A Metalurgia do Pó

Camila C. Rojas e Maria Fernanda

Engenharia de Materiais | Centro Blumenau
 O que é a Metalurgia do Pó?
• A metalurgia do pó, também chamada sinterização, é o ramo da indústria metalúrgica que se dedica à
produção de peças a partir de pós metálicos e não-metálicos;

• A obtenção de formas sólidas com o uso de pós surgiu há muito tempo, cerca de 3000 a.C. no Egito
antigo através da criação do ferro-esponja com o intuito de fabricar ferramentas. Esse material é um
produto com base no minério de ferro que é aquecido numa forja a carvão e reduzido à ferro esponjoso.

• Mas somente no início do século XIX, quando o químico britânico William Wollaston desenvolveu o
método de fabricação de compactados do minério de platina e em 1813 publicou os fundamentos
técnicos da moderna metalurgia do pó na produção de pós de platina, que os estudos da metalurgia do
pó tiveram seu início.
 O que é a Metalurgia do pó?

• O ano de 1829 representa um marco na história da metalurgia do pó, pois data desse período a produção
de peças de platina maleável, material que até então não podia ser processado por fundição normal, em
razão do seu alto ponto de fusão (cerca de 1.775°C);
• Embora a metalurgia do pó tenha iniciado efetivamente no século XIX, foi somente no século XX que
teve seu devido reconhecimento. Isso graças ao físico americano William Coolidge, que desenvolveu o
tubo de Tungstênio para filamentos de lâmpadas incandescentes partindo da redução do minério de
Tungstênio em pó pelo hidrogênio (essas lâmpadas são utilizadas até hoje).

• Hoje são inúmeras as aplicações industriais de peças produzidas por sinterização. Esta tecnologia,
comparada à metalurgia convencional, tornou-se competitiva tanto por razões tecnológicas quanto por
razões econômicas. Onde for preciso produzir grandes quantidades de peças, de formas complexas,
sempre haverá espaço para a metalurgia do pó.
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Por que utilizar?
Peças produzidas a partir da metalurgia do pó.
Para produzir as peças a seguir, seriam
necessárias várias operações para produzi-las
pelos processos convencionais de usinagem.
A metalurgia do pó é uma alternativa que
torna possível esta produção com uma única
prensa e um operador, com o máximo
aproveitamento da matéria-prima.
Esse processo é baseado na prensagem de
pós em moldes metálicos e consolidação da
peça por aquecimento controlado. O
resultado é um produto com a forma
desejada, bom acabamento de superfície,
composição química e propriedades
mecânicas controladas.
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Avanços
- Compactação Isostática a Quente (HIP – hot isostatic pressing):

É uma área utilizada para a produção de materiais mais avançados e com propriedades especiais,
como os aços ferramenta, aços inoxidáveis, metal duro, superligas e os materiais compostos. O
processo ocorre ao se submeter pós em temperatura elevada a pressões isostáticas de compressão
realizadas por um gás. Os materiais fabricados por esse método não possuem poros e segregações, se
caracterizam por sua homogeneidade, ótimas propriedades mecânicas e uma microestrutura
estabelecida. Devido a esse processo, seus componentes apresentam elevada resistência mecânica e
tenacidade à fratura. Esse método não é muito usado no Brasil devido ao alto custo de equipamento
e a disparidade na competição contra o processo de sinterização.

- Produção de pós pela Técnica de Solidificação Rápida (RST – Rapid solidification technique):

Esse método consiste no resfriamento do material à uma velocidade ultrassônica na fase final de sua
produção, esse resfriamento resulta em partículas de pós extremamente finas. Apesar do seu
tamanho, os pós criados pela solidificação rápida possuem resistência mecânica e resistência à
corrosão, também não sofrerão instabilidade em sua estrutura molecular.
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Avanços
- Produção de pós pré-ligados com dispersão de óxidos (ODS – Oxide Dispersion Strengthening):

É o processo de introduzir os pós-metálicos com as propriedades físico-químicas desejadas em um

moinho de bolas com energia elevada, que gera uma dispersão fina e uniforme de óxidos e carbetos
na matriz. O material resultante reage bem a altas temperaturas e mantém as propriedades de cada
tipo de liga a qual ele pertença. Suas principais aplicações são em compostos de ligas de Alumínio
(Al), Titânio (Ti) e Níquel (Ni), que são submetidos a temperaturas de elevado nível para fabricar
equipamentos dentro dos setores aeroespaciais, automobilísticos e nucleares.
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No Brasil
Devido à restrita utilização de produtos sinterizados no Brasil, em relação a outros países, o potencial de
crescimento da metalurgia do pó é bastante grande tanto em nível de pesquisa como em nível industrial,
principalmente pela demanda por produtos de alta tecnologia em diversos setores como mecânica fina,
indústrias de defesa e aeroespacial.

Há um grande potencial para o crescimento da metalurgia do pó no Brasil, tanto na área de pesquisa quanto
na área industrial, graças à utilização de produtos sinterizados no país (principalmente nas indústrias
elétricas e mecânicas). A demanda por produtos de alto teor tecnológico é grande, em especial nos setores
de mecânica fina, indústrias de defesa e aeroespacial.

Porém, a falta de produção de pós no país se torna um empecilho no crescimento dessa técnica. Em
prática, as indústrias nacionais compram a tecnologia do exterior para suprimir suas demandas e mantém
contratos fixos. Se a falta de tecnologia para a fabricação de pós de materiais com propriedades especiais
continuar assim, o Brasil não avançará muito nesse âmbito
O que é a Metalurgia do Pó?
Matérias-Primas

A metalurgia do pó tem como matéria-prima os pós-

metálicos e não-metálicos e quanto maior o nível de
pureza desses pós, mais caros eles se tornam. Essa
diferença de custo não varia muito em peças pequenas,
porém em peças de grande porte esse valor elevado acaba
sendo muito mais caro. E possuir pós de alta pureza é
importante por causa de suas características iguais ou até
superiores ao material fundido.
Os pós podem ser divididos em quatro grupos:
- Os metais (compostos, ligas e elementos não metálicos);
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Tipos de processos

Primeiro temos o processo de produção de pós-

metálicos: Muitos metais são naturalmente obtidos na
forma de pó através de técnicas de extração, porém
elas devem ser ajustadas para que se produza pós com
as características adequadas. Assim sendo, esses pós
são geralmente adquiridos por fornecedores
profissionais, mas algumas vezes eles necessitam ser
feitos pela própria empresa de fabricação da peça.
Depois de serem fabricados, esses pós passam por
uma fase de tratamento. Essa fase é basicamente uma
lavagem e secagem desses materiais. Após isso eles
Tipos de processos
Obtenção do pó

A fabricação dos pós-metálicos pode ser dividida

entre os processos mecânicos, físico-químicos e
químicos.
Processos mecânicos: São utilizados os métodos de
usinagem, britagem, moagem e turbilhamento para os
metais sólidos e granulagem, arremesso e atomização
para os metais líquidos (temperaturas acima do ponto
de fusão).
Usinagem – Esse processo é baseado na prensagem de
pós em moldes metálicos e consolidação da peça por
 Tipos de processos
Obtenção do pó
Granulagem – É obtida em água ou agitando o metal no estado líquido com uma temperatura próxima a
solidificação, mas por essas partículas serem envolvidas em uma camada de óxido não é eficiente o seu
emprego em compactados;

Arremesso – Soltar o metal líquido no ar ou na atmosfera para conseguir partículas metálicas, esses pós
aparecem em diferentes formatos podendo ser muito espessos ou muito finos. Para se conseguir um pó
fino, é aconselhável utilizar um jato de vapor ou ar no lugar de água;

Atomização – É basicamente passar o metal líquido, sob pressão, por um orifício e soltá-lo por um jato
comprimido de ar que se solidifica na forma de um pó muito fino (empregado na pulverização de metais
com baixos pontos de fusão);
Tipos de processos
Obtenção do pó

Processos Físicos: Condensação e decomposição térmica.

Condensação – Usado em metais com baixo ponto de ebulição (reduz os óxidos do metal);

Decomposição Térmica – Decompõem ou separa os elementos de um composto através do aquecimento de

ambos (reação endotérmica), e vários metais reagem com o monóxido de carbono (CO);

Processos químicos: Redução, deslocamento químico e carbonetação.

Redução – Obtém metais através da redução de seus óxidos por um elemento redutor (como o carbono),
acontece abaixo do ponto de fusão mas em altas temperaturas. Sua vantagem é que as propriedades dos pós
gerados por esse processo são controladas;

Deslocamento químico – É a precipitação parcial de um metal em uma solução sobre as partículas de outro
metal, o pó produzido nesse método deve ser compactado a baixos níveis de pressão para suas partículas
não romperem;

Carbonetação – Consiste na granulação do ferro gusa em água e logo após uma descarbonetação em uma
atmosfera de óxido e dióxido de carbono (CO e CO2), em um forno com temperatura abaixo do ponto de
fusão desse ferro;
Tipos de processos
Compactação

Objetivos
1. Conformar o pó na forma desejada;
2. Conferir dimensões finais;
3. Conferir a adequada densidade verde ao compactado;
4. Conferir resistência mecânica;
5. Proporcionar um bom contato entre as partículas de pó, para que a etapa de sinterização
seja efetuada de modo mais eficiente.
Tipos de processos
Compactação

Na etapa de compactação a mistura de pós é colocada numa matriz de aço endurecido com
cavidade na forma da peça a ser produzida e submetida a uma alta pressão de compressão.
Etapa necessária para a seguinte que é a de sinterização, sendo crítica para a qualidade e
homogeneidade estrutural da peça final.
É desejável uma alta densidade “a verde” do compactado, pois obtém uma maior resistência
para a sua manipulação e também os pontos e áreas de contato entre as partículas do pó serão
maiores, acelerando o processo de sinterização.
Desejável que a compactação seja a mais homogênea possível, isto é, que a densidade “a
verde” seja homogênea em todo o volume do compactado.
Tipos de processos
Compactação

Fonte: Metalurgia_do_pó.pdf

Principais etapas na produção de peças por metalurgia do pó.

Fonte: Introdução aos processos de fabricação de produtos
metálicos.
Tipos de processos
Compactação

Fator de empacotamento de partículas de mesmo tamanho de Fator de empacotamento de uma mistura homogênea entre partículas
acordo com a sua rugosidade superficial e irregularidade de forma. esféricas de tamanhos diferentes de acordo com a quantidade relativa
Fonte: Introdução aos processos de fabricação de produtos entre elas. Fonte: Introdução aos processos de fabricação de produtos
metálicos. metálicos.
Tipos de processos
Compactação

Variação da densidade em uma peça produzida por prensagem

uniaxial de ação simples. Fonte: Introdução aos processos de
fabricação de produtos metálicos.
Tipos de processos
Compactação

Fonte: https://youtu.be/Qiz6VW0xymI
Tipos de processos
Sinterização

O compactado verde, dentro ou fora da matriz, é aquecido a temperaturas altas, mas que
permanecem abaixo da temperatura de fusão do metal base;

Os fenômenos que ocorrem na sinterização são os seguintes: ligação inicial entre partículas;
crescimento da ligação; fechamento dos canais que interligam os poros; arredondamento dos
poros; densificação ou contração dos poros; crescimento eventual dos poros.
Tipos de processos
Sinterização

Fonte: Processos de fabricação: Metalurgia do pó e o futuro da

indústria
Tipos de processos
Sinterização

Fonte: Processos de fabricação: Metalurgia do pó e o futuro da indústria

Tipos de processos
Sinterização

Representação esquemática das etapas da sinterização. Fonte: Introdução aos processos de fabricação de
produtos metálicos.
Resultado dos processos
Vantagem e Desvantagem

➢ Vantagens:
○ Menor consumo de energia;
○ Maior aproveitamento de material;
○ Fabricação de várias peças com formatos complicados;
○ Custo de acabamento baixo

➢ Desvantagens:
○ Limite de produção mínima viável economicamente;
○ Alto custo dos pós metálicos;
○ Alto custo de ferramental;
○ Baixa resistência mecânica;
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Produtos acabados: Aplicação no cotidiano

1. Filtros sinterizados:

Fonte: Processos de fabricação: Metalurgia do pó e o futuro da indústria

A Metalurgia do Pó
Aplicação no cotidiano

2. Mancais autolubrificantes:

Fonte: Processos de fabricação: Metalurgia do pó e o

futuro da indústria
A Metalurgia do Pó
Aplicação no cotidiano

3. Baterias;

Fonte: https://blog.bbbaterias.com.br/wp-content/uploads/2018/05/201361-
bateria-de-litio-x-bateria-de-niquel-como-saber-qual-a-melhor-3.jpg
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Aplicação no cotidiano

4. Próteses;

Fonte: Imagens do Google

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Aplicação no cotidiano

5. Materiais Especiais:

São ligas (como W90-Cu-Ni) que não permite fabricação industrial devido ao alto ponto de
fusão (3410°C), alta densidade (18 g/cm³), e outras características. Possuem alto poder de
absorção de radiações (setor nuclear) e para blindagens (setor militar)
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Aplicação no cotidiano

6. Disco de freio e embreagem;

Fonte: https://http2.mlstatic.com/par-disco-freio-D_NQ_NP_345521-
MLB20793888777_062016-F.jpg
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Aplicação no cotidiano

7. Metal duro;

Fonte: Imagens do Google

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Aplicação no cotidiano

8. Contatos elétricos;

Fonte:https://www.solucoesindustriais.com.br/images/produtos/
imagens_10288/thumbnails/350/contato-eletrico-
giratorio_10288_56108_1534250727515_cover.jpg
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Aplicação no cotidiano

9. Ligas magnéticas;

Fonte: http://portuguese.dlx-alloy.com/sale-13415069-permalloy-strip-
soft-magnetic-1j79-10mm-precision-alloy.html
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Aplicação no cotidiano

10. Peças mecânicas;

Fonte: http://apcohd.com.br/portugues/pecas-mecanicas/
Referências Bibliográficas
MORAIS, Gilberto Augusto de. Desenvolvimento da metalurgia do pó. Natal: EDUFRN, 2022.
CHIAVERINI, Vicente. Metalurgia do pó: Técnicas e Produtos. 3. ed. São Paulo: Biblioteca Escola
Senai “Nadir Dias de Figueiredo”, 1992.
KIMINAMI, Claudio; CASTRO, Walman; OLIVEIRA, Marcelo. INTRODUÇÃO AOS PROCESSOS
DE FABRICAÇÃO DE PRODUTOS METÁLICO. Blucher, 2014.
Notas de aula do Telecurso 2000 sobre os Processos de Fabricação II. São Paulo, 2010.
CALLISTER JUNIOR, William D. Ciência e Engenharia de Materiais: uma introdução. 5. ed.Rio de
Janeiro: Ltc, 2000. 589 p. Tradução: Sergio Murilo Stamile Soares.
MORO, Noberto; AURAS, André. Processos de fabricação: Metalurgia do pó e o futuro da indústria.
Centro federal de educação tecnológica de Santa Catarina: Gerência educacional de metal mecânica.
Florianópolis, 2007.
Obrigada pela atenção!