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COMO APLICAR JUSTA CAUSA

Por Valéria Manhães

Mestre em Direito pela Universidade Estácio de Sá e Doutoranda pela UDS -


Universidad de Desarrollo Sustentable. Professora Universitária e de Pós
Graduação. Advogada, com atuação nas áreas do Direto Civil, Empresarial,
Tributário, Administrativo e do Trabalho.
Relação de Trabalho x Relação de Emprego

Emprego

Trabalho
O EMPREGADO

A definição de empregado está no artigo 3º da


CLT, que tem a seguinte redação:

Art. 3º - Considera-se empregado toda pessoa


física que prestar serviços de natureza não
eventual a empregador, sob a dependência deste
e mediante salário.
O EMPREGADOR
A definição de empregador está no artigo 2º da CLT, que tem
a seguinte redação:

Art. 2º - Considera-se empregador a empresa, individual ou


coletiva, que, assumindo os riscos da atividade econômica,
admite, assalaria e dirige a prestação pessoal de serviço.
§ 1º - Equiparam-se ao empregador, para os efeitos
exclusivos da relação de emprego, os profissionais liberais,
as instituições de beneficência, as associações recreativas ou
outras instituições sem fins lucrativos, que admitirem
trabalhadores como empregados.
Poder Diretivo do Empregador
(Controle, Organização e Disciplinar)

Jus Variandi

Jus Resistentiae
Direito de o empregado resistir às ordens
manifestamente ilegais ou imorais emanadas
do empregador.
JUSTA CAUSA

Conceito: razão justificadora da extinção do


contrato de trabalho, estando regulada em
nosso direito pátrio nos artigos 482 e 483 da CLT.
Consiste na prática de ato doloso ou
culposamente grave por uma das partes e pode
ser determinante para a resolução do contrato.
Art. 482 - Constituem justa causa para rescisão do contrato de trabalho pelo empregador:
a) ato de improbidade;
b) incontinência de conduta ou mau procedimento;
c) negociação habitual por conta própria ou alheia sem permissão do empregador, e
quando constituir ato de concorrência à empresa para a qual trabalha o empregado, ou
for prejudicial ao serviço;
d) condenação criminal do empregado, passada em julgado, caso não tenha havido
suspensão da execução da pena;
e) desídia no desempenho das respectivas funções;
f) embriaguez habitual ou em serviço;
g) violação de segredo da empresa;
h) ato de indisciplina ou de insubordinação;
i) abandono de emprego;
j) ato lesivo da honra ou da boa fama praticado no serviço contra qualquer pessoa, ou
ofensas físicas, nas mesmas condições, salvo em caso de legítima defesa, própria ou de
outrem;
k) ato lesivo da honra ou da boa fama ou ofensas físicas praticadas contra o empregador e
superiores hierárquicos, salvo em caso de legítima defesa, própria ou de outrem;
l) prática constante de jogos de azar.
Art. 483 - O empregado poderá considerar rescindido o contrato e pleitear a
devida indenização quando:
a) forem exigidos serviços superiores às suas forças, defesos por lei, contrários
aos bons costumes, ou alheios ao contrato;
b) for tratado pelo empregador ou por seus superiores hierárquicos com rigor
excessivo;
c) correr perigo manifesto de mal considerável;
d) não cumprir o empregador as obrigações do contrato;
e) praticar o empregador ou seus prepostos, contra ele ou pessoas de sua
família, ato lesivo da honra e boa fama;
f) o empregador ou seus prepostos ofenderem-no fisicamente, salvo em caso de
legítima defesa, própria ou de outrem;
g) o empregador reduzir o seu trabalho, sendo este por peça ou tarefa, de forma
a afetar sensivelmente a importância dos salários.
§ 1º - O empregado poderá suspender a prestação dos serviços ou rescindir o
contrato, quando tiver de desempenhar obrigações legais, incompatíveis com a
continuação do serviço.
§ 2º - No caso de morte do empregador constituído em empresa individual, é
facultado ao empregado rescindir o contrato de trabalho.
§ 3º - Nas hipóteses das letras "d" e "g", poderá o empregado pleitear a rescisão
de seu contrato de trabalho e o pagamento das respectivas indenizações,
permanecendo ou não no serviço até final decisão do processo.
Pressupostos para aplicação da
Justa Causa
→ Gravidade da falta
→ Proporcionalidade entre a falta e a punição
→ Non bis in idem
→ Não discriminação
→ Vinculação
→ Imediatidade ou contemporaneidade
→ Ausência de perdão
→ Prejuízo
JURISPRUDÊNCIA
JUSTA CAUSA. A justa causa é a maior penalidade aplicada pelo empregador no uso de seu poder diretivo, uma
vez que extingue o contrato de trabalho e tem efeito de pena na vida do trabalhador. Assim, a falta grave que
motiva a dispensa por justa causa deve observar os princípios da proporcionalidade e razoabilidade, o que
ocorre in casu, uma vez que a recusa da reclamante em assumir posto de serviço denota insubordinação grave,
pois atinge o poder de comando da 1ª reclamada. (...) (TRT-1 - RO: 00017038120115010242 RJ, Relator: Alvaro
Luiz Carvalho Moreira, Data de Julgamento: 12/11/2014, Sétima Turma, Data de Publicação: 19/11/2014)

JUSTA CAUSA. DESÍDIA. VIGILANTE NOTURNO. DORMIR EM SERVIÇO. CARACTERIZADA. O reclamante foi
contratado para exercer a função de vigilante. Dessa forma, a conduta desidiosa reveste-se de maior gravidade,
eis que, ao dormir durante a jornada de trabalho, colocou em risco o patrimônio que deveria guardar por força
da função exercida. Saliente-se, outrossim, que o episódio que motivou a dispensa por justa causa não se trata
de um simples "cochilo", pois o reclamante abandonou seu posto para recolher-se mais comodamente no sofá,
além de ser reincidente em tal conduta. Assim, existindo comprovação da falta grave cometida pelo obreiro,
correta a dispensa por justa causa (TRT-2 - RO: 00020667220145020036 SP, Relator: SORAYA GALASSI LAMBERT,
Data de Julgamento: 14/10/2015, 16ª TURMA, Data de Publicação: 20/10/2015)

JUSTA CAUSA. ÔNUS DA PROVA. Em razão do princípio da continuidade da relação de emprego (Súmula 212 do
TST), cumpre ao empregador a comprovação da desídia cometida pelo obreiro no exercício do contrato de
trabalho. Não configurada a falta grave, deve ser rechaçada a justa causa
(TRT-1 - RO: 00108308520135010561 RJ, Relator: CLAUDIA REGINA VIANNA MARQUES BARROZO, Data de
Julgamento: 20/05/2015, Sétima Turma, Data de Publicação: 16/06/2015)
JUSTA CAUSA. Na justa causa, o "onus probandi" é do empregador e, como máxima penalidade no contrato de
trabalho, exige motivação plausível e certeza quanto à responsabilidade do ato apontado como faltoso,
mostrando-se irregular o exercício do poder disciplinar do empregador quando não comprovado o
cometimento das condutas tipificadas no artigo 482 da CLT. Se o empregador age sem observar a gradação da
pena e a proporcionalidade entre o ato do trabalhador e a punição, dá azo ao afastamento da justa causa. (TRT-
1 - RO: 00115312720145010071 RJ, Relator: RAQUEL DE OLIVEIRA MACIEL, Terceira Turma, Data de Publicação:
28/04/2017)

COMPROVADOS OS FATOS ENSEJADORES DA JUSTA CAUSA. A justa causa, por tratar-se de pena máxima que
fulmina o contrato de trabalho, desafia prova robusta do cometimento de atos faltosos por ambas as partes,
empregado e empregador, de tal monta, que torne insustentável a manutenção do vínculo laboral. No caso em
comento, a testemunha ouvida nos autos comprovou os fatos que ensejaram a justa causa. (TRT-1 - RO:
00107179720145010076 RJ, Relator: VALMIR DE ARAUJO CARVALHO, Data de Julgamento: 23/05/2018,
Gabinete do Desembargador Valmir de Araujo Carvalho, Data de Publicação: 05/06/2018)

RECLAMAÇÃO TRABALHISTA ANTERIOR À LEI 13.467/2017. JUSTA CAUSA. ÔNUS DA PROVA. A ocorrência de
falta do empregado que justifique a resolução do contrato de trabalho deve ser comprovada pelo empregador,
a quem cabe o ônus da prova, a teor do art. 818 da CLT, c/c art. 373, II, do CPC/15. Considerando-se que a justa
causa constitui a penalidade máxima aplicada ao trabalhador, retirando-lhe vários direitos inerentes ao vínculo,
e, no caso, também, acarretando a perda da sua estabilidade provisória no emprego, sua comprovação não
pode ficar na superficialidade das alegações, das circunstâncias e dos indícios. É necessária a prova
incontestável do fato e do seu enquadramento nas hipóteses do art. 482 da CLT. No presente caso, não restou
suficientemente comprovada a conduta faltosa do reclamante, diversamente do que procura fazer crer a
reclamada. Recurso autoral conhecido e provido. (TRT-1 - RO: 01000261020175010017 RJ, Relator: SAYONARA
GRILLO COUTINHO LEONARDO DA SILVA, Data de Julgamento: 09/05/2018, Gabinete da Desembargadora
Sayonara Grillo Coutinho Leonardo da Silva, Data de Publicação: 23/05/2018)
JUSTA CAUSA. INDISCIPLINA. MANOBRA EM CARRO DE MORADORES PROIBIDA PELAS NORMAS DO CONDOMÍNIO. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DO CONHECIMENTO PELO
EMPREGADO DA ORDEM EMANADA PELO EMPREGADOR. Não foi demonstrado que o autor tenha cometido ato de indisciplina, pois não teve ciência da ordem. Ademais, houve
discriminação na penalidade aplicada, pois era praxe a manobra dos carros pelos porteiros, não tendo sido aplicada justa causa aos demais empregados que cometeram o mesmo ato. O
prejuízo ao veículo não é grave o suficiente para justificar a aplicação da pena máxima ao empregado. (...) (TRT-1 - RO: 00013578420125010052 RJ, Relator: Volia Bomfim Cassar, Data de
Julgamento: 06/11/2013, Segunda Turma, Data de Publicação: 14/11/2013)

JUSTA CAUSA. CONTEMPORANEIDADE. PUNIÇÃO POSTERIOR AO AJUIZAMENTO DA RECLAMAÇÃO: Insubsistência. Na hipótese vertente, em que pese a primeira ré ter afirmado que a
autora não mais compareceu ao serviço a partir de meados de novembro, somente convocou-a para retornar ao trabalho no dia 10 de janeiro de 2014, ou seja, quando já transcorridos
muito mais de trinta dias do afastamento e, ainda, quando já ajuizada a demanda sob exame. Logo, não há como afirmar que a autora tivesse a intenção de abandonar o emprego, se
antes do trintídio legal já havia ajuizado esta ação. Não bastassem tais aspectos, observa-se que a empresa não formalizou a ruptura do contrato de trabalho, como lhe competia, nem o
ajuizamento da competente ação de consignação em pagamento. Se o empregador, ciente da falta do empregado não a pune e só vem a fazê-lo após o ajuizamento da reclamação, há
violação à exigência de contemporaneidade entre a ciência da falta e sua punição, a qual está na fundamentação do princípio do perdão tácito. Relator: Juiz Convocado Eduardo Henrique
Raymundo von Adamovich Recorrente: Verzani & Sandrini Ltda. Recorridos: Ângela Tiago Santiago Condomínio Geral Norte Shopping (TRT-1 - RO: 00114068720135010073 RJ, Data de
Julgamento: 26/01/2016, Nona Turma, Data de Publicação: 01/03/2016)

JUSTA CAUSA. A justa causa é conceituada pela melhor doutrina como sendo todo ato faltoso grave, praticado por uma das partes na relação de emprego, que autorize a outra a resolver
o contrato de trabalho, sem ônus para o denunciante. Para ser acolhida judicialmente, a justa causa, como pena capital aplicável à relação subordinada de trabalho, deve ser
robustamente comprovada pelo empregador, o que não ocorreu na presente relação processual.
(TRT-1 - RO: 01002855520175010065 RJ, Relator: ALVARO LUIZ CARVALHO MOREIRA, Data de Julgamento: 27/11/2018, Gabinete do Desembargador Alvaro Luiz Carvalho Moreira, Data
de Publicação: 12/12/2018)

RECURSO ORDINÁRIO DO RECLAMANTE. RUPTURA CONTRATUAL. DISPENSA POR JUSTA CAUSA. CONDUTA TIPIFICADA NA ALÍNEA J, DO ARTIGO 482 DA CLT COMPROVADA. Tratando-se de imputação
que macula a vida profissional do trabalhador, deve ser cabalmente demonstrada, de forma que emerja dos autos, de forma cristalina, que sua conduta inviabilizou o prosseguimento da relação de
emprego. Nesse sentido, produzidas pela reclamada provas testemunhais que corroboram a tese alusiva à prática de falta grave pelo reclamante, suficiente à justa ruptura do contrato de trabalho,
observadas a imediatidade da punição e a proporcionalidade entre a falta e a sanção aplicada, imperiosa a manutenção da r. sentença. Recurso Ordinário do reclamante conhecido e não provido.
(TRT-1 - RO: 00113256520155010301, Relator: MARCIA LEITE NERY, Data de Julgamento: 31/01/2017, Quinta Turma, Data de Publicação: 08/02/2017)

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