Você está na página 1de 9

ASPECTOS ÉTICOS

E LEGAIS NO ATENDIMENTO AO
PACIENTE CIRÚRGICO

ENFERMAGEM CIRÚRGICA
Fevereiro/ 2004
Objetivo: Compreender as responsabilidades
éticas e legais do enfermeiro cirúrgico.

• Equipe de enfermagem cirúrgica exerce atividades de


responsabilidades fundamentais.
• Envolvimento constante em tomadas de decisões
éticas e legais, em reflexões sobre as decisões da
equipe e direitos do paciente.
• Atividades consideradas de pequena importância no
aspecto individual, muitas vezes interpretada como
uma atividade “invisível”, passa a ser decisiva quando
ponderamos o produto final do cuidado ao paciente,
pois se deixarem de ser executadas, poderão causar
sérios transtornos, expor a riscos a vida do paciente ou
levar a insucessos as intervenções mais complexas.
Ex.: controle do jejum, preparo de materiais, entre
outros.
• Trabalho individual dos componentes da equipe de
enfermagem transforma-se em ação coletiva muitas
vezes considerada “pouco destacada”, mas
moralmente CORRETA e FUNDAMENTAL.
O que entendemos por ética? Qual sua utilidade
na assistência de enfermagem ao paciente
cirúrgico?

• No cotidiano, as palavras ética e moral possuem


significados semelhantes, quando consideramos o
aspecto etimológico das palavras.
• Moral – mos, mores (latim):
Pode ser traduzida por “costumes”, “caráter”.
Considerada como a ação prática, a moral vivida.
Portanto, é a ciência que se preocupa com os atos
humanos, os bons costumes, os deveres do homem
(individual/ grupal) perante seu grupo profissional.
Descreve o compromisso pessoal do indivíduo com
valores que freqüentemente são influenciados por
normas e expectativas sociais.
• Ética – “ethos” (grego) :
significa o entendimento “de caráter” ou “modo de ser”.
É a moral reflexa, a teoria do estudo da moral, tomando-
se por base a teoria formal, regras, princípios ou
códigos de conduta para determinar a ação correta.
• Bioética:
Um conjunto organizado de reflexões construtivas, no
qual cada pessoa toma posição quanto a sitações
conflituosas referente à vida e saúde humana.
(SEGRE, 1999)
• A Ética de Enfermagem se reporta aos valores e
princípios éticos que fundamentam as ações dos
enfermeiros, onde a promoção à vida, à saúde, à
integridade e dignidade humana são valores
fundamentais e motrizes das ações do enfermeiro.
Princípios éticos

Princípios éticos comuns que podem ser empregados para


validar alegações morais:
• Autonomia – autos (“própria”) e nomos (“regra” ou
“lei”) - grego: implica na capacidade de escolha, livre
de restrições externas.
• Beneficência: dever de fazer o bem e a promoção
de atos de benevolência, (por ex. bondade, gentileza
e caridade). Também pode incluir a obrigação de
não fazer o mal.
• Confidencialidade: princípio relacionado ao
conceito de privacidade. As informações obtidas de
um indivíduo não serão reveladas a outrem, a não
ser que isto beneficie a pessoa ou haja uma ameaça
direta ao bem social.
• Fidelidade: Cumprimento das promessas, dever de
ser fiel aos próprios compromissos. Inclui tanto as
promessas explícitas como as implícitas.
• Justiça: numa perspectiva ampla, afirma que os
casos semelhantes devem ser tratados da mesma
forma.
• Não Maleficência: o dever de não infligir o mal,
assim como de impedir e remover o mal. Pode ser
incluído juntamente com o princípio da beneficência,
caso em que a não maleficência acarreta obrigação
maior.
• Veracidade: obrigação de dizer a verdade e não
mentir ou enganar as outras pessoas.
Princípios éticos

• Paternalismo: a limitação intencional da autonomia


de outro indivíduo, justificado por um apelo a
beneficência ou o bem-estar ou as necessidades de
uma outra pessoa. Assim, a prevenção de quaisquer
males potenciais causados pela interferência na
autonomia ou liberdade do indivíduo.
• Respeito às pessoas: usado como sinônimo da
autonomia, entretanto, se estende além de aceitar a
noção ou atitude de que as pessoas têm a opção
autônoma de tratarem as outras de modo a
possibilitar-lhes fazer escolhas.
• Santidade de vida: perspectiva de que a vida é o
bem maior. Todas as formas de vida, incluindo a
mera existência biológica, devem, portanto, ter
precedência sobre os critérios externos para se julgar
qualidade de vida.
• Duplo Efeito: princípio que justifica moralmente
algumas ações que podem produzir efeitos tanto
benéficos quanto maléficos. Todos critérios
subseqüentes têm de ser preenchidos:
1) A ação em si é boa ou moralmente neutra; 2) O
agente visa sinceramente o efeito benéfico e não o
maléfico ( o efeito maléfico pode ser previsto, mas
não visado); 3) O efeito benéfico não é obtido por
efeito maléfico; 4) Há um equilíbrio proporcional ou
favorável do bem em relação ao mal.
Deontologia

• Deontologia (“deon”) – grego:


É a ciência que estuda os deveres de um grupo
profissional.
• Deontologia de enfermagem:
É a ciência que se preocupa com os deveres e
responsabilidades dos enfermeiros e da equipe de
enfermagem.
• Responsabilidade:
É a qualidade ou condição de ser responsável,
capacidade de entendimento ético/ jurídico e de
determinação (respeito a vontade), adequada, que
constitui pressuposto penal necessário a punibilidade.
• Responsabilidade moral:
Situação de um agente consciente com relação aos
atos que ele pratica voluntariamente. Obrigação de
reparar o mal que causou a outros.
• Código Civil Brasileiro - “todas as pessoas no exercício
ou não de uma profissão respondem pelos danos que
causaram ou possam causar a outra pessoa”.
• Todas as ações profissionais e morais devem ser
pautadas e fundamentadas pelo “Código de Ética
dos Profissionais de Enfermagem”, que normatiza a
ética da enfermagem e procura fornecer parâmetros
para que o exercício da profissão permaneça dentro da
perspectiva ética e do código mora da equipe.
Prática ética

• Discurso ético comprometido ↔ prática do silêncio e da


omissão no exercício profissional (ética é “esquecida”).
• Situações conflituosas são “resolvidas” de forma
“pseudopacíficas”, baseadas na omissão, e na falta de
comprometimento das partes envolvidas.

• “Ética alienada”: não sabemos a quem serve, para que


serve, mas que sem dúvida, está a serviço de alguém.
Praticada a partir de um observador ingênuo, que não
relaciona os fatos e não identifica as relações entre as
coisas, tornando-se indiferente ante as injustiças ou ações
que envolvam sua prática, ou as dos que o cercam,
embora refira-se apoiar nos discursos éticos para justificar
as sua ações profissionais.

• “Ética utilitarista”: reduzida a uma questão de utilidade,


útil em transformar as pessoas em omissas e submissas,
condicionando as ações de enfermagem à “bondade”,
buscando através da caridade, a salvação eterna,
vinculando sua utilização à alienação.
(SILVA,1997)
Código de Ética dos profissionais de
enfermagem (1993)
Na assistência ao paciente cirúrgico devemos considerar
todos os artigos, entretanto, salientamos alguns, do Capítulo
IV que trata dos “deveres dos profissionais”:
• Artigo 27 – “Respeitar e reconhecer o direito do cliente de
decidir sobre a sua pessoa, seu tratamento e seu bem-estar”.
• Artigo 28 – “Respeitar o natural pudor, a privacidade e a
intimidade do cliente”.
• Artigo 29 – “Manter segredo sobre fato sigiloso de que tenha
conhecimento em razão de sua atividade profissional, exceto
nos casos previstos em Lei”.
• Artigo 33 – “Proteger o cliente contra danos decorrentes de
imperícia, negligência ou imprudência por parte de qualquer
membro da Equipe de Saúde”.
Capítulo V que trata das proibições:
• Artigo 42 – “Negar Assistência de Enfermagem em caso de
urgência ou emergência”.
• Artigo 43 – “Abandonar o cliente em meio a tratamento, sem
garantia de continuidade da assistência”.
• Artigo 47 – “Administrar medicamento sem certificar-se da
natureza das drogas que o compõem e da existência de risco
para o cliente”.
• Artigo 48 – “Prescrever medicamentos ou praticar ato
cirúrgico, exceto os previstos na legislação vigente e em caso
de emergência”.
• Artigo 49 – “Executar a assistência de enfermagem sem o
consentimento do cliente ou seu representante legal, exceto
em iminente risco de vida.”
• Artigo 52 – “Provocar, cooperar ou ser conivente com maus-
tratos”.
• Artigo 66 – “Colaborar direta ou indiretamente com outros
profissionais de saúde, no descumprimento da legislação
referente aos transplantes de órgãos, tecidos, esterilização ou
fecundação artificial”.
Dilema moral

• Dilema moral há um claro conflito de dois ou mais


princípios morais princípios morais, ou de afirmações
morais contrárias. A escolha de uma ação e não de outra
pode levar a um resultado desagradável, tendo o indivíduo
de escolher o “menor dos males”. Ex.: Prolongamento de
medidas de manutenção da vida.
• Incerteza moral: nesta situação não se pode definir
exatamente qual a situação moral ou quais são os
princípios morais que podem se aplicar, mas há uma forte
impressão de que algo não está certo. Ex.: pessoa idosa
que é submetida a cirurgia e não evolui bem.
• Sofrimento moral: nesta situação o enfermeiro sabe qual
é a ação correta, mas restrições institucionais o impedem
de colocá-la em execução. Ex.: o paciente pergunta ao
enfermeiro se tem câncer.
• Etapas de uma análise ética:
1) Avaliação: avaliar as situações éticas/ morais do
problema (A situação acarreta problemas morais efetivos?
Há conflitos de procedimento, por ex. quem deve tomar as
decisões? Identificar as pessoas envolvidas e aquelas
afetadas pela decisão);
2) Planejamento: colher informações (distinguir elementos
factuais dos valores/ crenças, validar a capacidade/
incapacidade do doente tomar decisões, identificar
problemas éticos/ morais e alegações em conflito);
3) Relacionar as alternativas: comparar as alternativas
com os princípios éticos aplicáveis e o código de ética.
4) Decidir e avaliar a decisão: Qual é a ação melhor ou
moralmente correta? Dar as razões éticas de sua decisão.
Quais as razões éticas contrárias a sua decisão? Como
você responde às razões contrárias à sua decisão?

Você também pode gostar