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PLATÃO

Dados iniciais. A importância dos diálogos


• Platão. Atenas. 428 a.C. - 348 a.C. 
• Elite ateniense com descendência do legislador Sólon.
• O papel de Sócrates (470-399 a.C.). Mentor.
• Em 388 a.C., onze anos após a morte de Sócrates, Platão
adquiriu um terreno dentro de um parque público de
Atenas e criou a Academia, a primeira instituição de
ensino sistemático de um saber teórico (a filosofia e
outras matérias misturam-se nesta fase).
• A dialética (síntese a partir de argumentos anteriores -
tese e antítese). Influência de Parménides (530-460 a.C.).
• Os diálogos como base discursiva: a novidade passa por
arrastar os contendores para uma posição correcta,
contrapondo léxis (o que é dito) com nóesis (o que é
compreendido) e deixando sempre em aberto o jogo. A
arbitragem permanente é atribuída ao protagonista
Sócrates.
Platão, o apóstolo de Sócrates.
• No diálogo Fedro de Platão,
Sócrates dá conta ao seu
interlocutor do que pensa da
escrita.
• Parte do princípio mitológico
que a escrita teria sido inventada
no Egipto por uma
personalidade chamada Thoth.
• Aqui se percebe a razão pela
qual Sócrates não deixou para a
posteridade um único
testemunho escrito. Platão será
o seu grande e único apóstolo.
Conhecimento verdadeiro: a “Ideia” (ou o mundo
inteligível) contrapondo-se ao mundo sensível e aos
signos a que os humanos recorrem.
As quatro teorias do Fedon
• 1. Teoria das ideias e das cópias.
• Para Platão existem dois mundos. O primeiro é constituído por ideias eternas, invisíveis e dotadas de uma existência
diferente das coisas concretas. O segundo é constituído por cópias das ideias (coisas sensíveis). Daí os sentidos
estarem sempre a enganar-nos. A verdadeira realidade não nos é dada pelos sentidos, embora possa ser intuída, e
está no mundo das ideias.
• 2. Teoria da participação.
• Esta teoria explica a relação entre as coisas sensíveis e as ideias (eternas, belas, unas, imutáveis). As coisas sensíveis
são belas porque participam da ideia de belo. Todas as coisas que existem no mundo sensível foram feitas à
imagem das Ideias. Um única ideia tem uma grande variedade de cópias-coisas. A prova desta participação reside
na harmonia e organização do mundo sensível.
• 3. Teoria da metempsicose.
• Esta teoria defende a imortalidade da alma e as sucessivas reencarnações. Ao encarnar num corpo, a alma irá
recordar – ainda que não sistematicamente - o que outrora contemplou no mundo das ideias.
• 4. Teoria da reminiscência.
• Esta teoria parte do princípio de que existe um saber inato que pode ser recordado.
A alma vem do outro mundo, mas
dele se esquece
• No mito do cocheiro, no diálogo Fedro,
a alma é comparada a uma carruagem
puxada por dois cavalos, um branco
(levado pela ira) e um negro (levado
pelo desejo). O cocheiro (a razão) tenta
dominar, através das rédeas
(pensamentos), os cavalos
(sentimentos). Cabe, pois, ao homem a
quase impossível tarefa de domar os
cavalos. A alma, sendo um vestígio do
mundo inteligível nos humanos, é assim
permanentemente acossada. E por isso
quase esquece o universo de onde
provém.
Um teatro às escuras. A imperfeição dos signos
• Existe uma dramaturgia em Platão: o ser humano
está no palco sem conhecer as ferramentas
exactas que lhe permitem ser actor.
• Tal como acontece com o mito órfico – ou de
Orfeu - em que o ser humano não pode olhar
para trás (metáfora do olhar para as Ideias puras).
• Como se refere no Fédon, a Ideia “permanece
sempre a mesma e comporta-se de um modo
idêntico”, enquanto as coisas, pelo seu lado, “são
agora de uma maneira e logo doutra e nunca se
comportam dum modo igual”. Por isso, o
conhecimento mediado por signos é inferior ao
verdadeiro conhecimento e pressupõe uma
incompleta representação da natureza real das
coisas.
A República (387 aC / J. Ferguson ). Os iniciados governarão.

O Livro VI enfatiza uma das matrizes da obra: o design perfeito do


mundo, quer ao nível do estado, quer ao nível da perfeição
humana:

“ [...] Jamais um Estado poderá ser feliz, se não tiver sido delineado
por esses pintores que utilizam o modelo divino?
– Sem dúvida.
(...)
- Penso que, aperfeiçoando o seu trabalho, olharão frequentemente
para um lado e para outro, para a essência da justiça, da beleza, da
temperança e virtudes congéneres, e para a representação que
delas estão a fazer nos seres humanos, compondo e misturando as
cores, segundo as profissões, para obter uma forma humana divina,
baseando-se naquilo que Homero, quando o encontrou nos
homens, apelidou de “divino e semelhante aos deuses”.
Crátilo: o primeiro livro de semiótica
• No diálogo Crátilo, surge a discussão sobre a origem
dos nomes.
• Platão coloca face a face Crátilo e Hermógenes, o
primeiro reivindicando uma origem natural para os
nomes e o segundo reivindicando um legado
puramente artificial.
• A arbitragem de Sócrates tentará mediar esta
radicalização, mas concluirá que os nomes criam
correspondências ilusórias, sendo que a
correspondência fundamental é entre o mundo
sensível – aqui de baixo - e o mundo superior das
ideias ou inteligível (o inatingível mundo ‘de cima’).
Discurso: regras e referência
No Sofista, Platão também torna
claro, ao longo do diálogo, que o
discurso pressupõe sempre
regras (combinações), para além
de criar os seus próprios
referentes.
Ou seja: o discurso é sempre
acerca de alguma coisa concreta
e nunca sobre nada.
Extracto de O Sofista
• "O ESTRANGEIRO - (...) "tal como entre as coisas umas
se combinavam mutuamente e as outras não, entre os
signos (vocais) há uns que não se combinam, mas os
que se combinam criaram o discurso." (...)
• "O ESTRANGEIRO - Desde que existe, o discurso é
necessariamente um discurso sobre alguma coisa; é
impossível que seja um discurso sobre nada. "(...)
• “O ESTRANGEIRO - Teeteto está sentado. Não é longo,
pois não?
• TEETETO - Não, é bastante curto.
• O ESTRANGEIRO - Diz agora de que fala e a que se
refere o discurso.
• TEETETO - Evidentemente, fala de mim e refere-se a
mim.
Homologia entre pensamento e discurso
• Pensamento, ou seja, o
“monólogo interior da alma”, e
discurso, ou seja, a "corrente
que sai da alma pela boca", são,
no fundo, idênticos.
• A opinião, sendo a "realização
final do pensamento",
materializada no discurso ou
através da voz, refere-se sempre
a algo, verdadeiro ou falso.
Do Sofista (exemplo)
• "O ESTRANGEIRO - Pois bem,
pensamento e discurso são uma e a
mesma coisa, mas o discurso interior
que a alma faz em silêncio com ela
mesma recebeu o nome especial de
pensamento.
• TEETETO - Perfeitamente.
• O ESTRANGEIRO - Mas a corrente que
sai da alma pela boca sob a forma de
som recebeu o nome de discurso."
(...) “ podendo o discurso sempre ser
verdadeiro ou (mais geralmente)
falso”.

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