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A Jornalista e o Mafioso - Valeria Veiga - Cleaned
A Jornalista e o Mafioso - Valeria Veiga - Cleaned
A Jornalista e o Mafioso - Valeria Veiga - Cleaned
Prólogo
Capítulo 01
Capítulo 02
Capítulo 03
Capítulo 04
Capítulo 05
Capítulo 06
Capítulo 07
Capítulo 08
Capítulo 09
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Capítulo 46
Capítulo 47
Capítulo 48
Capítulo 49
Capítulo 50
Capítulo 51
Capítulo 52
Capítulo 53
Capítulo 54
Capítulo 55
Capítulo 56
Capitulo 57
Capitulo 58
Capitulo 59
Capitulo 60
Copyright © 2023 Valéria Veiga
Muito antes da Lei Sarah Cooper que foi criada para proteger as mulheres
da máfia, elas sofriam caladas dentro dos seus lares. Elas não tinham o
direito de falar, de expressar os seus desejos, eram tratadas como
reprodutoras, como enfeites nas festas e como objetos dentro de casa.
Tudo bem que eu ainda saio com elas quase todas as noites, mas,
pelo menos, eu tenho as manhãs livres e silenciosas para escrever, à tarde,
vou bater meu ponto na revista onde eu trabalho há dois anos.
arah Cooper se casou com o CEO Ryan Cooper quando tinha vinte e três
S
anos.
Com o passar dos anos, sua amiga Nina se tornou a Senhora Cosa
Nostra ao se casar com Lorenzo Cosa Nostra, da Máfia Siciliana.
Eu não seria mais aquela que ninguém percebia na editora, que ficava
sozinha em sua mesa escrevendo artigos sobre relacionamento, enquanto as
pessoas passavam correndo em busca de novas notícias.
∞∞∞
— Até onde sei, essa coleção é da cunhada dela, Bella Stanford, irmã
do seu marido, Noah Stanford; logo, não vejo novidade nenhuma nisso —
Luanne respondeu com certo desdém, e, apesar da nossa amizade, eu sabia
que em termos de trabalho ela era bem competitiva, mas não me dar força
em algo importante, sendo que éramos amigas, já era demais para mim.
— Você não tem visão das coisas! Pensa comigo: eu não quero ser
uma jornalista que cobre eventos de moda, e sim que escreve artigos
polêmicos, que geram questionamentos e que me levem a concorrer ao
Pulitzer Awards.
Tudo bem, “Senhora eu faço o que me vem à cabeça”! Estou indo para
—
casa e nos vemos mais tarde no evento — Luanne disse e saiu; já eu fiquei
pensando em como me aproximar de Anne Stanford.
∞∞∞
— Tudo bem! Eu vou fazer umas fotos do local até você conseguir
chegar. Não demora!
— Não depende de mim! — falei enquanto olhava pela janela a fila
de carros parados no sinal e respirei fundo, sabendo que os dez minutos só
aumentariam com o tráfego parado.
— Eu pensei que fosse ter que deixar de escrever para o meu blog e
te substituir no artigo da revista — Luanne disse, referindo-se ao meu atraso.
— Amiga, eu posso estar atrasada, mas não perderia por nada esse
evento!
— Sei bem por que você está tão animada, Raissa, mas não se
esqueça de escrever sobre o desfile porque a revista te enviou para isso —
ela falou, chamando minha atenção. — Você pode sonhar com um artigo
bombástico, mas não esqueça o que paga as suas contas, “Senhorita eu quero
morar sozinha”!
— Sim!
— Não existe outro lado da máfia! Seja a máfia dos homens, seja a
das mulheres, tudo vai ser sempre sobre tiros, explosões, extorsões e
alianças. A vida das mulheres da máfia pode mudar em relação à violência
doméstica, mas nem por isso a máfia vai deixar de ser a máfia. Se você quer
escrever sobre essa sociedade, não faça isso deixando parecer que ela é
glamourosa, como nos filmes e nos romances. Também não queira nunca
conhecer toda a verdade ou saber como ela pode ser sombria,
independentemente da Máfia das Mulheres, que, segundo falam por aí
começou com a minha mãe, Sarah Cooper. Se você quer escrever sobre a
máfia, fale dela como ela realmente é: sombria, criminosa, cruel e letal.
Anne disse que, se eu fosse falar sobre a máfia, não deveria ser com
glamour, deixando claro que violência doméstica não era tudo que a mulher
sofria na máfia, assim como a Máfia das Mulheres não era apenas sobre
como defender as mulheres.
À noite, meu sono foi agitado, e sonhei que estava ao lado de Sarah
Cooper atirando em alguns homens. Porém, no lugar de acordar assustada,
eu me dei conta de que parecia tudo normal para mim.
Cheguei à revista do mesmo modo como em todos os outros dias, com meu
artigo pronto e desanimada por ele não ser aquilo que eu realmente queria
escrever. Mesmo assim, eu me enchi de coragem e fui procurar minha
editora para expor novamente a ela as minhas ideias sobre um artigo com
mais conteúdo.
Exatamente sobre o que você quer escrever, Raissa? Você fala em máfia,
—
empoderamento, mas não fecha um artigo que realmente te leve a esse
prêmio que você tanto quer conquistar. Não adianta você falar sobre a Máfia
das Mulheres, porque isso será uma especulação, uma vez que você não vai
ter como provar nada. Então, por mais interessante que seja, continuará
sendo apenas uma história como outras tantas que temos por aí nos livros de
romance.
Claro que não! Você foi tentar entrevistar Anne Cooper Stanford,
—
querendo dela não algo para um artigo, mas a confissão de um crime! Sim,
porque confirmar a Máfia das Mulheres é assumir que sua família faz parte
de uma facção criminosa. Se você quer falar sobre um tema secreto,
perigoso, bombástico, tem que vivenciar isso, pesquisar, mergulhar de
cabeça.
Eu não acho que seja algo tão simples se tornar mafiosa em uma
—
sociedade fechada e secreta — minha chefe falou, rindo. — O que eu sugiro
é que você pense no que quer para a sua vida como jornalista e busque por
isso, senão vai passar a vida escrevendo artigos dos quais não gosta e
reclamando todos os dias.
Posso tirar uns dias para descansar e pensar nisso tudo, reciclar minhas
—
ideias e decidir o que eu quero fazer?
Você tem duas semanas para isso, Raissa. Aproveite esse tempo e busque
—
por algo que você realmente tenha vontade de escrever, porque aqui na
revista o espaço que temos para você é esse de moda e assuntos que sejam
de interesse das mulheres, como algo que possa ajudá-las a ganhar espaço no
mercado de trabalho, se protegerem de alguma coisa que seja perigosa, se
defenderem de assédio... E o resto é realmente moda e beleza, que toda
mulher gosta, você sabe, é o foco da nossa revista.
pós essa conversa, deixei a revista e fui caminhando para casa, decidida a
A
encontrar algo que eu pudesse escrever, ou então já poderia me considerar
desempregada. Na minha mente, as palavras “sombria e letal” iam e vinham,
e eu sentia que elas me seriam úteis de alguma forma.
omo meu aniversário de vinte e três anos seria em três dias, resolvi fazer
C
uma surpresa: visitar a minha família na Filadélfia e ficar hospedada na casa
dos meus avós. Lá eu teria tranquilidade para pensar em algo que se tornaria
o meu próximo artigo.
∞∞∞
De verdade, achei que você não atravessaria a cidade tão cedo para me
—
dar parabéns! Obrigada! — agradeci, abraçando a minha amiga.
Você não dá notícias, demora dois dias para responder às mensagens, não
—
atende ao celular, mas eu te amo, sua metida!
Nossa! Meus avós, meus pais, minha amiga... todo mundo reclamando
—
que eu não dou a mínima para ninguém! É que eu…
Está focada no seu trabalho. Todo mundo sabe disso! Só que hoje nós
—
vamos sair para comemorar o seu aniversário!
— Tudo bem! Vamos a esse clube, mas é bom que seja muito bem
frequentado e que eu arrume alguém para transar! — falei, brincando, e ela
balançou a cabeça concordando e sorrindo para mim.
— Dois para cada e três para você — uma delas falou, e olhei para as
malucas das minhas amigas e levantei o meu copo.
Dessa vez, quando tomei o meu último shot, elas começaram a cantar
parabéns de novo, e Luanne estava segurando um bolo de aniversário em
formato de pênis, com velas acesas.
Quando voltei para o bar, minha bebida esperava por mim, e amei o
que ele pediu: uma marguerita!
Amiga, para de beber, porque você está dançando que nem doida! —
—
Thalia falou, e comecei a rir, sentindo-me estranha, como se a voz dela
estivesse em outra frequência.
Johnny falou que seria bom eu comer alguma coisa e que podíamos
sair para procurar algo aberto. Nesse momento, não saberia dizer por que
simplesmente saí caminhando e puxando-o pelo braço. Eu me despedi
acenando para as minhas amigas que já estavam acompanhadas na pista de
dança, e fui embora com o meu date desconhecido.
u não sabia o que estava acontecendo, porque não era fraca para bebida,
E
mas estava me sentindo bem tonta. Falei para Johnny que eu queria ir
embora e que ia pedir um Uber, mas ele falou que me levaria e depois iria
para a casa dele porque tinha que dormir cedo.
Juro que eu sei beber e não dou vexame! Hoje é a primeira vez que fico
—
assim tão tonta com algumas doses de tequila.
— Pietro Cooper.
— Essa droga não é nossa, e garanto que vou descobrir quem está
fazendo isso no meu território.
— Seja rápido, porque não sei por quanto tempo vou conseguir
controlar a mídia. Sua mãe nunca deu espaço para ninguém no nosso estado,
nem em qualquer cidade do país, e espero poder contar com você.
— Passou mesmo pela sua cabeça que um merda como você pudesse
acabar com o subchefe da Máfia Americana? Levem-no! — ordenei, e os
meus homens o arrastaram até a rua principal; não demorou para que o meu
carro chegasse com um dos meus seguranças na direção.
Depois de ouvir isso, joguei um balde com água fria na cara dele,
levantei a cadeira num único golpe e o sufoquei com um saco plástico. O
infeliz era um peixe pequeno, mas eu precisava saber quem estava por trás
daquela droga.
— Se isso é tudo que você sabe, então não tenho por que te manter
vivo!
Maldito! Cego de ódio, chutei o seu corpo por ele ousar achar que a
minha mãe era mais forte do que eu, sendo ela uma mulher.
— Não, pai, ele só me insultou insinuando que eu era mais fraco que
a minha mãe. O sujeito não me comparou a você, mas a uma mulher para me
humilhar.
— Diz que o meu filho é um babaca e que não aprendeu nada do que
eu ensinei.
Eu não era como Dante e Aleksey, que aceitaram a Lei Sarah Cooper
porque pensaram com os seus paus e quiseram agradar suas esposas. Eu
sempre pensaria usando o meu cérebro.
máfia formada por gangues de Los Angeles, estava sendo patrocinada por
A
um CEO que cedeu uma boate no subsolo de um cassino em Vegas para ser
usada como local de prostituição; em troca, a Salvatrucha distribuía a droga
criada por esse infeliz, que era do ramo farmacêutico.
u voltei para Los Angeles, com data e hora marcada para invadir a boate de
E
Las Vegas.
Você vai invadir sozinho, Pietro? — minha mãe perguntou assim que
—
passei para ela e para o meu pai, durante o jantar, o resultado das
investigações.
Não, tia Sarah, com a Cosa Nostra e a Bratva — Enzo falou ao entrar na
—
sala, acompanhado de Luna e Alya.
Eu não sabia que você vinha, pirralha! Na verdade, não sabia quem
—
vinham duas pirralhas.
E você achou que eu e Alya deixaríamos passar esse momento de destruir
—
uma boate onde, com certeza, muitas mulheres devem ser obrigadas a se
prostituir e de sentir o gosto de ver a dor dos tarados tendo os seus paus
cortados fora?
Não se estresse, Cooper! Você sabe que elas são as futuras Chefes —
—
Enzo falou, dando um tapa nas minhas costas. — É a Lei Sarah Cooper, meu
amigo!
nfim, nós nos reunimos para discutir a operação, e foi inevitável conter as
E
muitas farpas que eu e Luna soltamos um no outro durante a conversa.
Vocês dois vão acabar se casando! — Alya disse, e Enzo deu uma
—
gargalhada.
ue ódio! Uma mulher não pode dançar, beber e se divertir, sem que os
Q
homens pensem que ela está fazendo isso para chamar a atenção deles?
Foi com esse pensamento que abri os meus olhos e tentei entender o
que estava acontecendo. Eu não conhecia aquele quarto e nem a mulher que
estava sentada na cama segurando a minha mão.
Graças a Deus você acordou! Eu achei que você dormiria para sempre!
—
Ele deve ter feito você ingerir várias doses do calmante. Acho melhor você
se sentar devagar, porque ainda deve estar um pouco tonta.
Eu precisei tirar as suas roupas e entregar para eles. Tudo que você vai
—
vestir está nessa sacola que deixaram aqui no quarto. Eu sinto muito por…
Ah… foi assim que ele te trouxe para cá? Comigo foi diferente. Eu ainda
—
era adolescente, tinha quinze anos, estava voltando da escola quando um
carro preto começou a me seguir. Apertei o passo, tentei correr, mas eles
estavam armados quando me pegaram na calçada e depois disso… — ela
respirou fundo, e lágrimas escorreram pelos seus olhos enquanto falava —
eu vim servir aos seus clientes. Já estou há seis anos nesse inferno, indo de
uma boate para outra sempre que eles acham que não sou mais interessante e
que o lucro comigo diminui. É assim com todas as moças que estão aqui.
Nossa vida acaba no dia em que somos escolhidas por esses monstros.
Escolhidas? — perguntei assustada, com um lado meu querendo tapar os
—
ouvidos para não escutar mais nada e o outro com a curiosidade aguçada de
uma jornalista. — Você foi sequestrada e trazida para cá? Quem te
sequestrou? Isso é um pesadelo!
u sabia muito bem o que era a Máfia Salvatrucha, formada pelas gangues
E
latinas das ruas de Los Angeles, inimiga da Cosa Nostra e da Bratva, e que
sempre tentava ganhar espaço no território americano, que pertencia à Máfia
Cooper.
ebecca me olhou com pena, percebendo que eu estava confusa, como ela
R
um dia deve ter se sentido também. Mas a jovem não teve tempo de me falar
nada porque um homem asqueroso abriu a porta e começou a gritar com ela,
que levantou apressada e foi se arrumar em frente a um espelho enorme que
tinha no quarto.
enti meu estômago embrulhar quando escutei a forma como ele falou com
S
Rebecca, e não demorou para ele notar a minha presença.
E você, sua vadia, por que ainda não tomou banho e se arrumou? Vista as
—
roupas que estão na sacola e trate de aproveitar seu dia de folga, porque
amanhã você vai para o salão!
homem então saiu batendo a porta, e eu me levantei com tanta pressa que
O
acabei vomitando.
Minha nossa! Se eles virem isso vão te bater! Eu vou limpar tudo! Não
—
tenho tempo de explicar nada, mas acho que você já entendeu que foi
sequestrada e está numa boate de prostituição da máfia.
o saber disso, senti um arrepio e uma vontade imensa de chorar, mas não
A
podia fazer isso e precisaria ser forte para sair desse lugar.
Até um dia atrás, ou sei lá quantos dias, pois estava sem noção de
tempo, sonhava em escrever uma matéria sobre a máfia. Inclusive, acho que
meu pedido quando soprei as velas foi atendido, não exatamente como eu
imaginei que seria, já que fui sequestrada e colocada dentro de uma das suas
boates de prostituição.
Era estranho estar ali, mas, apesar de não ser minha culpa ter parado
naquele lugar foi inevitável pensar na roupa que eu estava usando e no bolo
em formato de pênis. Eu estava me sentindo suja e envergonhada com
aqueles minúsculos pedaços de pano cobrindo o meu corpo, e com raiva por
ter sido tão descuidada a ponto de cair num golpe antigo e conhecido... o
famoso “Boa Noite Cinderela!”
Aqui, neste lugar, puta só abre a boca para gemer alto! Eu só não vou te
—
foder agora porque você vai ser presente pro cliente com quem o chefe quer
fechar negócio amanhã à noite, e você não vai poder ter nenhuma marca de
outro macho nesse seu corpo para valer mais dinheiro! — ele falou e
segurou meu rosto com força. — Johnny disse e apertou a minha entrada
com a sua mão, deixando-me cheia de nojo.
u me levantei assim que ele saiu e me deitei novamente. Apesar da dor que
E
eu estava sentindo no meu rosto e da minha dignidade ferida, eu não me
curvaria a esse Johnny, e, a nenhum mafioso ou seus clientes.
Eu não sabia dizer quantas horas tinham se passado desde que aquele
homem nojento e asqueroso do Johnny tinha ido embora depois de me dizer
tanta imundície. Então, meu pensamento foi cortado quando Rebecca entrou
no quarto praticamente se arrastando e foi direto para o banheiro sem olhar
para mim.
la estava destruída física e emocionalmente, e isso era visível pelo seu jeito
E
de caminhar devagar e de cabeça baixa. Eu queria ir atrás dela, mas
continuei sentada na minha cama, observando-a e compreendendo que
aquele momento era só dela.
Vegas? Estamos em Las Vegas? Minha nossa! Isso fica a umas nove
—
horas de carro de San Francisco, onde eu moro! Viajei esse tempo todo e não
me dei conta!
Quem te trouxe foi o Johnny, um dos piores soldados que tem aqui na
—
boate. Sempre sai para trazer “carne fresca”, como eles chamam as novatas.
Algumas ele pega à força na rua, outras ele usa o fato de ser muito bonito
para seduzir e trazer para cá. Com certeza, ele colocou algo na sua bebida
que te fez apagar.
Eu tenho uma vaga lembrança ainda confusa de tudo que aconteceu, mas
—
lembro que o deixei escolher uma bebida para mim na boate e que depois ele
me deu um comprimido para dor de cabeça ou enjoo.
Ele deveria estar com outro carro e depois te colocou na van; assim,
—
transitou normalmente com você desmaiada na parte de trás.
quilo tudo era um absurdo, e eu não conseguia acreditar que estava
A
acontecendo comigo.
Você, pelo que escutei enquanto servia ao Chefe, vai ser oferecida a um
—
cliente que vem fechar um negócio amanhã. O “Velho”, como eles falaram
enquanto se divertiam comigo, é exigente e gosta de novidades. Foi por isso
que não te jogaram esta noite no salão. Estão te guardando para ele!
eu estômago doeu quando a escutei falar isso sobre eu ser usada como um
M
objeto com tanta naturalidade. Honestamente, não conseguia imaginar o que
ela tinha passado nesses anos como escrava para ficar assim, fria nas
palavras e frágil depois de ser usada por eles.
— Se você não vestir isso, eles vão te jogar no salão à força e nua!
Os clientes vão amar, e o Chefe ainda vai cobrar mais caro informando que
você precisa ser domada.
Cala a boca e arruma essa vadia para o trabalho! E fique feliz por ser a
—
cadelinha do Chefe, senão eram os seus dedos que seriam cortados fora por
não ter ensinado nada para a sua companheira de quarto! Você teve o dia
todo e fez o quê? Dormiu?
ebecca tremia e olhava para a outra moça. Já o infeliz ficava falando com
R
detalhes sobre o espetáculo proporcionado pelo seu Chefe a todos enquanto
a abusava na noite anterior. Eu conseguia sentir a sua vergonha e, por isso,
fechei os olhos e deixei que ela fizesse a maquiagem como o cretino havia
ordenado.
— Vem comigo! — Johnny falou, soltando a ruiva e me arrastando
com força para fora do quarto. Enquanto eu era arrastada fazia uma nota na
minha mente de tudo que eu via pelo caminho, e jurava ao mesmo tempo
para mim mesma que um dia me vingaria.
Capítulo 07
Raissa
Quando cheguei ao salão, levei um susto. O lugar era enorme, escuro, com
luzes piscando. Parecia uma casa noturna normal, até que olhei para uma das
mesas e vi uma mulher sendo usada por vários homens. Do outro lado,
algumas mulheres andavam de quatro, usando coleiras. Então, em segundos,
a ficha caiu: era uma boate de prostituição BDSM.
Johnny então me entregou para esse homem, que parecia ser duas
vezes mais forte do que ele, e se retirou do salão.
— Estou vendo que ela não foi mesmo treinada, que é arisca, e vou
ter muito prazer em domar essa fera. Não demora, ela vai estar cavalgando
no meu pau e me pedindo para eu mamar nesses peitinhos!
— Não pense que você vai me escapar, belezinha! Vou dar um jeito
de sair daqui, e você vem comigo!
Queria me soltar dos seus braços, mas, como o velho era mais forte
do que eu, ele me segurou com força pela cintura, fazendo com que meu
corpo colasse no seu, deixando-me com nojo e desejando que uma daquelas
balas perdidas me atingissem e acabassem de vez com aquilo tudo.
Foi então que me lembrei das meninas escravas, de tudo que elas
sofreram por anos, lembrei por que não entregaria os pontos, e tentei lutar
com o Senador que infelizmente estava ganhando a batalha. Foi impossível
não lembrar das minhas amigas dizendo que era importante aprender defesa
pessoal, enquanto eu dizia que não tinha tempo para isso, porque precisava
escrever os meus artigos.
— Que porra está acontecendo aqui? Não tem como sair desse
inferno?
— Claro que tem! Eles vão matar os grandes e desaparecer. Deve ser
um acerto de contas. Só se esconda, espere ele acabarem e pronto.
— Não vou perder meu dinheiro e vou te foder aqui mesmo, sua
vadiazinha!
Por fim, todos saíram, e o homem que estava comigo, cujo nome era
Enzo, continuou mais um pouco no local dando as últimas ordens.
Ele disse friamente que não limpassem nada, porque era um recado
para que a Salvatrucha entendesse que não poderia ter negócios em nenhuma
parte de Vegas que era domínio da Máfia Cooper, ou seja, território da Cosa
Nostra e da Bratva.
Tinha que focar na minha chance de escrever uma história real que
vivi na máfia se eu conseguisse sobreviver ao jugo do mafioso. Se é que
tinha algum jugo, eu pensei rindo e um sorriso bobo se formou no meu rosto.
Só eu mesma para no lugar de querer sair correndo estou aqui fantasiando
um hot dos meus romances como Enzo Cosa Nostra.
— Que amigas? Por acaso, você acha que eu trabalhava nesse lugar?
Na verdade, nenhuma delas trabalhava nessa boate, eram todas traficadas, e
eu só vim parar aqui porque um infeliz que conheci em um clube no meu
aniversário me dopou...
— Você não é…
— Não! Eu não sou uma prostituta, e tudo que preciso é que você me
leve para casa.
Por fim, ele avisou ao seu motorista que iria dirigir e mandou que os
seguranças o seguissem.
— Em San Francisco.
— Você é maluca? San Francisco? Você sabia que são quase nove
horas de carro até a sua casa?
— Sim, minha mãe sempre disse que eu tinha que desacelerar, mas
não consigo! Quando começo a falar, não consigo mais parar!
Eu realmente não sabia a quem puxei para ser tão fria e ousada, sem
medo de nada. Não me importei com os corpos no chão da boate, até porque,
para mim, aqueles homens podres que se faziam valer da força com aquelas
mulheres treinadas para lhes servir como submissas, mereciam mesmo um
fim sangrento.
nzo então parou em frente a uma loja que vendia roupas para turistas e
E
disse que àquela hora da noite era tudo que conseguiria comprar para eu
vestir.
Eu preciso que você venha comigo para pagar as minhas compras, porque
—
estou sem documento, cartões e celular.
Você sabe que não é nada minha para eu ter que ficar bancando a sua
—
babá?
Juro que a última coisa que eu imaginaria olhando para você é uma babá
—
— respondi e dei uma gargalhada, entrando na loja em seguida.
nzo parecia estar se divertindo com a minha cara quando fui escolher umas
E
calcinhas e só tinha com estampas e frases: “O que acontece em Vegas fica
em Vegas”.
ingi que não me importei, comprei aquela calcinha ridícula, uma calça de
F
moletom e uma camisa com os dizeres: “Eu amo Vegas”.
essa hora, criei mil fantasias para as nossas oito horas de viagem, mas a
N
verdade era que o cansaço de todos aqueles dias acabou me fazendo dormir.
Logo, acordei horas depois, quando Enzo perguntou se eu queria comer
alguma coisa.
Você é doida! — Enzo falou e começou a rir. — Mas o que te deixa tão
—
confiante que eu te protegeria se estivesse sendo atacado?
Enzo então saiu do carro e caminhou ao meu lado, e eu senti falta dos
seus braços protetores envolvendo a minha cintura, como no cassino.
— Você sabe que não tenho dinheiro para pagar nada que eu pedi,
sendo assim, espero que eu seja sua convidada, ou vou ter que ficar aqui
lavando pratos para pagar a minha dívida.
Meus avós maternos são russos e se mudaram para cá ainda muito jovens,
—
quando a minha avó estava grávida, e a minha mãe nasceu aqui na América.
Você está me interrogando para saber se sou alguma espiã russa?
Confesso que, enquanto deixava a boate pensei o mesmo sobre você, mas
—
achei que estava em choque por tudo que aconteceu, só que vejo que me
enganei. Você passou pelos corpos sangrentos, como você descreveu, com a
mesma altivez de Luna e Alya. Quem é você, Bella Mia?
No momento, você está mais parecendo uma mulher esfomeada. Por Dio!
—
Você já comeu umas dez panquecas!
Que deselegante, Enzo Cosa Nostra! Você não sabe que é feio contar
—
quantas panquecas uma mulher come durante o café da manhã? — indaguei,
enfiando um muffin na boca e fazendo Enzo rir.
— Pertencia?
Sim, enquanto invadiam a boate, que não tinha permissão para funcionar
—
em nosso território, a casa do CEO explodiu. Coitado! Problemas no
encanamento do gás.
Enzo, quando você disse que eles invadiram o seu território, isso significa
—
que vocês também atuam no tráfico humano de mulheres?
Não, Bella Mia, a Cosa Nostra e a Bratva não fazem esse tipo de negócio
—
e nem os nossos aliados. No passado, sim, na época do meu avó, mas o meu
pai e os meus tios eram contra o tráfico, e todas as mulheres das nossas
boates quando eles assumiram eram prostitutas que queriam ganhar a vida, e
outras…
— E outras?
Outras porque eram jogadas lá pelas suas famílias. A Lei da Máfia não
—
tinha espaço nenhum para as mulheres, e elas eram posse dos seus pais e,
depois dos seus maridos. Hoje não aceitamos mais essa agressão das
mulheres sendo descartadas nos bordéis da Famiglia. Isso acabou com uma
nova lei que foi implantada nas máfias Cosa Nostra e Bratva e nas suas
aliadas, mas que não mudou nas outras que são nossas rivais.
pós ouvir isso, Enzo abaixou a arma e segurou firmemente meu rosto
A
calando-me com um beijo. Sua boca parecia devorar a minha, e eu
correspondi, sentindo que todo o meu corpo parecia estar em ebulição. O seu
gosto era delicioso, e eu acompanhei o movimento dos seus lábios com
sofreguidão. Depois ele afastou um pouco a sua boca, e senti os meus lábios
inchados, arrepiando-me assim que percebi o seu olhar brilhando de tesão.
— Por que você me beijou?
Eu não devo! — Enzo respondeu, fazendo sinal para que os seus homens
—
voltassem para os seus carros e retornando para a estrada. — Eu vou te
deixar em casa e voltar para a Cosa Nostra.
Porque você tem a sua vida em San Francisco, e eu, a minha na Cosa
—
Nostra. Vou te deixar em casa, e nunca mais vamos nos ver.
Eu não cito a Cosa Nostra no meu artigo, e você me conta mais sobre a
—
Máfia Salvatrucha para a minha matéria sobre o tráfico de mulheres.
Bela tentativa, mas isso não é aliança, uma vez que só você sai ganhando
—
se eu te contar sobre a Salvatrucha. Eu vou te dar um conselho: não cite o
nome dessa máfia no seu artigo, porque eles virão atrás de você, e eu posso
não estar perto novamente para te proteger. Se quiser escrever sobre o tráfico
de mulheres e a sua experiência nessa semana em que ficou sequestrada e
que poderia ter acabado da pior maneira, escreva, mas não cite o nome da
máfia responsável por isso!
m seguida, Enzo ligou o som do seu carro bem alto e começou a cantar,
E
“Enemie” do Imagine Dragons, ignorando a minha presença. Ele se
preocupou comigo e pareceu que isso o deixou constrangido, como se ele
não quisesse demonstrar que tinha sentimentos, e eu respeitei o seu silêncio.
O bairro é simples, mas o meu apartamento é bem legal! Você não quer
—
subir para conhecer? Não deve ter nada para comer, mas a gente pode pedir
uma pizza, e eu pago, porque em casa eu tenho dinheiro! Pede para os seus
homens irem na frente e verem que está tudo limpo. Não vou te fazer
nenhum mal! Prometo!
E quem disse que eu estou com medo de você, Senhorita Raissa? Vem
—
que eu vou te acompanhar até a sua casa e te deixar em segurança. A pizza
fica para outro dia, porque realmente preciso resolver alguns assuntos em
Los Angeles, antes de retornar para a Cosa Nostra.
Até as minhas amigas eu não via com tanta frequência desde que
havia me mudado. Com isso, percebi que ninguém sentiu a minha falta,
dando-me como desaparecida; e um dia quando notassem, já seria tarde
demais.
Vem, Raissa! Eu sabia que uma hora você se daria conta de tudo que
—
passou. Você precisa tomar um banho e descansar!
Após sugerir isso, Enzo foi até a cozinha pegar água para mim. Nesse
instante, abri a gaveta da mesinha de cabeceira e peguei um comprimido
antiestresse que eu costumava tomar quando estava muito agitada e não
conseguia me concentrar para escrever calmamente.
Eu não poderia perder tempo, nem ficar sentada no meu quarto pensando no
que aconteceu, porque tudo muda muito rápido e uma notícia pode se tornar
ultrapassada um segundo depois de acontecer.
Outra coisa que decidi depois de refletir muito foi não dar queixa
sobre o fato na polícia e colocar no artigo que não me senti segura, uma vez
que o cliente que pagou para me violentar era um político. Eu sabia que
gente grande estava por trás das máfias, mas nada disso me intimidaria, e eu
contaria tudo.
odos salvaram o número novo sem fazer perguntas, e, minha mãe e minha
T
avó me desejaram tudo de melhor nessa nova fase da minha vida. Por um
lado, eu me senti mal por não contar a verdade para elas, mas, por outro, não
poderia perder tempo relatando tudo e ainda deixando as duas preocupadas:
primeiro, pelo sequestro, segundo, porque denunciaria a máfia à imprensa.
aissa: Isso o tempo vai mostrar. Eu estou indo passar uns dias com a minha
R
família na Filadélfia, e conversamos melhor quando eu voltar.
ssim que entrei em casa, arrumei todas as compras, tomei banho, coloquei
A
uma roupa confortável e abri o meu computador. Fiquei tamborilando os
meus dedos no teclado e olhando para o meu celular. Sabia que faltava fazer
uma coisa e não aguentei a ansiedade.
Raissa: Bom saber que você só salvou a minha vida, e que eu tenho
um herói exclusivo!
Enzo: Vejo que tomou juízo e voltou para a revista. Vai escrever
sobre relacionamentos a distância?
Gostaria de saber por que nós seres humanos somos tão complexos.
E foi com essa chamada que comecei a escrever cada linha, contando
os meus sonhos interrompidos temporariamente pela maldita Salvatrucha no
dia em que eu comemorava o meu aniversário em uma boate.
Eu sabia que não deveria usar dois pesos e duas medidas, nem citar a
Cosa Nostra e entregar os nomes daqueles que me salvaram, tampouco
arriscar a única chance que todas essas escravas teriam de ser salvas pela
Máfia das Mulheres, a qual compreendi que não era ficção, e que existia sim,
fazendo a diferença na vida das mulheres que pertenciam a facção.
Quem sabe assim, no futuro, essa situação imoral que era o tráfico de
mulheres, acabasse.
Por sorte, o editor se lembrou do convite que me fez uma vez para
escrever artigos como freelancer para o jornal e aceitou me receber quando
eu disse que era urgente e tinha uma matéria bombástica para lhe mostrar.
Em minha presença, ele leu várias vezes tudo que eu escrevi, sempre
colocando as mãos na cabeça, respirando fundo e parando para beber água.
Eu estava ansiosa querendo saber o que ele tinha achado, mas não poderia
interromper os seus pensamentos.
Eu sei, mas não é maior que a dor e o pânico que senti ao ser presa
—
naquele inferno, ou o tormento das mulheres que estavam lá há anos e de
tantas outras espalhadas pelo mundo.
— Tenho!
Saí do jornal e fui direto para casa. No caminho, não queria pensar em nada
que me levasse a temer pelo que fiz. Queria publicar a matéria sobre a máfia,
e isso já estava feito. Dessa vez, precisaria ser forte para enfrentar a minha
família que não sabia de nada. Então resolvi ligar para os meus pais que
atenderam rapidamente à minha chamada de vídeo.
— Oi, mãe! Eu pretendia passar uns dias com vocês depois do meu
aniversário, mas aconteceram tantas coisas.
— Não foi por isso dessa vez! Eu preciso ter uma conversa muito
séria com vocês, mas, antes de tudo, olhem bem para mim e vejam que estou
muito bem!
Assim que comecei a falar da noite na boate, percebi que minha mãe
ficou agitada, mas nem de longe ela imaginava tudo que viria pela frente.
— Raissa, você tinha que ter nos avisado! Minha filha, você precisa
voltar para casa, ficar perto da gente, deixar essa cidade!
— Raissa, volta para casa, minha filha! Você não conhece essa gente!
Vem para casa, por favor!
— Não fica assim! Eu sei o que estou fazendo e não posso viajar
agora, porque amanhã minha matéria sobre tudo que aconteceu vai sair na
primeira página do jornal aqui de San Francisco e ganhar o mundo.
Denunciei esse esquema, contei tudo que passei. Por esse motivo, liguei para
contar isso para vocês. Sei que deveria ir pessoalmente, mas foi tudo muito
rápido, e, eu não queria que vocês soubessem pelos jornais. Vocês precisam
contar para os meus avós, porque, mãe, você sabe que a avó é atenta a todas
as notícias da internet.
— A quem essa menina puxou para ser desse jeito? — meu pai
indagou. — Você faz as coisas sem pensar e parece que não tem medo das
consequências! Sempre foi assim!
Meus pais sempre me confrontaram dizendo que eu não tinha medo
de nada e que sempre queria resolver tudo da minha maneira.
∞∞∞
Quase morri de emoção, uma vez que o meu talento havia sido
reconhecido. A matéria estava toda ali, exatamente como eu escrevi, e o
editor do jornal enviou umas dez mensagens me parabenizando, avisando
que a edição impressa tinha esgotado e que o servidor do site estava quase
caindo de tantos acessos na plataforma.
Talvez eu tivesse sido egoísta, mas batalhei muito por esse dia, que
finalmente chegou. Então abracei o jornal como se fosse o meu filho e
depois o coloquei próximo do meu rosto, para vê-lo bem de perto. Na
verdade, foi impossível ler com as letras se embaralhando, e isso me fez rir.
Nesse momento, meu celular tocou; dessa vez, era a minha avó, e eu atendi.
— Minha Raissa, sua mãe nos contou tudo ontem à noite, e eu e seu
avô nem dormimos. Eu tinha esperança de que nada disso fosse verdade. Por
que você não veio ficar conosco depois desse pesadelo? Por favor, não se
envolva com a máfia! Você não tem ideia de como eles são perigosos! Essa
matéria assinada por você, filha... Vem embora! Por favor!
Estou bem, minha avó! Fique calma, por favor! Prometo que vou visitar
—
vocês, mas primeiro tenho que resolver tudo aqui, como esclarecer esses
fatos com a polícia. Eles vão querer que eu conte o que aconteceu, depois do
que eu escrevi no jornal. Depois disso, prometo que vou até a Filadélfia para
a senhora ver que estou bem!
Polícia? Essa gente vai nos investigar, vão querer saber tudo sobre a
—
nossa família... Por que você fez isso, Raissa?
Não fiz nada! Qual o problema de vocês? Eu não sou a errada, sou a
—
vítima. Por que, do nada, a minha família decidiu que não posso falar da
maldita máfia?
Sei que você foi vítima, Raissa, mas deveria ter nos contado tudo antes e
—
ficar longe dessa gente.
inha avó encerrou a ligação, e eu fiquei preocupada, porque ela era uma
M
pessoa reservada, que costumava sorrir com as minhas brincadeiras, mas,
sempre que podia, ela se recolhia para um mundinho que parecia só seu
quando se sentava na sua cadeira de balanço perto da lareira. Eu perguntava
se ela estava se lembrando da Rússia, e ela sempre respondia que não tinha
lembranças de lá.
Sua distração era seu blog de culinária, que, com muita dificuldade,
eu a incentivei a transformar em um canal do YouTube. Nos vídeos, ela
estava sempre sorrindo, mas, no dia a dia, era completamente diferente.
essa hora, meu celular vibrou, e eram mensagens do meu editor, falando
N
que estávamos em primeiro lugar entre os jornais de notícia e avisando que,
no dia seguinte, teria uma festa e que o diretor do jornal tinha me incluído na
lista dos homenageados.
epois meu celular vibrou novamente, e eu corri para ver se era outra
D
mensagem do meu editor, mas era do advogado que o jornal tinha contratado
para me acompanhar na delegacia.
Não havia pensado muito nisso e não queria que ele ficasse
investigando nada e chegassem a Enzo, mas o advogado me disse que eu só
precisava confirmar o que escrevi no jornal e não era obrigada a revelar
quem me tirou de lá naquela noite.
— Não!
Eu não admito nada, nem vim dar queixa do que me aconteceu, porque,
—
como escrevi, não senti e não sinto segurança na polícia! Não quero ofendê-
lo, mas passei por momentos desagradáveis e estou aqui há quase uma hora,
e o senhor não me perguntou pelo Senador infeliz que queria pagar por mim
na boate!
Nesse meio, tudo era possível, e eu queria apenas voltar para casa e
ir, no dia seguinte, à festa onde eu receberia uma homenagem e analisaria
uma proposta de trabalho que o editor do jornal disse que teria para mim.
ntrei em casa exausta e liguei para os meus pais, que estavam irredutíveis
E
quanto à minha ida para a Filadélfia.
Se isso vai deixar vocês mais tranquilos, amanhã eu tenho uma festa do
—
jornal e, depois de amanhã, vou passar uma semana com vocês. Assim vocês
vão ver que estou bem e que sou dura na queda!
esde que o meu sequestro aconteceu, eu ainda não tinha parado para
D
descansar, respirar ou pensar direito em tudo. Só depois que eu me deitei,
coloquei a cabeça no travesseiro e relembrei cada segundo desde o meu
aniversário até esse momento, foi que me dei conta de que havia feito tudo
na base da emoção, sem pensar se haveria consequências.
nzo: Você não fez o que eu te pedi! Você escreveu uma matéria e citou o
E
nome da máfia.
aissa: Eu pensei que você estivesse me escrevendo para me dar parabéns
R
por ter a minha matéria na primeira página do jornal.
nzo: Você é muito teimosa! Estou indo para San Francisco. Não saia de
E
casa até eu chegar.
Capítulo 11
Enzo Cosa Nostra
— Por acaso, vocês não sabem que, na máfia, ninguém deve pegar
aquilo que pertence ao outro? Vocês achavam que ao serem pegos ajudando
a Salvatrucha a espalhar droga no território americano, isso passaria
despercebido? Quatro soldados da Cosa Nostra, oito da Bratva e dez da
Máfia Cooper! Vinte e dois soldados aliados, burros e iludidos que achavam
que estavam fundando uma nova sociedade contra os seus Chefes. — Luna
continuou falando com seu tom de voz suave e, ao mesmo tempo, maligno.
— Acharam que não seriam trazidos para a Sicília para serem julgados e que
ficariam em Vegas como se nada tivesse acontecido? Que não
descobriríamos o nome de um por um de vocês?
Luna seguia à risca a Lei Sarah Cooper e, para ela, qualquer homem
que violasse uma mulher tinha a sua sentença de morte decretada.
Meu tio Dante havia tirado o poder que os homens tinham como
donos das suas esposas e ordenou que fosse dado um corretivo inesquecível
em quem não cumprisse a lei.
Porém, com Luna, não existia segunda chance; ela era inflexível e
implacável quanto aos direitos das mulheres.
— Vocês nunca mais vão roubar o que não lhes pertence, nem usar os
seus paus em mulheres indefesas! Seus porcos nojentos! — Luna falou,
cuspindo nos soldados, e foi se sentar para esperar que a sentença deles fosse
cumprida.
Eu não deveria ter falado sobre ela com você, porque agora nessa sua
—
cabecinha já estão se criando várias fantasias.
Eu sei disso! Quando Anne se casou com Noah quase houve uma guerra,
—
mas a verdade é que por ser no fundo uma filha bastarda da máfia não deram
tanta importância. Mesmo assim, para evitar que isso virasse exemplo,
nossos pais e tio Giancarlo decidiram que os costumes agora seriam
cobrados com a expulsão da Instituição, que significa ficar vulnerável aos
seus ex-aliados e inimigos.
u sabia que toda essa conversa no carro era porque meu pai e meu tio
E
Dante estavam querendo que eu me casasse. Já tinha noção de que estavam
buscando uma noiva que interessasse à Cosa Nostra. Antes, não me
importava com isso; primeiro porque achava que esse dia demoraria a
chegar; segundo porque sabia que funcionava assim e nunca tive motivos
para contestar uma ordem do meu pai e do meu tio, que era o meu Chefe.
Não se preocupe. Raissa foi só uma carona. Eu vou cumprir o destino que
—
meu pai escolher para mim.
una então deitou a cabeça no meu ombro e respirou fundo, enquanto olhava
L
a névoa que cobria a estrada que ligava a casa de tortura à Cosa Nostra.
Eu não quero te ver sofrer e juro meu primo, que por você eu declaro
—
guerra a todos e mudo essa porra de lei.
una era impulsiva como a mãe, mas, no fundo, ela sabia que medir forças
L
com seu pai não era nada fácil. Em alguns anos, meu tio pretendia passar o
poder para ela, e eu previa que esse reinado de Luna à frente da Cosa Nostra
seria bem turbulento.
A repórter tagarela tinha um beijo tão bom que só de pensar meu pau
já dava sinais de vida. Por fim, deixei a água cair sobre o meu corpo e decidi
que não dormiria, e sim sairia com alguma das tantas mulheres que faziam
fila para estar na minha cama.
epois do banho, eu me arrumei e mandei uma mensagem para Matteo,
D
avisando que iria à boate e chamando-o para ir comigo. Em seguida, desci
para conversar com o meu pai e saber qual assunto tão sério e urgente ele
tinha para tratar comigo.
— Você não tem o que pensar! Está decidido, e pronto! — meu pai
falou e colocou sua taça de vinho na mesa, dando um beijo na minha mãe e
dizendo que estava esperando por ela no quarto.
— Nada mudou, minha mãe, só não queria saber que ficaria noivo na
véspera.
Nem você acredita nisso, minha mãe. E eu sei que você não aceita nada
—
disso, tanto que é uma das fundadoras da Lei Sarah Cooper.
u não discutiria com a minha mãe, porque, se tinha alguém que sempre
E
lutou a favor de mudanças na máfia, essa pessoa foi ela. Não poderia cobrar
nada dela, porque havia coisas que eu aceitava e que pareciam estar no meu
sangue, com as quais ela não concordava.
meu treinamento começou aos dezesseis anos e contra a sua vontade.
O
Cresci na máfia, então, tudo que acontecia na nossa sociedade era normal
para mim. Apesar de não ter sido torturado pelo meu pai desde criança, eu
sabia que o dia de me tornar seu sucessor chegaria. Nunca hesitei ou quis
algo diferente disso. Sempre desejei ser o seu substituto, comandar tudo ao
lado de Luna, Matteo e Antonella.
a primeira vez que torturei um homem ao lado do meu pai, levei muito
N
tempo no banho, esfregando cada parte do meu corpo onde o sangue dos
nossos inimigos tinha respingado.
Entrei na sala de reuniões da Cosa Nostra e encontrei meu pai e meus tios
reunidos. Os três olharam na minha direção, e era visível que estavam
irritados por conta de um ataque em nossos depósitos, e a suspeita era de que
a Israelli estivesse por trás disso.
Israelli vinha tentando nos intimidar e ganhar mais espaço na Europa. Eles
A
tinham mudado a liderança recentemente e isso sempre era motivo de
preocupação, já que, quando um novo chefe assumia queria mostrar serviço.
Você está atrasado, Enzo! — meu tio Dante falou com sua voz autoritária
—
de Chefe, deixando claro que, naquele momento, não estava em reunião com
o seu sobrinho.
Eu vou fingir que não percebi o seu sarcasmo e deixar passar, mas não
—
me importo com quantas horas você gasta trepando com as suas mulheres,
nem se você vai passar em casa ou vir direto para cá. Só não admito que
você chegue atrasado. Ficou claro isso para você ou não, meu querido
sobrinho?
Com guerra ou sem guerra, o que me interessa é não perder espaço, nem
—
para a Israelli, nem para outra máfia. Agora precisamos acertar o casamento
do Enzo e depois resolver outro assunto com Luna.
Eu não sei se gostaria de me casar tão cedo — Eu falei mesmo sem ser
—
questionado.
Nunca é tarde para lembrar que minha esposa, sua doce cunhada, foi
—
escolha sua, meu irmão — meu pai retrucou.
Daqui a cem anos, ainda estarei acusando De Lucca por ter começado
—
com essa revolução quando se casou com sua adorável Sarah Cooper.
Você vai se casar do mesmo jeito! Tem que ser uma filha da máfia. Isso
—
faz parte das nossas leis, e não vou abrir mão. Já cedemos em muita coisa,
mas permitir pessoas de fora nos deixa vulneráveis. Portanto, é primordial
que haja o casamento entre os que tenham o sangue da Instituição correndo
em suas veias.
∞∞∞
Tomei um banho gelado para tentar esfriar a minha cabeça e ainda
mais a minha alma, porque, pela primeira vez, estava fazendo algo
contrariado na Cosa Nostra.
epois vesti minha camisa social preta, coloquei o coldre com as minhas
D
armas, fechei o colete e o terno, respirei fundo e desci as escadas para
encontrar os meus pais, que estavam discutindo.
Eu não sinto que o meu filho está animado com essa história de você
—
escolher a sua esposa.
Pois eu acho que a máfia ficou muito melhor com a “nossa chegada” e
—
que a Lei Sarah Cooper só fez corrigir os erros que a Instituição cometia
com as mulheres.
Acontece que os associados temeram que com isso suas filhas ficassem
—
sem casamento, que todos se casassem com quem quisessem, que a
Instituição se perdesse, e, para manter o controle, tivemos que ser rígidos
com o casamento entre os filhos da máfia e isso não está aberto a discussões.
Não precisam discutir por isso. Estou pronto para me sacrificar em nome
—
da Cosa Nostra — falei assim que cheguei à sala e recebi o olhar frio do meu
pai.
inha mãe saiu caminhando na nossa frente, deixando claro que estava
M
contrariada com esse noivado arranjado. Ela tinha um gênio difícil e poderia
até se curvar às leis da máfia, mas nunca sem discutir ou enlouquecer o meu
pai.
or fim, seguimos em carros separados até a casa do nosso associado, onde
P
se realizaria o casamento. Fui em silêncio, pensando em como seria a minha
vida dali para frente. Nessa hora, meu celular vibrou, e era uma mensagem
de Luna.
Vocês vão ficar por quantos dias aqui na Sicília? — minha mãe
—
perguntou, tentando quebrar o gelo daquela situação embaraçosa.
Vamos ficar mais cinco dias, porque tenho algumas reuniões nesta
—
semana com alguns associados — Rurik respondeu. — Inclusive,
poderíamos aproveitar e marcar uma reunião. O que você me diz, Cosa
Nostra?
Você gostaria de dar uma volta pela festa? — perguntei a Natalya numa
—
tentativa de conhecê-la um pouco melhor.
— Que pena!
Nesse momento, percebi que ela ficou triste com a minha resposta,
enquanto eu me senti aliviado porque não queria tanta aproximação por
enquanto.
Ao ler isso, pedi licença para Natalya enquanto clicava no link que
Luna me enviou e lia a matéria que Raissa escreveu. Ela só poderia ser louca
para fazer uma coisa dessas e denunciar uma máfia no jornal como se não
fosse nada demais.
Voltei para casa e deixei uma mensagem avisando que estava indo
para os Estados Unidos e de lá seguiria para Dubai. Quando cheguei ao
aeroporto, o jatinho já estava pronto, e, assim que embarquei, meu celular
vibrou com uma mensagem do meu pai.
Ainda nem havia amanhecido quando dei um pulo da cama, animada com a
festa em que eu seria uma das homenageadas. Não poderia mentir: dormi
muito melhor depois que recebi as mensagens do meu mafioso preferido,
que, com certeza, eu não veria nunca mais na minha vida.
nquanto caminhava até a porta, fiquei pensando que era até bom ser
E
Luanne, porque era sinal de que minhas amigas não estavam magoadas
comigo achando que eu tinha ficado metida por estar na primeira página do
jornal, mesmo que isso quase tivesse custado a minha vida.
Como eu não era nenhuma idiota para não entender que estava sendo
ameaçada pela Salvatrucha, liguei imediatamente para o meu advogado, que
mandou que eu ficasse calma e não abrisse a porta para ninguém. Isso nem
seria preciso, já que eles enviaram flores, e se quisessem teriam vindo até a
minha casa, arrombariam tudo e me matariam. Mesmo assim, ele disse que
em meia hora estaria comigo para irmos juntos até a delegacia.
Malditos!
a delegacia, fui recebida por todos com uma expressão que parecia dizer
N
“quem procura acha”.
Eu poderia até ter sido suicida ao escrever a matéria, mas era melhor
do que me acovardar e não denunciar, mesmo que ninguém se importasse.
Eu nunca tinha escrito nada contra ninguém, a não ser que sites de
relacionamentos me odiassem por eu escrever matérias dizendo que eram a
maior furada.
u estava com raiva por me sentir impotente diante de uma Instituição que
E
nunca seria punida e pelo fato de o delegado ainda querer que eu
confirmasse que me salvei durante uma guerra entre máfias.
O que o delegado queria era jogar tudo que aconteceu naquela boate,
—
incluindo a morte dos figurões da alta sociedade, numa guerra entre máfias e
ainda me deixar contra a Cosa Nostra e a Bratva. Seria muita burrice minha
ajudar essa polícia, que não me estendeu a mão, para jogar a culpa em quem,
não me importam os motivos, acabou me salvando daquele lugar.
Sabia que, para muitos, o certo era ter deixado tudo para lá; afinal, eu
era uma mulher que morava sozinha em San Francisco, a qual, por não ter
mantido a boca fechada, poderia ter colocado a própria vida, a da família e a
dos amigos em risco.
Meu editor, assim que me viu, veio logo me abraçar com um sorriso
largo no rosto. Ele estava feliz com os números alcançados com a minha
matéria do dia anterior, os quais fizeram com que o seu jornal fosse líder nas
tiragens impressas e visualizações na internet, em todo os Estados Unidos.
Você nos mostrou um lado da máfia sombrio tão pouco falado pela
—
imprensa e pelas autoridades.
nfim, passei uma hora antes de o jantar ser servido escutando elogios ao
E
meu artigo e recebendo parabéns pela minha coragem, mas não ouvi nenhum
apoio pelo que passei ou comoção pelas mulheres traficadas.
Eu vou viajar por alguns dias e, em breve, estarei de volta para trabalhar.
—
Tenho muitas reportagens para escrever; afinal, só tenho vinte e três anos —
falei, e ele sorriu, sabendo que eu estava falando do bilhete que recebi com
uma ameaçava.
epois fui dar uma volta pelo salão e, quando vi uma varanda, resolvi ir até
D
lá para respirar um pouco de ar fresco. Então me encostei na sacada e fiquei
admirando a vista, enquanto a brisa gelada nas minhas costas nuas me
deixava arrepiada.
Johnny! — falei sem me virar e sabendo muito bem que ele tinha uma
—
arma nas minhas costas.
pós ver a cena, fiquei impressionada com a frieza com que ele matou o
A
homem e guardou a faca suja dentro do seu terno.
Não se preocupe, que você ainda vai se divertir muito comigo antes de
—
deixar este mundo.
Eu sou um mafioso sanguinário, mas parece que, com você, tenho sempre
—
que bancar o super-herói!
uando saí do banheiro enrolada em uma toalha, foi impossível não notar
Q
que Enzo respirou fundo ao me ver com os cabelos molhados, praticamente
nua, e, sentando ao seu lado na minha cama.
Enzo Cosa Nostra, quem você pensa que é para falar assim comigo? —
—
perguntei, colocando-me de pé na sua frente, e, quando ele tocou os meus
ombros de um jeito firme antes de começar a falar, senti um arrepio tomando
conta do meu corpo.
E o que você quer que eu faça? Que eu me esconda pelo resto da minha
—
vida?
Não, Bella Mia! Primeiro eu quero que você coloque uma roupa, depois
—
que você arrume as suas coisas e venha comigo para Dubai por alguns dias.
Dubai? Eu não posso ir com você para Dubai assim do nada. Prometi que
—
visitaria os meus pais hoje! Já falhei com eles quando escondi tudo que
aconteceu e só contei depois que vendi a reportagem para o jornal.
Eu ainda tenho dois dias até viajar para Dubai. Nós vamos até a
—
Filadélfia, você avisa que vamos viajar juntos, e, sem que eles saibam,
deixarei seguranças cuidando deles.
Você é teimosa, Raissa, mas acredite que ir comigo para Dubai e ficar um
—
tempo longe de tudo vai ser a melhor solução. Depois te devolvo para a sua
vida normal, com seguranças, é claro, porque não vou arriscar já que você é
descuidada e costuma aceitar bebidas de estranhos, além de escrever
matérias contra a máfia.
Dei de ombros, fingindo não me importar com o que ele falou, mas a
verdade era que até o seu tom de voz me deixava arrepiada.
Eu sei o que estou fazendo, Pietro! Quero que a Salvatrucha saiba que a
—
jornalista é minha protegida, e, que se fizerem algo contra ela, vai ser como
se fizessem a mim! Mande o recado! Temos um acordo?
Resolvi ir com você para Dubai! — foi tudo que eu falei, antes de colocar
—
o cinto de segurança e fechar os meus olhos.
Posso ir direto para a casa dos meus pais. Acho desnecessário ficar em
—
um hotel.
— Vou fingir que não escutei isso — Enzo falou rindo e eu fiz uma
careta para ele.
Vai pro inferno, seu sapo! Eu me derreto toda com a sua atitude, e, logo
—
depois vem a derrota. Eu não ronco e muito menos fico babando, Enzo Cosa
Nostra!
Pois saiba que me derreti apenas por alguns segundos antes de ficar
—
congelada. E trate de colocar uma camisa, porque você não precisa ficar
exibindo esse seu corpo gostoso para mim.
Bom saber que você me acha gostoso, além de se derreter todinha por
—
mim.
Eu já acordei, estou ótima, e você já pode se dirigir com o seu ego inflado
—
para a sua suíte.
E você vai me apresentar do nada, dizendo que sou seu amigo e vamos
—
para Dubai?
Sim, eles vão pensar que somos um casal, e, eu acho melhor, porque daí
—
não ficam questionando.
Meu mafioso preferido, aproveite que não é sempre que você vai poder
—
fingir que namora alguém tão gostosa assim como eu! — falei e saí de
debaixo das cobertas, só de lingerie, peguei algumas roupas na minha mala e
fui para o banheiro me arrumar, escutando a respiração ofegante de Enzo
quebrando o silêncio do quarto.
Como você é esperto, Senhor Cosa Nostra! Agora vai se arrumar para ser
—
o meu namorado mafioso de mentirinha.
Cuidado com essa sua mania de me dar ordens, porque eu não sou bom
—
em obedecer e você pode ter problemas com isso.
nzo deu uma gargalhada, e, eu escutei os seus passos indo em direção à sua
E
suíte. Ele era ao mesmo tempo sombrio, hot, e na medida certa para a minha
perdição.
∞∞∞
Fiquei um tempo olhando a manhã fria na Filadélfia pela janela do
hotel e só depois fui me arrumar. Coloquei um jeans preto, botas de cano
longo da mesma tonalidade, uma camisa de gola alta branca e um sobretudo
vermelho-escarlate, da mesma cor do meu batom.
E você, Raissa, está linda! Se fosse uma mafiosa, eu diria que era da
—
Bratva por causa desse sobretudo com a cor da elite vermelha.
E nós então seriamos o casal perfeito para formar uma aliança sólida
—
entre as duas maiores máfias.
Sim, pois não sou uma filha da máfia. Mas quem disse que além dessa
—
encenação para os meus pais, eu quero alguma coisa com você, Senhor Cosa
Nostra? — perguntei com o meu rosto tão próximo ao dele que pude sentir a
sua respiração.
lguns minutos depois, meu celular vibrou, e era uma mensagem da minha
A
mãe.
elena: Oi, minha filha! Estamos na casa dos seus avós, porque hoje é
Y
aniversário de 44 anos do casamento deles, e viemos almoçar para
comemorar. Vem para cá e traga o seu amigo.
Mudança de planos. Os meus pais foram almoçar com os meus avós, que
—
estão fazendo 44 anos de casados. Vou te falar o endereço para o motorista
mudar no GPS.
Agora eu também vou conhecer os seus avós? Sabia que proteger você
—
está dando muito trabalho, Senhorita O'Brien?
— E quando foi que você imaginou que seria fácil, Senhor Cosa Nostra?
Só quero saber o que vou ganhar em troca ao fingir que sou seu amigo
—
para a sua família!
ssim que cheguei ao local, meus homens saíram do carro para fazer uma
A
varredura no mesmo momento em que vi Raissa deixando o prédio ao lado
de um homem que eu conhecia muito bem, já que sua ficha fora levantada na
investigação das drogas letais que estouramos no esquema em Vegas.
J amais vou esquecer seu corpo trêmulo, seus olhos arregalados e suas mãos
que não conseguiam tocar em si mesma, com todo o sangue do verme
escorrendo pela sua cabeça em direção ao seu corpo. Naquele momento,
minha parte letal deu lugar ao meu lado humano. Logo, tomei Raissa em
meus braços e a coloquei no meu carro, que, nesse instante, já estava no
estacionamento. Mandei que limpassem tudo e decidi dirigir levando Raissa
sozinha comigo, sendo seguido pelos demais seguranças.
Seus olhos pareciam ter invadido a minha alma assim que nossos
olhares se cruzaram pela primeira vez. Eu sabia quanto era errado me
envolver com alguém dessa forma, ainda mais sabendo dos meus
compromissos com a Cosa Nostra. Tinha plena consciência de que só
poderia ajudá-la a se livrar da encrenca em que se meteu e depois
desaparecer da sua vida.
A droga era que a química entre nós era inegável. A diaba parecia me
enfeitiçar com sua beleza, e, nossa troca de farpas, tornava tudo mais
irresistível. Com isso, meu pau doía de vontade de entrar naquela boceta
linda que a porra da calça justa que ela estava usando marcava, despertando
um tesão enorme dentro de mim. Queria afastar os pensamentos, mas tudo
em que eu pensava quando ela me olhava de canto de olho, achando que eu
não estava percebendo como ela ficava me secando, era em tirar sua roupa e
sentá-la no meu colo para cavalgar em mim.
Então sou a primeira que provoca essa reação em você? Bom saber que
—
sou tão gostosa assim!
Para mim, você não passa de uma encrenca que eu não sei onde estava
—
com a cabeça quando tentei ajudar.
Relaxa! Eu também acho você a coisa mais fofa do mundo, ainda mais
—
com essa carinha de mafioso mal-humorado.
Continue me provocando e você vai ver que não tenho nada de fofo,
—
muito pelo contrário!
Que raio de lugar longe era esse em que a família dela resolveu
morar, fazendo com que nossa permanência juntos no carro se tornasse uma
prova de resistência?
essa hora, meu celular vibrou, e era uma mensagem do meu tio Dante.
N
Algo me dizia que suas palavras não seriam para me desejar uma boa
viagem para Dubai.
nzo: Eu não virei alvo da Salvatrucha, porque sou um Cosa Nostra, e eles
E
não são porra nenhuma! Apenas defendi a jornalista que estava sendo
sequestrada.
ante: Eu sei muito bem o que você fez, e é claro que apesar de ter matado
D
o verme do braço direito de Ruan Garcez, ninguém vai ousar tocar no meu
sobrinho. Faça o que tiver que ser feito, coloque essa garota em segurança já
que você começou essa merda, e, na volta de Dubai, saiba que você ficará
noivo na mesma semana e se casará logo depois.
Enzo: Por que essa pressa? Eu não sei se quero casar com Natalya.
ante: Eu já decidi que você vai se casar. E a pressa é porque você deixou
D
de usar seu cérebro e está pensando com a porra do seu pau, ou não teria dito
que encostar nessa jornalista é o mesmo que encostar em você, ou seja, na
Cosa Nostra. Enquanto você escolhia suas bocetas sem envolver a Cosa
Nostra, eu não falava nada, mas, no momento em que você perdeu a cabeça
por causa disso, é sinal de que está na hora de se casar, antes que você ache
que pode escolher qualquer uma para fazer parte da Famiglia.
Ao ler isso, minha vontade era de responder para o meu tio que ele
não mandava na minha vida, mas em que merda eu estava pensando? É claro
que ele tinha o poder de decidir tudo, afinal era o Chefe e tinha o apoio do
meu pai e do meu tio nesse casamento que tinha arranjado para mim.
u tinha uma noiva linda, e, no final, nem seria um sacrifício ficar com ela.
E
Decidi que não tinha motivos para reclamar, que me casaria com Natalya e
cumpriria meu dever com a Cosa Nostra.
Algum problema? Você parece que ficou preocupado depois que recebeu
—
uma mensagem.
Avisando que está tudo certo para a viagem até Dubai e me passando
—
algumas recomendações.
u não sabia o que me impediu de contar a verdade para Raissa, afinal, não
E
éramos nada um do outro, e nossa relação era de protetor e protegida.
— Você tem um segundo nome? Tipo, nome do meio, por parte da sua mãe?
Tudo bem então! Vou te apresentar como Enzo Coleman para a minha
—
família. Não vou mentir, apenas usar outro sobrenome seu que não remeta à
máfia. Você não é muito conhecido, não sai tanto na mídia, não vão te ligar
ao sucessor do demônio torturador da Cosa Nostra. Você faz outra coisa
além de torturar pessoas? Algo que a gente possa dizer que você faz e que
saiba falar se te fizerem alguma pergunta?
em respondi, peguei Raissa pelo braço e mandei que ela entrasse no carro,
N
dando ordem para o motorista dar uma volta pelo local enquanto
conversávamos.
essa hora, engoli seco com a sua resposta e mandei que o motorista
N
voltasse para o endereço, já que estávamos acertados quanto ao teatrinho que
a senhora encrenqueira armou para mim, como se ela estivesse me fazendo
um favor em viajar comigo, e por isso, eu precisasse mentir para a sua
família.
aramos novamente em frente à casa dos seus avós e, dessa vez, cruzamos o
P
portão e atravessamos um pequeno jardim até a varanda da casa, na qual
tinha um sofá de balanço amarelo que ocupava quase todo o espaço. Um
senhor abriu a porta, e Raissa o abraçou toda carinhosa, surpreendendo-me
quando falou em russo com ele.
— (Как хорошо быть здесь с тобой!) Que bom estar aqui com vocês!
le me olhou surpreso por eu falar russo, e senti que isso o deixou um pouco
E
assustado. Eu sabia ler as expressões das pessoas e podia sentir o cheiro de
medo nelas. Por algum motivo, o fato de eu saber o seu idioma fez até com
que a respiração do avô da Raissa mudasse, denunciando que tinha algo
errado. Com certeza, eles haviam fugido do regime russo e se refugiaram na
América, onde se acostumaram a viver escondidos.
aissa então me apresentou aos seus pais, e o que mais me chamou atenção
R
foi sua avó, que deveria ter por volta de setenta anos e parecia ser uma
mulher tímida, com um olhar triste e desconfiado. Foi impossível não notar
que tanto ela quanto o seu marido tinham cabelos escuros e olhos castanhos,
enquanto Yelena e Raissa eram loiras e tinham olhos claros.
Raissa deveria ter herdado a cor dos olhos do pai, já sua mãe, a dos
seus bisavós, já que seus traços não batiam com o dos seus pais.
Eu estava feliz na casa dos meus avós e não imaginei que abraçar os meus
pais me confortaria tanto depois dos últimos dias. Fiquei tão eufórica que
esqueci os problemas — que, com certeza, seriam tema das nossas conversas
de família — quando abracei o meu pai e percebi que Enzo estava
conversando e cumprimentando em russo o meu avô.
oi impossível não notar que ele não se apresentou falando o seu nome,
F
certamente por achar estranho o sobrenome Coleman. Então resolvi sair da
formalidade e apresentá-lo apenas como Enzo.
— Muito prazer!
eu pai achou estranho ser tudo tão rápido, mas não teve tempo de falar
M
nada, pois nessa hora, a pessoa mais especial da família veio até a sala.
Minha avó era uma senhora muito reservada e visitas era algo que ela
sempre evitava. Nunca entendi o motivo de ela ser assim tão fechada. Era
sorridente apenas no seu canal de receitas no YouTube, no qual não tinha
contato direto com as pessoas e ainda usava um pseudônimo.
— Vocês são de qual parte da Rússia? — Enzo perguntou aos meus avós.
— Quase?
Minha avó veio grávida, então minha mãe é americana com um pé na
—
Rússia.
— A Rússia não tem nada demais para que você queira ir até lá —
minha avó afirmou e notei que ela estava olhando quase que fixamente para
Enzo.
Enzo foi para o jardim falar sei lá com quem e retornou alguns
minutos depois, desculpando-se por precisar ir embora.
O que aconteceu? Você vai ter que sair para matar alguém de última
—
hora?
Eu nem vou me dar ao trabalho de responder a essa sua pergunta, porque
—
ao contrário do que você pensa, não passo o meu dia matando pessoas. Só de
vez em quando! — ele falou rindo, e me deu um abraço. — O que eu faço
com você, Senhorita Encrenqueira? — Enzo perguntou e deu um beijo na
minha cabeça antes de entrar no carro.
Tenho algumas ideias, mas nenhuma delas termina com você dando um
—
beijo na minha cabeça.
Nesse instante, o carro preto que o seguia com dois seguranças parou
na esquina, e me dei conta de que aquele talvez fosse o primeiro de muitos
dias em que não ficaria mais sozinha, já que teria seguranças cuidando de
mim.
Ele está te obrigando a viajar com ele? — meu avô perguntou com os
—
olhos cheios d'água. — Ele te obrigou a mentir? Nos ameaçou de alguma
forma? O que ele falou sobre nós?
Por favor, vamos por partes! — pedi, sentando-me à mesa e notando que
—
minha avó estava próxima à lareira, na sua cadeira de balanço, em silêncio,
alheia à nossa conversa. — Enzo não queria mentir; fui eu que não quis falar
o sobrenome dele para evitar justamente todo esse drama.
Enzo não está me sequestrando, pelo contrário, está cuidando de mim por
—
conta da matéria lá do jornal. Eu meio que provoquei uma máfia, e ele quer
cuidar para que nada de mau me aconteça. Vamos viajar, e, nesse tempo em
que vou ficar lá, tudo vai se resolver.
Essa menina ficou louca ou será que ela nasceu assim irresponsável?
—
Porque somos pessoas de bem, e eu tenho certeza de que não te ensinamos a
se relacionar com bandidos.
eu pai estava nervoso, e, no fundo, eu sabia que ele tinha motivos para se
M
preocupar. Acabei fazendo tudo errado, agindo por impulso e querendo
mudar o mundo, mas não pensei nas consequências. Só tinha vinte e três
anos, e, acabado de me formar depois de fazer todas as matérias que pude
para me graduar mais rápido.
inha mãe não dava uma palavra eu sabia que ela ficava triste quando meu
M
pai e eu discutíamos. Eu deveria imaginar que como advogados, meus pais
eram antenados e já teriam visto fotos do Enzo em eventos sociais.
meu pai não conseguia entender que eu precisava viajar e que essa era
O
uma forma de garantir segurança para eles também, mas não quis piorar a
situação. Sabia que, por um lado, eles estavam certos em se preocupar, mas
por outro, eu era independente e dona do meu nariz.
Ligue para esse homem e diga que você não está indo para Dubai — meu
—
pai ordenou. — Se ele é tão bom quanto você fala e só quer o seu bem, vai
se afastar, porque ele não serve para você.
eu coração disparou quando meu pai falou isso, porque eu não queria
M
brigar com ele e desejava entender sua preocupação comigo, mas não me
afastaria de Enzo de jeito nenhum, mesmo que eu não estivesse correndo
risco de vida.
Desculpa, meu pai, mas não vou fazer isso. Acho melhor eu ir embora,
—
viajar, e, na volta, com calma, conversamos. Sei o que estou fazendo. Confia
em mim!
Discutimos por mais algum tempo, mas nada me fez mudar de ideia.
Eu preferia que me odiassem a ter que contar que eles seriam vigiados a
distância e que, só na volta, tudo ficaria bem outra vez.
Enzo, com certeza, queria ganhar tempo para que seu recado
chegasse até Ruan Garcez, que certamente não iniciaria uma guerra por
alguém que havia escrito um artigo há dois dias, o qual já seria uma notícia
velha, com o mundo girando tão rápido e trazendo sempre novas pautas.
Então dei um beijo na minha mãe e encostei a cabeça nos braços do meu
pai, que estavam cruzados. Eu não queria brigar, mas eles falavam de Enzo
como se suas atitudes não tivessem valor, tampouco o que ele estava fazendo
por mim. Eu queria voltar para o jornal, para a minha vida, e não poderia
fazer isso sem a ajuda da Cosa Nostra.
A máfia é a pior raça que tem no mundo. São monstros frios e letais, e
—
você trouxe isso para o seio da nossa família.
Enzo não é assim… quero dizer, deve ser com os outros, mas não
—
comigo.
A máfia é como uma erva daninha, que só cresce se tocarmos nela. Uma
—
vez na máfia, só a morte nos separa dela.
Isso é para quem nasce na máfia, mas não temos o sangue deles, nem
—
temos nada a ver com essa Instituição; portanto, tudo voltará ao normal.
inha avó então fechou os olhos, e lágrimas caíram livremente pelo seu
M
rosto. Nunca entendi de onde vinham sua dor e seu silêncio, muito menos
compreendi por que a máfia a afetava tanto.
Capítulo 18
Raissa
minha visita aos meus pais acabou não sendo nada agradável e depois de
A
muita discussão, eles entenderam que não adiantaria continuar
argumentando, porque eu estava decidida a viajar com Enzo Cosa Nostra.
abia que para muitos isso soaria como irresponsabilidade, mas esta era eu:
S
uma jovem de vinte e três anos, que não colocava limites em sua vida. Eu
não me arrependi de ter escrito a matéria para o jornal, mas fiquei triste por
saber que isso havia afetado negativamente a minha família e a colocado em
risco.
Eu era grata por ter conhecido Enzo e por ele ter se disponibilizado a
cuidar da minha segurança e daqueles que eu amava. Sabia que, se não fosse
por ele, nem estaria mais viva. Por motivos óbvios, foi uma pena eu não ter
contado nada disso para os meus pais, que, com certeza, me trancariam
dentro do quarto, achando que, assim, me livrariam da maldade da máfia.
Quando cheguei à sala, achei que o clima estava pesado por conta da
minha decisão de viajar, mas minha mãe apenas me abraçou com lágrimas
nos olhos.
Se cuida, minha filha, e por favor, não faça como sempre; desta vez, eu
—
quero notícias diárias.
inha mãe sabia que era inútil tentar me convencer do contrário ela no
M
fundo entendia, que devido às circunstâncias, eu estava mais segura ao lado
de Enzo do que sozinha em San Francisco. Nesse instante, olhei em volta,
procurando o meu pai, quando o vi entrando em casa, acompanhado de
Enzo.
Não estou satisfeito com essa viagem, nem vou dizer que ele é o que eu
—
sonho para minha filha. Não sou hipócrita, mas ele deixou claro que está
fazendo isso apenas para te proteger, e, sei que nesse momento se afastar é o
mais sensato. Só acho que você não tem dimensão da sua nova realidade e
que você vai ser para sempre inimiga da Salvatrucha.
Vai ficar tudo bem, não vai, Enzo? —perguntei, olhando para ele, porque
—
as palavras do meu pai queriam dizer que eu estava ferrada para sempre.
— Vou cuidar para que tudo fique bem! Ninguém vai se aproximar
nunca mais de você; eu não vou deixar.
— Sei que sou teimosa e que sempre quis resolver tudo sozinha, mas
isso não quer dizer que eu não precise de você ou não te ame — falei para o
meu pai, que me deu um beijo e foi para o escritório, porque para ele,
admitir que sua filha viajaria ao lado de alguém como Enzo era demais para
um advogado criminalista.
∞∞∞
ormi e sonhei com várias coisas ao mesmo tempo; depois acordei com dor
D
de cabeça e com dificuldade em abrir os olhos, sentindo as minhas pálpebras
pesadas. Tanta coisa tinha acontecido em tão pouco tempo que era
absolutamente normal eu estar estressada.
— Você está agitada. Não seria melhor tomar uma bebida para relaxar?
Não, eu prefiro bebidas fortes — frisei e peguei o copo que Enzo estava
—
segurando, tomando um pouco da sua bebida enquanto olhava para ele.
— Você é única!
— Não, por seu jeito, sua forma de agir, sua beleza... Tudo é único!
Tudo bem, vamos para Dubai: você, para suas reuniões, e eu, para esperar
—
as coisas se acalmarem. Pode pedir um whisky duplo para mim, por favor?
Só por curiosidade, não tem uma cabine, tipo um quarto, neste jatinho, não?
e ele queria bancar o difícil, era bom que soubesse que havia encontrado
S
uma parceira à sua altura.
Capítulo 19
Enzo Cosa Nostra
Eu queria muito que Raissa entendesse que me envolver com ela seria um
erro, já que éramos de mundos diferentes. Ela me provocava de todas as
formas, eu tentava resistir, mas sua boca carnuda, seus seios empinados, seu
corpo gostoso, sua bunda, que dava vontade de apertar, e sua boceta, que me
dava água na boca, pareciam sob medida para a minha perdição.
ssim que chegamos a Dubai, fomos direto para o One & Only Royal
A
Mirage Resort, porque, como eu teria várias reuniões durante o dia, troquei a
reserva para um lugar onde Raissa pudesse aproveitar e relaxar. O local era
paradisíaco, e o sorriso dela quando chegamos foi de quem aprovou a minha
escolha.
aissa deu um sorriso que parecia forçado e entrou em seu quarto, batendo a
R
porta. Já eu fui para o meu quarto me arrumar para a reunião.
stava saindo do banho quando escutei algumas batidas na porta que ligava
E
o meu quarto ao da Raissa. Então me enrolei em uma toalha e abri a porta
para saber o que tinha acontecido.
Enzo Cosa Nostra, você acha que eu sou milionária? Se, no shopping, já
—
vou ter que ver se posso comprar estourando o limite do meu cartão, imagina
no hotel!
Deu para perceber! — Raissa disse, olhando para a minha toalha e depois
—
para a porta. — Vai pro seu compromisso e me dê esse cartão porque mudei
de ideia — ela falou e bateu à porta com tanta força que pensei que poderia
ter abalado a estrutura do hotel.
ão sei o que ela pensou que eu faria com a Senhorita Cavalieri, mas ri só
N
de imaginar pela sua cara de brava. Ao contrário do que a dona encrenca que
eu trouxe comigo nessa viagem pensou, primeiro troquei de roupa e só
depois mandei que a secretária contratada entrasse para começarmos a
reunião, que levou mais de três horas.
— Você é linda com ciúmes, mas devo lhe informar que a Senhorita
Cavalieri é uma secretária bilíngue que eu contratei para me acompanhar nas
negociações. Ah, e hoje, à noite tenho um jantar e quero que você me
acompanhe.
— Você quer me levar num jantar da máfia? Eu vou ser tipo a Sarah
Cooper?
— Vamos entrar, porque não estou gostando dessa sua exibição aqui
na praia.
— Quem disse que eu quero me envolver com você? Sei muito bem
separar sexo de sentimento.
— Tem certeza disso?
— Só sexo.
— Vou pensar!
Com isso, meu pau cresceu e ganhou vida dentro da minha calça,
querendo entrar naquela perdição. Foi então que ela colocou sua mão dentro
da calcinha e começou a se tocar.
Fiquei com uma das mãos trabalhando nos seus mamilos e, com a
outra, enfiei primeiro dois e depois três dedos dentro dela, aumentando a
pressão nos dois lugares ao mesmo tempo e sentindo suas costas ondulando
sobre o meu corpo.
Seus olhos então se fixaram no meu pau assim que abaixei as calças,
e ele pulou para fora, com as veias marcadas e a cabeça melada. Em seguida,
encostei-o na sua entrada, mas, antes, coloquei dois dedos dentro dela e os
girei contra o seu ponto mais sensível. Quando senti seu orgasmo chegando,
eu os arranquei dali e entrei nela com o meu pau, alargando a sua boceta.
— Quero!
— Quer o quê?
— Com você, eu quero tudo! Só que, nesse lugar, tem que ser
devagar, porque nunca fiz.
Liguei o chuveiro e deixei a água fria escorrer para acalmar o meu corpo,
que estava pegando fogo depois de transar loucamente e sem pudor algum
com Enzo Cosa Nostra. Eu havia me sentido livre nos seus braços, e pensar
nele dentro de mim já fazia minha boceta latejar.
Enzo: Bom saber que estou livre, porque, neste exato momento tem
uma morena me encarando aqui no saguão do hotel.
Raissa: Eu disse que não tenho ciúmes, não que divido o que é meu!
— Vou te mostrar do que esse velho é capaz e vou te comer antes do jantar!
ensei que me chuparia gostoso, mas, em vez disso, mandou que eu tirasse o
P
vestido, enquanto ele colocou seu pau para fora, sem me dar tempo de
pensar. Enzo me sentou no seu colo, com minha bunda encostada na sua
barriga, e eu abri as minhas pernas e desci de costas sobre ele. Comecei
então a subir e a descer devagar, sentindo que minha boceta estava quente,
enquanto engolia Enzo até as bolas e o apertava por inteiro. Quanto mais ele
batia com força dentro de mim, mais eu gemia. Enlouqueci quando senti
suas mãos apertando os meus seios.
nzo começou a gemer no meu ouvido e a dizer que o fato de me dar prazer
E
era fodidamente gostoso, bem como me sentir engolindo seu pau, enquanto
metia com mais força dentro de mim.
— Vai sonhando!
le então segurou meu cabelo e me fez quicar sobre o seu pau, enterrando-o
E
até o limite. Quando eu estava prestes a gozar, Enzo parou e beijou as
minhas costas.
Vai falar que é só minha? O motorista está indo devagar, mas já estamos
—
chegando ao restaurante.
— Eu não sou sua!
ntão senti sua testa encostando nas minhas costas, fazendo pressão. Seu
E
silêncio foi uma resposta.
epois nos arrumamos rapidamente antes que o carro parasse, com nossa
D
respiração ainda ofegante, suados, melados, com o nosso cheiro na pele do
outro. Foi então que nos olhamos sabendo que nosso acordo de sexo sem
envolvimento não tinha durado nem duas transas, e, que dali para frente,
poderíamos nos machucar. Mas, como duas pessoas teimosas, de
personalidade forte, nenhum dos dois queria demonstrar fraqueza, e, ficou
claro que seguiríamos com nossa proposta inicial, como se fosse possível
mentir para nós mesmos.
Capítulo 21
Enzo Cosa Nostra
Você acha que eu seria idiota de transar com você sem camisinha se não
—
me cuidasse? Nem pense, bonitinho, que você vai me prender ao seu lado
tentando me engravidar.
omecei a rir, porque seu jeito de falar era muito igual ao da minha tia
C
Alice, e imaginei a cara do meu pai se a conhecesse. Com certeza, ele me
casaria amanhã com a tal da Natalya, com medo de ter uma nora exatamente
como a mulher que a Cosa Nostra considerava um grande pesadelo.
ora? Raissa nunca poderia ser nora do meu pai, nem que eu quisesse,
N
porque infelizmente ela não pertencia à Instituição e talvez se pertencesse
não seria essa mulher livre, despudorada, empoderada e perfeita.
Não se preocupe, velhote, porque até agora você está indo bem e não
—
pretendo trocá-lo por outro.
— Bom saber que você gosta do meu pau dentro da sua boceta.
aissa ficou em silêncio e, assim que fomos até a mesa em que os homens
R
da Instituição me esperavam ela se aproximou do meu ouvido.
Boa noite, senhores! Esta é Raissa O'Brien, e, como na máfia tudo que
—
diz respeito a qualquer um de nós corre como o vento, acredito que os
senhores já saibam de quem se trata.
Senhores, eu imagino que meu tio Dante não pensa em abdicar do poder
—
tão cedo, mas, quando minha prima assumir, podem se preparar, porque ela
vai abalar as estruturas da Instituição.
— Você já jogou?
— Aquilo é para turistas que não têm dinheiro para apostas altas.
O quê? Não quero mais apostar! Prefiro que você me dê esse dinheiro que
—
eu volto para casa rica!
— E se eu perder?
aissa apontou para o segundo andar, onde alguns casais estavam entrando,
R
e eu sacudi a cabeça, rindo. Ela realmente era uma mulher atenta aos
detalhes e não deixou passar despercebido o local que era um clube privado,
onde as pessoas podiam fazer sexo em grupo ou sozinhas em cabines
reservadas.
aissa me acompanhou para trocar as fichas, e fomos até o bar pegar uma
R
bebida.
Não vou dividir você com ninguém, Raissa! Se a gente subir e alguém
—
ousar te desejar, vou ter que matar a pessoa.
Sim, com putas, mas não irei com você. Vamos embora, e eu vou saber te
—
recompensar, mas só nós dois.
la respirou fundo e deixou claro que me cobraria com juros por eu ter me
E
negado a ir com ela ao clube privado, embora eu tivesse certeza de que, no
fundo, ela havia ficado aliviada.
Raissa era corajosa e impulsiva, mas eu sabia que ela ficou com
traumas do que aconteceu em Vegas. Ela tinha o sono agitado e ficava
falando para a soltarem e a deixarem em paz enquanto dormia. Por isso, eu
jamais faria com que seus gatilhos fossem despertados ao levá-la a um lugar
que lembraria a boate de Vegas, porque mesmo que ali fosse tudo
consensual, com certeza as cenas de sexo a remeteriam ao seu sequestro.
Não tenha dúvidas de que você será mais do que recompensada — falei e
—
a puxei para o meu colo, e nosso beijo incendiou os nossos corpos. Porém, já
que eu não queria fazer nada com pressa como na ida para o restaurante,
precisei me esforçar para esperar até chegarmos ao resort.
Capítulo 22
Enzo Cosa Nostra
Acordei com o meu celular tocando e atendi rapidamente para não acordar
Raissa, que estava dormindo ao meu lado. Eu sabia que o motivo da ligação
do meu pai não era boa coisa e que aquela mulher na minha cama significava
o fim da minha paz.
Eu imagino que o seu dia está melhor do que o meu, que ontem dei a
—
minha palavra confirmando o seu noivado e hoje acordo com uma ligação de
Dante me falando que recebeu uma ligação de Youssef dizendo que estava
satisfeito, porque, como sempre, estamos renovando nossas alianças, e
mencionando que sua acompanhante ganhou uma pequena fortuna no
cassino.
E você acha mesmo que eu me importo com o que ela ganhe ou perca na
—
vida? Você levou essa jornalista para Dubai e a enfiou no meio de um jantar
da Instituição. Está querendo que a Cosa Nostra saia na primeira página do
jornal também?
Ela nunca faria isso! Você não a conhece, e, se ela escreveu aquele
—
artigo…
— Não me lembro de ter feito um pedido. É uma ordem, Enzo Cosa Nostra!
— Que eu não vou poder obedecer, meu pai.
inha cabeça estava doendo, e fui até o banheiro, porque precisava mijar e
M
também tomar um banho. Eu já estava atrasado para o meu compromisso e
não poderia aparecer com cara de quem estava com uma puta ressaca. Só
lembrei que estava no banheiro dela quando não encontrei o meu sabonete, e
sim uma esponja de banho pink, vários sabonetes líquidos e diferentes
frascos de shampoo.
Eu não nasci para paixões, e a senhora sabe muito bem disso! Essa não é
—
a nossa vida, e eu tenho meus deveres com a Cosa Nostra e vou cumprir. A
Instituição e tudo que ela implica, como os negócios e a Família, vêm em
primeiro lugar. Eu só preciso de um tempo!
— Quanto tempo?
Essas duas semanas em que estou em Dubai. Depois retorno e me caso.
—
Meu pai não quis me escutar, mas tudo que eu quero é que, na volta, ele me
garanta que vai manter um soldado fazendo a segurança de Raissa. Assim,
volto tranquilo para seguir o meu destino.
Você não precisa se casar com a Natalya. Eu movo o mundo, faço uma
—
guerra, mas, se você não quiser se casar…
Mas tenho uma parte enorme sua dentro de mim, e é justamente essa
—
parte que faz essa escolha ser tão difícil, mas, ainda assim, eu a farei, até
porque quem nasce na máfia morre na máfia, e isso não é só um simples
ditado. Eu, fora da Instituição, sou alvo fácil e, no final, não viveria amor
algum.
Eu vou falar com o seu pai que depois da viagem, você vai voltar e
—
assumir a palavra dele, se casando com Natalya. Quanto a Raissa, não
precisamos da Cosa Nostra para protegê-la. Vou ligar para Sarah e acionar a
Máfia das Mulheres. Ela terá a nossa proteção, e ninguém vai tocar nela!
Acredite que ela jamais aceitaria a minha proteção eterna, mas, sendo a
—
da sua ídola Sarah Cooper — falei, rindo —, é diferente. Ela chegou a
procurar Anne em um evento para tentar fazer uma matéria com a tia Sarah
sobre a Máfia das Mulheres, você acredita nisso?
Já estou gostando cada vez mais dessa jornalista e até pensando que essa,
—
sim, seria a nora dos meus sonhos.
Eu tenho uma reunião agora, minha mãe. Proteja Raissa, mas não sonhe
—
com o impossível, porque infelizmente ela nunca será a minha esposa.
Infelizmente, não existe um lugar livre sem ataques para homens como
—
nós — respondi para o meu segurança enquanto ligava para Youssef.
— Cosa Nostra, em que posso ajudá-lo?
Espero que você não esteja pensando que temos algo a ver com isso,
—
porque não atacamos nossos aliados.
Eu sei que não. Quero saber se posso contar com vocês para investigar
—
quem poderia me atacar aqui em Dubai?
Vou mandar checar cada beco, e, seja quem for que ousou vir fazer
—
bagunça no nosso território, não vai sair vivo para contar história. E a sua
namorada?
ntão mandei que o motorista fosse o mais rápido possível para o hotel e
E
enviei uma mensagem para Raissa, a fim de saber se ela estava bem.
aissa tornava tudo mais difícil com esse seu jeito de falar antes de pensar.
R
Quando foi que eu tratei essa doida como submissa para ela pensar isso de
mim? Enfim, liguei para o meu segurança e mandei que ele redobrasse a
vigilância de Raissa, afirmando que eu já estava chegando ao resort.
uando saí do carro, fui direto para a área da piscina. Em instantes, de
Q
longe, vi aquela bunda arrebitada que chamava atenção e acelerei os meus
passos, aproximando-me da sua cadeira e fazendo uma sombra enorme com
o meu corpo.
— Custava me deixar ficar aqui na piscina até a hora em que você chegasse?
Os dias em Dubai estavam sendo perfeitos, ainda mais que Enzo havia
conseguido três dias livres, e, ficamos o tempo todo juntos no quarto. Ele era
perfeito em todos os sentidos, e eu tentava não pensar no que viria depois, ou
seja, quando fôssemos embora.
No que você está pensando? — ele perguntou, vendo que eu estava com o
—
rosto enfiado no travesseiro.
Eu não posso prometer um romance com final feliz, porque tenho uma
—
vida complicada, mas quero você de todas as maneiras possíveis enquanto
estivermos juntos.
Sexo como combinamos! Vamos foder muito e depois voltamos para casa
—
e não nos vemos nunca mais.
Calma, que primeiro vou te dar muito prazer e só depois te foder com
—
força. Quero escutar você gritando o meu nome bem alto quando eu enterrar
o meu pau nessa sua boceta apertada.
— Eu sempre estou!
— Vou te aliviar!
Sua bunda é linda demais! — ele disse e deu um tapa nela, fazendo com
—
que o atrito entre as minhas pernas aumentasse.
— Você gosta quando eu bato na sua bunda, não gosta, sua gostosa?
u não me assustava com a sua boca suja; na verdade, amava o seu jeito
E
direto de dizer o que queria e estava sentindo. Seus olhos estavam fechados e
sua cabeça, levemente inclinada para trás, o que me fazia ter a certeza de que
eu estava no caminho certo, dando prazer a ele.
essa hora, retirei a minha boca do seu órgão, olhei para ele e lambi
N
lentamente a cabeça do seu pau, sentindo as veias cada vez mais grossas.
Então o engoli de uma só vez e o senti latejar quando o suguei por inteiro.
Em seguida, apertei suas coxas e aumentei o ritmo com que o chupava e
fazia pressões com os meus lábios, apertando-o e sentindo que ele estava
prestes a gozar.
ozei e gritei o seu nome, ao mesmo tempo em que apertava o seu pau
G
dentro de mim, sentindo-o inchar. Em seguida, ele se levantou e me deitou
na cama, voltando a estocar firme dentro de mim.
∞∞∞
omo sairíamos para jantar, escolhi um terninho vermelho e uma blusa Off-
C
White, com um decote que ficava um pouco abaixo da altura dos meus seios,
completando o look com um salto bem alto e minha bolsa Chanel, que havia
sido presente de Enzo.
ssim que entrei no local, todos os olhares se voltaram para mim. Então
A
percebi que meu look dava a impressão de que eu estava nua. Logo, assim
que vi Enzo, sorri para ele, que veio caminhando na minha direção,
segurando possessivamente nos meus braços, dando-me um beijo e
mostrando a todos que eu estava acompanhada.
Um caralho que ela vai a algum lugar com vocês! — Enzo falou, dando
—
um soco na mesa e fazendo os outros se lembrarem bem de que ele era um
Cosa Nostra.
Eu quero ir ao clube. Não aguento mais ficar somente neste resort, por
—
mais que ele seja maravilhoso.
Só se eu fosse burra! Tenho a vida toda para ir a clubes dançar, mas dois
—
dias no mar de Dubai ao seu lado só vou poder viver uma vez! — Falei e
embarquei no iate, indo direto para a parte mais alta. Ali me sentei, olhando
para o céu estrelado.
— Seu cheiro é delicioso, Raissa! Eu amo essa sua boceta, que está
sempre pronta para mim.
— Enzo!
Grita, acorda Dubai e mostra o que o seu homem é capaz de fazer com o
—
seu corpo enquanto fode essa sua boceta gostosa!
— Porra, eu vou gozar de novo!
Goza mais para mim! Me deixa te ver assim tão linda, se desmanchando
—
toda por mim!
∞∞∞
— Vou sentir saudades, mas sei que nossas vidas têm que seguir separadas.
Eu não quero te iludir! Não posso fazer isso! Não com você, Raissa! Se
—
for só sexo, eu quero te foder de todas as formas possíveis e te proporcionar
os melhores orgasmos da tua vida. Mas não posso te iludir! Eu tenho
compromissos na máfia que não me permitem estar para sempre com você.
nzo estava sendo sincero e deixando claro que não era homem de fugir de
E
uma boa transa. Mas, ao mesmo tempo, estava preocupado comigo, achando
que poderia estar me usando para descartar depois, sendo que eu mesma lhe
disse que poderíamos ficar juntos dessa forma, apesar de já não ter mais
tanta certeza disso.
E você está pronto para me deixar e encarar isso como uma transa
—
qualquer em Dubai?
nzo respirou fundo e me afastou, indo se sentar em uma das poltronas que
E
tinha no deck. Seu silêncio era mais que uma resposta. Ele também estava se
envolvendo e sem saber como lidar com a nossa situação fadada ao fim por
causa das leis de uma sociedade que ficava à margem da minha.
ntão me sentei no seu colo e segurei com força o seu pescoço, enquanto
E
minha língua brincava com a sua em um beijo leve e cheio de malícia. Enzo
gemeu e jogou a cabeça para trás quando rebolei no seu colo, e ele sentiu o
atrito da minha boceta com o seu pau.
— Não sei se estou pronto para te deixar, mas sei que terei que fazer
isso.
Vamos pensar nisso depois; agora só quero você pelo tempo que eu ainda
—
tenho.
partir daí, montei nele, ofegante, rebolando e ansiosa pelo melhor sexo do
A
mundo.
Eu também não sou tão desapegada quanto pareço, ou, pelo menos, nunca
—
tinha sido antes.
essa hora, Enzo segurou meu cabelo com força, e eu me apoiei firme nos
N
seus ombros quando ele enterrou tudo em mim, apertando meus quadris e
me fazendo quicar no seu colo, com meus seios balançando livremente. Em
seguida, suas mãos foram para a minha bunda, que ele apertava e na qual
dava alguns tapas, e eu pude escutar os seus gemidos misturados com os
meus.
∞∞∞
m nossa história não existiam culpados, porque ele sempre deixou claro
E
que era perigoso um envolvimento entre nós. Até achei que fosse capaz de
transar com ele e depois seguir em frente, como já tinha feito outras vezes,
mas o que eu estava sentindo era algo novo para mim e forte demais.
ossa história começou de uma forma muito louca, intensa, no meio de um
N
tiroteio, e terminou em Dubai, em cima de uma cama, com dois corpos se
encaixando perfeitamente um no outro e sentindo todo o prazer do mundo.
Isso quer dizer que você confia em mim? Que lindo! — eu falei, dando
—
um selinho em sua boca e me levantando. — Ao meu lado, você pode dormir
tranquilo que, eu nunca vou matar você, a não ser de prazer — falei e joguei
um beijo para Enzo enquanto fechava a porta do meu quarto.
proveitei que estava sozinha e fiz uma chamada de vídeo para a minha
A
mãe, como eu fazia todos os dias conforme combinamos, porém, dessa vez,
ela me perguntou sobre o futuro; logo, não consegui esconder que estava
triste.
Vou para casa continuar trabalhando, e Enzo vai voltar para a Sicília e
—
continuar matando gente por lá e, de vez em quando, ele vai fechar alguns
contratos brincando de CEO, como nessa viagem.
Claro que não! Só falei porque você sabe que não ficamos bem como
—
amigos por aqui, então…
Filha, eu não sou ingênua de achar que não existe nada entre vocês; sou
—
vivida o bastante para saber que não é só sexo. Há sentimento também, e
seus olhos brilham quando você fala nele.
Eu não posso admitir isso, minha mãe, porque, se eu falar, vou ter que
—
escutar, e então esse amor se tornará uma verdade.
— Filha, não quero que você sofra, mas esse rapaz não serve para você.
Claro que serve! Sarah Cooper era uma publicitária quando se casou com
—
Ryan Cooper, e a mãe do Enzo, Nina Cosa Nostra, era uma advogada, e
todas duas se casaram com homens da Instituição!
Casar eu não sei, mas, sim, se eu pudesse, ficaria com ele. Mas não
—
precisa preocupar a família com isso. Estou falando só com você e depois
vou esquecer, até porque eles só se casam entre si na máfia, e, Sarah e Nina
foram um caso à parte. Por causa da lei criada por elas em defesa das
mulheres, essa regra de união entre filhos da máfia se tornou uma espécie de
lei absoluta.
Nós estamos conversando como amigas pela primeira vez, e isso para
—
mim já é algo imenso que você está fazendo por mim.
— Eu te amo tanto, minha filha! Queria muito fazer algo para te ajudar.
Então não tem nada que possa mudar o final dessa história, e eu e Enzo
—
vamos mesmo seguir nossas vidas separados.
Ao pensar nisso, lembrei que ela não seria minha e que outro homem
a teria em seus braços e passaria a ser o dono dos seus gemidos. Sem me dar
conta, forcei tanto os nós da minha mão que as pessoas ficaram me olhando
e pensando que eu fosse dar um soco na cara de um dos empresários que
estavam reunidos para assinar o contrato comigo.
Logo, eu contava com isso para que ele não me perturbasse pelo fato
de ter apresentado Raissa aos membros da Instituição, mostrando que era
minha acompanhante, quando estava de casamento marcado com Natalya. O
receio não era propriamente pelo noivado, mas pelo medo de eu jogar tudo
para o alto, coisa que eu nunca faria.
epois que estava tudo oficializado, agradeci a Senhorita Cavalieri pelo seu
D
excelente trabalho, enviei uma mensagem para a Cosa Nostra, avisando que
o contrato tinha sido assinado com sucesso, e fui buscar Raissa para
jantarmos juntos e comemorarmos o sucesso da minha ida a Dubai, que, em
contrapartida, significava o fim da nossa história junto.
ssim que cheguei à frente do resort, meu pau ficou duro só de olhar o
A
monumento que estava me esperando na recepção e que vinha caminhando
com os cabelos balançando com o vento. Era impossível não admirar seu
vestido, como sempre, extremamente decotado e coberto por um véu, que ela
usou durante esse tempo em Dubai, vindo na minha direção. Eu estava
encostado no carro, esperando Raissa, que chegou e me deu um beijo
intenso, fazendo questão de colar o seu corpo no meu. Quando passei as
mãos na lateral do seu corpo e cheguei ao quadril, olhei para ela, que meu
deu o sorriso sacana de sempre.
Com você, não, porque eu não comprei calcinhas para serem rasgadas e
—
você as destrói com um simples toque!
osso carro seguia devagar pelas ruas de Dubai, sendo acompanhado por
N
outro veículo com os meus seguranças. Estávamos em um local mais
deserto, indo para outro resort, onde eu queria jantar e passar provavelmente
a minha última noite com Raissa.
ntão mandei que ela firmasse o corpo e soltei o seu cinto e depois o meu. O
E
carro, por ser blindado, tinha mais rigidez e se manteve intacto. Logo,
precisei retirar os airbags laterais para sair de dentro dele e saber o que
estava acontecendo do lado de fora.
— Fizeram bem!
— Como você sabe que eles não estão mentindo e que os bandidos
não estão com eles? — Raissa perguntou.
Temos fortes suspeitas de que isso é coisa da Yakuza, Senhor Cosa Nostra
—
— o braço direito de Youssef falou. — Temos informações de que alguns
dos seus homens estão no nosso território, e pode ter certeza de que, em
poucas horas, eles estarão nas nossas mãos.
essa hora, meu celular tocou, e precisei atender porque era uma chamada
N
de vídeo do meu pai.
Sim, eles só queriam dar um susto e nos intimidar, o que nunca vai
—
acontecer, porque vamos explodir esses infelizes! Nunca que esses japoneses
vão crescer para cima da Máfia Siciliana!
Você está no território deles, e eles provavelmente serão punidos pela lei
—
de Khan Al-Abadi, mas pode ser que ele deixe você torturar um deles.
Resolva tudo e volte imediatamente para a Cosa Nostra.
— Sim, senhor!
Para uma jornalista cuja vida depende da segurança da Cosa Nostra, você
—
é bem ousada. Por mim, se tivesse morrido, daria menos trabalho!
Você perdeu a noção de tudo? Claro que não! Você nunca soube o que é
—
isso! Tem noção de que o meu pai e eu somos completamente diferentes, e
que eu te… que eu te entendo, mas ele não?
Raissa era tão maluca e me tirava tanto do sério que quase me fez
falar, sem querer, que sentia algo por ela, sentimento este que eu nunca disse
a nenhuma mulher, e nem diria.
— O meu pai é temido por ser um assassino. Não pense que, por ser
casado com a minha mãe e por tudo que você pesquisou sobre a Máfia das
Mulheres, ele ou qualquer um de nós deixou de ser letal. Sei que você está
nervosa, que sofremos um acidente, mas nunca mais se dirija ao meu pai ou
a qualquer membro da Cosa Nostra dessa forma. Você entendeu, Raissa
O'Brien?
Minha vida era tão normal, e minha única preocupação no mundo era se
—
eu conseguiria ser uma grande jornalista. Sei que vocês são letais, não sou
imbecil, mas sou impulsiva demais, e realmente o seu pai, você, esses árabes
mafiosos, a Salvatrucha e todos do inferno de onde vocês saíram são iguais.
Eu não deveria falar com o seu pai, nem estar neste carro com você, porque
são todos uns monstros que só mudam de Instituição. Eu estava numa boate,
comemorando meu aniversário, quando vim parar contra a minha vontade no
mundo de vocês. Tudo que eu quero é minha vida de volta. Não desejo nada
dessa porcaria de máfia para mim, e isso inclui você!
aissa estava coberta de razão, e eu nunca deveria ter me envolvido com ela,
R
porque, no final, ela corria ainda mais risco ao meu lado do que longe de
mim.
Suas palavras duras foram diretas ao meu coração, que até então era
blindado.
Eu fui criado com muito amor desde que cheguei à casa do meu pai
quando tinha cinco anos, porém, o ambiente na Cosa Nostra sempre foi
tenso, cheio de reuniões, tiros, pessoas chegando sujas de sangue, soldados
que falavam com a gente num momento, saíam e não voltavam nunca mais.
u não era mesmo homem para ela, e, no mais tardar, em dois dias,
E
voltaríamos para nossas vidas. Então, eu seria só a lembrança de uma fase
ruim em que ela se envolveu com a máfia. Toda vez que ela saísse de casa
protegida por um soldado da Máfia das Mulheres, odiaria o que eu
representava, que seria sua falta de liberdade por um dia ter tido o seu
caminho cruzado com o nosso.
Assim que chegamos ao resort, fui direto para o meu quarto e Raissa para o
dela. Não trocamos uma palavra e caminhamos separados e em silêncio. Ela
estava certa em me querer longe, e eu respeitaria a sua vontade.
heguei ao local, que era distante do resort e ficava no interior de uma casa
C
que parecia normal, mas era usada pela máfia. Meus homens entraram
comigo, e fomos conduzidos por uma escada que nos levava a uma espécie
de abrigo subterrâneo que eles usavam para interrogar e eliminar seus
desafetos.
crueldade deles era enorme, e seus homens se vangloriavam por isso, mas
A
diziam que ninguém se igualava ao Demônio da Cosa Nostra, ou seja, meu
pai.
Lembrei então que Raissa quase morreu por estar comigo enquanto
eu pensava que a protegia. Eu era realmente um erro na vida dela e tinha que
voltar a ser quem sempre fui. Precisava conviver com os meus, no lugar de
achar que era algum super-herói que salvava donzelas, quando era o vilão
que ceifava vidas.
Eles me olhavam como seu eu fosse incapaz de ser como o meu pai.
Então abaixei a cabeça e sorri, caminhei até a cadeira e, com um único
golpe, fiz a cabeça do verme que tentou me matar voar pelos ares. Minutos
depois, estava me retirando dali, sendo seguido pelos meus homens, quando
Youssef veio atrás de mim.
ntão fui embora irritado, porque, com certeza, nas minhas mãos, aqueles
E
idiotas teriam sofrido muito mais. Talvez, por ser filho de quem eu era ou
por ter problemas maiores me aguardando quando eu chegasse ao resort e
tivesse que dar adeus a Raissa, achei a sessão de tortura deles fraca e
entediante.
Capítulo 27
Raissa
Por mais que uma força que eu não sabia de onde vinha me fizesse ficar
sempre de pé, pela primeira vez, eu me senti desmoronando. Não foi pelo
sequestro, pelo atentado no dia da festa ou pelo automóvel capotando, mas
por olhar para Enzo no carro e sentir que havia romantizado nossa história,
nossos dias no resort, esquecendo-me de toda a sua trajetória de vida.
ntretanto, nos livros, tudo parecia lindo, mas, quando nos deparávamos
E
com a realidade era bem diferente. Nessas poucas semanas, estive com o pé
no outro lado por três vezes, e, por milagre, havia sobrevivido. Um milagre
que eu achava que se chamava Enzo Cosa Nostra, com quem eu quase morri
recentemente em um atentado.
uando escutei o estrondo no carro, estava tão distraída, olhando para Enzo
Q
e pensando que não queria que esses dias, até então encantados,
terminassem, que custei a entender que o veículo tinha sido atingido e
capotado.
Por ser blindado, a parte interna ficou inteira, e o airbag tomou conta
das laterais do automóvel. Levei alguns segundos para entender que tinha
sobrevivido e, quando me sentei no teto do carro, percebi que a adrenalina
das últimas semanas havia se transformado em pânico, seguido de um
choque de realidade.
omo estava no fogo cruzado da máfia, compreendi que minha vida nunca
C
mais seria como antes, porque, de uma forma ou de outra, teria que ter por
tempo indeterminado, ou para sempre, seguranças andando comigo por onde
eu fosse. Contudo, percebi que isso não impediria os inimigos de tentarem
contra a minha vida.
or fim, Enzo e eu voltamos para o hotel em silêncio depois que eu disse que
P
não o queria mais na minha vida. Eu estava nervosa, acabei me
descontrolando, e, após isso, ele não deu mais nenhuma palavra. Enzo,
então, foi direto para o seu quarto, e eu, para o meu. Ali, fiquei sentada na
cama pensando se deveria conversar com ele, até que, depois de um tempo,
escutei um barulho de porta se fechando e entendi que ele tinha saído.
essa hora, lembrei que ele tinha um encontro com o tal do Youssef e que
N
falou, como se fosse a coisa mais normal do mundo, que tiraria a cabeça de
uma pessoa.
aissa: Está tudo bem? Estou preocupada, porque você saiu e ainda não
R
voltou.
Enzo: Eu sei quando saio, mas, como você viu hoje, nunca sei se vou
conseguir voltar. Não se preocupe. Qualquer coisa, meus soldados sabem
que devem te levar de volta até San Francisco e sua segurança está garantida.
nzo: Na verdade, você já decidiu. Agora eu preciso ir, pois tenho alguns
E
assuntos para resolver.
nzo não respondeu, e tentei dormir, já que ele estava vivo. Eu tinha que
E
admitir que o medo que senti de não o ver nunca mais e de ele não voltar por
terem feito alguma coisa me deixou com um buraco no peito. Logo, eu sabia
que isso só tinha um nome: AMOR!
∞∞∞
ntrei no quarto e vi o coldre dele com suas armas em cima da cama e sua
E
roupa jogada no chão. Sua camisa branca tinha marcas de sangue, e meu
coração disparou por não saber se eram dele ou do homem de quem ele foi
arrancar a cabeça.
o ouvir isso, não me importei com as suas palavras e abri a porta do box,
A
vendo Enzo com as mãos espalmadas na parede e com o corpo embaixo da
água, deixando que ela fizesse sozinha o trabalho de limpar toda a sujeira
que ele sentia que tinha em seu corpo. Pude sentir como esse era um
momento pesado e percebi que levar a vida dessa forma era mais um fardo
do que qualquer outra coisa.
or mais que tudo aquilo parecesse uma grande loucura, estar com Enzo era
P
o que eu queria. Além disso, estava disposta a enfrentar o que fosse preciso
para ficar ao seu lado.
Enzo então me abraçou com força, como se pudesse me prender ali
para sempre. Porém, do nada, ele me soltou, desligou o chuveiro e saiu do
box, jogando-me uma toalha e enrolando outra em sua cintura.
Eu não posso, Raissa, eu não posso mais ficar com você. Não podemos
—
continuar com isso, e você tinha razão em cada palavra: não somos do
mesmo mundo, não pertencemos à mesma sociedade e nunca vamos ter a
chance de ficar juntos! Acabou! Vai ser melhor assim, porque eu também
me…
nzo não terminou de falar o que ele queria dizer, e eu o segui até o seu
E
quarto.
Eu sei que você vai dizer que sou impulsiva, mas não tenho medo da
—
máfia e eu quero ficar com você.
— O quê?
Minha família escolheu uma noiva para mim, uma filha da máfia como
—
nossa lei exige, e eu preciso voltar para a Sicília, para oficializar o
compromisso e me casar.
Eu não tenho ninguém, quem decidiu tudo e escolheu a minha esposa foi
—
o meu pai; eu apenas vou me casar. É assim que funciona na máfia: nos
casamos por alianças, e não por sentimentos.
— Sua família decidiu que você vai se casar e daí você me trouxe
para uma espécie de despedida de solteiro?
Eu não precisaria vir tão longe se fosse apenas uma despedida de solteiro,
—
eu me…
— Você o quê?
Eu não quero te machucar. Você disse que seria só sexo, sem
—
envolvimento, só que hoje você falou que está apaixonada por mim, e eu não
posso corresponder, porque tenho compromissos que não posso largar,
porque custariam a honra da minha família e a minha vida.
or fim, saí do quarto dele sem olhar para trás, sem lhe dar a chance de
P
retrucar ou me permitir fraquejar.
Capítulo 28
Enzo Cosa Nostra
Cheguei ao hotel e tudo que eu queria era tomar um banho e me limpar mais
uma vez do sangue do inimigo que estava grudado na minha pele. Entrei no
box, liguei a água quente e deixei que ela escorresse livremente pelo meu
corpo, na tentativa de aliviar um pouco a tensão dos últimos dias, que era
provocada, na verdade, muito mais pelos sentimentos por Raissa que
estavam crescendo dentro de mim, do que por qualquer outro problema da
máfia.
nossa conexão era tão forte que senti a sua presença assim que ela entrou
A
no meu quarto. O cheiro inconfundível da sua pele foi sentido por mim
quando ela se aproximou do box, e, com isso, o meu corpo reagiu na mesma
hora desejando-a mais do que tudo.
la estava linda e transparente. Pela primeira vez sem ironias, sem farpas,
E
somente uma mulher olhando com amor para o seu homem. O seu beijo
intenso me dominou por completo, e tudo que eu queria era fazê-la ser
minha.
ntão a afastei do meu corpo e a deixei sozinha no box. Depois fui para o
E
meu quarto, sabendo que ela viria atrás de mim. Fiquei de costas para ela
enquanto me vestia, porque se eu a olhasse seria impossível dizer adeus.
aissa estava disposta a ficar ao meu lado, mas eu tinha que me casar com
R
uma filha da máfia e continuar o nosso legado. Por mais que achasse isso
injusto, por estar amando uma mulher que não tinha nosso sangue, eu
entendia que, se abríssemos nossa intimidade para o mundo, ficaríamos
vulneráveis e enfraquecidos. Por isso, precisávamos nos manter assim, à
margem da sociedade comum, vivendo em nosso mundo, com nossas leis e
sobrevivendo, pois, sem proteção, nenhum de nós ficaria vivo para um dia
contar história.
aissa estava linda deitada em sua cama. Quando me deitei também, ela, na
R
mesma hora, montou no meu rosto mostrando-me como estava pronta para
mim. Sua boceta deliciosa me melou todo, enquanto o seu corpo estremecia
em minha boca. Eu adorava o seu jeito despudorado e livre de se entregar
para mim. Então chupei a pontinha do seu clitóris, e ela gemeu alto quando
sentiu minha língua provando o gosto delicioso do seu orgasmo. Sua boceta
era quente e macia, e piscava, querendo-me dentro dela.
omo eu tinha que descansar, respirei fundo, tentando não pensar mais nela
C
e aceitar que minha noiva era Natalya. Precisava entender que Raissa nunca
mais seria minha. Entretanto, só de pensar nisso, senti minhas mãos se
fechando e vi quando os nós dos meus dedos ficaram brancos de tanta raiva
que eu estava sentindo.
∞∞∞
esembarquei na Sicília e segui direto para a Cosa Nostra. Assim que entrei
D
na sala de reuniões, meu tio me parabenizou pelo sucesso das negociações
em Dubai, e meu pai me deu um abraço. A seguir, começamos a conversar
sobre as investidas que estavam sendo feitas contra a Yakuza.
rocurei o tempo todo focar a reunião, mas percebia o olhar inquieto que
P
Luna dirigia a mim e tentava não pensar nisso e me inteirar de todas as
ações.
Não bastasse esse casamento arranjado, ele ainda vai servir como pano de
—
fundo para uma guerra entre máfias? Alguém se deu ao trabalho de
perguntar se o meu primo concorda com isso?
Luna, minha filha, as coisas não funcionam assim, e o seu primo, com
—
certeza, sabe dos seus deveres com a Cosa Nostra. Por favor, se concentre na
nossa guerra com a Yakuza, que é o motivo da nossa reunião.
Não faz diferença se será uma festa com ou sem pano de fundo para uma
—
guerra; é só mais um casamento por alianças, como os que acontecem quase
toda semana na nossa sociedade. A diferença é que esse tem status por ser de
um herdeiro da Cosa Nostra — falei com um tom de voz sarcástico. — E,
sim, meu tio, eu sei muito bem quais são os meus deveres com a Cosa
Nostra.
Claro que sim! Você está dispensado. E não pense que não notei seu
—
sarcasmo ao me responder — Dante falou visivelmente contrariado.
Que bom que o senhor notou o sarcasmo no tom de voz do Enzo, meu
—
pai! Sinal de que continua perfeito para ocupar sua cadeira e de que a idade
não afetou os seus sentidos.
Luna Cosa Nostra, não pense que por ser minha filha e minha herdeira,
—
você pode me responder da forma como quiser! Nesta sala, eu sou o Chefe, e
você me deve respeito!
Eu sei disso, tio Lorenzo, não preciso que nenhum de vocês me ensine o
—
que fazer, mas fiquem sabendo que sempre vou ficar do lado do Enzo. Não
gosto de ver que ele está sendo obrigado a fazer algo que não quer. Sinto
muito, mas sempre vou defender o meu primo, assim como a Matteo e
Antonella antes de qualquer coisa.
Nossas leis são claras, e o casamento do Enzo não tem nada de errado,
—
mas fico feliz em ver sua lealdade com os seus primos. Vocês são o futuro, e
essa união fortalece a nossa família — meu pai falou, e eu sorri para Luna
deixando a sala de reuniões.
eu pai sempre foi diplomático. Ele entendeu que Luna quis dizer que se
M
precisasse, enfrentaria todos caso eu não aceitasse o casamento. Mesmo
assim, ele transformou suas palavras em algo lindo para o futuro da Cosa
Nostra.
u fui direto para casa, e tudo que eu queria era tomar um banho e me
E
afundar nos assuntos da empresa e da Instituição, sem pensar em mais nada
durante essas duas semanas até o casamento. À noite, fui com meu pai até a
boate, acompanhei o recebimento de cargas durante a madrugada e, pela
manhã, fiz o balanço do movimento da noite.
uando voltamos para casa, minha mãe estava tomando café, e nos
Q
sentamos com ela, e o assunto girou em torno da Instituição. Assim que meu
pai terminou sua refeição, ela disse que subiria depois para encontrá-lo no
quarto, mas que primeiro precisava discutir alguns detalhes a respeito da
festa de noivado.
Boa sorte! — meu pai falou para mim e subiu a escada, rindo. — E não
—
perca seu tempo dizendo que não quer festa ou que pode ser algo simples,
porque sua mãe desconhece eventos pequenos.
Fale isso para ela! — minha mãe disse, rindo. — Matthew me disse que,
—
assim que ele falou que treinou Sarah, eu e Alice, a primeira coisa que
Raissa perguntou é se ele poderia treiná-la também.
Por favor! Raissa já é um perigo ambulante! Tudo que nós não
—
precisamos é dela pronta para matar!
Até que enfim, vejo um sorriso no seu rosto, meu filho! Você gosta dela,
—
porque…
Fico tranquilo em saber que Raissa está bem e protegida. Mesmo que eu
—
não visse as fotos, saberia disso, porque a senhora me deu a sua palavra.
— Não quero mais tocar nesse assunto. Delete essas fotos e deixe
que Sarah cuide de tudo. Sua nora será a Natalya, não se esqueça disso.
— Seria melhor que você lembrasse quem vai ser a sua esposa.
pós dizer isso, minha mãe se levantou e me deixou sentado sozinho à mesa
A
sem esperar uma resposta. Com essa atitude, deixou claro que eu poderia
falar o que quisesse, porém dela eu nunca seria capaz de esconder os meus
verdadeiros sentimentos.
Capítulo 29
Raissa
inha mente estava longe, fixa nos dias em que passei junto a Enzo. Logo,
M
meu peito doía de dor e saudade. Eu tinha que esquecer aquele homem que
simplesmente escolheu a máfia e me despachou para a América.
Senhorita O’Brien, espero que tenha feito uma boa viagem! O meu nome
—
é Matthew, e eu venho por parte da Senhora Cooper.
— Muito prazer!
Tchau, vão com Deus, tenham uma ótima vida! Espero que não morram
—
tão cedo em alguma emboscada! Ah, e obrigada por me desejarem tudo de
bom, seus dois mal-educados! — falei para os seguranças que me
acompanharam todos esses dias em Dubai e na viagem de volta, que
simplesmente foram embora sem se despedir.
Não os culpe por isso! — Matthew falou, rindo. — Eles têm ordem para
—
fazer a sua segurança e morreriam por você se fosse preciso, e nada mais do
que isso.
Não sei por que eu esperava algo diferente desses dois seguranças se o
—
chefe deles é outro mal-educado, que me largou em Dubai sem dizer um
adeus e agora conseguiu novos seguranças para mim, ou seja, se livrou da
otária aqui para sempre!
— Eu não diria isso, afinal, estou aqui para cuidar de você, não estou?
Sim, ele me passou para a Máfia das Mulheres. Até acho bom, porque
—
sou fã da Sarah Cooper. Eu vou conhecê-la?
Já ganhei o meu dia sabendo que ela leu meu artigo! — exclamei,
—
sorrindo, enquanto caminhávamos até o estacionamento do aeroporto. —
Quanto à outra pergunta, não pretendo escrever mais nada sobre a máfia;
preferia, inclusive, esquecer que ela existe, mas infelizmente acho que não
tem como já que sou alvo de uma delas.
Vai ficar tudo bem, só que vai ser tudo um pouco diferente, mas você
—
pode fazer de conta que tem segurança porque ficou milionária.
Minha experiência até hoje não foi muito boa com os mafiosos. Um me
—
sequestrou, me levou para uma boate de prostituição e depois tentou me
matar; outro também tentou me matar em Dubai; e o que eu achava que era o
meu herói não passa de um idiota que deve estar com a noiva agora e rindo
de mim que me declarei para ele! Que raiva!
Eu treinei Sarah Cooper, Alice Jordan e Nina Cosa Nostra, quando elas
—
decidiram assumir a máfia enquanto Ryan Cooper estava em coma. Fui
sequestrado pela Corsa junto a Sarah e testemunhei a força dessa mulher.
Fiquei ao lado de Nina quando ela deixou a Cosa Nostra e vi quando Enzo
nasceu. Eu estava com ele quando se sentiu mal e descobrimos que ele
estava entre a vida e a morte. Inclusive, sou seu padrinho! Estive presente
em todas as ações da Máfia das Mulheres, vi o seu nascimento e me orgulho
da lei que leva o nome de Sarah Cooper uma pessoa admirável. E agora
estou aqui, para garantir que você também tenha uma vida longa e que a
Salvatrucha e a Yakuza nunca cheguem perto de você.
Nessa hora, fui subindo cada degrau do edifício onde eu morava até
chegar ao segundo andar, tentando deixar tudo para trás. Matthew me seguia,
acompanhado por quatro homens. Olhando para eles, ninguém nunca diria
que eram soldados da máfia. Assim que entramos no meu apartamento, senti
um enorme vazio, e tudo parecia diferente, naturalmente porque eu havia
mudado e não era mais a Raissa de antes.
Agora que está tudo certo, preciso ir! Estarei em San Francisco até
—
amanhã e então retornarei para Los Angeles. Qualquer coisa, você tem o
meu número e pode me ligar. No início, você vai achar estranho, mas depois
vai se acostumar e nem vai se lembrar dos seguranças.
Não, Senhorita O'Brien, ele nos confiou essa missão e disse que não quer
—
relatórios.
Tudo bem. Também não vou mais querer saber nada sobre ele. Eu só
—
queria entender, porque uma coisa é pesquisar como jornalista e saber que
vocês têm leis, regras e devoção à Instituição; outra coisa é viver essa
realidade. Você, por exemplo, parece ser um homem tão bom, no entanto...
Eu falo demais! Esquece!
Aqui só tem uma jovem de vinte e três anos que quer entender por que
—
levou um pé na bunda.
Vamos lá então! Vou te explicar como funciona e por que Enzo tomou a
—
decisão certa em se afastar e não atrapalhar mais ainda a sua vida. Acredite,
não está sendo nada fácil para ele.
Capítulo 30
Raissa
Já tinham se passado três dias desde que voltei para San Francisco, e havia
chegado o momento de retornar ao jornal e finalmente voltar a trabalhar. Os
últimos dias foram de reflexão e de muitas horas no FaceTime com os meus
pais e com as minhas amigas, que queriam saber de tudo que tinha
acontecido, mas tiveram que se contentar com o pouco que pude contar. Para
elas, disse que precisei de um tempo, fiquei com a minha família, estava de
volta, porém não queria mais falar do passado.
inhas amigas, assim como o meu editor, não precisavam saber de Enzo e
M
nem de Dubai; apenas que tirei uns dias para descansar depois de tudo que
passei e que retornaria à minha vida.
Primeiro, parabéns pelo excelente artigo! Também quero que saiba que eu
—
sinto muito por tudo que você passou!
— Dez dias!
— Fechado.
epois fui olhar os meus arquivos e renomear a pasta com o meu último
D
trabalho, colocando “concluído” ao lado do título e a deixando exatamente
acima da pasta que se chamava Sarah Cooper.
J ustamente por Sarah, que não tinha sido criada nos moldes da Instituição ter
se tornado uma lenda, com direito a uma lei com o seu nome, a Cosa Nostra
e a Bratva, agora aliadas, assim como as rivais, que tremiam só de escutar o
nome dessa mulher, não aceitavam de forma alguma renunciar à lei de
sangue para formar alianças por meio dos casamentos.
ma parte que eu não sabia era que Nina tinha ficado cinco anos afastada da
U
Cosa Nostra e que Enzo só conheceu o pai com essa idade. Eu sabia pelas
minhas pesquisas que Enzo teve leucemia e teria feito um transplante.
Porém, tempos depois, descobri que era verdade e que seu pai tinha salvado
a sua vida. Segundo Matthew, Lorenzo conheceu o filho já a caminho do
hospital e, sem questionar nada, disse que daria a sua vida por Enzo. Por
isso, além de todo o comprometimento com a família, com o seu legado, ele
jamais falharia com o seu pai.
o lembrar disso, meu coração ficou apertado e lágrimas rolaram pelo meu
A
rosto, lembrando-me dele. Matthew me contou que ele se casaria e que o
melhor para mim era esquecê-lo, porque nosso amor era impossível.
chava tão injusto isso tudo, mas não sabia se Enzo sentiu, algum dia,
A
qualquer coisa por mim. Afinal, eu me declarei, mas ele ficou em silêncio e
foi embora sem dizer adeus.
atthew me explicou que ele queria que eu vivesse e fosse feliz, e por isso
M
disse que aceitaria o casamento e tudo que decidissem em troca da minha
segurança.
Por mais que tivéssemos discutido e que eu tivesse dito com raiva
que nunca mais queria vê-lo, pelo menos uma mensagem de que estava
deixando o hotel ele poderia ter enviado. Eu sei que aproveitaria o momento
para mandá-lo tomar no cu novamente, mas pelo menos eu saberia que ele
quis se despedir, pensou em mim ou qualquer outra coisa que nos fizesse ter
um último contato.
Raissa: Oi, mãe, tudo bem? Acho que estou ficando velha, porque
estou te dando razão e vendo que mãe está sempre certa. Preciso de colo!
Terminei um trabalho hoje e ainda bem que fechei como freelancer para ter
mais liberdade de trabalhar de casa. Me aguardem, que amanhã estou
chegando.
Yelena: Mãe está sempre certa, já dizia sua avó! Eu estou na casa
dela, por falar nisso, porque seu avô não passou muito bem esses dias, nada
grave, e acho que sua presença vai alegrar essa casa.
O dia do meu jantar de noivado chegou, e, por conta disso, acordei mal-
humorado e sem paciência para ficar jogando conversa fora. Então me
arrumei e pensei em ir para a casa de tortura, já que tinha alguns
interrogatórios pendentes, mas encontrei Luna, que estava me aguardando na
sala da minha casa.
— Vai sair?
O que você acha? A Cosa Nostra não vai parar só porque vou ficar noivo,
—
e temos assuntos pendentes. Estou indo interrogar…
E qual era o seu grande plano, Luna? Que eu largasse a Cosa Nostra,
—
tomasse Raissa para mim, e nós dois nos transformássemos em alvos fáceis
dos nossos inimigos? Ou você acha que romper os laços com a Cosa Nostra
me faria continuar sendo parte da família? Raissa é alvo da Salvatrucha e da
Yakuza. Como vou protegê-la abandonando tudo?
Eu não sei, mas, de hoje até esse casamento, muita coisa pode acontecer,
—
e não vou ficar parada vendo você ser infeliz.
Pensei que você ficaria ao lado da noiva escolhida para o nosso primo —
—
Antonella surgiu do nada, defendendo a minha futura esposa.
Chegou à sonhadora que fica lendo romances e achando que a vida é cor-
—
de-rosa, além, é claro, de achar supernormal ser uma esposa troféu. Sugiro,
priminha, que você converse com sua mãe. Talvez tia Louise te faça
enxergar que romances e séries românticas estão bem longe da nossa
realidade.
Eu sei muito bem a história das minhas avós, porque minha mãe já me
—
contou, só que as coisas mudaram depois da Lei Sarah Cooper.
O que mudou é que agora podemos interferir dentro dos lares e impedir a
—
violência física, Antonella, e isso é uma grande vitória. Mas ainda temos
nossos futuros decididos por nossos pais, que escolhem nossos maridos. Até
eu, que vou liderar a Cosa Nostra, não sei se conseguirei me livrar de me
casar com quem meu pai escolher para mim.
— Acontece que o certo seria que esse fosse o sonho dos dois! Você
não entende isso, Antonella? Nossos pais se casaram assim e deu certo, mas
a maioria dos casamentos não termina bem ou é de aparência. E esse do
Enzo vai ser um desastre, porque seu coração já tem dona, e sua noiva não
tem a menor chance de ser feliz.
Tudo bem, quando for o seu jantar de noivado, seja com quem for, até um
—
velho barrigudo, viúvo e que fume muito charuto, vou comemorar, já que,
para você, está tudo certo, mas agora estou falando com Enzo e não vou
perder meu tempo com você!
— Faça a pergunta.
Você está fazendo isso para garantir a proteção de Raissa, como você
—
falou lá na sala?
Entendo. Então é por amor que você está embarcando nesse casamento
—
arranjado. Eu queria ser a Chefe para impedir isso!
Quando você for a Chefe, ainda assim, teremos que manter essa lei, senão
—
perderemos o controle. É como você falou para Antonella: muita coisa
melhorou, mas algumas coisas nunca vão mudar! E agora vai lá na sala e
conversa a com nossa caçula, porque ela não está errada em querer seguir os
costumes.
Vou conversar com Antonella. Seria mais fácil se Raissa fosse uma de
—
nós, porque daí a gente desfazia esse compromisso e vocês se casavam.
inutos depois, liguei para Matteo e o convidei para beber comigo numa
M
espécie de despedida de solteiro antecipada.
∞∞∞
Tomei um banho, aparei a barba, que estava há dias por fazer, peguei
meu perfume e, assim que o coloquei, eu me lembrei de Raissa falando que
amava o meu cheiro. Respirei fundo, vesti meu terno e desci as escadas,
escutando as vozes dos convidados. Todos os olhares se voltaram para mim,
e me senti a noiva chegando atrasada ao casamento.
Você não está indo a lugar algum — ela disse, segurando o meu braço e
—
me impedindo de deixar o escritório. — Eu sei que você conheceu uma
americana, que, segundo Matthew, se parece comigo no jeito de falar, o que
já me fez amar a tal Raissa. Agora você me responde: por que está aqui
ficando noivo no lugar de estar com a mulher da sua vida?
Era disso que eu sentia falta, de sorrir! Raissa me fazia rir, algo
simples, mas que não era um costume na nossa sociedade. Por vivermos em
guerra, um refúgio que nos permitia respirar aliviados fazia muito bem, e
esse lugar eu só encontrei junto da minha jornalista encrenqueira.
jantar se encerrou, e, assim que passamos para a outra sala, meu pai subiu
O
dois degraus da escada e iniciou um discurso, que falava de união e honra.
Por fim, disse que naquela noite estavam selando mais uma aliança entre
famílias da Instituição.
essa hora, caminhei até Natalya, segurei a mão dela e coloquei em seu
N
dedo um anel de noivado, selando-o com um beijo. Todos à nossa volta
bateram palmas, e a seguir tudo voltou ao cenário normal, com uma rodinha
de mulheres e outra de homens. Ao contrário do que imaginei, vários
associados estavam presentes com as suas famílias e filhas em idade para se
casar.
eu pai, meus tios e meus futuros sogros seguiram para o escritório, para
M
falar dos termos do casamento e de quanto isso renderia para eles, enquanto
eu convidei minha noiva para dar uma volta do lado de fora da casa.
O reino Cosa Nostra, cercado por muros altos que escondem a verdadeira
—
identidade dos CEOs do vinho.
Não, nós vamos morar em uma das casas que temos na Sicília — inventei
—
isso porque, na verdade, ainda não tinha decidido nada sobre o assunto.
Enzo, você é um homem, tem trinta e um anos e sabe bem das suas
—
responsabilidades. Não estou falando das leis ou das regras da Instituição,
mas do compromisso que você assumiu hoje, quando aceitou esse noivado.
Acontece que o seu pai não estava apaixonado por outra mulher. Eu
—
sugiro que você pense bem, porque ainda tem duas semanas até esse
casamento acontecer.
Não estamos falando de violência física, porque sei que não criei um filho
—
para agredir sua esposa — minha mãe disse e segurou o meu rosto. — Você
tem exatamente duas semanas para se entregar de verdade a esse casamento,
que você mesmo aceitou, e fazer sua esposa feliz depois que disser sim para
ela.
Agora, se algo acontecer e mudar tudo até lá, estaremos do seu lado! —
—
Alice afirmou antes de fechar a porta e deixar o meu quarto.
Eu olhava para Enzo, e o ar parecia estar sumindo dos meus pulmões. Só
havia duas semanas que nos separamos, mas parecia que fazia uma
eternidade. Eu já não era nem de longe a jovem que ele deixou no hotel em
Dubai e que pensava viver um conto de fadas, porque tinha sido esmagada
por um choque de realidade.
— Posso entrar? Eu sei que vim sem avisar, mas nós precisamos conversar.
— Entra! Você veio fazer o que aqui? Trazer seu convite de casamento?
Não, eu vim te dizer que, para mim, você nunca foi uma foda qualquer de
—
uma despedida de solteiro.
Sei que mereço você me tratar assim, mas eu não podia… não podia me
—
casar sem te dizer…
nzo ficou em silêncio e parecia lutar com algo escondido no seu interior.
E
No entanto, aquela Raissa que atropelava tudo, por alguma razão resolveu se
calar e aguardar até que ele estivesse pronto para falar.
ntão abracei Enzo pelas costas e deslizei minhas mãos pelos seus braços,
E
sentindo-o estremecer com o meu toque.
essa hora, Enzo se virou, e nosso beijo foi intenso, demorado, como quem
N
estava se reencontrando e se despedindo do seu amor ao mesmo tempo.
nzo gozou forte na minha boca, e eu senti o seu sabor único, marcando a
E
minha garganta enquanto ele me olhava com os olhos semicerrados e cheios
de desejo. Ele me levantou do chão e me jogou na cama, e com as suas
mãos, abriu as minhas pernas e as jogou para cima. Depois começou a me
chupar sem delicadeza, enquanto minha boceta piscava, querendo mais dele.
Me fode como só você sabe fazer meu mafioso! — falei, excitada com as
—
suas palavras.
nzo entrou de uma vez só dentro de mim, e eu senti seu pau enorme e duro
E
me dominando. Quanto mais rápido e fundo ele ia, mais eu me contorcia
embaixo dele.
Eu te amo, Raissa! Te amo muito, mas não posso deixar de ser quem eu
—
sou.
Também te amo, Enzo, e jamais iria querer que você deixasse de ser esse
—
mafioso sombrio e gostoso — falei e o beijei. — Eu te amo assim, do seu
jeito, e, se você largar tudo para ficar comigo, não vai ser mais o meu Enzo
Cosa Nostra, velhote e cortador de cabeças, e sim uma sombra dele.
Além disso, vamos ficar sem proteção, e você é tão encrenqueira que não
—
duraríamos vinte e quatro horas vivos. Não tenho como te proteger fora da
máfia, e, também não sobreviverei aos meus inimigos.
u não tinha o direito de pedir que ele largasse a sua vida e suas
E
responsabilidades para fugir comigo e vivermos escondidos, exilados do
mundo.
or fim, Enzo se foi, e eu sabia que seria para sempre. Então arrumei as
P
minhas coisas e segui para o aeroporto. Entrei no avião e me afundei na
poltrona, sentindo todo o meu corpo doer, enquanto lágrimas rolavam pelo
meu rosto.
Eu sempre fui dura, fria, mas, de uns tempos para cá, passei a me
sentir totalmente quebrada por dentro, por não poder ter o direito de ficar
com o homem da minha vida, por uma regra da máfia que não poderia ser
quebrada.
uando cheguei à Filadélfia, fui direto para a casa dos meus avós e, no
Q
caminho, recebi uma mensagem de Matthew.
aissa: Não. Isso tudo é muito injusto, Matthew! Eu e Enzo nos amamos!
R
Senti que se eu pedisse para ele largar tudo, ele faria isso, só que eu não tive
coragem. Não achei justo, principalmente porque também teria que esquecer
a minha família e sumir no mundo com ele. Não posso abandonar meus pais
para sempre, nem os meus avós que já têm idade avançada. Como eu poderia
pedir isso para ele largar tudo, se não posso fazer isso também?
Cheguei finalmente à casa dos meus avós e, quando minha avó abriu
a porta e me abraçou, comecei a chorar e não consegui segurar a tristeza que
estava guardando dentro de mim.
O inverno rigoroso fazia com que o meu corpo tremesse parecendo que
congelaria, mesmo estando próximo à pequena lareira da minha casa, que
ficava na área mais pobre de San Petersburg, onde eu morava com os meus
pais e meus dois irmãos mais novos, Anton e Vadim.
Meu pai sempre foi um homem rude, de poucas palavras, que não
tinha gestos de carinho com a esposa e os filhos. Por estar desempregado,
ficava cada vez mais endividado, ao mesmo tempo em que se entregava à
bebida e ao vício dos jogos em cassinos clandestinos que pertenciam à
Tambovskaya, a máfia de San Petersburg, um dos grupos da Solntsevskaya
Bratva, o maior crime organizado da Rússia.
Vai para o lugar de sempre, que eu vou até lá encontrar você — respondi
—
bem baixinho, com medo de que minha mãe escutasse.
u inventei uma desculpa para sair, alegando que queria respirar um pouco
E
de ar puro, e deixando claro que os meus irmãos estavam dormindo, que a
casa estava toda limpa, e o jantar que era sempre sopa rala de batata e
cenoura, estava pronto para ser servido.
Desculpa por ter aparecido na sua janela em plena luz do dia, mas eu não
—
aguentava mais de vontade de te ver.
Eu sei, meu amor, também estava com saudades, mas infelizmente o vício
—
do meu pai está cada vez maior. Com isso, ele só chega pela manhã, e temo
encontrá-lo ao sair de casa. Estou preocupada porque suas dívidas estão
aumentando, e eu escuto suas queixas todos os dias e as lamentações da
minha mãe com medo de ele estar devendo à Tambovskaya.
Isso que me assusta, já que a porta dele é também a minha, a dos meus
—
irmãos e a da minha mãe, de quem, mesmo me colocando para cuidar o
tempo todo dos filhos que ela teve como se fossem meus, não consigo ter
raiva.
Seu coração é doce, e, por isso, você cuida de tudo e de todos da sua casa
—
com amor. Você é especial, Polina! Eu me sinto um homem de sorte, porque
vamos nos casar, ter filhos, ser muito felizes, e ficar velhinhos juntos e
sentados abraçados no sofá velho da nossa casa. Em breve eu vou tirar você
dessa vida de escravidão. Eu sei que você nunca reclama, mas não é certo
que os seus pais deixem todas as obrigações da casa nas suas costas.
Eu estou tão feliz porque finalmente vamos poder nos ver sem ser às
—
escondidas! Eu te amo! Por favor, nunca se esqueça que você será para
sempre o amor da minha vida!
oltei feliz para casa, ignorando o frio e os meus pés que estavam
V
congelando na neve devido ao solado gasto da minha velha bota.
Três meses!
Esse era o tempo para eu começar a ser feliz. Logo, um sorriso bobo
deu vida ao meu rosto, mostrando ao mundo a minha felicidade.
ssim que avistei minha casa, notei a presença de dois carros pretos
A
estacionados em frente ao portão. Entrei apressada, com medo de que tivesse
acontecido algo com o meu pai que estava há dois dias perdido pelos
cassinos do submundo de San Petersburg.
Até que enfim você chegou! — meu pai gritou. — Leve os seus irmãos
—
para o quarto que eu estou com visitas!
ntrei no meu quarto com as pernas trêmulas e fechei a porta. Alguma coisa
E
no tom de voz daquele homem me deixou em alerta, e por isso eu me sentei
encolhida na minha cama, abraçada aos meus irmãos.
O homem bravo falou que vai matar o papai — Anton, que tinha seis
—
anos, disse, assustado. — Eu tenho medo dele!
meu coração disparou por causa das palavras do meu irmão. Aqueles
O
homens de preto, com um jeito intimidador, só poderiam ser os credores do
meu pai, em outras palavras, a máfia.
∞∞∞
u não sabia o que dizer e fiquei desnorteada com as palavras do meu pai,
E
que não pareciam fazer sentido. Por que teria que deixar a minha casa para
que eles sobrevivessem? Que mal eu fiz para merecer esse castigo? Sempre
fui uma boa filha e estava sendo expulsa da minha casa!
Anda com isso, Polina, senão você vai só com a roupa do corpo! — meu
—
pai falou, interrompendo os meus pensamentos. — Os homens estão com
pressa e eles não têm paciência para esperar por ninguém!
Logo depois, minha mãe entrou no meu quarto com uma pequena
mala nas mãos, chorando e me pedindo perdão. Ela disse que não tinha
como fazer nada para mudar o meu destino, e em seguida, começou a
colocar minhas poucas roupas na mala e, depois de tudo pronto, me entregou
para que eu a carregasse até a sala e fosse embora cumprir o preço pela
irresponsabilidade do meu pai.
E se eu não quiser ir? — perguntei, olhando para o meu pai, que insistia
—
em não me encarar.
Você não tem escolha, porque já decidiram que você vai com eles. Agora,
—
se você fizer alguma besteira ou tentar fugir, eles matam a mim, a sua mãe e
aos seus irmãos — ele falou, olhando finalmente nos meus olhos.
ntão olhei para os meus irmãos e percebi que não poderia ser responsável
E
pelas suas mortes. A minha mãe, apesar do grito que deu na sala,
conformou-se rápido com a minha situação. Quanto ao meu pai, com certeza
continuaria jogando até levar um tiro e ir para o inferno por ter vendido a
própria filha.
Meu coração apertou por saber que não seria mais a esposa de
Nikolay e por perceber que, naquele momento, todos os meus sonhos
estavam sendo desfeitos para sempre. Eu sabia que morreria depois de servir,
com o meu corpo, a esses homens de terno que estavam me escoltando até o
carro.
ão olhei para trás e, com o coração sangrando, deixei a casa onde nasci e
N
vivi por dezoito anos para seguir um destino que, com certeza, seria triste e
doloroso.
A viagem até Moscou foi silenciosa e, por causa da neve, levou mais ou
menos dez horas, três a mais que o normal, como o motorista explicou para
aquele homem que me comprou como se eu fosse um objeto e de quem eu
nem sabia o nome.
— Sou.
eus olhos nunca tinham visto nada tão lindo como o jardim imenso coberto
M
de neve e fontes com águas congeladas.
homem que me trouxe como uma escrava saiu do automóvel sem dizer
O
uma palavra, seguido por seu segurança, que estava no banco da frente e que
passou dez horas sem dizer nada, deixando-me com o motorista, que parecia
ser tão apático quanto os outros dois.
noite estava fria, e o casaco que eu usava de nada servia, pois eu estava
A
congelando. O frio me fez ter vontade de ir ao banheiro, mas, com certeza,
eu não poderia usar nenhum daquele castelo. Sendo assim, teria que
aguardar a reunião acabar e torcer para que o miserável, que se julgava meu
dono, parasse em algum lugar. Porém, o medo de que ele fosse me obrigar a
ser dele, me fez engolir em seco e esquecer a vontade de fazer xixi, que já
estava me deixando com cólica.
Aleksey! — ele respondeu orgulhoso, porque eu disse que ele era forte,
—
enquanto enxugava as lágrimas que escorriam pelo seu rosto.
Ela saiu de um dos carros quando o menino rolou escada abaixo, senhor,
—
e o socorreu. Me desculpe, senhor, ele foi mais rápido que eu… — uma
moça, que deveria ter por volta dos vinte anos, explicou, aproximando-se,
sendo interrompida pelo homem que gritava comigo e levando um forte tapa
no seu rosto que a jogou para longe.
Quando eu te dei liberdade para se dirigir a mim sem ser chamada? Você
—
só serve para ser comida por mim sua vagabunda, e tirando seus gemidos,
não aturo a sua voz! Soldados, levem essa mulher que não me serve para
mais nada e a joguem na rua para morrer congelada já que ela não tem mais
utilidade! — ele falou enquanto me olhava dos pés à cabeça.
Sua cadela vira-lata, quem mandou você sair do carro? — ele gritou
—
ferozmente, com o rosto quase colado no meu. — Chefe, me desculpe por
isso! Eu sei que foi uma falha grave, mas não a treinei ainda. Acabei de
recebê-la como pagamento de uma dívida e vim direto para a reunião.
— Eu vi o menino caindo…
ão consegui terminar a frase e caí no chão, nos pés da criança que socorri,
N
com o forte tapa que levei no meu rosto. O menino me olhou como se fosse
normal ver pessoas sendo agredidas, enquanto esfregava seus bracinhos que
deveriam estar doendo.
Você, Aleksey, saiba que eu vi lágrimas nos seus olhos quando desci as
—
escadas, e o futuro Chefe da Bratva nunca chora — o homem, que eu não
tinha a menor dúvida de que se tratava de Aleksandr Mikhailov, falou,
segurando com força os bracinhos do filho e ignorando a sua dor. — Talvez
você precise de uns dias no inferno para recordar o seu lugar no mundo.
Suba agora essas escadas e me espere no seu quarto para conversarmos.
Peça que ela te conte a sua história se quiser saber alguma coisa porque
—
eu não estou interessado. O Chefe mandou que ela tomasse um banho e
colocasse as roupas de serviçais porque vai trabalhar na casa cuidando do
menino, o nosso futuro Chefe da Bratva — o tal Petrov falou e soltou o meu
braço, deixando a cozinha. — Ah, deem um banho urgente nela que está
fedendo a xixi! — ele disse, rindo. — Se a coitada se mijou toda com o que
viu lá fora, imagina com o que a espera nesta casa!
Qual o seu nome? — a mulher perguntou com um tom de voz que era um
—
misto de pena com carinho.
∞∞∞
oltei para o quarto e me sentei na cama, chorando pelo meu triste fim,
V
enclausurada em um mausoléu. Era inevitável não pensar em Nikolay e no
que ele faria quando soubesse que fui vendida.
o ouvir isso, meu coração disparou, e minhas mãos não paravam de tremer.
A
Então olhei assustada para Anna, pedindo ajuda em silêncio, mesmo sabendo
que ela não poderia me proteger daquele homem.
Vamos logo, porque ele vai sair com o seu amigo, o Senhor Koslov, e
—
esses dois, quando saem em missão ou para jogar, levam dias para voltar.
nfim, acompanhei Anna e fiquei aliviada por saber que o monstro ficaria
E
alguns dias fora da mansão. Aquele homem me dava medo, e eu ainda não
sabia como fazer para viver na mesma casa em que ele e seus homens, todos
assassinos frios e cruéis.
ssim que entrei na sala com Anna, o Senhor Mikhailov já estava na porta e
A
se virou para falar comigo. Seu olhar frio e seu tom de voz intimidador me
deixaram com as pernas trêmulas. Tive medo de desmaiar e acabar
apanhando por isso, porque, se tinha uma coisa que aprendi rápido ali, era
que as mulheres eram os sacos de pancada dos homens da máfia.
Odeio pessoas que não vêm imediatamente à minha presença quando são
—
solicitadas. A partir de agora, você vai trabalhar nesta casa e servir à Bratva,
da forma e quando eu determinar. Sua função será tomar conta do meu filho
Aleksey sem fazer as suas vontades. Por enquanto, ele não está na casa,
viajou e vai ficar três dias de castigo. Depois desse tempo, os soldados vão
trazê-lo de volta. Anna, oriente essa moça para que apenas verifique os
horários de alimentação e higiene do meu filho, e que não fique contando
histórias ou cantando canções idiotas para ele.
Eu imagino que você esteja com fome. Coma tudo e depois descanse,
—
porque amanhã é um novo dia!
lhei para o prato de comida e lembrei que a minha última refeição tinha
O
sido um copo de leite com alguns biscoitos que dividi com o meu irmão.
Fazia muito tempo que eu não me alimentava direito, e aquela comida, bem
diferente da sopa rala da minha casa, parecia deliciosa. Mesmo assim, eu não
tinha vontade de me alimentar.
Não adianta você ficar sem comer, porque isso não vai mudar o fato de
—
que você só vai sair desta casa se o Senhor Mikhailov assim decidir.
— Sou uma prisioneira, mas ele fala como se eu fosse uma empregada.
Você não conhece a máfia, por isso fala assim. Todos os que nascem ou
—
entram de alguma forma para a Instituição se tornam prisioneiros.
Ou são jogados fora como a moça que trabalhava aqui e cuidava do
—
menino antes de mim.
Sim, mas, ainda assim, o receio por ter vivido nesta casa e de algum dia
—
cruzar novamente com o Chefe te faz prisioneira do seu medo para sempre.
Sim, mas sua esposa nunca sai do quarto. Ela ficou estéril depois do
—
nascimento de Aleksey, e ele a odeia por isso. Mas te aconselho a não querer
saber demais. Aqui, o melhor é trabalhar em silêncio.
Me desculpem por perguntar, mas vocês sabem para onde ele viajou? —
—
indaguei às duas mulheres que estavam me ensinando a tirar o pó dos
móveis do jeito certo, a arrumar as camas e a limpar o banheiro, que era
cheio de azulejos de caveira.
Ele não viajou; foi enviado para o Inferno Bratva — uma delas, chamada
—
Pietra, respondeu e abaixou a cabeça.
u senti uma brisa gelada entrando pela janela e tocando as minhas costas, e
E
uma sensação de pavor tomou conta do meu corpo.
∞∞∞
u estava sozinha no quarto de Aleksey, que não tinha nada para arrumar, já
E
que o menino estava fora e ali não tinha livros ou brinquedos para organizar.
De repente, o garoto entrou acompanhado por dois soldados que o
entregaram a mim e saíram sem dizer nenhuma palavra.
m seguida, arrumei Aleksey, que teria aula de inglês naquela tarde, e fui
E
buscar o seu almoço, para que ele não fosse estudar de estômago vazio.
Assim que voltei para o quarto, servi-lhe, e ele comeu tudo com muita
rapidez, como se não se alimentasse há dias. Depois tomou quase duas jarras
de água. Então me dei conta de que ninguém deveria levar comida ou água
ao Inferno Bratva.
urante as três semanas seguintes, a minha rotina ficou toda por conta de
D
Aleksey e suas inúmeras aulas de inglês, francês, espanhol e italiano. Ele
tinha também um professor que o ensinava a ler e a escrever, além dos
instrutores de luta. A criança nunca brincava, só ficava, como eles diziam,
preparando-se para ser o Chefe da Bratva.
leksey era uma criança calada e com um semblante triste, que estava sendo
A
moldado para ser um Chefe frio e sanguinário no futuro, mas para mim ele
era só um menino solitário, e talvez por saudade dos meus irmãos, eu acabei
me afeiçoando a ele que não demonstrava nenhum sentimento por mim.
om isso, quando ele ia dormir, eu cantava para ele que ficava me olhando
C
parecendo perdido sem entender que estava recebendo uma coisa chamada
carinho.
https://youtu.be/T8lefqmdYSk
Колыбельная (Тили-тили-бом)
Тили-тили-бом
Tili - tili - bom
Закрой глаза скорее,
Feche os seus olhos imediatamente
Кто-то ходит за окном,
Alguém está caminhando lá fora
И стучится в двери.
E esse alguém bate na porta
Тили-тили-бом.
Tili - tili - bom
Кричит ночная птица.
Os pássaros noturnos estão cantando
Он уже пробрался в дом.
Ele está dentro da casa
К тем, кому не спится.
Daqueles que não conseguem dormir
Он идет…
Ele está vindo…
Он уже
Ele está chegando…
близко…
Perto…
Тили-тили-бом.
Tili - tili - bom
Ты слышишь, кто-то рядом?
Tá ouvindo ele se aproximando?
Притаился за углом,
Escondido no canto
И пронзает взглядом.
Olhando direto pra você
Тили-тили-бом.
Tili - tili - bom
Все скроет ночь немая.
A noite silenciosa esconde tudo
За тобой крадется он,
Ele se esgueira atrás de ti
И вот-вот поймает.
E vai pegar você.
Он идет…
Ele caminha…
Он уже
Ele está chegando…
близко…Тили-тили-бом.
Tili - tili - bom
Ты слышишь, кто-то рядом?
Tá ouvindo ele se aproximando?
Притаился за углом,
Escondido no canto
И пронзает взглядом.
Olhando direto pra você
Perto.
Capítulo 35
Polina
Quando eu entendi que não adiantava pedir perdão para que aquele
homem parasse de me agredir, fechei os meus olhos, e as lágrimas rolaram
silenciosamente pelo meu rosto.
m seguida, o monstro saiu, puxando o filho pelo braço e avisando que mais
E
tarde conferiria o seu aprendizado das semanas em que esteve ausente. Ele
não olhou para trás, não se importou com o meu sangue no chão do quarto,
muito menos com o fato de ter me destruído para sempre.
lgum tempo depois, Anna entrou no cômodo e me olhou com pena, mas
A
não disse uma palavra. Ela apenas se aproximou, ajudou-me a me levantar e
me vestiu com um novo uniforme, para que eu pudesse atravessar o casarão
e chegar ao meu quarto. Com cuidado, ela encheu a banheira, colocou
algumas gotas de um óleo que tirou do bolso do seu avental e me disse para
relaxar que tudo ficaria bem.
unca mais nada ficaria bem, e Anna sabia disso, mas foram as palavras que
N
ela tinha naquele momento para me confortar. Fechei os meus olhos e chorei
em silêncio, enquanto a água quente da banheira me aquecia por fora, já que,
por dentro, eu seria gelada para sempre.
esde aquela manhã, perdi as contas de quantas vezes fui usada por aquele
D
monstro. O inverno se foi e levou a neve, deixando cicatrizes incuráveis no
meu corpo e na minha alma.
O verão chegou, marcando mais uma estação em que eu viveria sob o jugo
de Aleksandr Mikhailov. Eu já não sentia mais dor física com suas investidas
e inúmeras agressões, pois tudo dentro de mim havia morrido. O que eu
queria era que o meu fim chegasse, e orava para que isso acontecesse em
breve, pois não suportava mais viver.
∞∞∞
Em seguida, caminhei pelas ruas sem saber que rumo tomar, pois não
conhecia Moscou. De repente, eu me lembrei do dinheiro que havia na
minha bolsa e pedi informações às pessoas sobre onde haveria alguma
pensão. Com base no que me disseram, fui a três diferentes até encontrar
uma que poderia pagar por três noites.
Eu disse que era sozinha, que tinha saído da casa dos meus pais e ido
para Moscou com uma família que me deixou na rua; por isso, precisava de
emprego. Perguntei se, por acaso, ela sabia de algum lugar que precisasse de
alguém para limpar ou cozinhar. Por sorte, ela respondeu que eu lembrava
muito sua filha que tinha fugido da Rússia e que, se eu soubesse cozinhar
bem, poderia ficar lá em troca do meu trabalho. Inclusive, falou que, se
sobrasse tempo para arrumar os quartos, poderia me pagar por isso.
Eu aceitei a oferta e trabalhei duro por um mês, guardando o meu
dinheiro para ir embora de Moscou, porque ali eu vivia com medo de
esbarrar com algum soldado da mansão, embora nunca colocasse os meus
pés do lado de fora da pensão.
∞∞∞
Assim que amanheceu, pela primeira vez, saí do hotel entre o horário
do café da manhã e o almoço e fui até uma farmácia comprar um teste de
gravidez.
Voltei para a pensão e não consegui esperar até a noite; fiz o teste
assim que cheguei. Minha reação com o resultado foi como ser arrastada
novamente para o pior pesadelo da minha vida.
Constatei que carregava dentro de mim um bastardo do Chefe da
Bratva, que ele, com certeza, mataria se soubesse da existência.
Se por segundos cheguei a pensar que essa criança seria uma semente
do mal que sofri, no mesmo instante, entendi que ela era tudo que eu tinha e
que precisava protegê-la de todos os perigos do mundo, ao contrário do que
os meus pais fizeram comigo.
Eu não tinha tempo para chorar de medo pelo que viria, nem de sorrir
por não estar mais sozinha no mundo. Então, desci para trabalhar, como
fazia todos os dias, e me apressei para deixar tudo em ordem e não notarem
que, pela primeira vez, precisei me ausentar e não deixei o almoço
adiantado.
Capítulo 37
Polina
— Trabalha, sim. Vou ver se ele está aqui ou se foi fazer algum
serviço para o Senhor Demidov.
— Nikolay, eu…
— Sim, sou eu. Nikolay, não desligue, por favor! Eu sei que não sou
digna de me dirigir a você depois de tudo que me aconteceu, mas não
conheço mais ninguém em que eu possa confiar. Por isso, mesmo sabendo
que você não quer mais me ver, e eu entendo, te peço que me escute…
— Do que você está falando, Polina? Por que eu não ia querer te ver,
meu amor? Onde você está? Deus sabe o quanto eu te procurei, mas
ninguém sabia de você, até que consegui informações com um soldado, que
disse que você tinha sido deixada na mansão Bratva. Então fui até Moscou,
mas não consegui nenhuma informação, porque tudo relacionado à máfia é
assunto proibido. Achei que tivesse acontecido o pior com você, e agora
você voltou para mim!
Eu não sabia o que falar. Tudo que fiz foi chorar de cabeça baixa para
não chamar atenção das pessoas ali perto. Como estava em um local público,
não poderia falar muito sobre o que estava passando e explicar por que
precisava de auxílio.
— Estou precisando de ajuda! Eu saí da casa em que vivia e quero
deixar Moscou, mas não sei como fazer isso. Não posso falar muito; na
verdade, nem sei por que te liguei, mas não sei a quem recorrer...
— Nunca mais repita uma coisa dessas, Polina! Eu não sei o que te
fizeram, e você não precisa me contar se não quiser, mas você nunca vai ser
uma mulher indigna, e sim o único amor da minha vida! Estou indo te
buscar!
Meu coração estava quebrado para sempre, mas Nikolay ainda vivia
dentro de cada parte dilacerada, como a única lembrança boa da minha vida.
∞∞∞
Dois dias depois de ligar para Nikolay, assim que acabei de servir o
café da manhã, saí rapidamente com a desculpa de que precisava ir à
farmácia, e corri até a praça que ficava perto da pensão para me encontrar
com ele.
Não quero voltar para a nossa cidade! Preciso ir para algum lugar bem
—
longe daqui e recomeçar a minha vida. Sei que você não tem obrigação, mas
eu preciso de dinheiro. Eu te pago! Vou trabalhar, e todo o dinheiro que eu
ganhar vai servir para me manter e te pagar, mas preciso ir embora.
Você vem comigo e vamos nos casar! Você vai ser a minha esposa como
—
sempre planejamos. Ou você não me ama mais?
Nikolay, não sei como te falar, mas não sou mais aquela jovem que você
—
namorava. Eu não fui só uma babá dentro daquela mansão dos infernos. Eu
passei por muitas coisas, muita dor e… eu não consigo falar, sou quebrada,
não vivo, sobrevivo, mas te amar… eu vou te amar até o último dia da minha
vida!
Eu não vou te cobrar nada, só cuidar de você e colar cada pedacinho que
—
foi quebrado.
Por quê? Pelo que você me falou, eles não estão te procurando. Polina,
—
essa gente é muito ocupada, e, para eles você morreu. Se eu pudesse, mataria
esse homem, mas nós sabemos que isso é impossível!
— Eu confio em você!
Quanto mais tempo você passa aqui, mais perigoso fica, porque,
—
querendo ou não, essa criança é de Aleksandr Mikhailov, e a segurança de
vocês tem que estar em primeiro lugar. Infelizmente, não sabemos em quem
confiar, e esse monstro nunca pode saber disso.
ão tive tempo para pensar, porque Nikolay só queria me tirar o mais rápido
N
possível de Moscou. Ao contar a história para a dona da pensão, ela não
gostou de saber que me perderia, já que eu cuidava muito bem de tudo, mas,
quando soube que eu estava grávida, parecia ter ficado aliviada por Nikolay
me levar embora.
viagem até San Petersburgo foi silenciosa. Parecia que eu estava voltando
A
no tempo e fazendo o caminho contrário que mudou toda a minha vida.
Infelizmente, não pude ver a cidade onde nasci, pois fui direto para o
apartamento de Nikolay.
Nikolay me tratou com respeito e atenção durante todo o mês em que fiquei
na casa dele. Enquanto isso, ele dizia que estava providenciando um lugar
onde ninguém me encontraria, e meu coração sangrava por saber que eu me
separaria dele novamente, sendo, dessa vez, para sempre.
Vou fotografar cada prato divino que você faz, Polina! E você vai me dar
—
a receita! — Nikolay falou enquanto suspirava depois de experimentar o
jantar que preparei, mostrando quanto o tinha apreciado.
foi assim, com pequenos avanços, como um sorriso e um toque que não
E
me incomodava que, um dia, do nada, adormeci com a cabeça apoiada no
ombro de Nikolay enquanto ele lia um livro para mim.
Certa vez, para mim, era só mais um dia como outro qualquer em que
eu preparava alegremente o jantar, quando de repente Nikolay entrou em
casa contando as novidades com o entusiasmo de uma criança que havia
terminado, com louvor, o projeto escolar.
— Polina, tudo resolvido! Durante todo este tempo que você ficou
aqui em casa, estive preparando a nossa partida. O meu escritório tem
parceria com vários escritórios pelo mundo, e um deles fica na Filadélfia,
nos Estados Unidos. Fui obrigado a contar para o meu patrão que você
voltou, tudo que aconteceu, mas não contei sobre a gravidez, porque isso é
como pólvora e, quanto menos pessoas souberem, melhor. Ele acompanhou
todo o meu sofrimento desde quando você desapareceu e a minha dor todos
esses meses. Como eu disse que precisávamos ir para longe, ele propôs que
nos casássemos e fôssemos juntos para os Estados Unidos. Vamos com visto
de trabalho por um ano, depois pedimos asilo ao governo americano e não
voltamos nunca mais para a Rússia. Nosso filho, ou filha, vai nascer na
América, ser livre e nunca vai saber a sua verdadeira origem. Seremos nós
três para sempre vivendo em paz nos Estados Unidos.
o ouvir essa notícia, eu não sabia o que dizer e apenas chorei. Nikolay se
A
aproximou lentamente e me abraçou, mas, dessa vez, não tremi, nem fiquei
sem ar.
Vamos partir juntos? Você quer ficar comigo, mesmo eu não sendo mais a
—
jovem pura que você conheceu e…
∞∞∞
or fim, adormeci de mãos dadas com Nikolay, meu marido, e pela primeira
P
vez não tive pesadelos.
∞∞∞
início foi difícil, principalmente para mim, que não falava uma palavra em
O
inglês. Logo, fui obrigada a vencer os meus medos e bloqueios e a me
aventurar em classes escolares para adultos, a fim de aprender o novo
idioma.
Era impossível esquecer cada minuto que vivi naquele inferno sob o
jugo de Aleksandr Mikhailov.
Polina, meu amor, o café já está na mesa, e hoje temos visita — Nikolay
—
me chamou, despertando-me dos meus pensamentos sombrios.
ssim que cheguei à sala, sorri ao ver minha filha Yelena e seu noivo, Mark,
A
tomando café animadamente com o meu marido, que estava sorridente com a
visita dela.
Que surpresa agradável logo pela manhã! Mas não é perigoso vocês
—
atravessarem a cidade com toda essa neve para tomarmos café da manhã
juntos?
elena estava com vinte e dois anos e se formando em direito, para orgulho
Y
de Nikolay, que sonhava em ser advogado quando tivemos que deixar a
Rússia e ir para os Estados Unidos, onde conseguimos asilo depois do
nascimento dela na Filadélfia.
O senhor já fez muito por mim, meu pai, pagando a minha faculdade com
—
todo o dinheiro que juntou a vida toda aqui na América. Estou ganhando
bem no escritório, e o Mark faz questão de dividir as despesas comigo. Além
disso, queremos uma cerimônia simples, só no civil, e uma reunião para
comemorar com a família e os amigos que torcem pela nossa felicidade.
ssim que ela e Mark se foram, eu me sentei, como sempre fazia, na minha
A
cadeira de balanço que ficava na sala próxima à lareira, e me entreguei às
minhas tristes lembranças. Enquanto isso, Nikolay me acarinhava os cabelos
e dizia que estaria sempre ao meu lado.
Eu tenho tanto medo de que tudo se acabe, que nos descubram e saibam
—
que me casei grávida com você.
Aquele monstro com certeza não se lembra mais de você e nunca vai nos
—
encontrar, porque ele simplesmente não está nos procurando.
Quarenta e sete anos depois de ter sido usada como moeda de troca pelos
meus pais, de ser entregue nas mãos do Chefe da Bratva e abusada de todas
as formas possíveis, ainda me sentia suja e marcada pelo Demônio. Eram
cicatrizes invisíveis, que estavam na minha alma e que nunca se apagariam.
ikolay foi um anjo que Deus enviou para cuidar de mim, e o seu amor, um
N
bálsamo que me fez voltar aos poucos a reaprender a viver, à medida que ele
conseguia transpor alguma barreira e se aproximar de mim.
o dia que soube que engravidei e senti que tinha um ser puro crescendo
N
dentro de mim, foi como renascer para a luz. Se eu carregava um bebê cheio
de pureza, então não estava condenada ao inferno por tudo que fui obrigada
a fazer para satisfazer o Demônio.
ecomeçar a vida tão longe de casa foi o que me deu esperança de ter paz,
R
embora eu tivesse pesadelos quase diários nos quais me encontravam e me
trancavam de novo no inferno.
Um dia, para a minha alegria, descobri que meu algoz tinha morrido
e senti alívio por saber que suas mãos imundas nunca mais tocariam em
mim, que eu nunca mais sentiria o cheiro do seu corpo que fedia a enxofre, e
que nunca mais teria que cruzar o meu olhar com o dele.
assim os anos se passaram. Encontrei na culinária uma válvula de escape e
E
no blog que eu criei uma forma de me conectar a distância com as pessoas.
Um dia, minha neta Raissa, que sempre foi acima da média no quesito
inteligência, disse que eu tinha que me modernizar e criar um canal no
YouTube. Ela nunca entendeu por que eu mostrava as receitas e nunca o meu
rosto.
Enzo me ama, minha vó, e eu o amo! Eu sei que ele é um homem fora da
—
lei, mas, ainda assim, ele é o homem da minha vida. E agora eu o perdi para
sempre, porque pelas leis da máfia não podemos ficar juntos, e ele vai se
casar com alguém que tem o sangue deles, uma legítima filha da máfia.
Quando ela era pequena, e muito levada e esperta, por vezes, o seu
olhar me lembrava o pequeno Aleksey, atualmente o Chefe da Bratva.
Por favor, Yelena, nos conte o que aconteceu entre Raissa e Enzo Cosa
—
Nostra.
Quando a pessoa perde o brilho que tem no olhar, não podemos chamar
—
sua dor de “nada” — Nikolay falou, e meu genro respirou fundo, contrariado
com as palavras do meu marido.
Sim, por mais que sejam por motivos diferentes, há dores que nunca
—
podem ser apagadas — afirmei e abaixei a cabeça. — Por favor, eu sei que
todos vocês me têm como frágil, que tenho traumas que vocês desconhecem
e que me fazem ficar distante, presa ao meu passado, mas quero e preciso
saber tudo que se passou com Raissa.
A senhora nunca falou que sentia dores por conta do seu passado, minha
—
mãe.
urante quase uma hora, Yelena contou tudo, desde o sequestro da Raissa,
D
passando pelo dia em que Enzo a salvou, o atentado na data da premiação,
onde mais uma vez ele a salvou, a viagem para Dubai, o rompimento entre
eles, o esquema de segurança que ele deixou para protegê-la até o fim
definitivo por conta da regra que a máfia tinha de permitir casamento
somente entre eles.
Como eu disse, nada que o tempo não apague! — meu genro exclamou.
—
— Raissa não tem o sangue dessa gente criminosa e vai chorar por um
tempo e esquecer.
Quem a protege não tem obrigação nenhuma de fazer isso, e nossa filha
—
não se meteu com eles; ela foi vítima deles — Yelena afirmou, irritada.
É impressão minha ou você gostaria que nossa filha estivesse com esse
—
sujeito?
— Ele não sabe e, por isso falou aquelas coisas horríveis à mesa.
Em cinco dias Enzo embarca para a Rússia e vai se casar. Como posso
—
estar bem se isso tudo é uma grande injustiça? Sabe o que me deixa pior?
Não ter armas para lutar!
ntão voltei para o meu quarto e abracei Nikolay. A Bratva estava de volta,
E
como se o passado quisesse ser despertado, e tudo que eu conseguia fazer era
chorar e pensar nas palavras de Raissa, que se sentia impotente por não ter
armas para lutar por sua felicidade, sem saber que a solução corria em suas
veias.
∞∞∞
Se eu pedisse, tenho certeza de que mesmo doendo por ter que largar sua
—
família, ele faria isso por mim. Mas é justo? Pedir para ele abandonar a sua
vida por mim? Eu não seria feliz abandonando todos vocês, então não posso
exigir isso do homem que eu amo.
odos olhavam para mim, e eu respirei fundo várias vezes, lutando com
T
todos os meus fantasmas, mas com a certeza de que o sorriso da minha neta
era maior do que toda a minha dor.
Quando amanheceu, eu achei que seria mais um dia como outro qualquer, e
me levantei, tomei um banho, preparei o café da manhã e fui checar se o
meu pai estava melhor, já que andou um pouco enfermo esses dias e por isso
vim cuidar dele antes de decidir se iria ou não para o escritório.
Bom dia! Seu pai parece melhor, e agora que Raissa veio passar uns dias
—
aqui com ele, acho que você já pode voltar para o escritório — Mark falou
enquanto eu preparava umas panquecas.
Eu estava pensando justamente nisso, porque meu pai já está melhor, mas
—
quanto a Raissa…
Isso que ela tem vai passar! Raissa é jovem, nunca se envolveu com
—
ninguém seriamente e sempre gostou de uma adrenalina. Juntou tudo num
pacote só e o resultado foi essa paixonite pelo fora da lei.
Eu não vou perder meu tempo com essa conversa que não vai levar a
—
lugar nenhum. Raissa não pertence ao mesmo mundo podre e sujo daquele
tal de Enzo, nós não temos nada a ver com a máfia, e vamos continuar assim.
Se ela está triste, saiba que eu estou feliz com o fim desse relacionamento.
Pois eu nunca vou estar feliz, se do outro lado a minha filha estiver triste!
—
— Eu falei e passei por ele com as panquecas me dirigindo à mesa, e
sorrindo para o meu pai que estava sentado aguardando.
Raissa, minha neta, as armas que você disse não ter para lutar estão
—
dentro de você. Nas suas veias, corre o sangue da Bratva, e você, minha
neta, é uma filha da máfia!
s palavras da minha mãe não pareciam fazer o menor sentido, mas seu
A
semblante que parecia coberto por um manto de dor, e a firmeza com que
falou tudo quase sem respirar, deixavam a certeza de que ela sabia muito
bem o que estava dizendo.
Me desculpe Yelena, mas é visível que sua mãe não está bem! — Mark
—
falou cortando o silêncio olhando para mim e depois para minha mãe — A
senhora está confusa minha sogra e sugiro que vá descansar, porque é
impossível que a minha filha tenha esse sangue podre nas veias.
Não ouse dizer o que a minha esposa deve ou não fazer! — Meu pai se
—
levantou e pela primeira vez na vida o vi alterando sua voz — Nenhum
homem neste mundo, nem eu mesmo, manda Polina fazer qualquer coisa que
não seja escolha dela.
Você me traiu? Foi isso? — Mark falou dando um soco na mesa — Essa
—
preferência por mafiosos não começou com a nossa filha? Porque para
Raissa ter o sangue podre todos vocês devem saber que eu sou um corno.
Você ficou maluco? Essa conversa não é sobre você, é sobre Raissa, é
—
sobre mim, é sobre algo muito importante que só minha mãe vai saber
explicar. Nunca traí você na minha vida, mas não sei se quero continuar ao
seu lado depois desta desconfiança.
Mark estava transtornado e não parava de falar, e o seu egoísmo
começou a me irritar. Por mais que ele estivesse surpreso, em nenhum
momento deu chance a minha mãe de se explicar, e saiu despejando suas
desconfianças para cima de mim, e depois a xingar a máfia e todos que
tinham o seu sangue sujo.
Não meu pai, você não tem o direito de nada, a não ser de se calar e
—
respeitar uma mulher, uma senhora de sessenta e cinco anos, que com
certeza precisou reunir todas as suas forças para falar uma frase que pegou a
todos nós de surpresa, mas que deve ter lhe custado muito falar em voz alta.
Portanto, isso não é sobre você, mas sobre ela! Vamos minha mãe… vamos
escutar a minha avó.
∞∞∞
s palavras da minha mãe, seu relato banhado por lágrimas, dor, e vergonha
A
mesmo sendo a vítima, me fizeram sentir que o ar tinha desaparecido dos
meus pulmões. Eu não conseguia sequer suspirar enquanto ela falava, e uma
dor misturada com ódio comprimia o meu peito.
uantas vezes enquanto criança senti sua falta preparando meu lanche da
Q
escola, seu beijo quando o ônibus chegava para me buscar, ou simplesmente
do seu abraço acolhedor quando eu chegava cheia de novidades e querendo
falar sobre o que eu tinha aprendido durante o dia.
Yelena, você nunca foi dor, e sim o meu renascimento! A sua vida era o
—
que eu tinha de mais puro dentro de mim, e foi isso que me fez querer viver.
Eu queria ser sua mãe mais do que qualquer outra coisa no mundo.
u sabia que ela precisava continuar falando, e sentia que devia isso à minha
E
mãe. Ela se sentia culpada por ter escondido a verdade sobre a minha
origem, enquanto eu me culpava por ela ter que me gerar depois de tudo que
passou. Eu estava me sentindo perdida, mas queria saber de tudo, e segurei
suas mãos, reafirmando que estaria sempre ao seu lado.
eu pai, Nikolay Pavlov não era só um homem bom e apaixonado, mas o
M
herói de toda essa história. Seu amor incondicional por minha mãe, fez com
que ele nunca questionasse nada, só a amasse. Ele a acolheu no pior
momento, e cuidou de mim desde que soube da gravidez como um homem
feliz por saber que seria pai pela primeira vez. Seu amor e seu orgulho por
mim, nunca me deixaram duvidar que ele fosse o melhor pai do mundo, e
agora eu só tinha mais certeza de que eu estava correta em amá-lo tanto.
Eu sofri muito, mas também fui muito feliz com seu pai, com você,
—
Yelena, e com a minha neta. Eu sempre acreditei que podia fugir do meu
passado, escondendo-o do mundo, mas a verdade é que só falando que nos
libertamos. A dor de tudo que aconteceu, nunca vai passar, mas o fardo
desse segredo eu não carrego mais comigo. Você tinha o direito de saber, o
seu marido tinha o direito de se casar com quem ele imaginou, e Raissa, têm
todo o direito de ser feliz, se for essa sua vontade, com quem ela escolheu.
Você pensa que eu seria feliz numa sociedade que fez tudo isso com a
—
senhora como se fosse algo normal? — Raissa perguntou com lágrimas nos
olhos.
Eu não sei minha neta, isso só você pode responder, mas não baseado na
—
minha história e sim nos seus sentimentos. Eu conheci Anna, uma pessoa
que me acolheu no meio de todo o pesadelo, uma mulher da máfia, nascida e
criada no meio de tudo aquilo, mas com um coração muito bom. A senhora
Mikhailova, era uma mulher boa, eu tenho certeza disso, mas que não teve
escolha, e por isso era casada com o demônio.
Eu não consigo aceitar que a senhora passou por tudo isso, minha avó! Eu
—
sempre pesquisei tanto, sempre li sobre isso, por isso minha admiração é tão
grande pela história da Sarah Cooper e a Máfia das Mulheres.
Você sempre teve fixação pela máfia, sempre me falava sobre esse tema,
—
e eu pensando que era coisa de jornalista — Eu falei e Raissa olhou para
mim pela primeira vez depois de tudo que escutamos.
Yelena, vai descansar, eu vou fazer isso também! — Minha mãe falou —
—
Raissa, você precisa decidir o que quer fazer, mas saiba, que se contei tudo,
se tive essa coragem, foi para te ver feliz, e sim, se sua felicidade for ao lado
do Enzo Cosa Nostra, saiba que a máfia também está aí dentro de você. Não
o julgue por sua origem, que é a sua também!
Raissa deu um beijo em mim e na avó, e foi para o seu quarto. Eu também
deixei minha mãe descansando e pela primeira vez me sentei em sua cadeira
de balanço, e fechei os meus olhos tentando acalmar a minha mente e
diminuir a dor na minha alma.
inha mente dava voltas enquanto tudo que eu queria é poder adormecer um
M
pouco, e enquanto a cadeira balançava me perguntava quem era eu de
verdade.
Para o mundo que não me conhece, eu sou só mais uma que não
deveria ter nascido, afinal muitos filhos do estupro são julgados e
descartados pela forma como foram concebidos. E não cabe a mim ou a
ninguém julgar a decisão de uma mulher que passa por esse tipo de situação,
porque com certeza, seja qual for a sua decisão, será sempre carregada de
dor.
Eu sinto muito por você pensar assim, Mark, mas sinto ainda mais por
—
mim, que um dia achei que você era o companheiro ideal que estaria sempre
ao meu lado.
Você não me perguntou como eu estou depois disso tudo, apenas falou o
—
que você acha, o que você sente, sendo que tudo isso é sobre mim, e não
sobre você.
— A noite conversamos.
Eu não quero que você apoie Raissa neste romance com o tal Enzo Cosa
—
Nostra. Não vou aceitar minha filha fazendo parte da máfia!
— Sinto muito, mas ela já nasceu fazendo parte dela. Bom trabalho!
Eu estava sentada na minha cama, segurando o meu celular que estava
aberto na caixa de mensagens e pensando que rumo tomar da minha vida. As
palavras da minha avó ecoavam dentro da minha mente, e lágrimas pesadas
escorriam pelo meu rosto.
ntes tudo girava em torno do meu sentimento por Enzo, e agora tudo se
A
transformou no sentimento de uma família, na dor da minha avó, e em como
minha mãe vai digerir a verdade sobre a sua origem.
Feliz? Como eu posso ser feliz entre eles depois de saber disso tudo?
scutei uma leve batida na porta do meu quarto, e logo depois meu avô
E
apareceu com os olhos cheios d'água pedindo licença para entrar.
Claro que sim! Você é, e para sempre vai ser o meu avô, eu não quero
—
outro, não quero ser uma... eu quero continuar sendo uma Pavlova.
Você e sua mãe, são minhas para sempre, isso não vai mudar, só que o
—
peso desse segredo era grande demais para ser levado por mim e Polina para
o túmulo, e eu acredito que por pior que possa ser, a verdade é sempre o
melhor caminho.
Seu pai agiu sem pensar, falou com medo do que vem pela frente,
—
assustado com uma realidade que ele não fazia ideia.
Meu avô, o senhor acolheu a minha avó, independente de tudo, por amor!
—
O senhor sim teve uma dura realidade para enfrentar, o meu pai soube de
algo que não muda nada a sua vida, e reagiu com crueldade, não tenho outra
palavra para definir o jeito como ele falou do nosso sangue, meu e da minha
mãe.
Raissa, você chegou nessa casa dizendo que estava disposta a tudo para
—
ficar com Enzo Cosa Nostra, e o tempo está passando.
Por quê? Eu achei que depois de toda a história da sua avó, eu tivesse
—
mais créditos como um herói romântico.
Você não vai passar por cima dos nossos sentimentos indo atrás da sua
—
felicidade. Sua avó abriu o seu coração sem se importar com as feridas,
venceu todos os seus fantasmas, porque acreditou no amor de vocês, seu e
do Enzo! Foi a sua forma de abençoar essa união.
u não conseguia pensar desta forma, mas o meu avô parecia ler os meus
E
pensamentos e conhecer todas as minhas dúvidas.
Eu amo Enzo, mas ficar com ele seria fazer parte de uma sociedade
que cada dia fica mais transparente aos meus olhos, e mais distante de todo o
glamour dos romances.
∞∞∞
Não sei quantas horas se passaram, se ainda era dia ou noite, quando
minha mãe puxou delicadamente o cobertor que me cobria e me acordou
com um beijo. Eu a olhei e me sentei na cama, e quando nos abraçamos,
choramos juntas, como se nossas lágrimas pudessem lavar a nossa alma e
expurgar a nossa dor.
Eu sei que o certo era eu ter ido dar todo o apoio para a minha mãe,
e, no entanto, foi ela que como sempre veio me dar colo. No fundo eu me
sentia responsável por sua tristeza, porque se não fosse por mim, minha avó
nunca revelaria o seu passado, e minha mãe não sofreria por isso.
— Me perdoa, por favor! Foi por minha culpa que você soube de tudo.
Filha, não peça perdão por algo que você não tem culpa. O que é isso?
—
Agora é crime alguém se apaixonar?
Eu devia ter ficado longe do Enzo. Eu podia ter ido embora daquela boate
—
com as outras meninas.
Sim! Quem nasce na máfia, morre na máfia! Eu nasci fruto… fruto desta
—
sociedade, e o sangue deles corre nas minhas veias, e um dia, mais cedo ou
mais tarde o passado bateria na minha porta.
Eu posso ser tranquila, sensata, mas isso não faz de mim uma pessoa
—
fraca. Sim, é muito pesado saber que você foi concebida num estupro, mas
eu fui gerada por nove meses com muito amor, vim ao mundo cercada de
acolhimento pelos meus pais e isso me fez crescer sendo quem eu sou. Não
vou entrar em depressão, e sim ser grata pela oportunidade de ter recebido da
vida um pai maravilhoso e que sempre me amou. Sou e serei sempre filha de
Nikolay Pavlov, meu único pai, mas ainda assim, sou também uma
Mikhailova e eu prefiro saber a verdade sobre a minha origem do que viver
uma mentira.
— Seu pai foi trabalhar, ele tinha um caso importante hoje na corte.
Seu pai não tem que ficar nervoso ou calmo, porque isso não é sobre ele,
—
e sim sobre a minha mãe, eu e você. Nós três fomos atingidas diretamente, e
ele, por mais que esteja conosco, não têm esse passado correndo nas suas
veias. Esse momento é de escutar, de acolher a sua avó que teve um passado
assombroso, vítima de violências físicas e emocionais. Esse momento é meu,
de entender e digerir tudo sobre a minha origem. Esse momento é seu que
precisa decidir o que vai fazer. O seu pai não teria se casado comigo se
soubesse a minha origem? Se a resposta for não, então nosso relacionamento
foi tão falso como a história da minha vida. E hoje, só quero verdades! Não
quero mais mentiras!
Pare com isso e chega de falar essas besteiras. Você não tem culpa se lá
—
no passado, o seu bisavô entregou a sua avó como moeda de troca para pagar
dívidas da máfia. Nossa história começa lá na Rússia, em San Petersburg,
muito antes de chegarmos aqui nessa vida, ou seja, você não pode ser
responsável por nada disso. O que você fez foi conhecer um homem, querer
dividir a vida com ele, e aceitá-lo do jeito que ele é, com seus erros, acertos,
e sua vida na máfia.
Você sempre disse que eu era fria para resolver as coisas, mas agora
—
quem está sendo assim é você, minha mãe.
Russos são frios, e acredito que mafiosos russos duas vezes mais. Vai ver
—
que somos assim por termos correndo nas nossas veias o sangue dos
Mikhailov.
Eu nasci uma filha bastarda da Bratva! O que mudou é que agora eu sei
—
disso, mas se existia algum perigo, ele sempre me rondou, só que como um
desconhecido.
— Todos mortos!
— Ficar junto com Enzo significa trazer a máfia para a nossa família.
u pensei que minha mãe estaria no quarto chorando e deprimida com tudo
E
que soube, e no lugar disso, ela está aqui me oferecendo apoio. Esses anos
todos, eu vi a minha mãe como uma mulher calma, realizada no casamento e
profissionalmente, mas nunca enxerguei essa fortaleza que está agora na
minha frente.
E o senhor meu avô? Nunca mais teve contato com a sua família?
—
Simplesmente, sumiu?
Eu avisei que estava vindo para os Estados Unidos a trabalho. Eles não
—
sabiam do meu casamento, e nem dos meus planos de não retornar. Para eles,
eu sou mais um que fugiu do regime ditatorial da Rússia e nunca mais deu
notícias.
— E o meu pai?
Eu pedi que ele fosse para casa depois da audiência. Preciso reorganizar
—
minhas emoções com o que me foi apresentado, e não estou aberta para
julgamento, até porque não tem motivos para isso.
Eu deveria ter conversado primeiro com vocês duas, mas foi o momento
—
que senti coragem.
Minha avó, a senhora fez o que o seu coração pediu, e o meu pai foi
—
extremamente egoísta. E eu sinto muito que ele tenha vergonha de ter uma
esposa e filha com ligação com a máfia, porque para mim isso é o que menos
importa no meio de tanta dor que a senhora passou na sua vida.
Ainda não! Lutar por Enzo é o mesmo que expor minha avó e minha mãe,
—
porque todos vão saber da existência da filha bastarda do velho nojento.
Lutar por Enzo, seria como te aproximar de tudo que a senhora sempre fugiu
na sua vida, minha avó.
Eu preciso pensar, mas não acredito que eles matem a minha mãe porque
—
as coisas mudaram na Bratva por conta da Lei Sarah Cooper, que protege as
mulheres. Irya Mikhailova, é um dos pilares da criação desta lei, e isso me
deixa um pouco mais tranquila. Só que eu já enfrentei essas pessoas e o
resultado são quatro seguranças me acompanhando para todo o lado, por isso
preciso pensar melhor antes de tomar qualquer decisão.
Faça o que tiver que ser feito, e sua família vai estar do seu lado —
—
Minha mãe falou, e eu a deixei conversando com os meus avós, e fiquei feliz
por ver como os três são unidos.
Meu avô sempre será o chefe da nossa família, e ninguém vai ocupar
o seu lugar nos nossos corações, até porque seria impossível, devido ao meu
avô biológico ser um monstro.
Raissa: Boa noite! Preciso da sua ajuda! Eu preciso falar com Sarah
Cooper. É urgente!
Raissa: Um fato que talvez mude tudo e possa me unir a Enzo, mas
eu preciso falar com Sarah Cooper, me ajuda, por favor. Confia em mim, e
me dê a chance que você deu a ela, Nina e Alice no passado.
∞∞∞
Minha mãe e meus avós, que antes questionavam tudo que eu queria
fazer, hoje me apoiaram a viajar e lutar pelo meu amor. Eu ainda não tinha
certeza do que eu estava fazendo, mas resolvi abandonar a razão e seguir o
meu coração, que apontava para uma única direção: Enzo Cosa Nostra.
nosso carro parou em frente a um lugar que parecia com uma fábrica cheia
O
de galpões, cercada por um muro imenso e extremamente bem vigiada.
— Que lugar é esse? Eu não sabia que os Coopers tinham uma fábrica?
Isso aqui não é uma fábrica, e sim galpões usados por empresas para
—
guardar seus materiais. No caso desse lugar, os materiais guardados são os
da Máfia Cooper.
Seja bem-vinda Raissa O'Brien! Em primeiro lugar, quero que saiba que é
—
um prazer conhecer uma jovem destemida, que não se deixou intimidar e
escreveu uma matéria contra o tráfico de mulheres, muito comum na máfia,
e que eu abomino e luto para que termine. Em segundo lugar, eu achei que
seria melhor receber você aqui, para que não reste dúvidas do que você está
querendo escolher para o resto da sua vida, porque eu não acredito que sua
visita seja para uma entrevista, tendo em vista que você já tem assunto de
sobra para falar sobre a Instituição.
arah Cooper! Era ela falando comigo e meu coração disparou num misto de
S
emoção e felicidade. Pode parecer loucura para muitos, mas essa mulher foi
sempre uma espécie de ídolo para mim.
Eu lia tudo sobre a Máfia, e era simplesmente fascinada por tudo que
contavam sobre ela, que simplesmente abalou as estruturas de uma
sociedade machista e nojenta, depois de tudo que eu escutei sobre o passado
da minha avó. Eu sempre vi tudo com um glamour, que a cada dia vinha se
desmanchando e mostrando sua verdadeira face sombria para mim.
Sua opinião vale muito para mim, porque eu sempre me inspirei na sua
—
força. Eu lia tudo sobre a sua vida, e mesmo com a justiça não conseguindo
provar nada, eu sempre soube que era tudo verdade, e a sua fama de
poderosa chefona me instiga a ser destemida, e com a certeza de que nós
mulheres podemos tudo aquilo que desejarmos. Porém, a realidade não é tão
fascinante, e sim bem perigosa. Eu acabei na máfia por conta da minha
impulsividade, e minha matéria não foi só por coragem, mas porque eu
queria ser premiada e reconhecida como jornalista. Não que seja errado
sonhar, mas eu não pensei em mais nada, na segurança da minha família e
nem na minha, e a prova disso são seus homens tendo que tomar conta de
mim. Eu me envolvi com Enzo e pude sentir a morte de perto mais uma vez
quando estive ao lado dele em Dubai, e no final de tudo, ainda descobri que
estou mais no meio desta Instituição do que eu podia imaginar. E senhora
Cooper, eu não escolhi essa Instituição, a realidade é que eu nasci com o
sangue dela correndo nas minhas veias.
Matthew, não precisa ser tão formal, até porque algo me diz que não
—
estamos diante apenas de uma jornalista ousada e apaixonada por alguém da
nossa sociedade, não é verdade senhorita O'Brien?
Vamos nos sentar e conversar com calma, Raissa, mas antes de tudo eu
—
preciso saber o que você espera que eu possa fazer por você? Acredito que
nossa conversa será longa, mas precisamos ser objetivas, porque pelo que eu
sei, ou imagino que o seu assunto nos leve, o tempo corre contra você.
Não, ele é meu tio, mas ele não faz a menor ideia disso porque tudo
—
aconteceu quando ele tinha cinco anos, mesmo assim eu odeio ele e toda a
Bratva, mas se isso me faz ter alguma chance de ficar com Enzo…
Calma, vamos por partes, e se você quer entrar para a Máfia, saiba que
—
Aleksey é o homem mais poderoso da Instituição, e que a Cosa Nostra é hoje
sua maior aliada, ou seja, a menina dos olhos de Dante que adoraria unir os
seus herdeiros, então, engula um pouco seu ódio, e aprenda comigo que para
vencer nessa sociedade machista, você vai precisar de muita diplomacia. Só
quando alimentamos o ego dos poderosos, é que conseguimos tê-los em
nossas mãos.
Agora sabendo quem ela é de verdade, é impossível não perceber que ela
—
é igual ao tio.
— Minha avó ficou na mansão como babá de Aleksey, até que um dia…
Quando eu concordei em receber Raissa, achei que seria para ela me dizer
que amava Enzo e que achava injusto eles não ficarem juntos. Eu nunca
imaginei que o que ela tinha para conversar, era uma verdadeira bomba, que
como sempre cabia a mim detonar sobre a Instituição, para no final escutar:
Sempre essa Sarah Cooper se metendo onde não é chamada!
Raissa, eu vou ser direta e não leve como ofensa, apenas precisamos falar
—
nos termos da Instituição.
Pode falar e fazer o que for preciso! Eu vim disposta a enfrentar tudo e
—
todos, mas não vou me calar se eu tiver alguma chance de mudar o final
desta história.
Concordo e ainda digo mais, eles sabem que Enzo é fiel a Cosa Nostra,
—
mas que tem uma mãe leoa, que se o filho disser que vai largar tudo e
desaparecer, vai lhe dizer para fazer isso e ser feliz. Não podemos esquecer
que nossa Nina já deu a volta na Cosa Nostra uma vez e ficou desaparecida
por cinco anos, e que eles nem saberiam da existência do Enzo se ela não
tivesse voltado por conta própria. Com o apoio da mãe, Enzo poderia sim
jogar tudo para o alto, mas por outro lado, ele sabe que viveria escondido
para sempre com Raissa, e que no caso deles, seriam perseguidos não só pela
Salvatrucha, mas por todos os inimigos da Cosa Nostra, que ficariam felizes
em mandar a cabeça dele de presente para Lorenzo. Enzo está se casando por
amor, mas não a Cosa Nostra, e sim, a Raissa.
Sim, mas não têm valor ou dote para se casar, ou formar alianças que é o
—
que se visa o tempo todo na Instituição. Os bastardos são invisíveis para os
outros membros da Instituição e raramente sabemos suas verdadeiras
origens. Trazer você à tona e ainda casá-la com um membro da Cosa Nostra
pode abrir o que eles mais temem, os famosos precedentes. Além disso, para
que Dante te aceite, precisamos que Aleksey te reconheça como uma
Mikhailova.
Você veio aqui querendo se casar com Enzo, o que vai fazer de você uma
—
senhora Cosa Nostra. Máfia é máfia, e o que muda é o sobrenome, e no caso
você vai ter os dois maiores desta sociedade. Se você quer realmente Enzo
Cosa Nostra, então você quer entrar para a Máfia, e sim, você quer ser uma
Mikhailova, ou não usaria o argumento de ter o seu sangue nas veias para
conseguir isso!
Eu vim querendo ficar com Enzo e não pensei em mais nada como
—
sempre! — Raissa falou e abaixou a cabeça, e eu pude perceber como ela
estava exausta, destruída emocionalmente, e tentando lutar contra uma
impulsividade que eu também tinha aos vinte e três anos, quando sem pensar
nas consequências resolvi assumir o comando da Máfia Cooper.
Você é jovem, e tem a minha idade quando entrei para a Máfia. Você tem
—
a inocência e os sonhos da sua idade, e isso é normal, não se sinta mal por
isso. Quando eu me levantei e num impulso tomei o comando de uma
sociedade machista nas minhas mãos, precisei deixar a jovem Sarah para
trás, e me transformar na Senhora Cooper. Matthew foi responsável por
mostrar a mim, Nina e Alice, que não seríamos as panteras, mas sim as
criminosas. Treinamos pesado, e fomos iniciadas em um mês, igual os
homens que fazem isso desde o nascimento. Matthew nos fez uma pergunta,
e só aceitou nos ajudar depois da nossa resposta.
Você quer ser uma criminosa? Porque ser mafiosa não é vestir roupas
—
pretas e se casar com homens poderosos, e sim, se tornar uma fora da lei.
Não têm romantização, não têm histórias bonitas, somos uma sociedade que
protege os seus, mas que temos como base para sobreviver, dinheiro e poder.
Isso nos move e nos faz ser quem somos! Nós matamos, atropelamos,
torturamos, ou seja, fazemos o que for preciso para estar sempre no
comando, cada qual na sua hierarquia, mas chefes, ou soldados, no final de
tudo somos iguais, pois aos olhos do mundo não passamos de assassinos
frios e cruéis, e aos de Deus, seres sem alma e sem coração.
u senti que Raissa teve a mesma reação que nós três tivemos no passado
E
quando escutamos de forma tão fria as palavras de Matthew, ficando sem ar
e engolindo seco.
Assim como eu, ela não cresceu educada nos moldes da máfia, e nem
estaria se casando por aliança como as outras jovens da sociedade, mas se
jogando numa relação que traz junto de si toda uma sociedade fechada, e
com regras que para nós de fora são pré-históricas e difíceis de aceitar.
E Raissa, além disso tudo traz com ela, todo um passado que foi
guardado por anos, e que vai deixar exposta sua avó e sua mãe, que não vão
escapar de ficar de frente com a máfia.
Eu nasci mafiosa sem saber, e sim, vou assumir o meu lugar nessa
—
sociedade — Raissa respondeu e confesso que não esperava nada diferente
disso vindo dela.
Oi minha futura Chefe da Cosa Nostra. Você pode falar agora? Está
—
sozinha?
— É coisa séria?
Eu não estou ligando para Luna e Alya, mas para as duas futuras Chefes
—
das maiores Instituições da nossa sociedade, porque eu preciso da ajuda de
vocês para algo muito grande, que já aviso vai abalar as estruturas da máfia,
e uma famosa guerra de que vai abrir precedentes, ou seja, os obstáculos de
sempre onde a Lei Sarah Cooper esbarra há mais de vinte anos. Só que desta
vez, também vai envolver a família de vocês, e eu preciso que vocês escutem
tudo até o final, e me prometam sigilo total.
Eu não sei o que é, mas se têm algo que aprendi desde que nasci com a
—
minha mãe, é que quando Sarah Cooper pede uma reunião, nós mulheres
temos que estar prontas para lutar ao seu lado — Alya falou — Pode contar
comigo!
— E comigo também! — Luna falou sorrindo.
E que se envolveu com o meu primo Enzo, que vai se casar neste final de
—
semana. Essa ajuda tem a ver com o romance entre os dois? Se for estou
dentro, porque meu primo ama essa jornalista doidinha, como ele mesmo
fala.
Eu precisei de um pouco mais de tempo do que Luna para absorver toda a
história da Raissa, o que era compreensível, uma vez que os relatos fortes
sobre o passado de Polina, envolviam a minha família.
Eu imagino como deve ser difícil para você nos contar isso tudo, e para
—
mim é estranho saber que todo esse horror se passou aqui na minha casa.
Quantas atrocidades como essa devem estar guardadas nas memórias deste
castelo? — Eu falei com lágrimas nos olhos — Eu olho para o meu pai e
vejo um homem amoroso comigo, e um Chefe frio e sanguinário com os
nossos inimigos, e sei que ele sofreu muito nas mãos do seu pai, mas nunca
imaginei que tivesse sido desta forma tão suja, onde ele presenciava o
demônio violentando mulheres indefesas. Eu não sei o que pensar, ou o que
dizer…
Não se cobre por não assimilar tudo, porque eu mesma estou tentando
—
fazer isso e olha que é a segunda vez que escuto essa história hoje. Eu
preciso muito da ajuda de vocês, e ainda não convoquei a máfia das
mulheres, quis conversar com vocês duas primeiro, porque acredito que com
o apoio das futuras Chefes, conseguiremos que nos escutem, e Enzo e Raissa
podem ter uma chance de ficarem juntos.
Eu vou ajudar, mas não sei como porque o meu pai não aceita voltar atrás
—
nas decisões dele, e confesso que já discutimos por conta desse casamento
do Enzo — Luna falou — Como nós duas poderemos fazer com que aceitem
isso? E ainda evitar uma tragédia, porque Rurik vai querer lavar com sangue
a honra da filha se Enzo não se casar.
— Eu não posso pedir para Yuri nos ajudar porque temo que ele fale
com o meu pai, já que é muito fiel, então vou ter que fazer tudo sozinha.
Eu concordo, e acho que vai ser o melhor, porque assim também não
—
chama tanta atenção. Eu vou começar procurando por Anna, que trabalhou
nesta casa durante anos e conheceu a Polina.
— Ela ainda está viva? Minha avó nunca mais soube notícias de ninguém.
Sim, ela ainda está viva. Não trabalha mais por conta da idade, e vive na
—
casa do neto que é um dos soldados da Bratva. Ela viveu a vida toda aqui na
mansão, trabalhando, e hoje ajuda a cuidar dos seus bisnetos. Vou localizar o
endereço dela e ir até lá! Se ela conheceu sua avó, vai se lembrar dela.
Mas como Anna vai provar que a história da minha avó é verdade, se ela
—
não sabia da gravidez quando ela fugiu?
— Uma coisa de cada vez, Raissa. Se ela conhecer e lembrar da sua
avó, já teremos a prova que Polina viveu aqui na mansão. Difícil mesmo vai
ser ela querer falar sobre esse assunto, por medo de expor minha família e
meu pai ficar bravo com ela.
Aleksey era pequeno na época, mas será que ele não se lembra desta
—
babá? Este fato dela ter socorrido ele quando caiu da escada, ou a tal festa
em que o salão pegou fogo, pode ser uma lembrança que ele tenha guardado
na sua memória.
Não sei, Luna, você sabe que todo o passado dos nossos pais é envolvido
—
por gatilhos que parece que eles não querem despertar, mesmo que
colocando para fora seja como uma libertação desses sentimentos.
Agora precisamos pensar em como, depois que provarmos que não somos
—
doidas e Raissa é uma filha da máfia, vamos convencer a todos da
Instituição, a aceitar uma bastarda — Sarah falou sabendo que
enfrentaríamos uma grande batalha.
Não se esqueçam que dois desses oponentes, podem ser o pai de vocês —
—
Sarah falou nos lembrando, que além da Instituição machista teríamos que
enfrentar os nossos pais.
Neste caso é bom que eles se lembrem como se tornaram Chefes tão
—
cedo! — Luna falou e nós duas olhamos para Sarah que deu uma
gargalhada.
Eu embarco mais tarde com Ryan, Pietro, Noah, Anne e Lana. Matthew
—
iria conosco, mas vamos inventar alguma coisa que o segure aqui, e assim
ele segue amanhã, em outro jatinho com Raissa.
Eu vou para a Rússia? Não, eu não posso ir para lá, minha avó vai morrer
—
se souber disso…
esligamos o celular e eu precisei respirar fundo, pois não teria tempo para
D
pensar em nada, a não ser provar em quarenta e oito horas que toda essa
história aconteceu realmente aqui na mansão.
∞∞∞
cidade composta por quarenta e quatro ruas, parecia de filme, com casas
A
em estilo rústico, e quando finalmente chegamos, fechei os olhos e respirei
fundo, porque sabia que não seria uma conversa fácil, nem para Anna que
teria que contar segredos que deveriam morrer com ela, e para mim, que
confirmaria o horror que envolve o passado da minha família.
Senhorita Mikhailova, o que a traz até aqui? Aconteceu algo com o meu
—
marido? — A esposa do soldado me perguntou, como se fosse comum os
Chefes irem dar qualquer satisfação às famílias quando acontecia alguma
coisa — Nós ficamos aqui, não nos envolvemos em nada…
Está tudo bem com o seu marido! — Eu respondi quando entendi que a
—
sua preocupação é que estivéssemos indo cobrar deles algo que seu marido
tinha feito — Eu estou aqui por Anna, vim visitá-la, ela está em casa?
Sim, senhorita Mikhailova, entre por favor! Eu não sabia que um dia
—
receberia uma visita tão importante, nossa casa é simples…
Ela veio visitar a senhora. Eu vou levar as crianças lá para dentro para
—
que vocês possam conversar à vontade, mas antes disso, posso lhe oferecer
alguma coisa?
nna fez sinal para que eu me sentasse quando ficamos só nós duas na
A
pequena sala da casa, e seu olhar era de desconfiança com a minha visita.
Eu não vou dar voltas, Anna, e vou direto ao assunto que me trouxe até
—
aqui. Eu quero que você me conte tudo que você se lembra sobre Polina,
uma jovem que foi babá do meu pai há mais de 50 anos na mansão Bratva.
nna ficou em silêncio, com o olhar perdido, mas eu pude sentir que sua
A
respiração ficou alterada quando eu disse o nome da pessoa sobre a qual eu
buscava informações. Ela pode pensar que me engana ficando calada, mas
eu sei que ela se lembra muito bem da Polina.
— Anna, você não precisa mentir para mim, e nem ter medo de me
contar nada, porque eu lhe garanto que nada de ruim vai lhe acontecer por
isso. Eu só preciso confirmar que uma jovem, chamada Polina, viveu na
mansão Bratva e foi babá do meu pai.
Eu vou lhe ajudar então com algumas informações que podem refrescar a
—
sua memória. Para essa jovem em especial, você emprestou uma bolsa e
colocou dentro dela as suas economias para que ela pudesse fugir. Ou será
que você fazia isso com todas as jovens que passaram pela mansão? Você
dava dinheiro para elas fugirem?
Não, senhorita Mikhailova, eu não dei dinheiro para Polina fugir, só disse
—
que não era prudente que ela saísse sem dinheiro porque se acontecesse
alguma coisa, não teria como voltar para casa.
E por que ela voltaria para o Inferno daquele castelo onde ela era vítima
—
de estupro?
Pavlova? Minha nossa, ela sempre falava no amor da vida dela, que tinha
—
esse sobrenome.
Nikolay Pavlov a acolheu depois de sua suposta morte num incêndio.
—
Eles fugiram para o outro lado do mundo, se casaram, e ele assumiu a
criança que ela estava esperando.
Polina estava grávida, e teve uma filha, Yelena, minha tia, que tem uma
—
filha da mesma idade que eu, que se chama Raissa. Eu preciso confirmar
tudo que Polina contou para sua neta, e provar que minha prima é uma
legítima Mikhailova.
Se ela tem o meu sangue, é uma Mikhailova! Agora me conte tudo desde
—
que Polina chegou à mansão Bratva.
— Eu não posso…
— Por favor!
Eu jamais torturaria alguém para que me contasse algo tão horrível que
—
nós mulheres deveríamos sempre denunciar. Mas eu entendo a sua posição, a
nossa Instituição, mas eu preciso da verdade, e lhe dou a minha palavra que
sua vida e a da sua família estarão sob a minha proteção. Não tenha medo!
Era uma noite muito fria, em que nevava e o jardim estava todo branco.
—
Tinham vários homens na mansão em uma reunião da Bratva, quando o seu
pai, que tinha apenas cinco anos resolveu brincar no jardim sem autorização
do pai. Ele desceu as escadas que estavam cobertas de gelo e caiu rolando
até a parte de baixo. Uma jovem desconhecida correu para ajudá-lo, e seu
avô no lugar de agradecer a destratou por tocar no seu herdeiro. Depois
disso, quando soube que ela era pagamento de uma dívida, resolveu ficar
com ela. Polina era uma jovem muito bonita, com olhos azuis que pareciam
o céu, e com uma tristeza por estar separada do seu amor e ter seus sonhos
destruídos. Ela cuidava do seu pai, e foi a única que teve realmente carinho
por ele. Um dia seu avô chegou muito bravo em casa, e encontrou Polina
cantando para ele e a castigou.
— Ele não a castigou, e sim violentou. O nome é estupro e não castigo!
— Senhorita…
Você a ajudou neste dia, e em todos os outros que ela contou. Você é uma
—
mulher boa Anna, que tinha medo e que cresceu achando que os homens têm
o direito de fazer o que querem com as mulheres, mas isso não é verdade.
Meu avô era um monstro, e eu tenho nojo dele! Você se lembra de como a
Polina estava antes da festa que todos acharam que ela morreu?
Ela estava grávida, e ainda bem que conseguiu fugir, porque com certeza
—
meu avô a mataria se soubesse que ela estava esperando uma criança dele.
Saber que você a conheceu, e que ela realmente passou por tudo que ela
contou, era a prova que eu precisava.
Polina era uma jovem doce! Eu fico feliz que ela tenha sobrevivido e se
—
casado com o seu grande amor! Ela era muito atenciosa mesmo com todo o
sofrimento que carregava nas costas. Polina era a única que conversava com
a sua avó! A senhora Mikhailova, que não falava com ninguém e vivia no
seu quarto, falava com aquela jovem. Acho que uma sentia pena da outra, eu
não sei!
oltei para a mansão Bratva, e assim que cheguei me tranquei no meu quarto
V
e liguei para o Canadá, onde a minha avó vive desde a morte do monstro
com quem ela foi casada. Eu sei que tem coisas que devem ser esquecidas,
mas eu precisava saber de toda a verdade, e depois de perguntas básicas
sobre o seu dia a dia, eu me enchi de coragem e entrei no assunto com ela.
Minha avó, por acaso a senhora se lembra de uma jovem que trabalhou
—
aqui na mansão e foi babá do meu pai, ela morreu em uma festa onde
ocorreu um incêndio.
Sim, o nome dela era Polina! Eu não sei se ela morreu, mas me lembro
—
dos seus olhos quando ficou caída no chão enquanto seu avô arrastava a mim
e seu pai como se só a vida da sua família importasse. Eu senti inveja dela
que pode ficar ali para morrer e não precisou voltar para a mansão Bratva.
Nunca esqueci do olhar daquela jovem que lembrava os meus, e por isso a
deixei ali, para que fosse livre! Por que você quer saber sobre essa moça
tantos anos depois?
Seu pai nunca me ligou minha querida, só você e sua mãe, a minha doce
—
Irya! Não se preocupe que não vou nem que eu quisesse falar alguma coisa
para ele.
— Enzo sempre cuidou de mim, e agora vou poder retribuir lutando por ele.
u e Luna ficamos conversando sobre como faríamos para que tudo desse
E
certo, e eu aproveitei para enviar uma mensagem para Sarah.
Alya: Pode convocar a reunião da máfia das mulheres para uma hora
antes da festa de apresentação dos noivos porque eu já confirmei tudo, e a
história da Polina bate com tudo que me contaram. Ela realmente morou
nessa mansão, e ninguém vai poder dizer que é mentira, porque quem
confirmou, foi a minha avó. Raissa é minha prima, uma Mikhailova, e
vamos lutar para que ela e Enzo possam ficar juntos!
Capítulo 46
Raissa
Faltavam 24h para o meu embarque para a Rússia, e de acordo com o plano
de Sarah, eu chego exatamente no dia da apresentação dos noivos, e sigo
com Matthew direto para o evento.
Como assim você está indo para a Rússia, minha filha? — Minha mãe
—
falou assim que eu contei as novidades para ela e minha avó numa chamada
de vídeo.
— Sua prima?
Eu vou estar protegida pela Máfia das Mulheres, então quero acreditar
—
que estarei segura.
Se não tem outro jeito, e você já decidiu, só nos resta te apoiar porque
—
não somos mais uma família que esconde nada dos outros. Agora nos conte
como foi tudo desde que você chegou em Los Angeles! — Minha mãe falou
e eu sei que mesmo preocupada ela queria mudar o rumo da conversa e
tentar fazer tudo parecer mais leve.
Eu preciso me distrair, e não pensar em tudo que vem pela frente senão
—
eu vou ficar doida. Eu sei que não é brincadeira, até porque no lugar de ir
para um hotel esperar o meu voo, eu vou ficar aqui com Matthew que vai me
ensinar a atirar.
Porque nós somos da máfia, e eu não vou ser esposa troféu porque isso
—
não combina comigo.
Quando eu penso que Raissa mudou, lá vem ela de novo com as suas
—
maluquices — Minha mãe falou rindo.
Mas essa é a nossa Raissa, e eu não quero que ela perca jamais essa sua
—
essência irreverente e alegre, mesmo que a sua vida mude por completo. —
Meu avô falou e eu sorri feliz por saber que ele me entende — Você sempre
falou tanto nessa máfia das mulheres, que no mínimo já está tentando fazer
parte dela.
Esse é o meu avô que me conhece melhor do que qualquer outra pessoa
—
— falei rindo — Eu amo muito vocês! Fiquem daí torcendo por mim, porque
eu estarei lá do outro lado do mundo buscando minha felicidade e
conhecendo a minha verdadeira origem.
Matthew foi bem claro quando afirmou que eles são criminosos, e o
meu pai não teria se casado com a minha mãe se soubesse da sua verdadeira
origem. Fico triste, porque seu amor nunca foi verdadeiro, porque eu quero
Enzo independente de quem ele é, e muito antes de saber quem eu realmente
sou.
Espero que sim, porque não quero matar nenhum soldado enquanto tento
—
acertar os bonecos que vocês têm como alvo.
— Mire no alvo e não nos meus homens e vai dar tudo certo!
Eu não sei o que aconteceu, me deu uma raiva quando você riu de mim,
—
e…
— Isso é ruim? Nossa, eu não posso ter raiva e sair atirando nos outros.
Se você quiser sobreviver na máfia, é assim que você vai fazer com os
—
seus inimigos. Não é só responder que quer ser da máfia, é querer ser de
corpo e alma! Ou você pode ser uma esposa troféu!
∞∞∞
ssim que eu acordei, fui tomar café da manhã com Matthew num refeitório
A
gigantesco e os soldados me olhavam desconfiados, enquanto outros
cochichavam alguma coisa ao meu respeito.
O que vem pela frente na sua vida não será fácil, e nem igual a nada que
—
você conheça ou já viveu. Eu sei que você foi sequestrada, sofreu um
atentado com Enzo, quase morreu na festa de premiação, mas isso são as
cerejas do bolo se você se casar com um Cosa Nostra, já que vai passar a ter
inimigos em cada esquina, e no seu caso, com um agravante, de ser também
uma Mikhailova. Você tem ideia de quantas máfias dariam tudo que tem
para enviar sua cabeça para Aleksey e Dante, mostrando que conseguiram
atingir as duas maiores máfia do mundo ao mesmo tempo? Eu não quis te
assustar, apenas acho que você precisa estar pronta para enfrentar os seus
inimigos, caso precise! O que eu fiz ontem foi te dar uma pequena noção, na
verdade um exemplo, do que pode acontecer. Você faz parte da máfia, e isso
não é uma aventura, mas algo muito perigoso!
— E a segunda pergunta?
Para! Eu só estou com fome! Meu Deus, uma mulher não pode nem
—
comer muito em paz! — Eu falei rindo, e alcançando uma bandeja com
donuts.
A viagem para a Rússia foi silenciosa, o que era difícil acontecer quando se
reúnem os membros de uma família italiana.
u não tinha motivos e nem vontade para conversar com ninguém, já que
E
tudo dentro de mim era uma mistura de dever a se cumprir, e ódio por ter
que ser dessa forma.
aissa que até outro dia estava inconformada com o meu casamento, agora
R
parecia ter aceitado e decidido que o melhor era seguirmos separados.
Está tudo bem? — Meu pai perguntou me vendo mais calado do que o
—
normal.
Eu estou fazendo a sua vontade, mas não queira mandar nos meus
—
pensamentos porque eles são só meus — Eu falei e fui me sentar distante de
todos, e meu pai sabia que eu estava me referindo a Raissa, que era a dona
dos meus sonhos.
ela primeira vez a Cosa Nostra me fez ter raiva de ser um filho da máfia, e
P
não poder ser dono do meu destino.
Eu sei muito bem quantas vidas dependem de nós, mas eu não podia
negar que um lado meu queria jogar tudo pro alto e ficar com Raissa, mesmo
que por pouco tempo, já que sozinhos no mundo nossos corpos iriam parecer
uma peneira de tantos furos de bala.
— Nos sempre fomos amigos meu filho e agora... — meu pai falou
se sentando ao meu lado.
— Mas o senhor disse meu tio, que ela “nem é uma filha da máfia”,
mas... e se ela fosse?
∞∞∞
Uma vontade de jogar tudo para o alto gritava dentro de mim, mas
daí me lembrava do sorriso da minha jornalista encrenqueira e sua sede por
viver, me lembrava que o meu sacrifício de ficar longe, era para que ela
tivesse uma chance de ser feliz.
Por mais que para quem estivesse de fora achasse que sumir e viver
escondido seria uma grande solução, quem é da máfia sabe que mais cedo ou
mais tarde acabam nos encontrando. O filho de um associado ficou dois anos
desaparecido, ninguém sabia ou se lembrava dele. Ele foi morar na Grécia,
longe de tudo, numa vida simples e um dia “boom” ... sua esposa ligou o
carro e foi pelos ares.
Os últimos dois dias foram intensos, com Alya buscando provas que
Raissa era a sua prima, e eu pensando numa solução para manter a palavra
da Cosa Nostra com Rurik. Eu precisava quebrar o acordo de casamento de
Enzo, e ao mesmo tempo evitar o início de uma guerra, além claro de
proteger Natalya para que ela não ficasse com o rótulo de noiva largada.
Eu tinha pouco tempo antes da reunião que Sarah marcou com minha
mãe, Nina, Alice e Irya que já estavam me aguardando na sala de reuniões.
Eu não vou dar voltas, até porque não temos tempo. A jornalista
—
Raissa O’Brien é sobrinha bastarda de Aleksey Mikhailov e Sarah Cooper
convocou a Máfia das Mulheres para tentar fazer valer o seu direito de filha
da máfia, e assim, ela e Enzo poderem se casar.
— Acontece que bastardos não são reconhecidos, o seu pai nunca vai
aceitar isso. Espera, você disse sobrinha de Aleksey Mikhailov?
— E você quer o meu apoio para que aceitem Raissa como uma
legitima filha da máfia?
— Eu já entendi, Luna.
arah Cooper era uma mulher direta e que não dava voltas ou ficava
S
enrolando quando queria resolver alguma coisa, e era o meu modelo de
inspiração para tudo na vida. Ela contou rapidamente e sem deixar escapar
nenhum detalhe toda a história de Raissa, e deixando todas comovidos com
o drama vivido por Polina.
Eu não sei como Aleksey vai receber toda essa história e uma sobrinha
—
bastarda, mas podem ter certeza de que não ficarei calada diante das
atrocidades cometidas por aquele velho maldito. Raissa tem todo o direito de
ser reconhecida como uma Mikhailova, e estarei te apoiando minha filha
quando você disser isso para os associados.
Meu filho só está se casando para proteger essa jovem, mas se ela tem o
—
sangue da máfia nas veias, acabou o impedimento e Lorenzo que não fique
no meu caminho.
Não pense com o pau, e sim com a sua cabeça, eu falava para mim
mesmo enquanto gozava forte pensando na minha jornalista encrenqueira.
u não sei o que deu em mim, não sou um homem impulsivo, mas naquele
E
momento se Raissa tivesse atendido eu teria me tornado um exilado da
máfia. Não pensei nos meus pais, na minha família e em mais ninguém, e
dentro de mim me sentia um egoísta, mas será que uma vez na vida eu não
tinha direito de pensar só em mim.
ma voz gritava dentro de mim dizendo que não. Que eu não podia pensar
U
só em mim, e outra voz gritava que sim, que eu tinha o direito como
qualquer outra pessoa de surtar.
gradeci por Raissa não ter atendido a minha ligação no meu momento de
A
fraqueza, onde o meu egoísmo foi tão grande que não pensei que estaria
tirando o seu direito de ser livre, para fugir ao lado de alguém marcado com
o sangue da máfia.
∞∞∞
— Acontece meu pai, que todos vocês tinham o coração vazio e uma
obrigação com a Instituição — Luna falou entrando na sala acompanhada de
Alya e pegando todos de surpresa — já o coração do Enzo está ocupado, ele
e Natalya não tem a menor chance de serem felizes.
una e Alya afrontaram os seus pais, mas depois com o jeitinho delas
L
fizeram os dois leões bravos se sentarem para escutá-las.
Essa porra de discussão toda por causa de uma mulher que não
—
tem o nosso sangue? E vocês acham mesmo que estão preparadas para
assumir vindo com isso? — Aleksey falou e deu uma gargalhada.
Você não precisa se casar com outra pessoa para proteger Raissa,
—
meu primo.
Mas o que impediu Enzo de ficar com ela foi não ser uma filha da
—
máfia? — Alya insistiu no assunto.
Ela estava com a minha mãe, Isabella, Alice, Louise, Irya e para
surpresa de todos, Anne Cooper, hoje, a senhora Stanford, que passou o seu
legado para Pietro, mas que hoje veio acompanhar uma missão da Máfia das
Mulheres.
E quando todos pensaram que as surpresas tinham terminado, ela entrou…
linda, altiva, poderosa, perfeita… a minha Raissa.
Foi então que levantei me questionando o que ela estava fazendo aqui na
Rússia.
— Claro que por trás da rebelião das nossas filhas tinha que estar a
causadora do estrago na Instituição, Sarah Cooper.
— Como sempre, Dante, não foi escolha minha, mas caiu nas minhas mãos
mais uma bomba que precisava ser detonada.
— Anne, minha irmã, sinceramente, você deveria voltar para a empresa
porque isso aqui... — Pietro falou sendo interrompido.
— Ou posso mudar de ideia, assumir no futuro o meu lugar de Chefe e te
colocar como meu Consiglieri — Anne falou enfrentando Pietro — Isso aqui
não é uma brincadeira. Eu posso ficar afastada da Instituição, mas se uma
mulher precisar de mim, pode saber que lutarei por ela. Foi isso o que
aprendi como a nossa mãe, e esse legado eu faço questão de honrar.
— Eu quero uma explicação para esse circo Irya? O que você está
fazendo aqui neste motim? — Aleksey começou a falar visivelmente
alterado — Você ajudou a orquestrar essa palhaçada toda? E essa jovem que
eu não sei quem é, o que está fazendo aqui? E espera... Calem todos a porra
da boca. O que você falou sobre ela, Alya?
— Depois de tantos anos juntos — Irya falou com seu tom de voz
baixo e intimidador — eu pensei que você soubesse Aleksey, que eu não
orquestro palhaçadas. Isso tudo aqui é sério demais, e se eu estou aqui é
porque mais uma mulher foi vítima das atrocidades desta Instituição, e neste
caso pelo monstro do seu pai. O que vai ser dito aqui não será fácil para você
digerir, porque envolve um passado que parecia ter sido enterrado com a
Bratva, mas que ressurgiu e precisamos resolver.
— Meu pai, por favor, sente-se — Alya pediu — Senhores, sentem-
se porque a nossa conversa vai ser um pouco longa.
Eu queria uma explicação do porquê Raissa estava com a Máfia das
Mulheres, mas ela me pediu só movendo os lábios, sem emitir nenhum som,
que eu esperasse e sorriu.
— Enzo, o que está acontecendo aqui? E por que você está com esse sorriso
idiota na cara? — Pietro me perguntou baixo para que ninguém escutasse.
— Fodasse se eu estou ou não com cara de idiota. Essa mulher é tudo para
mim. Ela sabia que o único motivo para eu me casar era protegê-la e o que a
minha jornalista doidinha fez? Se juntou a Máfia das Mulheres sei lá com
que argumento, mas só te digo uma coisa: Ela é fodaaaaaa!
— Você combinou isso com ela? — Responda Enzo Cosa Nostra, meu pai
falou me olhando com ódio.
— Não meu pai, mas como eu disse antes de vir para o sacrifício, se
existisse uma chance de a Raissa ser minha, lutaria por ela, e parece que isso
aconteceu.
— Será que os homens da Instituição podem deixar que nossas futuras
Chefes, Luna e Alya falem? — Sarah falou interrompendo as conversas
paralelas que ocorriam dentro da sala de reuniões.
— Vai para o inferno, Sarah Cooper — Dante gritou — Eu fiz um acordo e
minha palavra é Lei.
— E sua palavra será cumprida meu pai, eu lhe garanto — Luna falou —
Agora permitam que eu e Alya falemos porque viemos aqui e afirmamos que
Raissa é uma filha da máfia.
— Uma Mikhailova — Alya completou.
— Eu não traí a minha esposa ou engravidei qualquer mulher fora do
casamento, isso é uma calúnia e eu vou acabar com quem inventou isso —
Aleksey falou sacando a arma e antes que desse tempo de ele apontar para
Raissa, eu corri sem pensar em mais nada me colocando à sua frente, sendo
que Irya foi ainda mais rápida, e se colocou como um escudo humano na
nossa frente.
— Você não me traiu meu amor, escute tudo, por favor. Abaixe a arma,
Aleksey, aqui estamos entre os nossos.
Irya fez sinal para minha mãe que me pediu para sentar, assim que
Aleksey fez o mesmo, eu fui para o meu lugar, mas fiquei com minha mão
na minha arma. Eu poderia morrer, mas não sem antes defender Raissa de
qualquer um que estivesse naquela sala.
— Tudo aconteceu há muitos anos, quando o senhor, meu pai, tinha
apenas cinco anos. Era uma noite fria, nevava, e você só queria brincar do
lado de fora, e como seu pai não permitia esses momentos na sua vida, do
nada o senhor saiu correndo e escorregou nas escadas da mansão Bratva,
sendo acolhido por uma jovem, que se tornou a sua babá. Seu nome era
Polina, ela tinha sido usada como moeda de troca com a Tambovskaya de
San Petersburgo, e a história dela virou uma tragédia desde então, e piorou
quando foi parar no coração da Elite Vermelha.
Eu respirei fundo e olhei para Raissa. Me lembrei dos seus avós e de
achar que eles escondiam algo. A senhora Polina tinha um olhar vazio, e
agora tudo começava a fazer sentido. Ela foi babá de Aleksey Mikhailov e
com certeza vítima do demônio do seu pai.
Durante todo o tempo em que Alya relatou com detalhes o passado
de Polina e sua ligação com a Bratva, Raissa ficou de olhos fechados, e eu
pude perceber o quanto ela estava sofrendo ao escutar cada palavra de uma
história que parecia não ter fim.
— E foi então, que Polina, que estava recém-casada com Nikolay,
fugiu para os Estados Unidos, onde teve sua filha Yelena, que para todos era
fruto de um casamento feliz. Os anos se passaram e Yelena se casou, e teve
uma filha, que está aqui nessa sala — Aya falou e caminhou até Raissa.
— Quis o destino que os dois filhos do demônio, Aleksey e Yelena,
tivessem uma filha mulher no mesmo ano. O meu sogro queria tanto um neto
homem, e ganhou duas netas de uma só vez. Eu espero que você esteja no
Inferno me vendo rir da sua cara seu velho maldito — Irya falou olhando
para o chão.
— Uma bastarda, é isso que ela é… — Rurik falou invadindo a sala
acompanhado do conselho Bratva — Nós escutamos tudo e eu não sei o
motivo desse assunto ser tratado no dia do noivado oficial da minha filha,
mas seja como for, bastardos não são nada.
— Se a sua futura Chefe diz que Raissa é uma Mikhailova, o senhor
trate de abaixar a cabeça e concordar — Alya falou colocando sua arma
colada na testa de Rurik que ficou em choque, enquanto os outros homens do
conselho ficaram em silêncio.
— Como você sabe que tudo isso é verdade, Alya? — Aleksey
perguntou sem se importar com Rurik ou o conselho Bratva. Ele comandava
tudo a ferro e fogo, e sua palavra final era a Lei, e quem não concordasse
morria e ponto final.
— O senhor acha que eu viria aqui com uma impostora, meu pai? Eu
procurei pela empregada da mansão a época em que Polina cuidou do
senhor, também conversei com a minha avó, que ainda se lembra da Polina e
do dia que ela foi deixada no hotel pegando fogo.
— Você falou com a minha mãe sobre um assunto desses?
— Sim, eu falei. Yelena é sua irmã e Raissa, sua sobrinha, meu pai.
— Uma bastarda? Bastardos não tem família — um associado falou
se intrometendo na conversa entre pai e filha — Chefe, o senhor não pode
considerar um absurdo desses porque seria um precedente.
— Cala essa sua boca de merda, porque não permiti que ninguém me
dirigisse a palavra — Aleksey gritou — E o que eu considero ou não é
decisão minha, e de mais ninguém.
— Bastardos sempre foram a escória… — Um dos associados falou
olhando para Alya.
— Cala a boca seu verme nojento — Alya gritou — Não querem bastardos,
senhores? Simples, guardem essa merda de pau que vocês têm dentro das
calças e só usem se estiverem com as suas esposas.
— Era só o que faltava agora na máfia — o homem falou rindo das palavras
de Alya e segundo depois foi parar no chão, gritando como um louco, sem
pau e com a calça coberta de sangue.
Alya era fria e implacável como seu pai. Com ela não existia segunda
chance, e quando ordenou que levassem o homem sem pau da sala, os
soldados entraram correndo e limparam tudo.
Olhei para Raissa que estava em choque, e fiquei me perguntando se ela
sabia realmente onde estava se metendo por minha causa. Será que o nosso
amor seria capaz de suportar tantas diferenças?
— Mais alguém quer falar alguma coisa sobre bastardos não existirem? —
Alya perguntou e o conselho da Bratva se calou.
— Então passemos ao segundo assunto da noite — Luna falou — O noivado
de Enzo.
— O que têm o noivado do Enzo e Natalya? — Rurik perguntou.
— O noivado deles será desfeito… — Luna falou e Rurik pegou sua arma.
Dante então apontou também uma arma para Rurik, e o caos se instalou.
— Já chega! — Sarah Cooper falou e atirou para o alto e todos se
entreolharam — Quando vocês vão aprender a não interromper uma mulher
quando ela estiver falando?
Continuando de onde eu parei — Luna falou — o acordo continua de pé,
—
apenas trocaremos o noivo.
— O que? — Dante perguntou confuso.
— Meu pai, eu não deixaria o senhor faltar com a sua palavra e não ajudaria
Raissa, deixando Natalya desamparada. Eu pensei nas duas, sendo assim,
Natalya vai se casar com Matteo, que também é um Cosa Nostra, e pense,
meu pai, Raissa é uma Mikhailova, então, com certeza o senhor vai querer o
casamento dela com Enzo, ou não?
Meu tio ia responder quando Aleksey despertou dos seus pensamentos que
ele com certeza estava tentando colocar em ordem.
— Já chega! — Ele falou com sua voz fria e autoritária — Rurik, aceite a
proposta da Cosa Nostra porque para você tanto faz casar sua filha com
qualquer um da família deles. Enzo ou Matteo não faz a menor diferença.
Essa reunião está encerrada. Apresentem os noivos, Matteo e Natalya
oficialmente na festa preparada para essa noite, e nos vemos no casamento
deles. Eu e minha família estamos indo embora — Aleksey falou e todos
ficaram em silêncio — Irya, Alya… e você também, Raissa, vamos para
casa.
— Eu… — Foi a primeira vez que escutei a voz de Raissa desde que ela
chegou.
— Vamos embora — Aleksey repetiu sem olhar para ela.
— Senhor… Mikhailov… Aleksey… — Eu falei sem saber como me dirigir
a ele naquele momento — Será que eu posso falar com a Raissa?
— Não, você não pode — Aleksey respondeu me olhando com raiva —
Lorenzo me procure com as intenções do seu filho e estudarei o assunto no
futuro. Boa noite a todos.
— Vai com ele — Sarah falou para Raissa que me olhou perdida no meio de
tudo aquilo.
— O senhor não pode levar uma bastarda como se fosse sua sobrinha
legítima — Um associado da Bratva falou dando adeus a esse mundo, pois
Aleksey só virou e atirou.
— Eu não admito que questionem minhas decisões e os senhores sabem
muito bem disso — Aleksey falou, passou por cima do corpo do associado
morto e foi embora, sendo seguido por sua esposa, Alya e Raissa.
— Muito bem, Rurik, nosso acordo então continua e sua filha vai se casar
com o meu sobrinho, Matteo, filho de Giancarlo? — Dante falou como se
nada de errado tivesse acontecido naquela sala.
Acordo fechado — Rurik falou apertando a mão dos meus tios Dante e
—
Giancarlo.
Eu estava preocupado com Raissa que foi embora com um tio que ela não
conhecia, mas precisava falar com Matteo.
— Meu primo, eu não queria que você se casasse no meu lugar, e não sei o
que te dizer.
— Quando Luna me procurou eu disse a ela que estava pronto. Somos a
Cosa Nostra, e precisamos ficar unidos. Para que entrarmos numa guerra se
temos a solução, e no final nossos pais devem estar muito felizes, porque se
eles queriam uma aliança mais forte com a Bratva, conseguiram, porque
Raissa é uma Mikhailova.
— Vai ficar tudo bem, Enzo — Luna falou me abraçando.
— Desde quando você sabia disso tudo, Luna?
— Eu soube tem poucos dias. Sarah nos procurou, a mim e Alya, e enquanto
ela buscava provar a história de Raissa, eu tentava resolver o acordo feito
pela Cosa Nostra e proteger Natalya de ser uma largada.
— Muito obrigado por tudo, só que agora…
— Agora você está preocupado com Raissa, mas acredite, ela vai ficar bem.
Enzo, ela é uma Mikhailova, e provou isso enfrentando tudo vindo até aqui
lutar pelo amor dela. A mulher não tem medo de nada não, e isso explica por
que ela entregou a Salvatrucha — Luna falou rindo — Ela é implacável
como Alya.
Já era tarde, e na parte de baixo os convidados esperavam sem saber de nada
que tinha acontecido, para ver a apresentação dos noivos. Meu pai então deu
boa noite a todos, e disse que o melhor era que eu, ele e minha mãe fôssemos
para casa.
Ele estava certo, já que como meu primo ficaria noivo oficialmente
no meu lugar, era melhor eu não estar presente para ficarem fazendo mais
perguntas.
O clima que antes estava tão tenso agora era de calmaria. Era
impressionante como só importavam os lucros para todos se acalmarem.
Rurik não iria perder nada, Dante não deixou de cumprir a palavra
dele, o meu pai que antes não queria saber da Raissa já devia estar
preparando um acordo que interessasse a Aleksey.
Sim, isso é a máfia, o lugar onde nasci, o mundo que eu conheço,
onde no final só importa o quanto em espécie você têm a oferecer para tudo
ficar bem.
E se para todos estava tudo bem, para mim agora existia o medo de
não ter o suficiente para que Aleksey me deixasse casar com a sua sobrinha.
Capítulo 50
Raissa
oi tudo tão rápido que eu não tive tempo para raciocinar direito sobre tudo
F
o que aconteceu na festa de casamento, e muito menos para conversar com
Enzo. Na verdade, se eu troquei duas palavras com ele foi muito, tipo, oi e
tchau.
Quando Sarah Cooper disse que eu tinha muito o que aprender sobre
a máfia, ela realmente não estava brincando.
Aos poucos fomos nos aproximando da casa, que para mim era como
um castelo dos filmes de terror. Por instantes foi como se a minha avó
estivesse narrando para mim a sua história quando chegou neste lugar. Tudo
era exatamente como ela descreveu, e quando Yuri abriu a porta do carro e
eu saltei em frente as enormes escadarias daquela mansão, senti um calafrio,
lembrando que um dia minha avó Polina esteve aqui para viver a parte mais
triste e sombria da sua vida.
Não ligue para o meu pai, amanhã ele vai estar um pouco mais calmo e
—
vocês vão conversar — Alya falou saltando do seu carro — Nada como uma
boa conversa com a senhora Mikhailova para a fera acalmar e pensar melhor.
Eu não tenho nada para falar com ele, na verdade eu nem sei o que estou
—
fazendo nesta casa. Sinceramente, eu não quero entrar, eu preciso falar com
Enzo, foi por isso que eu vim e…
Você veio aqui para contar que é uma filha da máfia, e não uma qualquer,
—
mas sobrinha do Chefe da Solntsevskaya Bratva. Assumir seu lugar nessa
sociedade não te faz noiva do Enzo, mas membro da Instituição, com suas
leis que sempre têm que ser cumpridas.
∞∞∞
u entrei no salão daquele imenso castelo, e lá dentro a decoração era
E
moderna, com tons claros contrastando com a arquitetura antiga daquele
lugar. Se do lado de fora o castelo causava calafrios, a parte de dentro
parecia acalmar quem vivia naquele local.
Era assustador, sombrio e com uma energia que parecia que você estava
—
entrando no inferno. Quando eu me mudei para cá me senti muito mal,
odiava andar pela casa, e se eu fui a cozinha uma vez foi muito — Irya falou
olhando ao seu redor como que recordando de um tempo ruim — Mas
depois que o velho infeliz morreu, eu mudei tudo aqui dentro. Quebrei
paredes, pintei todas com tons claros, comprei móveis modernos e se o lado
de fora precisa intimidar nossos inimigos, a parte interna só precisa trazer
paz aos moradores.
A minha avó descreve esse lugar exatamente como você. Ela disse que
—
quando chegou aqui foi como entrar no inferno, e mesmo com tudo
modificado, me dói saber tudo que ela sofreu neste lugar. Eu não posso ficar
aqui, preciso ir embora, odeio esse lugar, me desculpe, eu sei que é a sua
casa, mas…
— No caso ele não me ama, então corro sérios riscos neste lugar.
I rya estava certa, e eu não queria ser impulsiva falando coisas que poderia
me arrepender mais tarde. Eu aprendi que nem tudo se resolve no primeiro
minuto, mesmo que um lado meu deseje sair correndo daqui gritando que
odeia os Mikhailov.
lya me levou até o meu quarto e fiquei feliz quando vi a minha mala com
A
as minhas coisas.
Assim que você desembarcou, suas malas já foram para o carro que
—
trouxe você aqui para a mansão.
Minha mãe mandou preparar o seu quarto assim que soube de tudo, ou
—
seja, independente do que acontecesse, ela já te considerava sua sobrinha, e
quando ela decide alguma coisa, acredite, só resta ao meu pai esbravejar,
matar uns cem inimigos, e depois voltar e aceitar sua decisão.
Suas coisas estão todas aqui, inclusive seu celular. Você acha que eu ia
—
deixar minha prima sem falar com o seu amor até que meu pai decida o
futuro de vocês? Segredo nosso! Aproveite que nós da família podemos ter
celular, os convidados têm que entregar tudo quando chegam e usar
aparelhos controlados pela Bratva dentro da mansão.
lya me deixou sozinha e juro que algo dentro de mim me dizia para abraçá-
A
la, mas um outro me impedia de demonstrar sentimentos. Estranho, que em
pouco tempo na Rússia, já consegui descobrir com quem eu me pareço tanto,
e me assusta saber que é justamente com o meu tio.
Enzo: Estou ficando preocupado, mas também não sei nem se você
está com o seu celular.
Enzo: Raissa, devo acreditar que agora que você é uma Mikhailova,
está me esnobando?
Raissa: Meu amor, você vai ver as minhas garras, mas não afiadas
pela máfia.
Raissa: E você sabe bem disso, não é mesmo, senhor Cosa Nostra.
Raissa: Eu não quero ficar aqui nessa casa. Eu vim para ficar com
você.
Enzo: Vamos resolver isso assim que o seu tio marcar uma reunião
com o meu pai e o meu tio.
Raissa: Reunião?
Enzo: Você agora é uma filha da máfia, meu amor, e para ficarmos
juntos muita coisa vai precisar acontecer. Uma aliança dessas é grande
demais para ser fechada de uma hora para outra. Afinal, eu me apaixonei por
uma jornalista doida e encrenqueira, que de um dia para o outro, se
transformou em uma das herdeiras da Solntsevskaya Bratva.
Enzo: Tenha calma, que vou fazer de tudo para que em breve você
seja Raissa Mikhailova Cosa Nostra. Eu te amo, e vou lutar para que o seu
tio me aceite como seu futuro marido.
Capítulo 51
Aleksey Mikhailov
Eu precisava esfriar a minha cabeça que estava dando voltas depois que
deixei a reunião onde a minha filha Alya, e Luna, despejaram uma bomba
sobre a minha cabeça.
Uma irmã bastarda.
Uma sobrinha bastarda.
Nada disso tem importância na nossa sociedade, mas ver minha filha, minha
herdeira, defendendo o que ela acredita com tanto empenho, me fez escutar e
mais uma vez fazer valer na força a minha decisão.
Alya é o meu orgulho!
Ela é igual a mim quando quer que a escutem. Minha continuação
perfeita, por quem eu declaro guerra se for preciso para fazer valer a sua
vontade, ela só não pode saber disso, porque não aceito que ninguém
conheça minhas fraquezas, e minha filha, é sem dúvida alguma, a maior de
todas elas.
Outra mudança vai acontecer na Instituição, agora com um assunto nunca
discutido, mas que certamente vai causar uma grande polêmica. Alya foi
clara que se não querem bastardos, então não os façam, deixando a entender
que por ela todos serão reconhecidos.
Eu podia duvidar desta jornalista, a tal Raissa, mas se minha filha e minha
esposa deixaram tudo chegar tão longe, então não me restava nenhuma
dúvida que fosse tudo verdade.
— Por que você não me contou isso antes desta reunião? — Eu perguntei
para minha esposa quebrando o silêncio dentro do carro que nos levava para
casa.
— Eu soube pouco antes da reunião. Sarah conversou sobre isso apenas com
Luna e Alya, as futuras Chefes, e convocou a Máfia das Mulheres já quase
na hora de interrompermos a reunião.
— Essa Sarah Cooper é uma bomba relógio que sempre explode nas nossas
cabeças e na Instituição.
Sarah só faz brigar por justiça para nós mulheres da máfia, a bomba que
—
explodiu hoje foi causada pelo seu pai que sempre foi um monstro e causou
tanto mal por onde passou.
— Ela desenterrou algo que parecia ter sido enterrado no Inferno Bratva.
— Mais uma vez a profecia maldita se confirmou: quem nasce na máfia,
morre na máfia. Tantos anos depois, coitada dessa senhora, Polina, teve que
expor suas dores para ver sua neta feliz. Ela escondeu a filha de tudo e de
todos, e no final seu sangue ruim falou mais alto, e moveu mundos para
revelar sua origem e levar a mafiosa de volta para o seu verdadeiro lar
criminoso.
— Você está falando…
— Da sua irmã, meu amor.
— Os bastardos nunca tiveram direito a nada, e agora você quer que eu
divida o que eu tenho com alguém que eu nunca vi na minha vida.
— Ninguém quer nada seu, Aleksey. Duvido que Yelena pense em
reivindicar algo que vem de um ato tão maldito. Ela só quer ver a filha feliz,
mais nada…
— Irya meu amor, você falando me lembra aquela jovem ingênua com quem
eu me casei. Não existe isso de ver a filha feliz. Se eu reconheço Raissa, o
que aliás, já fiz trazendo essa jornalista para casa graças a você e Alya,
automaticamente reconheço que tenho uma irmã que a essa altura já é alvo
de todos os nossos inimigos.
— Eu não tinha pensado nisso… foi tudo muito rápido.
— Na máfia não podemos dormir por isso, tudo acontece em segundos, e se
piscarmos, adeus.
— Você não se lembra da Polina?
— Eu não me lembro de nada da minha vida antes de você. Sempre fiz
questão de não guardar lembranças, já que tudo que eu tinha que fazer
mesmo era obedecer ao meu pai até o dia que eu me tornasse Chefe.
— E agora? O que vai acontecer?
— Eu preciso pensar, mas de qualquer forma, amanhã, você, Alya e… a
jornalista, vão ao casamento.
— O nome dela é Raissa.
Eu não queria mais conversar, precisava tomar decisões urgentes, e mandei
uma mensagem para Yuri que estava acompanhando a tal Raissa no carro
que seguia também para a mansão Bratva.
ssim que chegamos fui direto para o escritório esperar por Yuri e decidir o
A
que eu faria a partir de agora.
— Senhor, vou passar essa noite providenciando todos os relatórios.
— Redobre a segurança da minha família, porque amanhã vamos
viajar.
— Posso saber para onde vamos, ou se preciso tomar alguma providência?
— Vamos para a Filadélfia, e a seguir para Los Angeles. Localize o chefe da
Salvatrucha, porque eu quero fazer uma visita.
— Podemos mandar nossos homens…
— Os meus assuntos pessoais resolvo eu mesmo. Quero estar de frente com
esse merda que comanda a Salvatrucha, logo após a minha ida a Filadélfia.
— Sim senhor, providenciarei tudo.
Antes de ir para o meu quarto, eu resolvi ir tomar um ar porque pensei que
iria sufocar com tantos problemas novos que surgiram do nada, e assim que
abri a porta começou a nevar mais forte.
Olhei para a escada coberta de neve e tudo que estava guardado no fundo da
minha mente parecia querer sair a força, e comecei a escutar meus gritos
dizendo que queria brincar, como se eu fosse um menino normal, e de uma
voz que dizia, por favor, não saia, você não pode brincar.
Me aproximei da escada e escutei meu choro, e uma voz doce dizendo que
eu ficaria bem.
INFERNO!
Eu não queria me lembrar. Eu não gosto do passado.
Eu só gosto de me lembrar da minha vida a partir do dia que Irya passou a
fazer parte dela quando nos casamos.
Que vida merda que eu tive. Que criação horrível.
Eu fui para o meu quarto tomar um banho e relaxar, mas assim que entrei o
grito de várias mulheres pareciam ecoar na minha mente.
— O que aconteceu, Aleksey? — Irya perguntou e veio correndo me abraçar
— São os pesadelos? Você nunca mais teve nenhum com os ratos, ou com o
Inferno Bratva.
— Minha infância não foi miserável só pelo Inferno Bratva. Eu cresci vendo
muita coisa, escutando muitos gritos. Eu desligava a minha mente e jantava
em silêncio, ou ficava olhando para o nada. Eu nunca quis ver ou escutar
nada que o monstro fazia.
— Oh meu amor, você era uma criança, deveria ter sido protegida, amada, e
não sofrido todos os tipos de abusos.
Eu preciso tomar um banho e esperar amanhecer, porque amanhã o meu
—
dia será longo e assim que os relatórios que eu pedi para Yuri chegarem eu
vou viajar.
— Eu posso saber para onde você vai?
— Não, porque além de minha esposa você é da máfia das mulheres, e quero
fazer tudo sozinho e do meu jeito.
— Sim senhor, Chefe — Ela falou indo se deitar — Eu entendo que esse é
um momento seu, e que você quer resolver da melhor maneira possível, mas
você sabe que se precisar…
— Eu tenho você.
— Sim, eu te amo meu anjo das trevas. Por favor, faça o que for preciso para
resolver isso tudo, e vencer mais esses fantasmas que estão dentro da sua
mente.
∞∞∞
ssim que amanheceu, coloquei o meu coldre com as minhas armas, minha
A
camisa preta, minha gravata vermelha escarlate e meu terno preto. Na minha
mala coloquei poucas peças de roupa, já que não pretendia ficar mais de
quarenta e oito horas fora, só iria resolver tudo e retornar para decidir o
destino da minha… sobrinha.
— Bom dia, senhor — Yuri falou assim que eu entrei no escritório — Os
relatórios que o senhor pediu estão na sua mesa.
— Mande que chamem Raissa, eu quero falar com ela.
— Sim, senhor.
Eu já estava irritado porque além de não gostar de esperar, eu ainda
precisava viajar e pelo visto a minha… sobrinha… estava tentando testar a
minha paciência.
— O senhor pediu para chamar, Raissa, meu pai — Alya falou entrando com
a jornalista no meu escritório.
— Sim, mas por acaso ela não tem língua? Para quem segundo esse relatório
desafiou a Salvatrucha eu pensei que ela fosse mais corajosa.
— Eu não sei se sou corajosa, mas aqueles monstros me
sequestraram, me fizeram viver um inferno, e se era para morrer já que me
ameaçaram, então que tivessem dias ruins também. Mas eu já entendi que
não poderia fazer isso, que errei e…
Se você não tivesse feito nada, então não teria o sangue da Elite
—
Vermelha. Não mandamos recado. Eliminamos nossos inimigos. Eu estou
indo viajar. Alya, eu quero que você, sua mãe e Raissa compareçam ao
casamento essa tarde.
— Casamento? Eu não vou neste casamento…
— Isso é uma ordem! — Eu falei e Raissa ia falar algo mas vi quando Alya
pediu que ela se calasse — Você viajou para Dubai com Enzo Cosa Nostra?
— Ele disse que seria mais seguro para mim enquanto ele cuidava da minha
segurança.
— E então ele resolveu te proteger na cama dele? — Eu perguntei e fiz sinal
com a mão que não queria resposta — Eu preciso viajar — Eu falei deixando
o escritório e sendo seguido por Alya e Raissa.
Senti meu celular vibrando na minha mão e quando olhei a tela respirei
fundo antes de atender.
— Lorenzo Cosa Nostra, você demorou tanto para entrar em contato comigo
que achei que precisaria eu mesmo te procurar para te lembrar que eu
poderia reparar com sangue a desonra que seu filho causou na minha
família.
— Mikhailov, o meu filho não sabia que…
— E você, meu caro? — Eu falei o interrompendo — Até onde eu sei, você
não queria Raissa para esposa do seu filho, o que mudou para você estar me
ligando? Ah claro, o sangue nobre dela. Trate de abrir generosamente sua
conta bancária, e avisa a Dante que não me venha com pequenas porções da
Cosa Nostra como dote, porque seu filho ousou tocar em algo proibido e
vocês vão reparar isso.
— Eu não sou homem de fugir das minhas responsabilidades, e desde ontem
já tinha decidido te procurar e propor um acordo de união entre o meu filho e
Raissa, uma vez que ficou claro que você a reconheceu como sua sobrinha
legítima.
— Eu vou fazer uma viagem, e na volta nos sentaremos para conversar, mas
até lá avise o seu filho para se manter longe da minha família.
Eu mal terminei de falar e senti meu ar saindo dos meus pulmões. A porta da
minha casa se abriu e Enzo entrou como se estivesse vindo aqui fazer uma
visita informal quando ainda era bem-vindo nessa casa.
— Você criou muito mal o seu filho Cosa Nostra, porque ele acabou de
entrar na minha casa.
— Enzo está aí?
Você por acaso tem algum outro filho sem noção alguma da nossa
—
Instituição para vir aqui na minha casa depois de tudo que ele fez?
— Enzo meu querido — Irya surgiu na sala falando e o abraçando — Que
bom que Nina te deu o recado e você veio.
— Infelizmente Cosa Nostra, nossas esposas são muito mais sem noção do
que qualquer pessoa da nossa sociedade — Eu falei desligando o celular.
— Enzo você veio! — Raissa falou quando o viu e tentou correr até ele, mas
Alya a impediu.
— Eu sei que eu deveria esperar o meu pai e o senhor conversarem, mas…
— Mas eu o chamei para vir aqui — Irya falou — porque Raissa estava
muito apreensiva, o que é natural, afinal ela não nos conhece. Essa menina
cruzou o oceano por amor e achei justo que eles pudessem conversar.
— Ele que ouse se aproximar dela novamente antes do casamento. Se
houver casamento porque o contrato vai ter que ser muito bom, ou vou lavar
a honra da minha família com sangue. Você vem comigo — Eu falei me
virando e sendo seguido por Enzo até o meu escritório.
Entramos no meu escritório e eu tranquei a porta para não ser interrompido.
— Senhor Mikhailov, eu quero deixar claro que tenho a intenção de me casar
com Raissa…
— Agora que ela é minha sobrinha, é claro.
— Não senhor. Eu amo Raissa, e só estava me casando, primeiro porque na
nossa sociedade não temos direito de escolher nossas esposas, segundo,
porque Raissa… bem, ela é uma bomba ambulante e atrai milhares de
inimigos por segundo. Ela desafiou a Salvatrucha depois do sequestro,
mesmo depois de eu ter falado que isso era perigoso demais. Ela é muito
teimosa, e sempre faz o que quer.
— Ela é uma Mikhailova, por isso não tem medo de ninguém.
— Eu algumas vezes cheguei a falar que se ela fosse da Máfia seria da
Bratva, porque ela sempre está usando algo vermelho escarlate. Mas
voltando ao que aconteceu, eu só queria protegê-la de todos os perigos e
deixar ela viver. Raissa é impulsiva, alegre, doida, explosiva, intensa, linda.
Ela merecia viver! E o que seria dela ao meu lado? Se eu largasse tudo, e
caísse no mundo com ela, quanto tempo demoraria até que fôssemos
sequestrados como meu tio Giancarlo? Eu preferia um casamento infeliz, do
que ser responsável pela morte da dona do sorriso mais lindo desse mundo.
— Eu estou vendo que você ama Raissa, ou não teria tido a coragem de vir à
minha casa mesmo sendo a convite da minha esposa.
Ela está confusa, numa casa com estranhos. Eu nunca poderia imaginar
—
que o segredo da família dela fosse esse. Eu senti o medo na voz, no olhar e
na respiração dos seus avós. Eu vi dor nos olhos da senhora Pavlova. Só que
para mim eles eram russos exilados, com medo de serem mandados de volta
para cá. Nunca imaginei um passado tão sombrio ligado à nossa Instituição.
— Você a conheceu?
— Quem?
— A mãe da Raissa.
— Yelena, a senhora O`Brien? Sim, eu conheci num almoço de família que
Raissa me levou.
— Como ela é?
— Uma senhora elegante, muito bonita, com os cabelos no mesmo tom que
o seu, agora reparando bem, a cor dos olhos também é igual. Ela é advogada
e bem-sucedida na profissão. Eu a achei uma pessoa reservada, observadora.
Acho que a única que fala demais naquela família é Raissa.
— Eu estou indo à Filadélfia, mas ninguém deve saber. Eu preciso resolver
esse assunto antes de decidir o destino de Raissa. E você vem comigo.
— Eu, senhor?
— Sim. Primeiro que não quero você perto da minha casa enquanto eu
estiver fora, segundo porque é do seu interesse eu suponho o que vai ser
decidido nessa viagem, e em terceiro porque depois iremos a Los Angeles
porque eu tenho algumas contas para acertar por lá.
— E quando partimos?
— Agora.
— Eu posso falar com Raissa, antes de viajarmos.
— Não.
— Eu não vou falar aonde estamos indo.
— A resposta continua sendo não — Eu falei pegando o meu celular e
discando um número.
— Sim, senhor.
— Lorenzo Cosa Nostra — Eu falei assim que escutei ele atendendo o
celular — Eu e seu filho iremos fazer uma viagem para resolver todo esse
assunto. Prepare a sua proposta de casamento, porque depois desta viagem
decidirei o destino de Raissa.
Capítulo 52
Raissa
O dia amanheceu na mansão Bratva depois de uma das noites mais longas
da minha vida.
Apesar de todo o cansaço, eu não consegui dormir nem por um
segundo, e passei a noite sentada próxima a janela vendo a neve cair.
Agora eu entendo por que minha avó permanecia assim por horas no
inverno, sentada em sua cadeira de balanço olhando a paisagem pela janela.
A Filadélfia lembra a Rússia com seus flocos de neve, e com certeza a
faziam lembrar do seu maior pesadelo.
Eu tive medo de me perder neste castelo dos horrores, só que eu estava me
sentindo sufocada e por isso me arrisquei a sair do meu quarto durante a
madrugada, mas os seguranças me seguiram e não me senti nem um pouco à
vontade.
Quando cheguei no alto da escada, eu vi Aleksey Mikhailov entrando em
casa e ele parecia atormentado. Eu fiquei com medo de que ele me visse e
achasse que eu o estava vigiando, e voltei correndo para o meu quarto.
Infelizmente parece que eu e… o Chefe da Bratva… meu tio… tivemos a
mesma ideia de tomar um ar fresco depois de tanta confusão.
A máfia é muito pré-histórica e quanto mais eu recordava da reunião com os
Chefes mais poderosos da Instituição, mas eu achava que tinha vivido uma
cena do filme O Poderoso Chefão.
A máfia das mulheres, que eu tanto pesquisei a vida toda, estava reunida
para me ajudar. Como o mundo pode dar tantas voltas assim?
EU VI SARAH COOPER A RAINHA DA MÁFIA, FAZENDO OS
HOMENS SE CALAREM.
No meio do caos, eu pude viver esse momento, de ver uma mulher fazer toda
uma sociedade machista se curvar ao som da sua voz.
u ainda estava eufórica pensando em Sarah Cooper, quando liguei para
E
minha mãe, que com certeza estava preocupada comigo, e para quem eu
jurei que agora não teria mais segredos.
Chega de segredos de família!
FLASHBACK
— Até que enfim você deu notícias. Onde você está, minha filha?
— Neste momento, na Mansão Bratva. Por isso quis ligar só para
você, não tinha como fazer essa chamada de vídeo com a minha avó junto.
Se para mim estar aqui dói forte no peito, imagina ela vendo as imagens do
seu maior trauma e pesadelo como cenário de uma chamada de vídeo.
— E por que você está aí? Filha…
— Mãe, eu estou bem. Olhe em volta de mim — Eu falei girando o
celular e deixando ela ver o meu quarto — eu não sou prisioneira, ou sou,
não sei mais. Essa Máfia parece uma grande prisão, onde você entra e não
sai nunca mais. Na verdade, Irya Mikhailova disse que eu estava em casa,
pois eles são a minha família. Minha nossa, eu não consigo ver essa gente
como uma família.
— E… o Chefe da Bratva…
— Aleksey Mikhailov é um homem muito poderoso, que exala força
e domínio até quando respira. Ele é bravo, sério e direto. Não manda recado.
Matou um homem que tentou falar sobre eu não poder ser reconhecida, deu
boa noite a todos e disse que sua família não ficaria para o noivado. E
simplesmente, sua esposa, sua filha, e pasme, eu, deixamos o local.
— Você pode me explicar isso tudo com calma, Raissa. Ele matou
um homem e você fala isso com essa calma?
— Isso é a máfia, e estou tentando me acostumar porque sinto que
isso vai passar a ser algo normal na minha vida. E mãe… você e ele são
muito parecidos.
Eu falei isso e minha mãe ficou em silêncio. Seus olhos estavam
cheios d'água. Acho que um lado seu não queria saber de nada, mas existia
um outro que estava curioso por informações.
— Parecidos?
— Sim. O cabelo e os olhos de vocês são do mesmo tom. Seu olhar
observador é igual ao dele, e juro… ele franze a sobrancelha e levanta a
direita quando está zangado igual a você.
— Me parecer com ele significa que…
— Monstro ou não, demônio como Irya se referiu a ele, um verme,
ou seja, qual for o adjetivo negativo, biologicamente vocês dois são filhos do
mesmo homem, e sim, talvez vocês tenham traços físicos em comum com o
infeliz, por isso são parecidos. Por mais que seja horrível pensar assim, o
velho asqueroso era seu pai e meu avô.
— Eu não gosto de pensar assim, mas também não acho que fugir da
realidade ajude alguma coisa.
Com calma, contei tudo que aconteceu na reunião, das brigas,
acordos desfeitos e da minha vinda para a mansão. Tentei ocupar a mente da
minha mãe com o caos da minha recente vida como mafiosa, e fazer com
que ela não ficasse pensando na sua origem.
Os meus sentimentos estavam confusos, todos fora de ordem, e eu
me sentia uma bagunça total, mas ainda assim, isso não era nada perto da dor
da minha mãe com tudo que ficou sabendo sobre o seu passado.
— E o Enzo?
— Aleksey não deixou que ele falasse comigo.
— Minha filha, você tem certeza do passo que deu?
— Sim, eu amo o Enzo. Só que eu entrei e saí da reunião, sem falar
nada. Nem deu tempo, até porque foi tudo literalmente, tiro, porrada e
bomba.
— E como vai ser agora? Quando você vem para casa?
— Não sei. Mas acredito que amanhã vou conversar com Aleksey
Mikhailov. Aqui é tudo muito diferente do nosso mundo. O que eu sei é que
agora quem decide o meu futuro é o meu tio que é o chefe da família.
— Eu sei como funciona a máfia, só não me imaginei te vendo fazer
parte dela.
— Vamos ter que nos acostumar, porque nossa vida mudou minha
mãe. E… você também faz parte da máfia.
— Eu não quero nada dessa gente.
— Eu não sei se funciona assim, porque essa gente têm o seu sangue.
E no caso, “essa gente”, é o seu irmão, o homem mais poderoso da
Instituição.
— Eu não quero pensar nisso… não consigo. Eu quero saber como
vai ficar sua vida daqui para a frente.
— Eu ainda não sei, mas só quero que seja junto com o meu mafioso
favorito.
— Raissa, você sempre escolheu coisas perigosas para sua vida, mas
se tornar mafiosa superou tudo — Minha mãe falou rindo e fiquei feliz de
ver seu sorriso depois de tanto tempo — Agora com calma vou contar tudo
para sua avó. Juramos não ter mais segredos, então tenho que ver como vou
falar para ela que você está nesta casa.
— E o meu pai?
— Ele ficou revoltado quando eu disse que você tinha viajado para a
Rússia e… bem… digamos que para ele somos a escória do mundo por
termos o sangue da máfia.
— Gente, o meu pai disse isso?
— Ele disse que foi enganado pelos seus avós que o envolveram com
a maior rede criminosa do mundo. Ficou muito claro, que o meu passado
fala mais alto do que o nosso casamento. É como se isso tivesse matado
qualquer sentimento pela nossa família. Mas o que me incomoda mais, é o
egoísmo dele, que em nenhum momento pensou na dor da minha mãe, ou
nos meus sentimentos diante de toda essa revelação sobre a forma como fui
gerada.
— Se você quer saber, para mim ele é tão monstro quanto os homens
da máfia que ele quer tanta distância. Na verdade, ele é pior, porque bem ou
mal, criminosos ou não, eles protegem os seus, enquanto meu pai só
consegue pensar nele mesmo ao invés de cuidar e proteger sua família.
— Eu ainda preciso processar isso tudo. Foi tudo muito rápido, você
viajou e tudo ficou no ar. Foi bom porque não consegui pensar, mas por
outro lado quanto mais adiamos a dor do luto, maior o sofrimento. E eu me
sinto assim, como alguém que está fingindo estar tudo bem, para não ter que
encarar a verdade. Uma verdade que ainda não sei como entender, ou
aceitar.
— Não sei o que te dizer, porque é tudo tão pesado. Eu quando entrei nesta
casa fiquei pensando na minha avó, e…
— E em mim. Eu fui gerada em algum lugar desta casa enquanto sua avó era
violentada de forma…
— Chega! Não faça isso. Você não merece se machucar desta forma.
Você é linda, maravilhosa, boa, amorosa, e a forma como foi gerada não
importa, e sim, a forma como você foi recebida neste mundo. Como a luz do
mundo para os meus avós.
— Eu sou filha de um monstro cruel. Como eu queria ser filha do
homem bom que sempre foi o meu pai.
— Ele é o seu pai. Foi ele quem te criou. Foi ele quem sempre te
amou. Por favor, me perdoe. Se não fosse eu…
— Por mais que esteja doendo eu prefiro saber toda a verdade. Chega
de mentiras. Não é saudável. Por pior que seja, a verdade é sempre a melhor
solução.
— Eu te amo.
— Também te amo, filha.
Eu e minha mãe conversamos por quase duas horas, e depois eu disse
que estava com sono, mas só para ela não ficar preocupada achando que eu
não dormiria.
Mas como dormir nessa casa? Depois de tanta coisa, minha mente
não conseguia desacelerar.
∞∞∞
u resolvi tomar um banho, colocar uma roupa limpa porque nem isso eu
E
tinha feito a noite, e estava secando o meu cabelo quando escutei alguém
batendo na porta do quarto.
Meu coração disparou, mas fiquei calma quando escutei a voz de Alya no
corredor me chamando.
— Bom dia, prima, como você passou a noite?
— Confesso que tive dificuldades para dormir depois de tanta coisa,
e essa casa… desculpa… ainda me sinto estranha aqui.
— Eu imagino. Eu vim te buscar porque o meu pai está te esperando
no escritório, mas pode deixar que eu vou com você.
— Eu não sei o que dizer ao seu pai.
— Não diga nada, só escute, e fale apenas se ele te fizer alguma
pergunta.
— E Enzo?
— Minha mãe ligou para Nina, e pediu para que ela dissesse a Enzo
que viesse aqui na mansão.
— E ele vem?
— Acredito que sim, porque segundo Luna ele é louco por uma certa
jornalista encrenqueira — Alya falou rindo e fiquei pensando que tirando a
hora que ela está matando alguém, parece uma jovem normal.
— Você tem outros primos?
— Não, meus pais são filhos únicos. Quer dizer, minha mãe… você
entendeu.
— Sim, eu entendi. A minha mãe tem duas irmãs, Sasha, que tem
dois filhos, e Katherine, que tem uma filha, mas eles ainda são adolescentes.
Já você e eu temos a mesma idade. Se a gente tivesse sido criadas juntas
seríamos tipo primas gêmeas.
— Isso nem existe — Eu falei rindo — primas gêmeas — falei
empurrando Alya de leve e ela se deitou na minha cama dando gargalhadas.
∞∞∞
lya me fez relaxar enquanto conversávamos, mas meu corpo chegava a
A
doer de tanta tensão que senti quando entrei no escritório do Chefe da
Bratva.
Ele não me olhou nem por um minuto, apenas falava e olhava uns relatórios
que descobri que eram sobre mim.
Foi impossível não perceber o orgulho dele quando falou que eu enfrentei a
Salvatrucha, e ele disse que eu fiz isso porque sou uma Mikhailova.
A ficha então caiu com força e me acertando precisamente. Eu sou mesmo
uma mafiosa. Eu tenho o sangue da Elite Vermelha.
Eu estava tão envolvida com a história do meu romance, o drama da minha
mãe, trocando mensagem com Enzo em tom de brincadeira, mas agora com
Aleksey falando e meu Deus… com ele me perguntando se eu fui para
Dubai com Enzo e revoltado porque ficamos juntos, que me dei conta que
estou oficialmente sendo tratada como alguém da Instituição.
Escutar ele falando com o pai do Enzo, como se ele tivesse abusado de mim
e me deflorado, me fez ter vontade de rir, mas quando me lembrei que eles
levavam isso a sério, e até matam em nome da honra, o brilho sumiu dos
meus olhos.
E juro, até o ar teve problemas em se manter no meu pulmão, quando vi
Enzo entrando no salão da mansão Bratva. Pensei que Aleksey iria matá-lo,
mas quando Irya disse que ele era seu convidado, o leão rugiu, mas não
atacou.
Eu tentei falar com Enzo, mas Alya segurou meu braço, e me lembrei que ali
as coisas eram diferentes. Era como se eu estivesse numa novela de época,
onde é proibido namorar ou ficar sozinho com o seu pretendente.
Você veio — Eu falei baixinho quando Enzo passou por mim a caminho
—
do escritório para conversar com Aleksey.
— Eu sempre venho quando você precisa — Ele falou baixinho e mesmo
rápido, seu olhar me fez molhar a calcinha. Que homem GOSTOSOOOO!!!
∞∞∞
u fiquei esperando Enzo sair da sala de reuniões, mas assim que isso
E
aconteceu a única coisa que consegui foi que ele me olhasse sem dar uma
palavra.
— Estamos indo viajar — Aleksey falou com sua voz autoritária.
— Tem certeza de que não quer minha companhia? — Irya falou e dava para
ver o carinho com que ela tratava o marido. Eu não sei como foi o casamento
deles, mas é certo que existe amor e cumplicidade entre eles.
— Eu preciso fazer isso sozinho.
— Se precisar chorar…
— Eu não sou um homem que chora — Ele falou irritado e ela deu uma
gargalhada e o abraçou.
— Eu te amo meu Anjo das Trevas.
Eu queria poder me despedir de Enzo, mas sabia que não poderia ser
impulsiva. Ele estava sério, calado, um mafioso mesmo, com uma expressão
tensa, um olhar observador e passando a sensação que podia atirar em
qualquer um que respirasse mais alto.
Assim que eles saíram fui correndo até a varanda e vi quando eles entraram
em carros separados, e foram seguidos por um forte esquema de segurança.
Meu celular vibrou no meu bolso e meu coração disparou.
Enzo: Quando eu voltar encrenqueira vai ser para ficarmos noivos.
Raissa: Você é um mafioso tão fofinho. Eu aqui pensando no seu pau, e
você em se casar comigo.
Enzo: Safada. Gostosa. Deixa-me ficar sozinho com você que vou socar
tanto meu pau nessa sua boceta que você vai implorar para eu parar de tanto
que vai gozar.
Raissa: Vai me torturar, Enzo Cosa Nostra?
Enzo: Você quer ser torturada, Raissa Mikhailova?
Raissa: Até desmaiar de tanto prazer. Só que te aviso que isso não será algo
fácil, ainda mais que você já passou dos trinta, e pode infartar antes disso.
Precisamos tomar cuidado.
nzo: Me provoca mesmo minha futura esposa, mas depois não adianta
E
pedir clemência.
Raissa: Expectativas estão sendo criadas. Fique ciente disso senhor
mafioso.
Enzo: Eu vou tentar voltar o mais rápido possível. Eu te amo minha
jornalista.
Raissa: Eu também te amo meu mafioso.
Capítulo 53
Aleksey Mikhailov
FLASHBACK
— Por que eu tenho que ficar aqui? Esse lugar é escuro, e eu tenho
medo…
Eu queria chorar, mas não podia, porque tinha medo de meu pai
voltar e me bater.
Aquele lugar tinha um cheiro muito ruim, e tudo que eu queria era
sair dali e voltar para o meu quarto.
Outro dia, eu fui até a rua com o meu pai encontrar um amigo dele e
vi alguns meninos brincando.
Eu ia ser o Chefe!
Só queria brincar!
Eu sentia sede!
Eu escutava vozes!
Gente, gritando!
Eu tinha medo!
∞∞∞
Eu não consegui subir rápido, porque estava com fome e com sede.
— Leve Aleksey para tomar um banho, que ele tem aula de inglês,
francês e italiano — meu pai falou para a minha babá e me segurou pelo
braço, gritando comigo. — Eu, quando tinha dez anos, já falava esses
idiomas e não dava desgosto para o meu pai. Comecei a estudar com três
anos e nunca reclamei, enquanto você, que já tem cinco, parece não querer
aprender nada! Você vai ser o Chefe da Bratva, o meu sucessor! Você
entendeu? Responda!
Eu não gostava das aulas, porque a cada hora o professor falava uma
coisa, e eu ficava confuso com good morning, buongiorno e bonjour.
∞∞∞
∞∞∞
Ele dizia que eu ia ser o Chefe e não precisava de uma mãe, só dele,
que me ensinava tudo.
Eu subi as escadas devagar e fui para o meu quarto.
Eu ia ser o Chefe!
∞∞∞
Olhos azuis.
Meu pai não gostava que ela cantasse para mim e batia nela.
Ela chorava.
∞∞∞
Tudo começou a pegar fogo.
Meu pai falou para deixá-la morrer que não fazia falta.
A música.
∞∞∞
m dia eu vou ser o chefe e matar meu pai, porque não vou ter mais medo
U
dele.
FIM DO FLAHSBACK
∞∞∞
esembarcamos na Filadélfia e seguimos direto para a casa da família
D
Pavlov. Eu queria resolver logo todo esse assunto, me encontrar com o chefe
da Salvatrucha e retornar para a Rússia.
— Está tudo bem? Você ficou muito agitado.
— Eu só quero resolver tudo e regressar para casa. Quando se têm mudanças
acontecendo, é fundamental a presença do Chefe para manter a ordem.
— Não se preocupe, sua filha não fica nada a dever ao pai dela. Se for
preciso matar todo o conselho e começar outro para que sua vontade
prevaleça, não tenho dúvidas que Alya manda todos para o inferno num
piscar de olhos.
— Minha filha realmente se parece muito comigo.
— E Raissa não fica atrás. Antes eu pensava que a jornalista tinha sido
muito corajosa para sair de um cativeiro, e denunciar uma máfia sanguinária.
Hoje sei que na verdade ela fez isso porque é sua sobrinha.
Eu não falei nada e continuei o restante do caminho em silêncio. Os meus
sonhos me deixaram perturbados, e com uma música que eu sabia que eu
conhecia na minha cabeça.
Era como se eu escutasse a dona dos tais olhos azuis cantando, mas eu não
conseguia repetir em palavras. Isso estava me perturbando. Malditos
gatilhos, lembranças e fantasmas que insistiam em me lembrar da minha
criação miserável.
— Chegamos, senhor Mikhailov. A casa é aquela ali — Yuri falou
apontando para uma casa pequena no meio de uma rua que parecia
tranquila.
ão deixei de observar dois carros pretos parados estrategicamente um em
N
cada esquina.
— Sarah antes de embarcar mandou reforçar a segurança da família
Pavlov e de Yelena. Ela sabia que depois da reunião sua… Yelena, iria virar
alvo dos seus inimigos.
— Claro, Sarah Cooper joga a bomba e defende a retaguarda.
Saí do carro com Irya e chamei Enzo que estava em outro carro para
entrarmos na casa.
— Meu amor, eles podem se assustar com a sua presença. Não seria
melhor que eu batesse na porta…
— Não, eu vim aqui resolver isso e vou fazer do meu jeito.
Atravessei o pequeno jardim da casa que não tinha muro e fui até a porta e
fiz sinal para que me deixassem tocar a campainha sozinho. Essa não era
uma visita para acerto de contas para que os meus homens fossem na minha
frente e eu chegasse apenas no final.
Um senhor abriu a porta e ficou paralisado quando me viu. Ele parecia estar
desfalecendo com o susto e então resolvi me apresentar.
— Senhor Pavlov, eu suponho. Eu sou…
— Aleksey Mikhailov, o Chefe da Bratva — Ele sussurrou como se falar
isso em voz baixa ou alta mudasse alguma coisa.
— Quem é, Niko…
Ela falou se aproximando da porta e ficando muda ao me ver.
Os olhos azuis.
Eu jamais esqueceria esses olhos azuis.
Eles estavam no meu sonho.
Polina.
Seu nome é Polina.
Capítulo 54
Aleksey Mikhailov
— Eu o matei.
— O que? — Yelena se aproximou perguntando.
— Eu matei o meu pai. O nosso pai.
— Foi você?
— Sim, Polina, fui eu. Ele sempre disse que eu não devia ter medo.
Que um chefe não tinha medo de nada. Mas eu tinha medo dele quando era
criança, e acho que por muitos anos, mas depois eu só queria ser o chefe. E
como chefe eu não tinha medo de nada, nem dele, e o matei.
— Você o matou. Meu menino matou o monstro — Ela falou
sorrindo e com os olhos cheios d'água — Eu preciso descansar.
Ela falou e saiu caminhando devagar em direção a uma cadeira de
balanço e se sentou olhando para a janela. Ela começou a cantar a música
que cantava para mim e todos ficaram em silêncio.
— Polina sempre fica horas sentada em silêncio nessa cadeira de
balanço. É como um refúgio de tudo que ela viveu — Nikolay Pavlov falou
— Mas ela nunca cantou. É a primeira vez! Polina nunca teve medo de você.
Mas tinha medo da Instituição e do que poderia acontecer com Yelena, por
isso mesmo depois da morte do seu pai, ela não conseguiu se acalmar.
— Não tinha como ela saber se você não tinha ficado igual… Eu não
quero nada de você, acredite nisso por favor — Yelena falou — Só
queremos paz! Se bem que já não sei mais se isso é possível, se um dia vou
parar de andar com segurança.
— Por isso eu vim até aqui. Uma vez que eu levei Raissa para minha
casa foi como assumir para o mundo que ela é minha sobrinha.
Automaticamente, você se tornou alvo de todos os nossos inimigos.
— Nossos?
— Ola, Yelena — Irya falou — Eu sou a esposa de Aleksey. O que
ele quer dizer, é que quando ele assumiu Raissa, isso foi como assumir você
também por tabela, entendeu?
— Minha nossa. Eu, confesso que ainda estou tentando processar
isso tudo e acabei não refletindo sobre nada direito.
— Você é uma Mikhailova e meus inimigos, são seus inimigos agora
— Aleksey falou — e não é uma questão de querer ou não. Isso é um fato, e
por isso estou aqui.
— Mas eu sou uma bastarda. Eu não tenho valor para a máfia. Não é
assim que funciona?
— Era assim, mas sua filha invadiu uma reunião da máfia,
acompanhada por ninguém menos que Sarah Cooper que adora uma
revolução, e agora provavelmente bastardos surgirão de todos os lados, já
que abri um precedente com Raissa.
— Você acha que tem mais irmãos?
— Eu não, porque o velho mandava matar todas as mulheres que…
enfim, ele só não matou Polina porque achou que ela tinha morrido. As
outras ou ele jogava na rua e mandava matar, ou fazia pessoalmente. Se
engravidassem ele matava na hora.
— Mas isso não aconteceu com você, não fica assim — Nikolay
falou a abraçando.
— E o que vai acontecer agora? Enzo e Raissa vão poder ficar
juntos? Essa confusão toda pelo menos resolveu a situação deles?
— Eu espero que sim, senhora. Mas na Instituição existem alguns
caminhos a se percorrer antes, e quando voltarmos vamos resolver isso —
Enzo falou e Yelena me olhou.
— Acabamos de nos conhecer e você já vai me pedir por esses dois?
— Eu falei olhando para ela — Eu vou decidir o destino de Raissa na volta,
agora preciso saber o que vou fazer com vocês três.
O senhor Pavlov sugeriu que nos sentássemos para podermos
conversar com calma. Eram muitas questões que precisavam ser definidas,
porque não têm como ser da máfia e viver uma vida normal.
Não temos liberdade. Estamos sempre na espreita, sem piscar os
olhos para não ser atingidos, andando sempre acompanhados de um forte
esquema de segurança e não seria diferente com Yelena a partir de hoje.
Seus pais eram importantes para ela, então só por isso, passaram a ser
alvos também. Isso é a máfia, onde o glamour só existe nos romances e
séries de televisão.
Depois de horas de muita conversa, de várias aparições de Polina,
com um bolo, um café, um biscoito que ela alternava com suas idas para um
mundo paralelo quando estava na cadeira de balanço, ficou acertado que
Yelena teria um forte esquema de segurança, assim como os seus pais.
— É uma mudança muito grande. Eu tenho meu trabalho, minha vida
toda aqui, e do nada não vou ter mais liberdade, não vou poder ir à esquina
sem segurança.
Eu entendo que para Yelena não seria nada fácil essa mudança de vida, mas
assim como Irya, que faz tudo por Alya, eu percebi que para ela só
importava saber que a filha seria feliz.
— Senhor, desculpe interromper, mas esse é o senhor O’Brien,
marido da senhora Yelena, já checamos sua identidade — Yuri estava
falando quando foi interrompido pelo sujeito arrogante e com certeza sem
nenhum amor pela sua vida.
— O que está acontecendo aqui, Yelena? Que circo todo é esse aí
fora? — Ele perguntou gritando — A escória agora dita as regras por aqui…
— Abaixe o tom de voz quando se dirigir a minha irmã seu filho da
puta — Eu falei colocando a arma na sua boca — quem você pensa que é
para levantar a voz para Yelena? — Eu falei dei com a arma na sua cara
quebrando o seu nariz — E fique feliz pelo Rei da Escória não ter dado fim a
sua vida, porque eu não costumo conversar, apenas atirar.
— O que é isso? — Ele gritou — Você vai deixar esse… Quem é
esse homem?
— Aleksey Mikhailov, e você deveria saber, porque ele está sempre
nos jornais. O Ceo da Vodka…
— O Chefe da Bratva, você quer dizer. Meu Deus, eu nunca deveria
ter me casado com você. Seus pais não tinham o direito de me envolver
nisso. Eu sou honesto…
— Eu também sou honesta, Mark. Eu não admito que você fale assim
comigo só porque não aceita que eu seja… que eu tenha nascido… —
Yelena falou e pude ver a dor no seu rosto por toda a sua história que ela
conheceu tem poucos dias.
— Ela é uma vítima disso tudo seu merda — Eu falei chutando sua
barriga com força — Ele sempre te tratou desta forma? Gritando com você?
— Não. Ele ficou assim depois que soubemos de toda a verdade. Ele
não aceita minha verdadeira origem. Eu não sou quem ele pensava, mas
acredite, ele também não é o homem que eu achei que conhecia.
— Eu quero saber onde está a minha filha, só vim aqui por isso, e
saiba que não vou permitir jamais o casamento dela com esse daí — Ele
falou apontando para Enzo — Você é o culpado disso tudo, mas não vai ficar
com ela, pode escrever isso. Raissa apesar de tudo é minha filha e eu não
aprovo esse casamento.
— E quem se importa com o que você aprova ou deixa de aprovar —
Eu falei perdendo a minha paciência — Sinto muito, Yelena, mas eu não
suporto mais escutar a voz desse infeliz. Yuri, leve esse merda daqui e tenha
certeza de deixar bem claro que ele não deve nunca mais se aproximar de
ninguém desta casa.
— Raissa, é minha filha — O infeliz falou quase sem ar por conta do
nariz quebrado.
— Ela é uma Mikhailova. Eu sou o Chefe desta família e eu que vou
decidir o futuro da minha sobrinha. Tirem esse sujeito daqui que eu não
tenho tempo a perder. Yuri, faça com que esse infeliz entenda que não
gostamos de quem fala o que não deve. Fique longe de Yelena se quiser
continuar vivo e saiba que você só não está morto porque ela falou ex-
marido, senão eu teria te matado para ela ser viúva — Eu falei apontando a
arma para ele.
O homem saiu esbravejando mostrando que precisaria realmente de
um corretivo para entender realmente onde estava se metendo. Eu só não o
matei, porque sei que Yelena está muito abalada com tudo, e Polina e o
marido são senhores de idade, que estão muito assustados com toda essa
situação.
Polina me olhou e eu me aproximei dela me abaixando em frente a
cadeira onde ela estava sentada;
— Não queria lhe causar mais dor.
— Você nunca me causou dor meu menino.
— Tudo aconteceu porque você cantou para mim.
— Não carregue essa culpa que não é sua.
— Eu também não sou perfeito. Eu mato sem remorso quem
atravessa o meu caminho.
— Essa é a máfia. Ou você mata, ou você morre. O que aconteceu
nessa sala não me assustou, porque eu sei o que é a Instituição. Eu passei a
fazer parte dela quando fui para a mansão. Eu sei que você é o Chefe agora,
e só quero te pedir para não me levar de volta.
— Claro que não. Você nunca será obrigada a voltar para a mansão,
ou para a Rússia, ou para qualquer lugar que você não queira.
— Eu tenho um pedido para te fazer — Ela falou segurando a minha
mão.
— Qual pedido?
— Que você abençoe a união da Raissa com o amor da vida dela.
— Depois desse pedido, saiba que eu provavelmente darei a mão de
Raissa em casamento para o Enzo Cosa Nostra, mas ainda preciso acertar os
detalhes com a Cosa Nostra, mas com isso ela vai ter que viver na Sicília.
— Eu não tinha pensado nisso — Yelena falou e percebi sua tristeza.
— Eu proponho que você vá comigo até a Rússia, Yelena, para
encontrar com Raissa.
— Eu não posso entrar naquela casa… desculpa…
— Você vai entrar como uma Mikhailova, minha irmã. Raissa está lá
e vai gostar de ter por perto para cuidar de tudo do seu casamento.
— Eu proponho que o casamento seja na Sicília, para que o senhor e
a senhora Pavlova possam ir, já que na Rússia isso seria impossível de
acontecer.
— Se você se casar com Raissa, providenciaremos tudo.
— Vai ser um prazer e uma alegria muito grande se você for com a
gente para a Rússia — Irya falou para Yelena — e assim podemos fazer uma
surpresa para Raissa. Saiba que você não está sozinha, porque existe na
Instituição a máfia das mulheres, e vamos te apoiar em tudo que você
precisar.
— Eu vou deixar vocês conversando sobre a máfia das mulheres —
Eu falei com um certo sarcasmo — e vou sair com Enzo para resolver uns
assuntos pendentes.
— Pode ir tranquilo que eu ficarei aqui conversando com a minha
cunhada, com o senhor Pavlov de quem eu sou fã, e comendo esse bolo
delicioso que a senhora Polina fez e que vou querer a receita.
Minha esposa nasceu para ser a matriarca da Elite Vermelha. Ela
relutou tanto, mas têm a diplomacia, a leveza e as palavras certas que fazem
todos se acalmarem na sua presença.
Capítulo 55
Natalya
Hoje para as moças que podem fazer suas próprias escolhas seria um dia
especial, mas para uma filha da máfia, é apenas mais uma obrigação que
você terá que cumprir.
Coloquei o meu vestido de noiva, verifiquei no espelho que a maquiagem
tinha ficado suave e discreta como eu queria, e me sentei para esperar a hora
que meu pai viria me buscar para me casar com Matteo Cosa Nostra.
Eu e o meu futuro marido trocamos algumas palavras durante a apresentação
dos noivos, ontem à noite, e já deu para perceber que ele não entende nada
sobre os sentimentos de alguém que vai casar com o escolhido pelo seu pai.
FLASHBACK
festa de apresentação dos noivos estava demorando para começar e pelo
A
clima tenso já se podia imaginar que algo muito sério estava acontecendo no
andar de cima da casa escolhida como local para o evento.
Os homens da Instituição estavam todos reunidos, e quando Sarah Cooper
chegou linda e plena, acompanhada por outras mulheres, e foram direto para
à sala de reuniões, todos sabiam que algo grande estava para acontecer.
As horas se passavam e eu não sabia se torcia para que o casamento não
acontecesse, ou se mantinha o foco de que pelo menos casando com alguém
da Cosa Nostra eu teria mais chances de ser um pouco livre, já que sempre
passei a vida trancada dentro de casa, e frequentando eventos da máfia
sempre com as mesmas pessoas.
Foi inevitável escutar os disparos que estavam acontecendo na sala de
reuniões, mas como isso entre nós era algo normal, só nos restava aguardar
quem não sairia vivo daquela sala.
Se eu me preocupei porque poderia ser o meu pai? Não, porque como ele
sempre disse, pode ser que eu não volte, estejam preparadas. Então, só me
restava esperar.
u não sou uma pessoa ruim por não me importar com a vida do meu pai,
E
apenas aprendi a não nutrir grandes sentimentos por quem nunca escondeu o
desgosto de ter uma filha mulher, no lugar de um homem que fosse seu
companheiro e sucessor.
— O senhor Mikhailov está descendo as escadas com a família — Minha
mãe alertou os convidados que se levantaram para saudar a família real da
Elite Vermelha, só que eles passaram por todos sem olhar para ninguém e
foram embora.
— Quem é aquela jovem com eles? — alguém perguntou e sua voz saiu alto
demais devido ao silêncio, chamando a atenção de Yuri, o homem de
confiança do senhor Mikhailov.
— Sugiro que vocês esperem o Chefe deixar o local para começarem a
fofoca. Mas cuidado, porque o senhor Mikhailov pode não gostar que
comentem sobre sua família — Yuri falou e todos dispersaram, indo fazer
outras coisas e fingindo desinteresse por qualquer assunto.
Algumas horas depois, Lorenzo Cosa Nostra, Nina, e o meu noivo, Enzo,
também desceram as escadas deixando o local. Naquele momento achei que
meu casamento estava cancelado, e minha vontade era de sair dançando,
pois não teria que me casar, mas quando lembrei que seria uma largada, e
que meu pai me jogaria na rua, ou me castigaria por atrapalhar os seus
planos, a minha alegria foi desaparecendo.
Pensando bem, esse casamento era o meu passaporte para deixar a Rússia, e
sem ele na melhor das hipóteses continuaria na casa do meu pai, o que
estava longe de ser algo que eu desejava para mim.
Não demorou muito e o meu pai desceu as escadas, com Dante o Capo da
Cosa Nostra e o resto da família da máfia siciliana.
— Muito bem, senhores, vamos começar a festa! — O meu pai falou e a
orquestra começou a tocar uma música qualquer, as pessoas foram se reunir
em rodinhas, e ninguém se importava mais com o que tinha acontecido no
andar de cima.
O meu pai me chamou e nos dirigimos para próximo do palco onde tinha a
mesa da família dos noivos. Meu pai mostrou o lugar onde eu deveria sentar
porque o jantar já seria servido, e eu estava tomando um gole de água,
quando Matteo se sentou ao meu lado, e no lugar onde estava escrito “noivo”
na plaquinha.
Eu não tive tempo de pensar e Luna Cosa Nostra me chamou dizendo que
precisava conversar comigo.
Eu pensei que o seu pai fosse ter a decência de conversar com você, mas
—
pelo visto, ele só enxerga esse casamento como um comércio.
— E o que são os casamentos da Instituição?
— Infelizmente é mesmo um comércio, mas eu quero mudar isso, não acho
justo que não possamos escolher nossos maridos, que tenhamos que nos
casar com quem decidem e pronto.
— Mudar para que? Com todo o respeito, isso nunca vai terminar, a não ser
que a máfia seja extinta da face da terra.
— Você não acredita que temos o direito de escolher com quem vamos
dividir a vida?
— A lei Sarah Cooper reduziu em mais de cinquenta por cento a violência
doméstica, mas sabe por que ela ainda existe? Muitas mulheres se
acostumaram com essa vida de submissão e não querem mudar. Outras, têm
medo do famoso ditado: ruim com ele, pior sem ele. Muitas não querem ser
independentes, outras têm medo de ficarem perdidas sem saber o que fazer
com a liberdade que nunca vai ser real, porque sempre teremos inimigos.
— Isso precisa mudar.
— Eu admiro que você e Alya Mikhailova queiram mudar tudo, mas pensa,
para onde a gente for seremos alvos. Se eu escolho meu marido fora da
máfia, estou colocando um alvo na testa dele. E na minha também, porque se
deixo a Instituição não sobrevivo uma semana sem levar um tiro de algum
inimigo do meu pai.
— É um ciclo, e realmente quebrá-lo não será fácil. Mas não vou me
acomodar e sempre tentarei ser justa, por isso quero te explicar o que
aconteceu essa noite e porque você vai se casar com Matteo.
∞∞∞
u estava realmente grata por Luna ter se preocupado comigo e vindo me
E
explicar a mudança de noivo, porque o meu pai não se importou em fazer
isso, já que para ele isso era um detalhe irrelevante.
Eu não tinha sentimento algum por Enzo, e por isso não fiquei triste.
Se fui gentil, doce, e educada, foi porque assim se comportam as filhas da
máfia diante de um pretendente… mas amor?
Como vou amar alguém que não conheço?
Não tenho esse romantismo que algumas moças da sociedade têm de
ficarem sonhando com finais felizes com alguém que nunca viram na vida.
Respirei fundo quando minha mãe chegou com a grinalda e falando
que o salão estava cheio de convidados.
Novidade!
As festas da máfia sempre ficam lotadas, porque não é como se
pudéssemos frequentar outro evento. Qualquer casamento todos vão, e tudo
sempre se repete: música alta, homens trancados numa sala fumando seus
charutos e falando de negócios, mulheres conversando futilidades, crianças
correndo de um lado para o outro, e as moças solteiras imaginando que o dia
delas de se casar iria chegar e torcendo para que o noivo não fosse um velho,
viúvo e barrigudo.
Eu dei sorte!
Matteo Cosa Nostra é lindo!
Mas tudo que eu sei sobre ele é isso: que temos a mesma idade, e que
ele é um Cosa Nostra.
Só que eu não sei se ele aceitou tão bem assim esse casamento
comigo. Ele parecia estranho e incomodado por achar que eu gostava do
primo dele, e nosso primeiro e único diálogo não foi dos melhores.
FLASHBACK
u voltei para a mesa onde seria servido o jantar e me sentei ao lado do meu
E
noivo.
Enquanto todos na mesa falavam alto, eu e ele estávamos em
silêncio, até que ele resolveu quebrar o gelo daquela situação e falar
comigo.
— Essa situação toda é bem estranha, porque vamos nos casar amanhã, mas
não nos conhecemos.
— Sim, muitos casamentos acontecem com os noivos se conhecendo a
caminho do altar. Pelo menos estamos nos vendo vinte e quatro horas antes
de dizermos sim um para o outro.
O jantar foi servido, os homens continuaram falando de negócios, mas
ninguém tocou no assunto da sobrinha bastarda do Chefe Mikhailov, sobre a
troca de noivo, ou qualquer coisa relacionada ao meu casamento com
Matteo.
Assim que terminamos de comer a sobremesa, meu noivo pediu licença a
todos da mesa e me convidou para dar uma volta pelo salão.
— Eu gostaria que você usasse isso — Ele falou me entregando uma
caixinha de veludo preta — Foi tudo muito rápido, Luna conversou comigo
pouco antes da reunião e não conheço muitas joalherias aqui na Rússia.
— Obrigada, é muito lindo — Eu falei olhando para o anel de brilhantes que
Matteo comprou para mim.
— Eu parei no caminho vindo para cá e comprei esse anel. Não sei se vai
ficar bom, mas eu vou providenciar outro para amanhã.
— Esse é perfeito! — Eu falei entregando a caixinha para ele e o anel antigo
— Ficou um pouco grande, mas não vou perder.
— Eu achei que você deveria usar um anel comprado por mim.
— Muito gentil da sua parte — Eu falei sorrindo como uma boa filha
da máfia.
— Eu não gostaria que voltássemos direto para a Cosa Nostra, mas
como foi tudo muito rápido, penso que poderíamos ir para algum lugar aqui
na Europa que você queira conhecer.
— Paris.
— A cidade onde minha mãe nasceu. Que seja, vou providenciar tudo.
Continuamos caminhando entre os convidados que sorriam para a gente,
como se fôssemos um casal apaixonado feliz com o casamento.
Quanta falsidade no ar!
Éramos dois estranhos.
— Você estava apaixonada por Enzo? — Ele perguntou me pegando de
surpresa.
— Não. Eu só vi o meu ex noivo duas vezes. Não tinha sentimentos por ele.
— Assim como não têm por mim.
— Exatamente. Nós cumprimos acordos, não é isso?
— Sim, nada além disso.
∞∞∞
Vamos minha filha? Está na hora — Minha mãe falou me despertando
—
dos meus pensamentos.
Eu me levantei, sorri para o meu pai como uma boa filha, segurei no seu
braço e caminhamos juntos em direção ao altar.
Matteo estava lá, com um terno preto, uma gravata verde da cor da Cosa
Nostra e um semblante tenso.
Meu pai me entregou para ele, apertou sua mão, e logo após a de Giancarlo
Cosa Nostra. Ele estava feliz! Meu casamento rendeu uma boa aliança para
ele com a máfia siciliana.
Matteo me olhava e eu tentava decifrar o que se passava na sua mente.
Como será que era para ele se casar com uma estranha?
Será que assim como eu, ele pensava que isso era uma grande
loucura.
Ou para os homens tanto faz?
Trocamos juramentos prontos.
Não fizemos votos.
Dissemos sim um para o outro e sorrimos quando gritaram: Viva os
noivos!
Éramos só mais um casal de desconhecidos se casando na nossa sociedade.
Ele não sorriu para mim. Eu não sorri para ele.
Somos marido e mulher.
Somos um casal da máfia.
— Estamos casados, Natalya. Agora você é a nova senhora Cosa Nostra.
— Sim, estamos casados.
— Eu quero fazer isso dar certo. Não quero que sejamos dois estranhos para
sempre. Eu cresci numa família feliz! Quero isso para nós dois.
— Eu não sei o que é uma família feliz, mas se você quiser me
mostrar, eu vou adorar conhecer.
E foi assim que sorrimos um para o outro pela primeira vez.
Meu coração bateu num ritmo diferente.
Eu não sei o que é o amor. Não tive esse exemplo em casa.
Matteo meu deu a mão enquanto caminhávamos entre os
convidados.
Eu me senti acolhida e protegida com um gesto que parece simples,
mas que para mim era novo.
Nossas mãos entrelaçadas significavam união.
Assim que o último convidado da extensa fila de cumprimentos falou
conosco, Matteo segurou as minhas mãos e beijou nossa aliança.
Ficamos nos olhando e ele fez um carinho no meu rosto e colou as
nossas testas uma na outra.
A seguir, seus lábios tocaram os meus.
Nós nos beijamos, e eu senti como se borboletas estivessem voando
no meu estômago.
Será que estou me apaixonando pelo meu marido?
E foi assim que eu me senti viva e com vontade de ser feliz pela
primeira vez na minha vida.
Capítulo 56
Enzo Cosa Nostra
Só para variar eu estava no meu quarto já que não tinha nada para fazer
dentro do mausoléu, quando meu celular vibrou e corri porque eu sabia que
era mensagem do Enzo.
nzo: Já estou na Rússia, e ainda hoje irei com o meu pai pedir a sua mão
E
em casamento.
Raissa: Nossa, que romântico você me contar isso assim, por mensagem. Eu
não sei se você já escutou falar em surpresa, como por exemplo colocar o
anel em algum lugar para eu encontrar, um jantar a luz de velas.
Enzo: Eu adoraria realizar esse seu desejo, mas na máfia o pedido é feito
para o Chefe da Família e não para a noiva.
Raissa: Essa máfia sabe como estragar os melhores momentos. Nos vemos
mais tarde? Ou você só vai estar com o Chefe da Família, sem direito a ver a
noiva.
Enzo: Vamos nos ver meu amor.
Raissa: Eu tenho uma pergunta?
Enzo: Se você não tivesse, não seria jornalista.
Raissa: Casando com você, eu vou poder ser da máfia das mulheres? Porque
eu acho que meu trabalho como jornalista investigativa de casos policiais e
misteriosos, não será mais possível porque agora eu sou uma fora da lei,
então, eu pensei que poderia ser uma mafiosa tipo Sarah Cooper.
Enzo: Vamos ver isso depois, mas, por favor, não mencione nada disso perto
do meu pai. Escutar que você quer ser como Sarah, vai fazer ele infartar e
não quero perdê-lo tão cedo.
Eu dei de ombros, e fui até a varanda olhar pela milésima vez o jardim,
quando vi uma movimentação maior da segurança, e logo a seguir vários
carros estacionando em frente a porta principal.
primeiro a sair de um dos carros foi Aleksey Mikhailov. Ele estava sério
O
como sempre, mas achei lindo ele estender a mão para Irya saltar do carro.
Os brutos também amam, nunca fez tanto sentido para mim.
Ele caminhou até o outro carro, e estendeu a mão para alguém. Quem era a
outra mulher que estava vindo com eles? Meu coração disparou quando vi
que era… não podia ser… esfreguei os meus olhos e sim, era a minha mãe.
O que ela veio fazer na mansão Bratva?
E por que ela veio com Aleksey e Irya?
A viagem. Eles estavam todos na Filadélfia.
Por que minha mãe não me avisou que estava vindo?
E por que estou fazendo tantas perguntas para mim mesma feito uma estátua
nessa varanda?
Saí correndo do meu quarto, desci as escadas apressadas e assim que cheguei
no salão vi minha mãe entrando ao lado de Aleksey.
— Mãe! Meu Deus, mãe, o que você está fazendo aqui? Por que não me
avisou que estava vindo? Te mandei mensagem e você disse que me ligaria
mais tarde. Por que não me contou?
— Calma, filha, eu queria te fazer uma surpresa. E isso tudo é muito difícil
para mim, então não podia ficar falando sobre isso ou não venceria os
fantasmas que estão tentando se instalar na minha mente.
Eu a abracei forte mostrando que sempre estaria ao seu lado, e se fui
uma filha que não procurava por ela, e estava sempre ocupada com a minha
vida, agora seria mais presente e companheira.
Que mulher forte é a minha mãe.
Irya disse que minha mãe ficaria num quarto ao lado do meu, e
subimos para que ela pudesse descansar. Assim que ficamos sozinhas nos
deitamos juntas na cama e ficamos nos olhando.
Que loucura foi essa dos últimos dias que mudou tanto as nossas vidas?
— Sabia que estar aqui por mais que pareça uma grande loucura na verdade
é libertador? — Minha mãe falou.
— Libertador no sentido de expurgo?
— Sim, estou expurgando minha dor, meus demônios que me fizeram sentir
ódio, meus medos que me paralisaram, meus sentimentos confusos, meu
coração totalmente quebrado.
— Como você veio parar aqui?
Minha mãe me contou sobre a visita de Aleksey e de como foi emocionante
o reencontro dele com a minha avó. Ela me falou do meu pai e do corretivo
que ele levou, e não senti a menor pena.
— O meu pai para mim é uma grande decepção. Aleksey nunca tinha te
visto e te defendeu, acolheu, protegeu, enquanto o homem com quem você
dividiu mais da metade da sua vida, te virou as costas.
— Seu pai me virou as costas, e o meu… Aleksey Mikhailov com toda a sua
frieza de um Chefe da Máfia, me acolheu. Eu não sei como e nem porque,
mas ele tem afeição pela sua avó. Ele disse que estendeu a mão para ela no
hotel no dia que ela ficou para trás e fugiu do monstro.
— Ele fez isso?
— Ele disse que sim, mas que ela não pegou a mão dele. Irya me disse que
Aleksey é um homem atormentado por pesadelos, que ele sofreu muito para
ser o Chefe, e quando conseguiu parou de escutar o pai, que o dominava, e
por fim, o matou.
— Isso tudo é muito forte. São relatos cruéis, e para eles não passa de mais
uma história como tantas outras.
— Só que agora tudo mudou. Por isso eu precisava vir, e viver tudo isso de
perto. Nunca mais nada será como antes na minha vida.
— E o que você vai fazer? Continuar trabalhando e…
— Raissa, eu não posso continuar a ter a mesma vida depois disso tudo. Eu
não sou só o fruto de um estupro. Se fosse esse o caso, eu surtaria, choraria,
teria ódio do mundo, faria terapia e seguiria em frente. Só que do nada passei
a fazer parte de uma organização criminosa. E logo dá maior de todas, o que
me faz ter mais inimigos que os segundos de um dia.
— Eu também não posso mais ser a jornalista que eu sonhava. Eu sou
mafiosa. Mãe, nós somos da máfia.
— Eu não posso ser advogada como antes, pegando casos que possam gerar
conflitos com a organização, ou ficando exposta na rua e tomar um tiro do
nada. Eu não sei mais se eu consigo ser como antes.
— E os meus avós?
— Eu conversei muito com Irya enquanto vínhamos para cá, e estou tendo
algumas ideias, mas o que eu decidi fazer meus pais estarão comigo. Eu
deixei eles cercados de segurança na Filadélfia, e quando eu voltar vou
conversar com eles.
— Posso saber que ideias são essas?
— Por enquanto não. Deixa que eu amadureça tudo, pense bastante, e daí
você vai saber. Agora me conte como foi o casamento que você foi ontem, e
me dê mais detalhes sobre o que nos espera na nossa nova vida no
submundo.
Eu dei uma gargalhada escutando minha mãe falar com tanta calma que
agora éramos entre outras palavras mafiosas.
— Minha filha, eu sou realista. Tudo mudou, e eu não vou ficar sentada
chorando, pelo contrário, vou dar um novo sentido a minha vida. Só não
quero contar nada sobre isso agora, mas você me aguarde.
Eu não sabia o que a minha mãe estava pensando em fazer, mas com certeza
era algo que parecia ter feito ela ter vontade de viver novamente. Ela estava
forte, fazendo planos, e eu só me sinto cada vez mais orgulhosa e grata por
ser filha desta mulher.
— Vamos lá que eu vou te contar sobre o casamento de Matteo Cosa Nostra
e Natalya Rurik.
Eu contei sobre as pessoas, como estavam vestidas, sobre o que falavam,
seus costumes, e como elas vivem realmente num mundo paralelo.
— O que mais me chamou atenção, é que na nossa sociedade eu seria a
destruidora do casamento de Natalya e uma pessoa não desejada no mesmo
ambiente que ela. Mas lá, eu era a convidada de um casamento que parecia
estar programado a meses, e não decidido na véspera.
— Onde não existe sentimento, não existe rancor ou mágoa.
— Foi isso que eu senti quando cheguei e ela me cumprimentou como se
nada tivesse acontecido. Alya me contou sobre uma conversa que a Natalya
teve com Luna, e fiquei impressionada com essa coisa toda de casamento
arranjado, e como elas aceitam algo tão medieval como sendo o certo para as
suas vidas.
Eu expliquei que Natalya falou sobre escolher alguém de fora e colocar um
alvo na sua testa, o que me lembrou o motivo pelo qual Enzo ia se casar com
ela. Ele não queria que eu fosse alvo dos seus inimigos.
Para mim era difícil admitir que no final de tudo essa lei deles não estava de
toda errada, porque longe dos muros que os cercam ficam muito vulneráveis.
Não vejo como mudar isso sem que a máfia termine, então essa tradição está
longe de mudar.
— Outra coisa que me impressionou, é como eles agem apenas por interesse.
Não tinha vinte e quatro horas que queriam me jogar no lixo como uma
bastarda imunda, e lá estava eu, alvo dos olhares dos homens da máfia e
sendo cobiçada pelos seus herdeiros.
u e minha mãe tínhamos muito o que conversar, compartilhar, pesquisar,
E
fofocar, mas fomos interrompidas por uma batida na porta e a entrada da
minha prima, Alya, que estava chegando de um interrogatório, sabe lá com
que requintes de tortura, como se estivesse chegando do shopping.
— Eu sou Alya Mikhailova — Ela falou sorrindo para a minha mãe — Eu
vim para conhecer a senhora, mas se estiver interrompendo algo eu posso
voltar outra hora.
— Muito prazer, e você não está nos interrompendo.
Minha mãe ficou olhando para Alya e só então me dei conta que ela
era sua sobrinha. Não falei nada, embora não seja o meu estilo, mas deixei
que as duas se conhecessem sem pressão, e que o tempo ajeitasse tudo.
∞∞∞
J á estava anoitecendo, e eu tinha acabado de tomar um banho e resolvi me
arrumar, já que Enzo disse que viria me ver e pelo visto eu ficaria noiva essa
noite.
Eu ri sozinha pensando nisso?
Eu não ficaria noiva com um pedido de casamento, e sim, através de um
acordo entre o pai do Enzo e o meu tio.
Para mim ainda era surreal ter um tio, quanto mais imaginar ele acertando o
meu casamento.
Em uma situação normal jamais me casaria tão rápido. Na verdade,
se eu pudesse iria namorar, curtir muito com Enzo e só depois me casar, mas
minha mãe me fez prometer que eu ficaria quieta, aceitaria as regras da
Instituição e não criaria mais confusão com meus devaneios.
Eu não faria isso! A Raissa de algumas semanas atrás iria tentar convencer
todo mundo que isso de se casar de um dia para o outro é surreal, mas a que
está aqui na Bratva já entendeu que pertence a esse mundo, e o melhor que
tem a fazer é se adaptar a ele.
Uma batalha de cada vez, como disse a minha musa inspiradora, Sarah
Cooper. Ela com certeza não chegou aonde está sendo impulsiva.
Minhas amigas vão dizer, mas e os seus sonhos e projetos? Vai jogar tudo
pro alto por amor?
Ah, se fosse só por isso. Mas a verdade é que me tornei alvo de pessoas
perigosas, e mesmo se eu não me casasse com Enzo, não poderia mais fazer
reportagens que me colocassem em mais perigo do que eu já corria.
Mas tudo bem se pensarem que foi por amor, porque que o meu mafioso não
desconfie disso nunca, mas eu jogaria sim tudo pro alto para ficar com ele.
Eu teria feito isso em Dubai, se ele tivesse dito adeus à máfia.
Mas se ele tivesse feito isso já teríamos morrido em alguma emboscada,
então, que bom que ele disse não e que o destino se encarregou de nos unir
da forma correta.
Me olhei no espelho e amei o look que eu escolhi e que achei perfeito para
esse momento tão importante da minha vida. Eu gostava de me arrumar e
esse vestido vermelho escarlate que eu comprei antes de saber que era da
elite vermelha estava perfeito para a ocasião.
Eu mesma passei um esmalte vermelho nas unhas, esperei secar e só então
finalizei minha make com um batom nude.
Respirei fundo enquanto aguardava e me assustei quando minha mãe bateu
na porta do meu quarto.
— Filha, você está linda!
— Eu acho que vou ficar noiva hoje e mesmo não sendo num jantar à luz de
velas, e sim numa reunião da máfia, quero estar linda para esse evento.
— Eu vou descer porque parece que a família do seu futuro noivo chegou, e
seu… Aleksey Mikhailov mandou me chamar.
— Eu vou com você.
— Nada disso, minha prima — Alya entrou falando no meu quarto — Você
vai ficar aqui no seu quarto, e só vai descer quando o meu pai te chamar.
— Que coisa pré-histórica.
— Raissa, por favor.
— Não se preocupe, acho que todas as moças da máfia agem assim neste
dia. Só que minha prima, você ao contrário das outras, teve a chance de
escolher o seu noivo, e o melhor de tudo, de ser escolhida por ele não por
convenção, mas por amor.
Eu comecei a respirar e expirar repetidamente na tentativa de me acalmar,
ganhei um abraço da minha mãe e me preocupei vendo-a descer sozinha para
uma reunião onde eu não sei quantos gatilhos seriam disparados contra ela
na sua mente ainda em construção nessa nova vida.
— Não se preocupe porque minha mãe e Nina vão estar ao lado dela.
— E agora? Ficamos aqui aguardando?
— Sim, quando eles acertarem tudo meu pai manda te chamar.
Capitulo 58
Enzo Cosa Nostra
— Eu estou feliz, meu pai, e não posso negar. O senhor sabe que eu
respeitei a Cosa Nostra e sua decisão, mas se o destino…
Por favor, não me venha com essa conversa de destino. Isso tudo, Nina, é
—
culpa sua, que inventou de criar o nosso filho cheio de vontades.
Eu? Não seja ridículo, marido. Ele é meu herdeiro. Ele pode ter um
—
cavalo. Ele pode ter um cachorro. Ele pode tudo que ele quiser. Essas frases
são suas, e não minhas — Minha mãe falou e o meu pai contrariado ficou em
silêncio.
omos recebidos por Yuri e levados até a sala de reuniões da Bratva. Assim
F
que entramos Irya veio abraçar minha mãe e Aleksey apertou a mão do meu
pai, depois a minha, nos ofereceu um whiskey e ficamos todos em silêncio.
u estava ansioso, sem entender por que ninguém falava nada, até que a
E
porta da sala se abriu e a senhora Yelena entrou, visivelmente deslocada e
sendo recebida por Irya.
As nossas esposas que não entendem que isso é assunto entre homens —
—
Aleksey falou olhando para Lorenzo que assentiu com a cabeça — além de
participarem da reunião, acharam que Yelena deveria estar presente
também.
Muito prazer, eu sou a Nina, mãe do Enzo — minha mãe falou sorrindo
—
— Eu também sou americana.
— Sim.
— Atualmente estou mais na vara de família, mas o meu escritório tem mais
clientes na área criminal.
urante mais de duas horas meu pai e Aleksey ficaram falando sobre
D
territórios, cassinos, boates e tudo mais que tivesse algum valor financeiro, e
depois de muito discutirem chegaram a um acordo que favorecia os dois
lados.
ntão, quando pensei que estava tudo certo começaram a falar sobre o local
E
da cerimônia e a data, sendo interrompidos por Yelena, que até então
escutava tudo em silêncio.
la argumentou como uma advogada e seu tom de voz firme era digno de
E
uma Mikhailova.
Você sabe que se ela disser não e eu sim, ela vai se casar do mesmo jeito?
—
— Aleksey falou olhando sério para Yelena.
Raissa não moveu céus e terra para dizer não para o Enzo, por isso acho
—
que não devemos criar uma guerra de quem pode mais com algo totalmente
fora de cogitação.
— Raissa O’Brien…
Sim, mas eu acho que a minha resposta eu dei antes desse pedido quando
—
desembarquei aqui na Rússia.
Eu penso que trinta dias seria tempo suficiente para organizarmos tudo
—
com calma — Irya falou e Yelena concordou.
Raissa, saiba que eu estou muito feliz em ter você como nora — Minha
—
mãe falou — Eu escolhi você desde que Enzo me falou a seu respeito, e torci
para que vocês ficassem juntos.
elena abraçou Raissa e eu pude perceber que existia medo e ansiedade no
Y
olhar que trocaram, o que era normal no meio de tudo que estavam vivendo.
Agora que está tudo certo vamos sair e comemorar? — Alya falou —
—
Normalmente os noivados na máfia não são motivos de verdadeira
comemoração, pois são formais e obrigados, mas como esse é por amor
então vamos para a boate festejar.
u achei a ideia perfeita porque queria poder falar com Raissa longe de
E
todos, e como Luna e Alya não deram chances de ninguém falar nada, nós
saímos, deixando todos na sala de reunião e indo fazer algo inusitado na
máfia, como Alya falou, que era comemorar de verdade um noivado.
omos todos numa limusine blindada e decorada para uma festa. Não sei que
F
horas Luna e Alya planejaram isso tudo, mas elas estavam felizes e eu grato
porque elas foram as responsáveis por esse momento.
iquei olhando como Raissa se dava bem com as duas, e fiquei feliz por ver
F
que talvez não fosse tão difícil ela se adaptar ao meu mundo, que agora eu
sei sempre foi o dela também.
O problema é que ela não iria aceitar ficar em casa, e eu vendo as três
juntas já sabia que ia ficar louco com a minha esposa querendo sair em
missão com a máfia das mulheres.
Então eu espero que eles não possam ver nada aqui em cima — Ela falou
—
dando a volta na mesa até parar atrás de mim, se curvando e mordendo a
minha orelha.
Eu senti algo gelado resfriando a minha pele quente, e me dei conta que
Raissa tinha derramado champanhe no meu pescoço e estava me lambendo
para saborear a bebida.
Ela deu a volta, afastou uma perna da outra fazendo o seu vestido
subir e se sentou no meu colo esfregando sua boceta no meu pau que já
estava duro só por estar perto dela.
Eu puxei com força sua calcinha, fazendo com que ela rasgasse e
ficasse nas minhas mãos, e a seguir a guardei no meu bolso enquanto Raissa
respirava ofegante olhando o povo na pista de dança.
Eu pressionei o seu corpo contra a bancada, e afastei suas pernas
colocando minha mão entre elas, e Raissa gemeu e rebolou gostoso enquanto
eu podia sentir sua boceta gulosa pronta para mim.
Eu estava com saudades daquela boca suja que ele tinha, e mais
ainda de estar dentro dela. Sem avisar, e sem preliminares, eu entrei forte
dentro dela, fazendo seu corpo bater na bancada e ela gemeu alto tendo a
visão de toda a boate aos seus pés.
— Ver tudo eles não podem, mas imaginar que eu estou te comendo,
e enfiando meu pau na sua boceta melada com certeza.
— Vou te fazer sair daqui com a minha porra escorrendo pelas suas
pernas — Eu falei estocando forte dentro dela que gemia e sorria olhando
para baixo como se nada estivesse acontecendo de diferente no nosso
camarote.
— Eu quero escutar você gritando o meu nome toda vez que eu te der
uma palmada. Você entendeu?
Ela fez que sim com a cabeça e ganhou o primeiro tapa em sua
bunda.
— E vai pegar mais ainda — Eu falei dando outro tapa forte e vendo
as marcas do meu dedo na sua bunda — e não quero que você goze até eu
ordenar mesmo que sua boceta fique latejando sem parar.
— Safado!
Eu ergui seu quadril para o alto e fiquei com uma visão linda da sua
boceta piscando toda melada querendo gozar.
— Você é louca.
Raissa falava frases soltas, me xingava, gemia alto e a diaba era tão
gostosa, que pela primeira vez o torturador se sentiu torturado.
Ela era tão linda tentando controlar o seu orgasmo, e gritando feito
louca, que ao mesmo tempo que eu queria continuar assistindo esse seu
espetáculo de luxúria, eu queria sentir o meu pau lambuzado por ela.
— Só depois do casamento.
Eu soltei seus braços, pensando que ela iria se deitar, mas ela me
empurrou, sentou-se entre as minhas pernas e abocanhou o meu pau, com
seus lábios carnudos e perfeitos, enquanto me olhava mostrando o quanto
sentia prazer em me chupar gostoso.
— E depois…
— Eu vou voltar para a Cosa Nostra, e você e sua mãe devem voltar
para a Filadélfia dentro de alguns dias. Depois nos encontraremos na Sicília,
onde eu te esperarei no altar.
— Eu te amo.
FLASHBACK
ssim que desembarquei depois de quase uma semana na Rússia, fui direto
A
para a casa dos meus pais saber como eles estavam e conversar com eles
sobre o nosso futuro.
Durante a viagem para a Rússia, uma semana antes, Irya me contou tudo
sobre o trabalho que Sarah Cooper realizava à frente da máfia das
mulheres.
Ela tinha ao todo três centros de reabilitação, podemos chamar assim, que
funcionam como se fossem as nossas Ongs, com a finalidade de ajudar as
vítimas de violência da Instituição.
Seus planos era de expandir esse projeto, mas precisava de pessoas à frente
dos novos centros, e desde que eu escutei sobre isso, senti vontade de cuidar
e acolher essas mulheres.
E foi assim, que ao longo da semana na Rússia, eu tive várias reuniões com
Sarah e as outras mulheres da máfia, para conhecer mais como tudo
funcionava e tomei a decisão que para mim era a mais certa de todas: fundar
e dirigir um desses centros de reabilitação.
Eu decidi que o melhor lugar seria na Sicília, porque uma vez que Raissa iria
viver lá, eu e meus pais poderíamos ficar próximos dela.
Aleksey não gostou, porque ele queria que fosse na Rússia, mas por fim se
deu por vencido já que minha mãe nunca aceitaria morar lá.
Eu e o meu irmão tivemos várias discussões ao longo da semana,
principalmente porque eu não estava acostumada a receber tantas ordens, e
ele se tornou uma sombra querendo me proteger de tudo e de todos.
No final eu entendi que essa era sua forma de demonstrar amor. Cuidando
das pessoas que ele gosta, sem dizer que gosta, porque ele não é um homem
que gosta de ninguém, como ele vive repetindo.
Eu comecei a rir sozinha lembrando de como Aleksey era ranzinza e chato,
mas ao mesmo tempo, protetor e acolhedor. Sim, ele me acolheu quando
para a máfia eu nem deveria ter nascido. Ele assumiu a mim e a minha filha,
como legítimas Mikhailovas e estava disposta a matar cada um que se
levantasse contra a sua decisão.
Meu olhar perdeu o brilho quando me lembrei de Mark. As ruas da Filadélfia
me fizeram lembrar dele e dos mais de vinte e cinco anos que ficamos juntos
entre namoro, noivado e casamento.
Como ele pode me virar as costas? Como ele pode renegar a filha que dizia
amar tanto?
Eu sacudi a cabeça e joguei as lembranças para longe e sorri quando o
motorista avisou que estávamos chegando na casa dos meus pais.
— Já estamos chegando Senhora Mikhailova — ele falou e eu precisava me
acostumar com esse sobrenome que não parecia ser meu e ainda me
despertava mil gatilhos, mas que o meu irmão dizia ser importante para
mostrar a todos quem eu era e do risco de tentarem algo contra mim.
— Obrigada. Você pode parar em frente à casa, fazer a varredura de sempre
e se juntar aos outros seguranças.
— Sim, senhora.
Quando o carro parou em frente à casa dos meus pais eu respirei fundo
sabendo que além da saudade teríamos muito o que decidir sobre o nosso
futuro.
— Minha filha, até que enfim você voltou — Meu pai falou assim que me
viu — Onde está Raissa?
— Raissa foi direto para San Francisco. Ela tem que organizar a mudança
para a Sicília e passar no jornal para ver com eles se pode continuar como
free lancer e enviando artigos.
— Como ela vai fazer agora? Sim, porque ela não tem como ficar fazendo
certas matérias com o sobrenome que vai ter agora.
— Ela sabe disso, mas quer continuar fazendo artigos sobre a violência
contra as mulheres, conscientizando da importância de certos cuidados, da
necessidade de saber dizer não, e combatendo o tráfico que leva todas para
uma vida cruel de prostituição.
— Então nada vai mudar — meu pai falou sacudindo a cabeça — Essa é a
nossa Raissa que não desiste nunca do que ela quer.
— Vai mudar sim, meu pai. Porque agora sua neta quer ir para a linha de
frente com a máfia das mulheres.
— Raissa sempre foi fascinada por Sarah Cooper e não me admira ela querer
ser como ela agora que está na máfia — Minha mãe falou e eu às vezes me
assustava com a naturalidade que ela falava sobre a Instituição que antes ela
não mencionava.
— Eu vou tomar um banho porque estou muito cansada, foi uma semana
intensa e depois precisamos conversar — Eu falei e meu pai me abraçou
dizendo que eles já sabiam que depois disso tudo viriam mudanças, mas que
o importante era continuarmos sempre juntos.
Senti um alívio enorme com as suas palavras, e ganhei confiança para a
conversa que teríamos mais tarde.
Já estava anoitecendo quando eu acordei e fui até a sala onde meus pais
estavam sentados assistindo televisão. Eu amava ver os dois juntos, e agora
sabendo da verdadeira história deles, senti uma admiração enorme pelo meu
pai, um homem lindo, com um coração puro e bondoso, que cuidou de mim
e da minha mãe com tanto amor.
Como eu amo e sou grata a Nikolay Pavlov por tudo!
Como eu me sinto honrada em poder chamá-lo de pai.
Me sentei com eles e comecei a contar tudo que a máfia das mulheres
fazia para ajudar vítimas como minha mãe oferecida como moeda de troca,
Raissa que foi sequestrada, e eu, uma bastarda fruto de um estupro.
— Nossa vida não têm como ser mais como antes, e nós sabemos
disso. Não vou ficar fantasiando que vou voltar para a minha casa, sair
dirigindo pela manhã, comprar um café na rua e passar o dia trabalhando no
meu escritório.
Nada disso seria possível, porque agora teria que estar sempre
cercada de seguranças, com motorista me levando para qualquer lugar que
eu quisesse ir sendo que esses locais precisariam ser vistoriados antes,
enfim… a liberdade de ir e vir se foi por conta de inimigos que nem sei
quem são.
— Eu pensei muito e não conseguiria mais ser a Yelena de antes, até
porque ela não existe mais, então como seguir adiante? Foi então que eu
senti que faria todo o sentido do mundo ajudar pessoas que passam hoje pelo
que passamos um dia.
— Você quer trabalhar com a máfia? É isso? — meu pai perguntou.
— Eu quero fundar e administrar um desses centros de reabilitação.
— Eu gosto desta ideia — minha mãe falou e meu pai me olhou com
cara de surpreso porque ela geralmente não fazia parte das nossas conversas
dando sua opinião.
— Como Raissa vai se casar e morar na Sicília, eu pensei que lá seria
o local ideal, porque ficaríamos todos juntos. Nossa casa seria no próprio
centro de reabilitação, onde teria um anexo no jardim, como se fosse uma
pousada, com suítes confortáveis, e uma infraestrutura para que todas se
sentissem acolhidas. Elas teriam lá mesmo em outro anexo, sessões de
terapia, aulas de artesanato, uma biblioteca, atividades físicas, e as que
quiserem, apoio para retomarem suas vidas em sociedade.
— Eu poderia dar aula de culinária para as que quisessem aprender a
cozinhar e ocupar suas mentes — minha mãe falou e eu vi que os olhos do
meu pai se encheram d'água, porque pela primeira vez ela demonstrou
querer viver fora da bolha que construiu dentro desta casa.
— Isso é um sim, minha Polina? — meu pai perguntou — Você quer
se mudar para a Itália?
— Sim, eu quero me mudar, quero ajudar Yelena neste projeto e
acolher quem tem dor. Eu quero ser útil. É a primeira vez que escuto algo
que eu realmente tenho vontade de fazer.
— Então está decidido — meu pai falou — A família Pavlov vai se
mudar para a Sicília.
— Só têm um problema — Eu falei — Temos duas semanas para
organizarmos tudo, porque assim chegaríamos antes do casamento e não
ficaríamos na correria para a cerimônia.
— E a casa? Você vai conseguir uma tão rápido? E quanto isso vai
custar?
— Quanto a isso meu pai, não precisamos nos preocupar porque a
casa será um presente de Aleksey, e a fundação e manutenção do centro de
reabilitação por conta da máfia das mulheres.
— Que seja assim — minha mãe falou — A máfia me destruiu, mas
está fazendo Raissa sorrir, nos dando a chance de combater a violência
dentro dela. Então no lugar de reclamar, eu quero aproveitar essa
oportunidade de poder trazer o sorriso para o rosto de alguém, como um dia
Nikolay trouxe para o meu quando me acolheu com todo o seu amor. Eu sei
que o que elas mais vão precisar quando chegar é de amor.
∞∞∞
E foi assim que depois de toda a correria das duas últimas semanas
nós chegamos na Sicília para recomeçar as nossas vidas.
— Eu estou indo para a videoconferência — Eu falei animada
enquanto me levantava — e minha mãe, daqui a pouco chegam as moças que
vão trabalhar na limpeza e na cozinha.
— Pode deixar que eu vou recebê-las com carinho e deixar claro que
aqui elas serão bem tratadas e respeitadas — Minha mãe falou e eu sei que
ela faria de tudo para que essas jovens da Instituição que viriam trabalhar
aqui fossem tratadas com carinho e respeito, com o qual ela gostaria de ter
sido tratada um dia.
— Vamos deixar tudo organizado, porque além do trabalho dentro de
alguns dias, Aleksey, Irya e Alya vão chegar para o casamento e ficarão
todos aqui em casa.
— Eu estou saindo agora porque vou com Luna comprar algumas
coisas para o meu enxoval — Raissa falou, deu um beijo nos seus avós,
pegou mais uma fatia de medovik e saiu apressada como sempre.
Eu entrei no meu escritório, liguei o computador e dei bom dia para
Sarah, Alice, Nina, Isabella, Louise e Irya, um time de mulheres que estava
escrevendo a cada dia um novo capítulo para a máfia.
Eu tenho orgulho de poder dizer que faço parte desse time
empoderado, e feliz, porque se é para ser da máfia, então que seja, na máfia
das mulheres superpoderosas da Instituição.
— Bom dia a todas — Sarah Cooper falou — É com muito orgulho
que iniciamos hoje mais um centro de reabilitação da máfia, um projeto da
nossa máfia das mulheres, que chega hoje a Europa, mais precisamente na
Sicília e que será administrado pela nossa nova mulher superpoderosa
Yelena Mikhailova.
— Eu estou muito feliz e orgulhosa por fazer parte desse projeto.
— Pauta do dia: as meninas que estão chegando essa noite na Sicília
— Sarah falou — e uma surpresa para Raissa no dia do seu casamento.
— Ela vai ficar muito feliz com essa surpresa, e eu também com a
minha futura assistente que eu sei que tem muito a contribuir com esse
projeto.
Capitulo 60
Raissa Mikhailova Cosa Nostra
∞∞∞
Até a minha mala quem arrumou foi a minha mãe e Luna, que não
quiseram me contar o lugar escolhido pelo meu marido, mas pela quantidade
de roupas de verão, eu já imaginava que seria num lugar quente, mas
existiam tantas possibilidades e cada hora eu pensava num lugar diferente.
Não. Eu quero que você chegue sem saber onde está indo, que descubra
—
cada local com os seus próprios olhos sem consultar tudo antes na internet.
Meu amor, eu sou uma mulher moderna. Se eu vou em algum lugar, faço
—
pesquisas, analiso reviews e faço um roteiro para poder conhecer tudo.
Você nasceu rico, sempre pode se dar ao luxo de chegar num lugar e ir
—
embora porque não gostou, ou de voltar no mesmo local umas cem vezes,
por isso nunca vai entender o que é planejar uma viagem, ficar anos
endividado por causa disso, e, saber que aquela é uma oportunidade única na
vida.
Mas agora você também é rica, então pode por favor curtir a viagem sem
—
pensar na internet.
Sim, vou tentar, mas já aviso que isso vai te custar ter que me manter
—
ocupada cada segundo da viagem.
nzo suspendeu o meu corpo pela bunda, enquanto nossas bocas duelavam
E
para ver quem chuparia o outro mais forte.
— Eu amo esse seu fogo delicioso e esse seu jeito safado quando
toma a iniciativa.
Eu queria me tocar, porque estava com muito tesão, mas ele deu um
tapa em meu clitóris e ainda dobrou os meus joelhos, de um jeito que fiquei
desesperada para gozar.
— Você não vai gozar agora — Ele falou enfiando um dedo dentro
da minha boceta — Eu gosto desta sua boceta apertadinha e vou te foder
bem devagar.
Eu queria gritar, mas ele disse que eu ficasse calada, porque se algum
segurança viesse achando que estava acontecendo alguma coisa ele teria que
cortar sua cabeça por me ver pelada.
A adrenalina de não poder gritar para não ser vista e causar uma
morte me deixou mais alucinada.
Eu sentia seu pau latejando e sabia que ele queria me foder gostoso,
mas preferia me torturar primeiro, sabendo que eu enlouquecia quando ele
fazia isso.
Ele abriu bem as minhas pernas me deixando toda exposta para ele,
começou a lamber o meu clitóris inchado, enquanto fodia com seus dedos a
minha boceta.
Enzo era forte e eu sabia que ele podia fazer isso por horas,
prolongando o meu desespero e me fazendo ter orgasmos quando ele
ordenava.
— Em todos os lugares.
Ele disparou jatos quentes dentro de mim e eu gozei junto com ele,
fazendo tudo ficar mais intenso.
∞∞∞
u ainda estava sonolenta quando resolvi olhar o lugar onde iríamos pousar
E
e não acreditei quando vi as altas formações rochosas em forma de cone.
— Seu avô. Ele me disse que uma vez pintou a parede do seu quarto com
balões, porque você era fascinada por eles.
Sim, eu acho que deve ser incrível voar num deles. Deve ser mágica a
—
sensação de liberdade.
Não vai ser algo fácil de realizar, por uma questão de segurança, mas eu
—
estou providenciando para que você veja o mundo lá de cima.
udo lá dentro era desalinhado, para parecer que você estava andando dentro
T
das montanhas, e do nada você tinha que abaixar para entrar num ambiente,
ou tomar cuidado para não bater numa parede de pedra que surgia do nada
enquanto você caminhava.
Eu sei que não vou poder te oferecer uma vida normal, como a que você
—
estava acostumada, indo a lugares comuns, como cinema ou lanchar num
shopping.
Não se preocupe com isso, porque podemos ter nosso próprio cinema em
—
casa, fazer fast food que eu amo e fazer compras online.
Você é muito importante para mim, e quero que esses dias sejam só
—
nossos, sem problemas da máfia, ou de família. Só eu e você!
as ao contrário do que ele pensa, eu não sou uma pessoa que fico olhando
M
para trás. Quando escolhi ficar com ele, foi para viver a vida que eu sei que
ele leva ao lado dele, e, não uma de faz de conta, onde somos pessoas
comuns que trabalham e pagam suas contas no final do mês.
u acho que tudo isso que eu passei nos últimos meses me deixou mais
E
madura, e eu estou gostando muito da Raissa que eu venho me tornando.
— No dia que você souber a hora e o lugar de cada coisa, vai deixar
de ser a minha encrenqueira.
— Eu sei que na máfia as pessoas se casam para ter herdeiros, e que
devem estar esperando que eu engravide na lua de mel. Não conversamos
sobre isso e eu quero que você saiba que eu ainda faço uso de contraceptivo
para não engravidar.
— Meu amor, nós vamos ter um filho quando acharmos que chegou a
hora. Não quero ter herdeiros da máfia, e sim, uma família com você. Mas
tudo têm seu tempo, e eu acho que ainda temos muita coisa para curtir juntos
antes de pensar em dar esse passo. Essa criança vai ter o sangue das duas
maiores máfias, e com certeza, isso vai gerar muita expectativa, mas tudo vai
acontecer quando nós dois em comum acordo decidirmos que queremos ter
um filho.
Eu senti que seu pau ganhou vida e a cada movimento meu podia
sentir ele roçando na minha bunda.
— Depende.
Ele desceu a boca até o meu clitóris, e gritei quando ele o beijou e
depois começou a lamber a entrada da minha vagina. Ele me chupava, com o
meu quadril no ar sustentado pelas suas mãos, o que me deixava sem
equilíbrio. Eu não sabia se me debatia de prazer ou tentava não tombar para
o lado e perder o seu toque.
— E faminta.
— Acho que você vai acabar comigo, porque estou ficando viciada
em ser fodida pelo torturador.
∞∞∞
— Meu Deus, onde vamos tão cedo. Que disposição é essa que você
tem que mal dormiu e já está de pé como se não tivéssemos feito nenhum
esforço durante a noite.
Eu juro que queria dormir mais, só que a carinha dele de ansioso para
ir sei lá onde me comoveu e arrastei o meu corpo para fora da cama, já
imaginando que iria enlouquecer se ele me acordasse tão cedo todos os dias
da nossa lua de mel.
AVALIE o livro para que ele tenha mais alcance aqui na Amazon e
outras pessoas possam lê-lo.