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Introdução geral
A produção da globalização
Como só se pensa na crise financeira, a crise política, a crise social e a
crise moral ficam em segundo plano e se aprofundam mais.
A globalização é produzida com uma série de ferramentas, como a
unicidade da técnica, que faz com que todo o mundo tenha acesso às últimas
novidades técnicas. A informação é outro expediente que permite a técnica única
e que leva à convergência de momentos, ou seja, à ocorrência em todos os
grandes centros dos efeitos das mudanças no resto do mundo. Mas essa
informação é deturpada e também gera efeitos.
A unicidade da técnica e a convergência de momentos fazem com que
a o único motor do mundo seja a mais-valia. Tudo se faz para aumentá-la e,
em conseqüência, a competitividade aumenta.
O motor único também é possível graças ao conhecimento do planeta, à
medida que é possível escolher lugares e materiais mais lucrativos.
Tudo isso leva a crer que o período por que passamos é uma crise, que
requer uma mudança estrutural.
A transição em marcha
Milton Santos observa duas conseqüências da evolução causada pela
escassez: a primeira é a nova significação da cultura popular e a outra é a
produção de condições empíricas para a emergência das massas populares.
Nota-se uma contraposição entre a cultura de massas e a cultura popular.
A primeira tenta se impor mas é obstada pela cultura popular, que se difunde à
medida que a escassez faz nascer os regionalismos. Como o povo não dispõe dos
meios para participar da cultura de massas (turismo, por exemplo), cria no
trabalho e no cotidiano sua cultura popular, numa aliança da espontaneidade à
ingenuidade.
Como condições empíricas, ressalta-se a mudança da divisão do trabalho
por cima e por baixo. A primeira é a da globalização perversa e obedece a
técnicas de racionalidade hegemônica. A divisão por baixo produz solidariedade
dependente unicamente dos vetores horizontais do território e da cultura local.
Na transição para a globalização includente, o homem passa a ser o
centro; relega-se a um segundo plano a importância do mercado e do
dinheiro em estado puro. Busca-se garantir o mínimo para a satisfação das
necessidades de uma vida digna, abolindo a regra de competitividade e
adotando a da solidariedade.
O povo perceberá também que os mercados comuns são representativos
apenas dos interesses das grandes potências. A “cooperação” (Alca e Mercosul) é
interesseira. Tomará consciência de que é terceiro mundo e vai rever os pactos
globalitários.
Outro dado é a crescente desordem da vida social, que permite
antever a queda do modelo econômico globalitário. Apesar de as potências
perceberem esta desordem e buscarem contorná-la, a sociedade ainda assim
se mantém desordenada, porque o modelo é insustentável. A solução acaba
sendo simples: as populações que não podem consumir o ocidente
globalizado recusam a globalização.
Milton Santos dá um conceito de nação ativa e passiva: a primeira seria,
na visão globalizante, a nação que obedece aos desígnios externos produzindo
ideologia. A passiva é residual, é o que não é ativa. Trabalha com o intelectual
público que vive uma contradição: é obrigado a se conformar em suas atividades
com a racionalidade hegemônica, mesmo estando insatisfeitos e inconformados.
A vantagem é que a nação passiva é fortemente ligada ao cotidiano, tendo
base mais sólida, de modo que, com a maioria a seu lado, é possível pôr em
prática seus projetos de nação.
O papel dos intelectuais nesse processo é mostrar analiticamente as
manifestações de luta e de resistência à hegemonia dominante, permitindo
que essa visão seja utilizada pela sociedade como elemento de postulação de
uma outra política social (p. 158). O choque das realidades tem papel
importante na mudança.
A globalização atual não é irreversível e, aliás, já se mostra presente
uma dissolução das ideologias, levada a cabo pelo choque das realidades com
as ideologias. (p. 159)
O futuro se dará de acordo com as escolhas feitas sobre dois valores: os
essenciais ao homem, como a liberdade e a dignidade; e os valores contingentes
(incertos), ou seja, eventuais da história de determinado momento. Da
conjugação entre essas duas classes de valores é que nascerá a sociedade futura.
A mudança já é visível porque a ideologia perde a sustentação, já que
ninguém consegue consumir o que existe em oferta. É preciso uma nova
ideologia, que dê valor ao trabalho de baixo, verdadeiro motor para o
alcance do futuro.
O computador acaba sendo uma boa ferramenta para a mudança, porque
não requer grande investimento e se dissemina rapidamente no corpo social.
A aglomerações humanas permitirão maior identificação das situações e
observarão o peso da cultura popular. A própria mídia atentará para o fato de que
a população não é homogênea e, portanto, será obrigada a deixar de representar o
senso comum imposto pelo pensamento único.
Para formar um novo mundo, é preciso também consciência
individual, que inicia com a descoberta, passa pela visão sistêmica e culmina
com a discussão interior e o debate público, que permite enxergar os
porquês. Essa consciência do “ser mundo” permite superar o endeusamento
do dinheiro e enfrentar uma nova trajetória.
A política terá também grande papel, mas deve aproveitar as atuais
técnicas hegemônicas e dar a elas novo uso e nova significação.