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A ORDEM DO DISCURSO

MICHEL FOUCAULT

AULA INAUGURAL NO COLLÈGE DE FRANCE


2 DE DEZEMBRO DE 1970
QUESTÃO:

Qual é o perigo de as pessoas falarem e seus discursos proliferarem indefi-


nidamente?

HIPÓTESE:

-controlada
Produção de discurso - selecionada
- organizada PROCEDIMENTOS
- redistribuída

QUE PROCEDIMENTOS SÃO ESTES?


PROCEDIMENTOS EXTERNOS: (de exclusão)

-Interdição: nem tudo pode ser dito em qualquer tempo e nem todos podem
falar de qualquer coisa.
Existem três tipos de interdição: tabu do objeto, ritual da circunstância e o di-
reito privilegiado e exclusivo do sujeito que fala.

-Separação e rejeição: o discurso do louco e sua relação com a razão

- Vontade de verdade: a verdade oscila no decorrer da história

PROCEDIMENTOS INTERNOS: (Princípios de limitação)


São os discursos mesmos que exercem o próprio controle.

-Comentário: são as narrativas que fundamentam os discursos corrente do co-


tidiano, da fala diária.

“[...] discurso que renasce em cada um de seus pontos, absolutamente novo e


inocente, e que reaparece sem cessar, em todo frescor, a partir das coisas, dos
sentimentos ou dos pensamentos” (p. 23)

“O novo não está no que é dito, mas nos acontecimentos a sua volta.” (p. 26)
Outros princípios de refração do discurso que são complementares a este primeiro:

-Autor: não é aquele quem fala o texto, mas aquele que fala através dele, o elemento
agrupador do discurso, que dá unidade e coerência às significações. Ele tem valor,
em especial, no discurso literário.

-Disciplina:
Se opõe ao princípio do autor:
“se define por um domínio de objetos, um conjunto de métodos, um corpus de
preposições consideradas verdadeiras, um jogo de regras e definições, de tecni-
cas e de instrumentos: tudo isto constitui uma espécie de sistema anônimo à
disposição de quem quer ou pode servir-se dele, sem que seu sentido ou vali-
dade estejam ligados a quem sucedeu ser seu inventor.” (p. 30)

Se opõe ao princípio do comentário:


“em uma disciplina, [...], o que e suposto no ponto de partida, não é um sentido
que precisa ser redescoberto, nem uma identidade que deve ser repetida; é a-
quilo que é requerido para a construção de novos enunciados.” (p. 30)

POSSIBILIDADE DE FORMULAR, E FORMULAR INDEFINIDAMENTE,


NOVAS PREPOSIÇÕES
“A disciplina é um princípio de controle da
produção do discurso. Ela lhe fixa os limites pelo
jogo de uma identidade que tem a forma de uma
reatualização permanente das regras.
Tem-se o hábito de er na fecundide de um autor, na
multiplicidade dos comentários, no
desenvolvimento de uma disciplina, como que
recursos infinitos para a criação dos discursos. Pode
ser, mas não deixam de ser princípios de coerção; e é
provável que não se possa explicar seu papel
positivo e multiplicador, se não se levar em
consideração sua função restritiva e coercitiva.” (p.
36)
HÁ ALGUMAS REGRAS IMPOSTAS AO DISCURSO:

-Ritual: definição de gestos, comportamentos e circunstâncias que devem


acompanhar o discurso.

-Sociedades de discurso: o discurso circula em um espaço fechado e é


distribuído de acordo com regras. Sua função é conservar ou produzir
discursos.

- Doutrina: “A doutrina liga os indivíduos a certos tipos de enunciação e lhes


proíbe, consequentemente, todos os outros; mas ela se serve, em contrapartida,
de certos tipos de enunciação para ligar indivíduos entre si e diferenciá-los,
por isso mesmo, de todos os outros.” (p. 43)
PRINCÍPIOS METODOLÓGICOS PARA A ANÁLISE DO DISCURSO:

-Princípio da Inversão: reconhecer no papel do autor, da disciplina e da


vontade de verdade, não a fonte do discurso e o princípio de sua expansão
e continuidade, mas sim “o jogo negativo de um recorte e de uma rarefação
do discurso.”

-Descontinuidade: não é buscar o que está por trás do discurso, uma


proliferação de sentidos, mas quais são as práticas que se cruzam, se
ignoram e se excluem

-Especificidade: o discurso é uma prática (violenta) que impomos às coisas.

-Exterioridade: não se encaminhar para o núcleo do discurso mas sim para


às suas condições externas de possibilidade.
CRÍTICA

Analisa os processos de rarefação, reagrupamento e unificação do discursos.

“[...] procurar cercar as formas da exclusão, da limitação, da apropriação de


que falava a pouco; mostrar como se formaram, para responder a que
necessidades, como se modificaram e se deslocaram, que força exerceram
efetivamente, em que medida foram contornadas.” (p.60)

As limitações referentes , ao autor, comentário e disciplina também estão


dentro da perspectiva crítica.

GENEALÓGICA

Diz respeito à formação efetiva dos discursos, tanto dentro dos limites do
controle como no exterior
“Assim as descrições críticas e as descrições genealógicas
devem alternar-se, apoiar-se umas nas outras e se
complementarem. A parte crítica da análise liga-se aos
sistemas de recobrimento do discurso; procura detectar,
destacar esses princípios de ordenamento, de exclusão, de
rarefação do discurso. Digamos, jogando com as palavras,
que ela pratica uma desenvoltura aplicada. A parte
genealógica da análise se detém, em contrapartida, nas
séries da formação efetiva do discurso: procura apreendê-
lo em seu poder de afirmação, e por aí entendo não um
poder que se oporia ao poder de negar, mas o poder de
constituir domínios de objetos, a propósito dos quais se
poderia afirmar ou negar proposições verdadeiras ou
falsas.” (p. 70)

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