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As multas dos art.

467 e 477 da CLT são


devidas na rescisão indireta?
HENRIQUE CORREIA

Henrique Correia1

1. Introdução
A rescisão indireta é hipótese de resolução do contrato de trabalho por ato faltoso
da empresa que traz uma série de consequências à relação de emprego. Sobre o tema, há
diversos questionamentos quanto ao pagamento das multas rescisórias previstas nos art.
467 e 477, § 8º da CLT nessa hipótese de término do contrato de trabalho.
Gostaria de fazer um agradecimento especial aos alunos da Pós-Graduação
Profissional em Direito e Processo do Trabalho do Aprovação PGE e da Faculdade
Metropolitana pelo debate sobre rescisão indireta realizado na aula ao vivo, que viabilizou
a produção deste trabalho2.
Nesse sentido, o presente artigo tem o objetivo de analisar o pagamento das multas
dos art. 467 e 477, § 8º, da CLT na rescisão indireta. Como objetivos específicos, serão
estudadas a rescisão indireta do contrato de trabalho e seus efeitos, a necessidade de
ajuizamento da reclamação trabalhista para reconhecimento da justa causa patronal e a
disciplina jurídica das multas dos art. 477 e 467 da CLT. Por fim, será analisada a
viabilidade de cobrança dessas multas na rescisão indireta.

2. Rescisão indireta do contrato de trabalho


A rescisão indireta do contrato de trabalho ou justa causa patronal consiste no
término do contrato por ato faltoso do empregador. É a hipótese “delicada e
desconfortável em que o empregador, de tanto abusar, provoca no empregado o desejo de
se retirar do emprego que lhe garante o sustento, mas que já não lhe garante dignidade”3.

1
Henrique Correia. Procurador do Trabalho. Professor de Direito do Trabalho. Site:
www.henriquecorreia.com.br
2
Confira nossa Pós-Graduação no site: https://posgraduacaoapge.com.br/
3
SILVA, Homero Batista Mateus da. Curso de Direito do Trabalho aplicado. 3. ed. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2015. p. 301.

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devidas na rescisão indireta?
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Note-se que a rescisão indireta não se confunde com o pedido de demissão, pois,
neste último, o empregado deseja pôr fim ao contrato por vontade própria (resilição), seja
porque está descontente com o emprego atual, seja para buscar novas oportunidades de
trabalho. Na rescisão indireta, o empregador pratica uma conduta que torna inviável a
manutenção do vínculo de emprego e dá o direito ao trabalhador de colocar fim ao
contrato.
De acordo com o Maurício Godinho Delgado, devem ser cumpridos alguns
requisitos para a configuração da rescisão indireta:
a) Tipicidade da conduta: o ato que deu ensejo ao término do contrato de trabalho
deve se enquadrar nas alíneas do art. 483 da CLT (requisito objetivo);
b) Gravidade da conduta: para o reconhecimento da justa causa patronal é
necessário que a conduta seja considerada grave. Se a falta do empregador ocorre,
mas é leve, não será reconhecida rescisão indireta (requisito objetivo).
c) Autoria empresarial: a falta deve ser praticada pelo empregador ou por seus
prepostos ou chefias
d) Dolo ou culpa: devem ser analisadas de forma abstrata, ou seja, se o empregador
tinha ou não conhecimento da conduta faltosa praticada, sendo irrelevante que esse
saiba se haviam motivos que justificavam o inadimplemento, como crises
econômicas, recessões etc.

Assim, pelo cometimento de condutas ilícitas ou pelo abuso do poder do


empregador por meio das condutas descritas no art. 483 da CLT, haverá o reconhecimento
da rescisão indireta4:
1. forem exigidos serviços superiores às suas forças, defesos por lei, contrários
aos bons costumes, ou alheios ao contrato. Para fins didáticos, interessante dividir
essa hipótese:
a) Serviços superiores às forças do trabalhador. O menor e a mulher não podem
trabalhar em atividades que demandem o emprego de força muscular superior a 20
quilos em trabalho contínuo, ou 25 quilos em trabalho ocasional. O homem não pode
ser obrigado a remover peso superior a 60 quilos. Aliás, tem sido dada interpretação
ampliativa a essa hipótese, não se restringindo apenas à força física, como também

4
CORREIA, Henrique. Curso de Direito do Trabalho. 6. ed. Salvador: Juspodivm, 2021.

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à exigência de trabalhos intelectuais superiores às forças do empregado ou, ainda,
com prazos extremamente curtos.
b) Serviços defesos em lei: exigir do menor de 18 anos trabalho insalubre e
perigoso.
c) Serviços contrários aos bons costumes: obrigar a secretária a manter relações
sexuais com os clientes da empresa.
d) Serviços alheios ao contrato: empregado contratado como telefonista é obrigado
a ministrar aulas de matemática para os alunos do cursinho.
2. for tratado pelo empregador ou por seus superiores hierárquicos com rigor
excessivo. Ocorre quando o empregado é perseguido ou, ainda tratado com
intolerância pelo seu empregador. Exemplo: atos de discriminação, punições
desproporcionais e assédio moral.
3. correr perigo manifesto de mal considerável. Nesse caso, o trabalhador presta
serviços com provável risco à sua integridade física. Exemplo: empregado que
trabalha em locais insalubres e perigosos sem os devidos equipamentos de proteção.
4. não cumprir o empregador as obrigações do contrato. O descumprimento das
obrigações do contrato deve ser interpretado de forma ampla, pois o empregador,
quando descumpre a legislação trabalhista, acordos e convenções coletivas,
possibilita que o empregado peça rescisão indireta. Caso mais frequente dessa falta
cometida pelo empregador é atraso do salário. Cabe ressaltar que o pagamento dos
salários atrasados, em audiência judicial, não afasta a rescisão indireta. Outros
exemplos: falta de anotação da CTPS e ausência dos depósitos do FGTS.
5. praticar o empregador ou seus prepostos, contra ele ou pessoas de sua
família, ato lesivo da honra e boa fama. Atos que configuram, na esfera penal,
calúnia, injúria e difamação contra o trabalhador e pessoas de sua família. Não é
necessário que haja condenação criminal.
6. houver ofensa física. Agressão física ao trabalhador enseja rescisão indireta,
exceto se em legítima defesa. Não se exige condenação criminal, nem mesmo que
dessa agressão resulte ferimentos ao empregado.
7. o empregador reduzir o seu trabalho, sendo este por peça ou tarefa, de forma
a afetar sensivelmente a importância dos salários. Trata-se de redução indireta do
salário, o que é vedado ainda pelo art. 7º, VI, da Constituição Federal.

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Se ocorrer qualquer uma das condutas anteriores, configurando a rescisão indireta,


o empregado deixará imediatamente o serviço5. Há duas situações, expressamente
previstas na CLT, que possibilitam que o trabalhador permaneça prestando serviços até
que seja declarada judicialmente a rescisão indireta:
a) quando o empregador descumprir as obrigações contratuais;
b) quando houver redução do trabalho por peça ou tarefa.

Cabe ressaltar que há discussão na doutrina acerca da paralisação das atividades


pelo empregado quanto às demais hipóteses que não estão previstas em lei 6:
1ª corrente (majoritária): o empregado deve deixar de trabalhar quando
configurada a justa causa patronal. Justificam esse posicionamento no sentido
de que o legislador já escolheu as hipóteses em que era possível a
permanência no emprego.
2ª corrente: o empregado poderá optar no caso concreto se deixa ou não o
trabalho. Somente ele poderá analisar se terá condições ou não de continuar
trabalhando.
Destaca-se que a Nova Lei dos Domésticos (LC nº 150/2015) criou uma nova
hipótese que justifica o término do contrato de trabalho doméstico por culpa do
empregador:
Art. 27, parágrafo único, VII: o empregador praticar qualquer das formas de violência
doméstica ou familiar contra mulheres de que trata o art. 5º da Lei nº 11.340, de 7 de agosto
de 2006.

Também em decorrência do estreito laço de confiança criado e pelo trabalho


realizado na residência do empregador, é necessária a proteção das mulheres contra

5
. “O entendimento francamente majoritário é no sentido de que a regra deve ser a extinção imediata do
contrato de trabalho, ou seja, a cessação da prestação de serviços, não se podendo aguardar a decisão
judicial a respeito, justamente por se tratar de justa causa patronal. Esta, como se sabe, deve ser grave,
inviabilizando a continuidade do vínculo de emprego. Haveria uma nítida contradição se o empregado
pudesse permanecer no labor e, ao mesmo tempo, requerer a rescisão indireta do contrato de trabalho.”
GARCIA, Gustavo Felipe Barbosa. Curso de Direito do Trabalho. São Paulo: Método, 2007. p. 405.
6
MOURA, Marcelo. Curso de Direito do Trabalho. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 322.

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eventuais atos de violência contra a mulher, como elencado no art. 5º da Lei Maria da
Penha:
Art. 5º. Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a mulher
qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico,
sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial:

I – no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio permanente


de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas;

II – no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são
ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade
expressa;

III – em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com
a ofendida, independentemente de coabitação.

2.1. Verbas rescisórias devidas na rescisão indireta


A rescisão indireta tem como importante efeito prático assegurar as mesmas verbas
devidas ao empregado que é dispensado sem justa causa. Sendo reconhecida a rescisão
indireta, o empregado poderá pleitear as parcelas a seguir:
• Saldo de salário (dias efetivamente trabalhados);
• Décimo terceiro salário proporcional;
• Férias + ⅓ vencidas, se houver.
• Férias + ⅓ proporcionais;
• Aviso-prévio;
• Saque dos depósitos do FGTS;
• Indenização de 40% sobre os depósitos do FGTS;
• Direito ao benefício do seguro-desemprego, desde que atenda aos requisitos
próprios estabelecidos na legislação previdenciária.

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2.2. Ajuizamento de reclamação trabalhista para reconhecimento da rescisão


indireta
É importante destacar que a CLT não tem previsão específica sobre a necessidade
ou não do ajuizamento da reclamação trabalhista para declarar a falta grave do
empregador.
Diferentemente do empregador que tem à sua disposição a possibilidade de exercer
o poder disciplinar e aplicar a dispensa por justa causa independentemente do ajuizamento
de ação, os trabalhadores têm pouca margem de reivindicação sem ingressar na Justiça
do Trabalho.
Na prática trabalhista, verifica-se que o ingresso da ação judicial é indispensável,
pois os empregadores não reconhecem espontaneamente que praticaram a falta grave,
impossibilitando, assim, o pagamento das verbas rescisórias ao trabalhador.
Ademais, a data do término do contrato de trabalho e o pagamento das verbas
rescisórias serão fixados na sentença judicial pela Justiça do Trabalho.
A doutrina sustenta a necessidade de se respeitar o princípio da imediaticidade para
a rescisão indireta, ou seja, o empregado deve arguir a rescisão indireta imediatamente
após a prática da falta greve pelo empregador7.
É importante destacar que o ajuizamento da ação em período muito posterior ao seu
efetivo afastamento do trabalho teria como consequência a falta de imediatidade da
medida e a ausência do reconhecimento da falta grave patronal8. Além disso, podem
surgir questionamentos quanto ao abandono de emprego do trabalhador com o
ajuizamento da ação após mais de 30 dias do afastamento de suas atividades.
No entanto, é importante o posicionamento de Maurício Godinho Delgado9, que
sustenta a possibilidade de ajuizamento posterior da reclamação trabalhista a depender da
lesão provocada pelo empregador. É possível citar como exemplo a hipótese de abuso
sexual da empregada, que demora para levar a público o ocorrido, o que justificaria por
conta da lesão sofrida o ajuizamento tardio da reclamação.

7
RESENDE, Ricardo. Direito do Trabalho esquematizado. 3. ed. São Paulo: Método, 2013. p. 665.
8
DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalh. 17. ed. São Paulo: LTr, 2017. p. 1.461.
9
DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalh. 17. ed. São Paulo: LTr, 2017. p. 1.463.

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As multas dos art. 467 e 477 da CLT são
devidas na rescisão indireta?
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Por fim, é importante destacar que, se o pedido de rescisão indireta não for
reconhecido em juízo, ou seja, se a reclamação for julgada improcedente, ocorrerá o
término do contrato de trabalho por pedido de demissão do empregado.
Consequentemente, haverá com o pagamento das verbas rescisórias correspondentes a
essa modalidade de resilição do contrato de trabalho. Há, ainda, aqueles que sustentam
que a improcedência do pedido de rescisão indireta corresponderia ao reconhecimento do
abandono de emprego a justificar a dispensa por justa causa. Concordamos com o autor
Marcelo Moura de que esse posicionamento não é razoável, pois o empregado nunca teve
a intenção de abandonar seu emprego, faltando o elemento subjetivo dessa modalidade
de extinção10.
Feitas as considerações acerca da rescisão indireta e de seus efeitos para o contrato
de trabalho, passaremos à análise da multa devida diante do atraso no pagamento as
verbas rescisórias prevista no art. 477, § 8º da CLT e sua aplicação na rescisão indireta.

3. Multa do art. 477, § 8º, da CLT


De acordo com o art. 477, § 6º da CLT, o empregador tem o prazo de 10 dias
contados a partir do término do contrato de trabalho para o cumprimento das obrigações
decorrentes do término do contrato, devendo o empregador dentro desse período:
a) realizar a entrega ao empregado de documentos, que comprovem a comunicação da
extinção do contrato de trabalho aos órgãos competentes; e

b) efetuar o pagamento dos valores constantes do instrumento de rescisão ou recibo de


quitação.

Vale ressaltar que a Reforma Trabalhista (Lei nº 13.467/2017) unificou os prazos


para pagamento das verbas rescisórias independentemente da forma do aviso prévio
concedido, o que assegura maior segurança jurídica ao empregador, pois não há diferença
no tratamento em relação à modalidade de extinção do contrato de trabalho, devendo ser
realizado dentro do prazo de 10 dias contados do término do contrato de trabalho.
Se o empregador descumprir o prazo para pagamento das verbas rescisórias, será
obrigado ao pagamento de multa no valor equivalente ao salário do empregado, exceto
se, comprovadamente, foi o trabalhador quem deu causa ao atraso do pagamento.

10
MOURA, Marcelo. Curso de Direito do Trabalho. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 324.

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Importante ressaltar que essa multa, prevista no art. 477, § 8º, da CLT, incide nos
contratos por prazo determinado e indeterminado, inclusive nos casos em que a rescisão
contratual tenha ocorrido por justa causa do trabalhador.
Destaca-se que a Reforma Trabalhista manteve intacta a multa do art. 477, § 8º da
CLT que deverá ser aplicada na hipótese de atraso no pagamento das verbas rescisórias.

3.1. A questão da multa do art. 477, § 8º, da CLT e a rescisão indireta


Há grande controvérsia quanto ao pagamento da multa do art. 477, § 8º, da CLT na
rescisão indireta. A análise do assunto ganhou relevância prática após a Reforma
Trabalhista, pois, com a possibilidade de pagamento de honorários sucumbenciais pelo
reclamante, a formulação do pedido dessa multa deve ser realizada com cautela.
É importante diferenciar sucumbência recíproca e sucumbência parcial 11. A
sucumbência recíproca ocorre quando o reclamante obtém procedência parcial de seus
pedidos, de modo que se torna vencedor e vencido na demanda. Nesses casos, ambas as
partes deverão pagar honorários advocatícios, divididos proporcionalmente entre eles
(CPC, art. art. 86, caput).
Por sua vez, a sucumbência parcial ocorre quando há um pedido e, dentro dele, a
parte obtém vitória em apenas parte dele. Nessa hipótese, tem-se entendido que, apesar
de ter ganho parcialmente o valor, a parte saiu vitoriosa e receberá, portanto, honorários
da parte contrária apenas.
Note-se que a multa do art. 477 da CLT consiste em um pedido autônomo e,
portanto, se for julgado improcedente haverá sucumbência do trabalhador nesse caso.
Consequentemente, terá que pagar honorários sucumbenciais para o advogado da
reclamada.
Existem basicamente duas correntes sobre o tema que serão apresentadas a seguir:

3.1.1. 1ª corrente: É incabível a multa do art. 477, § 8º, da CLT na rescisão indireta

11
MIESSA, Élisson. Curso de Direito Processual do Trabalho. 8. Ed. Salvador: Juspodivm, 2021.

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devidas na rescisão indireta?
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Nesse caso, sustenta-se que há dúvida quanto ao término do contrato de trabalho e


quanto à forma de pagamento das verbas rescisórias. Tendo em vista que a rescisão
indireta é reconhecida em juízo, a empresa desconhece a data exata para efetuar o
pagamento das verbas rescisórias. Dessa forma, não poderia ser cobrada para pagamento
dentro do prazo de 10 dias do art. 477, § 6º, da CLT e sofrer a penalidade da multa.
Diante da dúvida quanto à data de pagamento, haveria a possibilidade de a empresa
ajuizar ação de consignação em pagamento para pagamento das verbas rescisórias que
entender cabível.
Vale ressaltar que o Tribunal Regional do Trabalho da 11ª Região tem súmula que
estabelece a inaplicabilidade da multa do art. 477, § 8º, da CLT quando a rescisão indireta
é reconhecida em juízo:
Súmula nº 10 do TRT da 11ª Região. Multa rescisórias indevida na
despedida indireta.
Inaplicável a multa prevista no art. 477, § 8º, da CLT, quando reconhecida
em juízo a rescisão indireta do contrato de trabalho.

3.1.2. 2ª corrente: É cabível a multa do art. 477, § 8º, da CLT na rescisão indireta
Para essa corrente majoritária, a retirada da multa corresponderia a uma dupla
penalização ao trabalhador, pois, além de sofrer a falta grave cometida por seu
empregador, não haveria consequências para o atraso no pagamento de suas verbas
rescisórias. Além disso, sustenta-se que a CLT não excluiu o pagamento dessa multa na
hipótese de rescisão indireta.
Por fim, é feita ainda analogia com o posicionamento do TST na Súmula nº 452,
que assegura o pagamento da multa do art. 477 da CLT na hipótese de reconhecimento
judicial do vínculo de emprego. Nesse caso, a decisão a Justiça do Trabalho apenas
declara a relação empregatícia já existente e tem, por isso, efeitos “ex tunc”, retroagindo
até o início do contrato de trabalho. Logo, é dever do empregador pagar as verbas
rescisórias no prazo. Analogicamente, a decisão que reconhece a rescisão indireta
também teria efeitos “ex tunc” e, portanto, era dever do empregador o respeito ao prazo
do art. 477, § 6º, da CLT para pagamento, permitindo a aplicação da multa.

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As multas dos art. 467 e 477 da CLT são
devidas na rescisão indireta?
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No âmbito dos TRTs, segue essa corrente a Súmula nº 61 do TRT da 10ª Região
que prevê que a multa do art. 477, § 8º, da CLT incide na hipótese de rescisão indireta do
contrato quando inobservados os prazos do art. 477, § 6º, da CLT:
Súmula nº 61 do TRT da 10ª Região: Verbas rescisórias. Pagamento. Multa
do artigo 477, § 8º, da CLT. Hipóteses de aplicação.
I - A multa prevista no art. 477, § 8º, da CLT, é devida quando inobservados
os prazos fixados em seu § 6º, incluindo as hipóteses de reconhecimento
judicial do vínculo de emprego, da rescisão indireta do contrato, da
conversão da dispensa por justa causa em rescisão imotivada do contrato e
da simulação, pelo empregador, capaz de obstar, no todo ou em parte, o
recebimento das parcelas asseguradas em lei ao empregado.
II - A cominação não incide, todavia, no reconhecimento, por sentença, de
diferenças reflexas de verbas rescisórias e quando realizado o depósito da
quantia devida ou ajuizada ação de consignação em pagamento, nos prazos
previstos em seu § 6º, alíneas "a" e "b", salvo previsão contrária em norma
coletiva de trabalho.
Note-se, portanto, que o tema não é pacífico e ainda suscita diversas discussões,
inclusive com posicionamentos conflitantes na jurisprudência dos Tribunais Regionais do
Trabalho. Quanto ao posicionamento do TST, há a tendência em se admitir a multa do
art. 477, § 8º da CLT sob o argumento de que a discussão quanto à modalidade do término
do contrato de trabalho não afasta a sua aplicação. Abaixo, destacamos alguns
posicionamentos do TST:

RECURSO DE REVISTA. RESCISÃO INDIRETA DO CONTRATO DE


TRABALHO. MULTA PREVISTA NO ART. 477, § 8º, DA CLT.
CABIMENTO. Esta Corte tem o entendimento de que a multa prevista no art. 477,
§ 8º, da CLT é devida nos casos em que o empregador deixa de efetuar o correto
pagamento das verbas rescisórias no prazo definido no § 6º do referido dispositivo.
A condenação ao pagamento da multa só não ocorrerá se o empregado tiver dado
causa à mora. MULTA PREVISTA NO ART. 467 DA CLT. RESCISÃO
INDIRETA. É entendimento desta Corte que a existência de controvérsia quanto à

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devidas na rescisão indireta?
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modalidade da rescisão do contrato de trabalho afasta a incidência da multa prevista
no artigo 467 da CLT.
Recurso de Revista de que se conhece em parte e a que se dá provimento. (RR - 371-
17.2019.5.08.0012, 8ª Turma, Relator: Ministro João Batista Brito Pereira, Data de
julgamento: 17/03/2021)

RECURSO DE REVISTA. MULTA DO ART. 477, § 8º, DA CLT. RESCISÃO


INDIRETA. A jurisprudência desta Corte Superior firmou-se no sentido de que a
circunstância de a rescisão indireta do contrato de trabalho ser reconhecida em juízo
não obsta a aplicação da multa prevista no art. 477, § 8º, da CLT, não sendo devida
esta apenas quando o empregado comprovadamente der causa à mora. Recurso de
revista de que se conhece e a que se dá provimento. (RR - 1241-44.2011.5.01.0204,
4ª Turma, Relatora: Desembargadora Convocada Cilene Ferreira Amaro Santos,
Data de julgamento: 05/04/2017)

RECURSO DE REVISTA. RESCISÃO INDIRETA. MULTA PREVISTA NO


ART. 477, § 8º, DA CLT.
A controvérsia acerca da modalidade da rescisão contratual, na espécie a rescisão
indireta reconhecida em juízo, não afasta a incidência da multa prevista no art. 477,
§ 8º, da CLT, tendo em vista a inequívoca existência e liquidez do direito vindicado,
não podendo a mora pelo inadimplemento das verbas rescisórias ser atribuída ao
empregado. Precedentes.
Recurso de revista conhecido e a que se nega provimento. (RR nº 16200-
77.2009.5.04.0019, 1ª Turma, Relator: Ministro Walmir Oliveira da Costa, Data de
julgamento: 02/09/2015)

RECURSO DE REVISTA - MULTA DO ART. 477, § 8º, DA CLT –


RESCISÃO INDIRETA
A multa estipulada no art. 477, § 8º, da CLT é devida na hipótese em que houve
reconhecimento de rescisão indireta em juízo e o consequente não pagamento das
verbas rescisórias na época oportuna. Precedentes.

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devidas na rescisão indireta?
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Recurso de Revista conhecido e desprovido. (Processo: RR - 170500-
39.2013.5.13.0008, 8ª Turma, Relator: Desembargador Convocado João Pedro
Silvestrin, Data de julgamento: 03/09/2014)

Com isso, verifica-se que o TST tende a aplicar a multa do art. 477, § 8º, da CLT
na hipótese de rescisão indireta. Contudo, diante da controvérsia em âmbito dos TRTs,
há duas consequências:
a) âmbito individual: é possível suscitar a questão ao TST por meio de recurso de
revista para que seja adequado o julgamento ao posicionamento do tribunal;
b) âmbito coletivo: no intuito de produzir precedente judicial obrigatório que traria
maior segurança jurídica às partes da relação de emprego, o tema poderia ser
encaminhado para julgamento na condição de recurso de revista repetitivo diante da
divergência jurisprudencial existente.

4. Multa do art. 467 da CLT


No caso de rescisão do contrato de trabalho, o empregador é obrigado a pagar ao
empregado, na data do comparecimento à Justiça do Trabalho, a parte incontroversa, sob
pena de pagá-la acrescida de 50%. Trata-se da aplicação da multa do art. 467 da CLT.
Veja que essa obrigatoriedade consiste apenas na parte incontroversa das verbas
rescisórias:
Art. 467 da CLT. Em caso de rescisão de contrato de trabalho, havendo controvérsia
sobre o montante das verbas rescisórias, o empregador é obrigado a pagar ao
trabalhador, à data do comparecimento à Justiça do Trabalho, a parte incontroversa
dessas verbas, sob pena de pagá-las acrescidas de cinquenta por cento.

É importante destacar que há discussão quanto ao alcance do termo “verbas


rescisórias”. De acordo com Marcelo Moura 12, o termo deve se referir tão somente às
verbas que realmente decorrem do ato que põe fim ao contrato de trabalho, quais sejam:
saldo de salários, aviso-prévio, férias vencidas e proporcionais, 13º salário, indenização

12
. MOURA, Marcelo. Curso de Direito do Trabalho. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 362.

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As multas dos art. 467 e 477 da CLT são
devidas na rescisão indireta?
HENRIQUE CORREIA

por tempo de serviço, indenização do art. 479 da CLT (extinção antecipada do contrato
por prazo determinado por iniciativa do empregador) e multa de 20% ou 40% do FGTS.
Por outro lado, há decisão do TST no sentido de que salários vencidos de meses
anteriores à rescisão devem integrar a multa do art. 467 da CLT, caso incontroversos:
Multa do artigo 467 da CLT. Salários retidos. Verbas rescisórias
incontroversas. O artigo 467 da CLT determina que, em caso de rescisão de contrato
de trabalho, havendo controvérsia sobre o montante das verbas rescisórias, o
empregador é obrigado a pagar ao trabalhador, à data do comparecimento à Justiça
do Trabalho, a parte incontroversa dessas verbas, sob pena de pagá-las acrescidas de
cinquenta por cento. No caso, o Regional excluiu da condenação o pagamento da
multa prevista no artigo 467 da CLT sobre os salários retidos nos meses de julho,
outubro, novembro e dezembro de 2003, ao mero fundamento de que essa penalidade
incide apenas sobre os salários do próprio mês da resilição, e não aos salários dos
demais meses, ainda que incontroversos. Por outro lado, extrai-se das decisões
recorridas que os salários relativos aos meses de julho, outubro, novembro e
dezembro de 2003 se revelaram direito incontroverso nos autos e a reclamada
não efetuou o correto pagamento das verbas rescisórias na data do
comparecimento à Justiça do Trabalho. Assim, afigura-se juridicamente
razoável concluir-se pela exigibilidade da multa prevista no artigo 467 da CLT
sobre o valor dos salários retidos nos meses de julho, outubro, novembro e
dezembro de 2003, conforme pleiteado na petição inicial. Recurso de revista
conhecido e provido neste tema. Diferenças de salários. Pagamento a menor.
Ônus da prova. É ônus da reclamada comprovar o pagamento integral dos salários,
porquanto, na forma do artigo 464 da CLT, é a empresa que detém os recibos
salariais, que demonstram o pagamento correto dos salários à empregada. Aplica-se,
nesses casos, o princípio da aptidão para a prova. Entretanto, ainda que, na hipótese
vertente, o Regional tenha indeferido o pagamento de diferenças de salários pagos a
menor, por entender que a reclamante não se desincumbiu do seu ônus de provar fato
constitutivo de seu direito, não se configura violação direta e literal dos artigos 333,
inciso II, do CPC e 818 e 464 da CLT. Isso porque, no caso concreto, a reclamada
não estava obrigada do encargo de comprovar o pagamento integral de salários
genericamente pleiteados na petição inicial a partir do final do ano de 2002. A parte
autora não pode simplesmente levantar suposições genéricas de pagamento a menor
de salários, sem delimitar em quais meses são devidas as diferenças de salários. Não
há falar em violação direta e frontal dos artigos 333, inciso II, do CPC e 464 e 818
da CLT nem divergência jurisprudencial com arestos inespecíficos, nos termos da
Súmula nº 296, item I, do TST. Recurso de revista não conhecido (TST – RR: 34700-

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devidas na rescisão indireta?
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24.2004.5.01.0223, Relator: José Roberto Freire Pimenta, Data de Julgamento:
24/04/2013, 2ª Turma).

Diante disso, por exemplo, o empregado ingressa com reclamação trabalhista


pleiteando o pagamento de horas extras e férias vencidas. O empregador confessa que
não pagou as férias ou, ainda, nada menciona sobre pagamento de férias na contestação.
A parcela de férias tornou-se incontroversa em razão da confissão ou silêncio do
empregador, devendo ser paga na primeira audiência na Justiça do Trabalho, sob pena de
acréscimo de 50%.

4.1. A multa do art. 467 da CLT e a rescisão indireta


Outro tema que gera discussões diz respeito à aplicação da multa do art. 467 da
CLT à rescisão indireta. É válido destacar que o posicionamento majoritário do TST
entende que a multa do art. 467 não é devida na rescisão indireta, pois há controvérsia em
relação ao término do contrato de trabalho e, consequentemente, às verbas rescisórias
devidas.
A seguir, destacamos alguns julgados do TST sobre o assunto:

RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO SOB A ÉGIDE DAS LEIS Nos


13.015/2014 E 13.105/2015.
1. MULTA DO ART. 467 DA CLT. RESCISÃO INDIRETA. Quando as parcelas
devidas pela dissolução contratual decorrem de provimento judicial, havendo, antes,
controvérsia sustentável quanto à razão de desfazimento do vínculo, impossível a
condenação ao pagamento da multa a que alude o art. 467 da CLT. Precedentes.
Recurso de revista conhecido e provido, no particular.
2. RESCISÃO INDIRETA DO CONTRATO DE TRABALHO. ATRASO
REITERADO NO PAGAMENTO DE SALÁRIOS. IRREGULARIDADE NO
RECOLHIMENTO DO FGTS. O contumaz atraso no pagamento de salários
enseja a rescisão indireta do contrato individual de trabalho (CLT, art. 483, “d”),
tendo em vista que claramente compromete a regularidade das obrigações do
trabalhador, sem falar no próprio sustento e da sua família, quando houver, criando
estado de permanente apreensão, que, por óbvio, compromete toda a vida do
empregado. Recurso de revista não conhecido quanto ao tema. (ARR - 114-

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devidas na rescisão indireta?
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51.2015.5.12.0034, 3ª Turma, Relator: Ministro Alberto Luiz Bresciani de Fontan
Pereira, Data de julgamento: 27/09/2017)

MULTA PREVISTA NO ART. 467 DA CLT. RESCISÃO INDIRETA. É


entendimento desta Corte que a existência de controvérsia quanto à modalidade da
rescisão do contrato de trabalho afasta a incidência da multa prevista no artigo 467
da CLT.
Recurso de Revista de que se conhece em parte e a que se dá provimento. (RR - 371-
17.2019.5.08.0012, 8ª Turma, Relator: Ministro João Batista Brito Pereira, Data de
julgamento: 17/03/2021)

Em resumo, diante da controvérsia existente quanto à modalidade do término do


contrato de trabalho, não é possível reconhecer a multa do art. 467 da CLT na rescisão
indireta.

5. Conclusão
A rescisão indireta é hipótese de término do contrato de trabalho pela prática de
falta grave do empregador e é reconhecida judicialmente em reclamação trabalhista.
Reconhecida em juízo, o trabalhador tem o direito ao recebimento de todas as
verbas devidas na dispensa sem justa causa: saldo de salário (dias efetivamente
trabalhados); décimo terceiro salário proporcional; Férias + ⅓ vencidas, se houver; Férias
+ ⅓ proporcionais; Aviso-prévio; Saque dos depósitos do FGTS; Indenização de 40%
sobre os depósitos do FGTS; Direito ao benefício do seguro-desemprego, desde que
atenda aos requisitos próprios estabelecidos na legislação previdenciária.
Há discussão quanto ao pagamento das multas rescisórias dos art. 467 e 477 da CLT
na rescisão indireta. A multa do art. 477, § 8º, da CLT é devida na hipótese de atraso no
pagamento das verbas rescisórias. A corrente que defende a incidência da multa na falta
grave patronal sustenta que o empregado não pode ser duplamente penalizado e diante da
ausência de vedação à sua incidência na CLT. Por sua vez, a corrente que nega aplicação
da multa argumenta que a empresa desconhece a data do término do contrato de trabalho

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e não pode ser penalizada com a multa, pois a própria forma de extinção está sendo
discutida em juízo.
Prevalece na jurisprudência do TST o posicionamento que admite a aplicação da
multa do art. 477 à rescisão indireta, não importando o fato de o término estar sendo
discutido em juízo.
Concordamos com essa corrente de que a multa do art. 477 da CLT é devida na
rescisão indireta para se evitar a dupla penalização do trabalhador, pois além de sofrer
justa causa patronal, não teria suas verbas rescisórias pagas no prazo legal.
Por sua vez, a multa do art. 467 da CLT é devida quando as verbas rescisórias
incontroversas não são pagas na primeira audiência. Como há controvérsia relevante
sobre as verbas rescisórias, prevalece na jurisprudência do TST que essa multa não é
devida na rescisão indireta.
De nossa opinião, entendemos que a multa do art. 467 da CLT não é devida em
razão da rescisão indireta diante da existência de controvérsia clara sobre a forma do
término do contrato de trabalho e das parcelas devidas. No entanto, ressaltamos que é
possível que a multa incida sobre outras parcelas não adimplidas e reconhecidas pelo
empregador como horas extras ou salários não pagos.
O tema suscita um amplo debate sobre os limites da rescisão indireta e as
consequências para o contrato de trabalho e ainda renderá discussões até sua pacificação
pelo TST.

6. Referências bibliográficas
CORREIA, Henrique. Curso de Direito do Trabalho. 6. ed. Salvador: Juspodivm, 2021.
DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalh. 17. ed. São Paulo: LTr,
2017.
GARCIA, Gustavo Felipe Barbosa. Curso de Direito do Trabalho. São Paulo: Método,
2007.
MIESSA, Élisson. Curso de Direito Processual do Trabalho. 8. Ed. Salvador:
Juspodivm, 2021.

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MOURA, Marcelo. Curso de Direito do Trabalho. São Paulo: Saraiva, 2014.


RESENDE, Ricardo. Direito do Trabalho esquematizado. 3. ed. São Paulo: Método,
2013.
SILVA, Homero Batista Mateus da. Curso de Direito do Trabalho aplicado. 3. ed. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2015

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