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28ª Edição

Museu Histórico do Estado do Pará


Museu de Arte de Belém
Museu de Arte Sacra
Espaço Cultural Casa das 11 Janelas
Museu da UFPa
Museu Paraense Emílio Goeldi

Fundação Romulo Maiorana

Belém - PA
2010

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Fernanda Bulegon Gassen


Agendamentos de visita para
estudos de composição - Cenas
de gêneros 1 (2009)
Fotografia
70 x 50cm
Porto Alegre-RS

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A 28ª edição do Projeto Arte Pará apresentada pela Fundação 5
Romulo Maiorana, sob curadoria de Marisa Mokarzel
e Orlando Maneschy, é o resultado de uma experiência
fascinante da visão de artistas do cenário contemporâneo
da arte. Sabemos que apreender artisticamente uma
exposição que acontece em seis museus na cidade de
Belém, no espaço urbano e ainda aliar artistas selecionados,
premiados e convidados sem hierarquia, não é uma tarefa
das mais fáceis, mas esse conjunto diversificado de espaços
expositivos e obras de arte revela que olhar para a arte
significa entrar num labirinto de ruas, pessoas, espaços
que se cruzam o tempo todo.
Para m u i to s , e s t a expo siç ã o será o p r i m ei ro
contato com a arte contemporânea. Para outros,
a visita aos museus será um reencontro, será uma
oportunidade de comprovar a qualidade das obras
expostas. Será uma ocasião para, verificar que o Projeto
Arte Pará a cada ano se inova, se atualiza e amplia
o já conhecido.
É com grande satisfação que agradecemos as
e m p re s a s S u per me rc a d o e S u perce n ter N a za ré,
ESAMAZ- Escola Superior da Amazônia, U N IMED
Belém e MARKO engen haria que nos fortalecem
a realização desta edição com compromisso social
e sensibilidade.
A Fundação Romulo Maiorana apresenta esta edição
com a certeza de estar proporcionando ao público em geral,
estudantes, pesquisadores, educadores, artistas, críticos
e instituições de pesquisa, uma ampla e diferenciada
panorâmica da produção artística local, nacional
e internacional.

Lucidéa Maiorana
Presidente da Fundação
Romulo Maiorana

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Marcelo Amorim
S/Título da Série Educação
para o Amor (2009)
Pintura – Óleo sobre tela
30 x 40 cm
São Paulo-SP

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Tenho orgulho de ter aceitado o desafio de realizar,
desde 1987, o projeto Arte Pará, iniciado em 1982 pelo
jornalista Romulo Maiorana. Chegamos à 28ª edição
desse evento legitimado no circuito da arte nacional
e que nunca deixou de acontecer desde seu início.
Com o Arte Pará, a cidade de Belém se consolidou como
pólo cultural da região Norte, reforçando a idéia de
que mesmo em momentos de desequilíbrio político e
econômico, a solidez desse bloco pode se dar pela arte.
Afinada com os extremos convergentes relacionados
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à temática principal - que se refere não somente aos
extremos geográficos, mas também a pensamentos
opostos e diferentes ideias que podem convergir, formando
uma rede de ações, cultura e arte que, tendo a sua
singularidade, convivem e se formam em um campo plural
de manifestações culturais no mundo contemporâneo.
Se em alguns momentos nos deparamos com
instabilidades econômico-finaceiras, em outros contamos
com o compromisso e colaboração de empresas como
Supermercado e Supercenter Nazaré, Escola Superior da
Amazônia (ESAMAZ), Unimed Belém e Marko Engenharia,
que nos permitiram a viabilização desta edição numa
iniciativa de atuação em redes de cultura. Uma postura
louvável no campo social, político e cultural.
Ao presidir a direção da Fundação Romulo Maiorana,
tomei como caminho uma jornada de produção plástica
e inventiva que a cada ano redireciona o foco da cena
contemporânea para a arte do Cone Norte.
Registro meu reconhecimento pelo empenho de toda
a equipe da Fundação Romulo Maiorana. À equipe de
montagem, curadores, educadores, artistas, universidades,
instituições, jurados, responsáveis pela infra-estrutura,
designers e, especialmente, a Daniela Oliveira, pela lealdade
e dedicação. Ressalto ainda a artista homenageada deste
ano Walda Marques. E por este motivo especial, a Fundação
presenteia a todos com o lançamento do livro “Lembranças”
que reúne trabalhos marcantes ao longo de mais de quinze
anos de sua carreira. Sem dúvida, o trabalho de Walda
está no seu talento sem fronteiras e principalmente, na
sua sensibilidade.
Assim, meu muito obrigado a todos que tornaram
possível esta 28ª edição, dedicada ao nosso querido artista
Acácio Sobral. Ele com certeza faz parte da história das
Artes Visuais em nosso Estado. Seu amor pela arte é a
Roberta Maiorana lembrança mais forte. O testemunho de sua presença é a
Diretora Executiva sua obra.
da Fundação
Romulo Maiorana

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Ben Patterson
Artista convidado

Design para escultura de golfinhos


Projeto de escultura
20 x 30 cm
Estados Unidos / Alemanha

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Falar do Arte Pará é sempre gratificante. Para mim, a edição 9
de 2009 foi especial, pois tive a oportunidade, como jurado
do concurso, de conhecer minuciosamente as obras que
concorreram neste 28º ano. Confesso o quanto foi difícil
fazer a seleção das obras participantes e a escolha dos
premiados, tamanha a qualidade e originalidade das ideias
elaboradas pelos artistas que, a cada edição, se superam.
A cada ano me certifico de que o Arte Pará é um difusor
da arte nacional.
Além de abrir espaço para novos talentos, é um evento
que dá espaço para estudantes de escolas públicas,
permitindo que essas crianças e jovens tenham acesso a
uma linguagem completamente diferente daquela do seu
dia a dia. Destaco ainda a seriedade da curadoria do Arte
Pará, que mais uma vez valorizou os artistas paraenses.
Marisa Mokarzel e Orlando Maneschy fizeram um belo
trabalho, de muito bom gosto e profissionalismo.
Quero parabenizar a Fundação Romulo Maiorana
por essa iniciativa e desejar que o Arte Pará tenha vida
longa para que continue dando oportunidades às futuras
gerações de artistas que virão.

Edilson Moura
Secretário de Estado
de Cultura do Pará

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Acácio Sobral
Homenagem especial

Foto: Orlando Maneschy - Atelier do artista Acácio Sobral.

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Viva Acácio!
Jorge Eiró
Artista plástico

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Quantos espinhos deve um homem extrair abstrato arco da existência [AGE DE CARVALHO,
de seu corpo até que seja considerado um 1980, p. 9].
artista...? E foram tantas outras ocorrências-obras:
Parodiando Bob Dylan em “Blowin’ the têmperas, resinas, encáusticas, as ogivas,
Wind”, a resposta, my friend, está soprando as torres de Jano, os despojos, as rendas
no vento. portuguesas da família, seus re-desenhos de
No Salão Arte Pará de 2004, meu amigo re-nascimento, tantas outras, tantas obras que,
Acácio Sobral apresentou uma das obras mais certamente, constituem uma das produções
marcantes da arte contemporânea paraense: mais profícuas, intensas e extensas da arte
“O tirador de espinhos”. Uma poética e paraense recente. Observemos sua trajetória:
arrebatadora vídeo-instalação na qual realizava da figura do advogado, administrador de
uma fantástica viagem na história da arte, ao empresas, que, por conta de uma pulsão
som de uma sinfonia de Mahler, para referir-se existencial ou espiritual mais fecunda, se
à figura de catadores de espinho representados tornou artista. Como alguém se torna aquilo
em imagens apropriadas de diversos tempos que se é? “Ecce Homo”, eis o artista, conforme
históricos. Ilustrava o significado de catar a máxima de Nietzsche, “na medida em que
espinhos no próprio corpo, nos sentidos literal e o sujeito é um artista, ele já está liberto de
metafórico: catarse! Acácio protagonizava, num sua vontade individual e tornou-se, por assim
momento delicado de sua vida, uma poderosa dizer, um medium através do qual o único
obra catártica de altíssima intensidade que Sujeito verdadeiramente existente celebra a
o inscreveria definitivamente no panteão sua redenção na aparência” (2007a, p. 44). Na
dos grandes artistas paraenses de todos os forma como “Assim falava Zaratustra”, Acácio
tempos. Um trabalho de arrepiar, daqueles realizou suas três transformações de espírito:
que se configuram como a grande obra de “Primeiro o homem se transforma em camelo,
um artista. Opera prima. Um verdadeiro e o camelo em leão, e o leão, finalmente, se
tratado autobiográfico e, dessa forma, uma transforma em criança. Há muitas realizações
espécie de autorretrato do Acácio. Jacques difíceis para o espírito, desde que ele seja
Derrida, ao comentar a exposição “Memoire forte, sólido, respeitável. Ele é quem clama
d’aveugle”, realizada no Museu do Louvre, por desafios, pois sua força exige enfrentar
nos fazia lembrar que “todas as pinturas as mais terríveis dificuldades” (2007b, p. 23).
que não são autorretratos acabam por ser Nietzsche, uma preciosa afinidade intelectual
exatamente isso” e, portanto, são expressões que eu compartilhava com Acácio, nos
autobiográficas. Acácio, atravessado por seus sublinha a relação existencial entre a vida e a
espinhos, recordava-me Age de Carvalho no arte na forma de um magistério sublime, “pois
memorial de sua “Arquitetura dos Ossos”: só como fenômeno estético podem a existência
...dentro de meu corpo atravessado de e o mundo justificar-se eternamente” (2007a,
ocorrências - cada homem é a história de sua p. 44). Resumo da ópera: só por intermédio
sobrevivência -, penso na vida e na morte, no da experiência estética a vida vale a pena. É

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certo: ao longo de toda a história do homem, a se pode amar no homem é o fato de ser ele
experiência estética constitui um componente uma travessia. Eu só amo aqueles que sabem
necessário da experiência global da realidade viver como quem sucumbe, pois são eles que
e o que nos distingue das outras espécies. atravessam para o outro lado. [ibid].
Somos, em suma, Homo Estheticus. E a ponte construída por Nietzsche
E por falar no filósofo alemão, recordo naturalmente nos conduziu a outros pensadores:
de uma viagem que fizemos a Mosqueiro Gilles Deleuze e Roland Barthes, marcos
numa bela manhã de sábado para assistir teóricos de minha dissertação de mestrado em
“O Farol”, um vídeo de Daniele Fonseca Educação, realizada na Universidade Federal do
inspirado em Virginia Wolf. Ao longo do PA (UFPA) entre 2007 e 2009. Não por Acácio,
percurso, conversamos animadamente sobre os “Cartografemas” trata-se de uma narrativa
aforismos nietzscheanos. Hummm... Céticos, autobiográfica de um artista-professor, para
niilistas e ateus de plantão desconfiariam: a qual ele me forneceu relevantes referências
pode alguém se “animar” com Nietzsche conceituais. Entre as cartografias de Deleuze e
numa estrada ensolarada? - “Claro!”, afirmou os biografemas de Barthes, a filosofia e a arte
Fabize Muinhos naquele momento, explodindo constituíram-se temas frequentes em nossos
numa gargalhada debochada, juntamente derradeiros encontros. Conversas entre artistas,
com Elieni Tenório que nos acompanhava na compartilhadas com outro grande amigo,
viagem: - “Ler Nietzsche de forma equivocada Geraldo Teixeira. Encontros “papo-cabeça” que
pode levar à depressão. Por outro lado, pode jamais se tornavam chatos, longas discussões
ser divertidíssimo também, pois, na voz de de “filosofia-de-liquidificador” que, graças
Zaratustra, ‘eu vos ensino o sobre-humano’, ou a Dionisio, quase sempre acabavam num
seja, ele te eleva ao super-homem”. Naquela apoteótico porre. Saraus culturais dos quais
“Elevation tour” da estrada, assim falou o participavam artistas como Ruma, Emanuel
profeta ao som de “Pride - in the name of Franco, Rosângela Britto, dentre outros, em
love”, do U2: sua casa projetada por outro arquiteto-artista,
O homem é uma corda estendida entre o Osmar Pinheiro Jr., e situada na Alameda
animal e o super-homem. Uma corda sobre o Américo Sobral, ali, bem pertinho do Conjunto
abismo, uma perigosa travessia, um perigoso do IAPI, onde nasci e me criei, no bairro de
caminhar, um perigoso olhar para trás, um São Braz.
perigoso estremecer e parar. [NIETZSCHE, Ainda bem que muitas dessas farras
2007b, p. 13]. filosóficas resultaram em grandes realizações,
Portanto, nada daquela leitura superficial senão, o que hoje nós diríamos na Casa das
acerca de “Deus está morto!”, não. Acácio, Onze Janelas? Acácio, Geraldo e eu realizamos
super católico, realizou a travessia para o a exposição “Trilogia”, no MEP, em 1998, com
super-homem: curadoria de Cláudio La Rocque Leal. No ano
O que há de mais valioso para o homem seguinte, essa mostra ampliar-se-ia para
é ele ser uma ponte e não um fim. O que “Olhares revisitados”, agregando Dina Oliveira,

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Emmanuel Nassar e Valdir Sarubbi, desta vez oriundos de uma ordem mística-artística. De
com curadoria de Marisa Mokarzel e Rosângela tal modo que resolvi “revidar”, revelando em
Britto, na Galeria Fidanza. Em 2000, Jussara minhas “Escrituras Expostas”, as “operações de
Derenji faria a curadoria dos “Cúmplices”, feitiçaria” (como Argan falou de Picasso) que
reunindo nós da “Trilogia” mais Emanuel o Acácio armava. Cavaleiro templário de Jorge,
Franco e Ruma, na Galeria da Universidade lá das bandas da Capadócia, ele possuía seus
da Amazônia (Unama). Aliás, na Unama, no poderes ocultos de feiticeiro. E foi também um
início dos anos 2000, sob o reinado de Graça grande guerreiro lutando contra o dragão da
(Peggy Guggenheim) Landeira, nossa saudosa maldade. Salve Acácio!
mecenas cultural, daríamos início às nossas Hoje, revivendo aquele texto, confiro
(arm)ações curatoriais integrando o conselho as celebrações alquímicas que procurava
da galeria de arte daquela Universidade. desvendar no trabalho de Acácio. Observando
14 Em 2004, nós cinco inauguraríamos o melhor, sublinho que, àquela altura do
Espaço Cultural da Fundação Ipiranga com campeonato de xadrez que Acácio travava
a exposição “Pentagrama”, constituindo, ao com a morte, esse embate que todos travamos
mesmo tempo, o conselho curador dessa com nossa imodesta finitude, tornou-se,
instituição. Numa parceria entre a Fundação paradoxalmente, o próprio leitmotiv do
Ipiranga e a Gráfica Alves, nós do “Pentagrama” trabalho de Acácio. A la Bergman em “O Sétimo
mais Elieni Tenório, executaríamos, de 2005 a Selo”, o alquimista em sua luta pela sobrevida
2009, os Calendários de Artista, consolidando passou a processar todo tipo de matéria. Mater
uma década de articulações culturais. Em matéria, esotérica, etérea, eterna. Seu processo
nossas reuniões de conselho, Acácio pautava artístico passou a explorar, revolver, transformar
de forma sempre equilibrada nossas reuniões, toda e qualquer matéria inanimada em energia
com sensatez e sensibilidade, o que lhe valeu o vital, funcionando a toda pressão, feito um
título de “Conselheiro Acácio”, carinhosamente multiprocessador a potencializar a equação
conferido pelo Geraldo. Diante desse breve einsteiniana numa disperatta vitalitá. “Não
levantamento histórico, chego a ficar surpreso tenho tempo a perder!”, ele me disse, como
e posso crer que a década de 2000 talvez não quem refaz seu percurso no tempo circular,
tenha sido perdida. um reload no espaço esférico da existência.
Deixando de lado essas f unções da Imerso em sua oficina de transmutação dos
nomenklatura cultural que, se tem lá suas elementos, executava de forma consciente seu
nobres razões, acaba por nos consumir o rito de passagem, movido por alterações de
combustível de artista. Pois o que nos interessa estado e das estações do espírito – estados
abordar é, justamente, o artista Acácio, o d’alma. Atento à (mu)dança de seu próprio
alquimista. Em 2004, escrevi um texto, mix corpo, às metamorfoses da carne, elaborava,
de ensaio-poético, intitulado “Acácio de em contraponto, sua fênix da matéria.
Capadócia”, para uma individual do Acácio O alquimista, cozinhando a cera em sua
na Galeria do CCBEU. Afora a brincadeira com encáustica cósmica, provocava tempestades
a sonoridade das palavras, meu propósito solares: de seu cadinho/caldeirão, vertia a lava
foi o de lhe conferir o título de Cavaleiro incandescente do vulcão do mago: magma
de Jorge, honorável integrante do Grêmio – “de tuas águas, lamas, algas, almas que
Recreativo Esotérico e Cultural “Companhia de amalgamas”, como num dos mais belos versos
Jorge”, minha confraria Saint George’s Lonely de Caetano Veloso.
Heart Club Band. Acácio sempre acusou, Em seu laboratório quimioterápico da
no bom sentido, minha pintura de possuir estética da existência, recorria a todos os
uma “têmpera esotérica”. Eu sorria, pois procedimentos possíveis: fundição, fusão,
compreendia muito bem o que ele queria fissão, liquefação, solidificação, combustão,
dizer, amparado por sua refinada percepção evaporação, radiação de matérias,
sobre “forma oculta”, “estrutura ausente”, metais, minerais, motores, corações e
“cor inexistente”, conceitos que parecem mentes mutantes, elegendo como missão

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transcendente a sublimação de uma obra-vida. Dick”, a figura do homem à procura de si
Moto-contínuo. Moto-perpétuo. O artista- mesmo, na sua aventura ao autoconhecimento,
cientista em seu labirinto-laboratório. Relações sua missão e redenção. Face à dimensão
amorosas entre a arte e a ciência gerando colossal da empreitada sobre-humana de
invenção: vivência. Arte-vida. Movida por uma Melville, segundo Jorge Luis Borges, “página
“Força Estranha”, pois “a vida é amiga da arte, a página, o relato se agiganta até superar o
é a parte que o sol me ensinou”, a partir de tamanho do cosmos (...) e a perseguição que
“O Tirador de Espinho”, expiava-se e despia- esgota os oceanos do planeta são símbolos e
se de seus despojos cartesianos. O homem espelhos do Universo”. O eterno embate do
da razão, finalmente artista, descartava-se homem com seu destino. Referindo-se a esse
de Descartes. Adotava como credo a “oração jogo sem fim, num texto curatorial para José
de artista”, de Henry Miller, “quando um Patrício, Paulo Herkenhoff mencionava Borges
homem toma plena consciência dos seus em sua “A História da Eternidade”, indagando- 15
poderes, do seu papel, do seu destino, é um se: “seria a arte da infinitude um esforço de
artista e cessa de debater-se com a realidade. contra-morte?” Podemos, conforme Virgílio,
(...). Cria um mundo impossível, a partir acrescentar que “filosofar é, também, aprender
de uma linguagem incompreensível, uma a morrer”. Mo(r)ra na filosofia? Max Martins,
mentira que encanta e escraviza os homens”. certa vez, respondeu de forma semelhante ao
Descarnava-se, definitivamente, da pálida ser indagado por que escrevia: - “Escrevo para
pele de administrador de curtume e passava enganar a morte”. Mas em 2009 a malvinda
a curtir outros (c)ouros e cobres, descurtumes, não se deixou levar e levou grandes figuras da
descobrindo-se, desdobrando-se, descarnando- arte paraense. Ganhou o jogo contra Acácio,
se, obra engolindo cobra, apropriando-se Max, Walter Bandeira, Verequete... Ora, pois,
do espaço, apoderando-se do tempo. Coral nesse jogo de cartas marcadas sabemos que
descolorida. Cascavel desvelada. “La Naja já nascemos perdendo, por isso aproveitemos
Desnuda” de Acácio. Produzia suas muitas o intermezzo. Posto que é justamente nessas
mantas imantadas de mágica, multiplicadas horas que as relações entre a vida e a arte se
tantas, como mantras, tantras... Escaneando intensificam, tal qual Nietzsche afirmava como
estampas da História da Arte, escarnava-as, “a operação artista da vontade de potência,
plasmando-as - arando, riscando, rasgando, a invenção de novas ‘possibilidades de vida’”,
tatuando, escarificando o papel e recontando segundo Deleuze (“um pouco de possível, senão
a (sua própria) História. Lavrava o ouro dos sufoco”). Destarte, respiremos fundo, pois não
ícones, revigorava as imagens da Grande queremos a morte. Queremos arte! Portanto
Arte. Criava seu L’ouvre... Formulava em sua e por fim, “pinte como quiser e morra feliz!”.
revolução das espécies, a evolução dos Acácios. Nada mais oportuno esta sentença proferida
Reciclava-se: sobre as imagens imantadas da por Henry Miller, destacada de um catálogo do
arte, o artista arriscava seu Renascimento. Acácio Sobral e que ele usou como epígrafe e
Era Acácio e sua encáustica rumo ao caos, epitáfio. Retire seus espinhos e respire fundo,
como o obcecado capitão Ahab à caça da baleia artista, pois a vida e a arte, my friend, estão REFERÊNCIAS
BORGES, Jorge Luiz. Antologia
branca. Incorporava, na metáfora de “Moby soprando no vento. Viva la vida! Viva Acácio! completa. São Paulo: Objeti-
va, 1998.
DELEUZE, Gilles. Conversações.
São Paulo: Ed. 34, 1992.
MILLER, Henry. Trópico de
Câncer. Rio de Janeiro: José
Olympio, 2006.
NIETZSCHE, Friedrich. Assim
falou Zaratustra. São Paulo:
Centauro, 2007[b].
________. Ecce homo. São
Paulo: Companhia das Letras,
2000.
________. O nascimento da
tragédia. São Paulo: Compa-
nhia das Letras, 2007[a].

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Espaço Cultural Casa das 11 Janelas

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Acácio Sobral
Desconstrução para
Além de Jano (2009)
Instalação
Coleção Espaço Cultural
Casa das 11 Janelas
Belém - PA

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Desconstrução: para além de Jano
Marisa Mokarzel e Orlando Maneschy
Curadores do 28º Arte Pará

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No Espaço Cultural Casa das Onze Janelas, há um
ambiente destinado à experimentação e o Arte Pará
ocupou justamente este espaço com a obra de um grande
e minucioso pesquisador: Acácio Sobral. A instalação que
se encontrava no Laboratório da Artes, Desconstrução:
Para Além de Jano (2007), nasceu de um processo de
desmontagem de diversas obras da série dos anos 90,
“Encontro com Jano”. Com o desmonte da obra, Sobral
passa a revelar as entranhas das peças e preenchê-las,
reorganizá-las, num dos momentos mais delicados de
sua produção, criando um campo de espelhamento e
imanência, a partir da instável organização dos objetos e
do vídeo no espaço. Delicada e pungente, a obra passou a
integrar o acervo da Casa das Onze Janelas e retornou aos
olhos do público no momento especial em que o artista
foi homenageado.
Sobral constituiu um sofisticado discurso sobre a própria
relação com o tempo que sua obra detém, revelando que a
matéria com que trabalha supera o próprio apego à idéia
de obra acabada, rompendo com a idéia de permanência
ao falar sobre o próprio fluxo, que é linha, percurso, que
é vida. Considerado um dos grandes artistas paraenses,
Acácio Sobral, falecido no final do período desta exposição,
foi merecidamente um dos homenageados especiais do
projeto Arte Pará 2009.

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Acácio Sobral
Artista Convidado

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Desconstrução para
Além de Jano (2009)
Instalação
Belém - PA

Detalhe

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Extremos Convergentes
Marisa Mokarzel e Orlando Maneschy
Curadores

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Com a intenção de levantar questões pertinentes a construção social em que a questão identitária
uma História da Arte que vem se constituindo não se apresenta em estado puro, mas num
desde os anos 80, quando surge o Arte fluxo constante de trocas subjetivas, culturais,
Pará, adota-se como tema central Extremos pode-se compreender a heterogeneidade e o
Convergentes. Ao mesmo tempo, o aspecto caráter flutuante da arte que se constitui no
histórico, já articulado por Alexandre Sequeira Norte do país, conectada com o centro artístico
no catálogo de 2008 e desenvolvido por aquela hegemônico do Rio e São Paulo.
curadoria, serve para nortear o eixo conceitual Naquele território ainda em formação,
do Arte Pará 2009, no qual se desejou dar emergiam expressões identitárias e não uma
continuidade à abordagem sinalizada dentro identidade unidimensional. As trocas dos bens
de uma perspectiva de interação com o fluxo simbólicos processavam-se em um ambiente
da história, e interligar essas questões às que que procurava definir-se como detentor da
são específicas da arte e ao contexto no qual “Visualidade Amazônica”, termo que designa
esta se encontra. O cenário artístico atual é uma arte que traz proximidades com elementos
complexo e burla a situação geográfica, provenientes da cultura urbana periférica1 e
das matrizes hegemônicas que impõem ribeirinha, e que na imagem fotográfica traz
os impermanentes parâmetros da arte, uma luz especial, encontrada na Amazônia.
convive-se com um ambiente de extremos João de Jesus Paes Loureiro, Osmar Pinheiro,
no qual estão inclusos o singular e o plural, Emmanuel Nassar e Luiz Braga estão entre os
o diferente e o semelhante. primeiros que, nos anos 1980, pensaram ou
Em um território móvel, formam-se redes utilizaram em seus trabalhos esses elementos
de relações pontuadas por identidades que alguns estudiosos remetiam à “Visualidade
estruturadas a partir da flexibilidade e da Amazônica”. Tratava-se de uma atitude
diversidade. O campo histórico é analisado cultural que por meio de um mapeamento
observando-se a necessidade de reflexões simbólico-visual da região procurava os
sobre o que hoje se apresenta sem perder de pontos de encontro entre a cultura “popular”
vista uma trajetória permeada por lacunas e e a “erudita”2.
descontinuidades. São ramificações que nos O surgimento do Arte Pará acontece neste
conduzem a um sistema de arte com múltiplas cenário em que se configura uma intenção
conexões que abriga extremidades, interligando de demarcação de identidade visual que
pontos distantes e próximos. pertencia a determinados intelectuais e artistas
Em 1982, quando teve início o Arte e encontrava-se afinada com a política cultural
Pará, começava a delinear-se em Belém um da Fundação Nacional de Artes (Funarte).
pensamento afinado com uma arte que, ao Esta conjugação de pensamentos e ações vai
mesmo tempo em que se atualizava, procurava gerar discussões, seminários e o livro “As Artes
encontrar uma identidade. Se entendermos que Visuais na Amazônia: reflexões sobre uma
não há uma definição simples para identidade Visualidade Regional”, que se inseriu no projeto
e que esta resulta de um processo complexo de “Visualidade Brasileira”, editado pela Funarte e

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Secretaria Municipal de Educação e Cultura do reconhecidos nacionalmente, como Wilson
Pará (Semec). Martins, crítico do Jornal do Brasil; Casimiro
Esse período, que vai até meados dos anos Xavier, que, na época, realizava crítica de artes
1980, requer um estudo mais aprofundado, plásticas para a revista Veja, e Marc Berkovsky,
podendo rever a definição de “Visualidade um dos coordenadores da Bienal de São Paulo
Amazônica”. Mas, independente da visualidade naquele período. O jornalista paraense Cláudio
que se configurava no Norte do país, pode-se de La Roque Leal foi convidado para assessorar
associar esse cenário ao contexto sociocultural os três críticos.
da arte no Brasil e em outros países; e também Todavia, é com a decisão de convidar, em
à contribuição do Arte Pará para o sistema 1987, Paulo Herkenhoff para a curadoria do Arte
artístico que começava a se estruturar de Pará que se solidifica cada vez mais a concepção
forma mais coletiva. O reconhecimento de de um evento que contribui com a difusão e
artistas paraenses até então era esporádico, a própria constituição da arte local, sem ser
atribuído a poucos que firmaram seu nome na restritivo ou regionalista. A convivência com
NOTAS
história da arte brasileira, caso de Waldemar críticos e artistas de outras cidades promove 1
Apesar da dubiedade que
da Costa, Ismael Nery e Aluisio Carvão. as trocas necessárias para os desdobramentos esta palavra acarreta no senti-
do de que depende do que se
A afirmação de um espaço expositivo anual e pensamentos que serviriam para dar um considera centro ou periferia,
com o objetivo de difundir a arte realizada perfil à produção artística de Belém. Sem ter está sendo usada para desig-
nar áreas da cidade formadas
no Pará ganha corpo com a curadoria de uma experiência mais significativa no que por subúrbios que apresen-
Paulo Herkenhoff3 e coincide com a proposta concerne performance, objeto ou instalação, tam baixo poder aquisitivo,
nos quais prevalecem orna-
de retorno à pintura da Transvanguarda, a arte no Pará foi firmando-se no campo da mentos, publicidades e vesti-
surgida depois da predominância nos anos pintura e desenho. mentas, com cores fortes. Nas
fachadas das casas além das
1960 e 1970 de uma arte mais efêmera, não O cenário nacional e internacional nos anos cores, predominam adornos
geométricos.
institucional. Ainda que a arte de caráter 80 encontrava-se propício à manifestação 2
Mesmo que atualmente as
conceitual ou voltada para as ações em espaço pictórica, o que, de certa forma, contribuiu concepções de cultura procu-
rem não tornar dicotômica a
urbano não tivesse desaparecido e convivesse com a aceitação e o reconhecimento nacional relação entre cultura popular
com a pintura que ganhava novo espaço, dos trabalhos de Emmanuel Nassar, Osmar e erudita, no começo da déca-
da de 1980 era observável um
o que se observava era a profissionalização Pinheiro, Dina Oliveira e Valdir Sarubbi. A olhar que marcava essa dife-
das galerias brasileiras, a afirmação de um fotografia foi outra categoria que ganhou rença, apesar da intenção de
associar as duas culturas em
espaço institucional no qual a arte podia ser credibilidade e reconhecimento nesse período, um trabalho de arte e dirimir
comercializada com mais facilidade. legitimando-se em território brasileiro as essas distâncias.
3
Em 1987 Paulo Herkenhoff foi
O ano de 1984, foi marcado pela exposição imagens fotográficas de Luiz Braga, Elza Lima, convidado para ser curador do
Arte Pará, antes já havia tido
“Como Vai Você Geração 80?”, montada no Miguel Chikaoka, Patrick Pardini, Eduardo contato a arte produzida em
Rio de Janeiro no Parque Lage. Em Belém, Kalif e muitos outros. A FotoAtiva, o Arte Belém, no momento das ações
da Funarte, quando diretor do
neste mesmo ano, adotava-se um novo Pará e a própria Funarte tiveram grande Instituto Nacional de Artes
procedimento no Arte Pará, abria-se espaço responsabilidade por esse quadro favorável que Plástica-INAP. Na ocasião do
convite, no entanto, era dire-
para participantes de outros estados e criava-se se formou na década. tor do Museu de Arte Moder-
uma comissão julgadora composta por críticos O Arte Pará constrói sua história não apenas na do Rio de Janeiro.

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atuando de forma significativa nesse período complexo do Ver-o-Peso. Um trânsito cultural
inicial, mas mantendo-se em um processo torna-se visível, a arte evidencia-se em
contínuo, acompanhando e contribuindo com um campo de relações sociais, ampliando
as transformações do circuito e sistema das o público, infiltrando-se no dia-a-dia
artes. Nos anos 90, a diversidade de linguagens citadino. As novas propostas curatoriais são
fica mais evidente, há a quebra de limites entre acompanhadas pela importante decisão de
a fotografia e as artes plásticas. Uma nova investir de forma mais cuidadosa no processo
concepção de arte tem lugar e o sistema ganha educativo4. As ações e reflexões sobre o Arte
outra dimensão com a criação de inúmeros Pará passam a ser organizadas estabelecendo-
museus que disponibilizam novos espaços se a valorização do conhecimento e da
expositivos. No final da década, Claúdio de La mediação entre arte e público.
Roque Leal assume a curadoria do Arte Pará, e Quando, em 2008, Alexandre Sequeira,
22 de 2000 a 2004, quem fica à frente é Marcus Emanuel Franco e Orlando Maneschy assumem
Lontra. Em 2005, porém, Paulo Herkenhoff a curadoria, de uma maneira geral, o princípio
retorna, imprimindo uma concepção mais conceitual adotado por Herkenhoff é mantido,
ampla ao universo artístico. mas um dado novo surge: amplia-se o circuito
Com a desterritorialização cultural e a expositivo para outros municípios. Este
porosidade fronteiriça provocada, em parte, procedimento contribui tanto para a percepção
pelos fluxos migratórios constantes e pelo do quadro artístico que se forma fora dos
advento dos modernos meios de comunicação, limites da capital como também difunde a
tê m - se u m a n ova d i m e n s ã o d a a r te , arte contemporânea para outros municípios
testemunha-se a arquitetura de um cenário desprovidos de um contato mais próximo
mais elástico que pode acolher diferentes com a produção atual. Ainda nesta edição,
manifestações nos mais diversos lugares. Na com a revisão das regras de participação,
circulação fluida de pessoas, capitais e bens por inscrição mediante dossiê, ampliou-se a
simbólicos, os lugares de origem e de passagem possibilidade do artista participar do projeto,
interligam-se, configurando uma paisagem tendo elevado o número de inscrições, fazendo
cultural fictícia e, ao mesmo tempo, real. com que praticamente todos os estados
Nos três anos em que foi novamente do país se fizessem presentes. Outro dado
curador do Arte Pará, Herkenhoff esteve significativo dentre as adaptações do edital à
atento a todas estas questões que pautam o cena contemporânea foi a liberdade para que o
mundo contemporâneo, por isso, desde então, artista pudesse apresentar projetos para lugares
as inscrições não seguem uma classificação específicos, fora do ambiente museal no qual
por categoria e a mostra já não se dá em o projeto se concentra, o que estimulou a
um espaço único ou em dois lugares. O experimentação e a visibilidade de projetos que
princípio expositivo passou a guiar-se por um se apresentam em espaços não convencionais.
pensamento que privilegia as articulações e Ao se redesenhar 5 a curadoria do Arte
parcerias institucionais. O público e o privado Pará em 2009, deparou-se com um dado
sintonizam-se em torno de um evento cultural importante: a cena econômica do país entrara
que se tornou tradição, mas não se fixa no em crise e por isso a expansão do evento
passado. Ao contrário, abre-se às inovações, para outros municípios não foi possível. No
assimilando mudanças, dando visibilidade entanto, manteve-se o pensamento afinado
ao fluxo artístico local que não se isola, mas com questões contemporâneas referentes à
relaciona-se com outros artistas, mantendo articulação com os espaços institucionais,
um diálogo com o próximo e o distante. à flexibilidade dos parâmetros da arte, à
I n d o a lé m d o ci rc u i to e m e spa ço s permeabilidade dos territórios fluídos e às
institucionais, pertencentes ao Estado e ao plurais identidades, daí, como foi dito, a
Município, Herkenhoff adota a cidade como opção pelo tema Extremos Convergentes, que
lugar de exposição, fazendo com que as obras norteou o evento.
se integrem com um símbolo da cidade: o Dentro dessa perspectiva, o projeto do 28°

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Arte Pará apontou para o estabelecimento de a experiência artística. Neste ano, ocorreu
pontes com diversas regiões do país numa uma primeira abertura do Arte Pará com uma
curadoria que se concebeu desde o momento mostra que apresentava os artistas convidados
da eleição dos convidados ao júri, procedentes no Museu Histórico do Estado do Pará (MHEP),
de pontos distintos do Brasil e detentores em uma exposição de curta duração e que
de experiências diversificadas na arte. Estas foi reelaborada, num segundo momento,
escolhas são fundamentais, pois o corpo de ampliando-se para os outros museus de forma
jurados, ao eleger o grupo de selecionados, dinâmica, com a inserção e o diálogo com os
realiza o recorte da produção nacional, que é artistas selecionados, criando ritmo e fluidez
trabalhado pela curadoria nos diversos museus, entre os espaços expositivos propiciando ao
em diálogo com os artistas convidados. Assim, Arte Pará outras possibilidades de relação
para os curadores, o olhar do júri detém uma entre obras.
função de importância destacada e a opção Na maturidade de seus 28 anos, o Arte Pará 23
por este conjunto de especialistas é feita está em consonância com as questões da arte
a partir de suas percepções de mundo e de contemporânea e olhando para sua história.
pontos de vista diferenciados, dentro de uma Artistas nacionais e internacionais figuraram
perspectiva dialógica com as diversas nuances em uma potente construção em torno do fazer
do projeto Arte Pará. Daí acreditar-se que artístico, num movimento de aproximações e
podem contribuir com o projeto curatorial, divergências de questões, mostrando a riqueza
uma vez que este grupo de profissionais pode contida na diferença.
somar na organização de um recorte que vem A diversidade de linguagens e os territórios
ao encontro das discussões contemporâneas fluídos dos espaços expositivos do MHEP se
propostas como mote do Arte Pará. fazem presentes na mostra que dá a dimensão
Assim, a construção da curadoria do Arte da síntese do tema central do Arte Pará. A sala
Pará é elaborada dentro de uma perspectiva de entrada abriga uma discussão sobre o corpo,
relacional, buscando fomentar a produção local em que a experiência do estar no mundo e das
e nacional contemporânea, ressaltando projetos múltiplas provas submetidas ao corpo, como
que possuem densidade, qualidade e coerência o aparato para a experiência, se manifestam,
estética. Cria-se um locus para a reflexão, que como ocorre nos Desenhos Coletivos SP, de
tanto se materializa nas relações estabelecidas Amanda Mota Silveira, que os cria no vai e vem
entre os espaços expositivos com as questões do interior deste tipo de transporte coletivo,
suscitadas pela curadoria, quanto em suas num desenho performativo; nas almofadas
interações com o lugar em que as obras estão irônicas da série [Sleeping Pills]: Rohypnol
sendo apresentadas. Há uma preocupação 1mg, Dormonid 15mg, que apontam de forma
com os diálogos propostos entre as obras no crítica para a relação que se estabelece com
que concerne à construção de pensamento, à o consumo desenfreado de calmantes e
elaboração dos conceitos e textos, concebidos antidepressivos; e que dialogam com fotografia
por meio de processos que interrelacionam Tarja Preta, de Louise D.D., adensando em uma
artistas, curadores, educadores e mediadores abordagem plural até à ausência do próprio
culturais. Este procedimento amplifica o Arte corpo, que ocorre nas bóias infladas de
Pará na perspectiva do projeto educativo, que Hugo Houayek, nas quais o objeto colorido e
visa a formação tanto de estudantes quanto industrializado é visto sob o ângulo da pintura
do público em geral, promovendo seminários, não tradicional. Colocada lado a lado, a cor de
buscando dinamizar o acesso a arte. cada peça ganha nova dimensão e estabelece 4
Vânia Leal, com uma vasta
São diversas as frentes de ação que se a composição pictórica. experiência em educação em
museus de arte e em educa-
solidificam em um projeto que busca estimular A intensidade da cor, a forma quase gestual ção patrimonial assume a co-
a produção, a fruição e o pensamento da com que o corpo é trabalhado faz com que se ordenação do setor educativo.
5
Orlando Maneschy prosse-
arte, transformando, ao longo de três meses, perceba na pintura de Paulo Wagner Oliveira, gue como curador e Marisa
Mokarzel é convidada, para
a cena da arte na Amazônia, instigando o Prêmio Aquisição, uma proposta de cunho juntos, pensarem e exercerem
público a uma vivência de intimidade com expressionista, porém atualizada, impregnada a curadoria.

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de ambigüidade, em que a figura da mulher o diálogo, a aproximação é algo contínuo
pode ser homem e este, ele mesmo: o autor. e presente na produção contemporânea,
Em um autorretrato visceral, Wagner se principalmente em nosso tempo, com as
deixa levar pelo espelho imaginário em que diversas formas de acesso e circulação global,
a imagem reflete a si mesmo, a dor invisível que nos levam a acionar uma quantidade
que só a ele pertence, num jogo íntimo de infinita de imagens diariamente.
reelaboração do corpo. Ao escolher três imagens fotográficas
Nesta mesma sala encontra-se o grande retiradas de uma mesma ação, Reale instiga
prêmio, Quando todos calam, obra de Berna o observador a algo que está além do
Reale, formada por três imagens fotográficas. tempo fixado na fotografia, aponta para um
Trata-se de uma foto-performance em que continuum cinematográfico ora em suspensão,
o ato e as imagens fundem-se em processos o que reforça ainda mais o conteúdo
24 aparentemente independentes. De fato, o ato, dramático presente na obra, pois há o tempo
a relação vivida no lugar não se repete no fragmentado, mas ainda seqüencial, estático,
espaço expositivo. A imagem transportada para mas repleto de movimento, conclamando-nos
o papel adquire uma força poética de difícil ao eterno retorno do tempo da imagem6 por
tradução. O corpo nu, pousado sobre a mesa, meio de seu tríptico embebido de significados
sobre a toalha branca, conjuga-se ao vento, às e referências - as nuvens, ao fundo, sinalizam a
negras nuvens, aos abutres. Nem as vísceras tempestade que se aproxima e a instabilidade
expostas sobre o ventre permitem a literalidade sobre o que virá a acontecer com o vôo rasante
do ato vivido. Significados se sobrepõem e dos urubus sobre o corpo inerte da artista,
o lugar-símbolo da cidade perde ou deixa congelada nas três fotografias, que nos parecem
adormecer a identidade, transformando-se indicar um desfecho aterrador iminente -, em
em outro território não identificável. Quando imagens de um mundo tão conhecido e que
todos calam emerge do silêncio, das dúbias e se apresenta enigmático, no qual Reale, por
múltiplas falas, da solidão, da estética que, meio de seu duplo, se entrega, numa atitude
envolta ao discurso, transcende o religioso, o visceral, diante da cidade enquanto imagem.
político, para tornar-se pura poesia. A passagem para sala seguinte se processa
Reale ativa em sua performance, orientada pelo viés político. A presença da luz e a quase
para a fotografia, questões significativas ausência da cor fornecem ao ambiente uma
para a arte, dentro de uma perspectiva da sobriedade propícia à reflexão, ao encontro
representação, da elaboração da paisagem; consigo mesmo e com o meio sociopolítico em
prostando-se nua sobre a mesa, com vísceras que se está inserido. Uma artista convidada
figurando sobre seu ventre, nos remete à divide espaço com dois premiados. Regina
inúmeras pinturas, como as de estudos de Silveira, artista multimídia, guarda um especial
anatomia, recorrentes ao longo da História conhecimento da estrutura do desenho,
da Arte, tal qual em Lição de Anatomia do expandindo-o, dando-lhe nova configuração,
Dr. Van der Meer, (1617), do pintor holandês reinventando a imagem. Em 1971, a artista
Michiel Jansz van Mierevelt. Referência, talvez, inicia em seus trabalhos de utilização da
inconsciente, motivada por uma imersão na fotografia e de apropriações imagéticas
arte e pelo seu olhar político sobre o papel nas quais são perceptíveis as deformações
do artista na própria história, Reale realiza resultantes da pesquisa sobre a perspectiva.
sua performance diante do cartão-postal por Para desenvolver seus estudos, parte de imagens
excelência da cidade de Belém, o porto do gráficas procedentes da serigrafia, off set,
mercado do Ver-o-Peso, ícone da Belle Époque heliografia, xerox e outras técnicas. Em 1980,
amazônica. Também esta eleição nos invoca à essas deformações ganham grandes dimensões,
outra paisagem registrada para a posteridade e é justamente uma obra desse período, da
com nuvens escuras pairando, da época série Dilatáveis, criada originalmente em
dourada da pintura holandesa: Vista de Delft, heliografia, que participa do Arte Pará 2009. As
(1659-1660) de Johannes Vermeer. A referência, sombras expandidas e distorcidas remetem à

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discussão de um sistema de poder representado mas poeticamente as amplifica, como num
por militares, políticos, esportistas, executivos. grito que ecoa dentro do olhar atento.
Coloca-se em questão a hierarquia que distorce Uma fotógrafa que não fotografa ocupa
a realidade, projeta sombras que oprimem o a sala seguinte. Algumas obras de Rosângela
homem comum. Ren nó fora m dedicadas à questão da
Flávio Araújo, com uma pintura instalação amnésia social e desenvolveram-se a partir
que mereceu uma referência especial da de apropriações de imagens fotográficas
comissão de premiação, debruça-se sobre o provenientes de arquivos públicos e privados.
universo da violência, dos crimes passionais, A obra apresentada no Arte Pará 2009, Espelho
dos acertos de conta inspiradores, das Diário, tem seu título inspirado no tablóide
narrativas pulsantes que servem de manchete sensacionalista Daily Mirror e condensa oito
e aumentam a venda de jornais. A imagem anos de pesquisa em jornais sobre notícias
quase realista pintada por quem conhece de mulheres com o nome Rosângela. Esta 25
a técnica e é sensível aos meandros da cor, instalação multimídia foi apresentada pela
apresenta um “pixel” defeituoso responsável primeira vez em São Paulo, em 2001. Trata-
pelo ruído da cena. Quadro e objeto formam se de um diário-colagem do qual surgem
uma espécie de altar, no qual a imagem não 133 personagens criadas em parceria com a
é venerada, mas causa desconforto, mal-estar, escritora Alícia Duarte Penna. O tom de ficção
com uma parede de azulejos que se projeta e as pequenas tragédias do cotidiano são
para o chão e com três mesas em que ralos tecidos e revelados nas múltiplas narrativas,
(na verdade, pinturas) parecem sujos de tinta interpretadas pela autora. Um único nome
negra, que, supostamente, escorrem para um imbui-se de identidades distintas, de diferentes
copo posicionado na prateleira abaixo. Num enredos: Rosângela.
jogo de ilusão, o artista coloca-nos em xeque Mais adiante, imagens fixas e em movimento
entre notícias, imagem, realidade e violência. articulam-se com pontos de vistas que se fixam
Uma instalação composta por três fotografias, no cotidiano, na cidade, no lugar bucólico
em branco e preto, e um texto, de Paula captado a partir da velocidade do carro, como
Sampaio, completam o triângulo de artistas a seqüência imagética proposta por Alberto
que, nesta sala, usam a obra para falar dos Bitar, que em um verde quase irreal, preenche
descompassos, das cercanias que interceptam de solidão as casas e a paisagem percebidas no
a vida. As três imagens desta fotógrafa atenta ato de passagem, diluídas na memória. Quase
ao cotidiano, ao modo simples daqueles borrões, essas imagens buscam a permanência,
que vivem à beira da estrada, espalham-se e por sua eleição, importância. É o estranho
pela Transamazônica, pela Belém-Brasília, que se torna aqui particular, íntimo, mesmo
construindo uma história silenciosa, extinta que na duração de um lampejo. Já o artista
do contexto oficial. O ângulo e a luz que norte-americano radicado na Alemanha, Ben 6
Ver: Flusser, Vilém. A Filoso-
dotam de autoria as imagens reveladas por (Benjamin) Patterson, exibe a foto-projeto fia da caixa preta. São Paulo:
Paula, contrastam com a aridez advinda da conceitual de uma escultura concebida Hucitec, 1985, p.14.
7
Patterson é um dos idealiza-
obra de Flávio. Desta vez, o que se impõe não para a Baía dos Golfinhos (Itália) e que hoje dores junto com George Ma-
ciunas do Festival Fluxus, que
é a figura humana, mas a delicada relação se encontra no Museo Del Parco, Porto Fino ocorreu em 1962, em Wies-
que se estabelece entre o espectador e a luz (Itália), pois após uma longa briga política não baden (Alemanha). O evento
marcou a criação do Fluxus,
vinda da fresta e que se abre, exigindo uma pode ficar no local planejado, como vemos na que - por meio de performan-
aproximação, o exercício do olhar. O que imagem do projeto. Se a escultura real hoje ces, arte postal e assemblage
-, propunha que a própria
se torna nítido não é o que se distingue de não se encontra inserida nesta paisagem, como vida poderia ser vivida como
imediato, num jogo de claro-escuro, mas o que vemos na montagem fotográfica exposta em arte. O movimento marca-
rá a década de 1960 e 1970,
se desvela aos poucos. Há um pássaro, um vôo Belém, enquanto imagem/projeto ela se realiza, contando com artistas de vá-
iminente, uma Nau Frágil prestes a navegar, o que confere a esta fotografia um significado rias nacionalidades em seus
inúmeros projetos, como os
algo pronto a desprender-se e perder-se no especial e revela um dos procedimentos do alemães Joseph Beuys e Wolf
Vostell, o coreano Nam June
infinito. O texto que faz parte da Nau Frágil Fluxus7: a obra existe no momento em que Paik, o francês Bem Vautier, e
de Sampaio não pretende explicar as imagens, você pensa na mesma. japonesa Yoko Ono.

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Claudia Leão e Leonardo Pinto trabalham ao ser em branco e preto um nome próprio.
com imagens banais do cotidiano colecionadas Amorfo, não se distingue do outro, dos outros.
a partir de celulares de amigos e familiares Já a obra de Rafael Adorján Tindó, da série
que são editadas propositadamente de forma Vila Longuinhos, expande a noção de espaço
aleatória. O tempo é ágil, distribui-se no ao construir um políptico no qual o ambiente
fragmento, na cor que torna abstrato o que interior da arquitetura se amplifica na imagem
tem contorno e forma. O ato simples aproxima- contígua, ao mesmo tempo em que a luz
se do esquecimento, daquilo que se perde a sobre os objetos interferem nessa arquitetura,
cada segundo no ato de viver. A velocidade constituindo outras percepções do espaço, tal
contemporânea não permite que as corriqueiras qual o jogo ilusório presente nas esculturas de
seqüências ganhem nitidez. Pedaços do que foi poliuretano e zíper de Geraldo Zamproni, que
vivido emergem sem que o tempo os absorva, num primeiro momento, sugerem a robustez
26 o que vem à tona logo se perde em outra do concreto para jogar com a ironia acerca dos
imagem, e outra e mais outra. materiais e seus pesos, como sutilmente sugere
A complexidade das relações afetivas ganha seu título, Sustentabilidade.
estranhos contornos nos vídeos, fotografias e No entremeio de salas, um vídeo documenta
pinturas de Paulo Meira. O nonsense introduz- um dado cultural identificável de uma festa
se em um universo de humor e crueldade, religiosa que se tornou símbolo da cidade.
num diálogo entre filosofia, história e ficção. Jair Júnior, com humor, apropria-se do Círio
São seres de um universo que ora se apresenta de Nazaré e transforma-o em uma ação que
como fantástico, ora como metafórico. As interliga a cidade ao evento, os desenhos da
ordens de uma palhaça ao personagem de santa conseguidos na rua misturam-se aos
olhos vendados revelam o poder de uma realizados em plena abertura do Arte Pará.
ordem estabelecida e cumprida cegamente, A condição para participar do sorteio é fazer
mesmo que o perigo torne-se próximo. Segue- o desenho, sem ele não se pode concorrer à
se cada comando como se o absurdo tivesse se pintura de Nossa Senhora de Nazaré, feita pelo
instalado e se naturalizado de tal forma que artista, nem a grade de cerveja ou a grande
obedecer transforma-se em um ato amoroso. atração: o pato.
O corpo coberto do “torturador” contrasta com No mesmo espaço em que se encontra
o peito nu do “torturado”, a voz estrangeira é inserido o vídeo de Jair Júnior, tem-se a
a sonoridade emitida pela cruel palhaça que dimensão da diversidade da mostra. Um pouco
distante da “ingenuidade circense”, delicia-se afastado encontra-se a vídeo-instalação de
com o papel de algoz. Meira, em sua série de Acácio Sobral, que recebeu o Grande Prêmio
vídeos da Sessão de Cursos nos convida a olhar em 2004, e foi remontada para homenageá-
para a vida com outros olhos, mais atentos, lo em 2009. Trata-se de Correspondências
instigando-nos a observar sua obra densa e (do espinho/da vida/da arte). Acácio sempre
repleta de metáforas com atenção redobrada se distinguiu pelo incessante processo de
sobre seus sinais. pesquisa conceitual e material e criou este
Flavya Mutran, que divide a sala com Paulo vídeo-instalação com o intuito de discutir a
Meira, apresenta um trabalho que apesar de arte, a vida, a dor. A poética se estabeleceu na
uma certa dose de crueldade, concebe-o de junção da música de Gustav Mahler, com as
forma diferente, lançando mão de imagens cenas que o artista se apropriou do cinema,
da internet. São retratos desconstruídos, da História da Arte. A sucessão de imagens
pertencentes a um processo identitário sempre apresenta o personagem tirador de
inconcluso. Por sobreposição de rostos, há espinhos que nunca é o mesmo, mas pode ser
uma fusão, gerando um outro que só existe reconhecido pelo ato, pela posição recorrente
enquanto imagem. O apagamento dos traços de aliviar a dor, de retirar aquilo que lhe causa
de identificação torna impossível reconhecer sofrimento. Em frente às sucessivas cenas, um
ou conhecer aquele que se vê. O contorno da banco se destaca sobre ele: um prato com
face e o cabelo não são suficientes para atribuir espinhos. Há uma clara referência a Marcel

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Duchamp, à arte, ao efêmero, à dor integrada pinturas viscerais da série O Ciclo do Cão, de
à existência, que pode cessar por um tempo, Thiago Martins de Melo, Prêmio Aquisição,
todavia, retornar mais adiante. O ciclo envolve fruto de um mergulho profundo em questões
quem vê, quem cria, aproxima arte e vida, da filosofia e da subjetividade humana, numa
deixa o espectador suspenso entre a delicada pintura que tem em seu cerne uma constante
beleza e a fragilidade da vida. produção reflexiva.
Na capela, a homenageada do A rte O campo da pintura divide espaço com
Pará: Walda Marques. Ao longo dos anos, objetos, fotografias e instalações, como as
a artista criou um universo particular no imagens de intervenções urbanas de Heraldo
qual constrói seus personagens, histórias Cândido, que trazem junto o endereço de
fantásticas, amores impossíveis, mas repletos de onde estas se encontram na cidade, passando
desejos, esperanças sonhos. Assim, conquistou pela bem humorada e crítica instalação/
um espaço especial na fotografia. Walda cria colagem de Bruno Faria composta a partir de 27
tramas ilógicas, oportunidades impensáveis embalagens cujas marcas dos produtos detêm
para seus personagens: uma sereia perde elementos da paisagem, criando um verdadeiro
seu rabo para conseguir conquistar seu panorama, às avessas da tradição pictórica ou
príncipe; espelhos servem de passagem para fotográfica. Neste mesmo espaço, encontra-se
mundos inimagináveis; uma boneca de papel a fotografia da instalação de barcos de Bruno
se apaixona por um marinheiro em uma Vieira, que nos remete a Glauber Rocha (ou
fotografia; um mágico duplica sua amada. seria a Antonio Conselheiro?), no vaticínio de
Impossível tornar presente o seu universo que “o sertão vai virar mar, o mar vai virar
fotográfico plural, optou-se então por uma sertão”. Neste mesmo fluxo, chega-se aos
síntese, por alguns pontos que interligam “retratos” de santos do candomblé de Ayrson
diferentes linguagens e permitem a presença Heráclito, Bori Ogum e Bori Xangô, fruto de
de personagens vindos das foto-novelas ou uma pesquisa de imersão nas tradições afro-
presentificados na fotografia. A performance religiosas que leva o artista a interpretar os
deu vida à triste história de amor da noiva santos, convidando amigos para serem os
abandonada surgida da fotonovela O Homem modelos desta representação.
do Central Hotel. A instalação, vestígio da Dentre esses diversos projetos se destaca
performance, integrou-se às fotos dispostas Hoximu, de Klinger Carvalho, que foi exposto
de forma não convencional. pela primeira vez em junho de 1994, na galeria
A obra fotográfica de Walda Marques se Theodoro Braga. As cuias, velas e cruzes, não
constitui como um delicado e, ao mesmo denunciam uma única morte, mas a morte
tempo, pungente olhar sobre universo em massa. Esta obra refere-se ao massacre dos
feminino e nos afirma que a vida pode ser Yanomami, ocorrida em agosto de 1993, quando
muito mais do que a simples sucessão de dias, índios foram assassinados por garimpeiros, na
pode ser mágica, o que nos levou a tê-la como fronteira do Brasil com a Venezuela. Segundo
convidada especial do projeto Arte Pará 2009, Sonia Vinas, que apresenta o catálogo da
lançando ainda o livro Saudades, com um exposição de Klinger na Theodoro Braga, revela
recorte de sua produção. que quando um Yanomami morre, seus objetos
Nos corredores do MHEP, a intervenção são destruídos e cumpre-se um ritual em que
pictórica de Roberta Tassinari, realizada com o corpo do morto desaparece. Sendo assim, os
um material viscoso, escorria do teto e deixava cadáveres não foram encontrados. A ausência
suas marcas no chão, grudava-se nas paredes, dos corpos serviu então de álibi aos assassinos,
formava um elo entre as salas Antonio Parreira que afirmaram não ter havido mortes.
e Manoel Pastana, onde estavam um grande Klinger, com sua instalação, denuncia o ato
número de pinturas, desde obra da coleção de violência cometido contra os Yanomani, ao
da Casa das Onze Janelas, pertencente a mesmo tempo em que alerta quanto à omissão
Emmanuel Nassar, aos pequenos quadros referente ao gradual genocídio indígena.
de Ana Elisa Egreja e de Camila Soato, até as

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Museu Histórico
do Estado do Pará

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Walda Marques
Lembranças de Dolores (2004/2009)
Instalação e Performance
Belém - PA

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Berna Reale

30

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Grande Prêmio

31

Quando Todos calam (2009)


Performance orientada
para fotografia
Tríptico
70 x 100cm
Belém – PA

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Por que escolher o Mercado do Ver-o- performance, apesar desta ser minha diante de sua obra dialogando com
Peso para realização de sua obra? primeira executada. Ainda não havia o público. Qual a importância dessa
Em Belém, o Ver-o-Peso para mim é o executado nenhum dos projetos que ação para o artista?
32 estômago da cidade, um lugar onde a tenho nesse sentido porque queria O artista contemporâneo está em
fartura e a miséria se confundem. estudar melhor e conhecer mais essa constante diálogo, quer seja com o
Qual a reflexão de seu trabalho? En- forma de expressão artística que, para meio que o cerca , quer seja com os
volve quais conceitos? É uma pesqui- mim, é bem complexa e envolve mui- atores integrantes da comunidade que
sa em arte já de algum tempo ou foi tos elementos visuais. Queria somente pertence, ou com o expectador que vê
pensada especificamente para o Arte executar meus projetos nessa área ar- seu trabalho, pois a arte contempo-
Pará 2009? tística quando eles me dessem a res- rânea também se dá a partir dessa
Este trabalho é uma continuação de posta de que eu estaria pronta para troca. A observação do outro sempre
minha pesquisa estética e conceitual realizá-los. Quero estudar mais a cada nos permite olhar novamente para o
sobre a cidade, sobre o homem e a dia, escrever projetos e planejá-los com trabalho e algumas vezes ver algo que
relação travada entre eles na vida ur- cuidado para que sejam bem sucedi- ainda não havíamos percebido.
bana, uma geografia onde o humano dos, como penso que foi com “QUAN- Qual a importância da iniciativa dos
e o animal se confundem, os compor- DO TODOS CALAM”. organizadores e patrocinadores para
tamentos se alternam e se entrecru- Você pensa no Grande Prêmio no Sa- manter o salão?
zam em uma trama que é tecida, ora lão Arte Pará como um registro im- O Arte Pará tem o mérito de resistir
com fios de renda, ora com vísceras, portante em um currículo artístico? às dificuldades que o nosso Estado
entre o ritmo do adagio e do allegro, Sem dúvida, o salão Arte Pará é um enfrenta pela sua localização geográ-
orquestrados pelo silêncio. salão já consolidado no calendário ar- fica e falta de incentivo na produção
Seu trabalho envolve algumas lingua- tístico nacional e tem se firmado pela e divulgação da arte contemporânea
gens, explique melhor este processo seriedade em que é pautado, quer pe- pelos governantes. Nesse sentido, o
e como foi a experiência de fazê-la los critérios de seleção, quer pelo cor- empenho da Fundação Romulo Maio-
num ambiente público. po de jurados , coordenação e espaço rana em conseguir patrocínio na área
A foto-sequência apresentada no Arte dignos de montagem da mostra. Para privada é um desafio. Esse esforço
Pará é um dos resultados da ação-per- mim, como artista paraense, ganhar o tem feito surgir empresas que acre-
formance que ocorreu em Belém, no Grande Premio no salão é um ponto ditam que a arte é um grande valor
Ver-o-Peso. Para ser mais específica, a marcante na minha vida profissional. social, estimulando outros empresá-
fotografia foi o meio que escolhi para A ação educativa do Arte Pará des- rios a oferecer o patrocínio de projetos
registrá-la. Eu sempre gostei muito de de 2008 faz a proposição do artista com o mesmo objetivo.

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34

Jair Junior
Sorte (2009)
Intervenção Urbana/Performance
Belém-PA

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Lise Lobato
S/título (2009)
Instalação
200 x 80cm
Belém – PA

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Tiago Melo
Prêmio aquisição

36

O Ciclo do Cão 1, 2 e 3 (2009)


Prêmio Aquisição - O Ciclo do Cão 1
Pintura
180cm x 200cm
São Luis – MA

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Emannuel Nassar
Artista convidado

37

S/Título (1995)
Pintura
130 x 130 cm
Coleção Museu Histórico
do Estado do Pará
Belém - PA

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Ayrson Heráclito
Bori Ogum e Bori Xangô (2009)
Fotografia s/papel algodão
100 x 100cm
Salvador – BA

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Amanda Mota Silveira


Desenho Coletivos SP 1 2 e 3 (2009)
20 cm x 25 cm
Olinda-PE

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40

Heraldo Silva
Fractais (2009)
Pintura – Intervenção Urbana
180cm vertical; 420cm horizontal,
21 x 14 cm cada
Belém – PA

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41

Bruno Vieira de Britto


O sertão vai virar mar (2009)
Fotografia
45 cm x 60 cm
Recife – PE

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Bruno Faria
Panorama II
Instalação e Colagem
Rótulos, papel milimetrado e acrílico
7 metros lineares
Recife-PE

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Klinger Carvalho
Artista convidado

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Hoximu (1994)
Instalação
Tamanho Variado
Colombia - Bogotá

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Camila Soato
(RE) Tratos
S/Título (2009)
Pintura
8 x 13 cm
Brasília – DF

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Roberta Tassinari
S/título (2009)
Amoeba sobre parede
180 X 200 cm
Florianópolis – SC

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Flavya Mutran
Artista convidada

47

XY e XX da Série ‘BIOSHOT’ da
pesquisa Pretérito Imperfeito de
Territórios Móveis (2009)
Fotografia digital
50 x 75 cm
Porto Alegre - RS

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Paulo Meira

48

O Marco Amador
Sessão Las Outras (2004)
Instalação,vídeo, fotografia e texto
Recife - PE

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Artista convidado

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O Marco Amador
Sessão Cursos (2006/2007)
Instalação
Recife-PE

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50

Geraldo Zamproni
Sustentabilidade V (2009)
da série Sustentabilidade
Mista: Poliuretano e Zíper
20 x 220 x 20 cm
Curitiba – PR

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51

Rafael Adorjan Tindó


Série Vila Longuinhos
(Políptico) (2009)
Fotografia
40 x 40 cm cada
Rio de Janeiro - RJ

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52

Hugo Houayek
Falange, infláveis (2009)
Instalação
180 por 280 cm
Niterói-RJ

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53

Loise D.D.
Dormonid 15mg [Sleeping Pills];
Rohypnol 1mg [Sleeping Pills]; (2009)
Objeto: Almofada de pelúcia
7,5 x 40 x 15 cm; 5 x 25 x 25 cm
Tarja Preta
Tatuagem/Fotografia
17 x 6 cm; 30 x 40 cm
Rio de Janeiro-RJ

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Paulo Wagner

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Prêmio aquisição

55

Mulher de pé; Mulher sentada;


Mulher de costas (2009)
Prêmio Aquisição - Mulher
de pé e Mulher sentada
Pintura
97 x 83,5 cm; 99 x 82 cm,
115 x 97,5 cm
Belém – PA

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Regina Silveira

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Os Grandes (1981-2001)
Série Dilatáveis
Imagem Digital, dimensões variáveis
Corte em vinil
Porto Alegre-RS

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Artista convidada

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Paula Sampaio

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Nau frágil

Parece ser um destino: cami-


nhar entre os seres colecionan-
do apontamentos de reinven-
ções e esquecimentos vários.
E assim, foram muitas as rotas
e outros tantos desvios nessa
Nau. Pelo caminho, encontros
com frágeis corpos/paisagens
que guardam memórias e se
materializam em fragmentos
do cotidiano, pressentimen-
tos que se vestem de imagens
e seguem, andarilhos, para
além do olhar cego do Uirapu-
ru-de-chapéu-azul, pássaro-
gente, que mira o futuro nas
luzes do mar.
Mas é nas águas da infân-
cia de Sayuri, “pequeno lírio
branco”, que o tempo impri-
me sua potência transgresso-
ra e nos devolve ao oceano...
Para além, segue uma única
natureza, renascida, nessa pe-
quena história de sensibilida-
des, vida afora.

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Prêmio Aquisição
Menção especial do Júri

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Nau Frágil (2009)


Fotografia
Instalação
60 x 25 cm, 60 x 40 cm
Belém – PA

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Flávio Cardoso
Menção especial do júri

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Dead Pixel (2009)


Instalação
Belém – PA

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Paulo Meira
Artista convidado

61

O Marco Amador – Sessão Las


Outras (2004), Sessão Cursos
(2006/2007)
Instalação,vídeo,
fotografia e texto
Recife - PE

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Rosângela Rennó

62

Espelho diário
Vídeo instalação com duas
telas e CD de áudio
São Paulo-SP

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Artista convidada

63

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Alberto Bitar
S/título da Série Efêmera Paisagem
(2009)
Fotografia
40 x 60 cm
Belém – PA

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Cláudia Leão e Leonardo Pinto
Artistas convidados

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Protocolo de infinitas imagens


cotidianas II (2009)
Vídeo
São Paulo-SP

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Ana Elisa Egreja


Black e Falcão ( Hunting Dogs) e
Otávio (Hunting Dogs) (2009)
Óleo sobre papel
17 x 13 cm
São Paulo-SP

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Walda Marques

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Performer: Mariana Marques. Foto: Shirley Penaforte.

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Sala Especial

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Lembranças de Dolores
Instalação e Performance
Belém - PA

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A sala especial da 28ª edi-


ção do Arte Pará recebeu
o projeto Lembranças, da
artista Walda Marques,
composto de um livro
lançado pela Fundação
Romulo Maiorana, junta-
mente com uma perfor-
mance que aconteceu na
Capela do Museu do Esta-
do em Belém, na abertura
oficial do Arte Pará 2009.

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A Ilusão é bela, porque ilude

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Walda Marques é uma fotógrafa ímpar. Cons-


tituiu ao longo dos anos um universo parti-
cular no qual constrói seus personagens, his-
tórias fantásticas, amores impossíveis, mas
repletos de desejos, esperanças sonhos. Assim,
conquistou um espaço especial na fotografia.
A fotógrafa-artista cria oportunidades im-
pensáveis para seus personagens: uma sereia
perde seu rabo para conseguir conquistar seu
príncipe; espelhos servem de passagem para
mundos inimagináveis; uma boneca de papel
se apaixona por um marinheiro em uma foto-
grafia; um mágico duplica sua amada.
A obra fotográfica de Walda se constitui
como um delicado e ao mesmo tempo pun-
gente olhar sobre universo feminino e nos
afirma que a vida pode ser muito mais do
que a simples sucessão de dias, pode ser má-
gica, o que nos levou a tê-la como convidada
especial do Projeto Arte Pará 2009.

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Sala Antônio Parreiras

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Museu de Arte de Belém

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Armando Queiroz
Tempo Cabano (2009)
Site Specific / Obra em
Local Específico
Belém – PA

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Delicadeza à Violência
Marisa Mokarzel e Orlando Maneschy
Curadores

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O Museu de Arte de Belém (MABE) integra o Arte Pará dos excluídos, daqueles que se encontram à margem da
com uma única obra, o site-specific (obra orientada para história oficial.
lugar específico) Tempo Cabano, de Armando Queiroz que Queiroz sempre optou pela delicadeza à violência.
recebeu o 2º Prêmio. O artista criou a obra especialmente Entretanto, não dispensa o vigor, não silencia diante
para ocupar esse prédio antigo, sede da Prefeitura de Belém. daquilo que o incomoda, daí sua obra constituir-se
Elegeu como eixo do trabalho um momento histórico do atualmente uma das mais potentes no Norte do país.
Pará, a Cabanagem, revolta que aconteceu no século XIX e Desse olhar atento para a história e para a vida partem
aliava a camada pobre da população à elite local, formada suas ações artísticas, como em Tempo Cabano. A obra,
por fazendeiros e comerciantes. Os cabanos uniram- fruto de um extenso processo de negociação, detém
se contra o governo regencial para expulsar aqueles que complexidade de articulação, não apenas nas relações
desejavam que a região se mantivesse como colônia de propostas entre imagens e objetos, mas em uma negociação
Portugal. O embate gerou muitas mortes e durou cinco invisível, anterior à sua realização, entre o artista e seus
anos até que a revolta fosse reprimida. Armando estabelece colaboradores – Luiz Braga e a direção do Mabe – , que
uma relação entre passado e presente, contrapõe, em cada viabilizaram a instauração da obra e sua permanência ao
extremo da escada interna do Palácio Antonio Lemos, duas longo do Arte Pará.
significativas imagens, que se interligam por meio de uma Por instigar a reflexão sobre a realidade de um povo que
montra contendo um amendoim sobre uma moeda cabana. vive à margem ao longo do tempo, a obra provoca e traz,
Uma imagem é a pintura Cabano Paraense, de autoria para a sede da Prefeitura, questionamentos que fazem com
de Alfredo Norfini, realizada em 1940, e que pertence ao que as articulações para sua permanência sejam freqüentes
acervo do referido Museu; e a outra é a fotografia de Luiz ao longo do evento. Tal empenho do artista, da Fundação
Braga, Vendedor de Amendoim, de 1990. Romulo Maiorana (FRM) e da direção do MABE foi tão
Os tempos se entrecruzam na imagem, independente bem sucedido que a obra foi reapresentada no aniversário
das diferentes épocas em que se realizaram a Cabanagem, de Belém do ano seguinte, provocando novamente, num
a pintura e a fotografia – todos os tempos são passados e momento de festa, um pensar sobre os diversos “porquês”
se fazem tão presentes ainda hoje. As imagens não estão que rondam nossa história.
apenas interligadas pelo amendoim e pela moeda, nem Armando vem constituindo com sua obra uma “história
somente por um dado histórico, mas pela estética, pela da violência na Amazônia”, como sabiamente aponta o
postura formal assumida pelo pintor, pelo fotógrafo. A curador Paulo Herkenhoff, revelando, por meio da arte,
altivez do herói com a arma e a dignidade do menino com processos de exclusão que se sobrepõem, em artifícios de
o balde de amendoim encontram-se no desenho do corpo, aniquilamento. Queiroz, ao ativar relações entre imagens
no tronco exposto, no braço esquerdo pendente sobre a e objetos de outros, rompe com um atrator de forças
perna que se inclina pra trás. O fio da história se entrelaça tão corrente nas artes, que é o ego do artista, dissolve-o,
às memórias: lacunas e embaçamentos do que foi. O que propondo um revelar que é coletivo, das inúmeras, pequenas
se coloca nas e entre escadas, é uma obra, não um fato. e grandes violências, ocultas em nossas entranhas, naquilo
Se relacionam os tempos, a estética, a condição pendente que muitas vezes atribuímos menor importância.

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Como se deu a escolha do tema “Cabanagem” com as duas encaramos de frente, cientes que retro-alimentamos nosso
linguagens, pintura e fotografia? Fale um pouco do projeto presente através dele e, com isso, podemos redirecionar
e da relação com os artistas nesse contraponto. nosso futuro. A arte entra aí como uma força catalisadora
Sempre chamou minha atenção a semelhança formal da e propagadora de sentidos. Como mais uma forma de
aquarela “O Cabano Paraense” (1940), de Alfredo Norfini, indagação, de reflexão sobre a realidade.
e a fotografia “Vendedor de Amendoim” (1990), de Luiz A ação educativa do Arte Pará desde 2008 faz a proposição
Braga. Por muitos anos, tentei trazer para uma discussão do artista diante de sua obra dialogando com o público.
mais ampla estas duas obras repletas de significados Qual a importância dessa ação para o artista?
contrastantes. Somente agora foi possível, curiosamente Para mim é de fundamental importância. Tanto na ação-
após uma tarde agradabilíssima que passei acompanhando educação, através dos mediadores, como também na
o Luiz Braga, que estava fotografando a Catedral da Sé. presença do artista propositor recebendo os visitantes. O
Acordei com a proposição do projeto pronta, o projeto sentido deste trabalho, a meu ver, completa-se somente
ampliado. Tudo se encaixava, as escadarias, as obras, o quando discutimos sobre ele. É sempre surpreendente
amendoim, a moeda cabana, os contrapontos. contar com o olhar do outro. De ver como as conversas
Tua obra foi realizada para ficar especificamente no Museu permitem que novos significados venham à tona. Até
de Arte de Belém (Mabe). Por quê? mesmo a sensação de indiferença que pode provocar
Não gostaria de tratar da Cabanagem como algo que ficou nas pessoas faz parte da obra. Vejo o trabalho como
exclusivamente no passado. Se concebesse o trabalho para um espelho que não reflete simplesmente a imagem de
o Palácio Lauro Sodré, imagino que poderia correr este quem o observa, mas também sendo capaz de refletir sua
risco, pois aquele foi um dos locais mais representativos sensibilidade e visão de mundo.
dos eventos relacionados com a Cabanagem. Além do Existiu alguma situação especial ou inusitada nestas
que, hoje, o poder constituído da cidade encontra-se experiências? Você poderia contar?
no Palácio Lauro Sodré. Meu interesse envolve questões Foi marcante acompanhar todo o processo de negociação
desta natureza, de como este poder e aqueles que o com a instituição que abriga o trabalho e as etapas de
antecederam trataram e tratam a memória do movimento montagem da obra. De perceber como as pessoas iam,
cabano. De como, ao longo dos anos, esta memória foi quase sem querer, sendo envolvidas nesse processo
sendo assimilada ou intencionalmente esquecida. revelador de quereres, saberes e poderes. Como cada
Como se dá a proposição do nosso passado e relacioná-lo pequeno gesto, da autorização ou não da permanência
com o nosso presente através da arte? do trabalho nas escadarias do Palácio, até a fixação dos
Nada melhor do que compreender o presente através do pregos que sustentam as obras na parede, tudo enriqueceu
conhecimento do passado. Contudo, não devemos cometer o sentido da obra. Uma obra que é aparentemente de
o grave engano de suscitar anacronismos. Cada momento resolução simples. Contudo, fruto coletivo da construção e
histórico proporciona suas soluções e estratégias de ação sensibilidade humana.
específicas. Mesmo assim, podemos e devemos aprender
com os erros e acertos do passado. Principalmente quando o

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Armando Queiroz

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2º Prêmio

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Tempo Cabano (2009)


Site Specific / Obra em Local
Específico
Belém – PA

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Museu de Arte Sacra

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Nato
Artista convidado
Latinidades na Origem
do Mundo (2009)
Belém-PA

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Identidade ?
Marisa Mokarzel e Orlando Maneschy
Curadores

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Em um universo tão amplo da arte, o Museu registrou em Florianópolis (SC) sua ação e a
de Arte Sacra (MAS) recebeu um conjunto enviou a Laércio Redondo. Assim, iniciaram
de obras reunidas pela pluralidade de uma uma troca de imagens e mensagens, gerando o
abordagem questionadora da identidade. Sabe- trabalho apresentado no Arte Pará, que mantém
se que no mundo contemporâneo à identidade, a idéia de fluxo ao ser realizado em duas
que se constitui em um fluxo de migrações frentes: a primeira, com um impresso contendo
geográficas e culturais no qual não é mais imagens de Redondo e Barreto feitas para a
possível identificar uma única identidade, circulação, para a dispersão, e a segunda, com
mas um processo de construção em que as a publicação no jornal O Liberal da orientação
indagações permeiam os elementos que podem para a performance, com o desenho inicial de
identificar o lugar, assim como as pessoas Redondo, convidando novos participantes a
que ali habitam. Discute-se a diversidade tomarem parte do jogo da criação.
identitária, questionando como essa identidade Da mesma maneira que a proposta de
se constitui em um mundo globalizado, no qual Laércio Redondo e Adriana Barreto disponibiliza
obras podem ser criadas a partir de relações e identidades imagéticas de um fruto paradisíaco
decisões estabelecidas virtualmente. como uma maçã, para que se estabeleçam
Neste espaço geográfico em que distância e relações de afetividades entre países e pessoas,
tempo foram alterados, artistas residentes em pode-se perceber um processo que traz outras
diferentes países podem propor uma obra que, questões, como as do artista peruano Giuseppe
ao ser mostrada em Belém do Pará, continua Campuzano. Este artista discute, por meio
em processo, fazendo com que o público do corpo e da performance, a construção
interaja e divida com os artistas a autoria de subjetividade e processos de elaboração
de uma proposição móvel, materialmente cultural. Ao travestir-se para a câmera,
efêmera, mas que é capaz de permanecer no aciona os tópicos espirituais e psíquicos de
campo das idéias e afetar aqueles que com unicidade em contraste com a multiplicidade
ela convivem. Isto ocorre com a obra Paraísos de idolatrias indígenas e marianas, levando
Instáveis, de Laércio Redondo e Adriana Barreto, o público a perceber que constitui um
que teve início em 2006, quando Regina Melim dispositivo para práticas artísticas, culturais e
convidou Laércio para participar da publicação sociais, como no Museu do Travesti, no qual
Por fazer (PF). Com um desenho, Redondo discute o importante papel que a androgenia
conclamava o público a ser participante ativo teve na cultura pré-colombiana e na posição
de uma performance. dos travesti no mundo contemporâneo.
O projeto desdobrou-se por meio da O museu criado por Campuzano não existe
interação com o público e de registros materialmente, mas discute a ambigüidade de
fotográficos. Diferentes tipos de interação uma situação de gênero, dos papéis não fixos,
aconteceram, a experiência Paraíso Aqui mutáveis de acordo com um novo personagem
de Adriana Barreto, foi uma delas. A artista e a personalidade que assume. Um exemplo é

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83

a própria imagem de Nossa Senhora, na qual algo simbólico de uma identidade que nunca
se traveste e a invoca sem naturalismo, mas se completa, que, em aberto, se constrói
cenograficamente, e dispara uma reflexão na fluência dos rios, nos volumes das águas
sobre o travestismo enquanto conceito que escoam no oceano. O artista, com suas
cultural, revelando nas aparições marianas, costuras e tecidos cobertos de personagens
índices performativos. O artista utiliza-se da amazônicos ou semelhantes aos encontrados
arte como meio para refletir sobre os papéis em outras cidades brasileiras, latinas ou quem
culturais e sobre subjetividade. O teatro sabe africanas, compõe este estandarte que
medieval, o personagem La imilla da dança fica estendido no meio da exposição propondo
Qhapaq Qulla, que é realizada em Cusco, os uma confluência, sem convergir para um ponto
ex-votos depositados em mausoléu de Sarita comum, mas para direções distintas que se
Colonia são processos étnicos e de classes entrecruzam e seguem rumos desconhecidos
que são ativados por Campuzano em uma para sumirem logo depois.
“ritualidade cósmica e cosmética”. Várias de Já nas obras de Ana Luiza Kalaydjian os
suas obras e ações são realizadas por meio de rituais de uma ancestralidade parecem emergir
parcerias, como as exibidas aqui e que tiveram da subjetividade e transparecer no corpo, que se
a participação dos fotógrafos Alejandro Gomez apresenta diante da câmera. Esta obra dialoga
de Tuddo e Carlos Pereyra figurando junto com com os animais empalhados no políptico
Campuzano como convidados dessa edição. fotográfico (Re) tratados, de Karina Zen, que
Na obra de Nino Cais, o que se sobressai por meio das imagens desses bichos em formato
são as imagens por ele criadas que surgem das de retrato, nos lembra de nossa presente
revistas de moda, repletas de moldes com seus animalidade. Questões da natureza humana
padrões e texturas, gêneros e estilos sujeitos são registradas nos bordados que se sobrepõem
a constantes mudanças. Manipulados pela nas narrativas entre cortantes de Rodrigo Mogiz,
colagem, os padrões de rendas, estamparias e onde delicadeza e violência coexistem num jogo
crochês não permitem que o indivíduo alcance entre o sagrado e o profano.
uma identidade. O recorte e o encobrimento Desta forma, no Museu de Arte Sacra pensa-
do rosto retiram das tessituras de fios o se a identidade em processo que se deixa
que há de mais tradicional das técnicas de atravessar por subjetividades, individualidades
tecer pulôveres, gorros de frio ou biquínis de e coletividades, sempre em conexão com um
verão. As identidades, no entanto, perdem-se mundo em que prevalecem as interrogações,
nesse entremear e vão muito além do visível, evidenciando-se os extremos que não deixam
deixando-se permear por subjetividades que de estar interligados por nuances. Acredita-se na
fornecem a maleabilidade das diferenças, o possibilidade de se alterar a ordem vigente.
rebatimento dos espelhos nos quais o indivíduo
se reconhece ou se vê como estranho.
Nato tece outro foco, faz de seu estandarte

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84

Karina Zen
(RE) tratado ( Políptico) (2009)
Fotografia
68 x 265 cm
Florianópolis-SC

Ana Luiza Kalaydjian


Anuch/Luritza IV (2009)
Fotografia
35 x 25 cm (cada)
São Paulo-SP

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Nino Cais
Artista convidado

85

S/Título (2009)
Fotografia
110 x 70 cm
São Paulo - SP

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Giuseppe Campuzano e Alejandro Gomez de Tuddo
Artistas convidados

86

Virgen de las Guakas (2007)


Fotografia/Performance
70 x 194 cm
Peru

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Giuseppe Campuzano e Carlos Pereyra
Artistas convidados

87

Dolorosa (2007)
Fotografia/Performance
60 x 40 cm
Peru

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Laércio Redondo e Adriana Barreto

88

Paraisos Instávéis (2006)


Fotografia
5000 impressões em off set para
serem levadas pelo público
Estocolmo-Suécia e Florianópolis-SC

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Artistas convidados

89

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90

Rodrigo Mogiz
Mapa Imaginário II III IV (2009)
Bordados e Pinturas sobre entretela
80 x 120 cm
Belo Horizonte-MG

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Nino Cais
Artista convidado

91

S/Título (2009)
Colagem
20 x 30 cm
São Paulo - SP

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Museu da Universidade
Federal do Pará

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Luciana Magno
Vit (r) al (2009)
Intervenção urbana
Belém – PA

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Imagens e Pensamento
Marisa Mokarzel e Orlando Maneschy
Curadores

94

O vínculo entre Imagens e Pensamento serviu de eixo Delírio (1989-1993) de Val Sampaio, artista convidada, irá,
conceitual ao núcleo de obras que a curadoria destinou ao numa narrativa quase fílmica, abordar a subjetividade
Museu da Universidade Federal do Pará – MUFPA. Partiu- feminina, frente às dificuldade de consolidação de uma
se do princípio que vivemos desde os primórdios relações identidade nos conturbados e libertários anos 1980.
com o mundo em que a Imagem se estabelece como Operando também a partir do feminino e do corpo da
potente vetor de mediação. Por meio dela nos relacionamos mulher, a obra em video Panóplia do corpo, de Elieni
com o transcendental e com os fatos mais importantes e Tenório, acionando questões da performance, do objeto
corriqueiros da história. escultórico e do próprio fazer artístico mereceu Menção
Na arte, a Imagem viabiliza novos e surpreendentes Especial do Júri.
modos de olhar para o que nos rodeia, propondo São múltiplas as questões que as obras presentes nessa
significados distintos, possibilitando-nos re-significar mostra respondem em relação à representação e a imagem;
nossas relações mais íntimas com a vida e até mesmo com das figuras diminutas nos óleos de Elton Lúcio dos Santos,
o próprio universo das imagens. Por meio da arte temos a que buscam espaço dentro da tela ou nas pinturas de
possibilidade de constituir relações mais fluidas e criativas Marcelo Amorim, com personagens em Preto e Branco,
com o que nos cerca e com o que nos é estranho. Olhar, em que este se reporta a imagens que circulam na mídia
olhar novamente e descobrir conexões, sentidos, modos de para articular sobre comportamentos, nas telas da série
ver e de pensar. O universo imagético está ao nosso redor e Educação para o Amor.
uma das saídas é tentar entendê-lo. Nesta mostra as obras Fábio Baroni, por sua vez com seus trípticos da série
dos artistas propiciam variadas maneiras de lidar com a Narrativas Privadas, faz alusão às fotografias seqüenciais
Imagem. Fixas ou em movimentos, nos fazem lembrar de momentos de intimidade, que dialogam com as
das infinitas formas que podemos encontrar para ver o cenas de interiores presentes em Agendamentos de visita
mundo. para estudos de composição - Cenas de gêneros 1 e 2.
A mostra começa com o vídeo Cenesthesia, de Jorane Na interseção com a pintura, as fotografias de Fernanda
Castro, Dênio Maués e Toni Soares, produção do final Gassen, nos reporta de forma direta às cenas de interiores
da década 1980, convidada por ser uma referência da pintadas por Vermeer. Nessas proposições as linguagens
experimentação visual de uma época e marco da videoarte desdobram-se, entrando no que supostamente seria outro
em Belém. Com forte carga dramática, dialogando com campo de conhecimento, reafirmando a dissolução de
o cinema, Cenesthesia (1989) discute estética em um limites presente no contemporâneo.
período importante de busca de compreensão do vídeo Em Imagens e Pensamento as obras estabelecem entre si
como linguagem. Indo além da mera experimentação, a um forte embate que ora figura no jogo entre linguagens,
obra permanece e nos convida a pensar nos percursos da ora nas citações empreendidas, subvertendo e tornando
linguagem visual no Pará, bem como Anjos sobre Berlim informe nossas certezas. Isso acontece no vídeo de Melissa
(1992), de Nando Lima, que traz o vídeo para o espaço cênico Barbery, Quince dulces y quince cuadros, em que nada
teatral, construindo experimentações em que referências parece eminentemente fazer sentido. Vê-se a imagem
do cinema somam a construção estética, subvertendo e de uma paisagem que passa pelo vidro embaçado pela
mesclando as linguagens. Também do mesmo período, chuva de uma cidade qualquer da América Latina. Do

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95

áudio, surge o som de um rádio, escuta-se uma entrevista viagem comprimida em um curto espaço de tempo
com uma mulher que garante comer quinze doces como registrado por um meio simples, gerando imagens de rara
sobremesa e que se apresenta como pintora. Barbery delicadeza, o que motivou o júri a contemplá-lo com um
evidencia o inesperado e surpreendente que ronda a Prêmio Aquisição. Também delicada é a instalação de
banalidade da vida. Danielle Fonseca, Mar Absoluto/Retrato Natural, ocupando
Também se detendo nas pequenas coisas da vida, uma pequena sala do museu com plotagens de símbolos
Luciana Magno, 3° Prêmio do Arte Pará, irá habitar, por náuticos e fotografias de um marinheiro (seu avô), ora
uma semana, uma loja de móveis modulados. Em Vit(r) menino, ora adulto com uma gravação de áudio com um
al, a artista desenvolve uma proposição de intervenção breve comentário de um samba enredo proveniente de
urbana que se encontra no campo da performance. Nos uma escolha afetiva que remete a uma preferência musical
procedimentos que antecedem à intervenção, a artista cujo tema era o mar. Repleta de melancolia e da memória
busca um estabelecimento que aceite recebê-la e negocia de um antepassado, a sala dialoga com a tela do acervo do
sua permanência para que, ao longo do período, utilize- MUFPA, de Riginni, em que se vê a antiga orla de Belém.
se dos ambientes artificialmente montados para compor Um dos convidados especiais que incendiou a discussão
uma casa, com o intuito de levar vida a estes lugares acerca da imagem, do corpo e sua inscrição na paisagem
de venda. Dorme, come, cozinha, faz as atividades do é Paulo Meira, que aqui apresenta uma nova instalação
seu cotidiano, interagindo e modificando o ritmo dos da obra Marco Amador - Sessão A Perda de Vista, com
funcionários e clientes. fotografias e video, em que gira com uma mulher nua em
Através de câmeras de segurança e de seu computador, seus ombros, com uma de suas esculturas hélices na mão.
o ato performático de Luciana Magno a manteve exposta Por meio de contato intenso ocorre uma transmutação.
em plena vitrine e vigiada 24 horas pela câmera que Nas fotografias dispostas no lado oposto ao vídeo, os
transmitiu para a internet, imagens que eram exibidas, personagens viajam rapidamente pelo mundo, por pontos
ainda, no MUFPA, para depois do período de habitação turísticos, históricos e da natureza. Na fotografia principal,
na casa comercial, ser substituído por um vídeo com uma citação à performance fotográfica de Duchamp
tempo acelerado. nos leva a pensar sobre as ironias da arte, da vida e da
Carlos Daddorian dispõe em uma parede, suas subjetividade, encenada em um corpo modificado.
fotografias com imã intituladas Derek me jarman, para Instigante, a obra de Meira nos põe em estado de alerta
que o público possa reescrever a narrativa. O artista dialoga para nossa percepção e nossas escolhas de ser no mundo.
com a obra do cineasta Derek Jarman de forma instigante Imagens e Pensamento se constituiu, em mostra de caráter
e bem humorada, propiciando outra experiência para o especial, por nos lembrar da importância da representação
fluxo narrativo. para a história da própria humanidade e de como a imagem
Dentro de uma dilatação temporal, o vídeo Em um vem se tornando cada vez mais complexa e surpreendente
Lugar Qualquer, de Dirceu Maués, é captado em fotografia em suas possibilidades.
pinhole, na qual o artista constrói suas câmeras artesanais
e depois as anima em vídeo. A obra registra o vôo de
mudança de Maués de Belém para Brasília, numa delicada

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Luciana Magno

A intervenção “Vit(r)AL” é uma proposta de habitar (ocu- comunicação entre a casa vitrine e a galeria via inter-
par) uma loja de decoração/modulados já montada com net? Explique como se deu este processo e se gerou
quarto, sala e cozinha. Explique o porquê da escolha do algum registro.
lugar e por quanto você ficou morando por lá. Algumas pessoas me perguntavam se o que eu estava fa-
A intervenção, o desejo da ação de habitar a loja de de- zendo era um Big Brother solitário. Não, era o oposto. Eu
coração, nasceu da observação de um isolamento intenso podia sair e também receber amigos, fazer o que fazia nor-
96 na cidade. Estava estudando para minha produção de gra- malmente só que em uma casa de vidro, abrindo as portas.
duação, pesquisava o movimento fotográfico em Belém na O Big Brother isola as pessoas em um coletivo, eu queria
década de 80 e nas fotos de jornais e nos depoimentos que era justamente o oposto, queria abrir esse isolamento.
recebi podia se ver que eram todos naturalmente engaja- Uma webcam grande angular levava as imagens que pu-
dos no coletivo, amavam estar juntos pelas ruas e bares, deram ser vistas em tempo real, durante a semana da in-
faziam a sua história. Isso era um contraste com a minha tervenção, tanto na galeria quanto no acesso de qualquer
geração, cada vez mais voltada para suas casas, seus com- ponto de internet pelo site http://www.blogtv.com/People/
putadores, seus mundos particulares compartilhados às vitral. Quem pôde visitou pessoalmente na própria loja
vezes de maneira virtual. Perto da minha casa há inúmeras Dellano, que fica na travessa Rui Barbosa. Além da we-
lojas de modulados e eu já tinha tido alguns devaneios, bcam, quatro câmeras de segurança registram tudo que
vontade de usar aquele espaço, levar algumas pessoas e aconteceu dentro da loja, e com essas imagens, um vídeo-
passar uma tarde, fazer um lanche, ocupar aquele espaço diário foi editado e ficou rodando no Museu da Universida-
vazio de vida e ao mesmo tempo fugir da reclusão das de Federal do PA (Mufpa) até o final do Arte Pará.
casas. Então tive o desejo de morar naquele lugar por um Como foi o processo de negociação com o dono da loja
tempo, fazer um laboratório vivo e pra ação ser completa de decoração? E como se dá a negociação no processo
precisaria da estrutura mínima de uma casa de verdade, da arte?
um quarto, sala, cozinha e banheiro. A ação aconteceu na Isso foi uma coisa bem bacana e uma procura difícil. En-
Dellano durante oito dias, por razões de segurança e pelo contrar parceiros que poderíamos pensar como co-autores
que havia sido acordado com os gentis donos da loja. era fundamental pra realização da ação. Ir até às lojas foi
Qual o objetivo durante a intervenção de promover a trabalhoso, procurar os espaços com a estrutura mínima

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3º Prêmio

e explicar aos responsáveis que gostaria de morar na loja assustavam comigo andando de pijama ou deitada lendo
deles por alguns dias causava surpresa e, às vezes, descon- na cama, explicavam o projeto e muitos até iam conversar
fiança. Era necessário passar alguma segurança, pedir para comigo. A negociação fez parte durante o processo inteiro,
habitar uma loja é como pedir pra abrigar um estranho a disposição, o diálogo é sempre muito importante quan-
em sua casa. Preparei então uma espécie de portfólio onde do falamos de arte ou de qualquer outra coisa. Acho que
explicava por escrito a idéia e como isso podia também tudo pode ser um objeto de transformação.
ser incorporado pela loja de uma forma legal, construti- Existiu alguma situação especial ou inusitada nesta expe- 97
va. Foram inúmeras lojas que visitei, levei projetos, mas riência? Você poderia contar?
esbarrava sempre na resposta dos donos por geralmente Foi tudo muito especial. Além da convivência que se es-
tratar com as pessoas responsáveis, seja pela gerencia ou tabeleceu com as pessoas da loja teve um fato que me
marketing do espaço. Fiz a inscrição no Arte Pará mesmo chamou a atenção. Em um que dia que eu fui ao Museu
sem ter conseguido o lugar, com o projeto aprovado fica- ver se estava tudo certo com o equipamento onde estava
ria mais fácil de conseguir parceria. Peguei a lista telefô- sendo transmitidas em tempo real as imagens que eram
nica e liguei pra quase todas as lojas que tivessem mais capturadas na loja/casa, fiquei um tempo ali vendo as pes-
ou menos a configuração que procurava. Em uma ligação soas andarem no meu quarto do showroom. Foi quando vi
senti que a proposta, mesmo ousada, havia agradado o uma menininha brincando com os senhores Cabeça-de-
Neuro, proprietário da Dellano, onde a ação foi realizada. Batata em cima da cama. Eu havia conseguido alguma coi-
Levei-lhe o projeto pessoalmente e tive sorte porque tanto sa, tornar aquele espaço menos impessoal, as pessoas eram
a Tânia, sua esposa, quanto a gerente da loja e os funcio- atraídas seja pela curiosidade dos que sabiam do projeto,
nários simpatizaram comigo e adoraram o projeto. O ‘sim’ ou seja por algum rastro de vida que ficou demarcado ali,
foi o primeiro passo, veio em seguida uma seqüência de entre aqueles outros quartos que eram habitados pelo va-
acordos, desde pequenos detalhes até o esquema de se- zio e por livros de papelão. Nossa, vivenciar isso foi ótimo
gurança necessário. Cumpri com todas as responsabilida- porque, além da minha própria vida, do meu corpo, das
des e ganhei a chave de casa, tive uma excelente acolhida minhas ações, existem os objetos que ficavam ali quando
por toda a equipe que trabalhava lá, e, muitas vezes, as eu saía. Foi tudo muito especial.
arquitetas quando recebiam os clientes que às vezes se

Vit (r) al (2009)


Intervenção urbana
Belém – PA

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Jorane Castro, Dênio Mauês e Toni Soares
Artistas convidados

98

Cenesthesia (1989)
Vídeo
Belém - PA

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Nando Lima
Artista convidado

99

Anjos sobre Berlim (1992)


Vídeo
Belém - PA

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100

Elton Lúcio dos Santos


S / título (2009)
Óleo sobre papel
36 x 29 cm; 29 x 33 cm, 29 x 29 cm
Belo Horizonte-MG

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101

Fernanda Bulegon Gassen


Agendamentos de visita para
estudos de composição - Cenas
de gêneros 2 (2009)
Fotografia
70 x 50 cm
Porto Alegre-RS

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Fábio Baroni
Prêmio aquisição

102

Narrativas Privadas (2009)


Prêmio Aquisição - Primeiro tríptico
Pintura
26,6 x 68,8 cm
Brasília-DF

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103

Marcelo Amorim
S/Título da Série Educação
para o Amor (2009)
Pintura – Tríptico
30 x 40 cm
São Paulo-SP

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Paulo Meira
Artista convidado

104

O Marco Amador -
Sessão A Perda de Vista
Instalação Vídeo (12’),
fotografias e textos
Recife-PE

Righinni
“Belém do Pará” (1868)
Coleção Museu da Universidade
Federal do Pará
Oleo s/tela
105 x 210 cm

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105

Danielle Fonseca
Mar Absoluto/Retrato Natural (2009)
Instalação
Belém – PA

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Val Sampaio

106

Interlúnio (2008 - 2009)


Vídeo
Belém - PA

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Artista convidada

107

Delírio (1989 - 1993)


Vídeo
Belém - PA

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Dirceu Maués
Prêmio aquisição

108

Em Um Lugar Qualquer (2009)


Vídeo (animação de fotografia pinhole)
Cruzeiro-DF

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Eliene Tenório
Menção especial do júri

109

Panoplia do corpo (2009)


Vídeo
Belém-PA

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110

Melissa Barbery
Quince dulces y quince cuadros
Série Lugares espontâneos (2009)
Vídeo loop . cor . 4min20seg.
Belém-PA

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111

Carlos Daddorian
Derek me jarman (2009)
Fotografia/Instalação
São Paulo-SP

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112

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113

Museu da UFPa

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Museu Paraense Emílio Goeldi

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Vicente do Rêgo Monteiro
Artista convidado

Violon D’Ingres (1969)


Pintura: Óleo sobre madeira
67,5 x 60,5 cm
Coleção Cia Bozano
Recife-PE

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Ciência e Estética
Marisa Mokarzel e Orlando Maneschy
Curadores

116

Ciência e estética: um diálogo possível foi a proposta


curatorial para um dos mais importantes museus
de ciência do Brasil, o Museu Paraense Emílio Goeldi
(MPEG). Obras do acervo museológico criadas por nossos
antepassados e pelas culturas indígenas, apresentam-se a
partir de uma parceria entre a instituição e o Arte Pará.
Inserida em uma construção conceitual que tem como eixo
a questão estética, a mostra evidencia não apenas o valor
científico-cultural da arte plumária e dos objetos líticos,
mas proporciona ao público uma apreensão sedimentada
do fenômeno artístico, viabilizando a aproximação entre
Arte e Ciência por meio deste importante patrimônio e de
obras de artistas contemporâneos.
Artefatos arqueológicos e antropológicos do Museu
Goeldi entram em contato, estabelecem relações com
obras de artistas convidados, evidenciando-se uma
estética que transita e convive com a Arte e a Ciência.
Nesta exposição, presta-se uma homenagem aos povos
que constituem a história do Brasil, às culturas indígenas
de diferentes etnias que, muitas vezes, são ofuscadas em
seu processo simbólico e que constroem sua arte a partir
de concepções de mundo específicas ao seu povo e de
práticas interligadas ao cotidiano da aldeia.
Os objetos indígenas, como utensílios ou pertencentes
a rituais e festas, encontram-se em um sistema de
imagens e idéias no qual o artista contemporâneo
muitas vezes vai buscar suas referências artísticas. Mas,
independentemente dessas referências, as obras podem
relacionar-se e comunicar-se construindo uma poética
visual que as aproxima e que é capaz de dotar-lhes de
novos significados.
No campo da arqueologia foram descobertas no final
do século XIX, as estatuetas conhecidas como “ídolos
de pedra” amazônicos que, além de representarem o
homem e bichos como sapos, serpentes, onças, aves e
jabotis, pertencem aos sistemas de rituais e símbolos. O

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117

trabalho de Julia Amaral sintoniza-se com a poética das Goeldi, a obra de Vicente do Rêgo Monteiro relaciona-se
representações arqueológicas, mas refere-se ao campo com a cerâmica arqueológica que se encontra próximo
específico da arte. A artista catarinense, que integrou o à tela. Pode-se reconhecer no quadro do artista os
Rumos Visuais 2008-2009 do Itaú Cultural, apresenta- fragmentos das cabeças que servem de adorno à cerâmica
se no 28º Arte Pará com uma série formada por insetos retratada. A obra “Violon D’Ingres”, de Rêgo Monteiro, foi
que recolhe depois de mortos e os molda para fundi-los criada em 1969. O título da obra que ficou exposta no
em latão, bronze, prata ou cobre. São delicadas peças, Museu Goeldi é uma citação ao artista neoclássico Ingres.
tratadas como jóias e guardadas em vitrines projetadas Também é o título de uma famosa fotografia do norte-
especialmente para abrigarem estes objetos que americano Man Ray, “Le violon d’Ingres”, de 1924. Trata-se
anteriormente habitavam a natureza. A artista assume de uma inspiração na cerâmica indígena da Amazônia.
papéis diferenciados, ora entomóloga, ora joalheira, discute O motivo amazônico é recorrente na obra do artista, que
a idéia de morte e transcendência, oferece aos nossos olhos ilustrou o livro de P. L. Duchartre, “Légendes, Croyances et
pequenas relíquias, metáforas da nossa própria fragilidade, Talismãs dês Indiens de l’Amazonie”. Em 2003, o Arte Pará
do tênue espaço entre vida e morte. expôs outra obra do artista, “Mulher Sentada”, pertencente
Por outro lado, determinados trabalhos do paraense ao acervo do Banco Central.
Marinaldo Santos pertencem a um processo também de Estabelecendo uma rede de significados provenientes
natureza artística, mas não se conjugam com as peças de uma cadeia de pensamento que se abre a diferentes
líticas, e sim com os artefatos indígenas, confeccionados interpretações do mundo, o Arte Pará não ocupou apenas
com penas. O artista utiliza restos de materiais, articula os espaços expositivos consagrados, foi para as ruas em
fragmentos e cria dentro de um universo que tangencia uma ação que se sobrepôs às pichações e grafites, assim
referências da arte indígena, ao mesmo tempo em que como manteve interligados uma sala expositiva, uma loja
mantém especificidades de uma contemporaneidade de decoração e a internet. O público e privado se diluíram
marcada pelo convívio entre diferentes culturas. neste ato que ironiza uma sociedade que perdeu seus
Marinaldo foi contemplado três vezes com o Grande limites e expõe tão facilmente sua intimidade.
Prêmio e a obra que integra a exposição, “Varas”, de O caráter crítico e poético do Arte Pará 2009 teceu
2002, ganhou o Grande Prêmio do 21º Arte Pará. Junto interpretações distintas do mundo contemporâneo,
com as varas encontram-se as caixas com colagens que ocupou extremos, mantendo-se em uma teia de relações
guardam semelhança com os artefatos que fazem parte que se transforma a todo instante, modificando o que está
do acervo do Goeldi. A arte de Marinaldo Santos dialoga em volta e as delicadas instâncias de ordem subjetiva. Faz-
com a riqueza da arte plumária, integra-se à variedade se presente às interrogações, às incertas trajetórias.
cromática da cultura material indígena, entrando as Política, subjetividade, alteridade são conclamadas
afinidades que ocorrem justamente com as texturas e a dialogar com parâmetros presentes na arte, como a
cores dos ornamentos, e não com as propriedades mágico- estética, de forma relacional. O artista, hoje, mais do que
religiosas ou com a intenção de puro adorno que as peças nunca, está em contato íntimo com o mundo e com o que
do acervo do Goeldi possam trazer. lhe afeta, ampliando suas experiências que o levam àquilo
Nesta mesma exposição realizada no Museu Emílio que percebemos como arte.

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A arte plumária dos
povos indígenas
Glenn Shepard e Nelson Sanjad
118

A arte plumária constitui a mais notável expressão da cultura material


dos povos indígenas brasileiros, pois nela são aplicadas diversas e en-
genhosas soluções estéticas e técnicas a uma matéria-prima singular:
as penas das aves.
Do ponto de vista estético, a escolha das penas depende das cores das
mesmas, semelhantes ou contrastantes, provenientes de espécies dife-
rentes ou de partes distintas da mesma ave, considerando-se também
a textura, a forma e a dimensão das plumagens.
Entretanto, para se compreender essa arte plumária, é preciso integrar
a estética ao simbolismo inerente à matriz sociocultural dos povos indí-
genas. Muitos ornamentos plumários, assim como partes deles, podem
possuir propriedades mágico-religiosas associadas à estreita correlação
entre as aves e o universo das crenças. Esses ornamentos permitem
expressar os mitos e muitas vezes se explicam somente através destes.
Além disso, diferenciam o usuário e podem levá-lo a transcender certas
normas que regem o funcionamento dos vários sistemas de organiza-
ção social*.

*Texto editado e adaptado por


Glenn Shepard e Nelson San-
jad do artigo de Sonia Ferraro
Dorta, “Situando a Plumária,”
publicado em: A Plumária In-
dígena Brasileira. S.F. Dorta &
M.X. Cury (Eds.). Edusp/Eosp,
2000. Direitos e responsabili-
dade sobre o texto pertencem
aos autores.

Catalogo Arte PA 2010 Final.indd 118 22/05/2010 11:57:54


119

Galeria das Plumagens

Catalogo Arte PA 2010 Final.indd 119 22/05/2010 11:58:00


120

Galeria das Plumagens

Catalogo Arte PA 2010 Final.indd 120 22/05/2010 11:58:03


121

Brincos Emplumados - 11537 (PAR)


Coleção Etnográfica MPEG
Suyá – MT

Colar Apito - 2426


Coleção Etnográfica MPEG
Apinayê – TO

Pingente Dorsal Emplumado - Cet 67


Coleção Etnográfica MPEG
Kaiapó-PA

Enfeite para cinto - 8515


Coleção Etnográfica MPEG
Tirijó-PA

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Marinaldo Santos

122

Varas (2002)
Mista
Grande prêmio do 21º Arte Pará
Coleção Fundação Romulo Maiorana
Belém - PA

Catalogo Arte PA 2010 Final.indd 122 24/05/2010 06:52:58


Artista Convidado

123

S/Título (2002)
Mista
24 x 32,5cm
Da Mata
24 x 32,5cm
Jactuarybe
24 x 32,5cm
Belém - PA

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Vicente do Rêgo Monteiro

124

Violon D’Ingres (1969)


Pintura
67,5 x 60,5 cm
Coleção Cia Bozano
Recife-PE

Urna funerária Antropomorfa


Tipo Joanes pintado
Camutins, Rio Camutins,
Ilha do Marajó-PA (Sítio-PA-10-15)

Adornos zoomorfos e antropomor-


fizados da cerâmica de Santarém
1000-14000 D.C.
Santarém - PA

Miolo Catalogo ARTEPARA 2009.indd 124 24/05/2010 17:22:36


Artista Convidado

125

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126

Galeria Ídolos de Pedra

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127

Estatueta Lítica Zoomorfa


Laço Joá, Santarém-PA

Estatueta lítica
antropomorfa (Réplica)
Museum of World Culture,
Goleborg - Suécia (original)
Laço Grande de Sollé
Rio Amazonas-PA

1ª Estatueta Lítica
Oriximiná-PA

Catalogo Arte PA 2010 Final.indd 127 24/05/2010 06:53:46


Júlia Amaral

128

Catalogo Arte PA 2010 Final.indd 128 28/05/2010 13:39:57


Artista Convidada

129

Série Apesar De (2008/2009)


Florianópolis-SC

Maribondos “Exército”
Fundição em prata
cobre e bronze
2 x 3 x 1,5 cm

Louvadeus (2008)
Fundição em bronze
10 x 5 x 8 cm

Besouro (2005)
Fundição em prata e cobre
2 x 2,5 x 3 cm

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A Ação de Desenvolvimento Cultural
e Educativa do Arte Pará 2009
Vânia Leal Machado
Coordenadora da Ação Educativa

A ação educativa do Arte Pará se desenvolveu do Sistema Integrado de Museus e Memoriais


a partir do que chamamos ação comunicativa (SIM), Renata Maués; com a diretora do Museu
d e d e se n vo l v i m e n t o c u l t u r a l , a q u a l de Arte Sacra (MAS), Zenaide de Paiva; com a
estabelece como estratégia que a produção responsável pela montagem do evento, Martha
contemporânea da arte se coloca exposta Freitas; com Heldilene Reale; com o professor
em um espaço público onde estão presentes Neder Charone e com a professora Sandra
pessoas pertencentes e não pertencentes ao Francisco, que fazem parte do projeto Arte na
mundo da arte. Escola, da UFPA – dois profissionais que, com
O grande desafio dessa ação comunicativa extrema dedicação, habilitaram professores
é provocar as pessoas, deixá-las à vontade para de arte da rede estadual e municipal com o
se expressar, para construir significados sobre o objetivo de colocá-los no jogo dos espaços
que se está vendo. O projeto educativo do Arte expositivos para que eles fizessem suas próprias
Pará levou em consideração os processos de curadorias educativas.
exclusão do próprio campo da arte e diminuiu Essa foi uma experiência que se deseja
as distinções ao combater a ideia de que, para sistematizar, os professores são os maiores
o publico leigo, esta parte da cultura não lhes difusores na interrelação sala de aula e Arte
pertence. Um trabalho que vem, a cada ano, Pará, sem contar que nada substitui o fato
desconstruindo conceitos elitistas ao aproximar de estar diante da obra em si, poder ver os
a arte e o artista do cotidiano das pessoas pela detalhes, ter uma motivação individual que
formação de um olhar reflexivo. envolve afinidades, estranhamentos e leituras
Nesta ação, se teceram parcerias com articuladas pela imaginação e reflexão.
instituições acadêmicas dos cursos de Destaca-se ainda a inserção do artista no
Artes Visuais e Tecnologia da Imagem da espaço expositivo diante de sua obra com o
Universidade Federal do Pará, Universidade público na roda de conversa - numa atitude
da Amazônia, Escola Superior Madre Celeste e de aproximação afetiva que promove a
este ano, ampliou esse quadro com a inclusão participação dinâmica nas exposições, porque
do curso de Comunicação Social e Design essa integração traduz um investimento numa
Gráfico da Faculdade de Estudos Avançados resposta participativa à obra de arte -, que
do Pará. No total, foram 27 alunos destas buscou romper o silêncio da exclusão cultural
conceituadas instituições participando da tão presente na maioria das instituições.
mediação cultural nos espaços expositivos Com essas ações desenvolvidas a partir das
do Arte Pará. experiências comunicativas, individuais e
Durante a preparação da equipe de coletivas, que fundamentaram a integração
mediação, o que aconteceu num período entre espaço e educação, as pesquisas
que antecedeu a abertura do projeto Arte interpretativas e suas diferentes estratégias,
Pará, foram trabalhados conteúdos da arte torna-se então o Arte Pará um laboratório de
1
FREIRE, Paulo. Ação cultural contemporânea, e ainda promovidos encontros respostas poéticas e interativas, tanto para o
para a liberdade e outros
escritos. 7 ed.Rio de Janeiro: com artistas, com os curadores Orlando público quanto para o artista.
Paz e Terra, 1984. Maneschy e Marisa Mokarzel; com a diretora Dessa forma, a interação coletiva facilitou a

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atitude criativa por parte do espectador e, ao
mesmo tempo, acentuou a dimensão aberta
da obra de arte que deve ser tomada como
ponto de partida para atitudes multiplicadoras
de sentido. Assim, a arte contemporânea
alcançou seu objetivo ao redefinir o papel do
espectador e do artista na revelação de seus
valores e significados.
Investir na ação pedagógica com o objetivo
de habilitar o público para a arte é a meta que
segue Roberta Maiorana, diretora executiva
da Fundação Romulo Maiorana, imbuída em
reforçar o papel social do projeto durante
o período de exposição do Arte Pará, que
aumenta significativamente a freqüência de
público nos museus de Belém - em 2008 foram
quase 15 mil visitantes. Para a ação educativa,
não se trata de números, mas de uma questão
qualitativa no processo que vem construindo
com o núcleo educativo continuado. Esse
trabalho envolve a participação das escolas,
professores, estudantes, instituições de
pesquisa e os demais segmentos do projeto
Arte Pará, rompendo com as hierarquias
formadas entre artistas, curadores, críticos,
historiadores, na certeza de preparar a linha
de frente do projeto para o diálogo com o
público. Assim, os mediadores são envolvidos
pela relação dialógica que Paulo Freire1 pontua
como ninguém.
Em sua 28ª edição, o Arte Pará pode ser
descrito como um projeto de arte consolidado,
e estar à frente de um trabalho de mediação
cultural de alcance nacional foi um desafio,
no sentido de irradiar a informação artística e
Foto: Shirley Penaforte.

cultural para o Estado do Pará, que cada vez Conversa com os


mais compartilha a dialógica numa proposição artistas Berna Reale,
Armando Queiroz e
interdisciplinar, bem como uma abordagem Danielle Fonseca, nos
reflexiva no tempo entre espaço e educação. espaços expositivos.

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Artistas convidados e selecionados

Acácio Sobral (1943 – 2009) Ben Patterson Eliene Tenório


Belém-PA Pittsburgh-EUA Belém-PA
Desconstrução para bpatterson@t-online.de elienitenorio@yahoo.com.br
Além de Jano (2009) Design para Escultura de Golfinhos Panoplia do Corpo (2009)
Instalação Projeto de escultura Vídeo
Correspondência (2004) 20 x 30 cm Menção Especial do Júri
(do Espinho, da Vida e da Arte) Artista convidado
Elton Lúcio dos Santos
Instalação
Berna Reale Belo Horizonte-MG
Artista Convidado
Belém-PA artelton@yahoo.com.br
Alberto Bitar bernareale@hotmail.com S/título (2009)
132 Belém-PA Quando Todos Calam (2009) Óleo sobre papel
afbitar@terra.com.br Performance orientada p/ fotografia 36 x 29 cm; 29 x 33 cm;
S/título da Série Efêmera Tríptico - 70 x 100 cm 29 x 29 cm
Paisagem (2009) Grande Prêmio
Emannuel Nassar
Fotografia
Bruno Faria Belém-PA
40 x 60 cm
Recife-PE emannuel.nassar@gmail.com
Amanda Mota Silveira fariasp13@hotmail.com S/Título (1991)
Olinda-PE Panorama II (2009) Pintura
maanda2000@yahoo.com.br Instalação/colagem/rótulos, Coleção MHEP
Desenho Coletivos SP 1 2 e 3 papel milimetrado e acrílico Artista convidado
(2009) 7 metros lineares
Fabio Baroni
Desenho
Bruno Vieira de Britto Brasília-DF
20 x 25 cm
Recife-PE fabiobaroli@gmail.com
Ana Elisa Egreja bvieirab@gmail.com Narrativas Privadas (2009)
São Paulo-SP O sertão vai virar mar (2009) Pintura, óleo sobre tela
liliegreja@hotmail.com Fotografia 26,6 x 68,8 cm
Black e Falcão (Hunting Dogs) 45 x 60 cm Prêmio Aquisição
Otávio (Hunting Dogs) (2009)
Camila Soato Fernanda Bulegon Gassen
Óleo sobre papel
Brasília-DF Porto Alegre-RS
17 x 13 cm
camilasoato@gmail.com fgassen@gmail.com
Ana Luiza Kalaydjian (RE) Tratos (2009) Agendamentos de Visita para
São Paulo-SP S/Título Estudos de Composição (2009)
anakalaydjian@hotmail.com Pintura Cenas de gêneros 1 2
Anuch/Luritza IV 8 x 13 cm Fotografia
Fotografia 70 x 50 cm
Carlos Daddorian
35 x 25 cm
São Paulo-SP Flavya Mutran
Armando Queiroz caxad@uol.com.br Porto Alegre-RS
Belém-PA Derek Me Jarman (2009) flavyamutran@gmail.com
queirozarmando@ig.com.br Fotografia/Instalação XY e XX da Série ‘BIOSHOT’ da
Site Specific Tempo Cabano Pesquisa Pretérito Imperfeito de
Cláudia Leão e Leonardo Pinto
(2009) Territórios Móveis (2009)
São Paulo-SP
2º Prêmio Fotografia digital
aclaudialeao@gmail.com
Obras de outros artistas que 50 x 75 cm
leop.jor@gmail.com
integram o site specific Artista Convidada
Protocolo de Infinitas Imagens
Luiz Braga Cotidianas II (2009) Flavio Cardoso
Belém-PA Vídeo Belém-PA
Fotografia Vendedor Artista Convidado flavio.araujo1979@gmail.com
do amendoim, 1990
Dead Pixel (2009)
Coleção particular do Artista Danielle Fonseca
Alfredo Norfini (1867-1944) Belém-PA Instalação - Acrílica e carvão
São Paulo-SP encomend@yahoo.com s/ PVC e madeira
Aquarela O Cabano Paraense, 1940 Mar Absoluto/Retrato Natural (2009) Menção Especial do Júri
Coleção Museu de Arte de Belém Instalação Geraldo Zamproni
Ayrson Heráclito Dirceu Maués Curitiba-PR
Salvador-Bahia Cruzeiro-DF zampronigg@ig.com.br
ayrsonheraclito@gmail.com dmaues@yahoo.com Sustentabilidade V (da série
Bori Ogum e Bori Xangô (2009) Em um Lugar Qualquer (2009) Sustentabilidade) (2009)
Fotografia s/papel algodão Vídeo/animação de fotografia pinhole Mista: poliuretano e zíper
100 x 100cm Prêmio Aquisição 20 x 20 x 220 cm

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Carlos Pereyra e Giuseppe Karina Zen Marinaldo Santos
Campuzano Florianópolis-SC Belém-PA
Peru karizen@uol.com.br S/Título (2002)
platinumpalladium@gmail.com (RE) Tratado (Políptico) (2009) Mista
giucamp@gmail.com Fotografia 24 x 32,5 cm
Dolorosa (2007) Da Mata
68 x 265 cm
Fotografia/performance Mista
60 x 40 cm Klinger Carvalho 24 x 32,5 cm
Artistas Convidados Bogotá-Colombia Cabaçu
fklingerc@yahoo.de Mista
Giuseppe Campuzano Hoximu (1994) 24 x 32,5cm
e Alejandro Gomez de Tuddo Instalação: madeira, cuia, S/Título 133
Peru Mista
vela, cinza
giucamp@gmail.com 24 x 32,5 cm
Artista Convidado Guarani
Alejandro@gomezdetuddo.com
Coleção do artista Mista
Virgen de las Guakas (2007)
Fotografia/Performance Laércio Redondo 24 x 32,5 cm
70 x 194 cm e Adriana Barreto Jactuarybe
Artistas Convidados Mista
Estocolmo-Suécia
24 x 32,5cm
Heraldo Silva e Florianópolis-SC Caiapó
Belém-PA laercioredondo@gmail.com Mista
ederezio@gmail.com drbarata@yahoo.com.br 24 x 32,5 cm
Fractais (2009) Paraisos Instávéis (2006) Varas
Pintura/Intervenção urbana Fotografia/5000 impressões Mista
1,80 m vertical; 4,20 m em off-set para serem levadas Grande prêmio do 21º Arte Pará
horizontal, 21 x 14 cm cada pelo público Artista Convidado
Artistas Convidados Coleção Fundação Romulo Maiorana
Hugo Houayek
Niterói-RJ Lise Lobato Melissa Barbery
hugohouayek@gmail.com Belém-PA Belém-PA
Falange, Infláveis (2009) mbarbery@amazon.com.br
lobatolise@yahoo.com.br
Instalação Quince Dulces y Quince Cua-
S/título (2009) dros(2009)
1,80 m x 2,80 m Instalação Vídeo-loop.cor. 4 min 20 seg.
Jair Junior 200 x 80cm
Nando Lima
Belém-PA Louise D.D. Belém-PA
evelynn2005@yahoo.com.br Rio de Janeiro-RJ nandolima@orm.com.br
Sorte (2009) louise.dd@gmail.com Anjos sobre Berlim (1992)
Intervenção urbana/Performance Dormonid 15mg [Sleeping Pills]; Vídeo
Jorane Castro, Dênio Mauês Rohypnol 1mg [Sleeping Pills] Nato
e Toni Soares (2009) Belém-PA
Belém- PA Objeto: almofada de pelúcia Latinidades na Origem do Mundo
jorane@gmail.com 7,5 x 40 x 15cm; (2009)
denio.mv@gmail.com 5 x 25 x 25 cm Artista Convidado
Cenesthesia (1989) Tarja Preta Nino Cais
Vídeo Tatuagem/fotografia São Paulo-SP
Artistas Convidados 17 x 6cm; ninocaisdoporto@terra.com.br
Júlia Amaral 30 x 40cm S/Título (2009)
Florianópolis-SC Colagem
lesmolisa@hotmail.com Luciana Magno 20 x 30 cm
Série Apesar De (2008/2009) Belém-PA S/Título
Maribondos “Exército” lulumagno@yahoo.com.br Fotografia
Fundição em prata, cobre e bronze Vit (r) al (2009) 110 x 70 cm
2 x 3 x 1.5 cm (cada) Intervenção urbana Artista Convidado
Louvadeus (2008)
3º Prêmio
Fundição em bronze Paula Sampaio
10 x 5 x 8 cm Marcelo Amorim Belém-PA
Gafanhoto (2008) São Paulo-SP carissimaps2@mail.com
Fundição em bronze marceloamorim397@gmail.com Nau Frágil 1 2 3 (2009)
2 x 4 x 6 cm
Besouro (2005) S/Título da Série Educação Fotografia
Fundição em prata e cobre para o Amor (2009) 60 X 25 cm e 60 X 40 cm
2 x 2.5 x 3 cm Pintura/óleo sobre tela Prêmio aquisição - Conjunto da
Artista Convidada 30 x 40 cm Obra e Menção Especial do Júri

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Paulo Meira Rosangela Rennó
Recife-PE São Paulo-SP
eupaulomeira@terra.com.br marcos@galeriavermelho.com.br
O Marco Amador Espelho Diário, 2001-2005
Sessão las Outras (2004) Video instalação com duas telas
Sessão Cursos (2006/2007) e CD de áudio
A Perder de Vista (2003/2004) Texto original:
Instalação, vídeo, fotografia e texto Alicia Duarte Penna
Artista Convidado Roteiro:
Alicia Duarte Penna
Paulo Wagner
134 e Rosângela Rennó
Belém-PA
Direção e interpretação:
wagnerufpa@yahoo.com.br
Rosângela Rennó
Mulher de Pé; Mulher Sentada,
Intróito (voz em português):
Mulher de Costas (2009)
Cid Moreira
Pintura acrílica sobre tela
Edição de vídeo:
97 x 83,5 cm; 99 x82 cm; 115 x 97,5cm
Fernanda Bastos
Prêmio Aquisição Imagem 1 e 2
Mixagem de som:
Rafael Adorjan Tindó O Grivo
Rio de Janeiro-RJ Coleção da artista, Rio de Janeiro
adorjan@gmail.com Cortesia Galeria Vermelho, São Paulo
Série Vila Longuinhos (Políptico)(2009) Artista Convidada
Fotografia: Gelatina/prata
Thiago Melo
40 x 40cm
São Luis-MA
Regina Silveira ticobal@hotmail.com
Porto Alegre-RS O Ciclo do Cão, 2 e 3 (2009)
regkunst@uol.com.br Pintura - 180 x 200 cm
Série Dilatáveis (1981-2001)
Val Sampaio
“Os Grandes”
Belém-PA
Imagem digital, dimensões
valsampaio@uol.com.br
variáveis, corte em vinil
Interlúdio
Artista Convidada
Vídeo
Roberta Tassinari Artista Convidada
Florianópolis-SC
Vicente do Rêgo Monteiro
beta.tassinari@gmail.com
(1899-1970)
S/título (2009)
Recife-PE
Amoeba sobre parede
mmmuseu@gbl.com.br
180 X 200cm
Violon D’Ingres (1969)
Rodrigo Mogiz Pintura: óleo sobre madeira
Belo Horizonte-MG 67,5 x 60,5 cm
mogiz@gmail.com Artista Convidado
Mapa Imaginário II III IV (2009) Coleção Cia Bozano
Bordados e pinturas sobre entretela
Walda Marques
0,80 x 1,20 cm
Belém-PA
Righinni (1820-1884) waldamarques@hotmail.com
Belém-PA (1868) Lembranças de Dolores
Coleção Museu da UFPa (2004/2009)
Óleo s/tela Instalação e Performance
105 x 210cm Artista Homenageada

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Coleção Museu Paraense Emílio Goeldi

Coifa Kaiapó Enfeite para cinto


Gorotire-PA Tirijó-PA
Anne Gely, 1987 Protásio Frikel, 1959
Coleção Etnográfica MPEG, 13491 Coleção Etnográfica MPEG, 8515

Diadema Horizontal Penachoalcado Nafronte – Kaiapó-PA


Urubu – Kaapor-MA Márcio Meira, 2008
Desconhecido/S/D Coleção Etnográfica Museu Paraense Emílio Goeldi
Coleção Etnográfica MPEG – 10906 CET 66 (PAR)

Fieira de Penas Enfeite de penas


135
Kaiapo – Gorotire-PA Tukano – AM
Ana Gely 1987 José Hidasi, 1960
Coleção Etnográfica MPEG – 13567 Coleção Etnográfica MPEG 8553

Diadema Horizontal Adornos zoomorfos e antropomorfizados da


Urubu – MA cerâmica de Santarém
Desconhecido S/D Santarém - PA
Coleção Etnográfica MPEG 849 Frederico Barata, decadá de 1940
1000-14000 D.C.
Colar Apito - Apinayé-To Foto: Shirley Penaforte
Curt Nimuendajú 1937
Coleção Etnográfica MPEG 2426 Urna funerária Antropomorfa
Tipo Joanes pintado
Pingente Dorsal Emplumado - Kaiapó-PA Sítio-PA-10-15
Márcio Meira, 2008 Camutins, Rio Camutins, Ilha do Marajó-PA
Coleção Etnográfica MPEG Cet 67 Betty Meggers e Clifford Evans, 1949

Brincos Emplumados Suyá – MT Estatueta lítica antropomorfa (Réplica)


Protásio Krikel/Eduardo Galvão 1966 Laço Grande de Sollé – Rio Amazonas-PA.
Coleção Etnográfica MPEG 11537 (PAR) Manoel Francisco Machado, 1901
Museum of World Culture, Goleborg - Suécia
Labrete Emplumado (original)
Urubu – Kaapor – MA
Boris Malkin, 1963 Estatueta Lítica Zoomorfa, Laço Joá, Santarém-PA
Coleção Etnográfica MPEG 10598 Doador: Magalhães Barata, 1943

Placa Occipital Emplumada - Tukano –AM 1ª Estatueta Lítica


José Hidasi, 1966 Oriximiná-PA
Coleção Etnográfica MPEG 8548 Doador: Vera Barcelar Marinho, 2008

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Lucidéa Maiorana
Presidente

Roberta Maiorana
136 Diretora Executiva

Daniela Oliveira
Assessora Geral

Ana Cristina Prata


Assistente Executiva

Aureliano Lins
Estrutura da FRM

Fundação Romulo Maiorana


Av. 25 de setembro,2473 – Marco – 66093-000
T:(91)3216.1142 e 3216.1125 – Fax:(91)3216.1125
Email: fundrm@oliberal.com.br
Telegramas: jornal O Liberal, cxa. Postal 487
Belém – PA – Brasil
Website: www.frmaiorana.org.br

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Arte Pará 2009

Curadoria Geral Coordenação de


Marisa Mokarzel Montagem
Orlando Maneschy Marta Freitas

Coordenação Geral Montagem 137


Roberta Maiorana Alexandre Cruz, Cristiano
Daniela Oliveira Damasceno, Georgia
Bittencourt, Marcelo
Ação Educativa Martins, Mario Kelsen
Vânia Leal
Apoio
Assistente de Coordenação Diogo Coimbra, Raimundo
Ana Cristina Prata Diovane, Reginaldo
Braga, Marcio Helvio,
Assessoria de Imprensa Aureliano Lins,
Alexandra Cavalcanti Alcione de Oliveira.

Júri de seleção Iluminação


Maria Hirsman Equipe MHEP / MAS
Paulo Meira
Ricardo Rezende Programação Visual
Rosangela Britto Mapinguari Design
Val Sampaio
Plotagem
Júri de Premiação Viana Print
Edilson Moura
Tadeu Costa Vídeo Arte Pará 2009
Paulo Meira Jambu Filmes
Produção
Projeto de Montagem Luciana Martins
Roberta Maiorana Direção de Fotografia
Orlando Maneschy Guto Nunes
Marisa Mokarzel Renato Chalu

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28° Projeto Arte Pará

Lembranças
de Walda Marques

Projeto Especial
O projeto Lembranças se compõe de um livro e de uma
performance que aconteceu no dia da apresentação do projeto
na Capela do Museu do Estado em Belém do Pará.

138 Fotografias, Coordenação Geral e Produção


Walda Marques

Livro
Projeto Gráfico
Walda Marques e Andrea Kellermann

Editoração
Andrea Kellermann

Textos
Cartas Anônimas, Maria Christina, Marisa Mokarzel, Roberta
Maiorana, Orlando Maneschy e Jaime Bibas

Vídeo
Edição e montagem
Priscila Brasil e Brunno

Câmara e Iluminação
Brunno

Texto do Vídeo
Adriano Barroso e Walda Marques

Música
Hamleto Stamato

Performance
Coreográfia
Mariana Marques

Atores
Adriano Barroso e Mariana Marques

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Coordenação Ação Educativa
Vânia Leal Machado

Apoio
Heldilene Reale

Mediadores
Aline Sueli Lobato Queiroz, Cecília Mara Alves Silva, Ediane
Chagas Frota, Giordanna Carvalho, Juliana Silva Marques, 139
Stefany Alvarenga de Lima, Amanda Layse Melo Valois,
Sílvia Cristina de Abreu Lucena, Bruna Cristina Miranda
Borges, Karol Khaled Conceição, Mariana Jares Alves, Alan
Rosa Reis, Larissa Mayara Santos Costa, Carla Gisele de F.
Gomes, Mayra Portal Silva, Miguel Carlos Souza, Mônica
da Silva Serrão, Andrey Raphael Loureiro Cardoso, Aída da
Silva Duarte, Ana Caroline da Silva Leal, Camila do Socorro
Aranha dos Reis, Daniel Sanches Frazão, Keilane Batista
Santos , Mayara Caroline Santos Nunes, Romulo Gabriel
Tork Rosalino, Valeria Cristina Cézar da Silva, Arlete Soed
Paredes Santos.

Coordenadores do Projeto Arte na Escola


Polo Belém-PA
Neder Charone e Sandra Suely dos Santos Francisco

Bolsistas Arte na Escola


Claudio Adriano de Melo Cordeiro, Pedro Ivo Feitosa,
Tayanne Cid Costa.

Palestrantes na Ação Educativa


Heldilene Reale, Marisa de Oliveira Mokarzel, Marta Freitas,
Orlando Maneschy, Renata Maués, Vânia Leal Machado, Zenaide
de Paiva, Neder Charone, Sandra Suely dos Santos Francisco.

Professores participantes do encontro”Reflexões e


Instrumentalização sobre a arte contemporânea em
parceria com o Projeto Arte na Escola
Amélia Pergentina F. Guerra, Alice de Fátima Miranda
Dias, Aydê Cristina T. Rodrigues, Carlos Augusto s.
De Oliveira, Carmelina C. Pinheiro, Daniel de Amaral
Siqueira, Evanilde Martins Lisboa, Eugenia Cristina
dos s. Lobato, Fábio de Lima Monteiro,José Ricardo
c. De Macedo, Juciene Pacheco Bastos, Kátia Sylvana
Fortaleza Alves, Lidia Maria Barata da Mota, Lizia Britto
da Trindade, Marcia Cristina Pinho Gomes, Mauricio
Calderado Pinheiro, Maximo Rogério B. Dos passos,
Miriam Ernestina Pinho Gomes, Nelia Lucia Fonseca,
Paola Haber Maués, Virgínia Maria B. G. De Souza.

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A Fundação Romulo Maiorana agradece
Acácio Sobral, Aguinaldo Nascimento, Alcemir Aires,
Alegria Benchimol, Alejandro Gómez de Tuddo, Alexandre
Sequeira, Allan Bittencourt, Ana Del Tabor, Ana Paula
Felicíssimo de Camargo Lima, André dos Santos Antonina
Matos, Andréa Kellemann, Armando Queiroz, Ben
Patterson, Bruna Pereira, Carla Silva, Carlos José da Silva,
Carlos Pereyra, Carmem Peixoto, Célia Amorim, Cláudia
Leão e Leonardo Pinto, Cristiana Barreto, Daura Maria
Araújo Gomes, Deusarina Vasconcelos, Diogo Coimbra,
Edileusa Sodré, Edilson Moura, Edu Brandão, Eduardo
Brandão, Ericka Brandão, Fátima Cruz, Fernanda Martins,
Fernando de Assis, Fernando Hage, Flavya Mutran, Gerlei
140 Agrassar, Glenn Harvey Shepard Jr, Guiseppe Campuzano,
Horácio Higuchi, Irma Aponte, João Aires da Fonseca,
Joércio Jr., Jorane Castro, Jorge Eiró, Julia Amaral, Jussara
Derenji, Karina Farias, Karol Gillet Soares, Klinger Carvalho,
Laércio Redondo e Adriana Barreto, Liucidalva Queiroz
Pinheiro, Louise Fagury Marceliano, Luciano Oliveira, Luis
Peixoto, Madiã Iglesias, Manoel Pacheco, Márcia Helena
Pontes, Marcio Helvio, Marcos Gallon, Marcus Moreira,
Margareth de Moraes, Maria Christina, Maria do Céo Silva,
Maria Hirszman, Marilá Dardot, Mario da Purificação,
Mário Martins, Martha Lima de Carvalho, Maurício de
Souza, Moema de Bacelar Alves, Nando Lima, Nato,
Neder Charone, Nelson Nabiça, Nelson Rodrigues Sanjad,
Nilson Gabas Junior, Nino Cais, Norberto Tavares Ferreira,
Oriana Duarte, Paulo do Canto, Paulo Herkenhoff, Paulo
Meira, Paulo Souza, Queila Ramos, Raimundo Diovane,
Raimundo Teodoro dos Santos, Raoni Arraes, Regina
Fonseca, Regina Silveira, Reginaldo Braga, Renata Belich,
Renata Maués, Renata Souza, Ricardo Resende, Roberta
Couceiro de Miranda, Rogério Bezerra, Rosângela Brito,
Rosângela Rennó, Roseny Mendes de Mendonça, Sâmia Governo do Estado do Pará
Batista, Sandra Cristina Santos, Tadeu Chiarelli, Tadeu Prefeitura Municipal de Belém
Costa, Tadeu Lobato, Toky Popytek Coelho, Val Sampaio, Projeto O Liberal na Escola
Vera Guapindaia, Walda Marques, Wanda Okada, Zenaide Secretaria Executiva de Cultura
Pereira de Paiva. Universidade Federal do Prá
Projeto Arte na Escola
Universidade da Amazônia-UNAMA
Faculdade de Estudos Avançados do Pará-FEAPA
Escola Superior Madre Celeste-ESMAC
Sistema Integrado de Museus e Memoriais
Museu de Arte Sacra
Museu da Pampulha
Museu Casa das Onze Janelas
Museu Histórico do Estado do Pará
Museu de Arte de Belém - MAB
Museu Paraense Emílio Goeldi - MPEG
Coleção Bozano
Galeria Vermelho
Sindicato das Empresas de Transportes de Passageiros de Belém

A todos os artistas selecionados e convidados e a equipe das


ORM que contribuíram para a realizaçãodeste projeto.

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Cátalogo

Coordenação Geral
Roberta Maiorana
Daniela Oliveira

Curadoria
Marisa Mokarzel
Orlando Maneschy

Coordenação Editorial
141
Vânia Leal Machado

Projeto Gráfico e Editoração


Mapinguari Design

Fotografias
Everton Ballardin

Assistente de Fotografia
Shirley Penaforte

Tratamento de imagens
Retrato Falado

Revisão de textos
Carolina Menezes

Impressão
Halley S.A. Gráfica e Editora

Todas as imagens e informações


contidas nos textos são de inteira
responsabilidade de seus autores.

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28º Arte Pará/
MAIORANA, Roberta, OLIVEIRA Daniela; MACHADO
Vânia Leal. (Organizadoras), Fundação Romulo Maiorana.
Belém-PA, 2010. 140 p.

ISBN 978-85-62494-02-4

1. Arte Moderna, Século XXI. 2. Título

CDD-700

Este catálogo foi editado em 2010, por ocasião da vigésima


oitava edição do Arte Pará, realizado pela Fundação Romulo
Maiorana. Foram utilizados a família Perec e os papéis
Couché fosco 115g/m2 para o miolo e Cartão Supremo Duo
Design 250 g/m2 para a capa. Impressão e acabamento
foram feitos pela Halley S.A Gráfica Editora, com tiragem
de 750 catálogos.

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