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DIREITO CIVIL I

Aula 2 - LINDB
DIREITO CIVIL I
1. PRIMEIRAS PALAVRAS SOBRE A LEI DE INTRODUÇÃO
2. A LEI DE INTRODUÇÃO E A LEI COMO FONTE PRIMÁRIA DO DIREITO BRASILEIRO. A
VIGÊNCIA DAS NORMAS JURÍDICAS (ARTS. 1.º E 2.º DA LEI DE INTRODUÇÃO)
3. CARACTERÍSTICAS DA NORMA JURÍDICA E SUA APLICAÇÃO. ANÁLISE DO ART. 3.º DA
LEI DE INTRODUÇÃO
4. AS FORMAS DE INTEGRAÇÃO DA NORMA JURÍDICA. ART. 4.º DA LEI DE INTRODUÇÃO
5. APLICAÇÃO DA NORMA JURÍDICA NO TEMPO. O ART. 6.º DA LEI DE INTRODUÇÃO
6. APLICAÇÃO DA NORMA JURÍDICA NO ESPAÇO. OS ARTS. 7.º A 19 DA LEI DE
INTRODUÇÃO E O DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO E PRIVADO
7. INCLUSÕES FEITAS NA LEI DE INTRODUÇÃO PELA LEI 13.655/2018. REPERCUSSÕES
PARA O DIREITO PÚBLICO
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1. PRIMEIRAS PALAVRAS SOBRE A LEI DE
INTRODUÇÃO

A antiga Lei de Introdução ao Código Civil é o Decreto-lei 4.657,


de 1942, conhecida anteriormente nos meios jurídicos pelas iniciais
LICC. Trata-se de uma norma de sobredireito, ou seja, de uma
norma jurídica que visa a regulamentar outras normas (leis sobre
leis ou lex legum).

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1. PRIMEIRAS PALAVRAS SOBRE A LEI DE
INTRODUÇÃO

Apesar desse seu posicionamento metodológico, a verdade é que a antiga


LICC não constituía uma norma exclusiva do Direito Privado.
• Lei 12.376, de 30 de dezembro de 2010, alterou o seu nome de
Lei de Introdução ao Código Civil para Lei de Introdução às
Normas do Direito Brasileiro.
O seu conteúdo interessa mais à Teoria Geral do Direito do que ao Direito
Civil propriamente dito.

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1. PRIMEIRAS PALAVRAS SOBRE A LEI DE
INTRODUÇÃO

Corroborando essa afirmação, a recente Lei 13.655/2018 traz novas regras


concernentes à atuação dos agentes públicos, tendo relação substancial com
o Direito Administrativo.

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1. PRIMEIRAS PALAVRAS SOBRE A LEI DE
INTRODUÇÃO

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1. PRIMEIRAS PALAVRAS SOBRE A LEI DE
INTRODUÇÃO

Anote-se que a Lei de Introdução não faz parte do Código Civil de 2002,
como também não era componente do Código Civil de 1916. Como se extrai,
entre os clássicos, da obra de Serpa Lopes, ela é uma espécie de lei anexa,
publicada originalmente em conjunto com o Código Civil para facilitar a sua
aplicação.

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2. A LEI DE INTRODUÇÃO E A LEI COMO FONTE PRIMÁRIA DO DIREITO BRASILEIRO. A
VIGÊNCIA DAS NORMAS JURÍDICAS (ARTS. 1.º E 2.º DA LEI DE INTRODUÇÃO)

O Direito Brasileiro sempre foi filiado à escola da Civil Law, de origem


romano-germânica, pela qual a lei é fonte primária do sistema jurídico. Assim
ainda o é, apesar de todo o movimento de valorização do costume
jurisprudencial, notadamente pela emergência da súmula vinculante como
fonte do direito, diante da Emenda Constitucional 45/2004. Como é notório,
a alteração constitucional incluiu o art. 103-A no Texto Maior com a seguinte
redação:

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2. A LEI DE INTRODUÇÃO E A LEI COMO FONTE PRIMÁRIA DO DIREITO BRASILEIRO. A
VIGÊNCIA DAS NORMAS JURÍDICAS (ARTS. 1.º E 2.º DA LEI DE INTRODUÇÃO)

CF, art. 103-A. O Supremo Tribunal Federal poderá, de ofício ou por provocação,
mediante decisão de dois terços dos seus membros, após reiteradas decisões sobre
matéria constitucional, aprovar súmula que, a partir de sua publicação na imprensa oficial,
terá efeito vinculante em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração
pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal, bem como proceder à
sua revisão ou cancelamento, na forma estabelecida em lei.

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2. A LEI DE INTRODUÇÃO E A LEI COMO FONTE PRIMÁRIA DO DIREITO BRASILEIRO. A
VIGÊNCIA DAS NORMAS JURÍDICAS (ARTS. 1.º E 2.º DA LEI DE INTRODUÇÃO)

Desse modo, haveria uma tendência de se caminhar para um sistema próximo à


Common Law, em que os precedentes jurisprudenciais constituem a principal fonte do
direito. Porém, conforme destaca Walber de Moura Agra, as súmulas vinculantes não são
leis, não tendo a mesma força dessas.
A conclusão, portanto, é pela permanência, pelo menos por enquanto, de um sistema
essencialmente legal. Como é notório, o princípio da legalidade está expresso no art. 5.º,
inc. II, da Constituição Federal de 1988, pelo qual ninguém será obrigado a fazer ou a
deixar de fazer algo senão em virtude da lei.

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2. A LEI DE INTRODUÇÃO E A LEI COMO FONTE PRIMÁRIA DO DIREITO BRASILEIRO. A
VIGÊNCIA DAS NORMAS JURÍDICAS (ARTS. 1.º E 2.º DA LEI DE INTRODUÇÃO)

Em complemento, pontue-se que essa tendência de caminhar para o sistema da


Common Law foi incrementada pelo Novo Código de Processo Civil, em virtude da
valorização dada, nessa lei instrumental emergente, aos precedentes judiciais.

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2. A LEI DE INTRODUÇÃO E A LEI COMO FONTE PRIMÁRIA DO DIREITO BRASILEIRO. A
VIGÊNCIA DAS NORMAS JURÍDICAS (ARTS. 1.º E 2.º DA LEI DE INTRODUÇÃO)

CPC - Art. 926. Os tribunais devem uniformizar sua jurisprudência e mantê-la estável, íntegra e
coerente.

§ 1º Na forma estabelecida e segundo os pressupostos fixados no regimento interno, os tribunais


editarão enunciados de súmula correspondentes a sua jurisprudência dominante.

§ 2º Ao editar enunciados de súmula, os tribunais devem ater-se às circunstâncias fáticas dos


precedentes que motivaram sua criação.

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2. A LEI DE INTRODUÇÃO E A LEI COMO FONTE PRIMÁRIA DO DIREITO BRASILEIRO. A
VIGÊNCIA DAS NORMAS JURÍDICAS (ARTS. 1.º E 2.º DA LEI DE INTRODUÇÃO)

CPC - Art. 927. Os juízes e os tribunais observarão:

I - as decisões do Supremo Tribunal Federal em controle concentrado de constitucionalidade;


II - os enunciados de súmula vinculante;
III - os acórdãos em incidente de assunção de competência ou de resolução de demandas
repetitivas e em julgamento de recursos extraordinário e especial repetitivos;
IV - os enunciados das súmulas do Supremo Tribunal Federal em matéria constitucional e do
Superior Tribunal de Justiça em matéria infraconstitucional;
V - a orientação do plenário ou do órgão especial aos quais estiverem vinculados.

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2. A LEI DE INTRODUÇÃO E A LEI COMO FONTE PRIMÁRIA DO DIREITO BRASILEIRO. A
VIGÊNCIA DAS NORMAS JURÍDICAS (ARTS. 1.º E 2.º DA LEI DE INTRODUÇÃO)

Apesar de a lei ser a fonte primária do Direito, não se pode conceber um Estado Legal
puro, em que a norma jurídica acaba sendo o fim ou o teto para as soluções jurídicas. Na
verdade, a norma jurídica é apenas o começo, o ponto de partida, ou seja, o piso mínimo
para os debates jurídicos e para a solução dos casos concretos.

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2. A LEI DE INTRODUÇÃO E A LEI COMO FONTE PRIMÁRIA DO DIREITO BRASILEIRO. A
VIGÊNCIA DAS NORMAS JURÍDICAS (ARTS. 1.º E 2.º DA LEI DE INTRODUÇÃO)

LINDB - Art. 1º. Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar


em todo o país quarenta e cinco dias depois de oficialmente
publicada.

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2. A LEI DE INTRODUÇÃO E A LEI COMO FONTE PRIMÁRIA DO DIREITO BRASILEIRO. A
VIGÊNCIA DAS NORMAS JURÍDICAS (ARTS. 1.º E 2.º DA LEI DE INTRODUÇÃO)

Esclarecendo, a lei passa por três fases fundamentais para que tenha validade e
eficácia:
• elaboração,
• promulgação e
• publicação.
Depois vem o prazo de vacância, geralmente previsto na própria norma.
• CC - Art. 2.044. Este Código entrará em vigor 1 (um) ano após a sua
publicação.

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2. A LEI DE INTRODUÇÃO E A LEI COMO FONTE PRIMÁRIA DO DIREITO BRASILEIRO. A
VIGÊNCIA DAS NORMAS JURÍDICAS (ARTS. 1.º E 2.º DA LEI DE INTRODUÇÃO)

"VACATIO LEGIS" - Expressão latina que significa vacância da lei, correspondendo ao


período entre a data da publicação de uma lei e o início de sua vigência. Existe para que
haja prazo de assimilação do conteúdo de uma nova lei e, durante tal vacância, continua
vigorando a lei antiga.

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2. A LEI DE INTRODUÇÃO E A LEI COMO FONTE PRIMÁRIA DO DIREITO BRASILEIRO. A
VIGÊNCIA DAS NORMAS JURÍDICAS (ARTS. 1.º E 2.º DA LEI DE INTRODUÇÃO)

LINDB, Art. 1º, § 1º. Nos Estados, estrangeiros, a obrigatoriedade


da lei brasileira, quando admitida, se inicia três meses depois de
oficialmente publicada.

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2. A LEI DE INTRODUÇÃO E A LEI COMO FONTE PRIMÁRIA DO DIREITO BRASILEIRO. A
VIGÊNCIA DAS NORMAS JURÍDICAS (ARTS. 1.º E 2.º DA LEI DE INTRODUÇÃO)

De acordo com o art. 1.º, § 1.º, da Lei de Introdução, a obrigatoriedade da norma


brasileira passa a vigorar, nos Estados estrangeiros, três meses após a publicação oficial
em nosso País, previsão esta de maior interesse ao Direito Internacional Público.

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2. A LEI DE INTRODUÇÃO E A LEI COMO FONTE PRIMÁRIA DO DIREITO BRASILEIRO. A
VIGÊNCIA DAS NORMAS JURÍDICAS (ARTS. 1.º E 2.º DA LEI DE INTRODUÇÃO)

LINDB, Art. 1º, § 3º. Se, antes de entrar a lei em vigor, ocorrer
nova publicação de seu texto, destinada a correção, o prazo deste
artigo e dos parágrafos anteriores começará a correr da nova
publicação.

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2. A LEI DE INTRODUÇÃO E A LEI COMO FONTE PRIMÁRIA DO DIREITO BRASILEIRO. A
VIGÊNCIA DAS NORMAS JURÍDICAS (ARTS. 1.º E 2.º DA LEI DE INTRODUÇÃO)

Em havendo norma corretiva, mediante nova publicação do texto legal, os prazos


mencionados devem correr a partir da nova publicação (art. 1.º, § 3.º, da Lei de
Introdução).

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2. A LEI DE INTRODUÇÃO E A LEI COMO FONTE PRIMÁRIA DO DIREITO BRASILEIRO. A
VIGÊNCIA DAS NORMAS JURÍDICAS (ARTS. 1.º E 2.º DA LEI DE INTRODUÇÃO)

LINDB, Art. 1º, § 4º. As correções a texto de lei já em vigor


consideram-se lei nova.

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2. A LEI DE INTRODUÇÃO E A LEI COMO FONTE PRIMÁRIA DO DIREITO BRASILEIRO. A
VIGÊNCIA DAS NORMAS JURÍDICAS (ARTS. 1.º E 2.º DA LEI DE INTRODUÇÃO)

A norma corretiva é aquela que existe para afastar equívocos importantes cometidos
pelo texto legal, sendo certo que as correções do texto de lei já em vigor devem ser
consideradas como lei nova.

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2. A LEI DE INTRODUÇÃO E A LEI COMO FONTE PRIMÁRIA DO DIREITO BRASILEIRO. A
VIGÊNCIA DAS NORMAS JURÍDICAS (ARTS. 1.º E 2.º DA LEI DE INTRODUÇÃO)

LINDB, Art. 2º Não se destinando à vigência temporária, a lei terá


vigor até que outra a modifique ou revogue.

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2. A LEI DE INTRODUÇÃO E A LEI COMO FONTE PRIMÁRIA DO DIREITO BRASILEIRO. A
VIGÊNCIA DAS NORMAS JURÍDICAS (ARTS. 1.º E 2.º DA LEI DE INTRODUÇÃO)

O art. 2.º da Lei de Introdução consagra o princípio da continuidade da lei, pelo qual a
norma, a partir da sua entrada em vigor, tem eficácia contínua, até que outra a modifique
ou revogue. Dessa forma, tem-se a regra do fim da obrigatoriedade da lei, além do caso de
ter a mesma vigência temporária.
Contudo, não se fixando este prazo, prolongam-se a obrigatoriedade e o princípio da
continuidade até que a lei seja modificada ou revogada por outra (art. 2.º, caput, da Lei de
Introdução).

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2. A LEI DE INTRODUÇÃO E A LEI COMO FONTE PRIMÁRIA DO DIREITO BRASILEIRO. A
VIGÊNCIA DAS NORMAS JURÍDICAS (ARTS. 1.º E 2.º DA LEI DE INTRODUÇÃO)

Pois bem, pelo que consta do art. 2.º da Lei de Introdução, o meio mais comum para se
retirar a vigência de uma norma jurídica é a sua revogação, o que pode ocorrer sob duas
formas, classificadas quanto à sua extensão:

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2. A LEI DE INTRODUÇÃO E A LEI COMO FONTE PRIMÁRIA DO DIREITO BRASILEIRO. A
VIGÊNCIA DAS NORMAS JURÍDICAS (ARTS. 1.º E 2.º DA LEI DE INTRODUÇÃO)

• Revogação total ou ab-rogação – ocorre quando se torna sem efeito uma norma de
forma integral, com a supressão total do seu texto por uma norma emergente.
Exemplo ocorreu com o Código Civil de 1916, pelo que consta do art. 2.045,
primeira parte, do CC/2002.
• Revogação parcial ou derrogação – uma lei nova torna sem efeito parte de uma lei
anterior, como se deu em face da parte primeira do Código Comercial de 1850,
conforme está previsto no mesmo art. 2.045, segunda parte, do CC.
CC - Art. 2.045. Revogam-se a Lei n o 3.071, de 1 o de janeiro de 1916 - Código Civil e a Parte Primeira do
Código Comercial, Lei n o 556, de 25 de junho de 1850.

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2. A LEI DE INTRODUÇÃO E A LEI COMO FONTE PRIMÁRIA DO DIREITO BRASILEIRO. A
VIGÊNCIA DAS NORMAS JURÍDICAS (ARTS. 1.º E 2.º DA LEI DE INTRODUÇÃO)

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2. A LEI DE INTRODUÇÃO E A LEI COMO FONTE PRIMÁRIA DO DIREITO BRASILEIRO. A
VIGÊNCIA DAS NORMAS JURÍDICAS (ARTS. 1.º E 2.º DA LEI DE INTRODUÇÃO)

No que concerne ao modo, as duas modalidades de revogação analisadas podem


ser assim classificadas:
• Revogação expressa (ou por via direta) – situação em que a lei nova
taxativamente declara revogada a lei anterior ou aponta os dispositivos que
pretende retirar.

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2. A LEI DE INTRODUÇÃO E A LEI COMO FONTE PRIMÁRIA DO DIREITO BRASILEIRO. A
VIGÊNCIA DAS NORMAS JURÍDICAS (ARTS. 1.º E 2.º DA LEI DE INTRODUÇÃO)

Conforme previsão do art. 9.º da Lei Complementar 95/1998, “a cláusula de revogação deverá
enumerar expressamente a lei ou disposições revogadas”. O respeito, em parte, em relação a tal
dispositivo especial pode ser percebido pela leitura do citado art. 2.045 do Código Civil, pelo qual
“revogam-se a Lei 3.071, de 1.º de janeiro de 1916 – Código Civil e a Primeira Parte do Código
Comercial, Lei 556, de 25 de junho de 1850”. Entretanto, o atual Código Civil permaneceu silente a
respeito da revogação ou não de algumas leis especiais como a Lei do Divórcio (Lei 6.515/1977), a Lei de
Registros Públicos (Lei6.015/1973), a Lei de Condomínio e Incorporação (Lei 4.591/1967), entre outras.
Nesse último ponto residem críticas ao Código Civil de 2002, por ter desobedecido à orientação
anterior. A questão da revogação das leis especiais anteriores deve ser analisada caso a caso.

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2. A LEI DE INTRODUÇÃO E A LEI COMO FONTE PRIMÁRIA DO DIREITO BRASILEIRO. A
VIGÊNCIA DAS NORMAS JURÍDICAS (ARTS. 1.º E 2.º DA LEI DE INTRODUÇÃO)

• Revogação tácita (ou por via oblíqua) – situação em que a lei posterior é
incompatível com a anterior, não havendo previsão expressa no texto a respeito
da sua revogação.
Código Civil de 2002 não trata da revogação de leis especiais, devendo ser aplicada
a revogação parcial tácita que parece constar do seu art. 2.043 do CC: “Até que por
outra forma se disciplinem, continuam em vigor as disposições de natureza processual,
administrativa ou penal, constantes de leis cujos preceitos de natureza civil hajam sido
incorporados a este Código”.

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2. A LEI DE INTRODUÇÃO E A LEI COMO FONTE PRIMÁRIA DO DIREITO BRASILEIRO. A
VIGÊNCIA DAS NORMAS JURÍDICAS (ARTS. 1.º E 2.º DA LEI DE INTRODUÇÃO)

Assim, vários preceitos materiais de leis especiais, como a Lei do Divórcio (Lei
6.515/1973), foram incorporados pelo atual Código Civil, permanecendo em vigor os seus
preceitos processuais, trazendo a conclusão da sua revogação parcial, por via oblíqua.

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2. A LEI DE INTRODUÇÃO E A LEI COMO FONTE PRIMÁRIA DO DIREITO BRASILEIRO. A
VIGÊNCIA DAS NORMAS JURÍDICAS (ARTS. 1.º E 2.º DA LEI DE INTRODUÇÃO)

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2. A LEI DE INTRODUÇÃO E A LEI COMO FONTE PRIMÁRIA DO DIREITO BRASILEIRO. A
VIGÊNCIA DAS NORMAS JURÍDICAS (ARTS. 1.º E 2.º DA LEI DE INTRODUÇÃO)

LINDB, Art. 2º, § 1º. A lei posterior revoga a anterior quando


expressamente o declare, quando seja com ela incompatível ou
quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior.

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2. A LEI DE INTRODUÇÃO E A LEI COMO FONTE PRIMÁRIA DO DIREITO BRASILEIRO. A
VIGÊNCIA DAS NORMAS JURÍDICAS (ARTS. 1.º E 2.º DA LEI DE INTRODUÇÃO)

EX: imagine-se o caso do Código Civil de 2002, que dispôs expressamente e de forma
completa sobre o condomínio edilício, entre os seus arts. 1.331 a 1.358. Por tal
tratamento, deve ser tida como revogada tacitamente a Lei 4.591/1964, naquilo que
regulava o assunto (arts. 1.º a 27). Trata-se de aplicação da segunda parte do art. 2.º, § 1.º,
da Lei de Introdução, o que vem sendo confirmado pela jurisprudência nacional (STJ, REsp
746.589/RS, 4.ª Turma, Rel. Min. Aldir Guimarães Passarinho Junior, j. 15.08.2006, DJU
18.09.2006, p. 327).

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2. A LEI DE INTRODUÇÃO E A LEI COMO FONTE PRIMÁRIA DO DIREITO BRASILEIRO. A
VIGÊNCIA DAS NORMAS JURÍDICAS (ARTS. 1.º E 2.º DA LEI DE INTRODUÇÃO)

LINDB, Art. 2º, § 2º. A lei nova, que estabeleça disposições gerais
ou especiais a par das já existentes, não revoga nem modifica a lei
anterior.

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2. A LEI DE INTRODUÇÃO E A LEI COMO FONTE PRIMÁRIA DO DIREITO BRASILEIRO. A
VIGÊNCIA DAS NORMAS JURÍDICAS (ARTS. 1.º E 2.º DA LEI DE INTRODUÇÃO)

EX: Como segundo exemplo temos a incidência do art. 2.º, § 2.º, da Lei de Introdução
na seguinte conclusão: o Código Civil dispôs de forma especial sobre a locação (arts. 565 a
578), não prejudicando a lei especial anterior que dispunha sobre a locação imobiliária,
permanecendo esta incólume (Lei 8.245/1991). Tanto isso é verdade que foi introduzida
na codificação material uma norma de direito intertemporal, prevendo que a locação de
prédio urbano que esteja sujeita à lei especial, por esta continua a ser regida (art. 2.036 do
CC/2002).

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2. A LEI DE INTRODUÇÃO E A LEI COMO FONTE PRIMÁRIA DO DIREITO BRASILEIRO. A
VIGÊNCIA DAS NORMAS JURÍDICAS (ARTS. 1.º E 2.º DA LEI DE INTRODUÇÃO)

LINDB, Art. 2º, § 3º. Salvo disposição em contrário, a lei revogada


não se restaura por ter a lei revogadora perdido a vigência.

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2. A LEI DE INTRODUÇÃO E A LEI COMO FONTE PRIMÁRIA DO DIREITO BRASILEIRO. A
VIGÊNCIA DAS NORMAS JURÍDICAS (ARTS. 1.º E 2.º DA LEI DE INTRODUÇÃO)

O art. 2.º, § 3.º, da Lei de Introdução, afasta a possibilidade da lei revogada


anteriormente repristinar, salvo disposição expressa em lei em sentido contrário.
O efeito repristinatório é aquele pelo qual uma norma revogada volta a valer no caso
de revogação da sua revogadora.

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2. A LEI DE INTRODUÇÃO E A LEI COMO FONTE PRIMÁRIA DO DIREITO BRASILEIRO. A
VIGÊNCIA DAS NORMAS JURÍDICAS (ARTS. 1.º E 2.º DA LEI DE INTRODUÇÃO)

Esclarecendo:

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2. A LEI DE INTRODUÇÃO E A LEI COMO FONTE PRIMÁRIA DO DIREITO BRASILEIRO. A
VIGÊNCIA DAS NORMAS JURÍDICAS (ARTS. 1.º E 2.º DA LEI DE INTRODUÇÃO)

Contudo, excepcionalmente, a lei revogada volta a viger quando a lei revogadora for
declarada inconstitucional ou quando for concedida a suspensão cautelar da eficácia da
norma impugnada – art. 11, § 2.º, da Lei 9.868/1999. Também voltará a viger quando, não
sendo situação de inconstitucionalidade, o legislador assim o determinar expressamente.

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2. A LEI DE INTRODUÇÃO E A LEI COMO FONTE PRIMÁRIA DO DIREITO BRASILEIRO. A
VIGÊNCIA DAS NORMAS JURÍDICAS (ARTS. 1.º E 2.º DA LEI DE INTRODUÇÃO)

Em suma, são possíveis duas situações:


• A primeira delas é aquela em que o efeito repristinatório decorre da
declaração de inconstitucionalidade da lei.
• A segunda é o efeito repristinatório previsto pela própria norma jurídica.

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2. A LEI DE INTRODUÇÃO E A LEI COMO FONTE PRIMÁRIA DO DIREITO BRASILEIRO. A
VIGÊNCIA DAS NORMAS JURÍDICAS (ARTS. 1.º E 2.º DA LEI DE INTRODUÇÃO)

Como exemplo da primeira hipótese, pode ser transcrito o seguinte julgado do


Superior Tribunal de Justiça:
“Contribuição previdenciária patronal. Empresa agroindustrial. Inconstitucionalidade. Efeito repristinatório. Lei de
Introdução ao Código Civil. 1. A declaração de inconstitucionalidade em tese, ao excluir do ordenamento positivo a
manifestação estatal inválida, conduz à restauração de eficácia das leis e das normas afetadas pelo ato declarado
inconstitucional. 2. Sendo nula e, portanto, desprovida de eficácia jurídica a lei inconstitucional, decorre daí que a
decisão declaratória da inconstitucionalidade produz efeitos repristinatórios. 3. O chamado efeito repristinatório da
declaração de inconstitucionalidade não se confunde com a repristinação prevista no artigo 2.º, § 3.º, da LICC,
sobretudo porque, no primeiro caso, sequer há revogação no plano jurídico. 4. Recurso especial a que se nega
provimento” (STJ, REsp 517.789/AL, 2.ª Turma, Rel. Min. João Otávio de Noronha, j. 08.06.2004, DJ 13.06.2005, p. 236).

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2. A LEI DE INTRODUÇÃO E A LEI COMO FONTE PRIMÁRIA DO DIREITO BRASILEIRO. A
VIGÊNCIA DAS NORMAS JURÍDICAS (ARTS. 1.º E 2.º DA LEI DE INTRODUÇÃO)

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3. CARACTERÍSTICAS DA NORMA JURÍDICA E SUA APLICAÇÃO. ANÁLISE DO ART. 3.º DA LEI
DE INTRODUÇÃO

A lei, como fonte primária do Direito Brasileiro, tem as seguintes características básicas:
• Generalidade – a norma jurídica dirige-se a todos os cidadãos, sem qualquer distinção,
tendo eficácia erga omnes.
• Imperatividade – a norma jurídica é um imperativo, impondo deveres e condutas para os
membros da coletividade.
• Permanência – a lei perdura até que seja revogada por outra ou perca a eficácia.
• Competência – a norma, para valer contra todos, deve emanar de autoridade competente,
com o respeito ao processo de elaboração.
• Autorizante – o conceito contemporâneo de norma jurídica traz a ideia de um
autorizamento (a norma autoriza ou não autoriza determinada conduta), estando superada
a tese de que não há norma sem sanção (Hans Kelsen).
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3. CARACTERÍSTICAS DA NORMA JURÍDICA E SUA APLICAÇÃO. ANÁLISE DO ART. 3.º DA LEI
DE INTRODUÇÃO

Como outra característica básica, está consagrado no art. 3.º da Lei de Introdução o
princípio da obrigatoriedade da norma, pelo qual ninguém pode deixar de cumprir a lei
alegando não a conhecer.

LINDB, Art. 3º. Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que


não a conhece.

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3. CARACTERÍSTICAS DA NORMA JURÍDICA E SUA APLICAÇÃO. ANÁLISE DO ART. 3.º DA LEI
DE INTRODUÇÃO

Zeno Veloso, com razão e filiado à teoria da necessidade social:


“Não se deve concluir que o aludido art. 3.º da LICC está expressando uma
presunção de que todos conhecem as leis. Quem acha isto está conferindo a
pecha de inepto ou insensato ao legislador. E ele não é estúpido. Num País em
que há um excesso legislativo, uma superprodução de leis, que a todos
atormenta, assombra e confunde – sem contar o número enormíssimo de
medidas provisórias –, presumir que todas as leis são conhecidas por todo
mundo agrediria a realidade”.

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4. AS FORMAS DE INTEGRAÇÃO DA NORMA JURÍDICA. ART. 4.º DA LEI DE INTRODUÇÃO

“O Direito não é lacunoso, mas há lacunas.”


A frase acima pode parecer um paradoxo sem sentido, mas não o é. A construção
reproduzida é perfeita. O sistema jurídico constitui um sistema aberto, no qual há lacunas,
conforme elucida Maria Helena Diniz em sua clássica obra “As lacunas no direito”.
Entretanto, de acordo com as suas lições, as lacunas não são do direito, mas da lei, omissa
em alguns casos.

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4. AS FORMAS DE INTEGRAÇÃO DA NORMA JURÍDICA. ART. 4.º DA LEI DE INTRODUÇÃO

Como é cediço, há um dever do aplicador do direito de corrigir as lacunas (vedação do


não julgamento ou do non liquet)
CPC - Art. 140. O juiz não se exime de decidir sob a alegação de lacuna ou
obscuridade do ordenamento jurídico.
Parágrafo único. O juiz só decidirá por equidade nos casos previstos em lei.

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4. AS FORMAS DE INTEGRAÇÃO DA NORMA JURÍDICA. ART. 4.º DA LEI DE INTRODUÇÃO

Presentes as lacunas, como sempre se extraiu da doutrina e da jurisprudência, deverão


ser utilizadas as formas de integração da norma jurídica, tidas como ferramentas de
correção do sistema, constantes dos arts. 4º e 5º da Lei de Introdução.

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4. AS FORMAS DE INTEGRAÇÃO DA NORMA JURÍDICA. ART. 4.º DA LEI DE INTRODUÇÃO

LINDB, Art. 4º Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de


acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de
direito.
A primeira dúvida concreta que surge em relação ao comando legal é se a ordem nele prevista
deve ou não ser rigorosamente obedecida. Em uma visão clássica, a resposta é positiva. Filiado a
essa corrente, pode ser citado, entre tantos outros, Silvio Rodrigues, para quem “no silêncio da lei,
portanto, deve o julgador, na ordem mencionada, lançar mão desses recursos, para não deixar
insolvida a demanda”. No mesmo sentido, posiciona-se Rubens Limongi França.

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4. AS FORMAS DE INTEGRAÇÃO DA NORMA JURÍDICA. ART. 4.º DA LEI DE INTRODUÇÃO

Todavia, até pode-se afirmar que essa continua sendo a regra, mas nem sempre o
respeito a essa ordem deverá ocorrer, diante da força normativa e coercitiva dos
princípios, notadamente daqueles de índole constitucional. Como é notório, a Constituição
Federal de 1988 prevê no seu art. 5.º, § 1.º, que as normas que definem direitos
fundamentais – muitas geradoras de princípios estruturantes do sistema jurídico –, têm
aplicação imediata.

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4. AS FORMAS DE INTEGRAÇÃO DA NORMA JURÍDICA. ART. 4.º DA LEI DE INTRODUÇÃO

Trata-se da eficácia horizontal dos direitos fundamentais, mecanismo festejado por


muitos constitucionalistas, caso de Daniel Sarmento que assim leciona:
“Fala-se em eficácia horizontal dos direitos fundamentais, para sublinhar o fato
de que tais direitos não regulam apenas as relações verticais de poder que se
estabelecem entre Estado e cidadão, mas incidem também sobre relações
mantidas entre pessoas e entidades não estatais, que se encontram em
posição de igualdade formal”.

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4. AS FORMAS DE INTEGRAÇÃO DA NORMA JURÍDICA. ART. 4.º DA LEI DE INTRODUÇÃO

A exemplificar, em casos que envolvem a proteção da dignidade humana (art. 1.º, inc.
III, da CF/1988), não se pode dizer que esse princípio será aplicado somente após o
emprego da analogia e dos costumes e, ainda, se não houver norma prevista para o caso
concreto. Em suma, os princípios constitucionais não podem mais ser vistos somente
como último recurso de integração da norma jurídica, como acreditavam os juristas
clássicos.

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4. AS FORMAS DE INTEGRAÇÃO DA NORMA JURÍDICA. ART. 4.º DA LEI DE INTRODUÇÃO

Consigne-se, como reforço a tais premissas, o trabalho de Paulo Bonavides, que


apontou a constitucionalização dos princípios gerais do direito, bem como o fato de que os
princípios fundamentam o sistema jurídico, sendo também normas primárias. Em suma,
deve-se reconhecer eficácia normativa imediata aos princípios, em alguns casos,
particularmente naqueles que envolvem os direitos fundamentais da pessoa, ou de
personalidade. Isso porque com o Estado Democrático de Direito houve a transposição dos
princípios gerais de direito para princípios constitucionais fundamentais.

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4. AS FORMAS DE INTEGRAÇÃO DA NORMA JURÍDICA. ART. 4.º DA LEI DE INTRODUÇÃO

O Código Civil de 2002 consagra três princípios fundamentais, conforme se


extrai da sua exposição de motivos, elaborada por Miguel Reale, a saber:
• Princípio da Eticidade – Trata-se da valorização da ética e da boa-fé, principalmente daquela
que existe no plano da conduta de lealdade das partes (boa-fé objetiva). Pelo Código Civil de
2002, a boa-fé objetiva tem função de interpretação dos negócios jurídicos em geral (art. 113 do
CC). Serve ainda como controle das condutas humanas, eis que a sua violação pode gerar o
abuso de direito, nova modalidade de ilícito (art. 187). Por fim, a boa-fé objetiva tem a função
de integrar todas as fases pelas quais passa o contrato (art. 422 do CC). Acrescente-se que a
eticidade também parece ser regramento adotado pelo Código de Processo Civil de 2015, pela
constante valorização da boa-fé processual, notadamente pelos seus arts. 5.º e 6.º.

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4. AS FORMAS DE INTEGRAÇÃO DA NORMA JURÍDICA. ART. 4.º DA LEI DE INTRODUÇÃO

• Princípio da Socialidade – Segundo apontava o próprio Miguel Reale, um dos escopos da nova
codificação foi o de superar o caráter individualista e egoísta da codificação anterior. Assim, a
palavra “eu” é substituída por “nós”. Todas as categorias civis têm função social: o contrato, a
empresa, a propriedade, a posse, a família, a responsabilidade civil.
• Princípio da Operabilidade – Esse princípio tem dois sentidos. Primeiro, o de simplicidade ou
facilitação das categorias privadas, o que pode ser percebido, por exemplo, pelo tratamento
diferenciado da prescrição e da decadência. Segundo, há o sentido de efetividade ou
concretude, o que foi buscado pelo sistema aberto de cláusulas gerais adotado pela atual
codificação material. Na opinião deste autor, o sistema de cláusulas gerais também foi adotado
pelo CPC/2015, pela adoção de um modelo aberto, baseado em princípios como a dignidade da
pessoa humana e a boa-fé objetiva
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4. AS FORMAS DE INTEGRAÇÃO DA NORMA JURÍDICA. ART. 4.º DA LEI DE INTRODUÇÃO

LINDB, Art. 5º. Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais
a que ela se dirige e às exigências do bem comum.

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5. APLICAÇÃO DA NORMA JURÍDICA NO TEMPO. O ART. 6.º DA LEI DE INTRODUÇÃO

A norma jurídica é criada para valer ao futuro, não ao passado. Entretanto,


eventualmente, pode uma determinada norma atingir também os fatos pretéritos, desde
que sejam respeitados os parâmetros que constam da Lei de Introdução e da Constituição
Federal. Em síntese, ordinariamente, a irretroatividade é a regra, e a retroatividade, a
exceção. Para que a retroatividade seja possível, como primeiro requisito, deve estar
prevista em lei.

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5. APLICAÇÃO DA NORMA JURÍDICA NO TEMPO. O ART. 6.º DA LEI DE INTRODUÇÃO

Valendo para o futuro ou para o passado, tendo em vista a certeza e a segurança


jurídica, determina o art. 5.º, inc. XXXVI, da CF/1988 que: “a lei não prejudicará o direito
adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada”. A norma constitui outro requisito para
a retroatividade.

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5. APLICAÇÃO DA NORMA JURÍDICA NO TEMPO. O ART. 6.º DA LEI DE INTRODUÇÃO

LINDB, Art. 6º A Lei em vigor terá efeito imediato e geral,


respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa
julgada. (Redação dada pela Lei nº 3.238, de 1957)

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5. APLICAÇÃO DA NORMA JURÍDICA NO TEMPO. O ART. 6.º DA LEI DE INTRODUÇÃO

• Direito adquirido: é o direito material ou imaterial incorporado no patrimônio


de uma pessoa natural, jurídica ou ente despersonalizado. Pela previsão do § 2.º
do art. 6.º da Lei de Introdução, “consideram-se adquiridos assim os direitos que
o seu titular, ou alguém por ela, possa exercer, como aqueles cujo começo do
exercício tenha tempo prefixo, ou condição preestabelecida inalterável, a
arbítrio de outrem”. Como exemplo pode ser citado um benefício previdenciário
desfrutado por alguém.

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5. APLICAÇÃO DA NORMA JURÍDICA NO TEMPO. O ART. 6.º DA LEI DE INTRODUÇÃO

• Ato jurídico perfeito: é a manifestação de vontade lícita, emanada por quem


esteja em livre disposição, e aperfeiçoada. De acordo com o que consta do texto
legal (art. 6.º, § 1.º, Lei de Introdução), o ato jurídico perfeito é aquele
consumado de acordo com lei vigente ao tempo em que se efetuou. Exemplo:
um contrato anterior já celebrado e que esteja gerando efeitos.
• Coisa julgada: é a decisão judicial prolatada, da qual não cabe mais recurso (art.
6.º, § 3.º, Lei de Introdução).

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5. APLICAÇÃO DA NORMA JURÍDICA NO TEMPO. O ART. 6.º DA LEI DE INTRODUÇÃO

A partir desses conceitos, pode-se afirmar que o direito adquirido é o mais amplo de
todos, englobando os demais, uma vez que tanto no ato jurídico perfeito quanto na coisa
julgada existiriam direitos dessa natureza, já consolidados. Em complemento, a coisa
julgada também deve ser considerada um ato jurídico perfeito, sendo o conceito mais
restrito. Tal convicção pode ser concebida pelo desenho a seguir:

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5. APLICAÇÃO DA NORMA JURÍDICA NO TEMPO. O ART. 6.º DA LEI DE INTRODUÇÃO

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5. APLICAÇÃO DA NORMA JURÍDICA NO TEMPO. O ART. 6.º DA LEI DE INTRODUÇÃO

Questão contemporânea das mais relevantes é saber se a proteção de tais categorias é


absoluta. A resposta é negativa, diante da forte tendência de relativizar princípios e regras
em sede de Direito. Em reforço, vivificamos a era da ponderação dos princípios e de
valores, sobretudo os de índole constitucional, tema muito bem desenvolvido por Robert
Alexy.

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5. APLICAÇÃO DA NORMA JURÍDICA NO TEMPO. O ART. 6.º DA LEI DE INTRODUÇÃO

Tanto isso é verdade que o Código de Processo Civil de 2015 adotou expressamente a
ponderação no seu art. 489, § 2.º, in verbis: “no caso de colisão entre normas, o juiz deve
justificar o objeto e os critérios gerais da ponderação efetuada, enunciando as razões que
autorizam a interferência na norma afastada e as premissas fáticas que fundamentam a
conclusão”.

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5. APLICAÇÃO DA NORMA JURÍDICA NO TEMPO. O ART. 6.º DA LEI DE INTRODUÇÃO

Na mesma linha o Superior Tribunal de Justiça tem decisões no sentido da


possibilidade de relativização da coisa julgada material em situações tais. Nesse sentido,
cumpre transcrever o mais famoso dos precedentes judiciais a respeito do tema:

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5. APLICAÇÃO DA NORMA JURÍDICA NO TEMPO. O ART. 6.º DA LEI DE INTRODUÇÃO

“Processo civil. Investigação de paternidade. Repetição de ação anteriormente ajuizada, que teve seu pedido
julgado improcedente por falta de provas. Coisa julgada. Mitigação. Doutrina. Precedentes. Direito de família.
Evolução. Recurso acolhido. I – Não excluída expressamente a paternidade do investigado na primitiva ação
de investigação de paternidade, diante da precariedade da prova e da ausência de indícios suficientes a
caracterizar tanto a paternidade como a sua negativa, e considerando que, quando do ajuizamento da
primeira ação, o exame pelo DNA ainda não era disponível e nem havia notoriedade a seu respeito, admite-se
o ajuizamento de ação investigatória, ainda que tenha sido aforada uma anterior com sentença julgando
improcedente o pedido. II – Nos termos da orientação da Turma, „sempre recomendável a realização de
perícia para investigação genética (HLA e DNA), porque permite ao julgador um juízo de fortíssima
probabilidade, senão de certeza‟ na composição do conflito. Ademais, o progresso da ciência jurídica, em
matéria de prova, está na substituição da verdade ficta pela verdade real.

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5. APLICAÇÃO DA NORMA JURÍDICA NO TEMPO. O ART. 6.º DA LEI DE INTRODUÇÃO

III – A coisa julgada, em se tratando de ações de estado, como no caso de investigação de paternidade, deve
ser interpretada modus in rebus. Nas palavras de respeitável e avançada doutrina, quando estudiosos hoje se
aprofundam no reestudo do instituto, na busca, sobretudo, da realização do processo justo, a coisa julgada
existe como criação necessária à segurança prática das relações jurídicas e as dificuldades que se opõem à
sua ruptura se explicam pela mesmíssima razão. Não se pode olvidar, todavia, que numa sociedade de
homens livres, a Justiça tem de estar acima da segurança, porque sem Justiça não há liberdade‟. IV – Este
Tribunal tem buscado, em sua jurisprudência, firmar posições que atendam aos fins sociais do processo e às
exigências do bem comum” (STJ, REsp 226.436/PR (199900714989), 414113, Data da decisão: 28.06.2001,
4.ª Turma, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, DJ 04.02.2002, p. 370, RBDF 11/73, RDR 23/354, RSTJ
154/403).

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5. APLICAÇÃO DA NORMA JURÍDICA NO TEMPO. O ART. 6.º DA LEI DE INTRODUÇÃO

Pelo que consta da ementa do julgado, é possível uma nova ação para a prova da
paternidade, se a ação anterior foi julgada improcedente em momento em que não existia
o exame de DNA. Frise-se que a questão pode perfeitamente ser solucionada a partir da
técnica de ponderação, desenvolvida, entre outros, por Robert Alexy e adotada
expressamente pelo art. 489, § 2.º, do CPC/2015.

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5. APLICAÇÃO DA NORMA JURÍDICA NO TEMPO. O ART. 6.º DA LEI DE INTRODUÇÃO

CC - Art. 2.035. (...) Parágrafo único. Nenhuma convenção prevalecerá se contrariar


preceitos de ordem pública, tais como os estabelecidos por este Código para assegurar a
função social da propriedade e dos contratos.

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5. APLICAÇÃO DA NORMA JURÍDICA NO TEMPO. O ART. 6.º DA LEI DE INTRODUÇÃO

O dispositivo consagra o princípio da retroatividade motivada ou justificada, pelo qual


as normas de ordem pública relativas à função social da propriedade e dos contratos
podem retroagir. Não há qualquer inconstitucionalidade na norma, eis que amparada na
função social da propriedade, prevista no art. 5.º, incs. XXII e XXIII, da Constituição
Federal. Quando se lê no dispositivo civil transcrito a expressão “convenção”, pode-se ali
enquadrar qualquer ato jurídico celebrado, inclusive os negócios jurídicos celebrados
antes da entrada em vigor da nova lei geral privada e cujos efeitos ainda estão sendo
sentidos atualmente, na vigência da nova codificação.

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6. APLICAÇÃO DA NORMA JURÍDICA NO ESPAÇO. OS ARTS. 7.º A 19 DA LEI DE INTRODUÇÃO
E O DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO E PRIVADO

Conforme antes mencionado, a Lei de Introdução traz também regras de Direito


Internacional Público e Privado (arts. 7.º a 19), matéria que mais interessa a esses ramos
jurídicos.

Prof. Fabiano Mariano


7. INCLUSÕES FEITAS NA LEI DE INTRODUÇÃO PELA LEI 13.655/2018. REPERCUSSÕES PARA
O DIREITO PÚBLICO

Na verdade, as novas previsões não dizem respeito diretamente ao Direito Privado,


mas ao Direito Público, fugindo do objeto da presente aula. A Lei de Introdução às Normas
do Direito Brasileiro, assim, distancia-se mais ainda do Direito Civil, o que agora justifica
plenamente a sua mudança de nome, como antes aqui foi destacado. Quanto às provas,
desde a graduação até os concursos públicos, acreditamos que este conteúdo deva ser
cobrado dentro da disciplina de Direito Administrativo, e não no âmbito do Direito Civil.

Prof. Fabiano Mariano


Registrador Civil das Pessoas Naturais e
Tabelião de Notas;

Professor Direito Civil e Direito Empresarial;

Bel. em Música, com habilitação em


Fabiano Mariano
Regência – USC 2004;
Bel. em Direito – Eduvale 2011;
@prof.fabianomariano
Especialista em Gestão Pública Municipal;
em Direito Civil; /direitocivilcomfabianomariano
e em Direito Notarial e Registral.
/fabianomariano
Pós-graduando em Direito Privado;
e
Mestrando em Ciência Jurídicas e Políticas
Universidade Portucalense - Portugal.

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