Você está na página 1de 10

Tribunal Regional do Trabalho da 12ª Região

Tribunal Regional do Trabalho da 12ª Região

O documento a seguir foi juntado aos autos do processo de número 0001093-09.2020.5.12.0011


em 19/11/2020 14:20:16 - 7dfd135 e assinado eletronicamente por:
- ALEXANDRE OLIVEIRA FERREIRA

Consulte este documento em:


https://pje.trt12.jus.br/primeirograu/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam
usando o código:20111914134738500000038418302
EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUÍZ(A) DA
__VARA FEDERAL DO TRABALHO DE RIO DO SUL-SC

JOSIANE ALVES, CPF/MF 089.310.419-18 e


RG. 6685222 SSP/SC, residente e domiciliada na Rua 15
de novembro, nº471, bairro centro, CEP. 89.188-000,
Agronômica-SC, por seu advogado infra assinado, vem
propor a presente

RECLAMAÇÃO TRABALHISTA

em face de DEIVID JOSÉ DA SILVA (POSTO CENTRO),


empresário individual, inscrito no CNPJ nº
23.311.430/0002-00, localizada na Rua Quinze de
Novembro, nº 337, Agronômica-SC, CEP 89.188-000, com os
seguintes fundamentos de fato e de direito carreados à
colação infra.

1
DOS FATOS
A reclamante começou a trabalhar para a
reclamada em 03/04/2020, porém somente teve a sua CTPS
assinada em 22/05/2020 - em fraude aos preceitos
consolidados na legislação trabalhista - para exercer o
cargo de operadora de caixa, recebendo como salário
base R$1.156,00 (um mil e cento e cinquenta e seis
reais).

Laborava das 06h00min até 13h30min,


de segunda à sábado, e de 08h00min às 20h00min aos
domingos e feriados, excedendo portanto ao limite de 44
(quarenta e quatro) horas por semana.

Vale ressaltar Excelência, nos chamam


atenção os inúmeros fatos ocorridos que permearam
uma relação de trabalho extremamente abusiva. Tendo
como "fórmula" o rigor excessivo, acúmulo de funções,
carga horária superior a permitida e assédio sexual
praticado por clientes, sob omissão do empregador.

A Reclamante trabalhou até o dia


24/10/2020, sem que tivesse havido até a presente data
o pagamento das verbas rescisórias previstas na CLT.

I. DA RESCISÃO INDIRETA

No tocante à análise da rescisão


indireta, quando da extinção do contrato por falta

2
grave do empregador, necessário se faz transcrever o
disposto no artigo 483 da Consolidação das Leis
Trabalhistas – CLT, na seguinte situação:

Art. 483 - O empregado poderá considerar


rescindido o contrato e pleitear a devida
indenização quando:

[...]

d) não cumprir o empregador as obrigações


do contrato;

É certo que o empregador que comete


falta grave, violando suas obrigações legais e
contratuais em relação ao empregado, gera a este, o
direito de pleitear a despedida indireta, com justo
motivo, com fundamento ilegal no ato praticado pelo
empregador.

Com efeito, além deste motivo, o seu


empregador permitia que os clientes tratassem
com desrespeito a reclamante. Sendo que muitos
proferiam intencionalmente palavras vexatórias, de
baixo corporal, insinuações de teor sexual, com o
objetivo de lhe constranger, humilhar, muitas vezes na
frente dos demais colegas de trabalho. O tempo todo
sendo desrespeitada, cobrada, explorada, um insulto
atrás do outro, tudo sob omissão do seu empregador.

Eram inúmeras as solicitações de


número de WhatsApp para clientes interessados que

3
ficavam sempre tentando algo, perguntando de onde a
reclamante era, onde morava, a sua idade. Isso sempre
aconteceu, 1, 2, 3, 4, 5 vezes por dia, sem contar as
expressões ofensivas de mais baixo corporal que se pode
imaginar, estava obrigada ouvir diariamente.

Ao agir desta forma, o empregador


atingiu frontalmente a dignidade da pessoa do
trabalhador, ao proferir as ofensas de natureza pessoal
anteriormente descritas.

Assim, diante da flagrante ofensa à


dignidade da pessoa da trabalhadora e do disposto à
legislação trabalhista, tornando inviável a convivência
harmônica entre as partes, sendo caracterizado pelo
desprezo e a falta de compromisso que foram tamanhas
pelo Empregador.

Ao se encontrar nesta situação,


desrespeitada e desesperada, pois não recebia suas
férias e demais verbas do contrato de trabalho, e
passava por constrangimento diário no local de
trabalho, vem requerer a rescisão indireta, tendo em
vista o cometimento de flagrante ilegalidade cometida
pela Reclamada, o que ensejara a Reclamante querer ser
dispensada. Desta feita, sendo esta a única solução
plausível, requer-se o término do contrato de trabalho,
com o pagamento de todas as verbas a Reclamante.

É o disposto no artigo 483, §3º, CLT,


“in verbis”:

4
§ 3º - Nas hipóteses das letras de g,
poderá o empregado pleitear a rescisão de
seu contrato de trabalho e o pagamento das
respectivas indenizações, permanecendo ou
não no serviço até final decisão
do processo. (Incluído pela Lei nº 4.825,
de 5.11.1965)

Não poderia ser diferente o


entendimento doutrinário, conforme as lições de
Maurício Godinho Delgado, a seguir:

“A lei não poderia ter pensado de


modos distintos, é claro: se há uma
infração do empregador, torna-se evidente
que o empregado, ao propor sua
ação resolutória, pode afastar-se do
emprego, indiferentemente do tipo jurídico
invocado. É que a falta, caso
efetivamente ocorrida, torna difícil,
constrangedora ou, até mesmo, insustentável
a relação entre as partes, por culpa
do comitente da infração, não se
justificando exigir-se do obreiro que
continue, passivamente, a se submeter
ao poder diretivo, fiscalizatório e
disciplinar intensos do empregador.” 1

Destarte, versando o contrato de


trabalho a respeito de rubricas de natureza
eminentemente alimentar, os princípios de probidade e
5
boa-fé inscritos no artigo 422 do Código Civil de 2002
– CC/02 possuem função integrativa e são plenamente
aplicáveis às relações de trabalho, rendendo ensejo à
conclusão de que comete abuso de direito quem contraria
a boa-fé.

Ante o teor do que dispõe a


Consolidação das Leis do Trabalho e a doutrina, a
Empregada considera rescindido o referido contrato,
e pleiteia a devida indenização, uma vez tornou-se
impossível e intolerável à continuação da prestação de
serviços, com o afastamento do ambiente de trabalho.

II. DAS VERBAS RESCISÓRIAS

Conforme acima exposto, o reclamante


foi dispensado pela reclamada sem justa causa, e, ao
contrário do que determina a lei, esta não lhe pagou as
verbas devidas no prazo determinado também pela lei.

O contrato de trabalho é protegido


pela própria Constituição Federal, que em seu artigo
7º, I, determina ser devida indenização ao trabalhador
quando imotivadamente dispensado. No inciso XXI do
mesmo artigo constitucional, foi também garantido ao
trabalhador o período de no mínimo 30 dias de aviso
prévio à demissão, sendo que a CLT, em seu artigo 487,
parágrafo 1º, estabelece que o empregado que for
dispensado de trabalhar durante este período deverá
receber o valor do salário correspondente.
6
A doutrina é pacífica quanto aos
direitos do empregado dispensado sem justa causa, o que
se pode extrair da lição do doutrinador Sérgio Pinto
Martins: "O empregador pode dispensar o empregado sem
justa causa, cessando assim, o contrato de trabalho.
Para tanto, porém, deverá pagar as reparações
econômicas pertinentes." E assim prossegue, enumerando
a quais verbas fazem jus tal empregado: "Terá direito o
empregado a aviso prévio, salário proporcional, férias
vencidas e proporcionais, saldo de salários, FGTS e
indenização de 40%." (Direito do Trabalho, São Paulo:
Atlas, 2004, p. 639.)

Ressalta-se que a reclamante laborou


até o dia 24.10.2020, havendo saldo de salário a
receber, porém não pago, conforme já mencionado nos
fatos.

No tocante ao prazo para o pagamento


do valor devido, a CLT estabelece em seu artigo 477,
parágrafo 6º, que as referidas verbas deverão ser pagas
em até dez dias úteis quando dispensado o cumprimento
do aviso prévio, cominando, em seu parágrafo 8º, multa
equivalente ao salário do trabalhador em caso de
descumprimento desta determinação. Ora, este é o caso
do reclamante que até a presente data não recebeu
qualquer valor, pelo que também faz jus ao recebimento
da referida multa.

Requer, portanto, seja condenada a


reclamada ao pagamento de todas as verbas rescisórias a
7
que tem direito o reclamante (saldo de salário, aviso
prévio, 13º salário proporcional, seguro desemprego,
férias proporcionais acrescidas do terço
constitucional, FGTS e multa de 40% e multas dos arts.
477 e 467 da CLT, bem como às contribuições sobre os
salários devidos, conforme valores ao final
especificados).

DO PEDIDO

1) A anotação em CTPS e reconhecimento do vínculo


empregatício no período de 03/04/2020 até 21/05/2020;

2) Os benefícios da justiça gratuita, sendo certo que a


Reclamante não possui condições de arcar com os ônus
processuais sem prejuízo do seu sustento e de sua
família, requer se digne Vossa Excelência de deferir-
lhe os benefícios da Justiça Gratuita;

3)Instruída e provada a presente reclamatória, espera-


se que a reclamada seja condenada em juros e correção
monetária, bem como em custas judiciais e honorários
advocatícios sucumbenciais na base de 15% (quinze por
cento) sobre o valor da condenação.

4) Requer o reconhecimento da declaração da rescisão


indireta do contrato de trabalho, com fulcro na alínea
“d” do artigo 483 da CLT, tendo em vista o não
cumprimento das obrigações trabalhistas, condenando ao
pagamento das verbas rescisórias.

8
5)A condenação da Reclamadas ao pagamento das verbas
abaixo elencadas:

Atribuí-se à causa o valor de


R$12.121,24 (doze mil, cento e vinte e um mil reais e
vinte e quatro centavos).
Termos em que;
Roga deferimento.
Agronômica-SC, 19 de novembro de 2020.

ALEXANDRE OLIVEIRA FERREIRA


OAB/PA 21.250
9

Você também pode gostar