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Envelhecimento e Luto

Uma compreensão
fenomenológica do luto

Professora Henriqueta Couto


Envelhecimento e seus impactos
Aspectos psicológicos:

Envolvem: personalidade, história de vida, formas de


Aspectos
enfrentamento das crises.
psicológicos
As diferenças no envelhecimento de homens e mulheres
envolvem questões culturais ou pessoais. Ocorrem
perdas de saúde, trabalho, sexualidade, independência,
Aspectos corpo, família.
Adoecimento sociais e
culturais Aposentadoria:
Velhice Para muitos homens o trabalho constitui uma
identidade, e quando se aposentam perdem essa
identidade. No trabalho os valores são: ser produtivo e
provedor, ter identidade e autoestima. É como se não
tivessem mais o lugar de pertença, colegas, amigos;
Aposentadoria Adoecimento um sério abalo na autoestima.

A aposentadoria pode ser vista como perda, “morte


simbólica” da identidade de pessoas produtivas.
Envelhecimento e seus impactos
Adoecimento:

Aspectos
As de instalação rápida levam a mudanças bruscas
psicológicos na vida; as que se prolongam são degenerativas,
com perda de funções, com sofrimento durante
muito tempo.

Adoecimento
Aspectos
sociais e
Doenças ocorrem com todos, a não ser que se
culturais morra antes, e demandam diferentes formas de
enfrentamento, envolvendo aspectos psíquicos,
Velhice culturais e familiares.

Pessoas podem ter doenças ou ser doentes.

Ter uma enfermidade como câncer, diabetes,


Aposentadoria Adoecimento insuficiência cardíaca ou qualquer outra é uma
crise com várias possibilidades de adaptação e
caminhos.
Envelhecimento e seus impactos
Adoecimento psíquico:

A velhice é a fase do desenvolvimento em que


Aspectos
psicológicos ocorre o maior número de suicídios ainda, estando
por vezes associada ao sentimento de menos valia,
solidão, não ver sentido na vida.

Aspectos Um dos grandes perigos para o idoso é a


Adoecimento sociais e
culturais naturalização da depressão no final da vida, o que
pode servir de explicação para o aumento dos
Velhice suicídios na velhice.

Aposentadoria Adoecimento
Envelhecimento e seus impactos
Aspectos culturais e sociais:

A velhice é a fase da vida em que mais se perdem


Aspectos
psicológicos pessoas da mesma faixa etária, que se constituem
como referência.

Para algumas pessoas, a mais grave é a perda do


Aspectos cônjuge, com quem se viveu por muitos anos, às
Adoecimento sociais e
culturais vezes durante toda uma vida.

Velhice Difíceis são também as perdas de amigos da mesma


faixa etária. Atualmente se observa uma situação
extremamente dolorosa, que é de pais idosos
perdendo filhos adultos.

Podem ser perdas múltiplas, que acabam resultando


Aposentadoria Adoecimento
em solidão e sobrecarga de sofrimento.
Uma compreensão fenomenológica do
luto
O luto é compreendido pela literatura psicológica como uma
reação frente a perdas significativas.

Todos nós, desde a infância, vivemos perdas, estamos em


contato com a morte de bichos de estimação, de pessoas
da família, atualmente também de crianças e de jovens.

O luto não é doença, embora pareça, porque são muitos


sintomas físicos que acompanham o processo: inapetência
insônia, distúrbios gástricos, ansiedade, medo, incerteza,
entre outros.

Embora o luto não seja doença, precisa de cuidados,


porque a pessoa pode ficar vulnerável e frágil.
Uma compreensão fenomenológica do
luto
A experiência de enlutamento se apresenta como uma demanda de
ressignificação de um existir partilhado e não exatamente da
superação de uma perda.

Não há superação ou cura possível, no sentido de que não é possível


um retorno a um mundo anterior, a uma vida tal como co-vivida com
aquele que se perdeu.

Há apenas a possibilidade de ressignificar essa relação a partir de sua


presença-ausente:

“O luto não pode ser entendido como uma experiência que se supera . . .
Luto, literalmente, se incorpora no existir, permitindo assim novas
possibilidades de significações e de abertura diante deste mesmo
existir.”
(Freitas, 2018, p. 55)
Uma compreensão fenomenológica
do luto
O trabalho de luto tem fatores de proteção, como: buscar o significado da
perda, compreender quem era a pessoa que se perdeu, qual era o lugar na
sua vida, sobretudo encontrar sentido para continuar vivendo sem o falecido.

O conceito de resiliência é hoje muito importante para quem trabalha em


Gerontologia, com cuidados a pessoas enlutadas ou enfermas.

Uma pessoa resiliente, a partir da perda e de sua elaboração, consegue dar


um salto e lidar com as adversidades da vida.

O impulso para superar a situação vem da energia mobilizada pela perda. Não
significa passar por cima, fingir que nada aconteceu. A partir da elaboração,
dos cuidados, pode-se encontrar sentido para o que está acontecendo.
Uma compreensão fenomenológica
do luto

No processo psicoterápico de enlutados a assistência tem de auxiliar


aquele que sofre a se tornar lúcido de seu desamparo diante da falta
de sentido revelada pela morte, das suas possibilidades e limitações
diante do fim, ensejando sua autonomia e singularidade diante da
carência de sentido vivenciada.

“uma compreensão fenomenológica do luto, aponta para uma clínica


que respeite as especificidades do modo de ser global de cada
enlutado e que busque a restauração de sua autonomia diante de sua
nova condição.”
(Michel; Freitas, 2019, p.7)
“Basta uma pessoa
estar faltando no mundo,
 para que o mundo inteiro
fique vazio
para você.”

(Phillipe Ariès, 2003, p. 23)


Fatores de proteção e complicação do luto

Fatores de proteção do luto incluem: Fatores complicadores envolvem:

- busca de significado - tipo de morte,


- resiliência - problemas psiquiátricos
- rede de apoio (familiares, amigos, - relações ambivalentes
comunidade) - falta de apoio
- luto não autorizado.

O luto, para ser expresso, precisa ser reconhecido e autorizado numa dada cultura.
No Brasil, as famílias têm seus costumes, como fazer orações, conversar
compartilhando sentimentos.

Outras têm como hábito cada um ficar só, no seu canto, elaborando a dor a seu
modo. Então, para expressão do luto deve haver reconhecimento da sociedade, da
família, assim suas manifestações são autorizadas.
Fatores de proteção e complicação do luto
Um exemplo de luto não autorizado é o dos homens.
Afinal, “homens não choram”.

Estudos mostram que a forma típica de lidar com o luto


entre homens é pelo sintoma físico, resultando na
procura de médicos.

Dores de cabeça, de estômago e outras não são


associadas com a perda. Observa-se inibição da
expressão de sofrimento, levando ao risco de
adoecimento.

Pesquisas apontam que há maior índice de problemas


cardíacos em homens após luto, a chamada “síndrome
do coração partido”, que mata mais homens que
mulheres, já que estas lidam com o sofrimento
expressando sentimentos.
Grupos de apoio
Uma forma de cuidados aos idosos pode ser os grupos apoio, que têm vários
formatos.
Estes grupos podem ser: específicos para homens ou mistos.

Os temas que podem ser abordados nesses grupos são:


a) Preparação para a aposentadoria;
b) Resgate de histórias de vida e biografias;
c) Sexualidade no processo do envelhecimento;
d) Cuidados com o corpo;
e) Cuidados psicológicos;
f) Processo de luto.

Estes grupos devem proporcionar o desenvolvimento interior da psique, não como


psicoterapia, mas como trabalho de balanço da vida, reconhecimento de funções
ou atividades que não foram realizadas na primeira metade da vida e valorização
das prioridades. Ao reexaminar as experiências vividas, estas podem ser vistas
sob vários ângulos, encontrando-se novos sentidos e significados.
Sugestão de leitura

“O luto é o preço que


pagamos por ter coragem
de amar os outros”

Irving D. Yalom & Marilyn Yalom


Sugestão de leitura

Aumenta o Índice de Suicídio Entre Idosos


Link:
https://www.minhasegundavida.com.br/aumen
ta-o-indice-de-suicidio-entre-idosos/

Suicídio entre idosos é 47% maior que no


restante da população
Link:
https://aun.webhostusp.sti.usp.br/index.php/20
22/03/31/suicidio-entre-idosos-e-47-maior-que
-no-restante-da-populacao/
Diagnóstico do luto de acordo com o DSM-5
Luto Sem Complicações
(Luto normal)
* Uma reação normal à morte de um ente querido. Destaca-se que
a aparição isolada de sintomas característicos de um episódio
depressivo maior, tais como insônia, apetite reduzido, perda de
peso e humor depressivo, costuma se apresentar em indivíduos
enlutados.
* O afeto predominante inclui sentimentos de vazio e perda.
* A disforia do luto ocorre em ondas, comumente chamadas de
“dores do luto”.
Transtorno do Luto Complexo Persistente
(Luto patológico ou complicado)
* Sintomas de caráter melancólico que inclui: “uma saudade
persistente do falecido, que pode estar associada a intenso
pesar e choros frequentes ou preocupação com o falecido.”
* Estagnação/cristalização do comportamento.
* Tempo cronológico: maior que 12 meses em adulto e 6
meses em criança.
Referências bibliográficas

FREITAS, J. L. (2013). Luto e fenomenologia: uma proposta


compreensiva. Revista da Abordagem Gestáltica:
Phenomenological Studies, 19(1), 97-105. Recuperado de
http://bit.ly/31dkpXn

KOVÁCS, Maria Julia. Doença e morte no imaginário do homem


velho. A terceira idade: Estudos sobre envelhecimento, São Paulo, v.
20, n. 46, p. 62-73, 2009. Disponível em:
https://drive.google.com/file/d/1SCLia0ez0PYoSJQN0Yd_ynPRieG4W
5_8/view?usp=sharing

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