeza, veio com o tempo e experiência, além de
muito treinamento, não só físico, como mental.
Depois do café, que compartilhamos no chão da sala, ela voltou a
dormir e eu, sem conseguir encarar o sono e saber o que faria a seguir,
precisei sair para encontrar meu amigo que incomodei no meio da
madrugada. Jamie deixou seu escritório de advocacia, reservou uma mesa
em um ótimo restaurante e me aguardou. Pontualmente, estávamos lá.
— Ela será sua esposa cedo ou tarde, correto?
— Sim. Faz parte daqueles planos que compartilhei em minha última
visita.
Ele girou a taça.
— Você sabe que tudo que me explicou exemplifica uma conexão que
não poderá se livrar em um piscar de olhos. É algo raro, em compensação,
jamais poderão começar um relacionamento de finais de semana, mantendo
uma distância segura e emocional conforme determinam os contratos de
treinamento. — Ele bebeu seu vinho verde enquanto aguardava o robalo, e
a única coisa que eu pensei foi que aquele foi o único tipo de vinho que
Giselle realmente gostou. — Quando se tem uma esposa que é a submissa,
tudo é diferente. Em alguns momentos, Elena precisa se impor como minha
mulher, porque não deixo de ser um homem com tendências a ser sem
noção apenas porque sou o dominante, assim como é uma delícia ter nela,
minha companheira, melhor amiga e a pessoa de carne e osso que mantenho
amarrada na cama.
— E como funciona a regra do sexo?
— Para nós dois, funciona de ambas as maneiras. Temos desejo e
transamos do jeito que quisermos, se ela está a fim, eu dou a ela o direito de
me procurar, se não, de dizer que não quer e ponto. Não tem o que discutir,
é natural, fica gostoso dormir com a mulher que amo, abraçá-la à noite,
fazer sexo matinal, no chuveiro, antes ou depois do café ou simplesmente,
cada um ler na cama até o sono e não acontecer nada. — Ele inclinou-se
para frente. — Elena reconhece minha autoridade como seu homem e
dominante em qualquer lugar da casa, mas sempre que pega minha mão, é
porque quer falar sem julgamentos e medo de ser punida. É o momento que
sente segurança em se abrir comigo para qualquer assunto. A confiança é o
prato principal, ela precisa ser sua melhor amiga e você precisará ser o
melhor amigo dela. O porto seguro.
Eu respirei fundo, assimilando aquelas palavras, sem imaginar como
seria possível viver um relacionamento em tempo integral e treinar uma
nova submissa. Ainda não sabia se Giselle queria mergulhar nessa vida,
mas ofereceria. Ela precisava conhecer seu corpo e a mente, se libertar da
prisão que se impôs sexualmente.
— E quanto aos jogos?
— Temos uma vida social, nem sempre jogamos nos fins de semana,
às vezes acontece em uma quarta-feira ou simplesmente no domingo — ele
explicou, pegando um guardanapo e colocou em seu colo. Nossos pratos
foram entregues. — Ou, posso estar muito bem trabalhando no escritório e
mandá-la se ajoelhar à minha frente, amarrando seus pulsos com a minha
gravata.
— Entendi. — Peguei meu garfo, sem vontade de comer.
— Daniel, o casamento foi a melhor coisa da minha vida, porque
temos a tendência de acharmos que vamos viver sozinhos, com a
rotatividade de submissas, os sentimentos mistos, o medo de nunca dar
certo…
— Essa é a questão principal, não é? Até que ponto vai dar certo.
— O ponto é determinado pela força de vontade de vocês. — Ele
abriu um sorriso. — Tudo que eu te disser, só vai acreditar vivendo,
ajustando, conversando e principalmente, sendo cruelmente honesto. Elena
dormiu muitas noites chorando com raiva da minha sinceridade, mas nós
dois sabemos que é melhor falar do que, aos poucos, deixar um muro ser
criado entre nós.
Dei um aceno, compreendendo e tendo muito a pensar. Jamie era uma
pessoa de confiança e por esse motivo, podia aceitar o conselho dele.
Depois do almoço, paguei a conta, em agradecimento por tê-lo acordado
com minha crise e rimos de que, quando precisasse, devolveria o favor. O
motorista me levou de volta para casa e subi direto, achando que Giselle
estava na cama, mas o quarto estava vazio e os lençóis arrumados.
Troquei de roupa, voltando a ficar confortável, porque não pretendia
sair mais e a procurei pela casa. Não precisei ir muito longe. Estava na sala
da baronesa, lendo um livro, comendo uma salada em um pote e ouvindo
música. Usava um vestido cinza, os cabelos soltos e sem maquiagem. Seus
pés descalços estavam apoiados na mesinha.
— Como você está?
Ela deu um salto, deixando cair um pedaço de alface e rapidamente o
pegou, limpando o sofá. Fechou o livro e me deu um olhar cuidadoso.
— Não sabia que iria voltar tão rápido. Não quis comer sozinha lá
embaixo e peguei essa salada com meu livro, estou quase terminando —
explicou e colocou as coisas na mesinha.
— Foi apenas um almoço com um amigo. — Sentei ao lado dela.
— E foi bom? — Giselle recostou, cruzando os braços.
— Elucidativo. A comida estava boa também.
— Elucidativo? — Seu olhar curioso encontrou o meu.
Lembrei-me sobre o conselho de ser honesto e engoli a saliva com
dificuldade. Eu não conversava muito sobre nada do que pensava com
ninguém além do meu irmão, mas só porque Patrick era inconveniente e
não me deixava em paz, sempre querendo fazer parte da minha vida.
Estiquei meu braço no encosto do sofá e toquei seu ombro, ela aceitou meu
toque, pegando minha mão e suas pernas dobradas ficaram em cima da
minha coxa.
Contei a ela sobre o casamento deles, que era um relacionamento
diferente e que dava certo. Giselle me ouviu atentamente e mordeu o lábio.
— É isso que você quer? Me treinar para ser uma submissa?
— Você quer ser treinada para ser uma submissa? — Devolvi a
pergunta.
— Quero entender, tirar esse sentimento confuso de que estou perdida.
Exceto que, quando te obedeci, ali, parecia certo. E foi, de uma certa
maneira, libertador. Você pode me ajudar, Daniel?
Porra, puta que pariu. Fechei os olhos, encostando minha testa na
dela.
— Sim, Giselle. Eu vou te ajudar — prometi.
Capítulo Quatorze
Giselle
Peguei a escova e me encarei no espelho, escovando os fios e os
desembaraçando, fazendo uma trança e prendendo em um coque elaborado.
Daniel entrou no closet, fechando os botões do punho e pegou o terno,
colocando-o cuidadosamente, sem desviar os olhos dos meus e se
aproximou. Um arrepio desceu pela minha espinha, me deixando atenta a
sua proximidade e meus lábios separaram quando senti seu perfume.
Inclinando-se, tirou o colar que eu usaria naquela noite e o abriu com
a chave magnética, colocando-o no meu pescoço e fechando com cuidado.
Ele abaixou e beijou meu pescoço, demorando com a boca na minha pele e
senti a pontinha de sua língua. Fechei meus olhos, louca para ter mais
daqueles beijos. Eu queria mesmo que ele me beijasse. Com as mãos
apoiadas nos meus ombros, roçou os lábios no meu ouvido e disse que eu
estava linda. Minhas bochechas coraram.
— Esse rubor é belíssimo. Sabe o que imagino? O quanto vai ficar
corada quando eu te amarrar na cama para saber até que ponto pode
explodir de prazer.
Lambi meu lábio e toquei sua mão. Daniel me ajudou a ficar de pé,
ajeitando a saia do meu vestido longo. Eu estava muito nervosa para o baile
de gala do lançamento oficial do livro que ele era um dos principais autores.
Seria muita evidência, a mídia americana estava muito interessada no fato
de que o filho de um dos possíveis candidatos à campanha estava
trabalhando na Europa.
Eu olhei mais uma vez no espelho, querendo ficar segura da minha
aparência e ele apontou para o relógio. Com uma piscadinha, me ajudou a
descer a escada e Jeffrey correu na frente, com o guarda-chuva, também me
protegendo do vento. O motorista nos levou para o baile com tranquilidade.
Daniel ficou com a mão em cima da minha, assim como foi a noite inteira,
dormimos lado a lado e ficamos em paz depois que ele me entregou sua
honestidade.
Daniel era um dominante. Meu cérebro parecia partido ao meio.
Muitas coisas faziam sentido, me deram uma luz, entendimento e um
caminho a seguir. Depois de passar todo o tempo que tive disponível lendo
sobre submissão, reconheci vários dos meus comportamentos e
insatisfações em fóruns que outras submissas conversavam anonimamente,
porém, de peito aberto.
Daniel também me entregou muito material para leitura e, por mais
que meu coração estivesse em paz por finalmente entender o que aconteceu
naquele escritório com a régua, porque meu corpo nunca questionava as
ordens, até aceitava, precisando, mesmo aquelas que depois minha mente
entrava em choque querendo saber porquê, eu simplesmente me entreguei
sem questionamentos.
A submissão era uma esfera longa, nada do que imaginei. Não
significava, de nenhum modo, obediência cega e entrega total. Era
confiança. Ceder o controle. Em muitas vezes, meu corpo simplesmente
entregava, porque era o que eu precisava, mas eu também tinha que treinar
meus limites. Daniel disse que a linha entre um relacionamento com a
submissão era complicada, que ele não tinha experiência no quesito e
precisávamos ir com muita calma.
Passei o dia inteiro lendo o seu modelo de contrato de dominação,
além do conjunto de regras, no qual boa parte já era familiarizada quando
pedi para cuidar da casa, para ter uma ocupação. Limpeza, comida, horários
e até mesmo a vestimenta. Eu cheguei a me questionar algumas vezes sobre
o que havia acontecido para que ele decidisse ser um dominante, mas, a
vida pode tê-lo levado para aquele caminho, assim como estava me
levando.
Eu tinha muito para ler e me descobrir, principalmente sexualmente.
No entanto, apesar de toda a minha ansiedade e dos medos que
borbulhavam na superfície do coração, queria muito seguir adiante com
aquele desafio que crescia.
— Está nervosa? — Ele cruzou o dedo mindinho com o meu.
— A parte da imprensa ainda me assusta.
— Se serve de consolo, nunca deixará de assustar. — Ele acariciou
meu pulso.
O motorista e os seguranças pediram para que esperássemos.
Enquanto estive ali, quase não percebi a presença deles, ficavam na casa
nos fundos e nos seguindo de longe. Eles também ficaram muito quietos no
voo. Sentia falta de Phillip, que sempre dava um jeitinho de brincar, de
acalmar meus nervos e ter alguém familiar ajudava a passar por toda
loucura.
Daniel saiu primeiro, deu a volta, abriu a porta e me ajudou a sair. O
tapete vermelho estava coberto, o que me livrou de ter os cabelos arrepiados
pela chuva e a barra da saia molhada. Daniel manteve a mão na minha,
entrelaçando nossos dedos e eu mantive o sorriso no rosto, ensaiado. Fiquei
ao lado dele durante a entrevista e quis rir da maneira formal que soava com
a entrevistadora, que queria muito arrancar algo mais do que respostas
sobre o trabalho.
Fiquei admirada com a decoração do baile e, principalmente, com o
trabalho final do livro na projeção no palco. Teria o show de uma famosa
cantora britânica depois do jantar e uma peça de teatro, inspirada em um
dos textos. Daniel foi cumprimentado por várias pessoas, chegou a ser
exaustivo e meu calcanhar já estava dolorido quando finalmente pudemos
sentar.
Eu senti a mão dele no meu joelho quando um casal sentou-se do
outro lado. A mesma mulher por quem fiquei desnorteada de ciúmes.
Coloquei minha mão em cima da dele, ele virou e beijou minha bochecha,
pedindo baixinho para que eu não criasse paranoias. Ela tocou o colar e me
perguntei se era alguma submissa, alguém que ele jogou e teve qualquer
tipo de intimidade. Olhei em seus olhos e ele simplesmente disse que não,
nunca.
Abri um sorriso contido e relaxei. A ideia de que eles não tiveram
nada diminuiu o incômodo. Não tinha o direito de sentir ciúmes e aceitei
que independentemente de dever ou poder, era um sentimento real e ele
também confessou que o motivo de sua raiva foi por sentir ciúme de um
homem que eu estava louca que me reivindicasse na frente. No fim, foi uma
falha de uma comunicação que ainda não tínhamos e, mais ainda, sem lidar
com os sentimentos confusos que estavam florescendo.
Mais segura, fui capaz de manter um assunto com todos, inclusive
com a gostosona. A mulher era bonita, ciente da beleza que tinha e por esse
motivo, mantinha os homens na palma da mão. Daniel também era outro
que parecia um encantador de serpentes, porque em um piscar de olhos,
uma multidão estava ao nosso redor.
— Como é se relacionar com um homem tão inteligente, querida? —
Uma senhorinha deu tapinhas na minha mão. Ela era esposa de um
professor da universidade de Oxford. — Eu sempre adorei o quanto meu
marido era inteligente, atencioso com as palavras e capaz de me mandar as
mais belas cartas.
Por algum motivo, ela me passou a sensação de ser uma boa
fofoqueira.
— É maravilhoso. — Fui contida.
Daniel me levou para a pista de dança e apesar da expressão taciturna,
havia pequenas rugas ao redor dos olhos dele, demonstrando a felicidade.
— O que foi, srta. Madero? — Ele manteve as mãos na minha cintura.
— Sei que ainda estou te conhecendo, mas sinto que está
agradavelmente feliz com o fim do projeto.
— Gosto quando termino um trabalho com tanto sucesso. É uma
incrível sensação de prazer, mas não tanto quanto aquela que planejo ter
com você. — Daniel encostou a testa na minha, roçando o nariz no meu.
Ficamos mais próximos, bem agarradinhos e rindo, me deu uma rodopiada,
me fazendo soltar risadinhas como uma menininha.
O show começou e para minha surpresa, ele quis assistir e me levou
para a primeira fileira. Cantei e dancei todas as músicas, com a garganta
doendo, suada e ainda tive que subir o vestido para pular quando ela incitou
a multidão. Foi incrível. No fim, ele conseguiu que eu tirasse uma foto com
ela e ganhasse um autógrafo em um pôster.
— Está feliz? — Daniel me ajudou a descer os degraus, meus pés
estavam doloridos e as coxas queimavam.
— Amei tanto, obrigada! — Joguei-me nele, o abraçando. Daniel riu e
me colocou no chão, com os olhos nos meus. — Estou exausta e suada.
Vamos para casa?
— Eu vou te levar para casa.
Meu vestido parecia destruído, estava um pouco sujo e amassado.
Tirei-o e Jeffrey logo o pegou, guardei as joias e fui tomar banho. A
maquiagem demorou ainda mais para sair, peguei um pijama limpo,
enrolando-me no roupão de cetim. Perfumada e com sede, peguei água,
meu livro e fui para a cama. Daniel estava com o telefone no ouvido, foi
para o banheiro e eu ri baixinho, pensando ser esquisito dividir o espaço
com uma pessoa que ainda estava conhecendo.
Sem camisa e com uma calça de pijama, ele apagou as luzes, deixando
a luz do abajur acesa do meu lado. Deitado, pegou seu iPad e abriu o e-
mail. Sempre conferia antes de dormir, como um ritual. Terminei de ler meu
capítulo, fazendo minha anotação com lápis no post-it rosa neon, marcando
a página e me deitei, exausta. Cobri minha boca, soltando um bocejo,
escorregando mais para baixo e puxei a colcha.
Daniel deixou o aparelho na mesinha, virando-se de lado e tocou
minha cintura. Ele puxou minha perna, para ficar entre as dele e desceu a
mão para o meu bumbum. Eu ofeguei, olhando em seus olhos.
— Ainda dolorido? Precisa de mais pomada?
— Não. Está tudo bem.
— Ótimo. — Ele beijou minha testa. — Posso dar uma olhada?
— Quer ver minha bunda ou apenas quer conferir se está tudo bem
mesmo com a minha pele? — Mordi meu lábio, provocando-o. Daniel riu e
me virou, ele sentou e eu empurrei minha calça para baixo com o rosto
quente por estar sem calcinha.
— Porra. — Ele inclinou-se e beijou onde eu sabia que ficou uma
pequena marquinha da régua. A sensação foi de que poderia pegar fogo e
minha pele arrepiou por completo. — Cadê a sua calcinha, Giselle?
— Usei uma que machucou um pouco na virilha e achei que precisava
de um tempinho sem, além de fazer bem ter um momento para respirar —
confessei, contendo minha risada.
— Se ela precisa respirar, tire sua calça. Agora — comandou e, ao
mesmo tempo, seu tom continha diversão. Engatei meus dedos no cós da
calça, empurrando-a para baixo e fiquei com as pernas nuas. Chutando-a
para fora da cama, jogou no chão. — Adora ser uma menina má quando se
trata de me enlouquecer.
— Sou sempre muito boa. — Dei-lhe um sorrisinho, virando-me de
lado.
Daniel deitou, puxando a colcha e nos cobriu. Ele voltou a ficar
pertinho, subindo as mãos pelas minhas costas e indo até onde deveria estar
o fecho do meu sutiã. Meus mamilos ficaram arrepiados, endurecidos
contra o tecido da camisa do pijama. Ele chegou ainda mais para frente,
segurando meu queixo e, finalmente, tocou minha boca com a dele. Eu
gemi contra seus lábios, excitada, e ele agarrou minha bunda, fazendo com
que eu esfregasse minha boceta em sua coxa firme.
Soltei um gemido alto, surpresa com a reação incrível e movimentei-
me contra ele novamente, incapaz de parar. Voltei a beijá-lo, adorando o
sabor de sua língua, com um calor delicioso dominando meu corpo e o
desejo me fez puxá-lo até pelo cabelo. Daniel soltou um grunhido, adorando
a brutalidade, dando uns bons tapas na minha bunda.
— Vem, rebola, estou sentindo sua boceta molhar minha calça, porra.
Quis esconder meu rosto mas ele não deixou, agarrando meu queixo e
mordendo meu lábio inferior com força. Senti latejar. Meu ventre apertou, o
orgasmo cresceu e eu sequer tentei controlar a nova sensação que eu podia
imaginar que me viciaria. Daniel rolou para cima de mim, encaixando-se
entre minhas pernas e induziu movimentos deliciosos. Eu arranhei seus
braços, gemendo contra sua boca e gozei, sentindo seu pau muito duro entre
minhas dobras.
— Eu deveria dar-lhe bons tapas nessa bunda gostosa por arruinar
minha calça. — Ele se sentou e mostrou a mancha na coxa e na região do
pênis.
— Me desculpa? — ofereci, sem fôlego, sem me importar e com a
mente dispersa.
Por que eu nunca fiz aquilo antes?
Daniel olhou para minha boceta, hipnotizado e eu contive a vergonha
de unir minhas coxas conforme a nuvem de prazer se dissipava. Ele passou
o indicador na borda da minha virilha, olhando a marca vermelha,
arrepiada, e subiu a pontinha do dedo pelos meus lábios molhados até o
caminho de pelos.
— Está marcado, é uma pena, porque eu quero ser o único marcando
sua pele.
Eu sorri e ele me beijou de novo. Por mim, poderíamos ficar ali para
sempre.
Capítulo Quinze
Giselle
Eu nunca imaginei que um dia sentaria em um camarote de luxo, em
uma Ópera no melhor lugar de Londres. Estava profundamente
emocionada, era um espetáculo sem igual e meu coração chegava a doer
pela beleza de cores, luzes, a voz dos cantores, a orquestra, puxa vida, era
perfeito demais. Daniel conseguiu os convites de última hora e foi uma
correria para conseguir um vestido de gala.
Jeffrey tinha bons conhecimentos e quando descobriram que era para
mim, a Cartier enviou um colar de presente que me fez gritar de alegria,
assustando Daniel ao ponto de subir correndo, largando uma ligação
importante com um colega de trabalho que morava na França. Ele acabou
rindo, mas fiquei um tanto tensa, porque sabia que aquela reunião era do
tipo importante de verdade.
Pedi desculpas e me comportei o restante do dia, fazendo um pouco
de dança com música baixa. Fui ao shopping comprar uma bolsa para usar e
me preparei para sairmos depois do jantar. Daniel preferia comer em casa
do que em restaurantes, assim ele podia controlar os temperos e o modo de
preparo. Eu estava um pouco enjoada de comida da rua, saindo para passear
todos os dias com Jeffrey, ele me levava a lugares diferentes para
experimentar a culinária.
— Tome meu lenço. — Daniel o tirou do bolso quando minhas
lágrimas ficaram incontroláveis. — Acalme-se, Giselle. — Ele esfregou
minhas costas com um soluço. Elena, esposa do amigo dele, riu, mas
também estava com o rosto completamente molhado. Jamie revirou os
olhos e deu a ela um lenço, pedindo água para o garçom que estava à nossa
disposição.
— É tão lindo! Como é possível ficar sem chorar? — Eu solucei
novamente.
— Acalme-se, baby. — Daniel beijou meus cabelos.
Voltei a prestar atenção no palco, me abanando e usando o binóculo
para ver melhor. Quando acabou, fiquei de pé, tirando as luvas para bater
palmas. Queria gritar, assobiar, pedir mais e pular no lugar. Meu sorriso
quase rasgava minha face. Sequei meus olhos mais uma vez e me virei para
Daniel, que riu discretamente da minha euforia. Fiquei bastante feliz por
conhecer os amigos dele, eram dominante e submissa. Elena me convidou
para um almoço antes de irmos embora, para esclarecer minhas dúvidas
sobre submissão.
Fazia dois dias que a minha vida mudou mais uma vez e eu ainda
estava assimilando tudo que aconteceu desde que Daniel e sua régua me
reviraram de cabeça para baixo. Depois do nosso primeiro beijo, meu corpo
parecia ter um novo fôlego. O que fizemos naquela cama foi mais intenso
do que qualquer amasso que dei com garotos antes, beijá-lo me deixou
acesa, louca e viciada. Eu queria beijá-lo o tempo todo. Na manhã seguinte,
ele me acordou com mais beijos, beliscando meus mamilos e me atiçando a
cada oportunidade que teve.
Desde então, eu estava em intensa combustão. Na última madrugada,
ele apenas me abraçou, me fazendo sentir seu pau duro contra minha bunda
e nenhum movimento. Nem mesmo um beijo. Minha necessidade me fazia
sentir tão dispersa que até mesmo Laurel questionou por que eu não
respondia às mensagens, não falei com a terapeuta (as sessões que a família
Montgomery me obrigou a fazer depois do sequestro) e muito menos,
mandei fotos da cicatriz da minha barriga para a dermatologista.
Ainda emocionada, ao chegarmos em casa, Jeffrey riu, perguntando se
eu queria um lenço. Contei empolgada como foi, tomei sorvete com balas
de goma enquanto Daniel precisou fazer uma videochamada com o
cunhado, Zachary. Eles eram sócios e volta e meia, precisavam ajustar
alguns tópicos por reunião. Tirei o lindíssimo vestido verde-escuro, que
realçou a cor dos meus olhos, a maquiagem e tomei banho.
Quando ainda estava enrolada na toalha, Daniel entrou no banheiro e
parou atrás de mim. Ele segurou meu rabo de cavalo, puxando-o para trás e
expôs o meu pescoço, dando um beijo arrebatador.
— Não coloque roupas — pediu e colocou no balcão um par de
algemas separadas, com borda de couro e correntes. — Teremos uma
experiência diferente antes de dormirmos.
Ergui meu olhar para o dele novamente e abri um sorrisinho, com meu
interior contorcendo de ansiedade. Ainda não tínhamos assinado nenhum
contrato, ele duvidava se a natureza do nosso relacionamento seria dessa
maneira ou se poderíamos nos ajustar às regras sem uma assinatura, porém,
com uma palavra segura e bastante diálogo. Tudo era novo para mim,
estava precisando entender o que fazer e lendo sobre o assunto.
A única coisa que eu tinha certeza era de que eu não colocaria roupas
e permitiria que ele me algemasse nas madeiras da cama de dossel.
— Tire sua toalha, baby. Me dê a visão do seu corpo nu — ordenou
baixinho, com o tom de voz rouco e eu mordi o lábio, soltando-a e deixando
cair. Era a primeira vez que ele me via completamente nua e só deu espaço
o suficiente para que a toalha caísse no chão, no mesmo segundo, colou o
corpo no meu e subiu as mãos até os meus seios.
Nunca fui confiante que a minha comissão de frente agradasse os
homens, eu era mais coxa grossa, quadril, cintura fina e postura ereta.
Peitos me faltou um pouquinho no crescimento, enchiam a minha mão e na
dele, sobravam um pouco por ser maior. Daniel não pareceu se importar ao
dar um beliscão em cada mamilo e torcer ao ponto de que a dor parecia
demais, mas ao soltar, a onda de prazer quase me fez desfalecer.
— Pode gemer, baby. Quero te ouvir. — Mordeu o lóbulo da minha
orelha.
Levando-me para a cama, pediu que ficasse de joelhos na ponta, com
as mãos descansando nas coxas e sentada sobre minhas panturrilhas. Ele
passou a corrente de um lado, prendendo e depois, do outro. Ainda podia
mover meus braços, mas não muito, estava preso, porém, não apertado.
Tirando um lenço do bolso, colocou meu cabelo jogado no ombro para trás
e fez um coque, prendendo com firmeza no elástico para que não soltasse.
— Não teremos palavra segura, apenas vou explorar os limites do seu
corpo em um orgasmo. Se ficar nervosa, apenas diga pare e eu irei parar.
Não vou te causar dor ou angústia — ele explicou olhando em meus olhos e
segurou meu queixo. — Vou chupar seus peitos, estimulando seu clitóris e
depois, vou chupar sua boceta.
Soltei um ofego, ansiosa.
— Quer isso?
— Sim, por favor. — Engoli em seco, com meu coração palpitando.
— Também vou te beijar muito. Tenho autorização para te tocar?
Daniel arrastou o nariz no meu, abri um sorriso contra seus lábios e fiz
um biquinho para alcançá-lo. Ele me deu um beijo gostoso, mas também
um tapa na minha coxa por não ter respondido.
— Sim, você tem. — Exalei com um tremor, imaginando o que viria a
seguir, com uma esquisita felicidade borbulhando no peito como se eu
estivesse batendo asas pela primeira vez.
— Bom, muito bom.
Passando a venda no meu rosto, prendeu bem nos meus olhos, dando
um laço firme na parte de trás. Não ver nada me deixou um pouco tensa,
ereta, eu tentei captar onde ele estava, sentir a sua presença e não consegui
nada. De repente, agarrou o meu pescoço com firmeza e me beijou. Sua
boca foi rude, um beijo doloroso, somado a uma puxada no meu mamilo
direito enquanto torcia o esquerdo e estremeci, afastando ainda mais os
meus joelhos.
Daniel mordeu meu lábio, puxando-o entre os dentes. Gemi alto,
ecoando pelo quarto e senti sua mão espalmada na minha barriga, descendo
pelo meu ventre, arrepiando minha pele, alastrando um fogo incontrolável.
Puxei as correntes, torcendo, percebendo que a vontade de tocá-lo só
aumentava e eu não considerei isso quando permiti que me prendesse. Era
uma tortura dolorosa. Precisava senti-lo.
Ele esfregou meu clitóris e eu tremi. Daniel simplesmente não parou
de provocar, roçando o dedo na minha entrada, pressionando. Tentei me
mover, mas sua boca possessiva desceu sobre meus seios e o que ele estava
fazendo ali deveria ser um crime contra a humanidade. Aquilo tudo somado
ao toque estava me levando à loucura. Eu queria explodir. Puxei as
correntes, ele moveu minhas pernas e fiquei com o bumbum na beira da
cama. Ele deu um tapa firme, soltei um gritinho e em seguida, sua boca
estava na minha boceta.
Puta merda! Ergui meu quadril, necessitada e desesperada por mais.
Um gozo, muito diferente de tudo que havia experimentado, explodiu e ele
não parou, levando-me cada vez mais ao ápice, parecia que iria me jogar de
algum precipício de tanto prazer. Meu coração daquela vez iria explodir e
não haveria nada que pudesse fazer quanto a isso.
Daniel soltou a venda e, rapidamente, tirou as algemas dos meus
pulsos, me abraçando. Esfreguei-me nele, ainda dentro de uma ânsia de tê-
lo que era impossível controlar. Ele sorriu com um brilho no olhar
satisfeito, uma expressão de quem tinha total controle do meu corpo e
prazer.
— Vire sua bunda para cima e empine.
Ele ia me bater de novo? Mais uma vez, não considerei não obedecer.
Fiquei do jeito que pediu e o primeiro tapa doeu, mas a onda de prazer
quase me fez gozar de novo. Apertei os lençóis, soltando um grunhido com
a esfregada gostosa nos meus grandes lábios e mais um tapa daqueles.
Aquilo era muito bom.
— Se pudesse se ver agora, veria a beleza desse rubor, essa bunda, o
prazer encantador. Você é tão perfeita, Giselle. — Ele beijou minha nádega
e deu uma mordida justamente onde estava sensível, enquanto beliscava
meu clitóris. — Vem, baby. Goze de novo.
Eu me entreguei e pensei que iria desmaiar, caindo na cama, nos
braços dele, toda suada. Daniel me manteve ali junto a eles enquanto minha
respiração acalmava, tirando os fios de cabelos grudados do meu rosto e me
beijou, apertando minha cintura. Pegando-me no colo, levou-nos para o
banheiro e ligou o chuveiro. Eu era puro suor e vermelhidão. Minha boceta
estava molhada, quase pingando.
Daniel tirou a roupa atrás de mim, ficando nu e eu desci o olhar para
seu pênis ereto. Uau. Era lindo. Todo conjunto era perfeito. Virei-me
lentamente, admirando-o, sem conter meu sorrisinho e com um único sinal
de sua mão, ele me mandou cair de joelhos. Com o indicador, ergueu meu
queixo e tocou o pau com a outra mão.
— Abra a boca.
Separei meus lábios e ele esfregou a cabeça do pênis neles, senti o
gosto salgado de seu pré-gozo e lambi, querendo-o todo na minha boca,
mas não era algo que eu sabia fazer com maestria. Daniel sabia disso, ele
simplesmente começou a me instruir como chupá-lo, mandando relaxar a
garganta, empurrando seu pau por completo e eu me esforcei em não ter
reflexo, atenta ao seu olhar, hipnotizada, querendo dar tanto quanto recebi.
— Muito bem, porra. Você é deliciosa, baby. — Ele agarrou meu
cabelo, fodendo minha boca e eu deixei, babando, grunhindo. Ele não
avisou que iria gozar. Estava no contrato que preferia que suas submissas
engolissem seu esperma ou mostrassem a língua conforme sua ordem, como
era algo novo para mim, me deixei levar e não foi ruim.
Respirando fundo, olhou para o alto, mordeu o lábio e voltou a me
olhar de um jeito que me incendiou. Ajudando-me a ficar de pé, me deu um
beijo avassalador e fomos tomar banho. Cuidou das minhas nádegas
vermelhas, esfregou a espuma do sabonete líquido em cada pedaço de pele,
exemplificando o cuidado de um dominante pós-cena, quando não havia
uma lição para me ensinar ou uma punição. Como nós não teríamos um
contrato de distância emocional, ele disse que evitaria me punir, para não
me confundir no comecinho.
As linhas poderiam ficar turvas com facilidade, porém, assim como
cada novo desafio da minha vida, estava enfrentando de peito aberto. Eu
nunca me senti daquela maneira e estava com medo de que, ao voltar para
os Estados Unidos, a bolha se rompesse. Jamais pensei que a vida discreta
de Daniel significava ser um dominante que mantinha relacionamentos por
contrato, apenas nos fins de semana e com fins específicos.
Eu gostei do abraço dele, do carinho, da conexão. Liberava um pouco
do medo de estar mergulhando em um caminho sem volta, que me
destruiria, não só emocionalmente como mentalmente. Apenas aquele breve
instante foi como uma realização que eu jamais sonhei viver. Finalmente
entendi por que nunca me senti próxima dos homens. Não tinha nada de
errado comigo. Eu só precisava de mais.
Capítulo Dezesseis
Daniel
Era o nosso último dia em Londres e eu estava me preparando
mentalmente para todos os compromissos que me aguardavam em D.C,
assim como minha primeira semana do ano letivo. Giselle estava sentada no
chão, em cima de uma almofada, entre minhas pernas e com a cabeça
apoiada na minha coxa. Ela estava com fones de ouvido, assistindo a uma
aula online e eu, lendo e acariciando seus cabelos sedosos.
Eu me perguntava se, em casa, seria aquela tranquilidade. Giselle
passava a maior parte do dia inquieta, querendo limpar, cozinhar, deixar as
coisas em ordem e como não foi criada sendo servida, tinha dificuldade de
aceitar cuidados. Ela acabava sendo teimosa e me causava um pouco de
irritação, mas não era nada que me tirasse do sério. Era até encantador a
maneira dela de querer cuidar sempre de todos, deixando cada um feliz com
um mimo. Até o mordomo ganhava sua devota atenção.
Depois de ficar satisfeita com a casa, ficava lendo, ou dançando. Era
linda sua dança. Gostava de ver seus músculos trabalhando, ficando nas
pontas dos pés, mostrando equilíbrio, concentração e elasticidade.
Estudiosa, no primeiro dia em que o material ficou disponível, pegou seus
cadernos, canetas e adesivos, um monte de besteiras que deve ter lotado sua
mala. Descobri que não tinha um computador, nenhum eletrônico além do
leitor digital que comprou antes da viagem à França.
Em uma rápida ida à rua, comprei tudo que precisava para estudar.
Seu olhar de felicidade transformou o meu dia de tal maneira que precisei
ligar para Jamie e saber se era normal. Para minha sorte, sim. Era a minha
primeira vez com uma submissa que não estava integralmente na minha
vida para um fim específico, o algo a mais era o que me assustava, por ser
imprevisível e sem controle, um novo desafio à minha dominância e uma
arte que precisaria lidar com o tempo.
No entanto, a minha vantagem era que Giselle nunca esteve em
nenhum tipo de relacionamento. Ela era um quadro em branco, de natureza
honesta e olhar intenso, estava disposta, então, eu não falharia. O desejo
entre nós era explosivo. Giselle mexia com o homem das cavernas em mim,
provocava um fogo carnal, primitivo, que me fazia sentir flutuando e com
ódio ao mesmo tempo.
A raiva era uma emoção comum. Sempre a senti. Ela estava ali,
queimando, me deixando louco, odioso, cada vez mais complicado de lidar
e fazendo com que minha família se envergonhasse do meu
comportamento. Eu nunca era o que eles queriam e nem me esforçava em
ser. Minha mãe tentava ficar perto e a cada tentativa, me irritava ainda mais,
porque eu nunca sabia se era por amor ou porque era importante sermos
perfeitos.
Giselle quebrou meus pensamentos, erguendo o rosto com um
pequeno beicinho nos lábios e um olhar sonolento. Acariciei seu queixo,
deixando meu iPad de lado e me inclinei, beijando-lhe a boca. Ela suspirou,
acariciando minha nuca, entregue e eu simplesmente a puxei para cima,
ficando com sua bunda gostosa em meu colo.
— O que foi? Cansou de estudar?
— A aula dele é um porre — falou baixinho, com o rosto escondido
no meu pescoço.
Talvez ela sequer desconfiasse que Tuck, melhor dizendo, Arthur
Archibald-Montgomery, era meu primo e um dos meus melhores amigos,
mas ele era conhecido como Tuck Archibald.
— Quantas já assistiu? — Esfreguei suas costas, gostando que ela
encontrasse abrigo em meu colo. Não era apenas para sentir dor, como ela
claramente demonstrou ser capaz de encontrar o prazer, muito menos para
me manipular sexualmente.
— Quase todas. Depois farei as minhas anotações, não quero me
sentir perdida nas primeiras aulas presenciais. — Soltou um bocejo e
rapidamente cobriu a boca. — Desculpe.
— Suba e vá descansar um pouco, nosso voo está cronometrado para
chegarmos em D.C pela manhã porque eu tenho muitos compromissos e
não te quero cansada ao meu lado.
— Ainda vai trabalhar?
— Sim.
— Até daqui a pouco. — Dei-lhe um beijo e um tapinha na bunda,
com vontade de subir e esfregar meu pau entre suas nádegas perfeitas bem
vermelhas com as marcas dos meus dedos. Sabendo que Giselle era virgem,
estava procurando ir com muita calma, nosso estilo de vida demandava
cuidado para não causar nenhum tipo de trauma.
Lamber sua boceta foi uma delícia. Vê-la gozar depois de apanhar
melhor ainda. Eu ainda queria grampear seus mamilos e deixá-la
completamente amarrada na minha cama por várias horas, deixando-a
exausta de tanto gozar e com os grandes lábios inchados de tanto fodê-la.
Acordar e meter a mão em sua calcinha, sentindo a boceta melada porque
ela passou a noite excitada só de me sentir por perto era a minha maior
provação.
Quando fosse necessária a punição sexual, eu sofreria junto.
Balancei minha cabeça, precisando focar minha atenção no trabalho e
ignorei a vontade de subir as escadas. Ela não me dominava, poderia se
tornar o centro do meu universo, mas eu ainda tinha controle das minhas
emoções e vontades. Errei uma vez, aprendi e nunca mais cometeria o
mesmo deslize. Peguei o aparelho novamente, concentrando-me no texto,
fazendo as marcações e criando tópicos para que meu assistente montasse a
projeção das aulas.
Quem pegava o material do semestre anterior para tentar ter alguma
facilidade com a minha matéria, se ferrava. Eu nunca passava a mesma
coisa para as turmas. Tudo que criava era novo, modificava conforme a
grade e quando percebia que o bando de adolescente recém-saído da escola
achava que podia me enrolar, eu piorava ainda mais.
Todo começo de semestre era foda. Era difícil superar as meninas
apaixonadas por mim e os garotos querendo puxar meu saco. A vida era
uma gigante ironia. Estava praticamente noivo de uma garota com idade
para ser minha aluna e tinha fantasias de fodê-la na minha mesa, no
escritório, com as mãos amarradas por minha gravata.
Fui para o meu escritório, onde teria uma reunião e no final do dia,
Jeffrey informou que todas as bagagens estavam prontas, assim como o
jantar. Giselle ainda estava dormindo. Quando implantasse a regra de oito
horas de sono alguns dias por semana, ela entenderia que sua noite
melhoraria bastante. Ainda não entendia a resistência que tinha de dormir
em uma cama, mas era uma ligação com seu passado e com o tempo, seria
superado.
O carro da segurança chegou para levar as malas para o embarque e
era o momento de acordá-la.
— Eu dormi demais. Por que não me acordou?
— Não achei necessário. Quero que esteja descansada. — Tirei seu
cabelo do rosto e lhe dei um beijo suave nos lábios. — Agora levante e
vamos, temos que jantar. O avião irá decolar em duas horas e trinta
minutos.
— Tenho tudo pronto — garantiu, saindo da cama e indo em direção à
sua mala de mão.
Parecia que estar em Londres criou um universo fantasioso e eu me
preocupava como seria em casa, com a rotina, todos os compromissos
impostos pelos planos da família e mais ainda, sobre o tipo de
relacionamento que precisaríamos construir com muita calma. Eu tinha o
conselho de dois dominantes que também eram casados, ambos começaram
como eu e acabaram encontrando suas companheiras da vida em submissas.
Jamie era em quem eu mais confiava.
Em casa, apenas Patrick sabia o que eu fazia de verdade, meus amigos
mais próximos não sabiam. Por mais que os amasse, a dominação era uma
parte muito íntima do meu ser. Não era vergonha e sim, preservação.
— O que está fazendo?
— Cobrindo o chupão com uma base. — Ela me olhou estranho e
parou o movimento com o pincel. — Não deveria?
— E em algum momento dei a entender que gostaria de esconder a
marca que deixei no seu corpo?
Giselle quase projetou um beicinho pensativo, mas se conteve, me
olhando com atenção. Ela não fez por mal, mas precisava aprender que não
podia tomar nenhuma atitude sem compartilhar comigo. Eu não a impediria
de tomar uma decisão sozinha, queria que tivesse a independência para
viver, mas só funcionaria se houvesse uma comunicação sem ruídos, até
mesmo na coisa mais estúpida e desnecessária como passar uma
maquiagem em uma mancha roxa na pele.
— Imaginei que…
— Imaginou? — Arqueei minha sobrancelha quando parou de falar.
— Irão saber sobre nós? — Ela se virou, com as bochechas vermelhas,
encostando-se no balcão com um olhar que me deixaria de joelhos à sua
frente.
— Por que não?
— Eu não sei como sua mãe irá reagir a isso, afinal, estou sendo paga
para executar um papel e está tudo bagunçado agora. — Giselle arregalou
os olhos. — Daniel, eu não posso devolver o dinheiro.
— Apesar de não estar pedindo-o de volta, estou curioso. Por que
não?
— Eu aceitei tudo isso porque queria mudar minha vida. Tenho um
propósito de carreira e sonhos para realizar que, sendo uma camareira,
parecia impossível. Queria a oportunidade de ir além, estava cansada de
lutar dando soco em muros de concreto. Ser pobre e descendente de latinos
não estava me ajudando. — Ela foi honesta e as lágrimas iam se formando.
— Gosto do que está crescendo entre nós, mas a mulher que precisa de mais
na vida ainda está aqui e eu não vou abrir mão dela. Estudei muito e quero
estudar mais, me especializar, ter um bom emprego, um nome reconhecido.
E eu também me comprometi em cuidar de duas pessoas que fizeram de
tudo por mim quando minha mãe morreu.
— A Maria, certo? E o marido?
— Sim. Eles são a minha família.
— Não precisa devolver o dinheiro que ganhou. E vai continuar
ganhando, até porque, nós dois estamos desenvolvendo um papel em
público por um propósito.
— E quanto a nós?
— O que acontece no privado, só interessa a nós dois, mas você não
está mais disponível e nem mesmo solteira. Tudo que tivermos, será real,
integral e muito intenso.
Giselle abriu um sorriso encantador.
— Tenho permissão para te dar um abraço?
Abri meus braços e ela se jogou em mim, me apertando e soltando um
gritinho de felicidade. Depois poderíamos conversar com calma sobre como
lidaríamos com a minha família, mas eles, mais do que qualquer pessoa que
conhecia, sabiam muito bem que não deveriam questionar minhas decisões.
Se eu dissesse que ela era minha, gostando ou não, teriam que lidar com
isso.
Era bem provável que minha mãe ficasse um pouco irritada. Afinal,
foi dela que puxei todo jeito controlador, a mania de estar sempre
manipulando e fazendo jogos psicológicos com quem não fazia o que eu
queria.
— Devo cobrir o chupão ou não?
— Se não quer olhares indevidos para o seu pescoço, tudo bem cobrir.
Se quiser, pode exibir o que faço com você.
— Eu acho que me sinto mais confortável mantendo nossas atividades
no privado. A mídia gosta de fotografar até o tamanho da minha calcinha.
— Ela virou-se para o espelho, pegando o tubo novamente. — Saiu uma
matéria de quando meu vestido levantou em Paris e estava com um short
por baixo. Fiquei mortificada que tiveram coragem de perder tempo
escrevendo um texto sobre aquilo.
— Cada clique que se refere ao sobrenome da minha família gera
dinheiro, ainda mais agora. E vai piorar. Quando Patrick tiver uma base
sólida, eu vou recuar para o anonimato novamente. — Segurei seus ombros.
— A exposição é exaustiva e não vai durar para sempre. Teremos escolha
depois.
— Sua mãe me falou sobre isso, mas parece impossível. Tudo que
fazemos é do interesse da imprensa. Não nasci nesse meio e é simplesmente
um absurdo. Quer dizer que não é possível sair de casa de pijama sem ser
fotografado?
— Não. Eu nasci nesse meio. — Beijei seu pescoço, do outro lado que
não estava pintando. — Nunca melhora. Conforme se tem mais tecnologia,
mais eles avançam a maneira de perseguir. É por isso que sempre fui
distante e discreto.
Giselle guardou suas coisas.
— Lanna também, certo?
— Foi a melhor decisão que minha irmã e eu tomamos. Ela tem a
família dela agora e é feliz, eu pude construir minha carreira bem longe de
qualquer palco protagonizado pelos meus pais.
Giselle acenou, mostrando que compreendeu, mas ficou pensativa e
não quis compartilhar. Eu entendia que em dado momento, toda a coisa do
holofote se tornava muito para lidar, mas ela tinha um objetivo sólido.
Queria uma carreira, ter um nome e eu daria aquilo a ela. A mulher sequer
pretendia ter status ou bolsas de luxos, o que era surpreendente, refrescante
e até me causava orgulho por não me enganar com sua índole.
Já tinha me ferido o suficiente quando baixei minha guarda por
carência e necessidade de afeição. Daquela vez, seria diferente. Seria
melhor.
Ordenei suas bolsinhas de maquiagens e cremes para o rosto
cuidadosamente na pequena bagagem e guardei-os na mala de mão. Ela
pegou um livro e enfiou na outra bolsa, com um sorrisinho de quem queria
prevenir que ficasse sem uma leitura no avião.
Capítulo Dezessete
Giselle
O som dos meus saltos ecoava no corredor vazio enquanto andava
sozinha para o escritório de Laurel na empresa. A recepcionista me olhava
de longe, não era a primeira vez que eu estava ali, mas as outras foram fora
do horário comercial. Os funcionários nunca tinham me visto pessoalmente
antes e estavam curiosos, principalmente porque a mídia havia dado uma
boa cobertura do nosso retorno aos Estados Unidos, já que houve uma pane
no avião em que estávamos, causando um pequeno estresse e atraso de
outros voos.
Eu não queria entrar em um avião tão cedo novamente. Fiquei
nervosa, porque apesar de estar em solo quando o problema aconteceu, o
solavanco foi tenso o suficiente para me fazer imaginar como seria no ar.
Ainda bem que as próximas viagens estavam distantes. Ajeitei a gola da
minha camisa alta, que escondia o chupão e bati na porta. Ela me mandou
entrar.
— Olá, como vai? — Deixei minha bolsa no aparador.
— Está tudo bem por aqui, em uma correria grande por causa da
mudança interminável de Lanna. Como foi na Inglaterra? Algo que deva
saber?
Questionei-me se ela sabia sobre Daniel e eu. Minhas mãos suaram.
Não sabia como contar a ela, porque eu não fazia ideia do que estávamos
vivendo. Conversar com Elena, uma submissa que começou com jogos e
contratos, agora casada, limpou muito a minha mente, mas ainda havia
dúvidas, questões que precisariam ser resolvidas no dia a dia. Não estava
pronta para falar e não queria ser uma mentirosa.
— Foi tudo bem. Passeei bastante, tirei fotos e todos os eventos foram
bons. Daniel é um homem muito bem conceituado na comunidade dele e
não tivemos nenhum momento cabuloso, parece que isso é comum daqui
mesmo. — Sentei-me na poltrona à sua frente, ela me analisou com seus
óculos refinados na pontinha do nariz arrebitado. — Precisa de alguma
coisa?
— Na verdade, temos que ir até o escritório de Adam amanhã. Um
agente do FBI disse que precisamos refazer o retrato falado.
Exalei, secando minhas mãos na calça e mordi o lábio, pensando no
pavor de ter que reviver tudo novamente para descrever o rosto dos homens
que vi naquele dia fatídico. Dei um aceno, engolindo em seco, já com dor
de cabeça e não tinha outra alternativa a não ser aceitar. Laurel repassou a
agenda dos eventos na cidade, anotei tudo no telefone, coloquei para
despertar e agradeci que a compradora pessoal iria selecionar as roupas para
mim.
— Vi algumas fotografias da imprensa britânica. Você e Daniel tem se
dado bem o suficiente para funcionar como um casal aos olhos do público.
— Ela fechou o notebook, sem desviar os olhos dos meus, me
pressionando. Mantive a expressão neutra.
— Seu filho é um homem educado e sabe muito bem o que fazer,
dentro do papel dele nesse plano todo. — Encolhi os ombros, como se não
fosse nada de mais.
— Se houver alguma mudança, irá me contar?
— Por que está preocupada com isso? Um dos motivos pelos quais fui
escolhida, era porque não fazia o tipo do seu filho, refinado e muito
discreto.
Laurel desconversou, mudando de assunto e fomos almoçar. Ela não
falou mais nada que me deixasse desconfortável, foi a pessoa
razoavelmente legal que eu conheci quando camareira, mas sempre
preocupada com os compromissos, em estar presente nos horários. Nossa
salada estava simplesmente terrível e rimos disso, sem reclamar com o
garçom. No entanto, o restante dos pratos estavam deliciosos.
Phillip me levou para a casa de Daniel, meu novo lar, e eu ainda
estava perdida no funcionamento ali. Ele não tinha empregados diários,
apenas uma empresa que ia alguns dias por semana e a comida era ele quem
cozinhava. Eu não tinha habilidades e fazia parte do conjunto de regras que
os ambientes estivessem sempre limpos, além de uma lista completa de
temperos que deveria usar.
Coloquei uma roupa mais simples para ficar em casa e vasculhei a
geladeira, ouvindo o professor ditar a aula online, memorizando algumas
partes para fazer um resumo. Encontrei um pacote de brócolis, frango
congelado e imaginei que daria para fazer penne ao molho branco,
acompanhado dos outros itens. Peguei a receita no site de uma chef famosa
e vi que tinha noz-moscada.
Enviei uma mensagem para Daniel, perguntando se poderia usá-la no
jantar, já que não estava mencionada nem mesmo na lista de proibidos e
nem na dos que ele gostava.
Ao invés de responder a mensagem, ele me ligou de volta:
— O que vai fazer que precisa de noz-moscada? — Ele soou distante,
como se estivesse longe do aparelho.
— Está na sala de aula? — sussurrei, chocada.
— Sim. Alguns alunos estão tirando dúvidas.
Puta merda, que vergonha.
— Apenas queria saber se posso usar noz-moscada no molho branco
para o jantar. Está na receita e estou na dúvida se você gosta. — Soei
tímida, consciente de que estava sendo ouvida por mais pessoas além dele.
— Sim, está tudo bem. Te vejo no jantar. — Sua voz ficou mais suave.
— Até mais tarde.
Encerrei a chamada com um pouco de saudades, me sentindo esquisita
e voltei para minha aula enquanto cozinhava. Até que não foi tão ruim, a
prática era a mesma, só tinha que ficar mais segura para não desagradar
Daniel de algum modo, nem estragar os alimentos, porque por mais rico
que fosse, eu odiava jogar comida fora. Maria era quem comandava a
cozinha em casa e nossos cardápios não eram muito variados, ela evitava
comidas enlatadas por causa da dieta e usávamos o mercado orgânico do
bairro. Geralmente, o jantar era sopa, sanduíches com salada e macarrão,
que nunca faltava.
Deixei o molho separado dos demais, para não ficar grudento, cobri
tudo e guardei meu material ao terminar, arrumando a mesa. Subi para
pegar meu leitor digital para matar o tempo quando ouvi o barulho da porta
da frente, a chave sendo jogada perto da estrutura de metal da entrada e
depois, silêncio. Daniel andava de um jeito leve que era impossível saber
onde estava, principalmente quando tirava os sapatos. Deveria ser algum
treinamento, porque quando me vendou, eu não conseguia definir onde
estava.
Desci novamente, ele estava acendendo as velas e havia uma garrafa
de vinho no aparador.
— Boa noite, Giselle. — Ele soou rouco, me dando uma olhada da
cabeça aos pés.
— Boa noite, Daniel.
Sem um contrato, ainda estávamos definindo nossos limites. Ele me
chamava de Giselle e eu de Daniel, mas dentro do quarto de jogos, que
ainda não tinha conhecido, deveria chamá-lo de senhor e seguir as regras.
Aproximei-me com cuidado, parando próximo, ele segurou minha cintura e
beijou meu pescoço primeiro, passando a língua onde tinha o chupão.
Fiquei arrepiada e ainda mais feliz com o beijo que deu em seguida, nos
meus lábios.
Desceu as mãos para meu bumbum e apertou, aprofundando nosso
contato, com a língua gostosa fazendo maravilhas na minha boca. Eu gemi,
excitada, puxei seus cabelos e ele me colocou sentada na mesa,
estabelecendo-se entre minhas pernas. Apertou minhas coxas e puxou-me
bruscamente para frente, dominando-me com maestria. Eu era massinha de
modelar nas mãos dele.
— Sentiu minha falta, baby? — Mordeu meu queixo e eu gemi.
— Senti muito a sua falta — falei sem fôlego.
— Bom. — Agarrou meu rosto e me beijou novamente. — O cheiro
na cozinha está delicioso. Estou faminto.
— Espero que goste da minha comida.
Animada, fui até as panelas, misturando o molho depois de esquentar
e montei tudo bonitinho na travessa de bambu lindíssima que ele tinha no
armário. Fiquei curiosa para saber quem havia escolhido as louças, se foi
ele ou a irmã. Algumas peças eram parecidas com as que Lanna escolheria
e eu adorava o quanto eram bonitas. Muito chiques. Ele foi lavar as mãos,
serviu vinho nas taças, deixou descansar e quis colocar o prato.
— Está bastante cremoso. Com quem pegou a receita?
— Google ponto com. — Soltei uma risada.
— Insolente. — Puxou meu cabelo e beijou minha boca de um jeito
rude. — Não tem nada para me contar da reunião com a minha mãe?
— Muitas coisas. Só estava te esperando comer e relaxar. A agenda
está lotada…
— Vou dar uma olhada nos seus compromissos, se tiver alguma coisa
que eu não concorde, pedirei que sua presença seja retirada.
— E se sua mãe reclamar?
Ele parou de comer com um olhar de que não se importava. Crispei os
lábios, querendo rir, e tratei de enfiar um monte de comida na boca para não
soltar nenhuma resposta indevida. Os Montgomery que se entendessem, eu
tinha plena ciência de que faria o papel que estava sendo paga para fazer,
porque não gostava de falhar. Toda coisa de controlar e ficar estressado
estava nas mãos de Daniel. Eu não tinha saúde mental para aguentar.
Daniel contou que pesquisou sobre o tratamento de Maria e viu o
nome de um profissional especialista no estado para onde ela se mudou e
marcou uma consulta. Parei com meu garfo no ar, com a boca aberta.
Contei a ele sobre minha relação muito importante com eles apenas uma
vez.
— Nós tentamos. Mesmo com o novo plano de saúde dela. —
Coloquei meu garfo no lugar e limpei a boca. — José, o filho dela, chegou a
viajar para a clínica com ela, tentaram com a secretária e só conseguiram
colocar o nome na lista de espera.
— É uma clínica especializada em tratamentos cardíacos raros e
crônicos, eles têm muita procura, mas eu fiz uma ligação hoje cedo e ela
terá uma consulta na próxima semana.
— Sério?
— Sim, muito sério. Não brincaria com isso. — Ele franziu o cenho.
Afastei minha cadeira, saindo do meu lugar e me sentei em seu colo
sem pedir permissão. Segurei seu rosto e o beijei, com muita gratidão.
Daniel não fazia ideia do quanto Maria era importante para mim e aquele
gesto foi tocante, encheu meu coração de amor. Um pouco tenso porque eu
fiz algo inesperado e sem seu controle, ficou endurecido na cadeira, porém,
beijou-me de volta e me apertou, sem resistir à minha boca.
— Volte para o seu lugar — ordenou e fui correndo.
Nós jantamos e limpamos tudo juntos. Eu lavei e ele secou, guardando
no lugar. Deixei alguns itens dentro da máquina de lavar louça, para tirar
depois e peguei a sobremesa. Daniel foi tomar banho, pediu que o esperasse
na sala e procurei um filme, achando um documentário sobre os bastidores
da Broadway. Quando eu era menina, mamãe dizia que se não tivesse
engravidado, teria conseguido continuar na companhia de dança e eu me
culpava por ter estragado as chances dela ser uma profissional.
Não tinha certeza se Daniel sabia sobre meus tempos de stripper. A
mãe dele afirmou que seria discreta, porque aquilo não era do interesse de
mais ninguém, mas dadas as mudanças, talvez fosse o momento de contar.
— Por que está com essa expressão conflituosa? — Ele voltou para a
sala, somente com uma calça de pijama e os cabelos molhados.
— Tenho que te contar uma coisa que não sei se já sabe, apenas
porque não mencionamos o assunto.
— Conte.
— Sabe que sou uma bailarina, certo?
— Sim. — Ele soou meio óbvio.
— E por um tempo, antes de trabalhar na casa dos seus pais, eu fui
stripper. — Soltei e pela maneira que suas pupilas dilataram um pouco, ele
não sabia. Merda. — Eu nunca dormi com nenhum cliente e também não
fazia dança no colo, meu número era no palco, com a barra e uma
coreografia. Eu usava uma peruca, lentes, maquiagens pesadas…
— E por que está falando sobre isso somente agora? — Sentou-se no
sofá, um pouco distante. Queria pegar sua mão e sentir que meu passado
não iria arruinar tudo.
— Achei que sua mãe tivesse contado e você não queria tocar no
assunto, mas precisava esclarecer.
— Dançou por dinheiro ou por querer um palco?
— Claro que foi por dinheiro. Pelo visto, todas as minhas aventuras
foram por dinheiro. — Abracei minhas pernas, envergonhada, porque
parecia haver um preço na minha cabeça e eu entregava facilmente, mas
não era assim. No fundo, só estava tentando sair da porra do fundo do poço
em que eu nasci.
Daniel ficou quieto, olhando para frente e quis sair da sala. O clima
parecia ter ido embora e me arrependi de ter estragado a noite.
— Não quero que sinta vergonha do seu passado, nem de tudo que fez
para sobreviver. — Ele pegou minha mão e foi me puxando para encostar
nele, como se lembrasse ser importante a conexão física em um momento
de honestidade. — Não vou dizer que gosto disso, porque será mentira. E
eu não quero que dance como uma stripper nunca mais.
— Nem mesmo para você? — Tentei aliviar a tensão e ele finalmente
riu.
— Só para mim. — Beijou meus cabelos. — Então, foi na boate que
você conheceu a mulher que foi morta?
— Ao contrário. Ela me apresentou a boate. — Brinquei com os pelos
de seu peito. — Era meio intrometida, parecia ter boa intenção, mas ela
ficava indo lá em casa querendo que Maria conseguisse um emprego na
casa dos seus pais.
— Contou isso a Adam?
— Sim. Eu contei toda a verdade para a sua mãe e Adam, mas eles
disseram que eu não deveria contar que fui stripper na boate.
— Isso. Não conte a ninguém, Giselle.
Ergui meu rosto, chateada.
— Eu sei que não é uma profissão bonita, mas eu não fiz nada de
mais. Só dançava, simulava sexo, mas nunca…
— Não é isso. — Ele tocou meus lábios. — Podem te incriminar. No
resumo, sua ligação com a mulher é mais do que um contato na vizinhança.
Ela sendo namorada de um dos suspeitos e você, uma funcionária…
— Eu?
— Precisa deixar de ser inocente, baby. — Daniel colocou meu cabelo
atrás da orelha. — No jogo político em que estamos envolvidos, com tanto
dinheiro rolando, as pessoas são capazes de tudo.
— E por que vocês acreditam em mim?
— Não posso responder pela minha mãe, ouvi o depoimento dela mais
de uma vez e sei de tudo que ela testemunhou que você passou, mas eu sei
que se soltar qualquer inseto aqui, vai sair correndo feito louca e nem olhar
para trás. — Soltou uma risada. Escondi meu rosto, pensando na crise
histérica que tive por ter achado que vi uma barata na calçada e na verdade,
era uma folha seca virada. — Estou brincando. Gosto de pensar que
conheço as pessoas e uma mulher não ficaria como você ficou depois do
sequestro nem por todo o dinheiro do mundo. Falando nisso, essa semana
você não vai fugir da dermatologista.
Droga. Fiz um beicinho, pensando que ele tinha esquecido. A cicatriz
não me incomodava e eu detestava ficar sendo furada. Meu desejo pela dor
era outro, com um resultado mais divertido.
Capítulo Dezoito
Giselle
Daniel pediu que eu me sentasse de joelhos no centro da sala, porque
ele tinha uma coisa importante para me mostrar. As luzes estavam
apagadas, apenas as velas na mesa ainda queimavam e o cheiro gostoso
dominava o ambiente. Eu mantive minha postura ereta, minhas mãos
descansando nos joelhos e o bumbum nos calcanhares. Meu cabelo estava
solto e ele o prendeu, primeiro fazendo um rabo de cavalo e depois,
enrolando-o no alto. Com meu pescoço livre, deu um beijo.
Parado à minha frente, abriu a palma da mão e ali havia uma chave.
Não era simples, era de uma fechadura diferente e eletrônica.
— Essa é a chave do quarto de jogos, o que eu carinhosamente chamo
de calabouço. Ela fica na gaveta do meu escritório e sempre que te mandar
se preparar e me esperar, quero que fique pronta lá dentro — explicou e
pediu para demonstrar se havia compreendido. Dei um aceno. Com a mão,
me ajudou a ficar de pé. Ele entrelaçou nossos dedos, abrindo a porta e a luz
acendeu automaticamente.
Apoiei a mão em seu ombro, por ainda não conhecer a escada e
conforme íamos avançando, as pequenas luzes acendiam. No último degrau,
toda a sala acendeu e minha boca abriu em choque. Era enorme. Daniel
sinalizou que eu podia ficar à vontade e dei a volta por ele, tocando o tecido
preto da parede, parando em frente a uma cruz, que segundo as minhas
pesquisas, era para me pendurar ali.
Fui até o armário e dei uma olhada nos chicotes, havia vários tipos,
cabos lisos, entrelaçados, tiras soltas de couro, mais finos e mais grossos.
Um parecia uma régua e eu lembrei da sensação daquilo na minha pele,
querendo mesmo esfregar o meu bumbum na área. Já não tinha nenhuma
marca, porém, ficou eternizado na memória. Abri as gavetas, olhando a
seleção de vibradores, plugs anais e outros brinquedinhos.
Liguei um e ele vibrou forte, me fazendo rir. Abaixo, tinha óleos,
lubrificantes, cordas de muitos tipos. Umas pareciam macias, outras nem
tanto. Fiquei fascinada. A cama era grande como a do quarto, havia ganchos
nos tetos, correntes, alguns utensílios que, com um ar divertido, ele precisou
me explicar como funcionavam. Trocamos um olhar e a ansiedade era
mútua.
O banheiro tinha uma banheira maravilhosa, era escuro, criava um
clima gostoso. Daniel me explicou exatamente como tinha que me
comportar ali dentro, que alinhava com o material que havia me dado,
fazendo sentido na minha cabeça. Caí de joelhos onde ele determinou,
aguardando, senti algo frio no meu pescoço e quis tocar. Ele fechou o
pequeno cordão, delicado e com um pingente.
— Esse não é o seu colar, é algo que deve usar todos os dias, porque
em breve, teremos uma aliança — Daniel falou atrás de mim. — A chave
representa que estamos fechados um com o outro. Eu também tenho uma
representação dela para provar que estou disposto a experimentar esse novo
tipo de relacionamento.
— Posso tocá-la, senhor?
Ouvi o som de sua risada.
— Pode sim, baby.
Senti a textura da chave, era pequena e imaginava que fosse bonita.
— Hoje, não vamos jogar. Amanhã temos que sair cedo e quero que
tenha noites de sono completas. — Tocou meu ombro e lutei contra a
decepção. — No entanto, estou me sentindo benevolente. Você poderá fazer
dois pedidos para se ambientar ao quarto antes de irmos para cama. Fique
de pé.
Obedeci e virei de frente, com um sorriso.
— Adoro essa expressão sacana. — Ele foi sincero e para alguém que
não gostava de falar sobre seus sentimentos e emoções, cada elogio dele me
trazia muita satisfação, a sensação de que não estava fazendo aquilo
sozinha.
— Eu quero umas palmadas, como aquelas que fez em Londres e eu
adorei. Depois, eu quero um banho naquela banheira ali, nós dois,
relaxante, com velas e vinho para dormirmos bem.
— Boas escolhas. Vá para o banco, eu vou espancar essa bunda sem
amarrar suas mãos e apenas diga pare se for demais — ordenou e virei-me
com calma, subindo no banco. Como não tinha qualquer experiência, ele
me orientou a como ficar ali da maneira correta para não cair.
Empinei meu bumbum, segurando na barra de apoio e ele subiu meu
vestido, deixando-o cair pelas minhas costas. Com uma tesoura, cortou
minha calcinha. Respirei fundo, me preparando, soltando um gemido com o
primeiro tapa, que foi forte e a ardência trouxe uma queimação de prazer.
Mordi o lábio, aguentando um a um, adorando, controlando a vontade de
empurrar de volta contra a mão dele.
Ao terminar, empurrou um dedo entre minhas dobras, sentindo o
quanto estava molhada e esfregou o suficiente para espalhar pelos meus
lábios. Ele deu um tapa forte por cima, saltei e com seu auxílio, fiquei de
pé. Sua boca tomou a minha, voraz.
— Vá para o banheiro. Eu vou pegar o vinho.
Tirei minha roupa cuidadosamente no balcão, peguei as toalhas no
aparador e deixei mais próximo, ligando o painel. Como era parecido com o
da casa dos Montgomery, consegui temperar a água, mexer nas luzes e
acender as velas. Daniel me colocou dentro com um movimento rápido, me
fazendo rir. Sentei-me na beirada, observando-o se despir, atenta aos
desenhos da tatuagem e vi um pequeno plástico em sua cintura.
— Entre uma aula e outra, você teve tempo de fazer uma nova
tatuagem?
— Eu sou organizado com a minha rotina por um motivo. — Segurou
meu queixo e me beijou, mordendo minha boca. — Abra as pernas. Eu
quero a sua boceta.
Afastei meus joelhos, dando uma boa visão e ele simplesmente tomou
o que quis. Agarrei seu cabelo, mordendo o lábio, arrepiada e com a
espinha ereta com a injeção de desejo que dominou meu ser. Daniel passou
a língua com a pressão perfeita no meu clitóris, chupando-o em seguida e
brincando com a minha entrada ainda não rompida. Era impressionante
como ele conseguia quebrar as minhas barreiras e me libertar.
Nenhum homem foi capaz, eu nunca consegui me entregar, aceitar
uma conexão porque sempre havia algo errado. Mas ele era aquele que
estava preenchendo as lacunas que sempre senti falta. Devorou-me e
explodi em um orgasmo, escorregando um pouco e ele me puxou para
baixo. A água quentinha me saudou com a espuma cheirosa, seus braços
musculosos mantendo-me em um bom lugar.
Ele imobilizou meu rosto, ainda me beijando, e dei um salto com o
toque de seu pênis entre minhas dobras. Agarrando meu bumbum, fez um
movimento de vai e vem. Joguei minha cabeça para trás, ele chupou o outro
lado do meu pescoço com uma risadinha maligna porque sabia que iria
deixar marcas, mas repetiu a mesma chupada nos meus seios.
Pegou minha mão e levou para seu pau.
— Vai me ensinar a fazer isso direito, do jeito que você gosta?
— Sou um ótimo professor, nunca duvide disso — ele gemeu com o
aperto suave que dei. Sem desviar os olhos dos dele, o toquei, assistindo sua
expressão de prazer aumentar cada vez mais. A água atingiu o nível para
começar a bater, me assustando, e ri, voltando para minha importante
tarefa.
Daniel elevou-se e gozou nos meus seios, depois, pediu que limpasse
seu pau com a minha boca.
Nosso banho foi infinitamente melhor do que tinha planejado.
Bebemos vinho, enquanto a água ainda estava quente e ele me fez sentir a
pessoa mais importante do mundo dele. Enrolados em roupões, subimos
para o quarto e quando chegamos, notei que minhas coisas estavam
arrumadas com as dele porque ele quis dessa forma e não contrariei.
— Não quero que acorde e vá para o chão ou a poltrona. Me chame se
começar a ficar desconfortável com a cama — determinou e me entregou
uma camisola.
Fui ao banheiro, passei creme hidratante e perfume, por gostar de
dormir cheirosa. Escovei meus cabelos depois de soltá-los do coque e fiz
uma trança, passando hidratante nos lábios e creme no rosto. Daniel ficou
encostado na soleira, com os braços cruzados, acompanhando meus
movimentos e dei uma olhada nos chupões. Fomos convidados para visitar
Lanna, eu havia me comprometido a ajudá-la e Zachary tinha negócios para
tratar com Daniel.
Combinamos um almoço e Laurel queria que algumas fotos fossem
tiradas para postar nas redes sociais. Eu não usava muito meu perfil.
Primeiro, era alguém da equipe de Sienna que postava tudo, depois, Daniel
quis o controle da conta e ninguém discutiu. Ele deletou algumas fotos,
postou outras e editou legendas enquanto eu mal abria. Aquelas pessoas não
me conheciam e comentavam coisas que me deixavam desconfortável.
Daniel deixou o quarto escuro, eu me cobri e logo peguei no sono.
Podia senti-lo na cama, em alguns momentos nos encontramos e nos
afastamos novamente. Acordei poucas vezes para encontrar a posição
perfeita e voltar a dormir. Acordei antes do despertador, saí da cama de
fininho para não incomodar Daniel e escolhi minha roupa, um vestido sem
mangas, de gola alta, que escondia as marcas do dia anterior.
Deixei meu novo cordão por cima, encontrando jóias similares e fiz
uma maquiagem básica. Ele levantou quando eu já estava pronta. Lanna,
ansiosa, já havia enviado diversas mensagens da mesa de café da manhã
que preparou e disse que Patrick estava com fome, querendo atacar o bolo
de chocolate, para não demorarmos.
— Está pronta? — Daniel desceu, colocando o relógio.
— Sim. — Guardei minha carteira na bolsa. Phillip estava do lado de
fora, esperando contra o carro, ele abriu a porta do banco de trás para mim.
— Bom dia!
— Bom dia, srta. Madero.
— Bom dia, Phillip.
— Bom dia, senhor. A segurança remota já está pronta para
acompanhá-los.
Daniel deu a volta, entrando também. Phillip começou a nos conduzir
com tranquilidade. Mesmo ocupado em seu telefone, Daniel mantinha a
mão na minha coxa, subindo e descendo por baixo do meu vestido. Eu
sentia um arrepio toda vez que o mindinho chegava perto da minha
calcinha. O motorista não tinha uma visão do que estava acontecendo no
banco de trás, mas se tivesse, eu não saberia reagir ao ser observada em um
momento íntimo.
Ele empurrou o tecido da minha calcinha para o lado, dando um
rápido toque no meu clitóris e mordi a boca para me conter. Sorrindo,
satisfeito por me deixar acesa, simplesmente levou o dedo à boca,
chupando, dizendo estar pronto para o café da manhã. Eu queria deitar na
mesa e ser a refeição dele.
— Senhor, coloque o cinto — Phillip pediu, sério, olhando pelo
retrovisor.
Daniel imediatamente me colocou no lugar e prendeu meu cinto, antes
de puxar o dele. Fui instruída a nunca olhar para trás se houvesse qualquer
tipo de perseguição, para não denunciar que a pessoa foi percebida, mas eu
queria muito ver o que fez com que Phillip ficasse em alerta, falasse em seu
comunicador e continuasse dirigindo no modo defensivo.
Eu lembrei do som do vidro quebrando. O disparo que matou Lion. A
maneira que fui tirada do carro e jogada no chão de uma van, o cheiro de
umidade do galpão, minhas roupas molhadas sendo arrancadas pelas
minhas pernas e a faca perfurando meu abdômen para me fazer gritar, por
não ter respondido o que eles queriam e para torturar Laurel mais um
pouco.
Apertei o banco, sem ar, fechando meus olhos. Queria vomitar e sair
correndo.
— Ei, ei! Giselle! — Daniel pegou minha mão, soltando minhas unhas
do couro. — Baby, me ouve. Acalme-se.
— Meu peito dói! — gritei, sem fôlego. — Não deixem que me
levem, por favor, me tirem daqui! — Chorei mais forte.
Daniel soltou o cinto, me colocando em seus braços da maneira que
podia, mas sem me soltar do que me protegeria se o carro batesse. Phillip
pediu para ele retornar ao lugar, como era protocolo.
— Estou aqui e ninguém vai te levar — prometeu Daniel.
O carro entrou na propriedade de Lanna e Phillip, rapidamente
contornando para a garagem, soltei o cinto e abri a porta, correndo para a
lixeira mais próxima e vomitando o pouco que tinha no estômago. Minhas
mãos tremiam tanto que não conseguia me apoiar. Daniel me entregou o
lenço, esfregando minhas costas. Me sentindo fraca, caí contra seu peito. Os
irmãos dele saíram pela porta lateral, agitados e preocupados comigo.
Lanna me levou para seu quarto, pude lavar minha boca e me
desculpar pela maneira que cheguei, por ter perdido o controle.
— Você teve um episódio de estresse pós-traumático. Mamãe teve
dois enquanto estavam em Londres e a terapeuta conversou comigo, sobre
isso ser comum em vítimas de algo tão terrível quanto o que vocês viveram.
— Ela fez uma trança no meu cabelo, entregando lenços para retocar minha
maquiagem.
— A terapeuta conversou comigo também — falei baixo.
— Vai passar, Giselle. — Lanna me deu um abraço.
Ouvimos uma batida na porta, Daniel abriu e nos deu uma olhada.
Lanna saiu, nos dando licença e ele entrou.
— Eu sinto muito.
— Não quero que falte às sessões de terapia — ele determinou e dei
um aceno, me sentindo inútil por não conseguir controlar o que havia
acontecido sozinha. Talvez, o retorno ao depoimento, sermos seguidos,
tenha ativado os gatilhos. — Era um carro da imprensa, não foi programado
por nós, estavam agressivos e Phillip não quis arriscar. Ele fez o certo.
— Sim, fez o certo. Eu é que…
Daniel não falou nada, mas sem jeito, me deu um abraço. Não era seu
momento favorito, muito menos algo que parecia estar acostumado, mas ele
sabia que eu me sentia melhor com um contato íntimo e confortável. Ao
invés de ficar constrangedor, ficou melhor, mais perto, mais gostoso. Ele se
acalmou e eu também. Ergui meu rosto com um sorriso, ele acariciou minha
nuca e me beijou.
Capítulo Dezenove
Daniel
Giselle estava em cima de uma escada, colocando os potes decorados
da minha irmã no alto do armário, com um sorriso no rosto, descalça e
descabelada, do jeito que gostava. Ela estava bem e por esse motivo, voltei
para minha reunião com Zachary enquanto Patrick atiçava nossa sobrinha
no quintal, correndo atrás dela na grama. Leah e Calvin eram os
responsáveis pelo almoço e estavam na churrasqueira, discutindo.
— Elas estão bem? — Zachy quis saber, de seu lugar, atrás do
computador.
— Sim.
— Lanna gosta dela — ele comentou, despretensioso. — Fico feliz
que possam ser amigas. Ainda é difícil para minha esposa perceber que está
sozinha.
— Giselle também não tem amigas, talvez elas possam ficar juntas.
— Percebi alguns olhares entre vocês, é diferente. Estão se
conhecendo melhor?
— Algo como isso. Ela é encantadora. — Fui sucinto.
— Sim, ela é. — Zachy me deu um sorriso e sendo meu amigo há
anos, sabia que eu tinha limites para falar da minha vida. Com isso,
voltamos a focar no trabalho.
Quando meu pai decidiu trabalhar ativamente nas fundações
filantrópicas, focando em uma imagem que gostaria de passar como
político, ele abriu mão de sua posição nas empresas da família. No caso,
minha mãe era a parte muito rica, foi ela que herdou bilhões, e ele, apenas
um homem de boa vida. Até que meu avô faleceu e meu pai, apesar de
todos os defeitos, soube como transformar os negócios em algo muito
maior.
Meu primo e eu éramos os filhos mais velhos e ambos escolhemos
lecionar como profissão. Em uma reunião de família, ficou decidido que as
empresas seriam divididas igualmente por cada herdeiro, nomeando um
administrador, que era eu e um CEO, cargo que ficou com Zachy. Meu
cunhado e eu também abrimos outros empreendimentos juntos. Eu gostava
de dar aulas, mas também me interessava por um monte de coisas e tinha
tempo para todas elas.
Trabalhava mais como um conselheiro, orientando-o sobre quais
caminhos seguir, verificando as contas e claro, controlando muitos aspectos
da família, sem coragem de deixar tudo nas mãos dos meus pais, ou meus
irmãos e eu já teríamos sido vendidos há muito tempo se fosse do interesse
deles.
De vez em quando, ouvia a risada delas. Giselle era serelepe e
implicante. Quando terminamos, encontrei-a dançando ao redor do balcão,
segurando uma colher de pau. Encostei-me na soleira da porta, de braços
cruzados, interessado no rebolar de seu quadril. Minha irmã estava
mexendo na panela, rindo, com os cabelos no alto.
Giselle só parou de dançar quando me viu e as bochechas ficaram
vermelhas. Deixando a colher na mesa, prendeu os cabelos, sem graça.
Lanna riu dela ainda mais.
— Eu vou levar a salada para a mesa. — Pegou a vasilha e saiu
rapidamente. Ela não estava com vergonha de mim e sim de Zachary.
— Ela estava me divertindo porque eu fiquei triste — Lanna explicou,
com a voz doce de sempre. — Acabei de ver que a Collins está grávida.
— Não entendo por que ainda fica triste com essa mulher. Ela foi
desprezível vendendo a notícia da sua gravidez e depois, o sexo do bebê.
Não era sua amiga de verdade, apenas alguém querendo enriquecer às suas
custas. — Eu me aproximei e passei o braço por seus ombros. — Coitada
dessa criança.
— Você é mau.
— Eu sei. Nunca fui conhecido por ser bonzinho e ela tem sorte de eu
não ter conversado com ela usando meus punhos por te fazer chorar. —
Beijei-lhe a testa. Minha irmã me abraçou apertado e voltou para o molho
delicioso que fazia para comermos com a carne.
— Apesar de parecer impossível com as interrupções da Leah, as
carnes estão prontas. — Calvin entrou em casa com um grande tabuleiro. —
Vamos almoçar?
— Patrick! Traz a Annie! — Lanna pediu. Eles estavam molhados,
sujos de grama e vermelhos. — Não vou dar banho nela, se vira em limpar
isso!
Leah e Giselle terminaram de colocar a mesa, organizando os talheres
e guardanapos. Puxei a cadeira de ambas, auxiliando-as a sentar. Leah
apertou minha mão e Giselle sorriu, encantada. Ela sempre ficava afetada
quando eu fazia qualquer coisa para cuidar dela, sem ainda absorver que,
sendo minha submissa, era a peça central e podia sim, ser independente,
brincalhona, uma chefe autoritária, uma mulher dona de si mesma, mas
entre nós, ela era minha chave. Meu sol.
E eu estava disposto a experimentar esse sabor diferente de
relacionamento. No meu antigo noivado, não foi dessa maneira e eu senti
culpa, por não compreender que fui uma peça para um fim. Achei que
Isabel era infeliz pela minha incapacidade de me conectar emocionalmente
a ela como Jamie e Elena conseguiram se encontrar. Ela queria mais, e eu
dei o que podia, mas não era o suficiente. E nunca seria.
Giselle era refrescante. Na mesa com meus irmãos, discutiu com
Patrick por causa das piadas chatas dele, fofocou com Leah sobre a roupa
de uma garota e ajudou Lanna a alimentar Annie, que estava fazendo
bagunça com o prato de comida. Ela era gentil com Calvin e Zachary,
sorrindo sempre que era chamada para um assunto e ficou relaxada, com os
olhos brilhantes, a boca perfeita me atraindo para um beijo.
Depois do almoço, fomos para a sala de televisão com sorvete e
balas.
— Eu queria saber dançar como essa mulher. Olha que incrível a
maneira como ela rebola esse quadril. — Leah apontou para a televisão com
um pouco de inveja.
— É fácil. Posso te ajudar. — Giselle pegou uma colher limpa e
começou a comer. — É o movimento das pernas que ajuda o quadril a se
mover dessa maneira.
— Sério? Me ensina, para que eu possa ensinar outras garotas? —
Patrick entrou no assunto e Lanna jogou uma almofada nele, mandando
parar de ser um porco. — O que foi?
— Um dia, uma mulher vai te pegar pelo laço e não vai soltar — Leah
ameaçou.
— Ela ainda vai nascer, baby. — Patrick bagunçou o cabelo dela e
pegou Giselle bruscamente, o sorvete dela quase caiu e ela reagiu com tapas
nele. — Calma, violenta. Vai, me ensina rebolar.
— Eu também quero! — Leah deixou seu pote na mesinha e puxou
Lanna.
Giselle me deu um olhar apavorado, eu ri e acenei, indicando que
devia se divertir. Eu só não esperava que o efeito da sua aula de rebolar
quase me levasse ao banheiro. Não consegui desviar o olhar, pensando no
quanto conseguia se equilibrar em seus calcanhares, movendo os quadris e
porra, uma sentada dela com vontade ia me fazer gozar em dois segundos.
Lanna e Leah mandaram bem.
Patrick travou a coluna só ao tentar abaixar. Ele sofreu uma lesão
jogando futebol na escola e desde então, a qualquer movimento brusco, ele
paralisava. Sua provocação só me fez ter que levá-lo ao hospital para tomar
uma injeção para finalizar o dia.
— Quer que eu segure sua mão, bebê? — Giselle provocou, parada ao
lado da maca em que ele estava deitado, tomando medicação.
— Eu quero que seja uma boa cunhada e arrume uma enfermeira
gostosa — ele gemeu, sonolento, me fazendo rir. Nem mesmo no leito e
medicado, Patrick sabia o momento de calar a boca.
— Na verdade, vou conversar com seu irmão sobre procurar uma
noiva. Está muito safado — Giselle cochichou.
— Pensei que gostasse de mim. Quando eu me casar, será épico. —
Gesticulou e pegou o colar de Giselle com um risinho. — Ele é chato, mas
tem bom coração — murmurou antes de fechar os olhos e dormir.
— Eu sei. — Giselle piscou para mim, estiquei minha mão e ela a
pegou, sentando-se no meu colo enquanto esperávamos. Não estava
preocupado com meu irmão, ia ficar bem, mas talvez meu pau precisasse de
muita atenção. Estava cheio de tesão, louco para ficarmos na cama apenas
nos divertindo, para ver até onde ela iria com desejo, sem estar tensa com as
ordens no calabouço.
Quando minha mãe chegou, preocupada com Patrick e insistindo que
ele fizesse uma tomografia para verificar a lesão, peguei a bolsa de Giselle
e nos despedimos. Era sábado, minha folga, eu queria ficar nu e trepando
em casa.
Fomos seguidos no caminho de volta, mas eu a distraí mantendo
minhas mãos entre suas pernas, massageando seus lábios por cima da
calcinha. Ela precisou de muita concentração para não gemer, não entregar
o que eu estava fazendo e não abrir mais as pernas, demonstrando estar
sedenta por mais. Assim que abri a porta, esperei que ela passasse, me
despedi de Phillip e acionei o alarme.
— Suba, tire sua roupa e vá para a cama.
Fui atrás, hipnotizado pelo movimento dos seus quadris e em seguida,
sentei na ponta do colchão, olhando-a se despir. Ficando nua, obedeceu meu
comando de dar uma voltinha e riu baixinho com os tapas que acertei em
suas nádegas. Fiz com que ela tirasse minha roupa, primeiro a camisa,
depois a calça. Brincalhona, deu um beijo na tatuagem de chave no meu
quadril ao tirar a cueca.
— Aproveite que está com a boca aí e já sabe o que fazer. De joelhos,
baby. — Agarrei seu cabelo, adorando ver seus lábios ao redor do meu pau.
Giselle manteve os olhos nos meus, me chupando e porra, era uma aprendiz
incrível. Eu não precisei dizer duas vezes e ela me surpreendeu.
Puxei-a pelo cabelo, arrebatando um beijo e a empurrei para a cama.
Afastei suas pernas e mordi entre as coxas, erguendo uma delas para ter a
panturrilha contra meu ouvido. Ela estava molhada e com os dedos,
espalhou a umidade das suas dobras por toda minha extensão enquanto eu
brincava com seu clitóris. Dando tremidas e solavancos, mordeu o lábio,
gemendo, sorrindo de prazer.
— Era por isso que estava com tanta pressa de vir embora? — Ela riu,
se contorcendo. — Ai, meu Deus, isso é muito bom!
— Você quer isso, baby? — Pressionei em sua entrada.
— Muito. — A resposta foi crua e cheia de desejo.
Eu me posicionei melhor, sentindo que seu corpo estava relaxado e
não tenso como todas as outras vezes em que a provoquei ali. Ao ver aquele
olhar determinado e os mamilos arrepiados, peguei dois grampos que
ficavam na minha gaveta e os prendi neles. Giselle me observava com
carinho e recebeu meu beijo com delicadeza, apertando as unhas nos meus
braços conforme eu empurrava meu pau dentro, estocando devagar. No
ápice da dor, puxei os grampos, ainda todo dentro dela.
Giselle gemeu e chupei seus biquinhos vermelhos, endurecidos, sem
parar de meter. Expulsamos os lençóis, travesseiros e deixei um caminho de
gozo em sua boceta inchada.
— Não acredito que isso finalmente aconteceu. — Ela cobriu o rosto
vermelho com uma risadinha e a beijei, maravilhado. Em sua primeira vez,
Giselle confiou em mim, no meu toque e carinho. — Tentei muitas vezes
me sentir relaxada e conectada a alguém o suficiente para poder me
entregar, mas aqui foi do jeito que sempre imaginei.
— Seu corpo sabia o que sua mente ainda não estava preparada.
Abaixei meu rosto, chupando seu mamilo e o puxei entre meus
dentes.
— Gostei dos grampos. Quando tira, dói, mas depois é bom… — Ela
acariciou meu cabelo, beijei-a e rolou para cima de mim, sentando em
minha cintura. — Por cima, parece um desafio.
— Ah, mas você vai. Eu preciso daquela rebolada. — Dei um tapinha
em suas coxas. — Vou te amarrar toda só para que sente no meu pau.
— Um professor sério e refinado, mas no quarto, um safado de boca
suja — Giselle cantarolou e eu ri, segurando seu cabelo e obrigando-a a me
beijar novamente.
Excitado, voltei para dentro dela, segurando seu quadril e mostrei
como fazer. Sozinha e independente, apoiou as mãos no meu abdômen,
entregando-se ao prazer. Eu sabia que ela estava se descobrindo e era uma
delícia ainda maior vê-la se soltar. Encontrou o orgasmo, um espetáculo,
apertando-me e levando meu gozo junto.
Ela caiu por cima de mim, sem fôlego, querendo um abraço. Eu estava
acostumado a evitar contatos que buscassem alguma ligação emocional
durante o sexo, mas ela precisava daquilo para se sentir bem e estava me
policiando em entregar tudo que precisava, não só como minha submissa,
mas como a mulher emocional com quem eu estava me relacionando.
E até que era gostoso senti-la em meus braços, sua necessidade
incansável por todos os meus lados; o dominante, o homem, o professor e o
amigo, que ela cutucava para fora da caverna. Era a versão obscura que
preenchia suas lacunas e a luz que guiava o novo caminho espinhoso que
estávamos trilhando.
Nossos lábios se encontraram, mais uma vez.
Não queríamos parar.
Capítulo Vinte
Giselle
Daniel brincou com os dedos nas minhas costas, fazendo um caminho
bem no centro e descendo novamente, enquanto me ouvia falar sobre um
professor imbecil que tive na faculdade, o único que me deu uma excelente
carta de recomendação. Os demais, me tratavam como uma imigrante latina
que nunca conseguiria nada, esse era o problema de estar em um curso no
qual não havia muitos outros da minha origem.
Ele estava deitado ao meu lado, nu, e eu gostei que não tivemos pudor.
Fiquei surpreendida com o quanto a minha primeira vez foi boa, valeu a
pena esperar (no caso, com ele). Daniel queria ter certeza de que seria
prazeroso, divertido, mesmo com a dor do rompimento do hímen e toda
pressão que eu sentia por perder minha virgindade. Não foi um jogo, nem
uma cena, foi uma coisa nossa e deliciosa.
Não saímos da cama no sábado, depois de ter dado duas vezes, me
aventurei mais uma, fomos tomar banho e ele comprou lámen japonês
porque era um dos meus pratos favoritos. Escolhendo o filme, embolados
na coberta no escuro, ele me disse que aquela era a primeira vez que ficava
acompanhado de uma mulher na cama.
— Por que sempre quis evitar essa parte da sua vida? — Brinquei com
seus dedos, no quarto escuro, apenas o brilho da televisão iluminando-o de
vez em quando. Daniel não me olhou para responder, continuou prestando
atenção no filme.
— Não era que eu quisesse evitar, apenas não senti necessidade. Tinha
submissas nos finais de semana, quando não estávamos no calabouço, ela
fazia as tarefas dela, ficava em seu próprio quarto e eu ocupado com as
minhas coisas.
— Nem mesmo com sua noiva? — Arrisquei, querendo saber do
assunto que parecia proibido. Ele nunca falava sobre ela, nem mesmo a
família. Deitei minha cabeça em seu peito, me aconchegando e sentindo
uma pontada de ciúme ao saber da ex.
— Não. — Daniel começou a acariciar meu cabelo. — Ela vivia no
apartamento dela e eu no meu, tínhamos uns dias para jogar e nos outros,
eram compromissos públicos, o que não nos dava tempo para ter qualquer
tipo de intimidade fora disso. — Olhou para o relógio e beijou minha testa.
— Hora de dormir. Amanhã vamos sair cedo e eu não te quero bocejando
atrás de mim.
Era o primeiro evento público que iríamos juntos nos Estados Unidos.
A família Montgomery tinha uma campanha que focava no apoio às
minorias, porém, a base deles era conservadora e religiosa, por esse motivo,
Daniel e eu iríamos à igreja. Eu não entendia nada sobre, não fui criada
convivendo com pessoas cristãs, mamãe era católica, mas ela não se deu ao
trabalho de me levar para frequentar.
A coitada também não teve tempo. Daniel foi criado na igreja, ele ia
com a avó e tinha um pouco de resistência de frequentar atualmente, deduzi
que seu passado era algo difícil de desvendar. Dormi abraçada com um
travesseiro, sentindo os efeitos de ter feito mais sexo do que deveria na
primeira vez e levantei para tomar um remédio, andando como um pato,
com as coxas queimando.
— Você está bem? — Daniel sentou-se na cama.
— Minha mãe sempre disse que sentar no pau tinha consequências,
pensei que ela estava falando de filhos, mas também precisa de resistência
física — murmurei, bebendo água, terminando de engolir o analgésico.
— Sua mãe certamente estava falando de filhos. — Ele se esticou e
voltei para o meu lugar. — É por isso que não começamos a jogar. Precisa
de treinamento.
— O que quer dizer?
— Vamos treinar o sexo, até que se sinta confortável, assim como
elevar sua resistência corporal para conseguir ficar bastante tempo no
calabouço comigo. — Beijou atrás da minha orelha e eu abri um sorriso. —
Qual é a besteira que vai dizer agora?
— Apenas para ter certeza. Vamos transar bastante para começar a
jogar?
— Sim, safada. Agora, volte a dormir — ordenou e eu bocejei,
fechando meus olhos de novo. Incrivelmente, dormi muito bem, acordei
cedo, me alonguei, corri uma hora na esteira conversando com Maria por
videochamada, enquanto Daniel preparava nosso café e trabalhava ao
mesmo tempo.
Meu vestido para o evento era todo comportado, fechado e clássico,
em tom creme, com um casaco marrom e botas. Prendi meu cabelo, para
dar um ar mais angelical e sofisticado, usando joias discretas e uma bolsa
bonita. Fiz um delineado perfeito. A mulher calma e conservada no espelho
não parecia alguém que pedia uns tapas na bunda e gozou com grampos nos
mamilos.
Daniel colocou a gravata atrás de mim, o tempo todo me olhando,
analisando meus movimentos. Ele estava pecaminoso em um terno cinza,
com colete do mesmo tom, camisa azul e sapatos marrons lustrosos para
quebrar a seriedade do look. Seus cabelos claros estavam penteados para
trás e eu adorava bagunçá-los. Prontos, segurou minha mão, Phillip já nos
aguardava e eu me preparei mentalmente para sermos seguidos, não ter um
surto e fazer o meu papel.
A igreja estava cheia, era um evento especial, atraiu atenção da mídia
por ter muitas pessoas ricas e famosas da cidade, assim como políticos.
Daniel cumprimentou Marcus Sinclair e a esposa, atrás deles, estavam duas
filhas, Jasmine e Snow, ambas bem vestidas e com sorrisos ensaiados no
rosto. Fui apresentada como sua namorada e eles foram simpáticos, mesmo
sendo da oposição.
Subimos a escada e fomos levados para nosso lugar, no alto, como se
fosse um camarote. Abracei Laurel, sentando-se ao lado dela. Thomas
estava mais distante, conversando com um senhor e iria esperar que
terminasse de falar para cumprimentá-lo, ciente de que cada movimento,
expressão e postura corporal eram analisados pela mídia, para dissecar
como funcionava o relacionamento familiar longe das câmeras.
Daniel segurou minha mão, entrelaçando nossos dedos em seu colo,
mantendo-me segura e próxima. Laurel nos deu uma olhada e eu fingi ler a
programação. As luzes se apagaram e todos foram orientados a sentar, era
minha primeira vez, mas, por sorte, conhecia as músicas por causa de
Aramita. Ela estava alguns bancos atrás de nós, assim como outros
funcionários. Phillip ficou de pé, no fim do corredor, atento.
Estava lendo o texto da apresentação quando senti estar sendo
observada. Poderia ser qualquer pessoa. Desviei meu olhar do papel e parei
em um par de olhos que, infelizmente, conhecia. Isabel. Ela estava com os
pais, usando branco, cabelos presos, parecendo com o mesmo propósito que
eu: ser angelical e perfeita. Eu podia imaginar uma matéria comparando
nossos estilos. A diferença, era que eu, com cabelos muito escuros e olhos
castanhos claros, fazia um contraste com ela, loira e de olhos azuis, mas
com trejeitos latinos como o dos pais.
Isabel tocou seu colar e eu tremi.
Ela tinha outro dominante ou aquele era o colar que Daniel deu a ela e
nunca mais tirou, nem mesmo depois do término?
Se fosse a segunda opção, eu tentaria, muito arduamente, não ter um
ataque. Por tudo que li, estudei e até mesmo conversei com Elena, o colar
era uma conexão entre o dominante e a submissa. Uma aliança. A prova de
ligação entre eles, reconhecida por toda a comunidade. E eu… caramba.
Não queria que outra mulher usasse algo referente a Daniel, mesmo que eu
fosse a escolhida para ter não só o colar, como a chave e a aliança.
Enquanto todos cantavam, virei meu rosto suavemente para analisar se
Daniel a olhava e encontrei seus olhos em mim.
— Não faça isso — ele ordenou baixinho e beijou minha bochecha. —
Apenas, não.
Crispei meus lábios, irritada. Daniel não podia me arrancar o direito
de tirar dúvidas. Eu tinha vários defeitos, porém, o maior deles era não
conseguir controlar meu humor quando algo me desagradava. Voltei a
prestar atenção no evento e fiquei quieta na minha, sem olhar para Isabel ou
para Daniel. Laurel conversou comigo baixinho diversas vezes, contou
algumas fofocas e apontou pessoas que eu deveria ser muito simpática se
encontrasse.
No intervalo, quis ir ao banheiro e Phillip o esvaziou para mim,
porque eu não queria encontrar ninguém lá dentro. Ele travou a porta do
lado de fora, retoquei meu batom depois de lavar as mãos e voltei, subindo
a escada, retornei para o assento. Daniel tocou meu joelho, apertando e
querendo que olhasse para ele. Eu sabia que era para saber como estava
com aquela situação e por isso, dei o meu melhor sorriso.
— Vocês estão bem? — Laurel quis saber.
— Claro, estou ótima. — Peguei a bíblia, abrindo onde haviam
ordenado.
Fiquei aliviada quando acabou. Com tantas pessoas querendo atenção
dos Montgomery, acabei ficando ocupada. Quase uma hora depois,
voltamos para o carro e íamos almoçar na casa dos pais dele com o restante
da família.
— Giselle, olhe para mim — Daniel comandou, respirei fundo e o
encarei. — Isabel estará nos mesmos lugares que nós, não pode ficar
irritada toda maldita vez que a vir.
— Eu não fiquei irritada por vê-la, sim, incomodada que fique me
encarando, mas… — Mordi o lábio, torcendo meus dedos. — Quero saber
se o colar que ela usa é de outro dominante ou se é o que deu a ela —
questionei bem baixinho, para Phillip não nos ouvir.
— Sim. Ela se recusou a devolver e nunca o tirou. — Ele foi honesto.
Não era o que queria ouvir. Preferia mil vezes que Isabel estivesse
com outro dominante do que ainda usar o colar de quando eles estavam
noivos.
— Isso não importa para mim emocionalmente. — Daniel buscou
minha mão, apertando meus dedos. — Minha ligação com ela foi rompida,
mesmo que ela ainda use o colar. E não vou falar sobre isso novamente.
— Não importa se não vai falar ou não, estou chateada e não sei como
lidar com isso. — Devolvi com sinceridade também. Ele ficou sério.
— Giselle…
— É tudo que sinto no momento e não posso te esconder isso. Se
existir alguma maneira para que ela pare de usar, eu quero que você dê um
jeito, porque a ideia de outra mulher usando um colar que você deu, em um
momento íntimo, me torce o estômago — murmurei e meus olhos se
encheram de lágrimas. — É estúpido sentir ciúmes da sua ex, porque
acabou, mas ela ainda quer manter uma conexão e é isso que me corrói.
Daniel ficou sério e não falou mais nada. Quando chegamos na casa
dos seus pais, ele não quis disfarçar que estava tudo bem. Taciturno,
escolheu ficar quieto e eu abri um sorriso, cumprimentando a todos,
conversei na sala com Lanna e observei Annie brincar. Por dentro, eu era
um incêndio. Parte do meu ser, queria pedir desculpas e ficar de bem,
porque a distância emocional dele me fazia sentir culpa, medo e dor.
Meu coração apertava em uma necessidade de pular nele, sentir seu
cheiro, ter o colo, a outra parte, estava certa de que deveria me manter
firme. Não era tão bizarro assim ficar enciumada com aquela situação e ele
tinha que resolver. Não aceitaria que protelasse. Daniel ficou com Patrick
no escritório por todo tempo que o almoço estava sendo preparado. Dei um
jeitinho de fugir e fiquei na cozinha com Aramita.
— Se a senhora te pegar aqui, lavando a louça, vai brigar comigo.
— Vai nada. Eu vou sair antes que ela chegue aqui.
— Como está a vida de granfina? — Aramita cochichou, me fazendo
rir, mas o assunto era importante.
— Eu sinceramente não posso descrever. É bom ter dinheiro, mas
também é… difícil. Muitas regras, protocolos, posturas, etiquetas… só
queria comer frango com a mão sem ninguém ficar me olhando torto. —
Sequei minhas mãos ao ouvir saltos se aproximando, peguei uma garrafa de
água e me sentei, fingindo que não tinha feito nada.
— Aí está você! — Laurel abriu as portas da cozinha. — Vem,
chegaram os vestidos novos! Vamos experimentar antes do almoço ficar
pronto!
— Claro. — Fiquei de pé, soprei um beijo para Aramita e fui atrás da
minha futura sogra. Leah já estava no quarto e pegou um modelo para mim,
troquei de roupa e Lanna marcou onde precisava de ajustes.
— Chupões, srta. Madero? — Lanna cochichou e fiquei vermelha. —
Caramba! Meu irmão pega pesado!
— Quieta, garota. — Bati em suas mãos e puxei meu decote, subindo-
o a tempo de Laurel não ver as marcas. Lanna empurrou meu cabelo,
escondendo o do pescoço, nós rimos como duas adolescentes e a mãe dela
não entendeu nada.
Assim que ela deu as costas novamente, Lanna fez uma expressão
safada, fingindo estalar o chicote. E ela nem sabia da verdade. Rindo, cobri
meu rosto, mandando-a parar, mas louca para cair na gargalhada.
Capítulo Vinte e Um
Giselle
Depois do almoço, Daniel não quis fazer a social e não inventou
desculpas para ir embora. Ele simplesmente levantou e disse que Phillip
estava pronto para nos levar. Eu fui junto, afinal, morava com ele. Ficamos
em silêncio no carro e me perdi em pensamentos, brincando com a alcinha
da minha bolsa. Ao chegarmos, fui direto para o quarto, tirei a roupa,
separando o que iria para a lavanderia e descendo com o cesto para lavar
em casa.
Ele foi para o escritório, falando com Zachary por telefone. De
calcinha e camiseta, dei uma geral na casa, separei um cardápio para o
jantar e peguei meu livro.
— Baby, vem aqui — Daniel chamou do escritório. Entrei e parei
perto da porta. — Eu fui treinado para ter essa conversa de outra maneira.
Você estaria de joelhos e por toda insolência do seu comportamento
irracional, ganharia uma punição, mas assim como sei que é irracional o
seu ciúme, também sei que esse tipo de relacionamento é novo para nós
dois. Não temos um contrato. Temos algo a mais, que nos liga, conecta e me
faz sentir uma agonia sem explicação em ficar assim. Eu entendo o que
sente.
— Entende? — Respirei aliviada.
Daniel esticou ambas as mãos, eu as peguei e ele me puxou para si,
para que olhasse em seus olhos. Sua proximidade física me fez arrepiar. Eu
queria me fundir em seus braços e ficar ali para sempre.
— Não me sentiria bem com outro homem fazendo questão de exibir
uma ligação física do passado com você. Mas é isso que preciso que
lembre, eu nunca irei diminuir a importância de qualquer submissa na
minha vida, nem mesmo a Isabel, que por um tempo, foi satisfatória. Só que
nenhuma delas se compara a você, que em dias, me faz ansiar
profundamente viver cada segundo dessa novidade. — Ele segurou meu
queixo, vulnerável pela honestidade intensa que estava compartilhando
comigo. — Nunca mais duvide da minha palavra. Quando disser que não é
importante, não é e ponto final. Essa conversa será muito diferente ao ser
repetida, porque você precisa aprender sobre limites e confiança.
— Ah! Daniel!
Fiquei parada, sem saber como reagir. Sim, eu entendia que precisava
confiar mais nele e isso provavelmente me ajudaria a lidar com o ciúme e a
insegurança de não ser o suficiente, mas ele soube como acalmar minha
ansiedade.
— Sim, você pode me abraçar. — Ele riu e me joguei nele.
Aproveitando que estava perto, deu um tapão forte na minha bunda. —
Hoje, vamos treinar. Suas oscilações de humor por ciúme vão me
enlouquecer e vou te ensinar a controlar isso, assim como confiar. Sei que
precisa me sentir sendo seu integralmente, porque é no seu pescoço que está
a minha chave.
Ainda com a cabeça em seu peito, decidi ser honesta, porque ele
estava se abrindo e eu deveria continuar dando a ele o meu melhor.
— Estou disposta a aprender a me controlar. Eu confio em você, só
não confio nela, no que é capaz de fazer para te ter de volta.
Ele segurou meu pescoço para olhar em meus olhos.
— Por que acha que ela faria qualquer besteira? — Franziu o cenho.
— Se ela sente um terço da loucura que eu sinto por você, o céu é o
limite. — Mordi o lábio, com as bochechas quentes. Daniel encostou a testa
na minha.
— Só a sua loucura me interessa. — Ele me beijou e apertou minhas
nádegas de um jeito rude, me erguendo. — Vá descansar. Teremos quatro
horas intensas no calabouço e eu quero que esteja calma.
— Está bem. — Dei-lhe um beijo e fui olhar o ciclo da máquina para
saber quanto tempo poderia dormir sem deixar as roupas molhadas antes de
colocá-las na secadora.
Eu tinha uma posição favorita na cama e ela dependia do corpo de
Daniel. Ele me segurava à noite, mesmo dizendo que não gostava de ficar
abraçado, mas sempre acordava com seus braços me puxando para perto,
um beijo no ombro, na nuca, trazendo um conforto e segurança que não
tinha antes no meio da noite. Escolhi o sofá e acordei uma hora depois,
tomei banho e separei um conjunto de lingerie bonito.
Antes de descer, arrumei meu material para o dia seguinte e minha
roupa, tentando controlar meu nível de ansiedade em voltar à universidade.
Troquei as roupas de máquina, começando um novo ciclo e fui
surpreendida com um abraço por trás. Daniel puxou meu cabelo, soltando e
murmurou baixinho que eu estava muito cheirosa.
— Gosto disso que está usando, calcinha perfeita para usar o chicote
de régua nesse bumbum arrebitado. — Ele apertou minha nádega. — Desça
e me espere.
Minhas mãos tremiam conforme descia a escada e as luzes acendiam.
Parei no lugar certo, ficando de joelhos, ajeitando minha postura e repetindo
um mantra para não ter um colapso de ansiedade. Umedeci meus lábios,
tendo um estremecer na espinha ao ouvi-lo entrar, usando uma calça caída e
nada mais. Normalmente, ele ficava vestido, mas para termos uma tradição
diferente, escolhemos a seminudez.
Ele foi direto para o armário e só tive seu pé no meu campo de visão.
Tirou alguma coisa que fez um som metálico, mexeu nas gavetas e foi até a
cama. Em silêncio, prendeu meu cabelo no coque, pediu para que eu unisse
meus pulsos na frente e passou as algemas com correntes curtas, fechando-
as com um clique. Em seguida, prendeu outra corrente, um pouco maior e
passou no gancho do teto.
Aos poucos, foi puxando, me erguendo. Levantei e meus braços
ficaram esticados. Em pé, naquela posição, fiquei no escuro e sozinha por
quase uma hora. Meus braços ardiam e meus pensamentos começaram
furiosos, queria gritar, chutar minhas pernas, explodir com raiva e depois,
simplesmente não havia nada. Eu estava sentindo a dor nos braços, porém,
não era o fim do mundo.
Era calmaria.
Daniel retornou para o quarto e colocou um banquinho atrás de mim,
relaxando minhas pernas e o peso. Parado à minha frente, segurou meu
rosto e me beijou. Senti saudades de sua boca, me entreguei e ele rompeu o
beijo antes que estivesse pronta, ainda mantendo-me presa, para ensinar a
terrível lição de controlar meu humor e emoções. Sua provocação com o
vibrador foi a pior parte. Ele começava a me atiçar e parava quando ficava
bom, recomeçando.
— Não seja impaciente. — Daniel mordeu meu ombro. — Quer
gozar? Espere.
Mordi meu lábio, controlando a frustração e fechei meus olhos,
empinando meus seios. Daniel chupou cada um deles, mordendo e
pressionou o vibrador no meu clitóris, massageando. Não consegui segurar
mais. Parando bruscamente, se afastou, rompendo o elo do calor de seu
corpo e o prazer que me destruía. Mordi meu braço, ele me soltou e nos
levou para a cama. Deitei de barriga para cima.
— Frustrada?
— Muito.
— É assim que me sinto quando não confia em mim. — Ele deitou ao
meu lado, passando o indicador entre meus seios, parando perto da minha
calcinha molhada.
— Sinto muito. Entendo agora, mas já disse, confio em você ou não
estaria aqui.
— Tem que confiar que não vou permitir que ela faça qualquer coisa.
— Ele me beijou, deitando em cima de mim e o calor de seu corpo foi
muito bem-vindo. — Eu vou te proteger. Vou cuidar de você hoje e sempre,
não pretendo falhar no meu papel e não irei.
— Acredito em você e estou aqui, entregue, com todo meu coração.
Meus braços estavam doloridos e certamente, quando tivesse outro
ataque impaciente, iria lembrar do tempo que fiquei em pé, esperando.
Prendendo-me no dossel da cama novamente, fui recompensada por ter ido
bem na lição com um sexo espetacular. Daniel me levou no colo para o
quarto, tomei banho e nos preparamos para dormir. Eu estava exausta e
finalmente entendi porque ele disse que precisava de muito
condicionamento físico.
Peguei no sono pesado sem ter os pensamentos corriqueiros antes de
dormir. O despertador tocou cedo demais. Sentei-me na cama, sentindo meu
cabelo embolado no alto, muita vontade de continuar deitada e foi difícil
vencer as cobertas. Daniel se arrumava muito mais rápido que eu, ficou
deitado, se divertindo com meus tropeços pelo closet, bocejando, levei mais
tempo tentando fazer minha aparência ficar apresentável do que realmente
me vestindo.
Desci para preparar meu suco verde.
Daniel levou mais dez minutos para ficar pronto. Dessa vez, ele iria
dirigindo. Como os reitores da universidade sabiam que estávamos em um
relacionamento, não era preciso chegarmos separados, afinal, eu já havia
me formado e integrava o time de pós-graduação. Para ter mais pontos, me
interessava em me tornar auxiliar de algum professor, porque ajudaria no
meu currículo acadêmico.
— Está ansiosa? — Daniel tirou minha mão da boca.
— Um pouco. Eu vou encontrar com alguns dos antigos colegas e não
sei como será a reação deles com todas as mudanças. Não sei se terão
coragem de comentar ou compraram a história que passamos para a mídia.
— Não se preocupe com essas pessoas, elas não fazem parte da sua
vida. — Beijou minha mão e não deixou mais que roesse minhas unhas.
O estacionamento dos professores ficava em um lado mais reservado.
Daniel ia saindo sem se despedir e fiz um pequeno beicinho. Ele voltou e
me deu um beijo, dizendo que nos veríamos no almoço.
— Quer mais um beijo ou ser arrastada até meu escritório?
— Eu só quis um beijinho de despedida. Sei que não está acostumado.
— Vou me acostumar. Não vou dispensar ter meus lábios em você. —
Deu-me mais um e foi para a porta que levava aos escritórios dos
professores e eu, para a sala de reuniões, encontrar com meu orientador de
pesquisa antes da minha primeira aula.
Ainda tendo um tempinho, parei para tomar um café com uma colega,
ela não fez nenhuma pergunta sobre nada do que estava acontecendo nos
tabloides e eu me ative a notícias comuns para não ter nenhuma informação
íntima vazada. No horário, estava pontualmente na sala do meu orientador.
Ele era um senhor com expressão fechada, cabelos grisalhos, lábios
crispados e um ar superior que fez meu interior tremer.
Entreguei meu primeiro material e com sua caneta vermelha, ele foi
riscando, circulando, estalando a língua e lendo em silêncio sem soltar um
mísero comentário para acabar com a minha agonia. Fiquei sentada, sem
demonstrar estar em cólicas e quando acabou, disse que me entregaria um
relatório para conversarmos melhor na próxima reunião e mandou pegar
uma pilha enorme de livros em seu armário para minha leitura.
Meus braços, que estavam doloridos, tremiam com o peso extra e
concentrada para não deixar cair, não tive jeito de parar a tempo de ser
derrubada por outro aluno apressado. Os livros de capa dura caíram fazendo
um estrondo no chão.
— Me desculpe! — Ele abaixou para pegar e eu também. — Estou
atrasado para minha aula e acabei não te vendo.
— Sem problemas, você pode ir. Eu pego tudo.
— Jamais deixarei uma mulher consertando meus erros. — Ele sorriu
e fiquei de pé, com os livros empilhados. — A propósito, sou Wesley, mas
todos me chamam de Wes.
— Está atrasado para nossa reunião, sr. Nilo. — Ouvi a voz de Daniel
atrás de mim. — Oi. Precisa de ajuda com esse peso?
— Sim. Meu orientador acabou de me entregar para estudar.
— Leve o material da minha noiva para o meu carro e volte para nossa
reunião — Daniel ordenou e, sem jeito, Wes pegou os livros e saiu a passos
largos.
— Estalando o chicote tão cedo? — provoquei Daniel com um
sorrisinho. Ele inclinou a cabeça para o lado, com um sorriso pequeno.
— Vá para sua aula e pare de ser simpática com outros homens, ou
sua bunda dormirá ardendo essa noite.
Lutei contra a vontade de rir e perdi a batalha. Virei-me rapidamente e
subi as escadas, para estar na minha próxima aula o mais rápido possível,
visando pegar um lugar na frente. Com meu novo material de estudo, um
notebook muito rápido, gravador e iPad, eu não precisava me preocupar em
ficar com os dedos doendo, precisando anotar tudo no caderno e usar o
computador da biblioteca para pesquisas.
Alguns antigos colegas sentaram ao meu redor e conversamos até o
professor entrar. Ele parecia estranhamente familiar, porém, tinha certeza
absoluta de que não o conhecia além dos vídeos das aulas. Fiquei quieta
para não ser chamada a atenção e cobri minha boca para ocultar o bocejo.
Não era culpa dele, uma aula de exatas era simplesmente meu pesadelo e
com isso, não conseguia prestar atenção como qualquer aula textual.
No final, ele deu uma pausa no slide para outro professor comentar.
Quase pulei na cadeira ao perceber que Daniel e Wes estavam sentados no
lado mais escuro.
— Vou dar a palavra ao meu primo.
Porra. Eu chamei o primo de Daniel de chato e ele sequer falou nada.
Dando-me um olhar de perto do quadro, riu, escorreguei um pouco mais na
cadeira e fingi estar muito interessada.
Capítulo Vinte e Dois
Daniel
Eu queria rir do quanto Giselle parecia mortificada ao ser apresentada
ao meu primo, Tuck, no final da aula. Ele não sabia que minha futura noiva
quase dormia em suas aulas online e provavelmente, não era a única aluna
com dificuldade em exatas que soltava uns bons bocejos. Giselle era ótima
com leitura, sua fluidez e interpretação eram exemplares, mas o orientador
era o mais exigente do corpo docente da universidade. Enquanto ele fizesse
um inferno na vida dela, seria excelente para seu currículo.
Depois de dar minhas considerações na matéria em comum, a turma
foi dispensada e a convidei para almoçar. Combinamos de nos encontrar em
trinta minutos em um restaurante perto, passei no meu escritório, entreguei
novas tarefas para Wesley e peguei minha carteira, telefone, ajustando o
relógio para não perder a hora. Giselle já estava lá quando entrei, seu
sorriso podia iluminar o ambiente e percebi que eu não era o único atraído
por ela como uma mariposa.
Puxei a cadeira, dei um beijo em seus lábios, aprendendo a lição sobre
cumprimentar e despedir porque éramos um casal. Essa parte, demonstrar
afeição, era difícil. Eu entendia afeição de uma maneira diferente, mas ela
precisava dessa conexão e eu não queria romper nosso elo porque, em
alguns momentos, o treinamento físico e mental como minha submissa seria
bem difícil. Era algo novo, transformava minha rotina, mas não me tirava
da zona de conforto de manter tudo sob controle. Tanto que estava muito
animado para a lição daquela noite.
— Não coma demais à tarde. Esteja hidratada, mas não muito —
avisei, pegando sua mão. Ela sorriu e se moveu, ansiosa. Seu olhar
incendiou o meu, causando uma breve tensão de ansiedade.
— Teremos algum jogo hoje? — cochichou, inclinando-se para
frente.
Eu imaginava que seus braços deveriam estar doloridos, assim como o
corpo rígido devido ao tempo em que a deixei pendurada. Pensei que fosse
reclamar em dez minutos. Ela não só aguentou, como não soltou um pio e
se entregou ao exercício, tirando uma lição importante para
compartilharmos depois.
— Não um jogo. Vamos praticar uma posição diferente, com um
brinquedinho e treinar sua resistência. — Encostei meu nariz nos nós dos
seus dedos. — O que achou da sua primeira aula?
Giselle abriu um sorriso encantador.
— Gostei muito, fiz várias anotações e fiquei surpreendida que o
senhor Archibald é seu primo. Ele é filho da sua tia materna?
Suas bochechas coraram. Ela não me questionaria o motivo de não ter
contado, o que tornava tudo ainda mais divertido.
— Sim, de ambos os tios. O irmão do meu pai teve um caso com a
irmã da minha mãe, assim gerou um fruto. Minha prima é do atual
casamento da minha tia. Ela é adolescente e provavelmente, serão
apresentadas no próximo evento de família. No entanto, gostaria de levá-la
a um lugar amanhã, para conhecer meus amigos e participar de um evento.
— Estou curiosa. Como devo me vestir?
— Algo bonito e confortável, não muito fechado. O ambiente fica
bem quente e como gosta de dançar, acho que vai gostar bastante.
— É uma boate?
— Algo como isso. — Fiz mistério de propósito.
— Estou ansiosa.
Sorri e sinalizei para o garçom se aproximar, pronto para fazer nossos
pedidos. Giselle adorou a escolha do prato, devorou a salada verde com
rosbife, algumas frutas, azeitonas, legumes frios e um molho especial da
casa. Eu pedi um sanduíche de pastrame, que era excelente. Um dos
melhores que já havia provado. Depois que a levei até a porta de sua sala,
não a vi mais pelo restante do dia.
Phillip a levou para casa e em seguida, ela saiu para sua aula de ballet
em uma tradicional academia no centro da cidade. Quando cheguei em casa
à noite, estava no banho. Não ouviu minha aproximação e parei na porta do
banheiro, percebendo que estava cantando. Ela tinha uma voz bonita. A
música era em espanhol, romântica, melodiosa e ecoava pelo banheiro.
Entrei, afrouxando minha gravata.
— Está inspirada depois de tanto exercício?
Giselle abriu um sorriso tímido por ter sido pega.
— Desculpe. Estou cheia de adrenalina da aula de jazz — confessou,
terminando de lavar o cabelo. Olhei para seu corpo nu por um longo tempo.
— Chegue para o lado. Eu vou entrar aí. — Terminei de tirar minha
roupa.
Eu ia descobrir uma nova delícia de viver a dois: o famoso banho
compartilhado. Em um relacionamento por contrato, estabelecia limites
rígidos. Minha primeira submissa quis mais e foi um transtorno desconstruir
seus sentimentos românticos por mim ao ponto de que nem mesmo com
Isabel consegui quebrar a barreira. Ela também não era calorosa, aceitando
o papel de submissão e mantendo a distância.
Jamie e Elena me alertavam o tempo todo sobre romper essa barreira
com Giselle se eu realmente planejava algo a longo prazo. E era fácil, ela
entendia os limites. Era cuidadosa e inteligente, focada. Admirava o quanto
conseguia separar seus objetivos pessoais dos nossos, que estavam sendo
construídos. Talvez o treinamento dela não fosse algo ruim para nós dois
como casal. Eu tinha a secreta esperança de que pudesse nos unir de
maneira sólida.
Giselle ficou parada contra o espelho, o cabelo molhado e um pouco
bagunçado caído nas costas, o olhar subiu e desceu pelo meu corpo com
muito desejo. Sorri de lado ao perceber a mudança sutil em seus mamilos, a
troca de peso nos pés e era provável que sua mente estivesse correndo com
muitos pensamentos cheios de tesão.
— Toque-me.
Pegando a esponja, esguichou um pouco do meu sabonete líquido e
fez espuma com as mãos, apontando para o meu peito.
Começando pelos meus ombros, ela me acariciou com a esponja,
lavando meu pescoço, nuca, descendo para meu peitoral, seguindo para os
braços e quando chegou na cintura, tirei a esponja de sua mão. Joguei-a no
apoio e peguei seu pulso, colocando sua palma onde queria. Olhando em
meus olhos, com os lábios entreabertos, tocou-me do jeito que eu gostava.
Eu sabia que se tocasse em sua boceta, descobriria o quanto estava melada.
Já conhecia os sinais de seu corpo.
Agarrei seu pescoço, tomando sua boca, pressionando o suficiente
para sentir a força da minha mão. Giselle gemeu com a língua contra a
minha, os biquinhos dos seios arrepiados contra minha pele, o fogo
crescendo e se alastrando, prestes a incendiar se dependesse dela. Mas eu
parei. Ainda precisava aprender a controlar seu humor e paciência. Uma
lição não foi o suficiente.
Terminei o banho, ciente de que ela escorria frustração em ondas e
estava, sem perceber, com um beicinho nos lábios e um olhar de quem
queria muito gozar. Não ordenei que não se tocasse, queria ver se ousaria
desafiar, se estava entendendo minha mensagem, por isso, deixei no ar que
não era o momento. Vestindo-se, desceu atrás de mim em direção à cozinha.
Eu cresci em uma casa cheia de funcionários, sem privacidade,
sabendo que todas as minhas falhas eram pautas entre eles. Todos viam o
quanto eu era problemático, complicado, alguns ficavam longe e tinham
medo de mim. Por esse motivo, enquanto não fosse inevitável, eu não tinha
ninguém na minha casa. Contratava pessoas de confiança para a limpeza,
fazer compras, manter tudo em ordem e Giselle estava, lentamente,
cuidando do restante.
Enquanto eu cozinhava, observei-a andar de um lado ao outro nos
fundos, pegando roupas, cantarolando e abrindo as capas.
— A lavanderia entregou seus ternos. Acho que aquela mancha não
tem jeito, mas clareou um pouco. — Ela apareceu na cozinha com uma
camisa.
— Foi a maquiagem da minha irmã. Ela deve estar passando barro no
rosto.
— O que farei com ela?
— Leve-a para o armário do calabouço. Será útil lá embaixo.
Aproveite, pegue a quarta corrente da esquerda, na segunda porta e coloque
na cama, assim como um frasco de óleo e lubrificante. Pode escolher —
ordenei e com um rubor nas bochechas, acenou timidamente, girando os pés
em sua fluidez e delicadeza de bailarina.
Observei o rebolar de seu quadril e voltei a cortar as cebolas. Giselle
demorou mais tempo do que o esperado, deve ter se perdido olhando as
correntes ou querendo ter certeza de que estava pegando a certa. Continuei
o preparo do jantar, uma salada com quinoa, procurando manter o estômago
leve para nossas atividades noturnas. Eu tinha que trabalhar no dia seguinte
e por esse motivo, não podia virar a noite fodendo.
Ao retornar, ela me deu um sorriso e perguntou no que poderia me
ajudar.
— Lave as folhas e corte-as em tiras.
Parei atrás dela, tirando seu cabelo do caminho e beijei-lhe o pescoço.
Levantei sua saia fluida, dando um tapa estalado na coxa. Giselle gemeu,
inclinando a cabeça para trás e busquei sua boca, tomando-a em um beijo
furioso enquanto meus dedos exploravam sua boceta. Senti seu corpo
estremecer. Ela ficou quente, dominada, entregue e então, parei. Lambi
meus dedos, deixando-a atordoada.
— Termine o preparo da salada. Eu já volto.
Com ambas as mãos apoiadas no balcão, respirou fundo, tentando
manter um pequeno fio de equilíbrio. Dei as costas, imperturbável com sua
frustração, ajustei meu pau nas calças e desci para preparar o quarto. Eu
queria uma iluminação específica, assim como a música. Dei o tempo
necessário para que ela se acalmasse, subi a escada e encontrei tudo pronto.
Giselle ficou quieta. Ela não estava sabendo lidar com duas negativas
de orgasmo e me diverti com a brutalidade que a faca batia no prato quando
comia. Ela bebeu todo o vinho, o que era algo raro, normalmente dava um
gole ou dois, preferindo água e eu que terminava a taça. Lavamos a louça,
secamos e guardamos em completo silêncio.
— Vá se preparar.
Lutando para não correr, desceu as escadas. Fui para o escritório. A
deixaria esperando por um longo tempo. Parte da minha mente perversa
queria que ela perdesse a paciência, a outra parte, que dormisse, para que
lhe acordasse com umas boas palmadas na bunda. Trabalhei em um texto
com cuidado, respondi e-mails de alguns alunos, sentindo a ansiedade me
consumir e parei, dominando meu interior porque o controle era meu.
Desci a escada devagar. Ela moveu a cabeça sutilmente, querendo
identificar meus passos e andei o mais silenciosamente possível, pegando a
venda e o chicote com o cabo de couro entrelaçado. Sem aviso, me abaixei
atrás dela, prendendo seu cabelo. Segurei seus ombros, apertando em
pontos específicos e ela exalou.
— Hoje será intenso. Pare não será o suficiente. — Arrastei meus
lábios por seu ouvido, mordiscando o lóbulo de sua orelha. — Escolha uma
cor para sua palavra segura hoje.
— Roxo.
Pus a venda em seu rosto, apertando bem o laço.
— Vá para a cama.
Era maldade pedir que ela acertasse o caminho, mas eu só queria dar-
lhe umas boas chicotadas até que o encontrasse. Ficando de pé, virou quase
na direção certa, sem usar as mãos como apoio, deu um passo decidido para
frente, com o queixo e o nariz erguido. Ela errou e acertei a popa de sua
bunda. Deu um saltinho, mudou de direção e encontrou o dossel da cama
exibindo um sorrisinho.
— Vá para o meio da cama, deite-se de barriga para cima com as
pernas esticadas.
Ela me obedeceu e peguei as correntes, prendendo seu tornozelo
direito com o pulso do mesmo lado, repetindo o processo na outra mão. Ela
ficou com os joelhos dobrados, os braços esticados e a boca entreaberta.
Cortei sua calcinha, tirando-a, assim como o sutiã. Sensível a qualquer
mísero toque, sua pele arrepiou com meu contato. Peguei o frasco de óleo,
colocando uma boa quantidade em minha palma, esfregando para que
aquecesse e coloquei a mão entre seus seios.
Sentir o coração acelerado dela fez com que o meu batesse ainda mais
forte. Meu pau reagiu na calça, louco para se livrar da prisão da cueca e
estar dentro dela. Espalhei o óleo por seu corpo lentamente, saboreando
suas reações, hipnotizado pela beleza e ainda mais louco por ela. Esguichei
mais óleo em seu ventre e o assisti escorrer para suas dobras. Toquei o
clitóris e ela gemeu.
Beijei seu joelho, afastando-os ainda mais. Ela ficou bem aberta e
presa na minha frente, a visão era espetacular e perfeita. Impressionante.
Com a ponta do chicote, provoquei sua entrada, causando fricção o
suficiente para seus punhos apertarem. Ela já estava quase no limite, ainda
inexperiente em controlar o prazer e provavelmente, não conseguiria
segurar o orgasmo.
— Não goze — ordenei. Mesmo vendada, ela franziu o cenho e eu
sorri.
Capítulo Vinte e Três
Giselle
Daniel me jogou no fogo do desejo e me abandonou lá. Vendada,
puxei meus braços, o que fez com que as algemas picassem meus
tornozelos, abrindo ainda mais minhas pernas. Ergui meu quadril,
desesperada, precisando de mais e ele me negava o orgasmo. Implorei que
parasse de me torturar. Era demais. Usando o vibrador na minha entrada e,
de vez em quando, o chicote no meu clitóris, ele estava lentamente me
levando ao abismo.
— Não goze. — Deu um estalo com o chicote entre minhas coxas.
— Pare! — gemi, enlouquecida com a tortura.
— Estou apenas começando, bebê. Tenha paciência. — Ele me bateu
novamente e saltei. Um longo gemido escapou dos meus lábios ao ter seu
pau introduzido em minha boceta. Ele começou a me foder lentamente,
apertando todos os meus gatilhos. Eu sentia tudo e, sensível, as lágrimas
ensopavam a venda.
O orgasmo estava sendo construído, mas ele parou antes. Mordi o
lábio, inconformada. Daniel subiu beijos pelas minhas coxas, passando pelo
meu ventre, mordendo minha barriga e provocou meus mamilos com a
língua. Quando soltou a venda, a primeira coisa que vi foi seu belo rosto e
sorri, apaixonada, entregue. Com um igual sorriso, ele me beijou, voltando
a meter. Estar presa deixou tudo mais intenso.
Meu corpo estava em chamas.
— Goze, bebê. Vem no meu pau — ele grunhiu no meu ouvido e me
deixei levar.
Daniel não parava de me foder deliciosamente, o orgasmo me fez
apagar por um instante e voltei à consciência, sem fôlego. Sua boca tomou a
minha com fúria, mordendo meu lábio. Ele lambeu cada lágrima. Soltou
meus pulsos e abracei-o bem apertado, devolvendo o beijo, igualmente
entregue a todo aquele momento mágico. Eu nunca imaginei que seria
possível sentir tantas emoções divergentes ao mesmo tempo.
Ele gozou, mordendo meu ombro. Soltei um gritinho de dor e prazer.
Segurando meu rosto, Daniel esfregou o nariz no meu, satisfeito. Ele sentou
e espalhou seu esperma por toda minha boceta, fazendo uma bagunça que
não me incomodava nem um pouco. Mordi o lábio, observando-o me
limpar, começando seu carinho e cuidado pós-sexo.
Comigo no colo, levou-me para o banho relaxante, fazendo uma
massagem gostosa. Como ele ainda não tinha dito que eu podia falar, fiquei
quieta, apreciando suas mãos suaves em mim. Passando pomada onde ficou
marcado com as amarras.
— Você é perfeita. — Ele acariciou minhas bochechas com os
polegares.
— Obrigada, senhor.
Erguendo-me em seu colo, subiu os três lances de escada até nosso
quarto, pegou meu pijama e me vestiu. Estava esgotada, ainda
estranhamente ligada, com os olhos ardendo e pensando se deveria dormir
ou pular nele novamente. Preferi ficar sem roupa, não estava no clima para
usar um pijama, e ele deitou ao meu lado.
— Por que está me olhando assim?
— Acho que você atiçou meu fogo demais.
— E não dei conta de apagar? Seja sincera.
Soltei uma risadinha, tomando coragem.
— Sim. Estou exausta, quero dormir, aquele soninho gostoso pós-
orgasmo e ao mesmo tempo, quero cair de boca no seu pau, sentar, sei lá.
Pareço ligada na tomada.
Daniel tentou conter a risada e perdeu a batalha, me puxando para um
abraço. Eu bocejei, cansada e fui ninada. Mesmo se quisesse, no nível de
sono que me encontrava seria impossível transar de novo. No entanto, ele
resolveu o problema, me acordando algumas horas depois para uma trepada
espetacular que acalmou minha ânsia. Pela maneira que já estava excitado,
eu não era a única com fogo aceso depois da cena intensa.
Acordei antes do despertador tocar. Meu telefone vibrou com um
lembrete da minha agenda e percebi a data. Senti uma pontada no coração,
sentando-me na cama e prendi o cabelo. Eu tinha motivos para estar feliz,
conquistando coisas que o dinheiro estava abrindo portas no chute, porém,
naquele dia em especial, seria impossível e para sempre. Saí das cobertas,
peguei o roupão de cetim e desci a escada de fininho.
Preparei um chá, colocando açúcar e fui para a janela ver a rua. O
vidro era filmado, ninguém podia me ver ali, enrolei minhas pernas e
assoprei a bebida. Ouvi passos suaves na escada. Daniel tocou minhas
costas, beijando meu ombro e me virei, ele beijou minha boca suavemente.
Ainda mantive meus lábios nos dele, precisando de mais carinho.
— Saiu da cama cedo demais.
— Adiantei o fato de que teria que levantar mesmo assim. —
Esfreguei meu nariz no dele. — Seu café está pronto. Quer ovos?
— Quero que termine esse chá e vá para a cama descansar um pouco
mais.
— Tenho que treinar uma coreografia e farei isso a manhã toda,
depois, vou para a casa da sua mãe. Vai me encontrar lá?
— Venho te buscar para irmos juntos. — Beijou-me novamente e foi
se preparar para o trabalho.
Depois do meu chá, coloquei uma roupa de ginástica, joelheiras e
minhas sapatilhas de meia ponta. Meu top era bem ajustado, assim como o
short, escolhi um dos quartos vazios com o closet espelhado e usei meu
telefone para colocar uma lista de reprodução para me aquecer. Fazer parte
de uma equipe de dança também tinha seus desafios, eu tinha que
apresentar uma coreografia na próxima aula de jazz, já que o professor era
mais divertido e menos tradicional. A de ballet, fazia jus ao nome clássico.
Estava acostumada a ficar longas horas dançando e era determinada o
suficiente a não desistir enquanto não me alinhasse com os passos.
Entretanto, perdi a hora. Ouvi Daniel chegar em casa e corri para o
chuveiro, tirando a roupa suada, pegando o xampu para lavar o cabelo. Ele
entrou no banheiro rindo, abrindo a camisa e deu um belo tapa na minha
nádega molhada sem dizer nada.
— Atrasada, Giselle?
— Jamais, Daniel. — Abri um sorriso, me lavando com rapidez.
Enrolada na toalha, escovei meu cabelo e fiz uns cachos nas pontas.
Escolhi uma calça pantalona, uma blusinha mais fina e um terno bem
ajustado, bastante feminino, com saltos altos. Laurel nos convocou para
uma reunião. Parei na frente do espelho, depois de me maquiar, e toquei o
pingente de chave no meu pescoço. Enquanto estive dançando, não parei
para pensar, mas ali…
— É a segunda vez que te pego pensativa com um ar triste hoje. O que
está acontecendo que não compartilhou comigo? — Daniel parou atrás de
mim, olhando-me pelo espelho.
— Hoje é o aniversário da morte da minha mãe e eu sempre fico
meio…
— Triste. Acredito que seja uma emoção perfeitamente normal. — Ele
me abraçou por trás, apoiando o queixo em minha cabeça. Assenti, era
chato, um sentimento que nunca iria passar. Eu aprendia a lidar com a
saudade a cada novo ano. — Eu sinto muito que tenha perdido sua mãe tão
cedo, mas se serve de algum consolo, posso compartilhar a chata da minha
com você.
— Laurel? Acho que está bom mantê-la como sogra. — Dei-lhe uma
piscada.
— Vamos, antes que chegue atrasado.
Daniel foi dirigindo, escolhi a música e fui cantarolando. Ele não se
incomodava com meu estilo musical latino, até estava se aventurando,
porque tinha o gosto mais clássico, algo do passado, que eu implicava que
sua alma velha era quem gostava de verdade. Os gritinhos de Annie nos
cumprimentaram. Ela correu para os braços do titio e ele a pegou, beijando
a bochecha gordinha.
— Ainda bem que vocês chegaram! — Lanna surgiu atrás da filha. —
Patrick e Leah estão discutindo desde cedo!
— O que aconteceu? — Daniel quis saber.
— Eu me perdi nos motivos. — Ela revirou os olhos e me deu um
abraço. — Como vai? Está linda nessa calça.
— Sei que tem uma igual. — Pisquei, divertida.
— Eu amo esse modelo — ela cochichou, conspiratória.
Segurando meu braço, andamos lado a lado, com Daniel carregando
Annie. Na sala de estar, Patrick e Leah discutiam sobre a agenda de
eventos, brigando sobre quem iria cobrir o quê. Thomas e Laurel estavam
de óculos, fones de ouvido e assistindo ao que parecia ser uma matéria de
jornal. Zachary lia um livro e Calvin comia bolinhos. Eu nunca imaginei
que ter uma família grande significava que o caos poderia acontecer de
diferentes formas ao mesmo tempo.
Com uma palavra baixa, Daniel acabou com a briga entre os dois
caçulas, entregou Annie para babá e assumiu o controle da agenda. Ele
definiu os novos convites, quem iria fazer o quê, e aonde todos iriam. Ele
era daquela maneira, sempre dominando tudo e organizando da melhor
maneira possível.
— A candidatura será oficial em algumas semanas — Laurel
anunciou, empolgada.
— Como foi a reunião com os apoiadores, pai? — Daniel se
interessou.
— Excelente. Os Vaughn estão na corrida, é claro. Mas, não quer dizer
que vão chegar à faixa final. No entanto, ainda precisamos passar pelas
preliminares — Thomas explicou. — Precisamos de mais apoiadores. Os
financiadores da campanha estão com mais de um na jogada, até porque,
não estão investindo para perder. Apenas precisamos nos reunir com mais
empresários influentes aqui e fora da cidade.
— Vou agilizar meus contatos. — Daniel tirou o telefone do bolso.
— E quando será possível noivar? — Laurel nos deu uma olhada com
os óculos na ponta do nariz. — Imagino que devemos fazer um evento
familiar privado para aguçar bastante a curiosidade do público e liberar as
fotos depois. Talvez um flagra ou outro com a aliança, causar o rumor
certo…
— Estou à disposição. — Encolhi os ombros. Era o motivo pelo qual
estava sendo paga a longo prazo, até conseguir me estabelecer e ser dona do
meu futuro. Era um jogo incerto e perigoso, mas, tudo que tinha em mãos
naquele momento.
— Em duas semanas. — Daniel olhou em sua agenda. — Farei uma
viagem para Chicago. Giselle vai ficar, devido ao cronograma de aulas dela.
No retorno podemos fazer a festa. Quero ter acesso à lista de convidados.
— Sei que vai ter o seu veto. — Laurel riu como se não fosse
novidade a mania de controle do filho. — E quanto à aliança?
— Eu cuido disso — Daniel resmungou.
— Ótimo! — Laurel fechou a agenda e ficou de pé. — Vou pedir para
Aramita servir o almoço. Já comeram?
— Ninguém comeu, mãe. Acha mesmo que eu ia sujar louça vindo
passar o dia aqui? — Lanna brincou. Ela e Daniel trocaram um olhar, rindo.
— E as roupas? Essa é a única parte que eu realmente gosto nesse monte de
eventos.
— Depois de comermos, vamos experimentar os novos vestidos.
Como não havia comido muito pela manhã, devorei minha sopa de
legumes com os pequenos sanduíches. Daniel comeu e me olhou com
diversão, colocando a mão na minha coxa, apertando suavemente. Pelo
reflexo das taças, vi que a mãe dele não perdeu o nosso movimento. Ela
estava sempre com o olhar atento em nós. Em alguns momentos, me
perguntava o que esperava ao ter dois adultos atraentes convivendo na
mesma casa.
Se Daniel e eu não tivéssemos nossos gostos, com toda certeza
também sentiríamos desejo um pelo outro.
A sobremesa foi bolo com sorvete, o favorito de Patrick, porque sua
mãe ainda estava mimando-o depois de ter travado a coluna. Eu vi os
álbuns de fotografia, de quando ele jogava e deveria ser triste para todos a
lesão que o tirou do campo para sempre. Depois do almoço, voltamos para a
sala e senti um pouco de enjoo de tanto que havia comido. Deitei com uma
almofada e Lanna no chão com Annie. Daniel e Zachary chegaram depois,
ele ergueu minha cabeça para sentar e ficou acariciando meu cabelo.
— O que você tem, cunhadinha? — Patrick perguntou e enfiou uma
colher enorme de sorvete na boca.
— Tenha modos — Leah ralhou com ele.
— Estou um pouco enjoada. — Soltei um bocejo.
— Sorte que sabemos que não é um bebê.
Eu dei a língua e fechei os olhos, pensando se era de conhecimento
geral que Daniel não podia ter filhos naturalmente por escolha. Ele pagou
para fazer uma vasectomia, mesmo novo, para poder controlar até mesmo
quando tivesse filhos. Fiquei um pouco chocada, minha boca abriu e fechou
diversas vezes quando me contou, mas pelo menos, estava livre do controle
de natalidade e não me preocuparia com crianças.
Queria ter filhos, um dia, de maneira hipotética. Quer dizer, antes de
tudo mudar, não planejava. Reconhecia os esforços da minha mãe, porém,
não desejava passar pelo mesmo com minha filha ou filho. Era melhor não
trazer uma criança ao mundo do que ter uma para contar os grãos de comida
comigo. Daniel tinha certeza de que queria ter filhos. Ele planejava o
momento em que os teria e até pediu que eu congelasse meus óvulos
também, uma decisão que estava estudando para ter certeza. Era um passo
importante.
— Quer deitar no quarto? — Daniel continuou acariciando os meus
cabelos.
— Não. Estou bem aqui, ouvindo vocês discutindo por qualquer
besteira.
— Ei! — Patrick e Leah se ofenderam.
— Se Giselle, que chegou agora, sabe que brigam à toa, dirá eu, que
convivo com isso todos os dias. — Laurel entrou na sala segurando várias
revistas de noivas. — Vamos ver as tendências para organizarmos o
noivado. Quero que as fotos sejam espetaculares.
Daniel bufou e logo manteve o olhar no telefone. Ele não conseguia
disfarçar o quanto a mania da família em ter a melhor aparência o
incomodava e entendia os motivos pelos quais escolhia o que iria expor,
vivendo, em maior parte, com muita privacidade.
Capítulo Vinte e Quatro
Giselle
Daniel foi se reunir com o pai e o irmão, assim como os cunhados.
Ficamos só as mulheres na sala. Eu me sentei no chão para limpar as unhas
de Lanna, depois de termos pintado as mãos umas das outras, fazendo uma
pequena sessão de spa entre as mulheres. Definimos o cardápio do noivado,
as cores, flores e bastava encontrar o vestido perfeito. Mentalmente, ainda
não estava preparada para ser noiva de ninguém, mas eu era a mulher que
foi escolhida para ser esposa de um homem importante e faria o meu papel.
— Giselle? — Aramita me chamou ao bater na porta. — Um remédio
para enjoo e água fresca com limão. — Deixou a bandeja na mesa com o
copo e um comprimido.
— Ah, obrigada! Já estava passando. Tudo culpa do quanto comi no
almoço. — Eu peguei, sem graça. Ele não deixaria de cuidar de mim não
importando onde estivesse, mas a mãe parecia uma raposa em cima de nós.
— Quem diria que Daniel podia ser fofo com uma namorada? — Leah
comentou.
— Eles não são namorados de verdade. — Laurel alfinetou.
Lanna soltou um bufo.
— Mãe? Ela é gostosa e bonita, acha mesmo que meu irmão não ficou
interessado? Ele é discreto e quieto na dele, mas definitivamente, não é
santo. — Ela começou a rir, me deixando com as bochechas quentes.
Encarei a mesa.
— Não fique com vergonha. Você é infinitamente mais legal e gentil
que a puta da Isabel. Ela parecia um cachorrinho obediente na frente dele,
uma completa cobra por trás. — Leah assoprou as unhas.
— Leah! — Laurel ralhou. — Então, você e meu filho cruzaram as
linhas?
Soltei uma risadinha.
— Já viu o quanto seu filho é bonito? — provoquei. Laurel ficou
vermelha, mas logo riu. — Ele ficou andando de cueca pela casa e aí…
— Daniel não faz nada movido por emoções primitivas. Ele é
completamente focado e se estão juntos, não há nada no céu e na terra que o
impeça de fazer o que bem entende. — Laurel pegou uma nova revista,
começando a folhear. — Mas preciso ter certeza…
— Nós dois sabemos o que estamos fazendo, assim como estamos
cientes dos nossos papéis em tudo — garanti. Podia ver que o lado mãe urso
estava louco para colocar as garras de fora, porém, Daniel não iria permitir.
Ninguém se intrometia na vida dele, nem mesmo a família. Ele estabelecia
limites em todas as relações ao seu redor.
Se eu reclamasse de Laurel, ele não iria tolerar e talvez fosse por isso
que ela não se metia. Ainda queria saber o motivo que todos mantinham a
distância dele. Tinha tudo a ver com o passado conturbado, que uma vez,
ouvi Leah comentar quando ainda era funcionária da casa.
Daniel não quis jantar com os pais. Talvez o seu limite de estar com
muitas pessoas ao redor já tivesse extrapolado. Ele parou em uma cantina
italiana no caminho para casa e pediu pizza tradicional, só com o cheiro,
meu estômago roncou alto. Dei uma espiada, faminta, mordendo o lábio e
contando os minutos para chegarmos em casa. Ele foi pegar o vinho e eu
coloquei os guardanapos na mesa.
— Deliciosa. — Dei uma longa mordida.
— É a melhor da cidade. — Ele limpou meu queixo e sua bocada
levou metade da fatia. — Muito bom.
— Hoje foi um bom dia?
— Todas as reuniões sobre política são bastante exaustivas, muitos
planos que precisam de detalhes alinhados, atenção e cuidado. Meu pai é
muito calculista e minha mãe é mais de ação, um pouco regida pela emoção
também. — Daniel pegou minha mão e entrelaçou nossos dedos. — Eu
tenho algo para você depois de comermos.
— Algo bom ou algo ruim?
— Agridoce, eu acho. — Foi sincero.
Comi mais uma fatia, tomei banho, tirei toda a maquiagem e vesti uma
camisola de cetim, envolvida no roupão do mesmo conjunto. Daniel tomou
banho depois, escovou os dentes e levou sua eternidade no banheiro.
Sinalizou para segui-lo e fomos para a sala de televisão, que estava escura.
Ele ligou e deu play em um vídeo que parecia ser de uma apresentação de
ballet. A música, eu conhecia bem. Estava eternizada em uma caixinha.
Daniel se aconchegou no sofá e me puxou para seus braços para
assistirmos a uma das apresentações da minha mãe. Eu lembrava daquela
em específico, fiquei sentada na coxia, era pequena, segurando minha
boneca de pano favorita, vestida como uma pequena bailarina e admirada
com o espetáculo que acontecia no palco. Ainda morávamos em Nova
Iorque e foi simplesmente perfeito.
Rever aquelas cenas, da visão da plateia, com vários takes dando
ênfase no rosto da minha mãe, me fez chorar de saudades e trouxe um
quentinho ao meu coração. Quando acabou, meu rosto estava tomado de
lágrimas. Daniel passou a mão, secando, subi em seu colo de fininho e
escondi meu rosto em seu pescoço, acalmando a ânsia. Ele foi honesto em
dizer agridoce, amei assistir naquele dia em especial, trouxe dor, mas o
resultado principal foi que amei muito mesmo vê-la.
— Obrigada. Como conseguiu isso? — Funguei, secando meus olhos.
— Antes de te conhecer pessoalmente, eu fiz uma pesquisa sobre sua
mãe. Fiquei curioso, ela dançou nas melhores companhias, mas nunca
conseguiu um bom papel. Imagino que foi pela situação dela no país, certo?
— Nem toda companhia quis ajudá-la no processo burocrático,
ironicamente, o último hotel que trabalhou que deu tudo a ela.
— Era muito talentosa.
— Sim, ela era.
— E você puxou isso dela. — Beijou-me na bochecha e moveu
minhas pernas, fazendo com que montasse em seu colo. — Por que roxo?
— Ele quis saber. Olhei-o, confusa. — Ontem você escolheu roxo ao invés
de vermelho. Não que fosse obrigatório escolher vermelho, mas achei roxo
um tanto peculiar.
Parei para pensar, mordi o lábio e sorri timidamente.
— Roxo me fez lembrar de segurança, acho que associei ao fato de
que você me manteria segura se chegasse ao ponto de pedir para parar.
— E tem algum significado por trás? — Ele tirou meu cabelo do rosto,
colocando os fios atrás da orelha. Olhei para sua boca, louca para beijá-lo.
— Eu acho que tem a ver com meu quarto da infância. Era onde me
sentia segura com minha mãe.
— Entendi. — Daniel relaxou um pouco mais e desceu o corpo no
sofá. Com um sorrisinho safado, soltou o laço do meu roupão, puxando-o e
deixou o tecido cair nos meus ombros. Com o indicador, brincou com a
alcinha fina da minha camisola, levando até o limite e expôs meu seio
esquerdo. Repetiu o mesmo processo do outro lado, e ambos os meus bicos
ficaram arrepiados com seu olhar.
Ele não precisava falar nada. Daniel tinha a chave que ligava minha
excitação. Passou ambos os braços por minha cintura, agarrou-me apertado
e desceu a boca com brutalidade nos meus seios. Deu uma boa chupada
neles e joguei minha cabeça para trás. Suas mãos grandes apertaram meu
bumbum, causando um movimento de vai e vem e continuei sozinha,
aflorando ainda mais desejo por ele.
Levando a mão para nossa ligação entre as pernas, ele abaixou a calça
e eu empurrei minha calcinha para o lado, descendo sobre ele. Rebolei
devagar e nós namoramos no sofá da melhor maneira possível para
dormirmos. Ele me levou nas costas para o quarto, deitamos e depois de
trinta minutos, senti-o me abraçar por trás, enfiando a perna entre as
minhas. No escuro, sorri, acariciando seu braço, voltando a dormir.
Acordei estranhando o quarto estar escuro. Assustei-me ao ver a hora,
sentindo cheiro de café e… pão, talvez? Era sábado, mas nem por isso
precisava sair da cama tarde. O lado de Daniel estava frio. Ele estava em
casa, podia ouvi-lo cantarolar no primeiro andar. Prendi meu cabelo, lavei a
boca e desci a escada, curiosa pelo motivo dele não ter me acordado. Parei
abruptamente na sala de jantar ao perceber toda a decoração diferente.
Daniel saiu da cozinha com uma caneca de café. Seu notebook estava
ligado na mesa, um bolo comido pela metade, sinais de que montou a mesa
e começou a trabalhar ao mesmo tempo.
— Bom dia, linda. — Deu-me um beijo suave. — Descansada?
— Sim. Desligou meu despertador? — Encostei minha cabeça em seu
peito.
— Foram dois dias no calabouço, treinando dança, precisava
descansar. Mesmo que você não se permita, eu permito. — Arrastou os
lábios suavemente na minha testa.
— Dormi bem, estou descansada. Obrigada. — Fiquei na ponta dos
pés e ele me deu seus lábios para poder agradecer corretamente. — O que
são essas flores roxas?
— São para você.
— Elas são lindas. — Fui até um vaso enorme com um mix de flores,
brancas e roxas. Eram perfeitas. — Mas por quê? Você não gosta de nada
colorido e disse para manter as flores claras, de preferência, não reais, por
causa do cheiro.
— Ainda vou encomendar as falsas para manter, porém, roxo é a sua
cor. E aqui é a sua casa, o lugar que sempre vai estar segura — comentou
com suavidade.
— Ah, Daniel! Você é maravilhoso! — Eu me joguei nele, abraçando-
o apertado.
— Não seja exagerada. — Daniel se conteve. — Vem, coma. A
padaria entregou pães frescos cedo e tem bolo de amêndoas com geleia de
maçã. — Ele me levou para a mesa.
O café fresco com todas as delícias que vieram da rua renovaram as
minhas energias para começar o dia bem. Teríamos um jantar na casa de um
empresário muito influente no meio. Era alguém que movia as peças certas
e tinha opinião de peso. Daniel e ele estudaram juntos, não eram próximos,
segundo meu futuro noivo, trocaram socos no passado e se toleravam
adultos durante a faculdade, até que ficaram amigos depois de uma situação
complicada.
Depois, Daniel me levaria para uma surpresa.
Parecia que a nossa rotina em casa seria sempre tranquila. Ele não era
um homem agitado e falador, ficava na dele, lendo, editando textos dos
alunos e pensativo. Eu estudei, depois lavei roupas (um vício), fiz minha
terapia online e conversei com Maria por quase uma hora, colocando todas
as fofocas em dia. Sua nora estava grávida, ela tinha motivos plausíveis
para se dedicar ao tratamento. O médico que Daniel conseguiu atendimento
era realmente bom.
Para o jantar, eu fui como a perfeita dama da sociedade. Roupas
claras, cabelo preso, brincos pequenos e joias delicadas para passar a
imagem certa. Foi tranquilo. Com Daniel ao meu lado e me apresentando a
todas as pessoas, sempre com as mãos em mim, eu sabia exatamente o que
fazer e com quem falar. Posamos para um retrato juntos e foi imediatamente
postado nas redes sociais, causando um pouco de alvoroço no aparelho dele,
com tantas notificações.
Ao retornarmos para casa, fiquei andando de um lado ao outro, sem
saber o que vestir. Depois de se divertir às minhas custas, ele teve pena e
me ajudou a escolher peças. Uma calça preta justa, botas sem salto, uma
camisa branca aberta com outra preta justa por baixo, cabelos soltos e
segundo ele, estava quente, a maquiagem poderia derreter. Eu ouvi seu
conselho, empolgada. O ar misterioso só estava aumentando a minha
curiosidade.
Phillip nos levou, a segurança ficaria distante.
— É uma boate? — questionei ao ver a fila enorme do lado de fora.
— Algo como isso, é mais alternativo, independente. Um estilo
próprio — ele me explicou, segurando minha mão e acenou para o homem
grande que estava na entrada. Uma pulseira vermelha foi amarrada no meu
pulso, assim como uma tag que me liberou para o segundo andar, os
camarotes vips.
— De todos os lugares que imaginei que me traria, aqui não estava na
lista.
— Eu sou uma caixinha de surpresas. — Daniel riu e subimos a
escada.
— Estou percebendo.
Dois casais estavam sentados em uma mesa pequena, com bebidas
espalhadas.
— Limpem tudo que a doméstica acaba de chegar.
Eu pensei que fosse uma piada sobre meu antigo trabalho, mas Daniel
deu um soco no braço do primo, reclamando que a mesa parecia um lixeiro
e ele não iria ficar ali enquanto não organizassem.
— Sabíamos que ia reclamar. Deixamos de propósito. — A mulher riu
e ficou de pé. — Oi, Giselle! Estou feliz em te conhecer! — Ela saiu do
lugar e me deu um abraço inesperado. — Eu sou Anya, esposa do Tuck e
prima por casamento de Daniel.
— Ah, muito prazer!
— Vem, vou te apresentar a todos! — Ela me puxou, fazendo com que
o marido, que implicava com Daniel, ficasse de pé para me cumprimentar.
Fiquei dividida entre rir do meu futuro noivo querendo que o garçom lhe
desse o pano para passar na mesa e perceber que de perto, Tuck e Daniel
poderiam ser confundidos como a mesma pessoa. A diferença era que um
era mais ruivo e o outro, mais loiro.
No caso, Daniel tinha a raiz mais clara que o primo e era mais velho
também, apenas por dois anos.
O outro casal, ele também era professor da universidade e ela
trabalhava na administração. Conhecia ambos de longe. Foram acolhedores,
adoráveis, efusivos, com reações diferentes de Daniel, que sempre era
contido, mas com os amigos, ele exibia ruguinhas de felicidade ao redor dos
olhos e um formato lindo de sorriso nos lábios.
Capítulo Vinte e Cinco
Daniel
Giselle estava no segundo andar e cobriu a boca quando me viu sentar
no piano. A multidão do pub estava gritando, esperando que as músicas ao
vivo começassem e voltei a encará-la, dando pulinhos e erguendo os
polegares. Ri de sua animação, ela não conseguia ficar parada no lugar.
Harper e Anya estavam ao seu lado, Tuck e Gaspar comigo no palco, meu
primo no baixo e o outro no trompete.
Tuck ergueu o braço e ao descer, começamos a tocar. Giselle gritou.
Ela estava quase incontrolável. Continuei deslizando meus dedos pelas
teclas, com a melodia espalhando-se pelo ambiente, a empolgação tomando
conta do meu ser. Havia poucas coisas que eu amava na vida e uma delas
era a música. Era o que me acalmava quando novo, que me uniu ao meu
primo e mais tarde, trouxe outro amigo para minha vida. Nós tocávamos há
muitos anos naquele mesmo bar, desde a faculdade, era apenas uma
brincadeira, porque o dono era nosso amigo.
Giselle dançou todas as músicas, chamando a atenção de vários ao
redor, mas não estava se importando. Ela não queria ser adulada. O olhar,
coração e pensamentos eram meus. Ela não deixava espaço para dúvidas
quando praticamente me comia com os olhos e ao mesmo tempo, divertia-
se com as novas amigas. Eu tinha certeza de que as esposas dos meus
melhores amigos iriam acolher Giselle, porque elas eram do tipo calorosas e
apaixonantes, assim como minha futura noiva.
Meus amigos, por mais íntimos que fossem, não sabiam do meu estilo
de vida privado, muito menos que nosso relacionamento começou como
uma farsa. Eles entenderiam, guardariam segredo, mas assim como muitas
coisas, eu tinha certeza de que quanto menos soubessem, melhor seria para
todos os envolvidos. Privacidade era uma coisa que eu levava muito a
sério.
Tocamos sete músicas antes de Tuck anunciar a pausa. Era comum
cercarem a escada e eu já estava mais do que escolado em fugir das mãos
bobas, dos alunos querendo tirar fotos. Subi rapidamente para o camarote.
Giselle estava na mesa bebendo água, com o cabelo enrolado no alto, sem a
camisa que estava por cima e suada. Cheguei a inclinar minha cabeça para o
lado, precisando acompanhar a curva de seu bumbum.
— Oi, gostosa! — Enfiei minha mão no bolso de sua calça e beijei sua
bochecha.
— Você sempre me surpreende, Daniel Montgomery. Na sua ficha de
marido perfeito, apenas dizia que tocava piano, não que tinha uma banda de
jazz e blues com seus amigos de infância, de um jeito sexy e bem excitante.
— Ficou excitada só de me ver tocar?
— Eu tento ser uma boa menina, mas essa frase de duplo sentido não
me ajuda muito. — Sorriu de lado, me fazendo rir e sem resistir, beijei-lhe a
boca. Seu cabelo soltou, juntei a massa e imobilizei seu rosto.
— Se estivéssemos em casa, essa sua boca esperta estaria ocupada
com meu pau até as bolas — falei baixinho em seu ouvido, mordendo o
lóbulo de sua orelha. Giselle agarrou minha camisa com um olhar afetado.
Se ela estivesse de vestido, minha mente correu por inúmeras ideias de
amarrar seus pulsos com a calcinha, fazendo bom uso do banheiro apertado.
Mas eu queria mostrar a ela que podíamos nos divertir longe dos holofotes,
das regras da minha família e de todo papel que precisávamos
desempenhar.
A maneira doce que ela sempre se comportava na rua era
extremamente apaixonante. Harper e Anya estavam curiosas, elas não
esconderam isso em todas as vezes que me encontraram sem Giselle e
deixaram claro o quanto estavam ansiosas. Elas nunca foram próximas de
Isabel, eu queria que fossem amigas ou, no mínimo, se dessem bem o
suficiente para ter uma convivência harmoniosa.
Dei-lhe mais um beijo, pedindo novas bebidas. Ela não deixou a água
em nenhum momento. Não conseguia se adaptar ao álcool e por mim, tudo
bem. Eu também não era de beber muito, não perdia meus limites e o
controle da minha mente. Um idiota esbarrou nela, machucando-a e eu me
movi um pouco mais bruscamente do que o normal, puxando-a para a
segurança dos meus braços.
— Acho que as pessoas estão mais empolgadas agora que toda a
bebida está fazendo efeito. — Ela sorriu, prendendo o cabelo novamente e
ficou contra a parede, mais segura.
Quem me conhecia superficialmente não era capaz de imaginar minha
paixão pela música. Depois do último set, eu a levei para um show
clandestino, em uma praça discreta. Não contei sobre o que era para manter
o mistério e agradá-la com a surpresa. O olhar que ela deu ao perceber que
era sobre dança, cores e músicas populares cubanas fez tudo valer a pena.
Não era de bom tom sermos pegos ali, por isso ficou de boné, óculos
escuros e um casaco cobrindo seu rosto.
Eu usei um capuz mais pesado, sem óculos. Giselle ficou sentada no
meu colo, sem atrair a atenção para si mesma. Quando chegamos em casa,
estávamos um pouco sujos de tinta e estranhamente, cheios de energia.
Depois do banho e de compartilharmos uma grande garrafa de água, ela
ficou deitada ao meu lado, com as mãos debaixo da bochecha, falando sem
parar e o som melódico de sua voz sempre me trazia uma calmaria
esquisita.
Nunca sentia raiva dela, mesmo quando me deixava maluco com suas
teimosias.
Por toda noite, eu não senti ódio. Meu peito ficou livre da opressão já
muito familiar e por esse motivo, estava fora de órbita.
— Posso confessar uma coisa? — ela questionou baixinho e virei meu
rosto, desviando o olhar do teto do quarto.
— Sim, você pode.
— É impressionante o quanto existem camadas escondidas por baixo
dessa expressão sempre fechada e fria. Você se divertiu com seus amigos,
mas não deixa de ser desse jeito. Fiquei admirada em te ver tocar. As
pessoas pulando e dançando não te faziam sorrir, nem dançar também,
como seus amigos, mas a música, de algum modo inexplicável, te dominou
e te deu um semblante bonito que me deixou ainda mais encantada. Eu quis
subir naquele palco e te beijar. — Ela soltou uma risada bonita. — Acho
que todas as damas naquele pequeno e quente espaço também queriam. Um
homem inacessível, sério, bonitão e charmoso como você, causa bastante
comichão em calcinhas.
Virei-me de lado, ficando de frente para ela e ergui um pouco a colcha
para me aproximar. Seus seios perfeitos estavam de fora e usava apenas
uma calcinha preta de algodão que iria sumir do meu caminho, porque eu a
queria e não iria controlar meu desejo. Entendi o sexo dito comum, fazia
parte do quebra-cabeça de conexões intensas de um relacionamento. Giselle
me deu isso. Eu não estava correndo daquela emoção porque, pela primeira
vez, ela fazia sentido na minha vida. Com quarenta anos, sim, eu encontrei
a resposta de vinte anos de relações sexuais, em que poucas tiveram uma
conclusão emocional.
Tirei a sua calcinha e a minha cueca, ficando entre suas pernas,
beijando-a com todo meu desejo. Ela estava cheia de tesão e ao mesmo
tempo, calma, porque talvez sentisse a mesma paz que eu. Sua boca ficou
inchada com o quanto estava louco, incapaz de parar de beijá-la muito,
metendo gostoso. Ela estava autorizada a me tocar livremente, desceu as
mãos para minha bunda e apertou, com as pernas bem abertas, gemendo
contra o meu pescoço.
Segurei a cabeceira, que batia contra a parede, estocando e seus
gemidos ainda mais altos ecoavam pelo quarto. Gozando, beijou-me e eu
me virei, para que ficassem por cima e rebolasse da maneira que me
enlouquecia. Com as mãos apoiadas na minha barriga, quicou no meu pau,
rebolando e afundei meus dedos em sua cintura, gozando. Giselle caiu sobre
mim, com um risinho bobo.
— Sexo te deixa feliz, minha putinha? — Eu lhe dei um beijo com um
tapa forte na bunda, ela gemeu contra minha boca e por ser safada, apanhou
mais. Não resistia em deixar suas nádegas marcadas. Afastando-as,
pressionei meu dedo em seu ânus, ela olhou em meus olhos. — Estou louco
para afundar meu pau aqui. Tenho uma bela joia para começarmos a
treinar.
Giselle mordeu o lábio, contendo a ansiedade. O dia estava nascendo
quando fomos dormir. Ela apagou com a cabeça no meu peito, a mão bem
acima do meu coração e eu brinquei com seu dedo anelar antes de dormir.
Acordei com o vibrar de seu telefone, era a senhora que minha futura
esposa era afeiçoada e atendi, falando baixo, que Giselle ainda dormia,
apenas para que não se preocupasse. Afinal, Maria era cardíaca e sempre
nos preocupávamos em não lhe causar estresse.
O sequestro de Giselle levou a mulher para a emergência, chegou a
ficar internada por vários dias.
Perto da hora do almoço, acordei novamente, fui ao banheiro e
retornei. Giselle sentou-se na cama, com os cabelos soltos e mamilos de
fora, sem calcinha.
— Eu quero que vá ao banheiro, alivie sua bexiga, escove os dentes e
coloque uma calcinha. Fique de joelhos em frente à cama e aguarde. — Dei
uma ordem.
Sonolenta e um pouco confusa, disse sim senhor baixinho e foi para o
outro cômodo fazer o que pedi. Desci as escadas rapidamente, fechei todas
as cortinas da casa, mantive os alarmes acionados e os telefones no modo
silencioso. Fui ao calabouço, selecionei alguns brinquedos, enfiando-os no
meu bolso e uma corrente especial que estava na hora dela experimentar.
Voltei para o quarto e parei na porta, admirando a beleza dela, de
joelhos, cabelos soltos e o rosto sereno. Ela ficou arrepiada só com a minha
presença.
— Acordei particularmente apaixonado pelos seus peitos. Poderia
viver com minha boca neles, mas decidi que te quero assim, de joelhos,
seios de fora e mamilos estimulados. — Estalei meus dedos e ela ergueu o
olhar. — Sente-se na ponta da cama, abra bem as pernas e segure seus
joelhos.
Obedecendo-me, ficou na posição perfeita. Abaixei-me e beijei sua
boca, provocando a língua, estimulando-a e intensificando meu toque. Seus
biquinhos ficaram atiçados. Segurei um seio e prendi o grampo redondo na
ponta, ajustando a pressão e depois, o outro lado, com uma corrente de
quarenta centímetros. A terceira ponta, prendi em seu colar. Tirei as
bolinhas de massagem, o lubrificante e enquanto puxava as correntes,
beijando-a, provoquei sua boceta.
Ela gemeu, fechou as pernas e bati em sua coxa. Empurrei dois dedos
em sua vagina e ela tremeu, saltando no lugar. Introduzi uma bola, depois a
outra, levando toda a cordinha para dentro e coloquei a calcinha no lugar. O
dia começaria interessante.
— Prepare meu café e sirva.
Andando com um rebolar sensual, soube o momento exato em que as
bolas começaram a fazer seu trabalho quando tremeu e agarrou o corrimão.
Foi até a cozinha, preparou panquecas, ovos, bacon, uma salada de frutas e
serviu com bastante cuidado. Olhei para a comida, contendo minha
expressão para que ela duvidasse se eu estava satisfeito ou não, e sinalizei
para que caísse de joelhos.
Nas primeiras vezes, Giselle não entendeu o movimento, mas depois,
sim. Ela aprendia rápido, o que me enchia de orgulho. Nós conversávamos
muito sobre a dominação e submissão, era uma vida conhecida para mim,
nova para ela. Ter um relacionamento fora de um contrato previamente
estabelecido era novo para nós dois. Eu não estava acostumado a ser um
namorado, mas, ser um dominante transformaria o nosso dia de folga em
algo bastante interessante.
Enquanto comia, dei um puxão nas correntes. Ela conteve o gemido,
fechando os olhos. A dor e o prazer iriam enlouquecê-la.
Alimentei-a também, dando boas colheradas, limpando sua boca e
dando beijos que estavam começando a fazer meu pau se sentir castigado
com os efeitos daquela brincadeira. Mandei que lavasse a louça e deixasse
tudo limpo. Fiquei sentado, de tempos em tempos, acertando sua bunda
com tapas precisos até que começasse a ficar rosadinha. Entrando no
espírito da situação, inclinou-se para colocar as louças na máquina com
uma empinada deliciosa. Eu meteria fundo em sua boceta melada, naquela
posição.
A mancha na calcinha e a forma como estava grudada em seus lábios
encheu minha boca de saliva. Por trás, esfreguei seus lábios, abusando da
fricção do tecido. Giselle quase deixou a vasilha de cerâmica cair e ganhou
um tapa por isso. Estava pronto para a primeira gozada do dia, melhor
dizendo, depois que acordamos. Puxei-a pelas correntes, ela caiu de joelhos
à minha frente e abaixei minha calça com a cueca.
Segurando seu cabelo, soltei um silvo com a primeira chupada. Ela
não desviou o olhar do meu, com o pau até sua garganta, e avisei que queria
ver minha porra em sua língua antes que engolisse.
Capítulo Vinte e Seis
Giselle
Fui acordada com um toque suave nos mamilos e senti algo
geladinho. Abri os olhos e Daniel esfregava uma pomada entre os dedos,
acariciando meus bicos, para se recuperarem depois de um dia inteiro
presos em correntes. Foi delicioso, intenso, pensei que minha mente estava
pregando peças. O sexo alucinante, o tesão que nunca parecia ter fim,
aquelas bolas massageando minha vagina e me deixando maluca… Foi o
melhor dia de folga.
Passamos o domingo em plena calmaria. Fomos à igreja pela manhã,
almoçamos em um restaurante francês com os pais dele e, milagrosamente,
Thomas não quis falar sobre a campanha, eu percebi que tentou ter uma
conversa amigável com Daniel. Eles não eram próximos e eu não sabia se
era pela natureza fria do meu namorado ou se havia acontecido alguma
coisa no passado.
Era nítido o quanto Daniel fazia questão de viver pelas próprias regras
e não pelo que a família acreditava. Laurel era o tipo de mãe que estava
sempre em cima dos filhos, querendo saber de tudo, controlando. Ela tinha
uma relação tranquila com as filhas, mas já havia presenciado embates com
Zachy por se meter na vida de Lanna. Leah ainda era jovem, apesar de dizer
que iria morar com Calvin logo que toda a campanha passasse, ainda
morava com os pais e era normal aquela intromissão.
Muitas coisas sobre a família eram mentiras. Um exemplo, Leah
jurava ser virgem, chegou a usar anel de castidade com Calvin, para
representar os interesses do público conservador. Mas ela não era virgem há
muito tempo. Seria um escândalo se engravidasse fora de um casamento,
puxaria uma carta do castelo de mentiras que os Montgomery montavam.
Nada incomum na alta sociedade. Viver de uma fantasia para agradar o
povo que gostava de hipocrisia.
Existia uma linha tênue entre manter sua privacidade longe do
interesse e criar uma narrativa falsa.
Cocei meus olhos, soltando um bocejo e percebi que havia uma mala
na cama. Sentei-me e fiz um pouco de charme, subindo no colo de Daniel e
me aninhando ali. Ele riu e deitou-se na cama, onde ficamos embolados.
Estava nua, devido às nossas atividades noturnas, raramente acordava com
roupas.
— Vai ficar dengosa porque irei viajar?
— Sim. Nunca ficamos longe um do outro. — Esfreguei meu nariz no
pescoço dele. — O que vai fazer de tão importante mesmo?
— Reuniões de investimentos, um acerto de contas com uma empresa
devedora e ir até uma boate stripper com meu cunhado.
— Stripper? — Ergui o rosto e Daniel sorriu, me provocando. Fiz um
beicinho. — Nada de outras mulheres, Daniel.
— Eu sei, bebê. — Ele me deu um beijo. — Só quero você.
— O tempo todo?
— Todo maldito tempo. — Ele rolou para cima de mim. — Tanto que,
agora, preciso de você. Como vou ficar tantos dias sem essa boca gostosa
na minha?
— Bom saber que vai ficar cheio de saudades. — Dei-lhe um beijo,
envaidecida e apaixonada. Ficamos rindo um com o outro, mas a risada
morreu com o sexo gostoso para começarmos o nosso dia. Mesmo assim,
fiquei de beicinho ao vê-lo se arrumar para sair. Eu dormiria na casa dos
pais dele para não ficar sozinha, por questão de segurança e para que eu não
tivesse nenhuma crise de ansiedade sem ninguém por perto.
A terapia me ajudava o suficiente para saber que eu ficaria com medo
e assumi aquilo sem vergonha alguma. E se alguém soubesse que Daniel
estava fora e resolvesse me sequestrar novamente? A casa dos pais dele era
muito segura. Lanna também dormiria lá com Annie. Leah ficou empolgada
e fez diversos planos, até criando um grupo, onde foi montada uma
programação completa.
— Está tudo pronto para ficar na minha mãe? — Daniel conferiu
minhas coisas.
Sentei-me na pontinha da cama.
— Tenho um armário completo lá, só vou levar essa bolsa, qualquer
coisa Aramita vem aqui buscar. — Puxei o zíper. Ele parou na minha frente
e com uma risadinha, beijei acima de sua braguilha. Daniel agarrou meu
cabelo e riu, beijando minha boca.
— Minha safadinha. — Passou a língua em meu lábio. — Tenho
tarefas para você.
— Tarefas? — choraminguei. Já seria difícil ficar longe, ainda tendo
algumas coisas para fazer tornaria os dias mais longos e chatos.
— Deixei tudo por escrito e acredite em mim, eu saberei se não
cumprir. — Mordeu minha boca, rude, e eu grunhi. — Comporte-se.
— Eu sempre me comporto.
— E eu também quero chamadas de vídeo toda noite.
— Tudo bem. — Segurei seu rosto e olhei em seus olhos. — Eu vou
sentir muito a sua falta.
— É mesmo? — Ele sorriu e desceu a boca para o meu pescoço,
começando a dar um chupão que fez com que meus mamilos endurecessem
contra o tecido grosso da minha camiseta. Ele me encheu de desejo. —
Vamos embora. Vou deixá-la nos meus pais antes de ir para o aeroporto.
Eu não me dei ao trabalho de desgrudar dele, parecia uma mochilinha.
Phillip riu quando não soltei a mão de Daniel nem mesmo para colocar o
cinto de segurança. Laurel e Lanna aguardavam na garagem com Zachary,
eu saí, pegando minha bolsa e meu cunhado entrou. Daniel me deu um
suave sorriso com uma piscada antes do carro sair, fiquei olhando até que
desaparecesse.
— Meninas? Não é um enterro! — Laurel estalou os dedos com Annie
nos braços. — Vamos entrar, bebê.
— Eu nunca fico longe do meu marido, mãe. Dá um tempo. Se não
fosse esse maldito evento no jardim, eu iria com ele. — Lanna ligou o braço
no meu e fomos para a sala de jantar, onde o café vinha sendo servido. Tori
estava colocando frutas, ela nos deu um sorriso e saiu. O comportamento
dela comigo mudou bruscamente, eu não sabia se era porque precisava
manter a distância ou se não estava feliz com a minha mudança de status.
Aramita continuava a mesma, inclusive, nos falávamos todos os dias por
mensagem. Tori pode não ter gostado.
— A despedida foi boa, cunhada? — Patrick passou por mim,
puxando meu cabelo. Toquei meu pescoço, sentindo minhas bochechas
quentes.
Laurel deu uma olhada, arqueando a sobrancelha. Leah e Lanna se
inclinaram, rindo. Enfiei um pedaço de melão na boca, pensando se seria
possível agredi-lo.
— Quem diria que por baixo de tanto mau humor, Daniel teria um
sangue quente — Leah brincou e eu quis afundar na cadeira.
— Pare de deixá-la sem graça — Lanna me defendeu.
— Mas não é motivo para vergonha se eles estão gostando de estar
juntos, não é? É melhor do que serem condenados a um relacionamento
perfeito para o público e um inferno em casa. — Leah me deu um sorriso.
— Assim, vocês podem unir o útil ao agradável.
— Não foi isso que imaginei quando Sienna deu a ideia. — Laurel
crispou os lábios.
— Prefere a Isabel, sogra? — provoquei, com um risinho.
— Deus me livre. Não sabe brincar? — Laurel arregalou os olhos. —
Isso me faz agradecer todos os dias por ela não ser minha nora. E sendo
sincera, enquanto vocês estiverem se conhecendo e aparentando felicidade,
estou bem com isso.
— Ah, que bonitinho! — Eu lhe dei um abraço.
Laurel deu tapinhas na minha mão. Ela era uma mulher difícil, sim,
controladora, determinada, mas o que nós passamos juntas naquele lugar foi
tenebroso e fez com que tivéssemos uma ligação muito forte. Ainda
sorrindo, devolveu o abraço. Voltamos a comer em um clima amistoso.
Apesar de tudo que acontecia nos bastidores, eles se amavam e gostavam de
estar na presença um do outro.
Depois de comer, fui até a cozinha fofocar com Aramita e fugi
rapidamente, antes que alguém reclamasse que estava tomando tempo da
governanta. Conhecia o ritmo da casa e as regras. Usei os corredores dos
fundos para chegar até o quarto de Daniel, que ficava junto aos principais,
na parte da frente. Era enorme. Ele quase não dormia ali, mas a mãe
mantinha um quarto para cada filho sempre pronto.
Desfiz minha pequena malinha, guardei as maquiagens, passei uma
pomada no chupão para que sumisse antes do evento e do aeroporto, ele me
mandou uma mensagem, pedindo uma foto do pequeno corte do meu
mamilo. Foi uma coisinha mínima. Assou e iria curar. Não estava doendo.
Ou ele se preocupava ou era um pervertido. Tirei a foto contra o espelho,
cortando meu rosto e qualquer parte que pudesse me reconhecer e enviei.
“Ainda estou em tempo de voltar e acertar sua bunda com meu cinto”.
Ele enviou quase que imediatamente. Apaguei a foto. “Não mandei que
apagasse. Devolva. Era minha”.
Comecei a rir e finalmente fiz o que pediu, mostrando que meu bico
estava perfeito para outra rodada daquelas. Eu me olhei, pela primeira vez,
sem vergonha nenhuma de quem eu era. Finalmente me entendi como
mulher no quesito sexual e estava muito bem com isso. Não era só a paixão
avassaladora que crescia por Daniel, mas a forma como eu estava me
sentindo livre dentro de mim.
Troquei de roupa para treinar e peguei a lista de tarefas de Daniel. Era
basicamente para manter a rotina que tínhamos em casa; dormindo cedo,
alimentação balanceada e, à noite, nosso momento por chamada de vídeo.
Ele deixou um vibrador e um lubrificante, com um bilhete que era para
quando o tesão batesse e não conseguisse me controlar. Guardei tudo na
gaveta e fui para a academia.
Treinei nos aparelhos com Leah, ela era viciada em malhar a bunda e
me fez ensiná-la alguns exercícios para conseguir tornear mais.
Daniel me ligou pontualmente depois do jantar. Estava no quarto,
enrolada no roupão e ele apenas balançou as sobrancelhas quando me sentei
desleixada e quase mostrei minha calcinha. Nós conversamos sobre o
primeiro dia de trabalho, como foi a viagem com Zachy e ele disse que
tinha que dormir para acordar em algumas horas.
Sozinha, sem ele na cama, fiquei sem sono. Leah bateu na porta do
meu quarto com Lanna e me convenceu a tomarmos um banho na piscina
aquecida. Eu tinha que dormir em trinta minutos e imaginei que um
tempinho na água ajudaria a relaxar. Vesti um biquíni e peguei toalhas,
seguindo-as. Leah roubou um champanhe, suco de laranja e pegamos copos
plásticos para fazer mimosas de qualquer jeito.
— Eu não bebo muito, não precisa exagerar — avisei antes que
enchesse meu copo até a boca. — Tenho que dormir em trinta minutos,
vamos nadar.
— Dormir? A noite é uma criança! — Leah brincou e se jogou na
piscina.
— Annie está dormindo e tenho essas noites para curtir. — Lanna
bebeu toda a mimosa de uma vez só e se jogou na água.
Eu fui mais comedida, dando boas braçadas. Leah colocou música,
deixando um som acústico maravilhoso, me enchendo de energias. Ela riu e
me filmou, movendo meus ombros. Acabei perdendo a noção do tempo. Me
despedi delas dez minutos depois do horário, tomei banho para tirar o cloro
e logo apaguei, com ajuda do álcool e do nado.
Aramita me acordou com café no quarto, porque Daniel avisou a ela
que meu horário de comer era antes de todo mundo.
— Não acredito que ele fez isso — murmurei com vergonha.
— Eu sei que ele está sendo cuidadoso. — Aramita sorriu e deixou
tudo organizado. — Sua roupa para o evento já está passada? Posso
conferir?
— Ela ficou aqui desde que foi entregue e não sei como está — falei
com a boca cheia e engoli rapidamente. — Desculpe.
— Vou olhar no closet de festas, deve estar etiquetada. — Ela saiu e
peguei meu telefone, lendo as mensagens.
Daniel escreveu assim: “Feliz em ser desobediente?”.
Do que ele estava falando? Assim que visualizei a mensagem, o
telefone vibrou.
— Bom dia, Giselle. — Ele soou frio.
— Bom dia. Por que eu estaria feliz em ser desobediente?
— Não sabe?
Droga. Como ele sabia que dormi mais tarde? Será que ficou me
observando pelas câmeras da propriedade?
— Eu apenas fui tomar banho de piscina para me cansar com suas
irmãs e deitei dez minutos mais tarde.
— Foi fora do horário? — Ele estalou e contive minha vontade de
bufar.
— Sim, mas só dez minutos — falei baixinho.
— Dez minutos de atraso é muito para mim. Justamente na primeira
noite que estou longe, você quebrou as regras.
— Sinto muito, Daniel. Estava deitada sem sono e suas irmãs me
convidaram para um banho, sem você na cama, decidi que poderia ir um
pouquinho.
— Nos falamos depois.
Droga. Deixei o aparelho na mesa e perdi a fome. Empurrei meu pote
de salada e saí para me arrumar, porque tinha um evento onde teria que
bancar a mulher perfeita. Daniel definitivamente não podia aceitar erros.
Capítulo Vinte e Sete
Giselle
Daniel estava me dando o tratamento do silêncio e cada minuto era
pura agonia. Para o evento, escolhi um delicado vestido rosa-claro, sapatos
nude e uma clutch da mesma cor. Meus cabelos estavam presos, brincos e
colar de pérolas. Sorri e acenei para o público que chamou atenção e fui
para o lugar que Diana indicou. Ganhei flores dos organizadores e nos
sentamos. Assistimos aos discursos, ouvimos música, comemos vários
pratinhos das barracas e posamos para fotos.
Lanna estava perfeita e muito acostumada com eventos daquele porte.
— Vince e Aurora Vaughn acabam de chegar. Olha como a mídia
corre atrás deles — Lanna cochichou.
— Acha que o Vaughn vai ganhar? — Eu me inclinei para falar bem
baixinho e não ter a chance de que filmassem meus lábios, fazendo uma
leitura labial.
— Não se meu pai continuar fazendo o trabalho certo conforme é
ordenado. Ouvi mamãe dizer que o Vaughn corre com seus próprios planos
e isso irrita os investidores. — Lanna abriu um sorriso para um fotógrafo
que passou pela nossa mesa. — Quero prestar atenção no discurso dele.
Vamos ver de perto?
Saímos juntas da nossa barraca e fomos para mais perto do palco.
Vince viu Lanna e como eles se conheciam, ela deu um aceno. A família
Montgomery foi no casamento deles, Daniel e eu não. Nós estávamos quase
perto de uma árvore, rindo, quando de repente, um som nos deu um susto
pavoroso e uma placa de metal voou em nossa direção. Não deu tempo de
correr. Eu bati em algo duro e rapidamente abri os olhos, vendo Lanna
caindo ao meu lado. Depois, tudo ficou escuro.
Despertei sentindo dor. Não consegui abrir os olhos, só queria voltar a
dormir.
— Por que ela não acordou ainda? — Ouvi a voz de Daniel. — Você
disse que os danos foram controlados e ela estava em situação estável! —
ele vociferou. Não queria que ficasse bravo com ninguém.
— Daniel? — chamei baixinho.
— Oh, graças a Deus! — Ouvi Laurel e senti um toque em minhas
mãos. — Oi, querida. Você consegue abrir os olhos?
— Minha cabeça dói muito — reclamei.
— Calma, bebê. Vai ficar tudo bem — Daniel prometeu, acariciando
minha mão e por algum motivo, era a única parte que ele e sua mãe
tocavam.
Voltei a dormir, ficando consciente de tempos em tempos, cochilando,
e a dor absurda foi diminuindo aos poucos, ao ponto de conseguir abrir os
olhos. Parecia ser noite. Daniel dormia no sofá, coberto com um casaco e as
pernas esticadas. Virei o rosto para o outro lado e a porta estava fechada,
mas podia ver o corredor pela janela. Phillip estava em pé ali, olhando para
frente. Algumas enfermeiras trabalhavam na estação.
— Giselle? — Daniel chamou e voltei a encará-lo.
— Oi. Cadê Lanna? Ela está bem?
Ele saiu de seu lugar, inclinando-se na cama e beijou minha testa.
— Minha irmã está no quarto ao lado. Ela fraturou o braço.
— O que aconteceu? — Lambi meus lábios secos.
— Foi uma explosão. Muitas pessoas gravemente feridas.
— É a segunda vez que estou em um hospital e não gosto disso.
— É a carga de ser uma Montgomery, mas seus exames estão bons. O
impacto na cabeça foi preocupante nas primeiras horas, mas você se curou e
estou feliz por isso. — Ele beijou minha boca. — Não me assuste tanto
assim novamente.
— Eu vou fazer o meu melhor. — Prometi com as lágrimas caindo em
meus olhos.
— Não chore. — Ele beijou-as e secou meu rosto. — Por favor, não
chore. Está sentindo muita dor? O que posso fazer agora?
— Apenas fique aqui comigo.
Daniel olhou ao redor e abaixou a grade da cama, deitando-se ao meu
lado e acalentou meu choro. Deitada nele, mesmo que a enfermeira tenha
dito que não aconselhava aquela posição para minha cabeça, ele me deu o
que eu precisava. Seus braços e conforto. Na manhã seguinte, acordei cedo,
minha cabeça doía menos e até senti fome para comer depois que o médico
me examinou.
Tomei banho, segurando o apoio com medo de cair e já fresquinha,
com uma roupa confortável, voltei para a cama para assistir ao noticiário,
chocada com o horror que havia acontecido. Lanna e eu recebemos alta para
cuidado particular em casa porque estava muito difícil controlar as
informações do nosso estado de saúde, que vazavam o tempo todo para a
imprensa.
Nós fomos recebidas com a sala cheia de flores.
— Estou feliz que esteja bem. — Aramita me abraçou apertado. —
Tentei conter a notícia por causa da Maria, mas ela já sabe e dessa vez,
ficou bem.
— Eu vou ligar para ela Não quis fazer do hospital, estava com uma
aparência muito feia e preocupante. Obrigada por cuidar de tudo.
Aramita me deu um sorriso aliviado.
— Estimo melhoras. — Tori se aproximou com um murmúrio. —
Suco de laranja?
— Obrigada, Tori. Eu não quero nada. — Dei-lhe um sorriso tímido,
sem entender por que ela não estava muito satisfeita comigo.
Daniel me levou para o sofá, colocando meus pés para o alto. Eu ri de
Lanna batendo nas mãos de Zachary, que quase queria dar-lhe o suco na
boca. Laurel ligou a televisão, ficando com o controle abaixo do queixo e
assistimos toda a comoção sobre a família Vaugh. Era lamentável o que
havia acontecido, triste, porém, havia muito sensacionalismo. Leah entrou
na sala mais devagar.
Thomas e Laurel discutiram baixinho no canto. Patrick ficou entre
Lanna e eu, querendo nos mimar, enquanto Daniel lia a prescrição médica
como se quisesse memorizar mais uma vez. Eu observei os pais dele e
fiquei esperando o que iriam dizer.
— O que iremos fazer, mãe? — Patrick quis saber. — Alguma
coletiva de imprensa também?
— Não. Apenas um comunicado sobre o estado de saúde e sairemos
dos holofotes até o noivado.
— Por quê? Os Vaughn estão se aproveitando muito do momento para
fazer política. — Ele contrapôs.
— Existe momento certo para tudo — Thomas disse de maneira
enigmática.
— Não duvide, querido irmão. Papai e mamãe são os melhores na
manipulação da nossa imagem — Daniel murmurou de um jeito seco e lhe
dei um olhar sério. Não era um bom momento para atritos. — Vem, vamos
descansar na cama. O médico disse que deverá repousar pelos próximos
dias e daqui a pouco é hora da sua medicação.
— Daniel está certo. Vamos descansar, baby. — Zachary levantou
Lanna.
Nós quatro subimos, meu quarto estava todo arrumado para que
pudesse descansar, escuro na medida certa e cheiroso. Aramita organizou
minhas coisas de maneira próxima para que não precisasse me esforçar nem
mesmo para pegar um lenço.
— Eu vou tomar um banho. Grite se precisar de mim.
— Estou bem, Daniel. Pode ir tranquilo. — Sorri para o desespero
dele. — Sinto muito que tenha encurtado sua viagem por algo como isso,
mas ao mesmo tempo, meu lado egoísta está feliz de que você está aqui.
— Eu sei disso. Também estava louco para voltar. — Ele se inclinou
na cama e me deu um beijo. — Não deveria ter ido.
— Não temos como prever o futuro, apenas lidar com o presente da
melhor maneira possível. Estou te esperando aqui.
Descansada, enviei mensagens de voz para que Maria ficasse mais
calma, foi um acidente infeliz do destino e que eu tive um final bom.
Poderia ter sido pior. Apenas minha cabeça doía, nada mais. Em poucos
dias, ficaria bem. Peguei no sono antes mesmo de Daniel sair do chuveiro,
abraçada com um travesseiro e acordei praticamente em cima dele. Espiei o
relógio, era meio da madrugada, não haveria chance alguma de que sairia
da cama.
Virando-se de lado, Daniel puxou as colchas e embolou nossas pernas.
Estava chovendo, havia um barulhinho gostoso ao fundo e com o perfume
dele na equação, absolutamente tudo ficava melhor. Meu porto seguro.
Beijei seu pescoço, ele soltou um som profundo de satisfação, apertando
minha bunda e juntos, voltamos a dormir. Eu sabia que não havia nada
melhor do que aquele ninho, ali havia o que precisava: amor.
Acordei cedo, saí da cama de fininho e fui fazer xixi. Estava muito
bem no sanitário quando Daniel entrou de supetão.
— Porra, que susto! — Ele levou a mão no coração.
— O que foi?
— Acordei e não estava na cama.
Revirei os olhos, algo que ele detestava porque dizia ser uma atitude
imatura de uma adolescente. Terminei de me limpar, lavei as mãos, escovei
os dentes e ao pegar o pente, ele o tomou da minha mão e apontou para a
cama. Bufei, fingindo ignorá-lo, mas era impossível ignorar que aquela
presença imponente de Daniel não era inebriante.
— Você desobedeceu minha ordem para dormir, não está repousando
e talvez esteja com a intenção de me irritar profundamente. Vá para a porra
da cama, Giselle. — Ele apontou e tentei não bater os pés. — O médico só
te liberou para continuar descansando. Não pode ficar andando, fazendo
esforço e muito menos de pé por mais de cinco minutos.
— Eu só queria pentear meu cabelo.
— Faça isso sentada — ele rebateu impaciente e foi até o interfone. —
Vou pedir seu café.
— Não vou poder descer para comer com todos?
— Muito esforço ficar perambulando pela escada. — Pegou o
aparelho e falou com a cozinha em seu modo autoritário. Ainda bem que
Aramita estava acostumada.
— Vem aqui, Daniel. — Bati no espaço vazio ao lado da cama. — Se
continuar estressado, vou ficar viúva cedo e não quero isso. Mesmo que
tudo tenha começado por conta de um plano para a campanha, agora eu
quero viver muito tempo ao seu lado.
— Pare de se ferir, assim eu não vou ficar estressado. Se pudesse
pegar quem estourou aquela bomba, eu o mataria com meus próprios
punhos.
— Nada de violência.
A única maneira de mantê-lo calmo e por perto foi fazendo charme e
um monte de drama. Não queria que brigasse com seus pais por ter nos
mandado ir ao evento. Daniel estava com raiva e qualquer motivo era o
suficiente para que sua fúria explodisse. Eu não queria um desacordo.
— Sei o que está fazendo — Laurel comentou quando fingi estar com
dor de cabeça. — Ele vai ficar bem quando se acalmar. — Deu uns tapinhas
na minha mão.
— Se ele ficar pensando nisso o tempo todo, vai explodir e eu não
quero que tenha mais uma discussão com o pai. É desnecessário nesse
momento, não vai mudar nada. A bomba já explodiu. — Encolhi os
ombros, esticando minhas pernas. — Vamos decidir o cardápio de doces do
noivado?
— Sim, vamos.
Eu também estava fazendo de tudo para manter minha mente ocupada.
O que aconteceu ativou um medo surreal de que mais situações bizarras
acontecessem comigo e por esse motivo, foquei todas as minhas energias no
preparo do jantar. Meu vestido era verde, lindíssimo e ficou bem modelado
ao corpo. Parecia ter sido uma excelente ideia sumir do interesse do
público, porque a mídia ficou ainda mais sedenta para saber como
estávamos.
Nossos carros eram seguidos, toda vez que ia ao médico, surgia uma
matéria. Eu tive aulas online, apresentei trabalho por vídeo e quando
retornamos para nossa casa, lentamente, minha rotina foi voltando ao
normal. Com Daniel mais calmo e o médico liberando os treinos, ele não
parou de me perseguir por ser desobediente. Foi só uma maldita vez, poxa.
— Você vai demorar no salão? — Daniel parou atrás de mim enquanto
me arrumava. Colocou as mãos nos meus ombros e me deu um beijo na
bochecha. — Acabei de saber que minha mãe vai também e sei que
mulheres demoram quando ficam juntas.
— Só vou hidratar e cortar as pontas, acredito que não levará muito
tempo. Precisará de mim hoje?
— Sempre preciso de você. — Ele sorriu de seu jeito maldoso. — Na
verdade, quero que volte em duas horas e meia. Tenho uma surpresa para
você e não quero atrasos.
Fiquei bastante interessada.
— Uma surpresa?
— Sim. Vamos ver se ainda lembra sobre como ser uma mulher
obediente.
— Daniel…
— Volte logo — determinou e foi para o escritório.
Na dica, Laurel avisou que chegaria em um minuto. Desci com minha
bolsa, pronta e logo Phillip abriu a porta, com a rua já verificada para a
minha saída e entrada no carro. Nós rapidamente saímos. Daniel enviou a
foto de seu relógio, me fazendo rir. Ele queria me pressionar a não perder a
hora, causar uma tensão, mas eu estava com um humor muito bom para
entrar na pilha dele.
O salão era um dos mais caros e melhores da cidade, frequentado por
todas as madames. Em dez minutos, soube de mais fofocas do que
realmente lavei o cabelo. Troquei um olhar com Laurel, com os ouvidos
atentos, sabendo que a sra. Vaughn não estava muito bem com o marido.
Aquilo, inocente ou não, era uma vantagem e um trunfo na mão de Laurel,
que faria questão de reafirmar aos eleitores o quanto ela e Thomas eram um
único time.
No passado, havia fofocas de que Thomas a traía muito, mas eu não
sabia se era verdade e eles conseguiram soterrar a imagem de marido
traidor para uma de um homem íntegro, devotado à esposa e muito
apaixonado pela família que construiu. Era agridoce saber de tudo que eles
eram capazes de fazer enquanto estava apaixonada por Daniel e ciente de
que me tornaria sua esposa em algumas semanas.
Eu não era uma vítima deles.
Não… ainda. E faria de tudo para não ser.
Capítulo Vinte e Oito
Daniel
Pontualmente, Giselle abriu a porta da frente. Ela estava com os
longos cabelos soltos, cacheados e cheirosos. Havia algo diferente em seu
rosto também e eu não conseguia definir o que era. Deixei meu livro em
cima da mesa e fui em sua direção, acenando para minha mãe no carro e um
vizinho ficou olhando, então, o cumprimentei. Fechei a porta, acionando o
alarme.
— Estou atrasada?
— Por sorte, não. Mas não pense que não será punida pelos seus erros
anteriores.
— Eu vou? — Fez um beicinho. — Sabe, uma bomba explodiu.
— E você já está melhor. Essa bunda precisa lembrar que não pode me
desobedecer em porra de hipótese alguma. — Agarrei sua cintura e ela
derreteu contra mim.
— Hum, estamos agressivos com a palavra hoje? — Abriu um
sorrisinho.
— Me beija — ordenei. Ficando na ponta dos pés, ela me beijou
intensamente, cheia de saudades. Agarrei sua bunda, erguendo-a em meu
colo e com uma risadinha, abraçou minha cintura com as pernas.
Eu fui até a mesa, com ela ainda ocupada com a boca em mim, tão
ocupada que não percebeu a decoração que havia me dedicado muito para
fazer da nossa noite algo diferente. Quando ficou claro que os meus
sentimentos por Giselle eram muito diferentes do que já havia
experimentado antes, refleti muito sobre o que deveria fazer para que tudo
entre nós continuasse trilhando um caminho melhor para o nosso futuro.
Depois do que aconteceu, eu tive certeza de que aquela angústia e
medo de perdê-la significava que meu coração, pela primeira vez, era
morada de uma mulher. Isso me assustava e envaidecia, era simplesmente
um caos dentro de mim. Não sabia para onde correr, nem o que fazer, mas
como um homem adulto e dono de um excelente autocontrole, tomei uma
decisão importante.
— O que é isso tudo? — Ela finalmente percebeu ao redor.
— Nosso noivado privado.
— O quê? — Giselle soltou as pernas e ficou de pé. — Por quê? Uau!
É lindo, Daniel.
— Porque eu posso e quero te pedir em casamento de uma maneira
memorável para nós dois. — Parei atrás dela e beijei seu pescoço. — Sei
que nos unimos por um plano. Mas agora, eu quero que seja real. Quero o
pacote completo.
Giselle virou, com os lábios entreabertos.
— Mas você disse que teríamos alguns limites por causa da…
— Eu sei o que eu disse e também sei que todo limite que um dia
planejei, se esvazia com a nossa rotina. Não sou criança, não tenho medo do
desconhecido e para que dê certo, não posso ser covarde. As relações dão
errado por falta de honestidade e abertura, não quero cometer esse erro com
você. — Segurei sua mão e a puxei para mais perto da mesa. — Quero
você, independentemente do acordo feito com a minha família. Seja minha
esposa e minha submissa.
Ela desviou o olhar para as folhas na mesa.
— Teremos um contrato?
— Leia.
Não era bem um contrato, e sim, um conjunto das regras que já
vivíamos, um compilado de todas as coisas boas da nossa rotina como casal
em todos os aspectos peculiares que nos uniram. Assim como uma nota do
quanto… eu a queria de verdade. Giselle começou a chorar, as lágrimas
molhando as folhas e me olhou com a dor mais bonita e uma paixão
exuberante que me enchia de fôlego todos os dias.
— Você diz sim?
— Eu digo sim. — Ela ofegou, soluçando. — Eu posso emoldurar
isso?
— Mesmo a parte em que eu digo que quero foder sua bunda? —
Arqueei a sobrancelha.
— Principalmente a parte que diz que a minha presença trouxe luz aos
seus dias. — Ela mordeu o lábio, fungando.
— Vai entregar-se a mim sem medo?
— Existe uma pequena parte minha que diz: puxa vida, vocês não se
conhecem! O contrato garante algo diferente, ser real torna tudo ainda
maior. Não podemos fingir, será a nossa vida, mas essa coisinha não é o
suficiente para me manter no lugar. Quero bater asas e voar com você. —
Giselle segurou meu rosto.
— Ótimo. — Sorri contra seus lábios e, beijando-a, coloquei-a em
cima da mesa, enfiando a mão dentro do meu bolso. — Sua aliança.
— Tem pedrinhas roxas… — ela sussurrou, apaixonada. — É linda.
Essa pedra maior é o quê?
Ah, doce inocência. Giselle não entendia nada sobre joias.
— É um belíssimo diamante. Na verdade, todas são pedras preciosas,
minha esposa merece a joia mais cara. As roxas chamam-se ametistas, eu
pedi para personalizar, além do significado na sua vida, elas também trazem
equilíbrio e harmonia. Algo que quero muito para a nossa vida. — Encostei
minha testa na dela, deslizando o anel em seu dedo. Ficou absolutamente
perfeito.
Giselle olhou para a aliança com um sorriso exuberante e depois para
meus olhos. Fiquei encantado com a beleza. Abraçando-a bem apertado,
beijei sua boca, louco para consumar a calmaria que aquele sim trouxe ao
borbulho de raiva que eu vivia constantemente desde que me lembrava
como ser humano.
— Desça dessa mesa, vire-se e empine a bunda. Eu quero que tire suas
calças bem devagar — ordenei, me afastando. Ela ficou confusa, dando-me
um olhar desconfiado pela mudança do meu tom. Saindo com cuidado,
colocou os pés no chão e girou, tirando o cinto primeiro e depois, as calças.
Sua calcinha era pequena, bem enterrada nas nádegas e não me atrapalharia.
— Apoie-se com os cotovelos na mesa.
Tirei do meu bolso uma corda com contas. Ela ia pagar pelos dez
minutos de atraso e uma semana inteira de pura desobediência enquanto eu
me esforçava em cuidar do bem-estar dela, para que melhorasse logo.
— Você vai contar e cada ardência que sentir, vai lembrar que não
deve desafiar minha palavra.
— Vai me punir no dia do nosso noivado? — Giselle guinchou,
ultrajada. Ela estava de brincadeira?
— Eu não estou com disposição para tolerar sua insolência, eu te amo
e avisei que seria memorável.
— Mas… — Ela tentou virar e acertei minha palma na parte posterior
da sua coxa.
— Quieta. Conte e nada mais.
O primeiro acerto fez com que ela tremesse e soltasse um palavrão
baixinho. Abri um sorriso, mirando no lugar seguinte. Ela foi obediente, o
que eu podia considerar um milagre nos últimos dias, contou tudo e não
falou mais nada além do ordenado. Sua bunda ficou em um adorável tom de
vermelho, com as marcas perfeitas das bolinhas e eu abaixei, olhando de
perto, admirado, satisfeito. Beijei cada banda, puxando sua calcinha para
baixo.
Dei um beijo em sua boceta, lambendo os grandes lábios. Giselle
suspirou, sutilmente empinando mais o quadril. Empurrei meu polegar em
sua vagina, deliciado com o estremecer que tomou conta do corpo dela.
Fiquei em pé, atrás de seu quadril, prendi seu cabelo e tirei minha gravata,
passando pelo pescoço delicado e puxando. Eu a mantive com a sufocação
leve enquanto empurrava meu pau naquela boceta molhada em um único
golpe.
Ela chorou. Eu sabia que não me decepcionaria. Seu corpo cantava a
mesma música que o meu. Abriu os olhos e através do reflexo do espelho
decorativo da sala, me deu um olhar ardente. Não parei de fodê-la. Dor e
prazer se misturavam com lamúrias profundas, gemidos agudos e o som da
minha pélvis batendo contra suas nádegas enquanto eu socava fundo meu
pau na sua boceta que me recebia alegre, estava lambuzada, entrei e sai com
força, sentindo sua boceta espremer meu pau, segurei firme sua garganta
enquanto gemia ensandecida, prestes a se entregar.
Giselle gozou e sem querer, derrubou um prato. Ela cobriu a boca e
bati, não mandei que se controlasse. Deixei-me levar em seguida, marcando
toda sua vermelhidão com minha porra.
— Nosso casamento vai durar para sempre — falou baixinho e não
consegui, ri contra seu ombro.
Levei-a para se limpar e depois de trocarmos de roupa, descemos
novamente para comer. Coloquei uma almofada em seu assento para que
ficasse ainda melhor e ganhei um sorrisinho de gratidão. Servi nossa
comida e Giselle, faminta, enrolou a massa com o auxílio de uma colher,
logo enfiando na boca e fechando os olhos como se fosse o sabor mais
delicioso do mundo.
— Nunca me importei muito com comidas chiques, mas essa trufa
negra é simplesmente maravilhosa. — Ela lambeu os lábios. — Está
delicioso. Eu amo quando cozinha para nós. Obrigada.
— Dê-me um beijo e saberei se está realmente grata.
— Muito. — Jogou os braços nos meus ombros. Beijei seu pescoço,
dando uma mordidinha e ela riu. — Sinto muito por ter sido difícil na
última semana. Eu estava me sentindo bem e abusei.
Ganhei um beijo rápido. Ela sabia que estava errada e que foi
particularmente difícil de lidar. Eu tolerei a manha, todo charme, parte era
por querer me ocupar e não causar tensões na casa dos meus pais, mas isso
fez com que ela ficasse cansada, atenta, irritada e um tanto ríspida.
Atrapalhou seu sono, alimentação e na consulta médica, seu ferimento não
estava completamente curado, embora tenha recebido alta.
Seria diferente se me permitisse cuidar dela como era meu dever e não
ficasse preocupada com minhas relações familiares só porque eu estava
com raiva. Era meu direito ficar furioso por ela ter se ferido em um estúpido
evento político em que, inclusive, poderia ter morrido.
— E percebeu que sua rotina ficou completamente alterada, causando
a volta da velha Giselle com humor volátil e emoções à flor da pele?
Suas bochechas coraram sutilmente.
— Sim, mas eu culpei minha menstruação. — Abriu um sorrisinho. O
ciclo dela era leve, gentil, ao contrário das minhas irmãs. Ela ficava meio
emburrada, sonolenta no primeiro dia e nos outros, reagia normalmente.
Apenas duas vezes reclamou de cólicas. Esperava que continuasse assim.
— Eu te disse que é um treinamento. Seu destempero ainda vai te
fazer agredir alguém na rua e não estou brincando. Sei o que é sentir raiva e
não ter controle dela.
— Nunca me vi como uma mulher violenta, mas posso entender que
não é uma coisa do nada, tem um processo, sei que você quer me fazer
enxergar o melhor para mim. Uma das coisas mais difíceis de ter perdido
minha mãe sem uma família por perto, é ter que aprender as situações sem
um exemplo ou alguém para me ouvir. Acho que isso contribuiu muito para
meu humor ruim. — Ela voltou para o seu lugar.
— Não conheci sua mãe, porém, do que fala dela, sei que se esforçou
para que você tivesse uma vida equilibrada, entre ser feliz e ter uma carreira
bem sucedida. No que depender de mim, você terá tudo.
Giselle sorriu e voltou a comer.
— Só para constar: minha bunda está ardendo.
— Eu sei. — Não escondi minha alegria. — E vai arder ainda mais
quando eu começar a brincar com o seu cuzinho.
Ela engasgou, me fazendo rir e dei batidinhas leves em suas costas,
oferecendo um pouco de água.
Mais tarde, na cama, ela deitou de bruços completamente nua bem no
centro, conforme pedi. Amarrei suas pernas nas argolas, na ponta da minha
cama. Nunca as tinha usado antes dela, instalei por interesse, comodismo,
caso acontecesse a oportunidade, mas ela foi a primeira a me fazer levar
qualquer tipo de jogo mais intenso para o quarto (e outros cômodos da
casa). Espalhei óleo por todo seu corpo, acariciando com adoração as
nádegas, distribuindo beijos porque eu amava manter meus lábios em sua
pele e, aos poucos, com a mão besuntada, comecei a massagem entre suas
pernas.
Não estava com pressa, era sobre dar a ela todo prazer e calmaria,
explorando suas dobras.
— Você quer casar comigo?
— Sim. — Saiu um murmúrio baixo.
Toquei um ponto específico e bastante especial em sua boceta.
— Não ouvi, bebê.
— Sim! Meu Deus, SIM!
— Vai ser minha para sempre? — Mordi seu ombro.
— Com todo meu ser — choramingou, me fazendo sorrir.
Meu pau estava louco por ela. Mas com a fome que o encarou quando
ficou de joelhos, eu fui obrigado a empurrá-lo em sua boca. Giselle
alimentava o homem das cavernas dentro de mim com sua insaciável tara
por ele, por mim, pelo sexo incrível que compartilhávamos juntos. Parei-a
antes que gozasse. Mudei para trás, empinando tudo, criando um arco
perfeito com suas costas.
Sua boceta estava melada, escorrendo. Eu não avisei que iria fodê-la
muito forte. Giselle era minha.
Ela disse sim.
Era para sempre.
Capítulo Vinte e Nove
Giselle
Olhei para o jornal com espanto. O anúncio do meu noivado estava
em todo lugar, mas estampar a capa de um dos principais jornais do país era
demais para mim. Minha mão estava no peito de Daniel, exibindo a aliança
ostentosa e nós dois compartilhávamos um sorriso contido, porém,
apaixonado (que era muito verdadeiro) olhando um para o outro. O anúncio
foi feito através das redes sociais dos meus sogros. Daniel postou algumas
fotos alguns dias depois, no auge da comoção e eu dei uma olhada por alto,
ocupada com minhas aulas, sem tempo para fofocar na internet.
Eu tinha uma importante apresentação de ballet da academia, e
precisei treinar ainda mais do que o normal, meus pés ficaram machucados,
a dor me fez mancar por uns dias e a dieta para estar com meu corpo leve
me deu dor de cabeça. Meu corpo era curvilíneo com músculos alongados
como de uma bailarina, meu manequim sempre foi moldado dentro do
biotipo latino e ao mesmo tempo, para poder estar no palco.
Obviamente, nunca seria aprovada em uma companhia extremamente
tradicional. Não era treinada o suficiente, talvez em alguns anos, mas estava
fora da idade ideal. O importante para mim era acumular experiência e ser
classificada para dar aulas. Eu não precisava trabalhar, não faltava dinheiro
na minha conta por causa do acordo e Daniel me dava uma mesada, para
que pudesse manter meus gastos pessoais (o que era muito além do que
realmente precisava).
Eu li o comentário de que eu era uma das mais belas mulheres e que
Daniel tirou a sorte grande em ter uma peça rara nos braços. Aquilo só
podia ser coisa de Diana. A filha de uma imigrante nunca foi importante
antes e agora, todos queriam falar sobre mim.
Deixei o jornal na mesa e prendi meu cabelo, pronta para assistir a um
jogo de futebol amistoso entre a liga juvenil da cidade para a temporada de
ação de graças. Era um evento de grande porte da cidade, reuniria uma
multidão expressiva e Patrick era padrinho de um dos times, por isso toda a
família iria. Exceto Daniel. Ele não explicou por que não queria ir. Preferia
ficar em casa trabalhando.
— Essa calça está muito justa. — Ele passou por mim e deu um
aperto. — Acho que vou te obrigar a ficar em casa. — Enfiou as mãos
dentro da minha blusa, apertando meus seios.
— É importante para seu irmão e quero estar lá.
— Pare de mimar o Patrick.
Olha quem estava falando…
Ele era responsável pela maior parte dos mimos dos irmãos. Se Leah
tinha um cartão de crédito sem limites e nenhum controle dos gastos, a
culpa não era dos pais. Daniel fazia tudo por eles e não escondia isso. De
sua maneira estoica e fria, mesmo mal-humorado, era o melhor irmão mais
velho do mundo.
— Vamos jantar fora hoje?
— Estou te esperando para comer. Não se encha de pipoca, vai ficar
reclamando que tem casca de milho nos dentes, me tirando a paciência.
Foi muito difícil não dar a língua, me controlei a tempo. Dividi o carro
com Lanna e Zachary, com Phillip no volante e o guarda-costas deles nos
seguindo. Nós duas não calamos a boca, fazendo com que Zachary
brincasse que era melhor ficar em casa com Daniel do que acompanhado de
duas tagarelas. Eu a ajudei a coçar o braço ainda no gesso e gargalhamos
com os gemidos de alívio que soltou.
— Vocês duas são loucas! — Zachary balançou a cabeça. — Nada de
gemer assim em público, amor.
Logo que chegamos no camarote, peguei pipocas, tirei uma foto com
o balde e mandei para o meu noivo. Ele respondeu imediatamente apenas
um emoji revirando os olhos.
Daniel me pediu em casamento. Tinha que me ouvir reclamando de
tudo como uma chata, era obrigação. Patrick fez um discurso antes do jogo
começar e vibramos com as líderes de torcida. Tirando Daniel, todos
estavam ali, curtindo a apresentação. Eu gritei até ficar sem voz,
empolgada. Leah e eu fizemos uma dancinha. Estava ciente de que éramos
fotografados o tempo todo, havia filhos de pessoas famosas e políticos no
campo, a mídia estava sedenta.
— Preciso ir ao banheiro — falei com Lanna. Todo suco de laranja
que bebi estava querendo sair com urgência.
— O jogo já vai terminar.
— Fique. Minha bexiga está explodindo.
Pedi desculpas a Phillip por tirá-lo justamente do final, mas ele
percebeu que eu não estava brincando. Abrindo caminho para o banheiro,
entrei praticamente correndo, tentando me aliviar o mais rápido possível e
voltar para a final. Lavei minhas mãos às pressas, ouvindo os gritos do lado
de fora. Nós não conseguimos voltar quando as portas do estádio para os
corredores abriram e a multidão invadiu, um falatório alto e gritaria devido
à vitória.
Phillip me levou para um canto, onde assistimos a reprise dos últimos
segundos. Estava cheio e eu fiquei na ponta dos pés quando senti um toque
no cotovelo. Virei-me e imediatamente fui arrebatada com um perfume que
jamais esqueceria, porque dominava meus piores pesadelos. Era do homem
que tentou me estuprar. Passando rapidamente por mim, reconheci sua
orelha, parte do rosto e paralisei.
Minha boca ficou repentinamente seca.
Ele chegou perto de mim.
Ele me tocou de novo.
O monstro estava ali.
Então, eu gritei, avançando na multidão, tentando ir atrás dele.
Empurrei algumas pessoas do meu caminho, cega em um ódio profundo,
porque iria pular em suas costas e jogá-lo no chão com toda força que tinha.
Ciente de que estava sendo seguido, no meio de um grupo de homens altos,
ele olhou para trás, sorriu e uma criancinha me empurrou para passar com o
pai. O homem grande ocupou toda a minha visão e Phillip me puxou,
desesperado, querendo saber o que havia comigo.
Não conseguia falar, respirar, apenas apontava, com o peito apertado.
Todas aquelas pessoas me faziam sentir sufocada, suas vozes oprimiam
meus pensamentos. Agarrei a camisa de Phillip, precisando que ele me
entendesse. Sem que tivesse percebido, Patrick estava ao lado, exigindo
saber o que havia acontecido e aos poucos, pontos pretos foram invadindo
minha visão e tudo girando. Eu caí, parcialmente acordada, lutando contra o
medo para poder ficar ativa.
— Giselle! O que aconteceu? Está ferida? — Patrick me segurou.
— Ele está aqui — balbuciei.
— Ele quem?
— Vamos tirá-la daqui agora. — Phillip me ergueu e rapidamente,
levou-nos para uma sala fechada. Patrick ajoelhou-se à minha frente,
segurando meu rosto e secando minhas lágrimas.
— Quem, querida?
— Ele estava lá. Arrancou minhas calças.
— Ai, meu Deus! — Patrick arregalou os olhos e virou-se para
Phillip, berrando ordens. Todos os seguranças foram mobilizados para sair
em busca do homem que me sequestrou.
Eu comecei a tremer no lugar.
— Giselle? — Laurel empurrou a porta aberta. — Querida, você está
bem?
— Ele tocou em mim de novo, Laurel! — Desabei a chorar.
Ela me abraçou apertado e nós duas quase caímos, mas eu não queria
sair dali nunca mais. Lanna sentou-se ao meu lado, esfregando minhas
costas e beijou meus cabelos. De longe, podia ver Thomas e Patrick
perdendo a compostura. Ele poderia ter me levado novamente. Na multidão,
Phillip me perderia com facilidade. Tudo que passei naqueles dias voltou
para minha mente com um terror paralisante.
No caminho para casa, eu ainda tremia, mantendo meus olhos
fechados. Estávamos quase chegando na mansão dos Montgomery quando
ouvi o familiar ronco do motor potente do carro de Daniel. Ele cortou a
SUV, entrando em alta velocidade na propriedade e estava fora antes
mesmo que conseguisse tirar meu cinto. Abri a porta e corri até ele,
jogando-me em seus braços.
— Está tudo bem, amor. — Ele segurou meu rosto. — Está tudo bem.
— Beijou minha testa, acalmando meus nervos.
— Conseguimos uma imagem! — Phillip falou com rapidez e subiu as
escadas.
Daniel me levou para a sala e foi encontrar com os homens no
escritório. Laurel também estava lá, mas Lanna ficou comigo. Leah grudou
o ouvido na porta, para saber o que estavam falando e ia cochichando
algumas partes.
— Sei que está com medo. Ele também sabe e por isso provocou, mas
você está segura. Ninguém vai te pegar novamente. Phillip estava lá e ele é
muito bom. — Lanna esfregou meus braços. — Estou aqui com você.
Deitei minha cabeça em seu ombro, apavorada. Daniel abriu a porta e
Leah quase caiu no chão, ela se desculpou e sentou.
— Preciso que olhe essa foto. — Ele abaixou na minha frente. — É
ele?
— Sim.
— A qualidade não é grandes coisas, mas dará um novo rumo a toda a
investigação. Os agentes estão a caminho, assim como Adam. Será preciso
depor, sei que ficou nervosa, mas temos que ter respaldo legal. — Ele
acariciou meu rosto. — Depois vamos para casa e ficaremos bem.
— Tudo bem, amor. — Dei um aceno.
— Um chá. — Aramita deixou a bandeja na mesa. — Docinho como
gosta. Vai te acalmar. — Ela me deu a xícara apoiada no pires.
— Eu posso deitar antes de tudo? Minha cabeça dói.
— Claro, vem. — Aramita me ajudou a levantar.
— Já te encontro — Daniel prometeu e fui para o quarto.
Queria tomar banho para tirar o toque dele do meu corpo, esfregar
minhas pernas novamente para ter certeza de que nunca mais sentiria seus
dedos arrastando minha calça para baixo. Ainda lembrava do quanto minha
garganta doeu pela maneira que gritei. Fechei meus olhos, cobrindo o rosto
e Adam disse que os agentes seriam rápidos, que eu deveria falar com
calma.
Reviver sempre era a pior parte, porém, com uma foto, eu tinha mais
esperança de que eles seriam pegos. Quando Daniel me levou para casa, ele
fez questão de entrar no chuveiro comigo, acalentando meu choro, lavando
meu copo e me dando o conforto necessário para superar aquele episódio.
Seu apoio renovou minhas energias. Na manhã seguinte, eu estava melhor.
Fiquei na cama, com preguiça de sair. Daniel acordou e virou-se de
lado.
— Tem um sorrisinho nesse rosto bonito. — Ele tocou minha
bochecha e beijou meus lábios.
— Obrigada. Eu amo quando cuida de mim. — Esfreguei meu nariz
no dele.
— É o meu dever e sempre farei isso com todo prazer.
— Eu te amo, Daniel — confessei, sem medo ou timidez. Era verdade.
Estava segura do meu sentimento e não via motivos para temer.
Ele abriu um sorriso lindo, rolando para cima de mim.
— Cada novo segundo da minha vida é para amar você. Antes, era
apenas para me manter vivo e caminhando na sua direção. Louvado seja o
destino, que cruzou nossas estradas e unificou-as em uma só. Anseio viver
com você, te amar e idolatrar de hoje até o fim da minha vida.
Meus olhos encheram-se de lágrimas de intensa felicidade. Eu o
beijei, apaixonada, com o peito borbulhando em uma felicidade
indescritível.
Capítulo Trinta
Giselle
Apoiei meus pés na ponta da mesa, segurando o cabelo de Daniel,
gemendo e rebolando contra seu rosto. A língua dele era o motivo da minha
perdição. Ele olhou em meus olhos, com a boca toda na minha boceta e
apertou meus peitos. A campainha tocou, me assustando e sem querer,
derrubei uma xícara no chão. Ele ignorou, me fazendo sentar e puxando
minha bunda mais para a borda. Metendo gostoso, segurando meu quadril,
beijou minha boca.
Nossos telefones começaram a tocar. Quem estava lá fora queria
mesmo entrar, mas o mundo podia estar acabando que nós não iríamos sair
dali. Era para estarmos tomando café. Mas depois que acordei bem e
recebemos a notícia de que nossos documentos foram encaminhados para a
oficialização do casamento, de algum modo, ficamos ainda mais felizes. Eu
tinha uma tonelada de acordo nupcial para assinar, o processo era mais
longo do que dos casais normais e por isso, Daniel quis se adiantar.
Procurei por sua boca, querendo comemorar o fato de que seríamos
um só em algumas semanas, aproveitando nosso momento sozinhos. A
mesa em que fazíamos a refeição não deveria ser um lugar de foda, mas nós
também não nos importávamos. A casa era nossa. Eu não tinha problemas
em ser muito bem fodida em todo canto.
— Melhor café da manhã da minha vida. — Ele mordeu minha boca.
— Caramba…
Voltamos a nos beijar, ele me pegou no colo pelada e grudei nele.
Descemos a escada para o calabouço, ele amarrou meus braços e
amordaçou minha boca, me fazendo sentir um pouco de dor surrando-me
com um cinto e depois, entregou um orgasmo de me fazer apagar por alguns
segundos, como se meu corpo inteiro estivesse em choque. Gozou entre
meus seios e sorriu perversamente ao me ver toda bagunçada.
Tomamos banho juntos e ele cuidou do meu bumbum com pomada e
beijos. Enrolada no roupão, subi as escadas e busquei por uma roupa
confortável. Queria comer e tirar um cochilo antes de sairmos para nossa
festa de noivado. Eu ia me arrumar no nosso quarto na casa dos pais dele,
recebi fotos da decoração e fiquei ansiosa.
— Quem era? — Desci a escada já pronta.
— Um vizinho querendo nos dar uma torta pelo noivado. Phillip ligou
para avisar, mas ele recebeu e agradeceu. Está no carro. — Daniel vestiu a
camisa, cheiroso. — Suas coisas estão organizadas? Não quero ter que
voltar no meio do caminho.
— Sim, já conferi meu checklist duas vezes — prometi. Eu podia ser
uma boa menina. Sorrindo, beijou-me e fomos para a cozinha, finalmente
comer de verdade.
Lavei a pouca louça que sujamos e em menos de trinta minutos
estávamos a caminho. Minha bunda estava ardendo e eu me sentia ligada,
com aquela sensação gostosa pós-orgasmo e queria dormir um pouco. Soltei
vários bocejos no carro, fazendo-o rir, sem desviar os olhos do telefone.
Tentei não cochilar como uma criança no banco de trás.
Quando chegamos, a equipe já me esperava. Meu cabelo foi lavado,
escovado e enrolado para ficar com cachos fixos. Depois que fiz as unhas e
a sobrancelha, Aramita foi um anjo ao expulsar todo mundo e me deixar
cochilar. Fiquei paradinha na cama, com um creme no rosto para hidratar
bem minha pele. Fui acordada com um beijinho nos lábios.
— O que é essa coisa gosmenta no seu rosto?
— Um creme de pepino.
— Tem gosto de alface. — Daniel limpou a boca. — Hora de acordar.
Eu vou tomar banho, vá para a maquiagem.
— Sempre com um tom de ordem — Lanna falou atrás dele, me
fazendo rir. Se ela soubesse… — Vá para o chuveiro, Daniel. Eu cuido da
noiva. Mamãe está com Annie para que eu possa ter algum momento com
outra pessoa adulta.
— Sem demorar. Estou falando sério — ele determinou.
Fui para uma das salas de convívio e a maquiadora estava terminando
com Leah. Logo me sentei, tendo meu rosto preparado. Pouco mais de uma
hora depois, finalmente fiquei pronta. Daniel abaixou para amarrar as tiras
da minha sandália, apertando minha panturrilha. Ele era muito bom em
prender tudo.
De mãos dadas, fomos anunciados e os convidados aplaudiram. Ele
ficou estoico e eu querendo um buraco onde me enfiar. Com vergonha,
acenei timidamente, ciente de que meu rosto deveria estar vermelho.
Thomas e Laurel seguiram a tradição, como pais, formalizando o noivado
ao mostrar minha aliança, informando que não levaria muito tempo para a
cerimônia de casamento.
Eu sabia todo o cronograma e me preparei para as fotos, que foi a
parte mais exaustiva. Meu calcanhar começou a queimar pelo tempo em pé,
cumprimentando pessoas, sorrindo para um clique e próxima da família.
Daniel não me soltou, acompanhou-me até mesmo indo ao banheiro.
— Quer ajuda para tirar sua calcinha? — Ele parou na porta.
— Só se for para uma rapidinha.
— Não me atente. — Sorriu contra a minha boca.
Aliviei minha bexiga, com fome e esperava que o jantar fosse servido
em breve. Ouvi Daniel rir com alguém do lado de fora e era Patrick, como
sempre, pentelhando. Ele mostrou uma garota que não parava de encará-lo e
cutuquei sua barriga, mandando se comportar ou Laurel teria um ataque se
ele fosse pego transando com uma garota no banheiro.
— Aí estão os noivos! — Laurel nos recebeu de volta. — De última
hora, minha amiga me contou que um barão ficou muito interessado em nos
conhecer e nada melhor do que um evento social para isso. Convidei-o e ele
veio. Acredita que tem um barão na minha casa? Segundo minhas
pesquisas, ele pertence à segunda família mais rica do Reino Unido!
— Parece importante — comentei, meio perdida, mas ela estava
empolgada e não achei que seria legal jogar água fria em sua quentura.
— E desnecessário. Quem se importa com esse homem? — Daniel
rebateu. Eu o encarei, séria. — O quê, amor? — Fingiu de sonso, sem
querer entrar em uma briga comigo. Um dos nossos embates principais era
a maneira com que era grosseiro com a mãe. Ela tinha muitos defeitos, era
difícil de lidar, mas era a mãe dele. Eu perdi a minha e não queria que ele
tivesse um relacionamento ruim sem nenhuma necessidade.
— Quero conhecê-lo. Onde está? — Eu o ignorei, sorrindo para
Laurel.
— Vem, vamos. Ele se chama Vere Chantal-Cadogan — ela me
explicou, pegou minha mão e me levou até a mesa. Eu quis roubar um
bolinho, faminta. — Trouxe a noiva! Gostaria que conhecesse minha nora,
Giselle Madero, em breve, a nova senhora Montgomery.
— Madero? — Ele era britânico, o sotaque forte me pegou
desprevenida. Seu olhar, no entanto, era familiar, mas eu não o conhecia de
nenhuma maneira. — É um sobrenome muito bonito. Há muitos anos, em
Nova Iorque, conheci uma bailarina que tinha esse sobrenome. Ela dançava
no espetáculo Notre Dame, na Broadway.
Eu abri um sorriso, encantada.
— Minha mãe dançou nesse espetáculo por um ano antes do meu
nascimento — contei, abismada.
— Ah, que feliz coincidência! — A mulher que estava com ele, sorriu.
— E você lembrou dela, depois de todo esse tempo? — Laurel franziu
o cenho, com o mesmo sentimento que o meu.
— Ela era uma mulher admirável, além de protagonista. Eu tenho
memória fotográfica, é difícil esquecer certos detalhes e pessoas — ele
explicou e assenti, compreendendo. — Sua mãe era uma bailarina
excepcional. Ela está aqui?
De algum modo, senti a esperança dele e aquilo mexeu comigo.
— Infelizmente, ela faleceu há alguns anos.
— Giselle é bailarina como a mãe. — Laurel passou o braço por meu
ombro. — E talentosíssima. Em alguns meses, depois da lua de mel, vai se
apresentar. Você será a Bela, certo?
— Será um espetáculo para angariar fundos para a organização da
família. Minha academia é uma das associadas e serei uma das bailarinas
que interpretará a Bela e a Fera.
— Fera? Estou sendo chamado? — Daniel parou ao meu lado e
segurou minha cintura possessivamente. — Vim ver quem está
manipulando tanta atenção da minha noiva.
— Sua mãe me apresentou ao, desculpe, como devo chamá-lo?
— Apenas Vere, minha querida. — Ele foi simpático. — Daniel
Montgomery, certo? Eu li seu último lançamento e é simplesmente incrível
a sua comparação das obras de Shakespeare.
— E na Inglaterra, qual é o seu título? — Daniel bancou o sonso e
quis beliscá-lo. — Muito obrigado. Passei um ano em Londres trabalhando
nisso.
— Soube que ficou no palacete do meu amigo. E lá, oficialmente
agora, com o repentino falecimento do meu tio, sou novo, bem… não tão
jovem, Duque de Bedfordshire e Barão de Brickhill.
Uau! Ele era um aristocrata de verdade! E estava no meu noivado!
Puxa vida, eu me tornei importante mesmo!
Apesar da desconfiança inicial de Daniel, eles engataram em uma
conversa interminável, porém, animada, que se estendeu pelo jantar e ainda
envolveu Jamie. Elena estava tímida na presença da família e eu queria
garantir a ela que ninguém sabia do nosso estilo de vida e podia relaxar. Eu
sabia que, no passado, ela teve relações sexuais com meu futuro marido,
mas aquilo não me enciumava porque sabia a natureza e também, foi muito
antes de mim.
Cortamos o bolo para sobremesa e a única coisa que pedi foi que fosse
servido com sorvete. Meu noivo, que sempre me mimava, acatou. Era
chique? Não. Mas eu amava tanto bolo com sorvete que comi dois pedaços.
— Será que posso levar minha futura esposa para dançar? — Daniel
esticou a mão.
— Todas as minhas danças são suas.
— E o sogro, pode ganhar uma? — Thomas parou ao nosso lado.
— É claro que sim! — Abri um sorriso, feliz em estar sendo
disputada.
— Depois de mim, velho. — Daniel piscou para ele.
Daniel me balançou de um lado ao outro e ficamos agarradinhos, com
nossas testas unidas. Na ponta dos pés, o beijei. Quando a música acabou,
Thomas ganhou a vez dele, depois Patrick, Zachary e por fim, Vere me
surpreendeu ao querer também. Daniel deu um aceno, principalmente pelo
modo com que ele me segurou, sendo respeitoso e paternal. Seu olhar
pareceu emocionado por um momento.
— Você tem a sensação de que nos conhecemos de algum lugar? Algo
no seu rosto é um pouco conhecido para mim — comentei com as mãos
ainda em seu ombro.
— Eu tive a mesma sensação quando te vi entrar, mas sei que nunca
nos vimos antes. Tem mais de dez anos que não venho aos Estados Unidos
— ele explicou com um sorriso.
— Ah, sim. Não gosta daqui?
— Morei em Nova Iorque há uns vinte e quatro anos atrás, fiz um
curso, mas a vida e as responsabilidades me chamaram na Inglaterra, não
pude mais voltar.
— Obrigada por vir e por se interessar por todo o trabalho da
fundação. Nossa família é muito engajada na educação infantil e combate às
drogas. — Lembrei-me de fazer política. Afinal, aquele evento também era
para isso. — Meu sogro tem muito a oferecer ao país.
Vere sorriu, agradecendo a dança e beijou minha mão. Voltei para os
braços de Daniel e ele me deu uma taça de vinho verde, que era o meu
favorito. Laurel estava com um sorriso de orelha a orelha, tudo correu bem,
tanto planejamento valeu a pena, foi perfeito. Quando os convidados foram
embora, troquei de roupa, tirei a maquiagem e me sentei na sala, onde tomei
sorvete com Lanna enquanto Leah comentava o reflexo das fotos nas redes
sociais. O impacto foi exatamente o que Diana quis. Ela era uma vaca na
maior parte do tempo, porém, muito boa no trabalho.
Daniel estava no escritório com Patrick, Calvin e Zachary. Não
parecia ser trabalho, porque de vez em quando, eles xingavam e riam.
Provavelmente os três patetas jogavam videogame e Daniel deveria estar
com as pernas esticadas com um livro, bebida e chocolates.
— Algum comentário negativo? — Eu quis saber.
— Sempre tem e ninguém se importa. — Leah sorriu, espertinha. —
Até porque, o ódio que está nos outros aumenta o engajamento e nos faz
mais ricos.
— Vocês também acharam o coroa britânico gostoso bem familiar? —
Lanna questionou com a boca cheia de bala.
— Caramba! Pensei que eu fosse a única! Com quem será que ele
parece? — Bati palmas, feliz que não estava completamente maluca.
— Não faço a mínima, só o achei um coroa gostoso. — Leah riu e
Calvin abriu a porta na hora.
— Que porra você está falando, garota?
— Nada, amor. Vamos dormir? — Ela ficou de pé, toda inocente.
— Sua safadinha. — Calvin acertou a bunda dela.
Daniel saiu em seguida e sem falar nada, apenas me ergueu no colo,
no estilo noiva, e me levou em direção às escadas. Gritei boa noite para
Lanna, acenando e agarrei-o para não cair. Dei um beijinho, ou melhor
dizendo, vários beijinhos no pescoço dele, para atiçar o homem em quem eu
pretendia passar a noite montada.
Capítulo Trinta e Um
Daniel
— Temos que decidir agora quando teremos filhos? — Giselle
cochichou quando leu a primeira parte dos muitos documentos nupciais. —
Não estou pronta para isso. Acabei de começar a transar.
Ela brincou com a caneta, ansiosa.
— Amor, é uma previsão. Isso é comum, só para estabelecer a meta de
bens. Como nós temos a oportunidade de definir a data, é apenas uma
formalidade. Faremos uma criança quando quisermos.
— Em quantos anos? — Giselle arregalou os olhos.
— Penso em dois, três ou quatro. Não agora.
— Ah, sim. Isso parece bom, tipo, uns quatro anos — ela murmurou,
assinalando. — Você tem isso tudo na sua conta bancária pessoal? —
Arregalou os olhos de uma maneira cômica. — Uau, Daniel! Isso é muito
dinheiro. Por que você trabalha?
— Pelo mesmo motivo que você quer trabalhar, ter uma carreira e
construir uma história.
— Caramba. — Mordeu o lábio. — Puxa vida. Isso me assusta. Quer
dizer, eu sabia que era rico, só que pensei que… sei lá. Não sei o que
pensei. — Coçou a cabeça e ergueu o olhar. — Podemos colocar nos nossos
votos nunca permitir que o dinheiro seja mais do que os nossos
sentimentos?
— Eu prometo que o dinheiro nunca será mais importante do que o
meu amor por você. Assine isso — determinei e beijei sua boca.
Giselle terminou de ler e assinou todas as folhas, assim como eu.
Anexei tudo no envelope, guardei e pedi que Aramita enviasse para o
escritório do meu advogado particular. Ela soltou um bocejo, comeu um
bolinho de creme e me deu um olhar sonolento, louca para voltar para a
cama porque passamos a maior parte da noite transando. Acordamos cedo
para decidirmos coisas importantes do casamento, como a data, parte do
menu e ela tinha muito mais trabalho nisso do que eu.
Tínhamos um almoço com meus amigos enquanto ainda estavam na
cidade, mas decidi que deveríamos tirar um cochilo. Nos enrolei nas
cobertas, com nossas pernas emboladas e sua bunda aninhada no lugar certo
me fez tirar uma soneca maravilhosa. Ela levantou primeiro, foi tomar
banho e eu peguei a caixinha com uma joia que gostaria que usasse.
— O que é isso?
— Quero decorar seus mamilos para nos divertimos quando
voltarmos. — Abri e mostrei. — Não vai doer, só causar pressão. Talvez te
deixe um pouco alerta, sensível.
Aproveitei que ela estava com os peitos de fora, e coloquei, ajustando
a pressão da argola em cada biquinho. Ficou perfeito e seria melhor ainda se
usasse uma blusa que não precisasse de sutiã. Eu tinha que ter certeza de
que estava do jeito certo, então virei-a e chupei cada peito. Giselle gemeu
em uma lamúria.
— Parece muito bom. — Mantive minhas mãos em sua cintura. — Vá
se vestir antes que convide meus amigos para que me ouçam te comendo.
— Você gostaria de transar comigo na frente de outras pessoas? — Ela
moveu a boceta contra minha coxa, toda excitada, querendo começar uma
brincadeira ao invés de sairmos.
— Nunca. Mas eu sei que eles amariam ouvir, seus gemidos são
deliciosos.
— Nunca, é?
— Está querendo se exibir, srta. Madero? — Belisquei sua bunda.
— De jeito nenhum. Esse é um dos poucos limites rígidos que eu
tenho. Não compartilhar… você, nosso sexo, nada. Nunca. — Ela me
agarrou e porra, como o beijo dela era bom. Dei uma esfregada em sua
boceta, empurrando meu indicador em sua vagina e ganhei um olhar cheio
de tesão.
— Tá doidinha para sentar no meu pau de novo? Criei um monstro
insaciável. — Lambi seus lábios, chupando, esmagando suas nádegas. —
Minha putinha. Fodi esse cuzinho e ainda tenho essa boceta sempre
molhada para mim. E infelizmente para você, vamos nos atrasar.
— Não. — Giselle me segurou. — Eu preciso de você.
Olhei nos olhos dela, divertido, percebendo a mudança. Era minha
mulher falando, não a minha submissa. Ela me queria e não para jogar, sem
brincar com desejo. Era uma fera com desejo. Abaixei minha calça,
erguendo-a no balcão e fodi minha futura esposa do jeito que precisava.
Giselle puxou meu cabelo, tentando se apoiar na pia, mordendo minha
boca, queixo e onde mais encontrava.
— Acho que precisamos de um tempo do sexo — ela falou sem
fôlego, depois de gozar, com um sorriso de felicidade que iluminaria um
estádio.
— Porra nenhuma.
— Devemos nos abster até o casamento para controlar esse fogo —
disse com convicção.
— Nem fodendo. Pare de tentar me irritar.
— Eu te amo. — Segurou meu rosto.
— Sei disso, meu bebê. Te amo. Agora, vá se vestir. Você tem dez
minutos. Eu não gosto de chegar atrasado.
Arregalando os olhos, percebendo que eu estava falando muito sério,
correu para o chuveiro para lavar a bagunça que fizemos. Eu me vestia
relativamente rápido, ela sempre demorava, passando maquiagem e
ajeitando o cabelo. Desci pronto e apenas ajustei o relógio, se me atrasasse,
teríamos um problema.
— Não tenha uma convulsão com essa mão aí, louca para bater na
minha bunda. Estou pronta! — Ela colocou os brincos, com a bolsa pendura
nos braços e estava magnífica em um vestido vermelho florido, saltos altos
e o cabelo solto.
— Você está linda.
— Ah, eu fiz um trabalho rápido. — Piscou, ainda mantendo o bom
humor. Seu sorriso me encantava. Ajeitei a gola de sua roupa e abri a porta
quando Phillip estacionou na frente. Eu queria beber uns drinques e por
isso, não conduziria. Giselle era habilitada, mas eu preferia que ela ficasse à
vontade para decidir se iria experimentar alguma nova bebida e testar seu
paladar.
Até o momento, ela era adepta de pouco álcool e odiava cigarros.
No caminho, recebi um retorno de Adam. A foto, finalmente, nos deu
um retorno. Ele já tinha a ficha completa e notícias, pediu uma reunião ao
final do dia. Senti um tanto de alívio ao finalmente ter uma luz sobre o
sequestro. Até o momento, o dinheiro do resgate não havia sido rastreado, o
que significava que não foi gasto. Isso gerava o doloroso incômodo de que
o motivo era emocional.
E quanto a isso, não havia dinheiro no mundo que parasse essas
pessoas. Apenas a morte.
Giselle estava distraída com o telefone, conversando com Maria e eu
olhei para a marca em seu pescoço. A cicatriz ainda estava vermelha, no
formato de um raio, onde ela bateu tão forte em uma árvore que poderia ter
quebrado o crânio. Ela virou, percebendo meu olhar e sorriu, perguntando
se estava tudo bem. Não era o momento de compartilhar a informação,
então, disse que sim. Não queria que se preocupasse na rua.
Elena e Jamie já estavam no restaurante nos aguardando. Ambos
ficaram de pé e trocamos cumprimentos. As mulheres sentaram juntas, já
tagarelando. Jamie sorriu e virou-se para me encarar. Elena ficou sozinha
em Londres, com poucas amigas para conversar e demorou bastante para se
adaptar à cidade. Giselle também não tinha muitas pessoas para conversar
além das minhas irmãs.
Almoçamos e enquanto elas ficavam falando do casamento, Jamie e
eu fomos até o segundo andar, onde vendia bebidas raras e charutos. Do
alto, podíamos vê-las, rindo, apontando coisas em revistas de noivas.
— Como você está? — Jamie foi direto ao ponto. — Foi uma
mudança desde a última vez que nos vimos pessoalmente. Está visivelmente
apaixonado e parece feliz com isso.
— Estou feliz e eu não pensei que ficaria — assumi, dando um gole
do Bourbon. — Para ser honesto, não criei expectativas, também não pisei
no freio. Eu deixei a vida ditar um ritmo.
— Foi a primeira vez em muitos anos que se deixou levar. Em alguns
momentos, fiquei preocupado que o Daniel violento ficasse à borda,
considerando que Giselle é novata.
— Ela é, mas a mulher é tão… vivaz. Ela é doce, gentil, brincalhona e
trouxe um ar diferente para a minha vida. Ela não me faz sentir raiva nem
mesmo quando me tira a concentração. — Sorri e a olhei cobrindo o rosto e
dando uma risadinha para Elena. — Eu nunca experimentei isso. Um
sentimento acolhedor, que nem mesmo meus pais foram capazes de me dar
porque eles não me entendiam. Giselle me entende. Como isso é possível?
— Apenas é possível e aprecie a graça disso. Como dominante, o que
vocês dois possuem é raro.
— Encaro mais como uma benção.
— E em falar em benção, Elena está grávida — Jamie anunciou sem
esconder a felicidade. — Nós descobrimos alguns dias antes de viajarmos.
— Caramba! — Eu fiquei de pé e lhe dei um abraço. — Meus
parabéns!
— Não foi planejado.
— Não? E está bem com isso?
Aquilo me pegou completamente desprevenido.
— Estou me sentindo incrível por ser pai. — Jamie ainda sorria com a
maior alegria do mundo e inclinou-se para frente. — Claro que precisamos
lidar com algumas mudanças de planos, nossa vida vai sofrer um grande
reajuste, mas na hora, eu aceitei a felicidade que encheu meu peito.
Senti um aperto no coração, lembrando da familiar sensação e logo
empurrei para baixo. Giselle não faria com que eu me sentisse um tolo
quando anunciasse a gravidez, não só porque eu cuidei de eventuais
surpresas, mas principalmente, porque a índole dela se provava leal e
honesta todos os dias.
— Você não ficaria feliz com uma gravidez? — Jamie me questionou
ao perceber meu semblante sério.
— No momento? Não. Obviamente, lidaríamos com a novidade da
melhor maneira possível, mas, ela sonha com uma carreira e quer ter a
chance de, ao menos, começar. Não pediria um filho agora. Desejo um
tempo a dois, aventuras, viagens e depois, quando ela disser que está
pronta, sim.
— E se ela nunca disser?
— Ela vai. Giselle mantém os pés no chão, o semblante doce engana a
mulher de pulso firme e independente com as emoções e ideias. Por mais
que no quesito submissão e sexualmente tenha se perdido um pouco até
entender, ela abraçou sua natureza, se entregou e nunca se envergonhou. É
assim que a mulher por quem me apaixonei é, entregue, perfeita e com uma
alma bonita.
— Puxa vida. Se alguém me dissesse que eu te ouviria falar dessa
forma, não acreditaria. Quero brindar a isso. Sonhei com o momento em
que te veria feliz.
Não só ele, como meus outros dois amigos exultavam em me ver bem
e eu só podia ser grato que mesmo não sendo o melhor no quesito humor,
eu tinha os melhores ao meu lado, que torciam muito por mim. Minha vida
tinha segredos e uma infinidade de sentimentos mal resolvidos. Mas no que
se tratava de ter esperanças para um futuro, eu podia brindar com meu
amigo.
Depois do almoço, que se estendeu por mais horas do que o previsto,
Giselle e eu fomos para casa. Ela quis comprar um presente bem exuberante
para o bebê e passamos horas na internet fazendo uma pesquisa até
comprar, enviando diretamente para a casa dos nossos amigos em Londres.
Tiramos um cochilo e nos preparamos para sair, eu queria tocar música e
comemorar o noivado de maneira privada com quem eu queria.
Lanna abriu sua casa para nos receber, com Tuck, Anya, Gaspar e
Harper, assim como meus irmãos, Leah e Patrick. E Calvin, é claro. Leah
nunca ficava longe do namorado. Ao chegarmos, um carro parou atrás do
nosso. Giselle virou-se imediatamente, preocupada e toquei seu joelho para
que relaxasse. Saí do carro e dei a volta, abrindo o lado do carona para que
pudesse sair.
— Quem é?
— Adam veio me entregar alguns documentos importantes. Pode
entrar, eu vou em seguida.
— Tudo bem. — Deu-me um beijo e subiu os degraus, com Lanna na
porta esperando-a e cumprimentando com alegria.
Fui até ele.
— Trouxe tudo?
— E mais um pouco. — Ele me entregou uma pasta pesada. — Vem
chumbo grosso por aí, mas felizmente, temos base para nos preparar.
— Ótimo. Vou ler quando chegar em casa.
Adam me olhou com interesse.
— No telefone, mencionou que precisava de algo mais. Em que posso
ajudar?
— Quero que pesquise detalhadamente o passado de um homem. Ele é
britânico, não sei se terá muitas dificuldades, considerando que é uma
pessoa pública e viveu aqui nos Estados Unidos por um tempo. — Eu me
inclinei na janela do carro. — O nome dele é Vere Chantal-Cadogan, Duque
de Bedfordshire e Barão de Brickhill.
— Parece peculiar. Mas logo te darei um retorno.
Adam deu partida no carro e saiu da propriedade, deixei a pasta com
todas as folhas importantes no banco de trás do carro e entrei no momento
em que Zachary estourou o primeiro champanhe.
Capítulo Trinta e Dois
Giselle
Eu me estiquei antes de entrar no palco e aguardar. Era o primeiro
ensaio do espetáculo e parcialmente aberto ao público. Daniel e Laurel
estavam nas primeiras fileiras. Com o investimento da família no evento,
Laurel lidava pessoalmente com algumas coisas e claro que estaria ali para
me ver dançar. Maria pediu que filmasse e Daniel segurava seu telefone.
Dançar não me deixava nervosa. Aprendi a andar em um palco. Meu
primeiro sapato foi uma sapatilha e eu respirava ballet. Pulsando no ritmo
da música e confiando no meu parceiro de dança, me entreguei aos dez
minutos que pareciam trinta, com os passos, a postura, a voz da treinadora,
o cochicho dos colegas e o vibrar de quem apenas assistia. Não errei
nenhum passo, ensaiava muito e por ter idealizado parte da coreografia, era
mais fácil.
Fomos aplaudidos de maneira comedida, mas eu não precisava olhar
para saber que as palmas mais fortes vieram do homem que eu disse sim
para sempre. Agradeci com uma delicada reverência e voltei para a posição
anterior, ouvindo as considerações finais dos professores. Estava suada, mas
não quis ir para o vestiário, peguei minha bolsa e rapidamente encontrei
Daniel no corredor. Ele me beijou.
— Preciso de um banho.
— Eu quero cuidar disso pessoalmente — ele falou no meu ouvido. —
Antes, prometi a minha mãe que a levaríamos para almoçar. Depois, vamos
nos fechar em casa.
Eu amava os fins de semana por tê-lo todo para mim. Durante a
semana, entre o trabalho dele, meus estudos, reunindo-se, só tínhamos um
ao outro à noite. Era bom, porque dávamos valor ao momento, seja para
descansar com os pés para o alto ou para ter alguma cena intensa no
calabouço depois do jantar. Domingo, ironicamente após o culto, que nós
dois ficávamos ali por horas.
Brinquei com Daniel que era pecado transar antes do casamento e
principalmente pelas nossas atividades. Ele não achou muita graça e
chicoteou minha bunda com uma alça de couro comum em bíblias. Ele iria
para o inferno com aquela blasfêmia.
Escolhemos uma delicatessen no centro que tinha sanduíches deliciosos
e comi um bem grande, dando corda para a minha fome. Ainda quis umas
bolas de sorvete com cobertura. Daniel ficou na fila para mim enquanto a
mãe dele desfrutava de um cafezinho. Ela nos observava atentamente a todo
momento. Sabia que o filho não mudava o tom cortante, o semblante frio,
mas suas mãos estavam sempre em mim e ele fazia tudo o que eu queria, o
tempo todo, sem pestanejar.
— Você está realmente apaixonada pelo meu filho, Giselle.
Não era uma pergunta e sim, uma afirmação muito convicta.
— Como pode ter certeza?
Laurel sorriu como uma mãe que conhecia a alma do filho.
E naquele momento, eu era a filha.
— Seus olhos são como águas limpas da nascente de um rio, eles não
escondem nada. Medo, dor, verdade ou mentira. Seu semblante sempre
gentil é encantador, mas também, um espelho bastante revelador.
— Sim. Estou profundamente apaixonada por ele.
— Sei que Daniel é diferente. — Ela limpou a garganta. — Talvez ele
sequer imagine que eu sei que possui um estilo de vida… exclusivo. Eu não
sei dizer as palavras, apenas sei como é e sendo mãe, respeito. Em toda a
minha vida, ele foi o único filho que me ensinou muito sobre limites. —
Soltou uma risada um pouco amarga. — No entanto, você é jovem e sem
uma mãe por perto. Eu preciso saber se essa vida é o que quer. Não precisa
entrar em detalhes, apenas…
— Sim, entendi e sim, é o que eu quero.
Laurel deu um aceno e por um momento, me preocupei que, ao não
entender direito como aquilo funcionava, ela tivesse algum preconceito.
— Que bom. Sempre me preocupei se um dia ele encontraria alguém
que pudesse fazer parte da vida dele e, por fim, calhou do contrato ter sido a
maneira que o destino escolheu. — Ela parecia aliviada de verdade e eu
senti ali que não importava a relação ruim deles, Laurel amava Daniel
incondicionalmente e queria que ele fosse feliz.
Aquilo significava que nós duas tínhamos o mesmo propósito.
Daniel voltou com o sorvete e agradeci, logo comendo. Ele murmurou
que queria ir embora, me fazendo rir e ficar ciente de que sua tolerância
para estar em público era curta. O peito tatuado e os pés que detestavam
sapatos queriam liberdade da pouca roupa em casa, com seus livros e
música.
No domingo pela manhã, eu tive que lembrar todos os motivos que me
fariam sair da cama para ir à igreja e depois, um churrasco tipicamente
americano na casa de um jornalista que era apoiador voraz da campanha. E
o que mais me deixava tonta, era que ele sequer fazia parte dos planos. Era
“apenas” um devoto de Thomas e das palavras enlouquecedoras bem
colocadas, que traziam um quentinho ao coração devido ao seu talento na
oratória.
O primeiro evento social depois do noivado teve um sabor diferente.
Eu não era mais a namorada desconhecida e me tornei a noiva que
resolveram adular. Alguns era sobre um convite, outros sobre ter suas
empresas envolvidas na minha cerimônia e ganhar alguma publicidade.
Nunca fui tão cumprimentada na igreja. Laurel estava ficando maluca com
tantos recados de sua assistente sobre serviços oferecidos.
Nós definimos as cores, a letra do convite e comecei a pesquisar o que
poderia escolher para servir. Não tinha muito tempo, mas ao contrário da
crença, Daniel queria participar ativamente de cada detalhe. Ele jamais
deixaria de controlar o nosso casamento, ou apenas iria no dia como um
convidado. Isso se ele não tentasse escolher meu vestido de noiva, mas isso,
fui capaz de dar-lhe a língua e correr de sua mão nervosa.
— Gosto quando usa branco, porém, azul fica muito bem em você. —
Lanna me deu um abraço quando pudemos nos cumprimentar na igreja. Ela
costumava sentar mais atrás, perto da porta, porque precisava ficar atenta a
Annie e à babá na sala das crianças. Nem sempre minha sobrinha fofa
estava com uma babá, ela era agitada e os pais lhe dedicavam extrema
atenção.
— Quando vai tirar o gesso?
— Na próxima semana. Eu simplesmente não aguento mais. — Ela
olhou para o braço com tristeza. — Tem sido um incômodo com Annie.
Dependo de ajuda o tempo todo e é horrível pedir. Zachary precisa trabalhar
e a babá que mais sinto segurança tem poucos horários, porque está na
faculdade. É um doce.
— Eu gostei dela. Vou ver com Daniel a possibilidade de ajudarmos
mais essa semana. Não sei como está a agenda dele e não quero atrapalhar
ninguém, considerando que ainda não voltei a sair sozinha.
— E não deve. Não se preocupe… — Ela parou de falar. — Merda.
Sem me dizer nada, deu a volta com uma expressão furiosa e eu me
virei, sem entender, até que bati meu olhar em Isabel, a alguns passos de
nós.
— Não cansa de ser ridícula? — Lanna explodiu com ela. — Fica
sempre por perto com essa expressão doce como se eu não soubesse a cobra
que é. Pare de tentar se aproximar da minha família, estou te avisando,
fique bem longe do meu irmão!
— Eu? Lanna!? — Isabel levou a mão no peito, com um ar de garota
sofredora e tocou o colar. Eu tremi. Ela nunca iria parar? — Olha a
atenção que está atraindo. Eu só esperava terminar a conversa com sua
adorável cunhada para te cumprimentar.
— Mentirosa! Eu já te avisei, Isabel. Você não apanhou por tudo que
fez meu irmão passar, mas eu não vou hesitar dessa vez. — Lanna ergueu o
dedo indicador, ameaçadora.
— Por favor, Lanna. — Eu a puxei, mortificada. Odiava conflitos.
Minhas mãos chegavam a suar.
— Ouça sua cunhadinha — Isabel debochou. Eu virei meu rosto com
um estalo. Ela também não iria tirar sarro da minha cunhada.
— Apenas fique longe da minha família, Isabel. Eu posso acreditar que
você não valha o esforço de uma discussão, assim como também posso
mudar de ideia. E não pense nem por um segundo que não vou arrancar a
porra desse colar do seu pescoço e fazê-la comer.
— Eu sabia que a pobretona não tinha sangue-frio, afinal, isso é um
dom de quem teve uma educação adequada.
A palma da minha mão coçou para voar no rosto dela.
— O que está acontecendo aqui? — Daniel apareceu no pequeno
corredor próximo ao banheiro, onde estávamos e já deveríamos ter voltado.
Isabel fechou a expressão e assumiu um ar doce, compassivo, curvando
seus ombros sutilmente em posição de submissão. Ela deu um olhar de
idolatria e respeito ao meu noivo, meu dominante e aquilo fez com que meu
sangue fervesse de tal maneira que quis mesmo avançar e puxar todos os
fios da cabeça dela. Daniel a olhou impassível, com ar de autoridade, o que
surtiu efeito em nós duas, mas ele virou de costas para ela e olhou em meus
olhos.
— Meu amor, vamos embora. — Ele esticou a mão e eu peguei. —
Lanna, vamos.
E como se Isabel não estivesse ali, Daniel nos escoltou para fora.
Minha mão tremia e por esse motivo, ele entrelaçou os dedos nos meus,
apertando, transmitindo um olhar firme que estava me impedindo de
desmoronar. Em qualquer outro momento, o embate me causaria um
colapso, o ódio misturado ao ciúme e frustração estavam queimando na
borda, mas eu consegui controlar.
Lanna pediu desculpas pelo que fez e apenas a abracei, grata que tinha
uma cunhada furiosa sempre pronta para brigar por nós. Junto a Zachary e a
babá, ela foi embora. Daniel me levou para o carro em silêncio e não disse
uma única palavra por todo o caminho. Eu ficaria furiosa se brigássemos
por causa daquela mulher desprezível. Eu não acreditava que ela merecia
um segundo de atenção.
— Você gostaria almoçar antes de irmos para o churrasco?
— Não. Eu bebi muito café na igreja. — Tirei meus sapatos de salto
fino e deixei-os na lavanderia, para limpar a sola. Depois, subi as escadas.
Daniel não me seguiu. Eu tinha quinze minutos para trocar minha roupa e,
soltando o cabelo, escolhi um vestido comportado, porém, confortável e que
ficava ótimo com um casaco leve. Para os pés, uma sandália plataforma.
Passamos para buscar a torta que seria nossa contribuição e coloquei
um enorme sorriso no rosto, fazendo meu papel de companheira simpática,
luz de atração para o estoico e enigmático Daniel Montgomery. Fomos
recebidos com muita gentileza e simpatia, não levamos dez minutos para
encontrar seus pais e fiquei aliviada que poderia usar minha sogra como
barreira quando cansasse de conversar.
— Lanna me ligou para contar, está arrependida e quis saber se Daniel
ficou muito chateado — Laurel comentou logo que possível.
— Eu não sei. Ele não disse uma única palavra — respondi, não
permitindo que meus ombros caíssem para exemplificar o tamanho do meu
desconforto com o silêncio dele.
— Isabel é uma história triste para nossa família. Dê-lhe um tempo. —
Laurel sorriu e eu já estava farta de não saber o que havia acontecido. Não
era meu direito antes, porque nosso relacionamento começou por um
contrato. Mas era o momento de dar um ponto final naquele mistério, até
mesmo para saber como lidar com a situação que parecia que não teria um
fim até que a mulher desistisse.
Ou… eu, literalmente, tirasse o poder dela: arrancando aquele colar de
seu pescoço e tirando a lembrança que atormentava Daniel de uma vez por
todas.
O almoço foi incrível. Teve brincadeiras e eu não resisti, competindo
com as crianças, liderando times, correndo pelo gramado e jogando bola.
Fui criada em um bairro simples, ralar meu joelho na calçada de casa foi
uma das minhas principais atividades. Meu time ganhou e a esposa do
senador nos deu medalhas. Ela estava igualmente suada e descabelada,
tendo brincado com os filhos e comigo.
— Minha moleca. — Daniel me deu um copo de limonada. — A cada
minuto fico surpreso com seus lados, suas nuances. Competitiva, hum?
— Muito. Eu odeio perder. — Sorri, ainda sem fôlego. — Estou
nojenta.
— Você se divertiu muito e isso foi adorável de assistir. — Ele me deu
um beijo suave nos lábios, ficando mais tempo do que o usual e fechou os
olhos. — Vem, vamos comer mais um pouco. Precisa repor tudo que
perdeu. E adivinha, tem sorvete de sobremesa!
E assim, eu soube que ganhei meu Daniel de volta. Ele precisou de um
tempo para lidar com a situação em sua mente e seu bom humor me deu a
segurança necessária para conversarmos sobre o assunto quando
chegássemos em casa.
Capítulo Trinta e Três
Giselle
Em alguns meses de relacionamento, aprendi a lidar com Daniel. Eu
sabia que uma briga poderia acontecer se insistisse em falar sobre Isabel,
mas, eu também sabia como ser amável com o dominante e assim, ele
olharia para minha submissão com carinho e me daria o que precisasse. À
noite, com uma camisola bonita, preparei um chá gostoso para nós dois,
servi tudo lindamente em uma bandeja e bati na porta de seu escritório.
Ele preparava o material para o dia seguinte e parou, interessado em
meu movimento. Apoiei tudo na mesinha do canto, para não correr o risco
de molhar as coisas dele. Peguei sua mão, levei-o para o sofá e lhe
entreguei a xícara com o pires, depois peguei a minha e sentei ao lado dele.
— O que é isso tudo? Saudades? — Arqueou a sobrancelha.
— Gostaria de conversar sobre hoje. Contar o que realmente aconteceu.
— Sei que foi Lanna. — Ele deu um gole, calmo. — Você parecia bem
controlada e não é falsa, portanto, imagino que manteve suas emoções sob
controle.
— Sim, mas…
— O que foi, Giselle?
Desisti de fingir que queria beber o chá e o deixei de lado.
— O que aconteceu com o seu noivado? Eu preciso saber dessa história
para entender como devo me sentir e, principalmente, como reagir em
ataques como o de hoje.
— Não desça ao nível dela — ele rebateu e o encarei, com minha
chateação no limite. — Tudo bem. — Suspirou e também deixou sua bebida
de lado. — Conheço Isabel há muitos anos, não necessariamente a família
dela, não éramos próximos, mas ela sempre estava nas festas da faculdade,
mesmo sendo um pouco mais nova. Um dia, sem saber, fizemos uma cena
juntos. Ela estava coberta, vendada e eu não a reconheci até a cena seguinte,
foi quando descobri que era uma submissa.
— Não ficou chocado?
— Não. Eu nem sequer dei importância, até porque, inicialmente, só
estava interessado no sexo. Éramos compatíveis. Com o passar dos meses,
concluí que podíamos ter um contrato fora do clube e assim começamos, até
que ela pediu para sermos mais. — Daniel inclinou-se para frente. — Eu sei
que sou um homem inteligente, porém, não percebi que, sutilmente, ela
estava manipulando as situações, fazendo os pais se aproximarem dos
meus, nos encontrando mais publicamente. Já tinha passado dos trinta e
havia uma pressão em meus ombros de ter uma família. Então eu cedi.
— O noivado foi um acordo como o nosso?
— Em primeiro lugar, nosso noivado é real.
Revirei os olhos. Ele entendeu o que quis dizer.
— Revirou os olhos para mim, Giselle?
— Desculpe. — Eu me encolhi. — Mas eu quero dizer sobre ser algo
sem paixão inicialmente. Estamos em um relacionamento real porque
descobrimos o amor. Você a amou?
— Não. Isabel era uma submissa nata e por mais que se esforçasse em
criar um vínculo, eu não conseguia. Havia uma barreira. Talvez fosse meu
subconsciente, porque de algum modo, eu sabia que tinha algo errado — ele
explicou e pegou minha mão. — Com um mês e alguns dias de noivado, ela
sugeriu que marcássemos a data enquanto eu tinha em mente termos um
noivado longo. No entanto, ela apresentou um teste de gravidez, lágrimas
nos olhos e muita alegria.
— Como seria possível?
Ele abriu um sorriso triste.
— Não seria possível. Não sendo meu, pelo menos. E por alguns
instantes, senti uma alegria enorme por ser pai, foram míseros segundos
suficientes para me destruir emocionalmente e concluir que eu tinha ao meu
lado uma completa mentirosa. — Daniel ergueu o olhar. — Não foi fácil
lidar com minha submissa mentindo descaradamente. Você sabe o quão
grave isso é em um relacionamento convencional. Imagina em um como o
nosso?
— De quem era o bebê?
— Quando eu contei a ela que tinha feito vasectomia, primeiro disse
que era impossível, porque estava grávida, tinha ultrassonografia e depois,
com muita pressão da minha parte, confessou que o filho era do meu pai e
que se eu não assumisse, ela contaria a todos a verdade sobre a minha
família. — Daniel suspirou. — Claro que não foi rápido e belo assim, estou
apenas resumindo. Mas Isabel trouxe um inferno para minha vida e para
meus pais, que até hoje fingem que não sabem de nada.
— Era do seu pai? — balbuciei, chocada.
— Meu pai fez uma vasectomia depois do nascimento da Leah, para
evitar mais filhos, o número que ele tinha era mais do que o suficiente. No
fim, ofereci uma quantia em dinheiro e a promessa de que minha família
nunca saberia. Ela aceitou e eu não sei que fim deu à criança. Quando
voltou, não estava mais grávida e, por sorte, poucos sabiam do nosso
noivado. — Ele mordeu o lábio, pensativo. — É por isso que não precisa se
preocupar. Isabel não tem chances, usando meu colar ou não. Ela não
merece nossa atenção. O que aconteceu hoje me deixou chateado porque
você nunca faltou o respeito comigo, sempre foi íntegra e não merece essa
ofensa. Eu odeio que passe por isso porque temos que ir à igreja para a
campanha política.
— Eu posso lidar com isso, amor. Agora que sei a verdade, saberei
como agir. E eu sinto muito. — Subi em seu colo, beijando-o. Ao contrário
das primeiras vezes, ele não ficou tenso. Apenas me abraçou apertadinho.
— Quando for a nossa vez de ter bebês, será maravilhoso e de muita
felicidade. Eu te amo.
— Obrigado. Eu te amo. — Ele me beijou apaixonadamente. Isabel era
pior do que eu pensava. Ela tocava no colar porque sabia que tinha ferido
Daniel e continuava por perto como uma lembrança constante de que um
dia o humilhou da pior maneira possível. Isso me acendeu um alerta. O que
mais essa mulher havia feito sem que a família soubesse?
— Por que seus pais fingem que não sabem?
Daniel esfregou minhas coxas, subindo minha camisola.
— Tive que contar a eles por conta de uma situação do passado, não
me sinto confortável de contar sem a autorização da minha mãe, mas espero
que um dia ela se abra com você. Só é complicado. Quanto menos pessoas
souberem, menos o risco dessa terrível história vazar. — Ele arrastou o
nariz pela minha bochecha. — Vamos para a cama.
— Dormir?
— Não ainda. — Ele sorriu daquela maneira devastadora que acendia o
fogo da excitação. — Darei umas boas palmadas nessa bunda antes de te
fazer gozar. Ainda está com o espírito brincalhão?
— Sim. Por quê?
— Então vamos nos divertir um pouquinho com alguns brinquedos. Te
quero maluquinha pra quicar com tudo no meu pau.
Daniel levantou-se comigo em seu colo, eu gritei e me agarrei em seu
pescoço. Deixamos o chá para trás e ele subiu a escada fingindo que ia me
deixar cair, me jogou na cama logo que entramos no quarto, tirou a roupa e
me puxou pelas pernas para arrancar minha camisola. O dia até poderia ter
tido altos e baixos, porém, terminar daquela maneira era simplesmente a
maior delícia.
Depois que conheci Daniel, tive que dar o braço a torcer sobre todas as
palestras que dava da importância de ter uma rotina. Meu peso estabilizou,
assim como meu sono e não tive mais crises emocionais porque encontrei
um equilíbrio mental de me manter sã nos momentos em que me via
perdida. Nunca fui boa em tomar decisões, a maior parte das coisas da
minha vida foram de supetão ou apenas o destino me guiando.
Principalmente depois da morte da minha mãe.
Daniel me ajudava muito, mesmo sendo meu dominante, nem todas as
vezes ele se intrometia e deixava a decisão final a meu cargo. Era a linha
tênue muito importante para mim, eu era a submissa dele, mas também uma
mulher capaz de pensar sozinha. Eu só precisava de alguém que me desse a
oportunidade de ter um tempo para pensar, entender e decidir. Acreditava
que a vida adulta possuía mais erros do que acertos, porque a sociedade
cobra muito o jovem adulto, que ainda não sabe porra nenhuma e é cheio de
pressão nos ombros.
Uma das coisas que ele mais trouxe alívio foi nos estudos. Não ter que
trabalhar fez com que eu me tornasse uma aluna ainda melhor e eu desejava
mesmo que o jovem pudesse ter um espaço para construir sua carreira. Foi
por esse motivo que me intrometi na campanha do meu sogro e pedi
algumas alterações. Fui uma criança pobre, à mercê de uma sociedade
capitalista e preconceituosa com imigrantes.
Fiquei muito feliz que meu sogro organizou uma reunião com a equipe
completa para me ouvir falar. Eu preparei o material com carinho. Daniel
revisou ortograficamente, deu ideias, debatemos em casa à noite e eu me
senti pronta. Apenas queria a oportunidade de tentar. Havia muitas crianças
como eu, mas que não tiveram uma mãe feroz como a minha, que foi capaz
de tudo para me manter na escola e mais ainda, lutar para me enviar para
universidade.
— Você foi bastante interessante e apaixonada no seu discurso de
inserir esses dados na campanha e por esse motivo, quero que seja o rosto
da educação infantil — Thomas pediu e Daniel ergueu o rosto quase na
mesma hora. — Eu acho que você e Daniel são perfeitos para isso. Ambos
são verdadeiramente apaixonados por educação.
— Mas não somos políticos — comentei, enquanto Daniel olhava
friamente para o pai. Toquei sua coxa.
— Não seremos mais usados como marionetes, afinal, essa é uma
paixão real para Giselle. A exposição já levou minha mulher para o hospital
e sabe os meus limites quanto a isso — Daniel falou com calma.
— Eu sei, meu filho. Mas a minha campanha também é real e,
infelizmente, sofremos essa dor. Independentemente dos caminhos que
estão me fazendo chegar até lá, não significa que não exista uma intenção
verdadeira no meu coração. A política me salvou.
— Vamos ver a exposição da Giselle com esse foco com muita atenção.
Afinal, os sequestradores não foram pegos. Expor tanto ela quanto a mamãe
pode ser muito perigoso.
Senti um arrepio e ele apertou meus dedos. Daniel não compartilhou
comigo o que Adam lhe entregou. Ele disse que, por estar em semana de
provas, poderia me estressar e eu teria que focar nos estudos. Aceitei. Mas,
no fundo, sentia medo que fosse uma notícia muito ruim e por esse motivo,
estava protelando a conversa como uma covarde. Confiava que ele, sabendo
da verdade, faria de tudo para me proteger.
Laurel e eu trocamos um olhar. Sua mão foi em direção à cicatriz no
ombro e eu tremi. Talvez nunca esquecesse o que aconteceu, mas esperava
superar um dia ao ponto de não doer mais e não sentir que poderia
acontecer novamente. Desejava seguir em frente e que esse episódio fosse
um recorte muito infeliz de toda uma vida maravilhosa.
Daniel precisou voltar para a universidade e à noite, teria uma reunião.
Para não ficar sozinha em casa, fui embora com os pais dele. Laurel e eu
decidimos comprar louças novas, para começar a montar meu enxoval. A
casa já era toda montada e do jeitinho que Daniel gostava, mas ele herdou a
casa dos avós, era uma mansão enorme. Depois de muita conversa,
decidimos nos mudar para lá. Filhos não estavam em pauta naquele
momento, mas existiriam um dia.
Sem contar que eu queria ter espaço para receber nossos amigos e
família, ter quartos para Maria e Guilhermo ficarem comigo por um tempo.
Fora que o status da família meio que pedia algo do tipo depois de um
casamento. Daniel estava mais animado em ter um quintal e piscina, para
dias quentes, do que pelo tamanho da casa em si. Eu estava assustada.
Morava em um quartinho e dormia no chão. Meu acordo nupcial garantia
que aquela casa era minha para sempre, até mesmo em um possível
divórcio. O quanto minha vida havia mudado estava além da minha
concepção.
Aramita bateu na porta do escritório com bebidas frescas. Eu estava
escolhendo as cores da cozinha, já que a casa passaria por reformas e a
arquiteta de confiança da família enviou tudo o que estava na moda e
também fazia o estilo do Daniel (eu era louca pelo bom gosto do meu futuro
marido e aprovava tudo).
— Eu fui a uma loja com Leah mais cedo e soubemos que uma estilista
britânica está abrindo um ateliê em Nova Iorque — Aramita contou,
empolgada, e me deu um relógio sofisticado. Era tão bonito que fiquei com
medo de mexer.
— Quem? Eu tinha pensado em seguir o estilo romântico da Giselle
para escolha do vestido. As estilistas britânicas têm muitas opções assim. —
Laurel inclinou-se para ler sobre meus ombros. — Olha que vestido
incrível, parece de princesa! Esse sobrenome não é familiar?
— Eu vi uns modelos do Alexander McQueen, mas ter um exclusivo
seria melhor ainda. Espero casar uma única vez, portanto, quero que seja
memorável. — Dei uma olhada, tentando lembrar de quem conhecíamos
com aquele nome. — Ah, o bonitão britânico! Ele tem esse sobrenome.
Será filha dele?
Laurel olhou no Google e descobriu que era irmã, ela só fazia peças
exclusivas e tinha uma agenda apertada. Fiquei apaixonada pelas roupas e
pedi que Aramita marcasse um horário, se não conseguíssemos, iria atrás do
homem que veio no meu noivado para mendigar a atenção da irmã dele. Eu
queria um vestido dela e iria conseguir.
Capítulo Trinta e Quatro
Daniel
Depois de verificar Giselle na casa dos meus pais, guardei o telefone
no bolso, ainda rindo da foto que me enviou com a boca cheia de macarrão
e minha sobrinha, Annie, em seu colo, com o rosto tomado de molho de
tomate e um sorriso sapeca. Minha noiva tinha até a mulher mais jovem da
casa enrolada em torno do seu dedo mindinho. Minha família era ambiciosa
e inescrupulosa em muitas coisas, mas também era real e por mais que me
irritassem, todos nós nos amávamos muito.
O maitre do restaurante luxuoso de um dos hotéis mais caros da cidade
me levou para a mesa em que meu acompanhante me esperava. Vere
Chantal-Cadogan ficou de pé logo que me viu e estendeu a mão. Apertei e
apontei para que se sentasse e ficasse à vontade. Não disse o motivo pelo
qual queria encontrá-lo, o homem aceitou antes mesmo que finalizasse
minha frase, por isso, fui sem delongas. Deslizei pela mesa uma foto dele
com a falecida mãe da minha noiva.
— Você namorou a mãe da Giselle exatos vinte e quatro anos atrás.
— Sim. — Ele não negou e olhou para a foto com carinho. — Juana foi
um grande amor da minha vida. Eu vim para os Estados Unidos estudar
fotografia e passei um ano na cidade, onde eu a conheci depois de um
espetáculo na Broadway que eu fotografei. Mas, infelizmente, meu pai
faleceu e tive que voltar para casa. Juana não queria um relacionamento à
distância, muito menos ir embora comigo, ela estava muito focada na
carreira. Nós terminamos com tristeza e dor.
— Nunca mais a viu?
— Não. Eu voltei alguns meses depois e não a encontrei mais, busquei
amigos em comum e nenhum deles soube me dizer algo. — Vere
continuava olhando para a fotografia com tristeza. — É lamentável saber
que morreu.
— O que você pensa sobre Giselle?
Vere abriu um pequeno sorriso.
— Aquela linda garota é minha filha. Não vou dizer que tenho certeza,
afinal, Juana nunca me disse que nosso relacionamento teve frutos. Mas há
algumas semanas, eu acordei com minha adorável irmã invadindo meu
quarto com a foto de um jornal, dizendo: “olha só como essa mulher é
idêntica à mamãe? Ela tem o sobrenome daquela sua namoradinha
cubana!”. E aqui estou eu, querendo saber se ela é, de verdade, minha
filha.
Porra. Senti que o equilibrado mundinho que compartilhava com minha
noiva estava prestes a ser abalado.
— Você acredita que Giselle possa ser sua filha?
— Eu passei as últimas semanas lutando contra sua equipe para saber
mais sobre ela. Devo dizer, Adam Byrne é uma muralha quando se trata de
proteger a história dos seus. Eu tinha que ter uma noção de como me
aproximar e dizer que existia a possibilidade. — Vere enfiou a mão no
bolso e tirou seu telefone, abrindo uma foto. — Essa é uma fotografia da
minha mãe com a idade da Giselle.
Elas eram idênticas.
— Giselle não sabe quem é o pai dela e eu preciso que saiba, não sou
um homem fácil de lidar e quando se trata de proteger a mulher que amo
física e emocionalmente, não tenho limites. Não sei quais são suas
intenções, mas…
— Se ela for minha filha, saiba que já perdi vinte e quatro anos da vida
dela. E não farei nada além de ser o pai que ela merece. Eu posso ter uma
filha, Daniel. Ninguém, nem mesmo você, sua família, toda proteção, vão
me impedir. E acredite, estou sendo gentil de estar em um território
desconhecido, mas conheço pessoas importantes e tenho dinheiro para
pagar outras. — Ele me deu um sorriso perigoso. — Cedo ou tarde, vou
descobrir se ela é, ou não, minha filha, minha herdeira.
Uma das maiores dores de Giselle era não ter uma família e também,
um dos seus maiores sonhos. Era apegada à minha família como se fosse
sua própria, mas existia a possibilidade de ter um pai. Vere tinha um
histórico de homem tranquilo, absurdamente rico, fotógrafo, que fazia o
necessário para manter a fortuna. Como era muito bem relacionado, seu
sobrenome era aceito em qualquer roda da alta sociedade.
Giselle cresceu pobre e o pai era um dos homens mais ricos do mundo.
Se ela ficou maluca com minha fortuna… ela iria desmaiar com o
patrimônio do possível pai.
— Eu vou conversar com ela e ver o que sente em relação a tudo, assim
podemos marcar um exame de DNA.
— Não tenho a mínima intenção de ferir essa doce garota. Eu apenas
quero…
— Sim, entendi. E eu aceito isso.
Ele me deu um aceno.
Vere queria que eu o conhecesse um pouco para ter o que contar a
Giselle. Nós jantamos em um clima amigável, ele era gentil, tranquilo, sabia
quando e como ser agressivo. Eu podia respeitá-lo por ser um bom leitor de
ambientes. Passei para buscar Giselle, que cochilava no sofá, assistindo a
um filme e me despedi dos meus pais. Ela estava com muito sono, cansada
e por isso, não falei nada naquele momento.
Tomamos banho e deitamos para dormir. Acordei antes dela, pela
primeira vez sem saber como iria reagir.
Ela bocejou antes de abrir os olhos, rolou para cima de mim e beijou
meu peito.
— Quero comer avocado, tem?
— Vou comprar rapidinho.
— Não precisa sair de casa para isso.
— Você acabou de me dar o desejo de comer ovos com torrada fresca e
avocado. Acompanhado de um delicioso café preto fresco.
— Hum…
Seu estômago roncou, me fazendo rir. Eu me vesti para sair de casa
rapidamente, fui no mercado do bairro e quando voltei, café e ovos já
estavam prontos. Enquanto as torradas assavam, fui até o escritório, peguei
a foto que escondi e voltei para a sala de jantar. Esperei que comesse antes
de colocá-la na mesa.
— O que é isso? — Ela agarrou a foto. — Minha mãe e o bonitão
britânico. Eles parecem próximos aqui. Será que foram namorados? Como
conseguiu isso?
— Eu fiquei curioso sobre ele, sua história e a semelhança que notei
entre os dois quando dançavam.
— Semelhança?
— Você não achou que ele era familiar? E não se ligou que a pessoa
com quem Vere se parece é com você? — Peguei sua mão e apertei seus
dedos. — Sua mãe o namorou um ano antes do seu nascimento. Então, eu
pedi que Adam fizesse uma pesquisa.
Giselle abriu a boca e fechou rapidamente.
— Minha mãe realmente namorou esse homem rico?
— Eu amo a sua doce inocência, mas hoje, você está em negação.
— ELE PODE SER MEU PAI? — ela gritou quando finalmente
entendeu o que eu queria dizer de fato. — Daniel! Como assim? Ele é rico,
minha mãe me criou contando moedas e não consigo imaginar que fosse
uma mulher orgulhosa a esse ponto!
Ela ficou tão inquieta que chegou a pular na cadeira.
— Somente ela poderia dizer os motivos pelos quais nunca o procurou,
mas a possibilidade existe e ele percebeu a semelhança, tanto que está na
cidade, tentando um meio de fazer um teste de DNA. Resta saber se você
está disposta a descobrir a verdade.
— Eu não sei. Quer dizer, sim. Não sei. E se ele não for? — Seu rosto
foi ficando vermelho. — Estou confusa.
— Podemos fazer o teste e apenas se der positivo, você encontra com
ele. Caso contrário, vamos seguir nossas vidas e lidar com qualquer
sentimento que vier a crescer. Lembre-se sempre que estou com você, não
te deixarei em nenhum momento.
Giselle saiu do lugar e ficou andando de um lado ao outro, mastigando
o lábio com crueldade. De repente, parou, virou-se para mim e disse com
decisão firme que faria o exame. Peguei meu telefone e mandei uma
mensagem para a assistente da minha mãe, pedindo para que marcasse tudo
com extrema discrição. Mamãe nos ligou em seguida, chocada. Tivemos
uma chamada de vídeo com meus pais e eles não conseguiam esconder o
quanto estavam animados com a possibilidade de ter um filho casando com
uma mulher de sangue azul, não só uma muleta de campanha para mostrar
que somos bons com imigrantes.
— Eu sei que isso te irrita, mas é a maneira que eles são. Eu já fico
feliz e aliviada que não é a maneira que você é. — Giselle me deu um beijo.
— Sei que ama a Giselle a quem você mostrou como dormir em uma cama
novamente, a que levantou a saia para ganhar uma surra e que se descobriu
sexualmente.
Nada me fazia mais feliz do que saber que ela conhecia meu amor
como a palma de sua mão. Assim como eu, ela era cheia de camadas, mais
sutis e bonitas e, cada uma delas era dona do meu ser. Ergui meu indicador
e sinalizei para que se aproximasse, dando um tapinha na minha coxa, em
uma ordem silenciosa para sentar ali. Obedecendo, acomodou-se e ouviu
atentamente o que faríamos a seguir.
Levando em consideração o impacto do resultado daquilo na vida dela,
mantive sua mente distraída com várias tarefas para controlar a ansiedade.
Ela também tinha treino e vários trabalhos que seu orientador havia pedido,
com isso, fomos juntos à clínica sem que tivesse percebido os dias
passando. Vere fez o teste em um dia diferente, para evitar um encontro.
Giselle odiava agulhas e ficava nervosa com sangue.
— Quando for a vez dos nossos filhos, eu quero que seja você a
segurar a mão deles. Eu não terei coragem — ela falou baixinho, sem
encarar a agulha no braço.
— Deixa de ser covarde — brinquei e ela fez um beicinho. — Você vai
ter coragem pelos nossos bebês.
— Acabou? — Ela ficou aliviada quando a enfermeira terminou.
O resultado ficaria pronto em três dias. Antes de saber, tínhamos um
baile muito importante que definiria a corrida da campanha. Com a família
de Isabel sendo uma oposição irritante e praticamente lambendo o rabo dos
Vaughn, eu me preocupava com o acordo que meus pais fizeram
diretamente com o diabo com quem Sienna trabalhava. Eles não estavam
brincando de investir. E queriam muito definir os ganhos, porque colocaram
no páreo dois candidatos da mesma folha de pagamento.
O que aconteceria com meus pais se eles decidissem que a outra
família ganharia? Como manter meus irmãos vivos e relevantes nessa
guerra política tirava meu sono. Ter uma vida a construir enquanto isso
ficava no fundo da minha mente e estava começando a me atrapalhar. Eu
precisava de respostas. E rápido.
Adam me ligou em uma tarde em que Giselle estava fazendo compras
para nossa nova casa, por isso, pude atender sem me preocupar.
— Temos boas e más notícias.
— Apenas me diga se o sequestro foi encomendado pela oposição.
— Não diretamente pela oposição atual. Eles não sabiam de nada,
provavelmente, seguem não sabendo. Vince Vaughn é muito próximo de
alguém perigoso e importante. Ele jamais compactuaria com o sequestro de
duas mulheres, mas, estamos lidando com um alguém apoiando-os sem
fazer parte da nossa cadeia de planos — Adam explicou e senti um arrepio
na espinha. — Posso provar? Ainda não. Mas eu posso dar um fim nisso em
um piscar de olhos.
— Sem uma confirmação, não dessa forma. Eu preciso de uma prova,
mesmo que pequena.
— Eu vou agilizar isso e formar a linha do tempo.
— Não conte nada aos meus pais. Meu pai tem uma cabeça quente e
vai meter os pés pelas mãos, até fazendo justiça com os próprios punhos —
pedi e Adam concordou, encerrando a chamada.
Se a família Gutierrez estivesse envolvida, eles pagariam. Nunca tive
em mente que, dominando minhas emoções ou não, eu era um bom homem.
Feriram minha família e a justiça seria feita, mas não estava falando de uma
justiça divina ou a dos homens. Seria o tipo de justiça no mesmo nível de
horror e dor que eles proporcionaram a elas. Tudo na minha vida possuía
limites bem definidos, inclusive, minha índole e honestidade.
Giselle entrou em casa, gritando e eu me levantei, acreditando que ela
estava ferida. Saí correndo, derrubando uma mesinha no meu caminho. Seu
rosto estava banhado em lágrimas, um pouco descabelada e pálida. Minha
mãe entrou correndo atrás dela, assim como Lanna e Leah. Elas estavam
confusas por suas expressões.
— O que aconteceu com você? — Fiquei nervoso, a um passo de
perder minha cabeça. Se ela estivesse ferida, eu ia matar um.
— O resultado do teste saiu mais cedo do que o esperado. — Sua voz
saiu em um sussurro. — Aqui diz que eu tenho um pai. — Mostrou a tela
do telefone e, sem aviso, revirou os olhos e desmaiou.
As meninas gritaram e eu corri para segurá-la antes que batesse a
cabeça no chão.
Capítulo Trinta e Cinco
Giselle
— Merda, merda, merda! — Esfreguei a mancha no tapete com mais
força. — Mas que droga, sua tonta desastrada!
— Giselle! Pare! — Daniel usou um tom de voz grosso, cheio de
autoridade, que me fez congelar. Ergui meu olhar, com as mãos cheias de
espuma e soltei a escova. — Estou te chamando, tentando te falar que é
apenas um tapete. Caiu vinho, ok? Vamos comprar outro assim que
possível!
— Eu só queria a casa perfeita e, justamente hoje, derramei vinho tinto
no meu tapete favorito! Sei quanto essa peça custou! — rebati. Ele suspirou
e esticou a mão, me convidando a ficar de pé.
— Minha paciência está por um fio. Estou tentando deixar passar seus
rompantes porque está nervosa, mas pare, antes que nosso convidado
chegue aqui e não entenda os motivos pelos quais ficará a noite inteira
andando atrás de mim de joelhos para aprender a se controlar. — Daniel
segurou meus ombros. Exalei, pensando se um joguinho antes do jantar
poderia possivelmente acalmar meus nervos. — Não dá tempo, não me olhe
assim. Ele vai te amar. É impossível não te amar.
— Quero muito que ele seja legal, goste de mim e…
— Ei, chega. — Daniel me beijou. — Acalme-se.
O forno apitou e eu fui até ele, tirando a carne com cuidado. Daniel
transportou-a para a travessa e toda a montagem da mesa estava incrível. A
campainha tocou, dei um pulinho, ansiosa, ele riu e foi atender. Parei no
limiar do corredor e Phillip anunciou a chegada do homem que estava
dominando meus pensamentos pelo simples fato de ser meu pai. Vere
segurava flores, vinho e um ursinho de pelúcia.
Dei uns passos à frente, mordendo o lábio e parei. Ele me olhou com
uma emoção indescritível. Encarei Daniel, tentando não chorar e respirei
fundo, mas perdi a batalha.
— Ah, querida. — Ele soltou todas as coisas no sofá e me puxou para
um abraço. — Estou aqui, minha filha. E a partir de agora, não irei a lugar
algum.
— Você é meu pai.
— Eu sou — confirmou com um sorrisinho. — Perdemos muito tempo
da vida um do outro e eu quero mesmo fazer valer a pena.
Daniel me entregou um lenço, esfregando minhas costas.
— Por que será que a mamãe nunca te contou?
— Amor, vamos convidá-lo para se sentar? — Daniel falou baixinho e
eu ri.
— Sim, sim! Por favor, vamos nos sentar. Gostaria de uma bebida?
Tem vinho, suco, água, refrigerante e meu noivo é excelente no preparo de
uns drinques.
— Por enquanto, quero água. — Ele pegou as flores e o urso. — Aqui
está. E o vinho é para você, Daniel. Obrigado por fazer esse encontro
acontecer.
Vere sentou ao meu lado no sofá e começamos a conversar. Ele
conheceu minha mãe em Nova Iorque quando se mudou para estudar
fotografia e eles imediatamente engataram em um romance intenso. Ele
queria morar junto e levá-la para fora. Demonstrou muita surpresa quando
contei que mamãe fugiu de Cuba aos vinte anos, com uma filha de três anos
nos braços e era casada.
— Sinto muito que não sabia disso. — Fiquei envergonhada que minha
mãe mentiu para ele ou omitiu uma informação importante de seu passado.
— Talvez tenha sido esse o motivo pelo qual ela nunca quis ir embora
comigo. Para casar com outra pessoa, precisaria enfrentar o divórcio. Cedo
ou tarde, com certeza eu descobriria. — Ele deu um tapinha na minha mão.
— Mesmo assim, eu estava tão profundamente apaixonado, que não me
afastaria.
— Ele era um marido muito ruim, abusivo, mamãe fugiu dele com a
filha e a menina morreu. Não teve um começo de vida bom.
— Faz sentido sobre o quanto ela era arisca e desconfiada. Demorei a
conquistar a confiança dela, fazer com que relaxasse ao meu lado, mas
talvez, ela nunca se sentiu segura o suficiente. Eu era jovem, queria viver
por aí, brincar — Vere explicou e virou-se um pouco mais de lado. —
Quando fui embora, estava magoado com sua mãe, mas eu voltei para
procurá-la. Não a encontrei, segui minha vida, anos depois eu me casei e
tive um filho.
— Eu tenho um irmão?
— Sim! Ele é encantador. — Vere mostrou a foto de um adolescente.
— Maximilian Albert Chantal-Cadogan tem dezesseis anos e é dono dos
meus cabelos brancos.
— Ele é lindo.
— Esses olhos puxados é a marca registrada da família, pelo visto —
Daniel comentou atrás de nós e eu o olhei. Era uma das coisas que ele mais
amava em mim.
— Contei a ele sobre você e está ansioso para te conhecer. — Vere
abriu um sorriso.
— Contou? Sua família sabe sobre mim? — Arregalei meus olhos.
— Nossa família — ele me corrigiu com suavidade. — Foi minha irmã
quem me mostrou sua foto no jornal e minha mãe é uma mulher peculiar.
Vere era divertido, simpático, incrível e a nossa noite foi divertida,
assim como todas as outras enquanto esteve na cidade. Nós fizemos muitas
coisas juntos, sempre conversando muito e contando sobre nossas vidas.
Apesar de todo o detalhe aristocrático e importante, como dinheiro e
posição na sociedade, ele era um homem que andou de patins no gelo
comigo e quis fazer minhas fotografias de pré-casamento com Daniel.
Por três semanas, me senti a garota mais sortuda e incrível do mundo
por ter um pai e fiquei chorosa quando precisou ir embora. Daniel prometeu
que estaríamos na Inglaterra para conhecer minha tia, ter minha primeira
reunião do vestido e também conhecer a ex-mulher do meu pai, meu irmão
e o restante da família.
Alguns dias depois, recebi uma notificação do advogado. Vere entrou
com um pedido para mudar meu sobrenome. Madero era o nome de casada
da minha mãe, ou seja, sobrenome do marido que não era meu pai. Vere
queria me reconhecer como filha oficialmente, me incluir no espólio da
família e no testamento. Eu me tornaria Giselle Chantal-Cadogan (e
Montgomery depois do casamento).
— Eu devo aceitar isso? — questionei a Daniel.
— É seu direito. — Ele desviou o olhar do computador. — É filha e
tem que ter todos os direitos de uma herdeira. Isso inclui um sobrenome e
dinheiro, não só ter uma relação próxima do seu pai.
— É muita coisa sair do nada e de repente, ser herdeira de um homem
rico, britânico, que possui títulos reais e é dono da porra de um castelo na
Escócia. Sério? Eu acho que estou infartando. — Coloquei a mão no meu
coração. Daniel riu, saiu de sua cadeira bruscamente e me pegou. Soltei um
grito e ele me colocou no sofá, de bunda para o alto. — Ai, meu Deus.
— É isso. Você torrou toda a minha paciência — ele avisou, mas
estava rindo.
— Vai me bater só porque estou ansiosa? — Balancei meu bumbum,
dando uma rebolada que eu sabia que deixava ele maluco.
— Gostosa. — Afundou os dentes na minha nádega. — Mas sim, vai
apanhar e não vai ser com a minha mão.
Eu gemi com a primeira cintada. Minha bunda estava toda para o alto,
a calcinha fora do lugar e ele acertando o cinto de couro com precisão nos
lugares certos. Sem aviso, meteu o dedo na minha vagina, tocando um
ponto específico que me deixou toda arrepiada. Já molhada, porque eu era
uma safada sem vergonha que adorava apanhar dele, soltei um gemido alto
ao sentir seu pau na minha entrada.
Daniel meteu com tudo e foi gostoso. A maneira brusca que estocava
era o que mais estava me enlouquecendo, deixando minha pele aquecida,
construindo uma sensação de prazer no meu ventre deliciosa que explodiu
em um orgasmo incrível enquanto seu dedo pressionava meu outro buraco.
Choraminguei com a cusparada e a introdução mais intensa, me sentindo
cheia em ambos os meus buracos.
— Eu quero gozar — pedi baixinho.
— Ainda não, amor. — Daniel foi suave, mas era uma ordem. — Estou
sentindo sua boceta apertando meu pau. Não goze. — Bateu forte em um
lado mais sensível, uma pequena lágrima escorreu dos meus olhos e mordi
o lábio, forte, precisando me conter.
Ele apertou bem meu quadril, segurando-me enquanto metia e
finalmente, me permitiu liberar a onda de prazer que queria explodir a todo
custo. Ele me manteve parada para gozar, gemendo da maneira gostosa que
fazia e me dava vontade de começar tudo de novo. Ele me segurou, sem se
importar com todo seu esperma escorrendo pelas minhas pernas.
— Olha só o que você faz? Me distraiu do trabalho, de novo. É a
terceira vez essa semana, Giselle. — Beijou-me apaixonadamente.
— Eu tenho culpa de ser irresistível? — falei contra seus lábios.
— Insolente. — Apertou minhas nádegas de forma rude. — Suba e se
prepare para dormir. Hoje, você treinou e aloprou meus sentidos com seu
tagarelar sem limites. Está na hora de descansar, amanhã falaremos sobre a
mudança do seu sobrenome para o do seu pai.
— Tudo bem. — Sorri e já ia saindo, mas voltei, beijando-o de
surpresa. — Te amo incondicionalmente.
— Eu sei, bebê. Te amo mais. — Segurou meu rosto e arrastou os
lábios nos meus. — Te encontro na cama.
Subi as escadas correndo, tomei banho cantarolando, vesti uma
camisola confortável sem sutiã e calcinha. Com meu cabelo preso em uma
trança, conversei com Maria antes de dormir, depois, respondi todas as
mensagens do meu pai. Eu ainda precisava me beliscar para acreditar que
tinha uma família do outro lado do oceano. Maria não sabia dizer por que
mamãe nunca procurou meu pai, nem os motivos pelos quais decidiu me
criar sozinha.
Imaginava que ela sentiu vergonha de aparecer grávida depois de ter
terminado, de parecer que era aproveitadora. Sendo uma mulher que
batalhava muito para ter tudo, não aceitaria um mísero dólar sem ter
trabalhado para aquilo, mesmo que uma pensão fosse meu direito. Também
deve ter sentido medo por não ter contado sobre o antigo casamento e a
filha. Seria impossível saber a verdade, porém, não conseguia esconder a
felicidade de que eu tinha uma família.
E era só minha.
Meus sogros estavam explodindo confetes pelos ouvidos. Parte era
pelo status que minha ligação com um ducado traria à família Montgomery,
mas havia uma pequena e importante parte dedicada a mim, estavam
realmente felizes pela minha alegria.
Enquanto Daniel não subia e o sono não chegava, fiquei com minha
agenda da noiva. Era complicado gerenciar uma campanha com um
casamento, as datas precisavam coexistir sem causar problemas com a
agenda apertada de todos. Sem contar que eu queria mesmo que minha nova
tia fizesse não só o meu vestido, como o de minha sogra Laurel, minhas
madrinhas Maria, Lanna e o da dama de honra, Leah. Annie seria a menina
das flores.
— Ainda acordada e sem largar essa agenda. — Daniel entrou no
quarto tirando a roupa. — Está tarde.
— Acha que pode usar uma gravata verde escura no nosso casamento?
— Sim, eu gosto da cor. Por quê?
— Acredito que irá realçar a cor dos seus olhos. — Fechei a agenda.
— Estou ansiosa para o nosso casamento.
— Estou percebendo. — Ele sorriu e me deu um beijo. — Vou tomar
banho e quando voltar, te quero dormindo. Amanhã precisaremos acordar
cedo.
— É sábado. Temos alguma coisa para fazer?
— Quieta. Durma. Agora. — Ele foi firme.
Curiosa, pensei que estava aprontando alguma coisa e me cobri,
apagando a luz do meu lado do abajur. Peguei no sono, tive uma noite
tranquila e acordei sozinha. Achei estranho que meu despertador não havia
tocado. Procurei pelo meu telefone e não o encontrei, o relógio digital
estava desligado da tomada e sentei-me na cama, desesperada para saber a
hora.
— Amor? — chamei baixinho, sentindo um pouco de pânico por seu
lado estar frio. Eu não gostava de ficar sozinha em casa. — Daniel?
— Aqui — ele falou do primeiro andar.
— O que aconteceu? — Saí da cama de fininho e parei perto da porta.
— Por que não me acordou?
— Desça.
— Estou de pijama ainda.
— Desça, Giselle — falou e ouvi outro som, mas não consegui
entender o que era.
Apoiei a mão no corrimão e enfrentei um degrau por vez. Assim que
pisei no primeiro andar, fui abatida por duas ferinhas peludas. Eles
morderam meu pé, depois pularam em minhas pernas. Abaixei, sorrindo,
agarrando-os e ganhando lambidas. Daniel estava encostado na soleira da
porta com um belíssimo sorriso.
— O que é isso?
— São nossos novos companheiros — ele me respondeu com carinho.
— Você tem medo de ficar em casa sozinha e em breve iremos morar em
um lugar maior. Vamos treiná-los para cuidar da casa, ter disciplina e te
fazer companhia. As aulas de adestramento começam na segunda-feira. É
uma fêmea e um macho.
— Já escolheu os nomes? — Levantei-me com eles nos meus braços,
rebolando os rabinhos. Tinham a pelagem curta em um tom negro.
— Não sou bom com isso. Nunca tive cachorros antes, mas andei
estudando e pesquisando a possibilidade por um tempo e acredito que será
muito bom para nós.
— Eu amei. Sempre quis ter e nunca pude, agora com uma casa maior,
nossa família aumentou. Ah, estou muito feliz!
Daniel e eu trocamos um beijo e eles latiram, me dando lambidas.
Coloquei os dois no chão, já planejando fazer compras de brinquedos, mas
antes, peguei meu computador para pesquisar os melhores nomes para meus
bebês.
Capítulo Trinta e Seis
Giselle
Daniel passou por mim, suado, sem camisa, com a calça jeans caída na
cintura e segurando uma ferramenta. Mordi o lábio, adorando o showzinho
e até parei de dobrar as toalhas de mesa da cozinha para observar melhor.
Ele riu, ciente de que estava sendo paquerado, piscou e voltou para o porão.
Nosso novo calabouço. Era o primeiro dia na casa nova, fizemos nossa
mudança com uma empresa que organizou tudo aquilo que não era
extremamente pessoal.
Joias e outras coisas íntimas, nós trouxemos sozinhos, assim como os
itens do calabouço. Ele estava montando o quarto e pedimos que os
armários fossem montados quando a banheira foi instalada. Ele estava
furando o teto, pendurando coisas, organizando nosso material com todo
cuidado e precisão. Eu fiquei na parte de cima, deixando a cozinha do jeito
que queria.
Um pobre quando se muda, a casa fica vazia e cheia de caixas.
Normalmente, levam-se semanas, até anos para a casa ser decorada. Rico se
muda com tudo pronto, decoração, móveis e praticamente uma mansão de
novela. A casa era linda e familiar, deixamos algumas coisinhas dos avós
dele como uma lembrança carinhosa. Outras, trouxemos da antiga casa que,
por enquanto, estava fechada, entraria em reforma para ser vendida.
Os filhotes estavam dormindo em uma cesta no quintal. Eles brincavam
muito o tempo todo, adoravam ficar juntos, eram fofos. Eu queria nomes
bonitinhos, mas Daniel se recusou a chamar de Cookie e Pipoca dois
American Bully. Eles não seriam bravos, mas treinados, iriam assustar
bastante. Além do mais, a intenção era de que eu não me sentisse sozinha
quando ele precisasse viajar.
Eu tinha noção de que, aos poucos, deveria ter mais autonomia e parar
de ser medrosa. Todo dia, brigava comigo mesma, porque antes do
sequestro, eu fazia tudo sozinha e não tinha medo de nada. Depois, fiquei
insegura, ansiosa, sempre pulando com um barulho diferente e ficando com
dor de cabeça por ficar atenta o tempo todo. A terapia ajudava sim, no
começo, odiava, depois, entendi a importância. Os exercícios que ela me
ensinava acalmavam a paranoia de que qualquer pessoa ao meu redor
poderia me pegar.
Quando meu pai soube que eu fui sequestrada, ele e Daniel tiveram um
embate desnecessário sobre a minha segurança. Claro que ele tinha razão
em se preocupar, mas Daniel sempre me protegeu. Phillip ficava perto, eu
tinha alarmes, botões de pânico no carro e nunca saía sozinha. Perdi um
pouco essa autonomia, fazia tempo que não dirigia, mas eu também não era
hipócrita. Depois que meu relacionamento ficou público, tive mais atenção
que antes e agora mais ainda, pois meu sobrenome havia mudado
oficialmente.
A história sobre como meu pai me encontrou foi feita com uma
narrativa emocionante nas redes sociais e fui considerada a nova Cinderela.
Meu sapatinho de cristal significava um noivo rico e um pai bilionário após
ter sido criada na pobreza. As pessoas começaram a ficar interessadas no
passado e os vídeos da minha mãe dançando se popularizaram com os meus
e assim, passei a ser bombardeada por convites para fazer parte de
companhias de dança.
Queriam um rosto que estava bombando com a junção de sobrenomes
em alta. Eu não tinha tempo. Com o casamento e meus estudos, fiquei
lisonjeada, mas neguei. Não podia mais ser bailarina profissional, não
desviaria do meu foco de me formar academicamente e ter minha carreira.
Ter experiência de palco ajudaria muito, mas, eu era uma só e tinha que
fazer escolhas. Até pensei que seria doloroso dizer não e incrivelmente, não
foi. Estava certa do que queria. A construção de uma carreira sólida era
mais importante do que espetáculos que só queriam aproveitar “meu hype”.
Se fosse antes, faria diferença. Principalmente porque ser famosa me
traria dinheiro e no quesito sobrevivência, aceitaria sem pensar. Não era
mais a minha realidade. Eu tinha muito na conta para sobreviver e cuidar de
todas as pessoas que amava. Fui capaz de comprar uma casa nova para
Maria e Guilhermo viverem confortáveis perto do filho, mas sem estar de
favor na casa de parentes da nora.
Daniel enviou uma pessoa para pesquisar a região para que Guilhermo
realizasse o sonho de ter seu próprio negócio. Ele me acolheu em sua casa
pequena e apertada, sem que eu fosse sua filha. Quando não tinha dinheiro
para comer, acordava mais cedo e cozinhava comida para mim. Aquele
homem e sua esposa me abraçaram, me amaram quando minha mãe morreu.
Eu nunca os deixaria, eles eram parte do meu ser e estava ansiosa para que
pudessem vir logo para ficar comigo.
Meu pai queria dar a eles o mundo em gratidão por cuidar de mim e
isso dizia muito sobre o coração dele. Cada vez que o conhecia mais, ficava
encantada. Apesar de ser severo com algumas coisas, era divertido e
carinhoso. Conversei com minha avó mais de uma vez e ela era
maluquinha, nossa semelhança no passado me assustava e eu também era
extremamente parecida com minha tia, ela só possuía os cabelos mais
claros.
— Ei, sonhadora — Daniel me chamou. — Vem aqui.
— O que precisa?
— Quero fazer um teste. — Ele pegou minha mão e me levou escada
abaixo.
A climatização ainda não estava funcionando, mas as luzes automáticas
sim e ficou muito bonito com as paredes pretas com tons de dourado. A
cama estava desforrada. Ele pediu para que eu tirasse meus sapatos e fiquei
só de meia, sem o vestido. Em silêncio, esperei que amarrasse meus braços
e testasse os penduradores. Pediu para que eu me balançasse e forçasse meu
peso para baixo, mas algumas posições me deixaram enjoada.
— Já prendeu a cruz?
— Sim. Vamos testá-la também, quero ter certeza de que tudo é seguro
antes de começarmos a usar aqui. Como o quarto é maior, poderemos ter
aquele banco tântrico que vimos na internet. — Apontou para o espaço
vazio e eu sorri, empolgada. — Como precisaremos de funcionários, quero
que a limpeza e cuidado aqui sejam exclusivamente seus. Essa semana, a
empresa virá para instalar a trava e a senha será apenas nossa.
— Tudo bem. Acredito que não precisaremos de funcionários nos
finais de semana e vivendo na casa, eles podem cumprir um horário e ir
embora. Se a cozinheira deixar bastante comida adiantada, congelada,
poderemos nos virar, além do mais, sábado e domingo raramente estamos
em casa, ainda mais agora que a campanha no partido vai começar
oficialmente.
— Está nervosa?
— Acredito que seu pai irá ganhar, são muitos acordos que nos levam a
isso e sei que a eleição final será ele contra o Vaughn, mas…
— As outras pessoas te preocupam — ele concluiu.
— Sim.
Daniel sentou-se na cama e deu um tapinha ao lado.
— Adam me entregou material o suficiente que liga seu ex-chefe na
boate a pessoas que não fazem parte dos planos, mas estão jogando o
próprio jogo como se, no fim, fosse mudar o resultado. — Ele pegou minha
mão. — O homem que te sequestrou, não é rico, nem tem um histórico
conhecido. Oficialmente, ele não tem bens, não possui um salário fixo, mas
vive em um bom bairro e está sempre perto da alta sociedade.
— Aqueles papéis… Adam sabe quem ele é?
— Sim. Ele me entregou tudo que encontrou. Mas não tem provas dos
mandantes, que é o que me interessa. Seu ex- chefe, a Vanessa e esse
homem em específico, são executores. Eu quero quem arquitetou.
— Mas ele não vai ser preso?
Daniel franziu o cenho.
— Claro que não. Eles serão mortos.
Soltei a mão dele. Como assim?
— Daniel?
— Eu não vou matá-los, não sou assassino, mas outras pessoas irão e
não farei nada para impedir. A justiça criminal não será eficaz nesse caso.
— Ele pegou minha mão novamente e apertou. — O que achou que iria
acontecer?
— Justiça. Daniel, assassinato é…
— Eu já disse, não vou matar ninguém, mas também não irei impedir.
Existem pessoas realmente perigosas envolvidas na campanha, Giselle.
Tudo que me interessa é a sua segurança e paz de espírito. — Ele olhou em
meus olhos e dei um aceno, mas ainda não tinha compreendido o quanto era
inocente. Eu desejava o mal a eles, muito, mas saber que Daniel poderia se
envolver em algo tão vil quanto a morte me deixava extremamente
angustiada.
— Toma cuidado, tá? Eu…
— Não sinta medo. A minha parte é fazer com que eles paguem pela
dor que te causaram e não vou descansar quanto a isso.
Eu o amava, mas era assustador o quanto ainda existiam partes dele
que não conhecia. Meu telefone tocou na cozinha e subi para atender, era
Lanna avisando que estava chegando com comida e para me ajudar a
terminar tudo. Depois do que ouvi do irmão dela, sequer estava com cabeça
para visitas, porém, me apeguei à ideia de que a presença dela me ajudaria a
lidar com a angústia para refletir melhor mais tarde.
Lanna e eu não só arrumamos as coisas, como colocamos o que restava
nos cômodos no lugar (não era muita coisa). Depois, organizamos nossa
primeira viagem para a Inglaterra. Minha sogra e cunhadas iriam conosco,
para tirar as medidas dos vestidos e conhecer minha família. Ficaríamos no
palacete que Daniel mantinha na cidade. Estava ansiosa. Mal conseguia
dormir. Depois, voltaríamos para as festas de fim de ano.
A contagem das eleições havia começado. Em doze meses, meu sogro
poderia ser eleito presidente dos Estados Unidos.
Quando Lanna foi embora, deixei Daniel brincando com os filhotes na
sala de televisão e fui tomar banho. Eles não dormiam no quarto conosco,
ficavam em suas camas nos corredores e a porta da lavanderia permanecia
aberta para que pudessem fazer xixi. Cici era educada e usava o lugar certo,
Bowl, no entanto, gostava de marcar território e causava um pouco mais de
estresse enquanto estavam sendo treinados.
— Eles resolveram te seguir. — Daniel entrou no quarto com eles.
— Adoram a mamãe, não é? — Brinquei com eles e olhei para meu
noivo. — Por que está longe como se eu tivesse de tpm e te atacando de
graça?
— Ainda bem que reconhece que durante seu período eu sou seu alvo.
— Ele riu e me abraçou por trás. — Você ficou chateada e eu odiei o olhar
que me deu. Me fez sentir um abismo entre nós e essa sensação não é bem-
vinda. Não quero.
— Não existe um abismo entre nós. Sim, eu fiquei um tanto assustada,
mas… esse olhar foi apenas a realização de que por mais que tenhamos essa
ligação incrível e esse amor intenso, ainda estamos nos conhecendo.
— Eu sei. Todo dia você me surpreende, mas sei que eu sou mais
quieto e comedido. Estou tentando ser mais aberto.
— Não se preocupe, reconheço seus esforços. O que você é comigo,
vejo o tempo todo que não é com ninguém mais. E acredite, eu amo isso.
Amo ser a eleita exclusiva do seu coração. — Acariciei seus braços, ele
sorriu e beijou meu pescoço. Dei um salto ao ser inesperadamente mordida
no pé e empurrei Cici para o lado. — Agora, todo mundo para fora. Eu vou
tomar meu banho demorado e deitar para dormir.
— Eu vou levá-los no quintal e me junto a você no finalzinho para
deitarmos juntos.
Com um beijo, ele assobiou e os dois seguiram para fora. Prendi meu
cabelo para não molhar e olhei para a marquinha da boca de Daniel, que
estava quase saindo. Talvez eu devesse fazer um pouco de charme para
ganhar outra. Era uma coisa nossa. Deixar chupões um no outro, mas aquela
mordida em especial, perto dos meus seios, era deliciosa e me enlouquecia
durante o sexo.
Ele também me mordia quando eu não controlava minhas respostas.
Submissa? Sim. Debochada? Quase sempre. Ainda tinha algumas ordens
dele que eram absurdas. Ou eu revirava meus olhos ou, sem querer, soltava
uma resposta. Foram poucas as vezes que fui duramente punida. Daniel
sentia prazer em me infligir dor e eu estava bem, porque eu também sentia
prazer com ela. Mas a punição era completamente diferente.
Eu não gostava de ser punida, por isso tentava o meu melhor para
manter nosso relacionamento em harmonia. Elena uma vez me disse que a
submissa era a alma do dominante, ele respira e vive por ela. Não era
mentira, Daniel estava ao meu redor como se eu fosse o sol dele. Se eu
fosse irresponsável e imatura, poderia destruir uma relação linda pela qual
ele se dedicava integralmente. Era preciso muita maturidade, porque se
relacionar com outra pessoa completamente diferente era muito difícil, mas
eu tirei a sorte grande de me apaixonar por um homem refinado, de
excelente bom gosto, carinhoso, determinado e, principalmente, todo meu.
Capítulo Trinta e Sete
Daniel
— Você deu o nome do seu cachorro de Bowl? — Patrick riu quando
soltei meu filhote para correr. Ele estava usando um casaco. Eu nunca
imaginei que um dia teria um cão usando roupas, mas estava frio e Giselle
empacotou a família inteira. Até eu mesmo. Quando vi, estava com um
cachecol e luvas para levar os filhotes na casa dos meus pais, porque
iríamos viajar e eles não poderiam nos acompanhar.
— Olha o tamanho da cabeça dele, parece uma vasilha! Melhor que
Cookie. Se ele fosse de outra raça, tudo bem. Mas Giselle escolheu os
piores nomes. Bom que foi um ensaio para quando tivermos filhos. Ela não
vai tomar essa decisão sozinha. — Abri um sorriso. — Soube que seu
evento estudantil trouxe excelentes resultados.
— Apesar do que aconteceu com Giselle, papai disparou na corrida.
Gutierrez não teria chances, mesmo que estivesse no páreo.
— Ele é otário ou o quê? Está mais do que óbvio que nos dois partidos,
os candidatos estão estabelecidos. O que vai acontecer daqui até junho é
meramente formalidade para novembro, é um jogo perigoso e ele está sendo
uma mosca irritante.
E que não podia desaparecer antes de perder oficialmente, ele queria
competir com Vaughn, tirando meu pai da jogada, mas ambos os candidatos
foram escolhidos para estar ali por pessoas que estavam pagando muito
caro. Ele mexeu com as pessoas erradas e a sentença foi dada, no entanto,
Adam conseguiu um tempo para que eu tivesse provas concretas de que eles
estavam por trás do sequestro de minha mãe e Giselle.
Depois, eu esperava que o inferno na vida deles começasse e me
certificaria de que acontecesse. Não era vingança, se fosse, eu já teria
começado há muito tempo. Era “quid pro quo”. Na política, tudo tem um
revide, nada fica esquecido e eu estava sendo o que esperavam da minha
família.
Cici estava cavando um buraco no jardim e minha mãe gritou na janela
que as pestes dos meus filhos iriam destruir as plantas dela. Eu ri e não
mandei que parasse. Ela merecia por ser um pé no saco em alguns
momentos. Esperei que Leah ficasse pronta, as malas já aguardavam no
carro e fomos juntos para o aeroporto, onde o avião particular nos
aguardava. Giselle me deu um sorriso apaixonante e eu não resisti,
roubando um selinho discreto.
Havia uma pequena e incômoda parte no fundo da minha mente
preocupado com a viagem. Era oficial. Giselle se tornou uma pessoa de
sobrenome importante. Ela não dependia de mim e da minha família para
mais nada e isso me enchia de prazer, mas essa vozinha irritante acusava
que o universo dela, que começava e terminava em mim, estava se
expandindo para um pai, irmão, avó, tia, tio e primos. No entanto, quando
pegava seu olhar animado, eu sentia no fundo do meu ser que ela queria
viver tudo aquilo comigo e minha ânsia desaparecia completamente.
Trabalhei durante o voo, já que seria impossível dormir com elas
falando sem parar sobre o casamento. Faltavam poucas semanas, seria em
Março e, para um evento de grande porte, era definitivamente pouquíssimo
tempo. Teríamos um total de seiscentos convidados. Eu não conhecia a
metade, ou mais do que isso, porém, além de políticos, empresários e
membros da igreja, meus pais estavam explodindo com a cerimônia porque
meu casamento deixou de ser uma mentira para algo real.
Eles sabiam que eu amava Giselle e eles também passaram a amá-la,
por esse motivo, a ideia de ser um evento pequeno e privado mudou
completamente. Eles queriam fazer um show. Giselle também era herdeira
de um homem importante e o pai dela, além de querer pagar pela festa,
estava ansioso em apresentar a filha perdida à sociedade. Todo o casamento
estava deixando minha noiva assustada e ansiosa. Dormir estava sendo
difícil. Giselle me chutava em seu sono e falava, apagada, mas com os
pensamentos sem parar.
O único momento em que ela parava, era no calabouço e eu passei a
propor mais tempo ali dentro para acalmar sua mente e nos dar paz. Minha
irmã foi uma noiva nervosa. Eu sabia que em um casamento era tudo sobre
a mulher. O vestido dela seria comentado, o penteado, a decoração e por
isso, não estava sendo exigente com seus nervos, mas também participava
de todos os detalhes. Principalmente comida e logística.
— Olhe para mim — Mamãe pediu e ficou erguendo tecidos abaixo do
meu rosto. — Esse tom de verde ilumina seu rosto completamente.
— Ficará perfeito. — Leah sentou à minha frente. — Nem acredito que
meu irmão mais velho vai casar! Estou muito empolgada, será lindo.
— Acredite em mim, eu também não acredito que nós teremos esse
casamento. Parece mágico e mal durmo de tanta ansiedade. — Giselle
dobrou o tecido com o tom da gravata. — Eu fico sonhando com a
cerimônia, às vezes, é mais um pesadelo. Sonho que eu vou cair na frente
de todo mundo, que meu vestido vai rasgar e o pior de todos, eu olho para o
altar e Daniel não está lá.
— Isso nunca vai acontecer, estou mais certo do que o reverendo. —
Inclinei-me e segurei seu rosto. — Está me chutando à noite para me punir
por não estar no casamento nos seus sonhos? — brinquei e ela riu.
— Não sabia que estava te agredindo.
— É o seu subconsciente — mamãe comentou com um sorriso. — Eu
já bati muito no meu marido plenamente consciente, no começo do
casamento, eu o agredia o tempo todo. Era um horror. Mas Thomas me
enfurecia. Ele queria casar, mas ainda era imaturo e estava na faculdade
fazendo merda enquanto eu ficava em casa, com Daniel nos braços. Hoje
em dia, eu me arrependo pelo meu comportamento, mas de vez em quando,
ele merece uns bons tapas e fico me segurando.
Minhas irmãs riram, mas eu não. Eu lembrava de cada briga. Eram
gritos que atravessavam a parede do meu quarto, os choros dela implorando
para que ele parasse de humilhá-la daquela forma, as promessas vazias dele
de que iria parar com as drogas, sair das festas e se afastar dos amigos ruins.
Giselle compartilhou um olhar comigo, porque ela sabia pequenas partes da
minha infância, um momento da minha vida que não conseguia falar
completamente.
Eu era adulto e minha infância moldou o homem que me tornei. Já
tinha feito as pazes com os caos que aconteceram, principalmente a mentira
que eu escondia debaixo do tapete com meus pais porque não queria ver o
castelo ruir. Mesmo que, no fundo, sentisse que eles merecessem. Mas não
era meu direito destruir a estabilidade em que meus irmãos cresceram, nem
mesmo trazer à tona algo que estava, aparentemente, resolvido há muitos
anos.
Eu aprendi a lidar com a raiva que tudo isso me causou. Ainda a sentia
queimando dentro de mim. A dor me fez entender o quanto era importante
dominar minhas emoções, mesmo as mais pequenas, para que jamais
alimentasse as mais cruas. Era meu direito assegurar que minha vida e
minhas ações nunca saíssem de um cuidadoso planejamento porque, assim,
me sentia bem.
Ao pousarmos em Londres, a equipe de segurança se orientou
rapidamente e Phillip nos conduziu até a minha casa. Jeffrey nos recebeu
com alegria. Ele queria que a casa fosse movimentada, mas eu tinha planos
de voltar e viver ali no meu próximo ano sabático para escrever outro livro.
Giselle iria adorar ficar perto do pai dela por um tempo. Minha mãe e irmãs
não conheciam e ficaram encantadas.
Giselle deu um tour a elas, animada e jantamos antes de cada uma se
dispersar, cansadas.
— Lar doce lar. — Giselle se jogou na cama.
— Lar?
— Eu sou meio britânica agora, me respeita. — Abriu um sorriso
provocante e apertei sua bunda como aviso, ela riu e rolou para longe. —
Além do mais, foi nessa cama aqui que eu gozei pela primeira vez. Sou
bastante afeiçoada a esse colchão.
— Foi uma deliciosa gozada. — Sorri e tirei meu cinto.
— Sua mãe está a um quarto de distância. — Giselle arregalou os
olhos, bati a porta fechada e tranquei. Fui até o closet e peguei uma calcinha
dela que parecia boa o suficiente. — Daniel…
— Tire sua roupa, prenda seu cabelo e te quero de joelhos aqui. Agora
— comandei, sem dar-lhe espaço para discutir. Ela ficou vermelha, mas
imediatamente fez o que eu ordenei. Ficou nua com facilidade por conta da
roupa confortável, eu sabia que não podia pegar pesado depois de um voo e
do tanto que comeu no jantar. Mas daria o suficiente para uma brincadeira
dolorosa e divertida antes de dormir.
Na posição perfeita, com a coluna ereta, Giselle me deu um olhar
chocado quando amordacei sua boca com a calcinha. Apontei para a cama,
ela foi, ficou de joelhos e empinou a bunda, tirei sua calcinha pequena,
tocando suas dobras com carinho, explorando cada cantinho com meus
dedos para deixá-la muito excitada. Empurrei seu rosto no travesseiro, para
abafar os sons que ela não conseguiria controlar porque eu iria intensificar
bastante e fazer seu orgasmo explodir.
Eu conhecia seu corpo de tal maneira que na primeira cintada, ela
gozou. Perdeu um pouco do equilíbrio e senti a força de seu orgasmo, a pele
arrepiada e o tremor. Empurrei minha língua em sua boceta, seu gosto
maravilhoso me invadiu e meu pau, que já estava muito duro, reagiu preso
na cueca implorando alívio. Dei mais algumas cintadas para ver seu corpo
ficar vermelho e a lamúria escapar de seus lábios pela dor, com sua
excitação crescendo por apanhar.
Tirei minha calça, arrancando a camisa com tamanha força que ela
rasgou. Subi na cama atrás dela, metendo bruscamente. Giselle afundou o
rosto ainda mais na cama, mas eu puxei seu cabelo. Com meu pau todo
enterrado em sua boceta, nossas peles se chocavam e as respirações fortes
preenchiam o ambiente. Minha imersão nela durante o sexo me deixava tão
louco que mal conseguia segurar meu próprio gozo quando a sentia gozar
em volta do meu pênis.
— Porra.
Puxei a mordaça e ela respirou fundo, caindo em meu colo, precisando
dos meus braços. Beijei sua testa, pontinha do nariz, os lábios, o queixo,
cada bochecha e por fim, voltei para sua boca, aprofundando com todo meu
amor. Ela era meu céu. Qualquer mínimo momento de incrível conexão
enchia meu peito de sua existência, meu alimento. Dei um banho nela,
lavando cada parte com cuidado, fazendo uma massagem e deitamos juntos.
Nossos pés estavam embolados e eu ri que nossos pijamas
combinavam. Era uma bobeira que ela adorava. Giselle não teve muita
coisa na vida, mas teve uma mãe que lhe ensinou a ser carinhosa com as
mínimas coisas e eu jamais reprimiria esse jeito. Era fofo e não tinha nada a
ver comigo, porém, para fazê-la feliz, eu vestia a calça azul escura
combinando com a dela.
E por amor, aguentei a tortura do planejamento do nosso casamento. Eu
a amava muito porque suportei suas oscilações de humor e segurei-a sempre
que entrava em crise de choro ao perceber a imensidão de tudo que iríamos
viver. Ainda bem que o pai dela se aproximou, porque ele dividiu a carga
comigo, começando a fazer parte da vida dela já segurando uma bomba
emocional.
*******
— Ela está experimentando o vestido? — Andei de um lado ao outro
no ateliê da tia dela, um mês depois, no nosso segundo retorno a Londres.
Jamie e Vere riram. Eles estavam na prova de roupa deles. Giselle
conseguiu convencer Elena a ser uma das nossas madrinhas, não foi fácil,
nossa amiga era reservada e odiava multidões, ela não queria ficar na frente
de muitas pessoas.
Minha noiva era insistente e aprendeu rapidinho a ser uma
Montgomery manipuladora. Eu a chamava de jovem aprendiz da minha
mãe.
— Se está nervoso assim com um casamento, imagino que precisará de
um calmante na sala do parto — Vere brincou comigo. Ele podia vê-la.
Aquilo não era justo. Tradição maldita.
— Eu fico nervoso a cada novo exame de Elena — Jamie comentou. —
Ele vai querer controlar a respiração dos médicos.
— Vou e não tenho vergonha nenhuma disso. — Dei de ombros e vi o
olhar de Vere mudar. Seu rosto iluminou com um sorriso. — Ela é sempre
linda, mas imagino que esteja magnífica.
— Ela está perfeita, Daniel. Minha filha é uma obra de arte. — Ele
babou.
Giselle merecia um pai assim, que a idolatrasse. Ela merecia o mundo
todo. Só de imaginar como seria seu vestido, meu coração acelerava. Nosso
casamento aconteceria e depois de junho, ela estaria livre de todos os
pesadelos. Eu podia sonhar que depois das eleições, quando toda a
campanha acabasse, nós dois finalmente poderíamos viver nossa vida sem
medo, sem nos importarmos com mais nada além dos sonhos que tínhamos
juntos.
Capítulo Trinta e Oito
Giselle
Faltavam apenas alguns dias para o meu casamento. Minha casa
estava lotada de caixas de presentes que já estavam chegando pelo correio.
Assim como as lembrancinhas que seriam entregues aos convidados. Eu ri
da minha avó batendo nas mãos do meu irmão, Max, que beliscava as
batatas fritas do jantar. Meu pai estava assando carnes na churrasqueira do
lado de fora, acompanhado da ex (ou atual esposa), mãe do meu irmão.
Daniel estava no escritório.
Maria e Guilhermo chegariam no dia seguinte. Daniel se levantou
quando seu telefone tocou e fechou a porta. Sua expressão me deixou
curiosa, mas eu tinha dois cachorros dormindo em cima de mim e não
queria me mover. Tia Martha desceu a escada com o marido e filhos. Os
gêmeos eram pequenos e duas pestes que precisavam ficar perto dos pais o
tempo todo. Eu adorava conversar com eles e seus sotaques fofos.
O marido da minha tia era escocês e falava de uma maneira carregada
que até me confundia. Toda vez que via minha nova família espalhada pela
minha casa, tinha vontade de me beliscar. Meu pai me entregou lindíssimas
fotografias que tinha da minha mãe, algumas deixei espalhada pelos
cômodos, outras guardei com muito carinho. Meu peito apertava de saudade
e me perguntava o que ela estaria achando de tudo que aconteceu.
Eu estava feliz. Era um sentimento tão bom que não queria soltar nunca
mais. Depois que minha mãe se foi, fiquei sozinha e com medo, lutando o
tempo todo, cansada e pensando que nunca iria conseguir nada por ser tão
difícil. De repente, eu não só encontrei o amor da minha vida através de um
relacionamento que começou por contrato, como tive meu rosto estampado
em jornais, facilitando que meu pai me encontrasse.
O destino era louco, mas perfeito. Eu não me arrependia de nada. Cada
passo doloroso me levou até ali, a uma vida de princesa que eu merecia, que
minha mãe muito quis e não pôde me dar sozinha.
Os gêmeos começaram a brincar com os cachorros e aproveitei para
levantar. Papai e Cher seguiam do lado de fora, provavelmente o jantar
ainda levaria alguns minutos. Bati na porta do escritório de Daniel e entrei.
Ele ouvia atentamente a um áudio, fiquei quieta, sentando do outro lado de
sua mesa. Assim que a voz parou, engoli em seco.
— Adam já tem provas.
— Tem.
Daniel estava com raiva. Ele se levantou e jogou uma caneca contra a
parede. Saltei no lugar, mas continuei quieta. Bufando, foi até a janela,
aproveitei para pegar seu notebook e li todas as mensagens, com meu
estômago começando a doer pelo que estava ali.
— Eles tinham a intenção de destruir sua família independentemente de
qualquer coisa, é uma vingança antiga — falei baixo, desconfortável. —
Quem é essa criança que o pai da Isabel diz ter provas da existência? Um
filho bastardo de um Montgomery?
Na plataforma conservadora, aquilo destruiria a campanha de Thomas.
O próprio Vaughn estava dançando entre cobras depois que uma filha fora
do casamento foi descoberta e ele perdeu pontos consideráveis nas
pesquisas. Nem mesmo a equipe de Sienna conseguiu reverter. A população
não gostava de mentirosos, hipócritas, sim, abertamente mentirosos, não.
— Você sabe sobre isso?
— Eu sei.
— E nunca me contou?
Daniel virou-se e não falou nada. Eu o odiaria se ele soubesse que tinha
um filho e não estava cuidando dele para manter a fachada de família
perfeita. Não suportaria casar com um homem que só consideraria legítimos
os filhos de um casamento. Era demais. E não condizia com a índole do
homem por quem me apaixonei, mas diante de tudo que estava escrito ali,
eu fiquei meio devastada.
— Não ouse pensar sobre meu passado como se eu fosse um homem
irresponsável. — Ele me olhou com raiva.
— Por que nunca me contou que as motivações do sequestro poderiam
ter sido além de uma disputa política? Esse homem odeia o seu pai desde a
faculdade! — Apontei para as folhas e o computador. — Você me disse para
não me preocupar. Eu nunca imaginaria que o buraco era bem mais
embaixo, Daniel. Eles podem estar por trás do acidente de carro que Leah
sofreu há alguns anos?
Aquilo era mais do que ódio. Era obsessão.
— Pessoas são ambiciosas e esquisitas, nunca fomos próximos deles,
como eu poderia saber? Eu imaginava ser emoção, afinal, eles não gastaram
o dinheiro. Mas isso…
— Ele foi preso por tráfico de drogas no lugar do seu pai porque seu
avô fez isso?
— O pai da minha mãe era muito influente, importante, foi comissário
da polícia e livrou a bunda do meu pai mais de uma vez. Só não imaginava
que tinha sido tão…
— Seu avô usou o poder dele para incriminar um jovem imigrante por
tráfico de drogas para livrar o genro branco e rico. Caramba, Daniel! Se isso
vazar…
— Eu sei! Estou pensando no que fazer…
Não seria apenas Thomas a pessoa prejudicada. Seriam todos.
Massacrados na sociedade, excluídos, execrados. Patrick perderia sua
entrada de campanha, Zachary poderia ter as ações da empresa caindo sem
controle. Calvin perderia contratos publicitários. Seria… um caos. Um
pesadelo que poderia nos levar para a fúria dos investidores perigosos, que
por mais que tivessem poder, com as duas famílias escolhidas para a
campanha com uma péssima fama, perderiam a eleição para outra que
estava correndo por fora o tempo todo.
Fez todo sentido, mais do que antes, do quanto eles queriam que Daniel
noivasse com uma pobre imigrante. Seria um clássico em um escândalo.
Como assim eles teriam um preconceito se o filho mais velho estava
casando com uma descendente de cubanos? Mas no final, eu era americana.
Não dizia que Laurel e Thomas eram discriminatórios, eram pessoas ricas,
eles viviam no mundo de pessoas como eles. Mas o pai de Laurel abusou de
seu poder com alguém que não podia se defender.
E não estava mais vivo para pagar por esse erro.
— Seu pai estava traficando?
— Não. Era pra uso, ele era muito viciado. — Daniel sentou-se ao meu
lado.
— Você tem um filho?
— Não que eu saiba — ele respondeu e o encarei, com raiva. — O
Montgomery citado no texto de Adam sabe da existência do filho bastardo.
— Daniel…
— Você confia em mim?
— Claro que sim! Mas eu fiquei chocada, foi algo baixo. Seu pai era
quem usava as drogas e as transportava, mas ele sequer sofreu as
consequências disso. O pai de Isabel foi preso, humilhado, perdeu anos da
vida dos filhos e ao sair, enfrentou muito. Não justifica nada do que tenha
feito, de nenhuma maneira, mas dá para entender de onde vem a raiva. —
Eu respirei fundo e Daniel pegou minha mão. — E como eles sabem sobre a
criança?
— Se isso vier à tona, eu não me importo. Vai nos queimar, mas
podemos viver na Inglaterra e sair de cena. Patrick vai ficar devastado,
porém, eu posso ajudá-lo a se reerguer. Posso pensar em um plano. —
Daniel soou nervoso. Ele não queria que seus irmãos sofressem as
consequências de algo que não fizeram, sequer sabiam, mas podiam pagar
caro. Eu entendi o quanto ele sentia raiva de tudo. Desde quando ele sentia
tanta responsabilidade que não era dele?
— Não importa o que for acontecer, vamos ficar bem juntos. Só que eu
sinto que você não vai deixar que isso exploda.
— Não. É risco de vida, Giselle. Meu pai não pensou nas
consequências ao aceitar o acordo com o diabo e agora, eu tenho que livrar
a bunda de todo mundo. Se ele souber disso, vai pra cima do Gutierrez com
tudo. Ele odeia o passado dele, até existe uma parte minha que acredita em
seu arrependimento, ele odeia mais ainda o quanto isso machuca minha mãe
e por isso, vai ficar cego. — Daniel estava frustrado.
— Eu sinto muito. Agora entendo o seu cansaço e descrença. Há
quanto tempo é você quem está preocupado em não deixar a família
desmoronar? — Puxei-o para um abraço. Ele deitou a cabeça no meu
ombro, parecendo cansado. — E você sabe quem é o filho bastardo
também. É por isso que é protetor e sente tanta raiva. Você era só uma
criança.
— Não te contei nada.
— Não precisa ainda, eu simplesmente sei. Você me disse o suficiente
para juntar as peças. Mas em algum momento, quero que me conte a
história completa. Quando o casamento passar, minha família irá embora,
não importa quão feia seja e que é um segredo de outra pessoa. Apenas me
conte, ok? — pedi e ele, relutante, assentiu. — Vem, vamos beber e comer.
Vamos olhar para a vida feliz que estamos construindo com pessoas que nos
amam. Esse povo ambicioso e sujo, por mais que tenham uma raiz longa de
vingança, não nos pertence.
— Enquanto eles não estiverem fora do jogo, não vou conseguir
dormir. Um sequestro é um ato perigoso, mas não se compara com o que
ainda podem fazer.
— Ninguém mais vai se machucar.
— Eu tenho que proteger você e meus irmãos. — Daniel respirou
fundo.
— Sei que vai conseguir. — Dei-lhe um beijo suave nos lábios.
A preocupação sobre o que li mal me deixou comer, empurrei a carne
com batata pela garganta apertada com dificuldade. Se eu pudesse fazer
uma linha do tempo, diria que quando Gutierrez foi preso acusado de tráfico
de drogas, com papelotes colocados em seu carro, mas que, na verdade,
pertenciam ao carro do Thomas, os dois foram parados na mesma blitz. Um
com maconha e o outro com pacotes de cocaína. Um branco e rico. Outro
de classe média e imigrante.
A matemática não foi favorável. Eu podia concluir que a aproximação
de Isabel se deu como parte de um plano. De algum modo, eles descobriram
que Daniel era um dominante e ela treinou para ser submissa, porque, no
fundo, não era. A atitude de não tirar o colar e não procurar outro
dominante, significava que ela entrou na comunidade com um alvo certo.
Eles tiveram tempo e muita paciência.
Uma das primeiras coisas concluídas no sequestro foi que eles
observaram a rotina da família por meses. A insistência de Vanessa em
trabalhar na casa através da Maria. Ela se mudou para a casa ao lado, fez
amizade dizendo ser sozinha na vida e eles, sempre acolhedores, permitiram
a entrada dela em nossas vidas. E se a própria Maria foi observada e eles
decidiram que ela era um ponto de abertura?
— Eles podem ter fotos minhas como stripper — comentei na cama,
olhando para o teto. Daniel abriu os olhos.
— Sim, podem.
— Eles vão usar isso. — Respirei mais forte, com o peito doendo. —
Sei que é uma parte da minha vida que sente ciúmes, mas eu não me
envergonho.
— Eu sinto ciúmes porque é o homem cru que não quer ninguém
babando na bunda da minha mulher, mas eu não tenho vergonha de você.
Nada na sua vida é motivo para isso. Só não posso controlar meu lado
babaca e não vou, seu corpo é meu e eu não quero ninguém olhando para
ele. — Ele virou um pouco e me abraçou. — Se as fotos forem expostas,
não pense nem por um segundo que isso vai me abalar. Eu vou ficar
chateado se você ficar magoada. Aí, sim, eu vou atropelar jornalistas com
meu carro.
— Você sabe que não vai.
— Não vou, mas vou mandar Phillip fazer isso. — Ele riu baixinho.
Não consegui conter a gargalhada. Ele cobriu minha boca porque era
tarde e minha avó estava no quarto mais perto, por ser o maior e com a
cama mais baixa para que ela pudesse levantar para ir ao banheiro sem
precisar chamar por ajuda. Daniel rolou para cima de mim e minha crise de
riso trouxe um olhar brilhante ao seu rosto. Ele sorriu, descendo a boca na
minha, cruzei minhas pernas em sua cintura e rebolei.
Nossa conversa mudou, foi um tanto silenciosa e gostosa, intensa o
suficiente para reafirmar que a nossa conexão era inquebrável. A
tempestade que poderia se preparar no futuro, que escurecesse nosso céu
perfeito, não iria romper o elo. Nossas camadas difusas estavam se
alinhando assim como os astros, que se encontravam no mesmo caminho de
vez em quando.
Capítulo Trinta e Nove
Giselle
Decidi por uma despedida de solteiro um tanto diferente. Apesar de ter
marcado um encontro com amigas, madrinhas e dama de honra, também
pensei que Daniel e eu poderíamos ter algo do nosso jeitinho. Ele iria sair
com os amigos, irmão e cunhados para uma boate fumar charutos e beber, a
questão é que seria em Vegas. Eu não quis viajar. Daniel tinha facilidade de
dormir em qualquer lugar e ficava bem com poucas horas de sono. Eu não
ficaria bem e minha aparência no grande dia não podia ser comprometida.
Para provocá-lo em menção ao que eu queria, comecei a irritá-lo de
forma sutil. Pequenos gestos impacientes na cozinha, revirando os olhos
discretamente em alguns momentos e aumentando sua irritação. Ele não
queria jogar enquanto a casa estivesse cheia, portanto, sexo estava sendo
cuidadoso (e silencioso) no nosso quarto. No entanto, por mais que
conseguisse esperar, havia uma parte minha que ansiava por jogos.
Nas paredes do calabouço tinha abafadores de som, até testamos com a
música realmente alta e não dava para ouvir nada do segundo andar, apenas
um pouco, na porta, do alto da escada. Só se a pessoa colasse o ouvido na
madeira. Por esse motivo, eu tinha o direito de atentar meu dominante,
como uma submissa atrevida, futura esposa, noiva apaixonada e mulher
louca de desejo.
Uma festinha privada era tudo o que eu precisava.
Por vários dias, Daniel ignorou minhas pequenas birras, mas eu
conhecia seu temperamento e quando ele esfregou a palma da mão na calça
no café da manhã, soube que estava no limite. Minha tia decidiu sair com os
gêmeos, meu irmão, minha quase madrasta e avó. Meu sogro convidou meu
pai e tio para jogar golfe. Daniel tinha trabalho a fazer, que eu tinha a
intenção de atrapalhar completamente.
Inventei que iria encontrar Lanna no centro. Subi as escadas, deixando
os filhotes já brincando na lavanderia e escovei meu cabelo. Vesti uma
calcinha de tiras finas, que parecia de couro e colei adesivos pretos nos
meus mamilos. Deixei o cabelo solto, fluido e usei apenas rímel à prova de
água nos olhos.
— Por que não me avisou com antecedência que sairia com minha
irmã? — Ele entrou no quarto e parou, me observando passar gloss nos
lábios. — O que é isso?
— Estou me vestindo. — Encolhi os ombros com um olhar inocente.
— Eu não avisei porque não sabia, ela me convidou hoje cedo e eu aceitei.
Algum problema?
— E por que não falou comigo quando ela te chamou? — Daniel
estava impaciente e incomodado. Inclinei-me para frente, colocando
sandálias altas, amarrando as tiras lentamente. — Giselle! Aonde você vai
que precisa estar vestida assim, porra? — Explodiu e ri baixinho, olhando-o
pelo espelho e revirando os olhos.
Daniel estava sob muito estresse depois da nossa conversa, tudo que
descobri ainda me incomodava, estava no fundo da minha mente e ele
discutiu com a mãe no telefone mais de uma vez.
— O que foi, amor? — Ergui e me virei, com um olhar inocente,
porém, mordi o lábio.
Daniel respirou fundo e deu uns passos à frente, agarrou meu pescoço e
me tombou na poltrona do closet, pairando em cima de mim. Senti seus
dedos apertando. Lutei contra a vontade de sorrir. Mantive meus olhos nos
dele, provocante. Ele me beijou enquanto me sufocava. Senti meus mamilos
endurecendo contra os adesivos, quase soltando-os.
— Sua puta atrevida. — Ele lambeu meu lábio. — Está me
enfurecendo há alguns dias e agora, pensa que vai sair assim? Não.
— Não? — Fiz um beicinho.
— Não — determinou e me ergueu pelo pescoço. — Vá para o
calabouço agora.
O tapa que deu na minha bunda foi punitivo. Doeu pra caralho. Mas eu
ri e saí correndo, quase dançando pelas escadas e entrei no calabouço. Caí
de joelhos no lugar certo, ele entrou alguns minutos depois, usando uma
calça de moletom caída na cintura e o peito tatuado, que me deixava
maluca, todo de fora.
Prendendo meu cabelo com o coque firme, mordeu meu pescoço e
mandou que eu fosse para o banco tântrico. Daniel pegou uma sequência de
faixas e mudei minha posição, colocando as mãos para trás. Ele passou a
faixa no meu pescoço, descendo-a para meus pulsos e prendendo cada um
nas minhas costas. Montou atrás de mim, pressionando o pau na minha
bunda, firmando os nós.
— Afaste bem essas pernas, você vai apanhar por me irritar tanto —
comandou. Engoli em seco e obedeci, ganhando a primeira chicotada forte.
Um soluço escapou dos meus lábios. — Você não queria isso? Pois bem,
vai ter. — Daniel me bateu novamente.
Fechei meus olhos, escorregando um pouco no banco. Sem falar nada,
surrou diversas partes do meu corpo com precisão. As picadas deixaram de
doer depois de um tempo. Eram apenas uns beliscos na minha pele que
aumentavam minha agonia por estar amarrada. Presa ao banco e com tesão,
soltei um gritinho com o cabo do chicote espalhando minha umidade.
Ele riu sombriamente ao perceber o quanto estava excitada. Amarrou
as minhas pernas e fiquei com os joelhos afastados, com uma pressão na
panturrilha.
— Você não tem escapatória. — Daniel passou o polegar nas minhas
lágrimas e abaixou a calça, liberando o pau muito duro. — Chupe.
Arrastou a cabeça do pau na minha boca e lambi o sêmen acumulado
ali, movi minha cabeça para ter tudo dele. Chupei-o com tudo que tinha e
Daniel grunhiu, trincando os dentes. Meu queixo estava molhado quando
ele segurou meu coque e começou a foder minha boca, liberando seu gozo
sem aviso, porque estava com raiva e não pretendia ser gentil.
Engoli tudo e lambi os lábios. Ainda sem falar nada, foi até a gaveta,
voltando com um lenço. Ele abaixou para olhar em meus olhos e sorriu.
— Faz ideia do quanto está perfeita assim? — Beijou-me com amor,
um contraste dos atos bruscos. — Eu vou te foder e quero que grite muito.
Porra. Tudo dentro de mim se contorceu. Daniel deu a volta,
empurrando o vibrador no meu canal molhado e a maneira que o negócio se
movia parecia que ia me fazer voar. Ele estava desatando um nó no meu
ventre. Queria explodir. Em contrapartida, seu dedo explorava meu ânus,
besuntando de lubrificante, começando a me foder. Eu me sentia cheia, com
meus pensamentos confusos e o orgasmo que crescia sem controle.
Daniel parou os movimentos e meteu com tudo. Eu gritei. Ele puxou a
corda, para manter um nível de sufocação leve, mas bom o suficiente para
deixar minha cabeça em branco. Tudo que sentia era ele, nossa conexão, o
sexo delicioso e eu não consegui me conter. Gozei ruidosamente, deixando-
o orgulhoso dos sons que saíam da minha boca. Ele se liberou em seguida,
dando o sinal clássico dos seus dedos afundados na minha carne e o
estremecer acompanhado de um gemido belíssimo.
— Porra! Eu te amo! — Daniel gritou comigo e puxou as cordas, me
soltando com rapidez e me segurou, porque eu parecia mole, prestes a cair.
Carregou-me no colo, levou-nos para a cama e deitou comigo, tirando os
fios que grudaram na minha testa suada.
— Eu te amo — falei baixinho contra seu peito.
— Você é terrível. — Abriu um sorrisinho e beijou minha boca.
— Excelente despedida de solteira. — Soltei uma risadinha.
— Provocante.
— Foi incrível! Obrigada, te amo. — Ergui meu rosto e capturei seus
lábios.
O dia do meu casamento amanheceu com o céu perfeito, mesmo com o
tempo relativamente frio. Toda a festa seria em um local fechado, o salão de
baile da mansão dos meus sogros. Entre tantos hotéis e espaços bonitos,
nenhum parecia se ajustar à decoração que eu queria. Até foi bom para
mim, ter meu dia da noiva no meu quarto na casa deles, arrumando cabelo,
conversando com minhas duas madrinhas e brincando com Anya e Harper,
que convidei para ficar comigo também.
Não havia logística para todas serem madrinhas e elas entenderam.
Mas pedi que tivessem vestidos iguais e participassem de todo o
planejamento tanto quanto pudessem para que não pensassem que Daniel
não valorizava a amizade delas. Meu noivo brincou que eu fiquei cansada
por tanto querer agradar a todos, para não ferir sentimentos e deixei de lado
a diversão de estar noiva.
Prometi a ele que iria curtir nosso dia por completo, tanto que ninguém
me passou as preocupações que aconteceram ao longo do período em que
meu cabelo e maquiagem foram feitos. A equipe de filmagem ficou por
perto. Minha tia me vestiu pessoalmente, o que, para mim, foi emocionante.
Ter ela e Laurel comigo aplacou um pouquinho a ausência da minha mãe,
mas as lágrimas caíram mesmo assim.
Tentei me abanar para me acalmar.
— O maior orgulho da vida da sua mãe nunca foi a dança. Sempre foi
você. — Maria me entregou um broche que a mamãe usava nas
apresentações. — Ela me pediu para guardar quando estava no hospital e
lhe entregasse no dia do seu casamento.
— Isso foi da minha mãe! — Tia Martha falou atrás de mim. — Vere
deve ter dado a ela. Ah, que lindo, Giselle! Mais uma joia de família no seu
casamento!
— Mais uma? — Funguei, passando o lenço com cuidado no rosto.
— Mamãe quer te dar algo antes de descer — ela falou
enigmaticamente.
— Não chore, meu amor. — Maria me abraçou apertado. — Hoje é um
dia lindo, feliz, a celebração de uma nova fase com o homem que escolheu
para ser seu.
Vovó entrou alguns minutos depois, sendo apoiada por Max. Meu
irmão adolescente, com seu humor bobo, logo deu uma piscada, um assobio
e bateu palmas por me ver de noiva. Eu achei que ele iria me rejeitar. Era
filho único, tinha tudo e de repente, surgiu do nada uma irmã mais velha
para dividir a herança. Mas não foi dessa maneira que Max foi criado. A
mãe dele era uma mulher muito firme, com os pés no chão, queria que o
filho fosse um ser humano que desse valor à família e não ao dinheiro.
Ele foi incrível comigo. Curioso, me fez várias perguntas, mas logo
encontramos um caminho para termos uma amizade. Descobri que meu
humor competitivo era algo totalmente do meu lado paterno. Quando
sentava para jogar com meu pai e irmão, a gritaria começava em segundos.
Ninguém brigava de verdade. Só não queríamos perder um para o outro.
— Minha bela duplicata.
— Pare de assistir aquela série de vampiros, mamãe — tia Martha
murmurou do canto do quarto.
— Quieta — vovó ralhou. — Minha belíssima duplicata. Eu casei com
essa joia e tive quarenta e cinco anos de casamento bem-sucedido e feliz.
Nosso amor apenas mudou porque ele não está mais nessa vida, mas ainda
vive em meu coração com uma chama forte. E eu gostaria que usasse o
mesmo colar.
— Eu também usei — Tia Martha comentou, parecia ser uma tradição
de família.
— Eu adoraria. Obrigada por trazer algo importante para o meu
casamento sendo que acabei de chegar.
— Você é uma legítima Chantal-Cadogan e merece ter tudo que todas
nós tivemos.
— Obrigada, vovó. — Abaixei e dei-lhe um abraço apertado. Não
cabia em mim tamanha gratidão por ser aceita e amada pela família do meu
pai.
Max colocou o colar de rubi no meu pescoço e se afastou. Laurel
prendeu meu véu com o broche da minha mãe. Virei para o espelho, sem
fôlego com a minha aparência. Meu vestido era todo fechado, de mangas
longas, mas com a parte superior delineada de maneira sensual e a saia
aberta, sem rendas. Moderno e romântico o suficiente. Meu cabelo estava
preso em um coque elegante com alguns fios soltos, o véu longo com
nossos sobrenomes bordados.
O cortejo para a cerimônia começou pontualmente e eu estava nervosa.
Papai parou ao meu lado, secando o rosto, emocionado por me ver pronta e
enfiou o lenço no bolso quando chegou a nossa vez. Eu não prestei atenção
na entrada das meninas, controlando meus nervos por estar com as pernas
bambas e o medo de cair.
As portas se abriram e senti o impacto dos olhos em mim, a reação do
público ao me ver de noiva.
Estava caminhando em direção ao altar, onde estava o homem que
havia chicoteado as minhas nádegas como comemoração de sua despedida
de solteiro.
Aturdida, chocada com a quantidade de pessoas que não faziam ideia
de quem eu era de verdade e com a pele ardendo, me perguntava como iria
me casar com um homem que não conhecia completamente. Tínhamos
muito a viver juntos e descobrir sobre o outro. Mas eu diria sim.
Eu queria dizer sim.
Eu me tornaria a esposa dele.
A reação de uma pessoa era a única que me importava e ele não me
decepcionou.
Daniel abriu o sorriso contido que me fascinava, mudando sua
expressão sutilmente para algo doce, com um olhar brilhante e ergueu a
mão, secando o canto dos olhos com o polegar. Eu sorri de volta, com meu
coração batendo forte no peito e pronta para ser integralmente dele.
Capítulo Quarenta
Daniel
A noiva mais bonita do mundo era minha. A esposa que escolheram
para mim, que eu relutei, tive medo, mas que nela, encontrei o amor da
minha vida. Giselle caminhou em minha direção no altar, disse sim mesmo
com a bunda doendo da surra que lhe dei e me beijou apaixonada, dizendo
estar ansiosa para viver para sempre ao meu lado. Dançando com o irmão
na pista de dança, exibia o segundo vestido da noite com orgulho. Eu não
entendi porque ela precisou de três para o nosso casamento.
Giselle escolheu um lindíssimo de cetim para o jantar de ensaio,
usando um colar de pérolas que me deu vontade de bater nela com a corda
de contas novamente só por estar perfeita. Eu adorei tanto aquele vestido,
que demos uma rapidinha no banheiro e conseguimos ser discretos o
suficiente. Seu primeiro vestido para a cerimônia foi clássico, fechado, com
botões de diamantes nas costas e uma saia rodada.
Sem rendas, ela não gostava. O tecido era liso. O cabelo estava preso
com um véu charmoso. Caramba, eu amei tanto! Tinha insistido muito para
que ela aproveitasse o dia, por estar tensa e querendo agradar a todos, mas
eu também esqueci que deveria me entregar ao momento. Somente ao vê-la
de noiva foi que percebi o quanto aquela noite era mais importante do que
tudo para nós. O planejamento soterrou a diversão, mas aprendemos a
tempo.
Ainda sorridente, ela dançou em minha direção, rodopiando ao meu
redor e a abracei apertado. Erguendo-a do chão, ganhei uma risada alta,
bonita, como sinos. Se Giselle estava feliz, eu também estava. Meu raio de
sol. A maioria das obrigações já havia acabado, ela só precisava jogar o
buquê para irmos embora para nossa lua de mel. Não seria longa como
gostaria, mas escolhemos tirar um tempo maior de viagem depois, levando
um mês realizando o sonho dela de conhecer algumas ilhas específicas
como Bahamas, Barbados, Turks e Caicos e Aruba.
Aquela noite em específico, passaríamos em um hotel, para
retornarmos para casa e ter um grandioso almoço em família, já que o pai
dela precisaria ir embora.
— Eu vou jogar o buquê. Antes, xixi. — Giselle ergueu sua saia e saiu
praticamente correndo, ri e peguei uma bebida.
Meu pai deu um aceno do outro lado do salão e retribuí, em um raro
momento de paz entre nós. Ao lado dele, estava Tuck. Desviei o olhar. Meu
sogro parou ao meu lado, entregando-me um presente. Curioso, tirei o laço
e descobri ser um relógio de bolso de ouro, trabalhado com pedrarias nos
detalhes. Era lindo e, provavelmente, custou muito.
— É uma tradição na minha família. Não quis que você e Giselle
ficassem de fora e possam reproduzir com seus filhos. Algo antigo, que
simboliza o tempo em sua perfeição e que ainda assim, o destino é capaz de
escolher o melhor para nós — Vere explicou. Giselle parou também,
admirada.
— Obrigado. É muito importante para mim essa consideração. —
Tirei o relógio e o pendurei em minha roupa.
— Uma última dança? — Vere pediu a Giselle.
— É claro! Vem! — Ela agarrou a mão dele e os conduziu para o meio
da pista, onde tocava uma música pop pulsante.
Quando chegou o momento de jogar o buquê, as mulheres solteiras se
reuniram no centro da festa. Uma multidão ruidosa e competitiva. Giselle
subiu no pequeno palco e fazendo algumas brincadeiras, ameaçou jogar. Ao
fazê-lo, houve grito coletivo, delírio e briga pelas flores. Uma jovem garota
dos Sinclair pegou e brincou com a irmã, empolgada.
Patrick desapareceu da festa com uma garota bonita já tinha alguns
minutos e eu sabia que estava fodendo-a. Mamãe havia implorado que ele
não fosse pego transando com nenhuma mulher para que a mídia não
noticiasse seu comportamento, mas ele não conseguia se conter quando se
tratava de sexo sem compromisso. Peguei minha esposa, suada e ainda
ligada na tomada, levei-a para o carro com uma chuva de arroz e aplausos.
— Pare de chorar, mãe — repreendi Laurel quando me despedi.
— Você se casou. Sei que tem trinta e nove anos, dez meses e alguns
dias, mas ainda é meu bebê. Ainda é o garotinho que segurava minha mão
sempre que precisei, que foi meu único amigo por tantos anos. — Ela me
apertou em um abraço. — Eu te amo, Daniel.
— Eu também te amo, mãe. — Beijei sua testa.
Meu pai me deu um abraço com tapas fortes nas costas, beijou minha
testa e eu peguei Giselle. Ela acenou uma última vez para nossa família.
Phillip, com uma comitiva de seguranças, nos levou para o hotel e entramos
pelos fundos.
— Será que posso despir minha esposa? — Parei atrás dela com um
sorriso.
— Estou um nojo.
— Fico feliz que tenha se divertido.
— E você? Gostou? — Ela me encarou pelo espelho.
— Foi um dos dias mais felizes da minha vida — garanti para não
deixar nenhuma dúvida. — Eu tenho uma lista e a maioria deles, é com
você.
Giselle ficou nua e nós fomos para a banheira, estava frio e ficar na
água quente ajudou a esquentar. Ela estava exausta demais para qualquer
coisa e eu queria apenas ficar com meus braços ao redor dela, sentindo o
perfume doce e tendo sua boca ao alcance da minha. Aproveitamos o
champanhe, os chocolates, frutas e minha mãe mandou entregar o bolo do
casamento, que compartilhamos um pedaço na cama antes de dormir.
— Espero que tenha sobrado mais pedaços. Esse bolo está bom
demais.
— Sua avó quis que guardasse uma parte para congelar. Tem que ser
servido no batizado do bebê — comentei, com sono.
— Que bebê? — Giselle ainda estava lambendo o garfo.
— O nosso futuro filho. — Sorri, pensando no quanto aquela senhora
era pequena, forte e louca. Fazia sentido o quanto Giselle se parecia com
ela. Se tivesse sido criada junto, teria ficado ainda mais parecida. — É uma
tradição britânica.
— Hum. Preciso aprender mais sobre isso, sou completamente
perdida. — Ela bocejou e deixou o pratinho de lado. — Estou com preguiça
de escovar os dentes.
— Começamos esse casamento muito bem — murmurei, de olhos
fechados.
Giselle dormiu alguns segundos depois, soltando um ressoar alto e
pressionei meus lábios para não ter uma crise de riso. Nossa lua de mel
começou com uma noite deliciosa de sono. Mas na manhã seguinte, fui
acordado com minha esposa deslizando para baixo da coberta e levando
meu pau à boca para desejar bom dia. Nós rolamos e enrolamos na cama até
a hora do almoço, seguimos para a casa dos meus pais e fomos recebidos
com flores.
— Você decorou a casa toda para esse almoço? — Giselle abraçou
minha mãe.
— Ainda estamos dentro de uma comemoração especial. Lembro do
dia do meu casamento, eu tinha dezenove anos, estava assustada e
apaixonada. Como você está, querida?
— Exultante. — Giselle abriu um sorriso enorme. — Estou casada
com o homem da minha vida.
Passei meu braço por sua cintura e roubei um beijo. Depois do
almoço, quando a família dela foi embora, Giselle ficou no quarto com
minhas irmãs, falando alto, ouvindo música e comendo docinhos. Nós
iríamos embora mais tarde. Eu não trabalharia por uma semana e estava
planejando algumas brincadeiras em casa, ficaríamos isolados, portanto,
deixei que socializasse mais um pouco.
Eu podia ser muito egoísta e manipulador de sua atenção.
— O que foi isso no seu olho? — questionei a Patrick, bebendo um
drinque gostoso que Zachary preparou para nós.
— Uma garotinha acertou o punho no nariz dele. — Calvin riu,
levando o copo à boca.
— Teve briga no meu casamento?
— Bem… — Patrick encolheu os ombros. — Estava me divertindo
com uma dama no jardim, e aí, sem querer, uma garota nos viu. Minha
acompanhante riu dela, por algum motivo que não percebi, por estar
subindo minhas calças e escondendo meu pau. Daí a garota respondeu, eu
tentei separar as duas e ela acertou um soco muito preciso no meu olho, me
chamando de babaca promíscuo e a mulher de puta barata.
— Seja quem for, gostei dela. — Abri um sorriso, provocando-o.
— O punho dela era tão fino, não sei como conseguiu fazer tanto
estrago em meu rosto bonito. — Patrick pareceu chateado, o que me fez rir
ainda mais.
— É bom te ver sorrindo. Teve uma boa noite? — Patrick balançou as
sobrancelhas.
— Vai se foder — retruquei, virando todo o meu copo. — Vou levar
minha esposa para casa e só me liguem se alguém estiver morrendo.
— Ou talvez, nem isso. Sabe-se lá o que nossos pais podem inventar.
— Patrick relaxou no lugar.
— Eles vão se comportar essa semana — garanti, porque havia pedido
especialmente uma folga de planos políticos, aparições públicas perfeitas e
alfinetadas em opositores, até porque, Adam, por melhor que fosse em seu
trabalho, precisava de um tempo para agir nas sombras e caçar as pessoas
envolvidas no sequestro agora que tínhamos rastro, rostos, provas e uma
linha do tempo.
Eles precisavam desaparecer antes que segredos ruins surgissem.
Giselle foi arrumar suas coisas e Lanna parou na minha frente,
encostando-se na parede.
— Irmão, eu quase não digo isso, mas eu preciso agora. — Ela
segurou minha camisa. — Te amo. E obrigada por sempre cuidar de nós.
Você foi um irmão mais velho exemplar. Quase um pai, ou melhor, foi
nosso pai em muitos momentos, nos protegeu e amou. Fez de tudo que
podia e por esse motivo, agora que está casado, quero que pare de estar
controlando tudo e todos. Quero que vá ser feliz com sua mulher e construa
uma família linda, porque nós crescemos e somos capazes de lidar com a
vida do jeito que ela é.
— Eu te amo. — Beijei-lhe a testa.
Segurando a mão da minha mulher, levei-a para casa. Foi um sabor
diferente parar o carro na garagem sabendo que tudo havia mudado. Giselle
saiu primeiro, querendo agarrar nossos cachorros. Desde que eles
chegaram, ela conseguia ficar sozinha em casa sem me mandar mensagens
a cada dois minutos. Ainda ficava insegura, com tudo trancado, atenta, mas
também visivelmente mais relaxada.
Cici e Bowl fizeram muito bem a ela. Eu gostava deles também.
— E o que acontece agora? — Giselle encostou-se na geladeira com
um copo de água.
— Acontece o quê? — Eu me distraí com o rótulo de um vinho.
— Sem o planejamento do casamento, parece que minha agenda está
estranhamente vazia. Eu tenho que ser a esposa perfeita para o filho do
futuro presidente e terminar minha pós-graduação. — Ela sentou-se no
balcão e cruzou as pernas.
— O casamento ocupou muito do nosso tempo, mas agora, vamos
simplesmente viver nossa vida. — Parei na sua frente e beijei seus lábios.
— Como está seu bumbum?
— Não está doendo, porém, ainda não está pronto para uma nova
rodada. — Ela jogou os braços nos meus ombros e esfregou o nariz no meu.
— Precisa me carregar no colo até nosso quarto. Dizem que dá sorte.
— Eu já tenho muita sorte por ter você. — Agarrei-a e sem aviso,
levantei. Depois voltaria para buscar o vinho. Transar era mais importante.
Capítulo Quarenta e Um
Giselle
Daniel estava andando de um lado ao outro na nossa sala, falando
com Adam e ao que parecia, meu antigo chefe foi morto em uma
perseguição. O corpo, obviamente, desaparecido para não ser atrelado a nós
de nenhuma maneira. O outro homem seguia fora do radar desde o jogo e
havia muitas pessoas de olho no rosto dele. Recostei-me no sofá, ouvindo o
que ele falava com calma e acariciei Cici, pensando que aquela não era a
morte que gostaria para ele, ainda acreditava na justiça.
A morte era boa demais para tudo que ele me causou. Daniel encerrou
a chamada e sentou-se ao meu lado, colocando a mão em minha coxa.
— Vai contar para os seus pais?
— Vou, mas uma versão editada. É possível que eles metam os pés
pelas mãos, estamos em uma fase muito delicada, essa preliminar é o que
traz o amor do público e a defensa nas redes sociais. Eles precisam
continuar dançando no ritmo imposto.
— Não é demais lidar com isso sozinho?
— É um equilíbrio delicado que não posso confiar em meu pai para
isso. Minha mãe tem mais frieza e controle, mas ele perde a cabeça quando
se trata dela, se ferindo por algo que fez. — Daniel relaxou no lugar,
esfregando as têmporas.
— Eu preciso saber de uma coisa…
— O quê? — Ele virou um pouco.
— Seu pai transou com a Isabel? — questionei baixinho. Ela acusou
que o suposto filho era do pai dele, então, como ela faria isso sem algo
plausível?
— Não. Quer dizer, eu achei que sim, porque ele tem um histórico de
traição, mas ele negou e depois, pensei bem, investiguei melhor e concluí
que, apesar de tudo, estava falando a verdade. — Ele entrelaçou nossos
dedos. — É que ela sabia dessa história, do meu relacionamento ruim com
meu pai e que, provavelmente, estava enfeitiçado por ela o suficiente para
ser envenenado. Isabel articulou pequenas coisas que viraram uma bola de
neve.
— Seu pai transaria com ela?
— Se fosse no passado, outro tipo de mulher, sim. Mas ela era muito
jovem, ele não tem essa tara.
— O histórico que você diz é o filho fora do casamento? Então, é do
seu pai? — Mordi o lábio, tentando abordar o assunto com suavidade. —
Você tem mais um irmão?
— Como disse, meu pai usava muitas drogas e nem sempre estava na
mesma realidade que a nossa. Ele vivia em um mundo dominado pela
cocaína que cheirava e isso fazia com que nas festas também participasse de
orgias, sexo era seu segundo vício — Daniel começou a contar, olhando
para o teto. — Ele traía minha mãe, meus avós abafavam os escândalos, ela
chorava e implorava para que ele parasse. Ele prometia, ia para a
reabilitação, ficava sóbrio um tempo e depois, outra recaída. Assim, sem
que ele tivesse realmente planejado, teve uma noite de sexo com uma
mulher que resultou em um filho.
— Como sua mãe descobriu?
— Ela não era a única na família apaixonada pelo meu pai. — Daniel
ficou com as bochechas levemente vermelhas e me preocupei com o que
viria a seguir. — Foi a minha tia que conheceu meu pai, eles ficaram em
uma festa, mas foram só uns beijos, assim como ele ficou com muitas. Um
ano depois, ele conheceu minha mãe e se apaixonou por ela. Quis namorar,
casar, tudo de uma vez só e minha tia ficou furiosa.
— Porra… eu vou vomitar. — Mudei de posição no sofá. — Daniel?
— Ofeguei, chocada. Puta merda, era nojento!
Daniel estava envergonhado.
— É… minha tia sabia que ele tinha constantes recaídas e que ficava
completamente fora de si. Mamãe me levou para uma viagem com minha
avó, ela foi até nossa casa e enfim…
— Mas ele estava sóbrio?
— Não. Nem um pouco. Ele surtou quando acordou no dia seguinte,
quebrou a casa inteira e tentou se matar. Cortou os pulsos por ter dormido
com minha tia, cheio de drogas ainda, mas lúcido. — Daniel me puxou para
perto, como se precisasse de mim. — Lembro da ligação. Eu era tão
pequeno, não lembro de mais nada, mas disso, eu lembro. Mamãe gritou e
teve um colapso, voltamos para casa e lembro do sangue no tapete. Elas
brigaram, do tipo, trocaram socos e puxadas de cabelo. Minha avó separou,
meu pai foi para mais uma reabilitação, meu avô sumiu com os rastros,
meus outros avós gastaram rios de dinheiro para manter tudo longe do
interesse da mídia e eu fui mandado para ficar com uma tia-avó enquanto
minha mãe cuidava do meu pai.
— Eu sinto muito, querido. — Beijei sua testa. Ele era só uma criança
vivendo em um inferno que não o pertencia.
— Eventualmente, meu pai melhorou, voltou para casa. Acredita que
também lembro quando ele foi me buscar? Eu senti felicidade. O
sentimento ainda é familiar.
Oh, meu bebê.
— Sua tia engravidou do seu pai?
— Sim. Eu só soube alguns anos depois, ouvindo uma briga delas.
Minha mãe jogou na cara dela que, pelo menos, nunca foi uma irmã
invejosa que transou com o marido da outra. Elas não são próximas, nem
amigas, mantêm as aparências só para o público não desconfiar. — Ele
deitou um pouco mais em cima de mim. — Tuck é meu irmão. Primo de um
lado e irmão do outro. Ele não sabe, muito menos minhas irmãs. Meu avô
paterno obrigou meu tio a assumir a criança, era solteiro, sem filhos e o
público acreditou que houve um caso que resultou em uma criança. Meu tio
era gay e meu avô não permitia que ele assumisse.
Puta que pariu! Tuck era irmão de Daniel!
— Meus pais sabem que eu sei, anos depois, souberam. Eu prometi
que não contaria a Tuck. Por que eu iria destruir a vida dele dessa maneira?
Ele amou meu tio como um pai. Sofreu com a morte dele, ficou até
deprimido. Como vou contar que, na verdade, ele é filho de uma dupla
traição com um pai biológico chapado?
Acariciei seus cabelos, morrendo com o peso que ele carregava no
coração e não podia expor para mais ninguém por causa de uma promessa,
uma vida pública que dependia de muitas aparências.
— Agora entendo por que sua mãe nunca me permitiu ficar perto da
sua tia — falei baixinho. — Ela ficou com medo que eu soubesse?
— Não. Duvido muito que seja por isso, apenas ciúme mesmo, ela
prefere manter todo mundo longe da minha tia porque elas se odeiam. —
Daniel mudou de posição no sofá e me puxou para seu colo. Dobrei minhas
pernas e fiquei toda encolhida, aproveitando o calor dos braços dele.
— Não é justo. Sua mãe conheceu seu pai um ano depois e ele não era
namorado da sua tia. Já a outra, aproveitou de uma fraqueza, dominada pelo
desejo e paixão, mas causou um grandíssimo mal — comentei, pensativa.
Era um horror. — Eu não sei como sua mãe conseguiu manter o casamento.
— Eu não consigo atribuir qualquer tipo de culpa a nenhum deles. O
ser humano é simplesmente o pior em seu coração, não há como saber o que
tem dentro de cada um. — Ele beijou minha testa. — Apenas sei que de
certo modo, meus pais se amam. Quando as drogas saíram de cena, meu pai
realmente transformou-se em outra pessoa, mas já havia muitos estragos.
Ele causou danos com o vício, descontrole, porém, minha mãe o amava
muito e eu já era nascido. Ela não queria ser mãe solteira, ouvir que era
divorciada, sozinha. Preferiu aguentar e lutar.
— Ainda bem que isso mudou, antigamente era normal mulheres
ficarem oprimidas em um casamento pelo bem dos filhos. Hoje, eu te amo,
mas vou te matar.
Daniel riu, tremendo o peito e belisquei sua barriga.
— Eu te amo, mas saiba que eu jamais vou te trair porque meu corpo
só responde ao seu. — Segurou meu queixo e me beijou.
Uma das coisas que a tranquilidade pós-casamento trouxe foi a paz da
nossa casa. Era enorme, porém, nosso lugar favorito no mundo. No entanto,
ainda havia uma série de compromissos públicos, nos quais eu ainda usaria
as roupas de doce garota romântica. A primeira vez que fomos à igreja
depois do casamento foi interessante. Levamos quase trinta minutos para
chegar no nosso lugar, de tantas pessoas que queriam nos cumprimentar.
Pouco antes do intervalo, evitando pegar o banheiro cheio, saí
rapidamente com Phillip. Daniel ficou sentado com o pai dele e Laurel foi
cumprimentar uma senhora. Eu entrei no espaço que parecia vazio, fiz xixi
e lavei as mãos. Tirei o batom do bolso, quando a última porta foi aberta e
uma mulher saiu dali. Ela me viu e abriu um sorriso provocante.
Merda.
— Se não é a noivinha perfeita do ano. — Isabel parou a alguns
passos de mim. — Ou devo dizer, a stripper safadinha que logo todos vão
descobrir quem é de verdade.
— Eu sou as duas coisas e um pouco mais, Isabel. A noiva perfeita, a
esposa escolhida para Daniel e também, a safadinha. Te garanto que meu
marido ama — rebati, passando o batom e me virei. — Sabe de uma coisa?
Por um tempo, você me incomodou. Na minha mente fantasiosa, você
representou um perigo por ter sido noiva do meu marido. Agora, por mais
que exista um pequeno motivo para sentir pena da garotinha que sofreu com
a família, eu não consigo me importar com você.
— Eu não preciso que se importe comigo, apenas que saiba que vou
destruir todos vocês. — Ela deu uns passos ameaçadores. — Logo, seu
segredinho vai estar nos jornais e Daniel também vai pagar por tudo que faz
para proteger essa família suja e mentirosa.
— Você vai tentar, como tem feito, mas não significa que vai
conseguir. Afinal, seus esforços não parecem ter muito sucesso. — Abri um
sorriso e também inclinei-me para frente. — Fique longe do meu marido,
Isabel. Pare de provocá-lo com esse colar. — Agarrei a pedra e puxei com
muita força. Ela gritou, caindo para frente e ele arrebentou todo. Aproveitei
a proximidade e segurei seu cabelo, dominando-a e pressionando seu rosto
na pia. Ela se debateu, mas era mais magra e mais baixa, não podia muito
contra mim. — Tente me encurralar em qualquer lugar e eu acabo com
você. Pode expor as fotos, meu passado, não me importo e não vai abalar a
minha imagem. Eu vou continuar sendo a pobre garota, descendente de uma
imigrante, que perdeu a mãe e teve que fazer de tudo para sobreviver até
encontrar um noivo maravilhoso, que a salvou da miséria, e descobrir um
pai rico. — Soltei uma risadinha com seu olhar de ódio no meu. — Meu
conto de fadas vai comover muitas pessoas e fazê-las olhar para minha
família com amor digno de um filme da Disney. Eu sei fazer política. Pode
vir, estou pronta.
— Giselle? — Lanna entrou no banheiro e parou de supetão. Ela viu o
colar destruído e abriu um sorrisinho. — Solta essa rata. Parece que ela teve
o que merece.
Isabel cambaleou quando a empurrei. Ela segurou o pescoço, onde
estava vermelho e, com a promessa no olhar de que não ficaria assim, saiu
de cabeça erguida. Realmente não ficaria daquele jeito. Agora que eu sabia
a verdade, ela não atormentaria mais o meu marido e ele não sofreria por
isso. Daniel carregava um peso que não deveria em seus ombros e o que
pudesse fazer para protegê-lo, eu iria.
Eu definitivamente entendia que a família dela havia passado por uma
dor enorme ao ser vítima de uma armação, sem chances de defesa. Mas eu
também sabia que não era trocando fogo que se vencia uma guerra. Era com
diplomacia. Enquanto eles estivessem dispostos a lutar, minha família
também lutaria, afinal, não só o passado estava em jogo. Era o futuro com
um poder imenso como a presidência, além do dinheiro de pessoas
realmente perigosas.
Não contei exatamente o que aconteceu para Lanna porque ela não
podia saber os detalhes, apenas disse que cansei das provocações e reagi.
Ela me apoiou, preocupada com uma retaliação e depois do breve intervalo,
voltei para meu lugar ao lado de Daniel. Só percebi a dimensão do que
havia acontecido quando me sentei no escuro, tremendo um pouco.
— O que aconteceu? — Daniel questionou baixinho.
— Eu te conto com detalhes em casa — falei e olhei na direção em
que a família Gutierrez sentava. Eles não voltaram depois da pausa. —
Droga. Acho que tenho que contar agora. — Virei e apoiei minha mão no
ouvido dele, começando a sussurrar tudo o que aconteceu.
Daniel fechou a expressão e pegou seu telefone, enviando um alerta à
segurança de toda família. Thomas recebeu e franziu o cenho, nos
encarando, mas fingimos que nada estava acontecendo porque era preciso
manter o sorriso em público. Qualquer um que pudesse testemunhar, veria
que passamos a manhã na igreja como uma família perfeita. Se alguma
coisa acontecesse, a narrativa já estava encaminhada.
Essa era a vida que eu fazia parte.
Capítulo Quarenta e Dois
Giselle
Os carros da segurança seguiram em comitiva para a casa dos pais
de Daniel. Nós chegamos bem, apenas um carro da mídia nos seguiu por
um tempo e eu fiquei aliviada por não ter tido nenhum ataque de ansiedade,
na verdade, ainda estava com raiva do quanto Daniel aguentou Isabel
tocando aquele colar como uma vaca maldita, pairando com a lembrança
constante de tudo que ele sofreu.
Saber sobre o passado e a ligação com o sequestro só piorou tudo. Ele
não podia agredi-la por ser irritante, mas eu sim. E não me arrependia. Ela
nunca mais iria lembrar que ele se envolveu na conexão dominante e
submissa por um plano. Eu sabia o quão forte deveria ser essa ligação e ela
forjou isso. Eu me sentiria usada e ferida se um dominante se aproximasse
da minha vida para me ferir com um plano ardiloso.
— Tudo parece bem o suficiente para irmos embora. Os seguranças
vão ficar em alerta. — Daniel tocou meus ombros. — Eu tinha planejado
levá-la para almoçar hoje.
— Eu sei, mas podemos cozinhar algo juntos e beber vinho ouvindo
música. — Toquei suas mãos, ele acariciou o meu dedo mindinho, onde
havia um corte.
— Você arrancou o colar dela — falou baixo e precisei virar para
entender seu tom. Sua expressão estava fechada. — Sei que me pediu isso,
mas eu não posso tocar nela.
— Daniel, eu sei. — Fiquei de pé e dei a volta no sofá, parando à sua
frente. — E nem queria que a tocasse, pensei na época que, sei lá, houvesse
um respeito na comunidade. Mas Isabel não faz parte do que vivemos. Ela
continuava com o colar para te provocar. — Segurei a gola de sua camisa.
— Eu conheço o homem maravilhoso e protetor que vive aí dentro. E antes
que brigue comigo, que não se arranca o colar de uma submissa, eu não me
arrependo e não vou me importar com sua opinião.
— Obrigado. — Ele me beijou.
Abri um sorriso contra seus lábios e o abracei apertado. Os pais dele
nos convenceram a ficar para almoçar e eu não resistia à comida da
cozinheira, muito menos a torta de chocolate que Aramita preparou para
sobremesa. Enquanto ainda conversava com Daniel, vi que Adam o ligou.
O pai e ele saíram da sala de jantar, falando baixo, ouvindo a ligação. Eles
continuaram conversando no corredor até que começaram a discutir.
Laurel e eu levantamos imediatamente.
— O que está havendo? — Ela quis saber em seu modo autoritário.
— Daniel sabia que os Gutierrez estavam envolvidos no sequestro e
não nos contou!
Laurel olhou para o filho e ficou quieta.
— Foi por causa do que aconteceu no passado, certo? — ela refletiu,
comedida, já no controle. — Sempre imaginei que um dia eles descobririam
a verdade e isso voltaria para morder nossas bundas. Nos aproximar deles
com a fachada amigável não nos ajudou em nada.
— Apenas alimentou os planos de vingança — Daniel concordou e
Thomas ergueu as mãos, exasperado. Eu entendia. Conviver com dois
controladores não era fácil.
— O que aconteceu no passado simplesmente anula os atos vis deles?
— Atos vis movidos por uma dor que nós causamos, Thomas. —
Laurel foi firme. — Mas não significa que ficará assim. Eles não possuem
esse direito.
— Adam está rastreando a família. Eles perderam o rastro desde que
saíram da igreja, isso preocupa, com um embate provando que as ações dele
têm sido em vão e temos várias cartas na manga, eles podem estar em
desespero. — Daniel enfiou o telefone no bolso. — O outro homem foi
visto entrando na boate, que está fechada há alguns dias e parece ter saído
com bolsas de dinheiro. Estão atrás dele. Se ele sumir também, o que espero
que seja feito até o fim do dia, Adam vai lidar com o FBI e isso vai restar
apenas a família.
Laurel tocou meu ombro, porque certamente sabia que eu estava
nervosa e me sentindo culpada. Não deveria ter reagido a Isabel. Bancar a
sonsa nos ajudaria a longo prazo.
— Vamos nos reunir amanhã cedo e nos preparar para quaisquer
eventualidades. Temos muitos planos que podem ser jogados na mídia
rapidamente, por hoje, vamos apenas tirar a atenção da nossa família. Que
podre podemos colocar no jornal matinal?
— Eu tenho alguns — Thomas afirmou e foi para seu escritório.
— Nos vemos amanhã. — Laurel beijou minha bochecha. —
Descansem hoje. Lembrem-se, são recém-casados, vão namorar e fazer
coisas a dois. Política ficará para amanhã.
Daniel me levou para casa em silêncio e não cobrei interatividade
dele, por imaginar que sua mente estava completamente focada no que
precisaria ser feito a partir daquele momento. Até junho, seria importante
saber como lidar com os Gutierrez porque, de fato, os Vaughn não eram
nossa oposição de verdade. Eles eram o outro lado da moeda do jogo.
Fiquei com os cachorros no chão da sala, assistindo filmes, comendo
pipoca e deitamos cedo para dormir. Tive uma noite de sono agitada.
Acordei cedo, para poder ir à faculdade, enquanto Daniel trabalharia pela
manhã. Laurel confirmou o horário da reunião mais tarde, com a presença
de Diana. Assisti o noticiário no caminho. Phillip nos conduzia com o
cuidado de sempre.
— Como seu pai sabe da vida particular desse homem? — questionei
a Daniel.
— Alguns segredos valem dinheiro, basta saber como comprar —
Daniel respondeu com um meio sorriso. — E ele sabia que seria exposto
cedo ou tarde, andou irritando as pessoas erradas e se tornou um alvo
divertido. Um senador que espuma nas redes sociais sobre os homossexuais
tendo fotos comprometedoras com outro homem traz um pouco de diversão
à corrida política.
— Interessante. Sinto pena da esposa dele. — Toquei sua coxa,
relaxando no banco. — Sem perseguir seus alunos por estar estressado, ok?
— Pelo menos não tem filhos envolvidos no meio — Daniel refletiu e
me deu uma olhada por conta do meu pedido inusitado. — Eu não posso
prometer tal coisa.
Phillip parou o carro nos fundos, no nosso lugar costumeiro que dava
acesso direto ao escritório de Daniel. Era um pouco mais longe para mim,
porém, eu gostava da máquina de café da sala do meu marido e sempre
fazia um copo grande antes de fazer minhas coisas.
— Vem, moça bonita. — Daniel abriu a porta do meu lado, esticando
a mão para me ajudar a sair. Virei ao ouvir o barulho de uma derrapada.
Phillip tirou a arma da cintura, Daniel olhou para o lado, arregalando os
olhos e ouvi o som do disparo. Com puro choque e horror, vi o corpo do
meu marido chocar contra a porta do carro duas vezes.
Gritei, segurando-o, minhas mãos imediatamente ficando muito
molhadas de sangue. Ele escorregou um pouco, caindo contra mim,
consciente, ficando pálido e me jogou para trás. Bati contra a outra porta e
com esforço, ele entrou, nos trancando dentro. Daniel caiu com a cabeça no
meu peito, perdendo a consciência. Saltei de susto com o carro sendo
alvejado, mas as portas e vidros eram blindados.
Pressionei suas feridas, tremendo e olhando em seus olhos.
— Vai ficar tudo bem — falei baixinho. — Nós vamos ficar bem.
— Você está ferida?
— Não. Fique acordado, ok? — pedi, engolindo seco.
Phillip entrou no carro e se virou no banco, com os olhos arregalados
e o braço sangrando. Não entendi o que falou, apenas saiu disparado em alta
velocidade, buzinando freneticamente. Escorreguei entre os bancos, ficando
presa, porém, me recuperei rápido. De repente, o carro parou, Phillip gritou
por ajuda e antes que pudesse ter um segundo pensamento, as portas foram
abertas por pessoas vestidas de azul.
Daniel foi levado às pressas para dentro do hospital universitário. Eu
fui cercada por seguranças da universidade, policiais e levada para um
consultório. Não pude ver nada, muito menos acompanhar meu marido.
Soube por uma enfermeira que ele foi levado para cirurgia e logo alguém
me traria notícias. Ela foi suave, lavando minhas mãos cheias de sangue.
A porta foi aberta.
— Senhora?
— Phillip! — gritei, aliviada ao ver seu braço apenas enfaixado. — O
que foi tudo aquilo? Quem atirou contra nós?
— Eu não sei os homens, apenas reconheci a mulher — Phillip
respondeu.
— Isabel?
— Sim. Ela está ferida, quando tive oportunidade de fugir, trouxe-os
para o hospital.
— Você fez o certo. A vida de Daniel acima de qualquer coisa.
Consiga notícias, por favor. Eu não posso perder o meu marido.
— Já volto. Não saia daqui — ele pediu e saiu rapidamente.
Encostei-me contra a parede, tonta, e me inclinei para frente,
precisando controlar minha respiração para não ter um ataque de pânico
quando Daniel precisava que eu fosse forte por ele. Os sons dos disparos
ainda ecoavam na minha mente, assim como a lembrança assustadora de
ver o homem que amava sangrando em meus braços e tudo que podia fazer
era colocar as mãos para impedir que perdesse muito sangue.
Eu escorreguei para o chão, sem conter o choro, abraçando minhas
pernas. Nem sabia onde estava minha bolsa e telefone. Alguém bateu na
porta gentilmente, era uma policial, ela segurava tudo que estava no carro
em uma caixa de evidências e deixou perto de uma maca. Agachando na
minha frente, perguntou se estava ferida, se precisava de atendimento
médico e neguei.
— Sei que deve ter sido assustador, mas, em breve virão colher seu
depoimento prévio.
— Só quero saber do meu marido — falei baixinho.
— Tudo que sabemos é que ele está em cirurgia.
— Giselle? — Laurel empurrou a porta aberta, que bateu contra a
parede em um estrondo. Seu rosto estava vermelho e cheio de lágrimas.
— Laurel! — Corri para seus braços.
— Onde está Daniel? O que aconteceu com meu filho?
— Ele foi ferido. — Meu coração parecia que ia explodir no peito. —
Não sei o que aconteceu, mas ele precisa ficar bem. Nós…
— Shh, querida. Estou aqui. — Ela me puxou novamente e ali fiquei
por horas.
Adam chegou alguns minutos depois e impediu a polícia de falar
comigo antes que ele pudesse ouvir meu depoimento e o de Phillip,
orientando a história que deveria ser falada, para que nenhuma palavra ou
ação fosse interpretada de maneira que precisassem investigar demais o
passado da família e chegando ao escândalo que tanto deveríamos esconder.
Não podia me esquecer que quando eu era uma ninguém, os primeiros
policiais que falaram comigo após o sequestro me consideraram suspeita.
Ao me tornar uma mulher rica com sobrenomes poderosos, eles foram
incrivelmente gentis e cuidadosos, até não fizeram muitas perguntas, se
mantiveram no acontecimento na frente da universidade, refazendo tudo
pelas imagens capturadas pelas câmeras. Os jornalistas lotavam a porta do
hospital, o vídeo dele me jogando para dentro do carro e fechando a porta
para me proteger dos tiros estava viralizando na internet.
— Aqui, cunhada. — Patrick colocou um casaco no meu ombro. —
Está gelada e pálida. Leah foi comprar um café. — Ele sentou-se ao meu
lado, me abraçando.
— Já fazem horas, Patrick.
— Daniel é o homem mais forte que conheço na vida. Ele vai sair
dessa com vida — Patrick prometeu e assenti, com as lágrimas caindo e
molhando minha camisa.
Mesmo com uma roupa limpa depois de um banho, ainda sentia o
quanto o sangue quente dele escorreu pelo meu corpo. Eu olhei para Tuck
no canto, com a esposa, ambos me deram pequenos sorrisos preocupados e
pela primeira vez, percebi o quanto a sala de espera estava cheia. Família e
amigos que amavam Daniel. O homem difícil, que todos sabiam o quanto
precisava controlar e não hesitava em ser ríspido, era muito amado. Todos
sabiam que sua maneira peculiar de ser não o impedia de fazer de tudo para
proteger a família, cuidar dos amigos e, principalmente, de mim.
Leah entregou um copo de café quentinho e dei um gole, precisando
ficar de pé por não ter comido muito durante o dia. Foquei minha atenção
na porta, rezando com toda minha fé para que meu marido ficasse bem e
voltasse para os meus braços para vivermos nosso amor.
Capítulo Quarenta e Três
Daniel
Giselle andou pelo quarto com uma toalha pequena na mão e mordeu
o lábio, esperando a enfermeira voltar. Eu abri os olhos naquela manhã
sentindo muitas dores e um pouco confuso. Lembrava de tudo que havia
acontecido, para minha completa infelicidade. Se havia algo que gostaria de
esquecer, foi o momento em que os disparos foram feitos e eu senti medo de
morrer, de perder minha esposa e de nunca mais ficarmos juntos.
Fui submetido a uma cirurgia e segundo os médicos, de muito
sucesso. Transferido para um hospital maior e um tanto melhor, estava em
observação clínica para minha recuperação completa. Giselle não saiu do
meu lado desde que acordei e ficava controlando os horários das
medicações para que não sentisse dor. Ela perdeu peso, estava abatida, com
o cabelo preso e usando roupas confortáveis para dormir comigo.
— Vem aqui, esposa. — Bati na cama. Ela soltou a toalha na ponta e
parou ao meu lado. — Pode relaxar um pouquinho?
— Eu não quero que elas atrasem.
— E não vão. Todo mundo tem medo de mim — garanti com um
sorriso.
— Você tem que descansar. Não fiquei nada feliz que tenha se reunido
com Adam quando fui em casa pegar roupas limpas. — Franziu o cenho. —
O que ele falou?
— Apenas que estamos limpos com o passado. A mídia noticiou a
tentativa de assassinato arquitetado por Isabel, mas a coisa toda foi um caos
imprevisível.
Como avisei a Giselle, as pessoas que estavam investindo na
campanha eram mafiosos e eles não toleravam muitas coisas. Ao que
parecia, na manhã em que estávamos na igreja, foi batido o martelo de uma
execução arquitetada para acabar de vez com as interrupções dos Gutierrez.
Eles queriam se vingar da minha família e provocaram pessoas erradas, que
não tinham o interesse de jogar para perder.
Isabel conseguiu fugir no domingo à noite, encontrando dois aliados.
A intenção dela, segundo um dos homens que foram capturados vivos
depois, era matar Giselle e eu, programando uma exposição do nosso estilo
de vida, do passado dela como stripper, revelando ao mundo que a postura
conservadora de casal perfeito era só a ponta do iceberg de mentiras que a
minha família alimentava.
Apesar de ter obtido um quase sucesso no plano, porque eu fiquei
ferido, Sienna e sua equipe impediram todo o restante com maestria e ainda
converteram todo o desastre em um sensacionalismo de ódio da família
Gutierrez contra a minha. Mesmo não vivo, foi publicado que o patriarca
foi preso, a esposa faleceu em uma fuga e Isabel também, sem resistir aos
ferimentos causados por Phillip.
A máfia não brincava. Era isso que ninguém ao meu redor parecia
compreender, a minha necessidade de manter tudo em perfeita ordem. Eles
matavam de verdade. Não era uma fantasia como nos livros. Eliminaram
uma família inteira, que estava causando problemas na campanha que tanto
investiram. As peças não eram movidas por nós, apesar de todo poder e
influência que minha família exercia na cidade, existia uma obscuridade por
trás.
— Acabou essa parte. Eles não podem mais nos ferir. — Giselle
inclinou-se na grade e beijou meus lábios. — Suas bochechas estão mais
coradas hoje e estou feliz que esteja se alimentando melhor.
— Acabou de dizer que estava chateada — provoquei.
— Cale-se.
— Não pense que só porque estou em uma cama não posso arrebentar
essa sua bunda — avisei severamente, ela riu e correu para longe. Minha
atrevida.
Pontualmente, a enfermeira entrou com a bandeja e olhei para minha
esposa, ciente de que estava certo desde o começo. Ela relaxou, mas ficou
com os olhos atentos, preocupada, querendo cuidar de mim. Com um livro,
embolou-se no sofá, coberta por uma colcha da casa da minha mãe e contei
dez minutos até sua cabeça cair. Ela se recusava a ficar em casa, não
deixava ninguém ficar comigo, eu só não estava brigando porque não faria
diferente e não tiraria isso dela.
Por quinze dias muito longos, ficamos no hospital. Recebi alta depois
de conseguir ficar em pé sem sentir tantas dores, apenas um incômodo nas
regiões afetadas. Eu tinha que fazer fisioterapia e meus exercícios seriam
acompanhados por profissionais. Meus pais não descansaram até entrevistar
as melhores pessoas para trabalhar em minha casa e Aramita deixou a casa
deles temporariamente para treinar uma governanta. Giselle precisaria de
muita ajuda para dar conta de tudo.
Meu sogro passou uma semana conosco, dando suporte e também,
cuidando de sua filha. Ela não foi ferida fisicamente, porém,
emocionalmente, nos primeiros dias, ela ficou sensível. Vere cuidou de
coisas que nem mesmo meus pais conseguiram devida a preocupação
comigo.
— Precisa que te carregue no colo? — Patrick brincou quando parei
na escada.
— Não me faça te mandar para a puta que o pariu trinta segundos
depois de chegar em casa — eu rebati, ele riu e continuou me seguindo
devagar.
— Estou tentando ser prestativo. — Apertou minha cintura e me virei,
dando-lhe um soco. Nós quase caímos e senti uma dor filha da puta.
— PAREM COM ISSO! — mamãe gritou do pé da escada. —
Patrick! Ajude seu irmão sem fazê-lo te bater!
— Ele sempre quer me bater. — Ele deu de ombros.
— Imbecil.
Deitado na minha cama depois de vários dias, senti conforto,
relaxando minhas costas. Ele ajustou os travesseiros, cobrindo-me melhor.
— Se você me assustar dessa maneira novamente, vou te enfiar a
porrada e esquecer que é meu irmão mais velho. — Patrick sentou-se na
ponta da cama. — Sei que você e nossos pais não nos contaram toda a
verdade. Não pela maneira nervosa que Giselle agiu, mas ela respeitou o
segredo e eu também irei, não vou fuçar se é o que desejam, mas preciso
que saiba que seja o que for, Lanna, Leah e eu vamos lidar.
— Não precisa se preocupar. Não mais — afirmei com certeza. —
Papai vai ganhar essas eleições, ele é o favorito do público e tudo que
precisamos fazer até lá é seguir o plano, mas o caos acaba de terminar.
— Tudo bem. Descansa um pouco, te acordo para jantar.
Cici e Bowl subiram na cama. Ela deitou-se ao meu lado, ele ficou
entre minhas pernas, com a cabeça pesada no meu tornozelo. Os dois não
levaram cinco minutos para começar a ressoar alto, soltando peidos
realmente fedorentos.
Giselle entrou no quarto de fininho.
— Achei que estivesse dormindo.
— Não ainda. Estava esperando minha melhor companheira de
cochilo. — Apontei para o meu lado na cama. — Eles sabem que você
precisa descansar.
— Estou exausta — ela confessou e tirou o casaquinho, jogando-o na
poltrona. — Trinta minutinhos de sono vai melhorar meu humor.
Ela se deitou, puxei a coberta sobre nós e virei de lado com cuidado
para abraçá-la. Giselle se aconchegou em mim, suspirando e então, ficou
mais chorosa. Esfreguei suas costas, pedindo baixinho para que não
chorasse. Ela aguentou toda a pressão com a cabeça erguida, ombros
sempre eretos, buscando serenidade e controle das suas emoções.
— Tive medo de te perder.
— Eu sei. Mas não perdeu, estou aqui.
— Estou feliz de estarmos em casa e muito grata de poder te abraçar.
Afastei meu rosto o suficiente para simplesmente beijar sua boca. Cici
rosnou, um pouco ciumenta de estar tocando sua humana favorita e me
afastei, tranquilizando-a com uma carícia longa em seus pelos suaves. Ela
voltou a dormir, esticando as pernas. Voltei a olhar para Giselle, apaixonado
por cada centímetro do seu ser e ficamos ali, contemplando a sorte grande
de termos um ao outro para sempre.
No que se tratava dos planos ambiciosos da família, ainda havia muita
coisa a ser feita. Afinal, a presidência do meu pai era um caminho para a
carreira do Patrick. Mas de toda essa história maluca que eu concordei em
fazer parte, o melhor presente e a maior benção, tinha nome e sobrenome:
Giselle Chantal-Cadogan Montgomery. A mulher de olhos expressivos,
lábios carnudos e corpo tentador que se apresentou na minha frente, ficando
vermelha e levemente alterada com a minha ordem.
A mesma que, mesmo sem entender os sinais de seu corpo, apanhou
com uma régua e descobriu a submissão, entregando-se à química intensa,
inabalável e única que compartilhávamos. Eu nunca cogitei que o amor
pudesse ser uma parte tão importante da minha vida, mas ele era.
Na verdade, ela era a peça principal do meu espetáculo. O centro do
meu universo e assim seria, para sempre, porque ao dizer sim para me
tornar seu marido, entreguei não só meu corpo, como minha alma e
coração. E estava pronto para viver o nosso perfeito final feliz.
Epílogo
Giselle
Alguns anos depois.
Patrick passou por mim como um furacão, tirando a gravata e em
seguida, uma mulher bonita, aparentando familiaridade, andou atrás com
pisadas largas. Virei para Daniel com a sobrancelha arqueada, sem entender
o que estava acontecendo. Era um baile de fim de ano, muitas coisas
estavam acontecendo e me divertindo. Recostei no peito do meu marido,
brincando com sua aliança e analisei a festa.
— Seus pais parecem ótimos.
— Sim. Eles estão vivendo o que sempre sonharam, devem aproveitar.
— Presidente e primeira-dama. Quem diria?
— Eles disseram, a maior parte da minha vida. — Daniel soltou uma
risada atrás de mim e maldoso, apertou o botão do pequeno controle, me
fazendo estremecer. A vibração iria me fazer gozar ruidosamente ali na
frente de todo mundo e não estava me importando.
— Podemos ir embora?
— Não.
— Podemos, sei lá, transar? — implorei, ciente de que poderia ser
punida por insistir e a vibração fazia com que me tornasse insolente.
— Não. — Ele deu seu tapa severo em minha coxa e aumentou a
intensidade. — Não goze. Quando tirar o vibrador, quero que ele escorregue
de tão molhada. Desejo ver sua calcinha arruinada.
— Sinto que posso molhar minhas coxas se continuar.
Daniel apenas riu e beijou meu ombro disfarçadamente. Tendo um
pouco de dó da amada esposa, parou a vibração e me arrastou para uma sala
vazia no segundo andar. Eu adorava quando ele usava minha calcinha para
amarrar meus pulsos e me foder contra portas alheias. Quando voltamos
para a festa, meu sorriso era de ofuscar o sol e felizmente, faltava pouco
para ir embora.
Nós dois ainda vivíamos na belíssima casa que ele herdou de seus
avós, passávamos um mês do verão na Inglaterra e as festas de fim de ano,
revezadas entre ambos os lugares, mas todos sempre juntos. Mesmo com a
vida sob os holofotes e com a perseguição da mídia, vivíamos do jeito que
queríamos: reclusos em nossa casa, realizando nossos planos e amando
nossos cachorros.
Eu me formei com louvor e trabalhava no que mais amava: com a
dança e também, apoiava Daniel nos seus projetos de escrita.
Tivemos uma grande perda pouco depois do nosso casamento. Anya,
esposa de Tuck, sofreu uma inesperada parada cardíaca e faleceu, o que
trouxe para nós muita dor. Ele ficou devastado e até se afastou do trabalho.
Passou muitas noites dormindo em nossa casa. Nunca contei o segredo e, de
fato, concordava com Daniel, não era justo destruir a pouca estabilidade que
tinha.
Minha avó ainda gozava de excelente saúde e estava com oitenta anos.
Segundo minha tia, todos na família viviam até perto dos cem. Eu fazia
questão de me dedicar a ter todo tempo com ela, assim como com Maria,
que depois da cirurgia, teve a saúde melhorando consideravelmente e até
começou a trabalhar com Guilhermo no mercado que Daniel e eu
investimos para os dois. Ela também era uma avó coruja para seu netinho.
Esse pensamento me fez ter saudades do bebê caçula de Lanna. Ele era
meu afilhado e adorável, o amor da minha vida. Quem, pela primeira vez
em anos, fez meu útero coçar. Foi assim que ao longo dos meses, comecei a
considerar que nossa família estava pronta para mais.
— Você tem andado inquieta por algum motivo — Daniel comentou
em um jantar. Estávamos na varanda, apreciando o frescor da noite. — Quer
compartilhar ou é um segredo feminino?
— Não tenho segredos de você.
— Eu sei que não. — Ele sorriu e saí da cadeira, indo para seu colo.
No passado, aquele movimento o faria tenso e irritado, depois de anos, era
uma das nossas posições favoritas para conversar. — Então?
— E se começarmos a aumentar a família? — Mordi meu lábio.
— Sabia! — Daniel abriu um sorriso. — Você tem olhado coisas sobre
bebês, ouvindo podcast de mamães de primeira viagem e passa muito
tempo grudada no pequeno Tom. O relógio biológico bateu, meu amor?
— Sim. Eu não consigo pensar em outra coisa e eu realmente sinto ser
o momento, mas estava na dúvida, acabou de assinar um contrato para um
novo livro…
— Eu tenho tempo para lidar com o livro mesmo que engravide.
— Isso quer dizer que você também quer?
— Talvez o meu relógio também tenha batido. — Ele piscou. Daniel
era um tio maravilhoso para Annie e Tom, assim como para o pequeno
Harry, filho de Jamie e Elena. Sempre comprava presentes, era atencioso,
brincava e eu tinha certeza de que também seria um pai incrível. — Vamos
agendar uma consulta na próxima semana.
Uma felicidade enorme tomou conta do meu ser e só o apertei, dando
pequenas mordidas em seu rosto, até a boca, beijando, sem conter minha
imensa alegria. Eu não me importava que a maior parte dos nossos planos
eram cuidadosamente estudados e controlados. Minha vida era melhor sem
tantas surpresas.
Eu tinha tudo que sempre sonhei: um homem incrível, uma família
grande, sonhos sendo realizados e estabilidade emocional, assim como
financeira. Se existia algo melhor do que isso, o mundo estava
redondamente enganado. Ao me tornar uma Montgomery, aprendi qual era
o meu lugar, quem tinha que ser e que nunca deveria aceitar menos do que
merecia.
Nossa família era amada por muitos, odiada por outros, mas a nossa
história estava apenas começando.

FIM
SOBRE A AUTORA:

Mari Cardoso nasceu no início da década de noventa, na região


dos lagos do Rio de Janeiro. Incentivada pela mãe, que lia histórias
bíblicas e entre outras, sempre teve aguçado o amor pelos livros.
Em 2008, passou a se aventurar no mundo das fanfics da Saga
Crepúsculo até que, anos mais tarde, resolveu começar escrever
originais. Em 2019, iniciou a carreira como autora profissional e hoje
tem duas séries em destaque: Elite de Nova Iorque e Poder e Honra,
dezessete livros publicados e algumas milhares de leituras
acumuladas.
Tornou-se autora best seller no ano de 2020 com o romance
Perigoso Amor – Poder & Honra.

Ela possui
Suas redes sociais:
www.instagram.com/autoramaricardoso
www.twitter.com/eumariautora
http://www.maricardoso.com.br/
Grupo do Facebook.
AGRADECIMENTOS

Este trabalho não seria possível com a incomparável ajuda profissional da


revisora Dani Smith, da betagem sensível da Paula Guizi. Agradeço
imensamente o apoio dessas mulheres no período de construção da história.
Não poderia deixar de fora a torcida das minhas leitoras nos grupos de
contato e o carinho excepcional (e paciência) da minha amada mãe nos dias
de muito trabalho.
Gratidão eterna.

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