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Título do trabalho: Estrutura de Propriedade das Agências de Notícias: do modelo clássico ao flexível
GT: GT3 – Indústrias Midiáticas
Autores: Ana Tereza Condé Pereira Lehmann (University of Liverpool); Pedro Aguiar (PEIC-ECO/UFRJ)
E-mails: <pedroaguiar@ufrj.br> e <anatcpereira@yahoo.com>
resumo:
O presente artigo propõe um estudo da mudança paradigmática na estrutura de propriedade das
agências de notícias transnacionais, como setor econômico da comunicação, por meio de uma
abordagem comparativa entre dois modelos hegemônicos – o clássico e o presente – à luz do
processo contínuo de globalização do capital. A primeira parte identifica e caracteriza o modelo
“clássico” de propriedade das agências euro-americanas nascidas no século XIX (privadas, em
estreita associação com o Estado e adotantes de sistema produtivo fordista) tal como descrito por
Boyd-Barrett (1980; 2006), Thussu (2000) e Shrivastava (2007). A segunda parte examina as
funções atualmente exercidas pelas agências internacionais de notícias como parte das
mudanças nas políticas econômicas dos meios de comunicação. É utilizado o Modelo de Firma
Flexível (Atkinson, 1984), com base nos conceitos de produção em massa desenvolvidos pelo
taylorismo e pelo fordismo, dando ênfase às mudanças ocorridas na área de recursos humanos,
ao advento do pós-fordismo, a à introdução de novas tecnologias e à desenvolvimento do
mercado global. Entre os quatro tipos de flexibilidades identificados - flexibilidade numérica,
funcional, distanciada e de pagamentos (Beardwell e Holden, 2001) - a Estratégia de Flexibilidade
Distanciada é a utilizada neste artigo para identificar as mudanças ocorridas nas políticas dos
meios de comunicação e conseqüentemente do aumento da demanda por parte desses meios
pela cobertura feita pelas agências internacionais de notícia.
1
fusões, intercruzamentos e reestruturações internas, tornaram-se corporações tão indistintas do
sistema capitalista pós-industrial quanto as de outros setores nada relacionados à comunicação.
Esta transformação estrutural teve conseqüências significativas na forma como se dão as
articulações entre a comunicação, o capital e o Estado, ao mesmo tempo em que continuou sem
atender às demandas políticas e sociais por uma reordenação dos sistemas internacionais de
informação. Esboçar um quadro de análise para melhor compreendê-la é o propósito modesto
deste artigo.
1
BOYD-BARRETT, 1980: pp.23-24.
2
Continental Telegraphen) em 1849; e o hessiano Paul Julius Reuter (nascido Israel Bere Josafat) foi
para Londres, onde fundou a Reuters (Mr. Reuter’s Cabled Messages), em 1851.
Em comum, as três pioneiras européias tinham a natureza jurídico-corporativa de empresa
privada, de sociedade limitada e propriedade familiar (o filho de Havas sucederia o pai no
comando da agência), com funcionários próprios contratados em base permanente e custos de
operação assumidos integralmente. Cada uma destas três agências de notícias era, em seu
momento inicial, uma corporação una e autônoma, tendo seus proprietários diferenciados de seus
clientes.
Já não era este o caso da quarta empresa congênere, formada do outro lado do Atlântico,
entre 1846 e 18482. A Associated Press nasceu não da iniciativa individual de um “empreendedor”
único, mas da colaboração entre seis jornais diários de Nova York para recuperar notícias de
embarcações aguardando em quarentena antes que atracassem no porto de Manhattan
(BLONDHEIM, 1994: 62-65). Também a demanda por economizar na utilização das incipientes
linhas de telégrafo, necessária para transmitir as notícias recolhidas no porto até as redações, foi
outro fator que motivou a formação do pool nova-iorquino. O telégrafo tinha pouco mais de 10
anos de existência e sua instalação como serviço público ainda era precária, mas sua utilidade
para a imprensa não demorou a ser notada. Não por acaso, entre os jornais fundadores da AP
estava o The Journal of Commerce, de Samuel Morse.
Porém, tanto no caso das três européias quanto no da Associated Press, a natureza da
propriedade (Quadro I) não descaracterizava os demais aspectos em comum, que incluíam entre
seus principais a estreita aliança com o Estado e com empresas dos setores de infraestrutura de
telecomunicações – que, na época, se resumia ao telégrafo. Por exemplo, a associação entre
Bernhard Wolff e Werner Siemens (fundador da Siemens, em 1847) permitiu ao primeiro tirar
“proveitosas vantagens do uso de canais telegráficos” (SALINAS, 1984; 35). Já o crescimento
meteórico da AP se deu em estreita parceria comercial com a Western Union – operadora
telegráfica que viria a alcançar monopólio do sistema no século XIX –, com quem mantinha
2
A data tradicionalmente atribuída para a fundação da entidade que seria o embrião da AP, em Boyd-Barrett (1980;
131) Smith (1980; 80), Shrivastava (2007; 6), Salinas (1984; 34) e outros autores, é maio de 1848, ocasião da reunião
na sede do New York Sun em que a New York Associated Press foi formalizada. Entretanto, em 2005, a própria AP
divulgou que adquiriu documentos dos seus jornais fundadores cujo conteúdo indicava que, na verdade, a entidade
havia sido fundada dois anos antes, em maio de 1846, no início da Guerra dos EUA contra o México, quando já havia
dois anos de incipientes linhas de telégrafo.
3
contratos de exclusividade e estabeleceu um truste para o uso das redes (BOYD-BARRETT, 1980:
130-134).
Como já se teve oportunidade de demonstrar em ocasiões anteriores (AGUIAR 2009a;
AGUIAR 2009b), o surgimento das agências de notícias como setor de atividade econômica está
intimamente ligado a um momento específico da história do capital, a saber, a consolidação do
liberalismo político e econômico e a expansão da industrialização na Europa e na América do
Norte. É um momento anterior ao capitalismo monopolista e ao surto imperialista, mas paralelo à
instalação de infraestruturas tecnológicas que possibilitariam esse movimento, como o telégrafo e
as ferrovias. Assim como estes, as agências fariam parte de uma infraestrutura de circulação do
capital, transportando informação como mercadoria, por sua vez utilizada como insumo na
produção capitalista (financeira e industrial).
É impossível, ao contemplar a evolução destas organizações, não perceber nelas
a sombra da estrutura do próprio sistema capitalista, pois o capitalismo foi um
sistema de informação, assim como um sistema financeiro e produtivo; seu
desenvolvimento requereu incorporar, uma após a outra, as partes não-exploradas
do mundo em um único mercado, em que classes sociais, companhias, meios de
transporte e jogo de valores ficaram inextricavelmente combinados em um único
sistema, complicado e variado, crescente e interdependente. No próprio núcleo
haveria de estar a informação, pois o conceito central do capitalismo é o mercado
e, em um sistema global, os mercados físicos devem ser substituídos por
mercados conceituais ou mercados substitutos cujos preços e valores são
avaliados mediante a distribuição de uma informação fidedigna regular.3
Ressalte-se que, tanto no caso das agências européias, com seus correspondentes
baseados em diferentes países, quanto no da agência norte-americana, formada para coletar
notícias chegadas do exterior pelos navios, a ênfase no tipo de conteúdo noticioso tratado e
distribuído por estas empresas era – como ainda o é – no noticiário internacional. A maioria das
agências de notícias surgiu para alimentar o jornalismo internacional, e não local ou nacional, e
até hoje mantém esta função como primordial dentro da seção dedicada aos clientes-mídia, ainda
que o serviço noticioso seja parte “menor” do negócio, se comparado à rentabilidade do serviço de
informações financeiras (Cf. BOYD-BARRETT, 1980; 2002).
Para dar conta desta demanda, em um primeiro momento as primeiras agências se
organizaram como uma espécie de “setor primário” na comunicação, coletando e tratando
informação “bruta” e revendendo-a de forma “manufaturada” como notícia (AGUIAR, 2008, 27). A
natureza organizacional, por assim dizer, montada para a atividade de produção da informação foi a
de redações centrais conectadas por tecnologias diversas (correio, telégrafos, pombos-correio) a
repórteres e sucursais (funcionários contratados) baseados em outras cidades e países, com estes
produzindo material – sob suporte de texto – para aquelas, gerando um fluxo informativo centrípeto
e centralizado. A gestão deste processo, como no modelo que se consolidava como hegemônico
3
SMITH, 1980: pp.73-74.
4
naquela fase do capitalismo, adotava a forma da empresa com centro único e ramos arborescentes,
concentrando todas as decisões e diretrizes em estrutura piramidal.
Dessa forma, podemos categorizar as formas de propriedade das agências euro-
americanas nascidas no século XIX dentro do paradigma das empresas particulares, logo
apadrinhadas pelas burocracias estatais, tendo como clientes – ou sócios – não apenas os órgãos
de imprensa, mas também da infraestrutura de telecomunicações, o que na época se resumia ao
incipiente telégrafo. Assim, estas empresas, as quais podemos categorizar como parte de um
modelo clássico, nascidas no momento histórico coincidente com a consolidação do capitalismo
monopolista nos países industrializados, criaram laços com o capital, com os respectivos Estados
nacionais e entre elas próprias para constituir seu sistema internacional de informação, que
acompanhou – e, em certo grau, até precedeu – a expansão imperialista sobre América Latina,
África e Ásia.
Um exemplo marcado desta configuração econômico-política foi a Reuters, especialmente
no período de expansão imperialista nas últimas três décadas do século XIX. Read (apud
THUSSU, 2000: 11) classifica a Reuters como uma “instituição do imperialismo britânico”.
Crescendo pelas vias dos cabos telegráficos (terrestres e submarinos) instalados para agilizar a
comunicação entre Londres e suas colônias, a agência do prussiano Paul Reuter desenvolveu
uma relação entre capital e comunicação que chegou a tornar-se um “fator” que “funcionava como
um multiplicador que convertia um aumento no fornecimento de informação em um aumento do
negócio” (CHANAN, 1985: 113 apud THUSSU, 2000: 11).
As grandes agências européias foram baseadas em capitais imperiais. Sua
expansão para fora da Europa esteve intimamente associada ao colonialismo
territorial do final do século XIX. (...) Como agências imperiais, a Reuters e a
Havas foram beneficiadas no acesso a telecomunicações, fontes de notícias e
clientes. Dadas as ambições territoriais relativamente modestas dos Estados
Unidos, as agências norte-americanas eventualmente capitalizariam a imagem
internacional anti-imperialista de seu país-sede ao quebrar o que vários
consideravam o baluarte do cartel das agências européias. (...) Na prática, porém,
o cartel original estabelecido pela Reuters, Havas e Wolff, do qual a AP foi por
décadas uma participante (...), deixou um legado permanente na divisão dos
mercados mundiais que serviu para evitar o que, para as agências, poderia ter-se
mostrado concorrência internacional excessiva.4
Além da propriedade, outro aspecto cedo percebido pelas agências de notícias como
próprio de seu negócio foi a questão da concorrência. Uma vez que a mercadoria-informação, por
ser produto não-rival (isto é, pode ser multiplicado e vendido a vários clientes sem subtrair
unidades de um “estoque”), era potencialmente incontrolável, quaisquer competidores poderiam
compartilhar o mercado de uma agência desde que tivessem acesso aos mesmos fornecedores e
aos mesmos clientes. A diferenciação, então, passaria a ser dada pela velocidade com que a
4
BOYD-BARRETT, 1980: 23 (grifo do original)
5
agência poderia entregar a informação ao cliente – por isso, agências mantêm investimento
constante em equipamentos de telecomunicações para transmissão e distribuição.
No entanto, no contexto tecnológico do século XIX, em que os canais para tráfego da
informação eram ainda instáveis e de baixa confiabilidade, o controle praticado sobre os mercados
foi de outro tipo: o monopólio, assegurado por meio de contratos de exclusividade com fornecedores
e clientes. “Quase desde o princípio ficou claro que o negócio da agência de notícias era,
basicamente, questão de monopólio nacional, sendo muito difícil que alguma outra empresa se
estabelecesse dentro de um mesmo mercado local” (SMITH, 1980; 75-76), o que, não obstante,
chegou a ocorrer (Quadro II).
6
“rigidez organizational” não foi suficiente para evitar uma necessária “adaptabilidade pós-guerra”,
sugerindo que o modelo clássico estaria fadado a deixar de ser válido.
De fato, a crise de 1929 obrigou as agências de notícias a virarem oficiais ou oficiosas para
receber subsídios estatais (GÓMEZ MOMPART & MARÍN OTTO, 1999: 118), acentuando ainda
mais a relação de dependência com o Estado. O ocaso do cartel euro-americano, provocado pela
Segunda Guerra, tirou a antiga Wolff (já então dividida em três agências atuantes no III Reich) de
circulação e colocou novos atores importantes como a TASS soviética e a Xinhua chinesa no
mercado global das agências.
Se, no início do século XX, Mark Twain já afirmava que havia apenas duas forças que
podiam iluminar o mundo – “o sol no céu e a Associated Press na terra”, hoje a dificuldade é
administrar essa informação que está disponível no apertar de um botão e que ameaça de
extinção as formas de mídia, antes pioneiras como os jornais, revistas e a televisão, através de
um processo contínuo de globalização, que resultaram de um crescente imperialismo, duas
guerras mundiais, descolonização e divisão internacional do trabalho (também informativo). Tais
crises levaram a uma mudança paradigmática na estrutura de propriedade das agências de
notícias transnacionais, quando o modelo “clássico” passou a não mais dar conta das demandas
de interação comercial e flexibilização necessária para manter os mercados conquistados (e
rivalizar com concorrentes de expressão, como a TASS soviética).
O estudo descritivo de Boyd-Barrett & Rantanen (2000; 2002) sobre o modelo de
associação entre as agências nacionais dos países em desenvolvimento e as agências
transnacionais explicita o segundo momento da evolução deste sistema, já no século XX,
particularmente sob a Guerra Fria (1945-1989). Ao longo das quatro décadas desse período, as
três agências européias passaram de empresas familiares para holdings de capital aberto, com
subsidiárias para serviços específicos (TV, finanças) e uma complexa estrutura interna para
atender a diversos segmentos e suportes de mídia. Passaram a assemelhar-se às corporações de
outros setores não-mídia que, não por acaso, tornavam-se suas grandes clientes, sócias ou
proprietárias. Talvez um momento simbólico desta mudança tenha sido a transferência de sede
londrina da Reuters, da rua Fleet (onde estava desde o século XIX, bem como grande parte da
imprensa britânica) para o distrito financeiro de Canary Wharf, em 2005. Em 2007, a mesma
agência seria vendida para o conglomerado Thomson.
Na prática, essa “evolução” faz com que funcionários técnicos responsáveis pela parte
operacional de uma equipe contratada de correspondentes, passasse a ser cada vez mais
terceirizada ou substituída por colaboradores freqüentes – porém sem vínculo formal trabalhista,
exercendo as funções de freelancers – profissionais contratados para exercerem um trabalho
temporário, sendo pagos por hora de serviço efetuado, sem nenhum vínculo formal com a
empresa – ou stringers – similar aos freelancers, mas baseados em escritórios remotos ou
internacionais e contratados na medida em que há necessidade (PEREIRA LEHMANN, 2008).
7
Com isso, poupavam-se custos de pessoal e manutenção de escritórios no exterior, e
adequavam-se os gastos à demanda ocasional.
Nesta fase, as agências se transformaram de empresas esencialmente nacionais – como
visto, intrinsecamente ligadas aos esforços de expansão imperial de seus respectivos países – em
corporações transnacionais, ainda que umbilicalmente ligadas aos Estados-nações de origem.
Mesmo assim, é de se questionar se são poucos no imaginário público hoje – inclusive entre
jornalistas – os que vêem a Reuters como “inglesa”.
8
“intertwined six” (BAGDIKIAN, 2000), os seis maiores conglomerados de imprensa: General Electric,
Viacom, Disney, Bertelsmann, Time Warner e Murdoch News Corporation. Todas, donas de
empresas de comunicação incluindo as três maiores redes de televisão norte americanas: NBC,
CBS e ABC (Ibid.).
No passado, a integração dos meios de comunicação ocorria de forma horizontal, com
empresas adquirindo outras empresas com produtos ou serviços similares. Todavia, dando
procedimento a uma série de medidas (des)regulatórias, as fusões dos veículos de comunicação
hoje ocorrem por meio de uma integração vertical – ou seja, empresas adquirem outras que
oferecem diferentes estágios de produção e distribuição (PEREIRA LEHMANN, 2008). A princípio,
duas leis tentaram inibir essa forma de integração, mas foram abolidas na década de 1990 e mais
tarde retificadas pelo Telecommunications Act de 1996, quando é possível notar um aumento no
número de fusões entre os veículos de comunicação dos EUA e um número menor de
conglomerados (BAGDIKIAN, 2004). Enquanto isso, a empresa original tornava-se uma pequena
divisão das novas megaempresas ou extintas por completo. Conseqüentemente, uma divisão de
recursos teve início nos meios de produção, com o número de funcionários sendo reduzido
mediante processos de desligamento ou simplesmente demissões sumárias, exagerando ainda
mais o impacto negativo dessas mudanças no produto final – a notícia.
Apesar de alguns estudiosos acreditarem que a integração vertical pode beneficiar por
“reduzir os riscos de aumento de custos, interrupção de recursos críticos e problemas de
qualidade (...) através da divisão de operações”, diversos estudos sugerem que a integração
vertical tem um efeito negativo na indústria midiática por impor restrições às empresas que não
fazem parte dessa estrutura (MALBURG, 2000: 17). Como conseqüência, haveria mudanças nos
recursos humanos assim como no output final dessa empresa, exigindo uma maior flexibilidade
por de seus funcionários para manter os padrões exigidos.
A estrutura teórica da flexibilidade como a conhecemos hoje se desenvolveu a partir dos
conceitos do taylorismo e do fordismo, associados com freqüência à produção em massa. Nos
países mais desenvolvidos, esse conceito tem sido um elemento importante nas relações
industriais, dando destaque a necessidade de mudar a rigidez das práticas trabalhistas do início
dos anos 1980. Hoje, o debate sobre a flexibilidade dá ênfase às novas formas de trabalho como
resultado do desenvolvimento na área de recursos humanos, a introdução de desenvolvimentos
tecnológicos e de um mercado global. No Reino Unido, em particular, o interesse popular e na
área de administração no modelo de flexibilidade veio após a publicação do modelo de firma
flexivel, desenvolvido no Institute of Manpower Studies, na Universidade de Sussex, por Atkinson
(1984). Enquanto isso nos EUA, a visão corporativa Americana tende a inibir o valor do trabalho
em grupo e da sua contribuição em vista da relação com o emprego formal (GADE, 2004)1.
1
Fisher Jr., J (2000, Winter). Envisioning a culture of Contribution. Journal of Organizational Excellence, 47-54; as cited
in Gade, P.J., (2004, Spring). Newspapers and Organizational Development: Management and Journalist Perceptions of
Newsroom Cultural Change. Journalism Communication Monographs.
9
Por exemplo, a estrutura das empresas de comunicação – agências de notícias em especial
– tende a ser extremamente hierárquica no que diz respeito a seus administradores medianos e
altos executivos, enquanto “espera-se que os demais funcionários aceitem as reduções de carga
horária, reclassificação de suas posições ou até mesmo recolocações. Dessa forma, contradiziam
as próprias declarações das empresas que afirmavam que estavam dando poderes aos seus
funcionários para atuarem como parceiros administrativos” (Ibid.). De qualquer forma, a busca por
flexibilidade é vista pelos funcionários como o fim da segurança no trabalho, levando a uma possível
passividade e dependência (STANDING, 1999); enquanto outros acreditavam que poderia “reduzir
os custos econômicos, o que significaria menos desemprego e menor perda de output ou, do
produto final” (STANDING, 1999; 80). Em particular durante os períodos de transição da tecnologia
analógica para a digital, funcionários sindicalizados eram obrigados a dividir suas experiências com
os novatos não-sindicalizados. Estes recebiam também um treinamento dado por outro funcionário
também recém-contratado e que não possuía a total compreensão do processo de apuração e
produção jornalística, em detrimento ao noticiário produzido (PEREIRA LEHMANN, 2008).
10
efetivo no seu recurso humano e nas suas operações. De acordo com Taylor (2002), uma
organização mais flexível e capaz de conduzir seus funcionários de forma mais efetiva para
responderem melhor aos desafios e mudanças do dia-a-dia.
Nas camadas do modelo sugerido por Atkinson (1984), o núcleo é composto por
funcionários chave, os principais funcionários que terão a segurança de um trabalho permanente
e todos os benefícios associados a ele. Em troca, espera-se que esses funcionários atuem de
forma flexível funcionalmente. Ou seja, tanto verticalmente, incluindo funções que requerem
habilidades mais ou menos desenvolvidas do que aquelas na qual eles foram originalmente
contratados para exercer; quanto horizontalmente, incluindo uma variedade de funções dentro do
mesmo nível de habilidades desses funcionários (MARCHINGTON & WILKINSON, 2002).
A segunda camada possui dois grupos periféricos. O primeiro é composto por membros de
um segundo mercado de trabalho que ainda faz parte da organização. São geralmente contratados
para exercerem uma determinada função por tempo limitado. Possuem a mesma segurança
trabalhista daqueles que estão no núcleo, mas podem ser substituídos com maior facilidade pelo
empregador. Em outras palavras, eles são flexíveis numericamente ao invés de funcionalmente
como seus colegas do núcleo. O Segundo grupo periférico, por sua vez, inclui indivíduos com
poucas oportunidades de terem segurança no trabalho. Esse grupo inclui funcionários temporários e
trainees. O trabalho dentro da organização é possível desde que eles se adaptem à cultura
organizacional da empresa2. Por fim, após a segunda camada periférica estão os indivíduos/firmas
que são externos à organização principal e que atuam como provedores de serviços. Esse tipo de
trabalho contribui para a organização através de uma forma distanciada/temporal, servindo a outros
empregadores ou aqueles que atuam como autônomos, de maneira flexível.
11
Quadro IV. Operacionalização das variáveis no Modelo de Firma Flexível
IV: Flexibilidade DV: Resultado Medidas
• mudanças na cultura
distanciada/temporal redução de custos e organizacional
aumento de • mudança na utilização
competitividade de fontes primárias vs.
fontes secundárias
• mudanças na
quantidade e na
localização dos escritórios
internacionais
fonte: PEREIRA LEHMANN, 2008.
Nas empresas de comunicação, essa terceirização tem sido a causa da desconfiança entre
funcionários e empregadores, resultando numa mudança negativa da cultura organizacional.
Sendo assim, é importante identificar as mudanças organizacionais que impuseram novos valores
e comportamentos, modificando a cultura dessas empresas, principalmente no que diz respeito a
cobertura do noticiário internacional e a maneira como ele é apurado, processado e distribuído
pelos jornalistas. E, no que toca especialmente o universo das agências de notícias, tal mudança
paradigmática se torna potencialmente exponenciada pelo fato de estas empresas distribuírem
conteúdo para centenas de milhares de clientes institucionais (veículos de mídia ou não).
12
Tem havido uma redução e terceirização a nível global (…) uma tendência para
que as firmas de médio e grande porte venham a terceirizar as funções de seus
recursos humanos.5
5
STANDING, 1999: 84.
13
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