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OS PERIGOS DO "FALANTE NATIVO"

NA PERSPECTIVA DO EU-OUTRO

Jadson Lima Jesus da Silva (FALE/UFMG)


INTRODUÇÃO

➤ O falante nativo como centro de uma discussão antiga no processo de ensino-


aprendizagem de Língua Inglesa.
➤ O quanto o espectro do falante nativo nos atravessa enquanto falante de inglês
no Brasil.
➤ Os perigos advindos do mito do falante nativo de línguas.
OBJETIVO

Essa pesquisa tem por objetivo evidenciar/discutir, se ancorando em


pesquisas realizadas anteriormente, os perigos que o “mito do falante
nativo” traz para aprendizes brasileiros de inglês.
METODOLOGIA

➤ Levantamento bibliográfico: Artigos em português (2011-2021).


➤ Palavras-chave e/ou título: “Crenças” “Oralidade”.
➤ Inclusão do texto “A pesquisa psicanalítica como intervenção na formação
continuada de professores de língua inglesa” (2020).
O "FALANTE NATIVO"

Todo aquele indivíduo no qual é exposto a uma língua em uma determinada comunidade
ou região é um falante nativo. A fala é adquirida naturalmente e o indivíduo pode ser
considerado um falante competente da comunidade linguística da qual faz parte.
(Dicionário Informal, 2023).

someone who has spoken a particular language since they were a baby, rather than
having learned it as a child or adult (Cambridge dictionary, 2023)

Indivíduo que é falante da primeira língua que aprende na infância (Bloomfield 1993).
O "FALANTE NATIVO"

Antropologia Gerativismo Dias atuais*


Termo pejorativo O falante nativo como O falante nativo como
utilizados para se referir parâmetro a ser seguido
aos nativos de países sujeito fonte de dados
linguísticos devido a no no processo de
colonizados por povos
europeus. aprendizagem de línguas.
sua

Pós 2ª guerra mundial


A expansão da LI como ferramenta de
comunicação internacional.
QUEM É ESSE FALANTE NATIVO?

➤ Europeu ou Estadounidense

➤ Heteresexual

➤ Branco, Anglo-Saxão e
Protestante (W.A.S.P)

➤ Dono da língua

Fonte: Gerador de imagens Canva (2023)


QUEM É ESSE FALANTE NATIVO?

Mota (2010, p.39) propõe que “os livros


ilustravam o mundo ideal da cultura WASP
(White Anglo Saxon Protestant), o professor
enfatizava o treinamento de estruturas
lingúísticas rígidas (sem qualquer preocupação
com as variações linguísticas sociais ou
regionais) e a imitação de padrões fonológicos
Fonte: Gerador de imagens Canva (2023)
"corretos" visando a alcançar a pronúncia ideal
(native-like).
O "FALANTE NATIVO"

“Dizia-se que os falantes nativos eram os verdadeiros


guardiões da língua, os únicos autorizados a servir de
modelos confiáveis para todos aqueles que desejassem
adquiri-la como segunda língua ou como língua estrangeira.
[livre tradução]” (Rajagopalan, 2006 p.284)
EU-OUTRO

➤ Eu construído socialmente (Ego na


psicanálise)
Ego é a consciência, o “eu de cada um”, ou seja, o que
caracteriza a personalidade de cada indivíduo.

➤ Outro: Que não é o mesmo; distinto,


diferente: fica para outro dia.
Outro é o não eu.
O ESPECTRO DO FALANTE NATIVO (RAJAGOPALAN, 2002)

➤ O que é “falar inglês”?


Serpa (2014): É necessário falar
inglês com uma excelente
➤ A identificação do espectro do falante
pronúncia.
nativo em contextos de ensino de inglês
no Brasil.

Silva (2014): Aprender inglês é


➤ Levantamento bibliográfico no saber pronunciar as palavras
Google acadêmico (2011-20211) corretamente.
O ESPECTRO DO FALANTE NATIVO

➤ O que é falar inglês?

Souza (2017), Aprender inglês se torna difícil


devido à incompatibilidade entre fala (som) e
a escrita.
O ESPECTRO DO FALANTE NATIVO

➤ O que é falar inglês?

Gusmão (2017): É necessário se comunicar com


➤ Identificação mais
evidente do espectro do falantes nativos para aprender a língua alvo de modo
falante nativo efetivo.

Silva (2019): o sotaque do falante nativo ainda é o


modelo almejado pelos alunos.
OS PERIGOS DO FALANTE NATIVO

➤ As limitações de âmbito fonético-


fonológico para a reprodução de sons
como um falante nativo de inglês.

Quando aprendemos uma segunda língua, é


necessário exercitar determinados músculos de
nosso aparelho fonador, que talvez, nunca
tivéssemos movimentado no exercício da nossa
língua materna, pois nosso aparelho fonador é
automatizado aos sons da língua que crescemos
falando. Aprender um segundo idioma, requer que
estejamos habilitados a articular sons diferentes
daqueles que não são comuns para nós desde a
Fonte: www.gta.ufrj.br (Biometria -
nossa infância. (Santos e Schoenherr, 2009, p.9) Impressão vocal)
OS PERIGOS DO FALANTE NATIVO

➤ A busca por ser o Outro


em quem deposito minhas O desejo pelas línguas estrangeiras, o
expectativas.
desejo de aprender, de saber falar uma
outra língua, alimenta-se de duas fontes
aparentes que, no fundo, não passam de
uma só: inveja dos bens e da maneira
como gozam os outros, e inquietação [...]
de não poder encontrar seu próprio lugar na
língua materna.

Jutta Prasse (1997, apud Neves e Leita, 2021)


OS PERIGOS DO FALANTE NATIVO

➤ A busca por ser o Outro


em quem deposito minhas
expectativas. “Sempre assistiu a muitos filmes americanos
e que é encantada pela cultura deles, o
"American way of life, entendeu?
Halloween, Thanksgiving, tudo, o colegial"
[...], "o jeito de vestir, alimentação, tudo, eu
fiquei louca com aquilo"

(Neves e Leita, 2021, p.---)


OS PERIGOS DO FALANTE NATIVO

➤ A negação de quem sou


como sujeito não nativo de
língua inglesa.
“Eu fiquei louca com aquilo [...] ser
americana [...] de ficar me perguntando
A idealização de uma vida porque eu nasci aqui; queria ter nascido lá.”
que não é/pode ser vivida
pelo Eu.
(Neves e Leita, 2021, p.---)
OS PERIGOS DO FALANTE NATIVO

➤ A impossibilidade de
alcançar esse falante
idealizado.

Um exemplo trivial é o modo como a Martinica


O exemplo da população é e não é ‘França’ [livre tradução].
martinicana que, sob
(Hall, 1989, p. 36)
domínio da França, não são
considerados franceses o
suficiente.
OS PERIGOS DO FALANTE NATIVO

➤ A desistência no processo de aprendizagem de uma segunda língua.

EMOÇÕES SOCIAIS

Medo de falar inglês Subjugação do falante não nativo.


Medo de julgamentos (Auto)desvalorização do não nativo
Medo de cometer erros Hipervalorização do “falante nativo”
Hegemonia de países de LI.
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com base nas discussões tecidas, é possível afirmar que, apesar dos
sucessivos estudos dedicarem-se à desmistificação do falante nativo, esse mito
continua vigente em contextos de aprendizagem de segunda língua (L2).
Ademais, o espectro do falante nativo, embora não percebido/sinalizado,
apresenta gardes perigos para aprendizes que se dedicam aos estudo de uma
nova língua.
É preciso que o processo de (auto)subordinação do falante não nativo seja
repensado pelos próprios aprendizes, com auxílio de professores. Desse modo,
é possível uma aprendizagem de uma L2 efetiva, livre de crenças que colocam o
falante nativo como centro do processo de ensino-aprendizagem de línguas.
REFERÊNCIAS

GUSMÃO, G.V. Análise à luz do construto de crenças e formação docente de


línguas: o processo de aprendizagem de Língua Inglesa presente em narrativas de
docentes. Linguagem: Estudos e Pesquisas, v. 21, n. 1, 2017.
HALL, Stuart. Cultural identity and cinematic representation. Framework: The
Journal of Cinema and Media, n. 36, p. 68-81, 1989.
MOTA, K.; SCHEYERL, D. (Org.). Recortes interculturais na sala de aula de
línguas estrangeiras. 2. ed. Salvador: EDUFBA, 2010.
NEVES, M. S.; LEITE, N. C. A pesquisa psicanalítica como intervenção na
formação continuada de professores de língua inglesa. Retratos da pesquisa em
Psicanálise e Educação. São Paulo: Contracorrente, p. 179-200, 2020.
REFERÊNCIAS
PRASSE, J. O desejo das línguas estrangeiras. Revista Internacional, v. 1, n. 1, p. 63-73,
1997.

RAJAGOPALAN, K. National languages as flags of allegiance, or the linguistics that failed


us: A close look at emergent linguistic chauvinism in Brazil. Journal of Language and
Politics, [S. l.], v. 1, n. 1, p. 115-147, 2002. Doi: https://doi. org/10.1075/jlp.1.1.08raj
SANTOS, R. O. P; SCHOENHERR, O. A. T. Ensino da língua inglesa: pronúncia e
ortografia na sala de aula. ANAIS DO ENIC, n. 1, 2009.
SERPA, M. T. S. Ensino e aprendizagem de língua inglesa como língua estrangeira:
análise de crenças no contexto público escolar. Tese (Doutorado em Linguística) –
Universidade Federal do Ceará, Centro de Humanidades, Departamento de Letras
Vernáculas, Programa de Pós-Graduação em Linguística, Fortaleza, 2014
REFERÊNCIAS

SILVA, A. L. Crenças de professores em formação sobre o papel da pronúncia nas


aulas de inglês. 2019. 78 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Licenciatura em Letras)
– Unidade Acadêmica de Serra Talhada, Universidade Federal Rural de Pernambuco,
Serra Talhada, 2019.

SILVA, M. A. Crenças sobre ensinar e aprender inglês no ensino fundamental: um


estudo de caso. Línguas & Letras, v. 15, n. 31, 2014.

SOUZA, S. P. T. Crenças de alunos sobre a aprendizagem de língua inglesa em


uma escola pública do Ensino Médio em Amargosa-Bahia. 2017. 69 f. Trabalho de
Conclusão de Curso (Licenciatura em Letras) – Universidade Federal do Recôncavo da
Bahia, Amargosa, 2017
Obrigado!
Thank you!

Jadson Lima (FALE/UFMG)


jds.limaios@hotmail.com

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