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Argumentos

FIL 600

Prof. Luiz Helvécio


sumário

I. Premissas e conclusão
II. Validade e forma lógica
III. Um pouco de lógica proposicional
IV. Argumentos indutivos
V. Falácias
Se todos os homens menos um partilhassem a mesma opinião,
e apenas uma única pessoa fosse de opinião contrária, a
humanidade não teria mais legitimidade em silenciar esta
única pessoa do que ela, se poder tivesse, em silenciar a
humanidade. Fosse uma opinião a posse pessoal de valor
apenas para o dono, se o impedimento ao gozo dela
constituísse simples ofensa privada, não faria diferença
se a ofensa fosse infligida apenas a poucas ou a muitas
pessoas. Mas o que há de particularmente mau em silenciar
a expressão de uma opinião é o roubo à raça humana – à
posteridade, bem como à geração existente, mais aos que
discordam de tal opinião do que aos que a mantêm. Se a
opinião é correta, privam-nos da oportunidade de trocar o
erro pela verdade; se errada, perdem, o que importa em
benefício quase tão grande, a percepção mais clara da
verdade, produzida por sua colisão com o erro.

John Stuart Mill, Sobre a Liberdade.


• Qual é exatamente o argumento de
Mill?
• O que ele está defendendo?
• E quais são as razões oferecidas a
favor de sua posição?
• O que ele defende:
“Se todos os homens menos um partilhassem a mesma
opinião, e apenas uma única pessoa fosse de opinião
contrária, a humanidade não teria mais legitimidade em
silenciar esta única pessoa do que ela, se poder
tivesse, em silenciar a humanidade.”

• Suas razões:
“Se a opinião é correta, privam-nos da oportunidade de
trocar o erro pela verdade; se errada, perdem, o que
importa em benefício quase tão grande, a percepção mais
clara da verdade, produzida por sua colisão com o erro.”
reformulando...

1. Se censuramos a opinião de alguém, então somos ou privados


de uma opinião correta ou de uma opinião errada.
2. Se somos privados de uma opinião correta, então perdemos a
oportunidade de nos corrigir.
3. Se somos privados de uma opinião errada, então perdemos a
oportunidade de compreensão.
4. Ser privado da oportunidade de se corrigir ou de
compreender melhor a própria opinião é um mal para a
sociedade.
5. Tudo o que causa mal à sociedade não é moralmente legítimo.
6. Logo, não é moralmente legítimo censurar a opinião de
alguém.
argumento

• Conjunto de afirmações em que:


i. Pretende-se sustentar uma afirmação
– a que chamamos conclusão,
ii.Com base em outras afirmações – a
que chamamos premissas.

• No exemplo anterior, 1-5 são as


premissas e 6 é a conclusão.
argumentos servem para:

• Justificação
– as premissas supostamente fornecem base racional para
a conclusão.
• Explicação
– as premissas dizem por que a conclusão é verdadeira.
• Investigação
– procura-se oferecer argumentos a favor da(s)
premissa(s) de um argumento principal.
• Ampliação de conhecimento
– A partir de premissas conhecidas ou justificadas
inferimos novas informações.
nosso pressuposto

• Argumentação racional
– busca pela verdade
– busca por opiniões justificadas
– cooperação

• Não nos interessa a argumentação puramente


“retórica”, que envolve o convencimento não-
racional ou o mero desejo de “vencer” a
discussão.
avaliando argumentos

• Avaliar aqui significa dizer se o


argumento é bom ou ruim.
• Cogência:
i. argumento válido
ii. premissas verdadeiras
iii. premissas mais plausíveis que a
conclusão.
#0: premissas e conclusão

• Detectar no texto o que é premissa e


o que é conclusão.
• Eliminar o ruído.
• Reescrever esquematicamente.

p.ex.: o que fizemos com o argumento do


Mill.
indicadores

Premissas Conclusão

• Pois • Portanto
• Uma vez que • Logo
• Porque • Por conseguinte
• Ora • Consequentemente
• Desde que • Segue-se que
• Suponha que • Daí
• Assim
Obs. 1:

– nem sempre uma passagem expressando


um argumento conterá indicadores.
– nesse caso é preciso se atentar para:
• o contexto
• para a ordem natural do raciocínio, etc.
Exemplo argumento sem indicadores
Obs. 2:

– Às vezes sentenças interrogativas


cumprem um papel assertivo.
– Isso geralmente fica claro no
contexto. São perguntas que já
pressupõem uma resposta óbvia.
– Nesse caso, podemos parafrasear a
sentença interrogativa numa sentença
declarativa.
• Exemplo argumento com sentenças
interrogativas
argumentos encaixados

– É comum que uma única passagem


contenha mais de um argumento.
– Nesses casos, há mais de uma
conclusão.
• Conclusões intermediárias
• Conclusão principal
– As conclusões intermediárias servem
como premissas do argumento principal.
• Exemplo argumento encaixado
#1: validade e forma lógica

• O argumento é válido (ou forte)?


– Um argumento é dedutivamente válido quando a
verdade das premissas exclui a falsidade da
conclusão.
– Um argumento é indutivamente forte quanto a
verdade das premissas torna improvável (mas
não impossível) a falsidade da conclusão.
• Para responder satisfatoriamente a essa
pergunta temos de entender o que é a
forma lógica de um argumento.
1.Se censuramos a opinião de
alguém, então somos ou privados
de uma opinião correta ou de
uma opinião errada.
2.Se somos privados de uma
opinião correta, então perdemos 1.
Se [ ], então [ ] ou [ ]
a oportunidade de nos corrigir.
2.
Se [ ], então [ ]
3.Se somos privados de uma
opinião errada, então perdemos 3.
Se [ ], então [ ]
a oportunidade de compreensão.
4.
Se [ ], então [ ]
4.Se privamos alguém da
oportunidade de se corrigir ou 5.
Se [ ], então não[ ]
de compreender melhor a própria
opinião, então causamos um mal
6.
Portanto, não[ ].
para a sociedade.
5.Tudo o que causa mal à
sociedade não é moralmente
legítimo.
6.Logo, não é moralmente legítimo
censurar a opinião de alguém.
1.Se censuramos a opinião de
alguém, então somos ou privados
de uma opinião correta ou de
uma opinião errada.
2.Se somos privados de uma
opinião correta, então perdemos 1.
Se [P], então [Q] ou [R]
a oportunidade de nos corrigir.
2.
Se [Q], então [S]
3.Se somos privados de uma
opinião errada, então perdemos 3.
Se [R], então [T]
a oportunidade de compreensão. 4.
Se [S ou T], então [U]
4.Se privamos alguém da
oportunidade de se corrigir ou 5.
Se [U], então não[V]
de compreender melhor a própria 6.
Logo, se [P], então não[V].
opinião, então causamos um mal
para a sociedade.
5.Tudo o que causa mal à
sociedade não é moralmente
legítimo.
6.Logo, não é moralmente legítimo
censurar a opinião de alguém.
forma lógica

• A forma lógica é aquilo que sobra


quando substituímos as afirmações por
variáveis proposicionais, mantendo-se
os símbolos lógicos.
• A forma lógica é o “esqueleto” ou
“estrutura” por trás de um argumento.
• Infinitos argumentos podem
compartilhar a mesma forma lógica.
validade dedutiva

– Se determinada forma lógica for


dedutivamente válida, todos os
argumentos gerados a partir dela serão
dedutivamente válidos.
– E se for dedutivamente inválida, todos
os argumentos gerados a partir dela
serão dedutivamente inválidos.
– Precisamos então checar se a forma do
argumento é ou não dedutivamente válida.
teste informal para a validade

• Suponha que as premissas


são verdadeiras.
• Tente forçar a falsidade
da conclusão.
• Se for possível
premissas verdadeiras e [V] Premissa 1
conclusão falsa, então o [V] Premissa n
argumento é inválido.
• Se for impossível, então
é válido. ___________
[?] Conclusão
• Exemplo de argumento difícil de avaliar
informalmente
um pouco de lógica proposicional (LP)

• A LP estuda a validade do ponto de vista da


relação lógica entre as proposições.
• Dois conjuntos de símbolos são necessários:
– variáveis proposicionais:
• P, Q, R, S...
– constantes lógicas (operadores verofuncionais)
• &, V, ~, →, ≡
• “e”, “ou”, “não”, “se, então”, “se e somente se”
• Cada proposição recebe um valor de verdade: V
ou F.
• Cada proposição isolada é uma proposição
atômica.
– ex.: P, Q, R
• Podemos formar novas proposições a partir das
proposições atômicas, que chamamos de
proposições moleculares.
– ex.: (P & Q), (P V Q), ~P, (P → Q), ~(P ≡ Q), (P &
(Q V R)), etc.
• O valor de verdade das moleculares é
determinado pelo valor de verdade das atômicas.
o significado dos operadores

Negação (~) “não”

P ~P
V F

F V
conjunção (&) “e”

P Q P&Q
V V V

V F F

F V F

F F F
Disjunção (V) “ou”

P Q PVQ
V V V

V F V

F V V

F F F
Condicional (→) “se, então”

P Q P→Q
V V V

V F F

F V V

F F V
Bicondicional (≡) “se, então”

P Q P≡Q
V V V

V F F

F V F

F F V
a condicional material

• Será que a condicional material


representa as condicionais da
linguagem natural?
• Ela foi criada inicialmente para
dar conta do raciocínio
matemático.
principais formas válidas

Modus Ponens Modus Tollens

Se P, então Q Se P, então Q
P não-Q
______________ ______________
Q não-P
principais formas válidas

Silogismo Silogismo
Hipotético Disjuntivo

Se P, então Q P ou Q
Se Q, então R não-Q
______________ ______________
Se P, então R P
principais formas válidas

Dilema
Dilema Construtivo

P ou Q P ou Q
Se P, então R Se P, então R
Se Q, então R Se Q, então S
______________ ______________
R R ou S
principais formas válidas

Reductio
ad Prova
absurdum Condicional

Suponha que P Suponha que P


... ...
Q e não-Q Q
______________ ______________
não-P Se P, então Q
[Sup] P
Se P, então Q ou R Modus
___________________ Ponens
Q ou R

Dilema Se Q, então S
Construtivo
Se R, então T
______________
S ou T
Prova
Modus Condicional
Se (S ou T), então U Ponens
_____________________
U
Modus
Ponens Se U, então não-V
______________
Não-V
_____________________
Se P, então não-V

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