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Cíntia Lo Bianco
Ponciana Beserra
Sabrina
Sônia de Jesus
Tamires Orestes
Rubia Venino
Rio de Janeiro
11/2010
A ATUAÇÃO DOS PROFISSIONAIS NO CAPSI E A VISITA TÉCNICA
AO CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL MARIA CLARA
MACHADO
por Cíntia Lo Bianco, Ponciana Bezerra, Sabrina, Sonia de Jesus, Tamires Orestes e
Rubia Venino.
Rio de Janeiro
11/2010
“Os familiares que aprenderam com as próprias
práticas psiquiátricas, que o seu familiar doente
deveria ser internado, isolado, desconsiderado
enquanto cidadãos podem aprender outra forma de
lidar com o mesmo, vislumbrando suas
potencialidades, suas dificuldades e, enfim, outra
trajetória de vida que não a da institucionalização.”
Amarante (1997).
RESUMO
Este trabalho tem como objetivo dissertar acerca do Centro de Atenção Psicossocial – CAPS
em seu contexto histórico, sua definição e funcionamento, a atuação de um assistente social no
CAPSI (Centro de Atenção Psicossocial Infantil), o Movimento de Reforma Psiquiátrica,
considerando o CAPS como uma nova tecnologia de tratamento de doenças mentais, bem como
fazer um detalhamento da entrevista realizada com a assistente social Eliana Diogo, do CAPSI
Maria Clara Machado e finalizando com a conclusão do estudo elaborado. Este trabalho procura
demonstrar a atitude dos funcionários destes centros, em prol do bem estar da sociedade,
especialmente as crianças e os adolescentes, tema analisado neste trabalho. E que, de alguma forma,
surta efeito para que as pessoas não alimentem em si o preconceito descarado nem o camuflado, que
tomem atitudes positivas tanto para com as crianças, quanto para seus familiares a obterem novas
possibilidades de vida e um futuro promissor para todos os mais necessitados.
INTRODUÇÃO …............................................................................................................................6
1- CAPS/CAPSI – DEFINIÇÃO E
FUNCIONAMENTO…....................................................................................................................8
2- A ATUAÇÃO DOS PROFISSIONAIS NO CAPSI..................................................................10
3- MOVIMENTO DE REFORMA PSIQUIÁTRICA …….........................................................13
CONCLUSÃO ….............................................................................................................................17
BIBLIOGRAFIA ….........................................................................................................................18
ANEXO: ROTEIRO DE ENTREVISTA …..................................................................................20
INTRODUÇÃO
Depois do golpe militar de 1964, a política oficial na área de saúde mental, se baseava no
crescimento dos leitos psiquiátricos, ampliando a rede privada, no momento em que a população se
movia para a “desospitalização”. Desta forma, a internação psiquiátrica se consolidou e se
transformou, praticamente, na única alternativa de atenção em saúde mental no Brasil. Já no final da
década de 1970, a sociedade buscava alternativas mais adequadas, técnica e politicamente, para o
tratamento do doente mental, pautadas pelo princípio da “desinstitucionalização”, em que os
fundamentos organizados da sociedade civil incorporaram o movimento iniciado na Itália,
conhecido como Rede de Alternativas à Psiquiatria, buscando formas de confrontar o modelo
instituído no país. Em 1979 ocorreu a visita do psiquiatra italiano Franco Basaglia e o I Encontro
Nacional de Trabalhadores em Saúde Mental, realizado em São Paulo, que foram dois momentos
históricos na discussão das Políticas de Saúde Mental no Brasil.
Surge nesta situação o Movimento de Reforma Psiquiátrica que, baseando-se na
redemocratização do país, formulou críticas ao saber e às instituições psiquiátricas e também, ao
aparato manicomial. Esta atitude concreta subsidiou a formulação pelo Ministério da Saúde, da
Portaria n.224 que, em 1992, estabelecia pela primeira vez critérios para o credenciamento e
financiamento do CAPS no Sistema Único de Saúde (SUS).
Com a reflexão e a aposta feita, foi necessária uma atitude empírica para constituir um campo
de trabalho desde aquilo que se configurava enquanto norteador.
O nome CAPS foi utilizado pela primeira vez pela Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo
para descrever um serviço de atenção diária com funcionamento em dois turnos, durante cinco dias
na semana, que pretendia ser intermediário entre a unidade hospitalar e a comunidade. Foi decidido
no fim da década de 1980 como um espaço de referência para o usuário – lugar para ir, encontrar
pessoas, desenvolver alguma atividade, conversar, fazer um lanche, tomar remédio e voltar para
casa.
Os Centros de Atenção Psicossocial – CAPS tem procurado ser exemplo, pois nos mostra um
trabalho sério e bastante humano proporcionando aos portadores de transtorno mental
oportunidades de participação ampla na sociedade, ou seja, obtendo o direito ao trabalho, lazer e
ainda fortalecendo-se pelos laços familiares.
Os Centros de Atenção Psicossocial Infantil foram sugeridos a partir de 2002 sob a mesma
premissa que dirige os demais tipos de CAPS no país. Seus serviços são territoriais, de natureza
pública, possui financiamento integral com recursos gerados pelo Sistema Único de Saúde – SUS,
com a atribuição de proporcionar atenção em saúde mental, com base no cuidado em seu sentido
completo. Inicialmente, foram elaborados com a finalidade de atender casos severos, de acordo
com a deliberação da III Conferência Nacional de Saúde Mental realizada em 2001, e regular a
demanda na área de saúde mental infantil em seu território.
O Centro de Atenção Psicossocial Infantil – CAPSI geralmente é constituído por uma equipe
multiprofissional, contendo no mínimo um psiquiatra, um neurologista, um pediatra formado em
saúde mental infantil, um enfermeiro, um psicólogo, um assistente social, um terapeuta
ocupacional, um fonoaudiólogo e um pedagogo.
Desde a sua criação, há a evolução no país do número de CAPSI. Ao final de 2007 existia um
total de 86 CAPSI em funcionamento. Em cinco anos, de 2002 a 2007, 54 novos serviços foram
disponibilizados. A partir de 2005, apenas 24% dos CAPSI pleitearam recurso junto ao Ministério
da Saúde para financiamento de supervisão clínico – institucional objeto do programa de
qualificação do atendimento e gestão administrativa.
O CAPSI deve possuir a responsabilidade de realizar o atendimento de crianças e adolescentes
junto às suas famílias, em diferentes tratamentos, ou seja, tratamento intensivo, semi-intensivo e
não intensivo, de acordo com cada caso. Dessa forma, abre-se um leque de diversas ofertas
terapêuticas, que vem auxiliar o paciente em sua reabilitação.
O CAPS possui uma equipe multiprofissional e são diversas as atividades desenvolvidas em seu
espaço, com ofertas terapêuticas classificadas como atendimento individual ou em grupo, oficinas
terapêuticas e criação, atividades físicas, além da medicação, que antigamente era considerada a
primordial forma de tratamento do indivíduo. Neste mecanismo, a família é incluída como a fatia
fundamental do bolo, ou seja, parte essencial do tratamento, tendo acesso livre aos serviços
oferecidos, sempre que for necessário.
A demanda por ampliação do número de CAPSI torna-se uma necessidade urgente, bem como
ambulatórios e demais dispositivos de saúde mental, em particular os dispositivos voltados
especificamente para a infância e adolescência.
Acerca do trabalho realizado pelos assistentes sociais, a ação profissional destes no CAPSI
oscila entre o antigo e o novo mecanismo de cuidado na área de saúde mental, ou seja, alguns
profissionais apresentam um trabalho empírico voltado para o tradicional, focado na perspectiva do
transtorno mental e o excluindo do exercício de sua cidadania, e outros trabalham associando-se à
premissa inovadora do Movimento de Reforma Psiquiátrica, compreendendo o paciente em seu
sentido civil e social.
Crianças assistidas pelo CAPSI da cidade de Socorro, no Sergipe, fazendo atividades de pintura.
O trabalho em equipe no CAPSI ao ser definido como meta tem que haver o enfrentamento dessas
diferenças no processo de trabalhar/cuidar. Fazer a interação das intervenções de saúde mental
infantil com outros programas do setor, sem os descaracterizar, depende de uma gestão pública
clara, cuja garantia é dada por uma política de âmbito nacional.
Na 2ª Conferência, quando há, uma grande representação dos usuários de serviços em saúde
mental, questionando o saber psiquiátrico e o dispositivo tecnicista frente a uma realidade que só
eles conhecem e pedindo o fim do manicômio através da criação de equipamentos e recursos não
manicomiais, tais como: centro de atenção diária, residências terapêuticas e cooperativas de
trabalho na rede pública de assistência à saúde. Sua proposta principal, presente em todas as
diferentes experiências construídas sob sua proteção, é de que se criassem novas maneiras de lidar
com a loucura e com o louco, de forma que o mesmo não ficasse no lugar de tutelado, (de alguém
sem voz e sem vez), a ser gerido por outro que – esse sim – saberia a seu respeito.
A Reforma Psiquiátrica exige que as residências terapêuticas se desenvolvam através de
atividades que permitam maior trânsito dos moradores pela cidade. Dessa forma, a comunidade e a
cidade se tornam protagonistas do processo de reabilitação e de construção da rede social como
característica importante na mudança da vida cotidiana dos pacientes resgatando sua história e
tornando possível a vida das pessoas que viviam confinadas no interior dos hospitais psiquiátricos,
além de impelir o sistema de saúde a elaborar modos mais humanizados. Como movimento social,
ampliou a pauta de discussões e reivindicações e propôs a superação radical do modelo psiquiátrico
tradicional, utilizado nas práticas assistenciais e que representava a soberania do saber médico sobre
a loucura.
O CAPS, como serviço de saúde mental, atendem pessoas com transtornos mentais severos e
persistentes, como psicoses e neuroses graves, buscando amenizar e tratar as crises para que estas
pessoas possam recuperar sua autonomia e se reinserir nas atividades cotidianas. Por possibilitar
que seus usuários voltem para casa todos os dias, evitando a quebra nos laços familiares e sociais,
fator muito comum e enfraquecido em internações de longa duração, ao mesmo tempo em que
funciona como um lugar de referência para seus usuários. Neste sentido, os serviços substitutivos
teriam uma dupla função no que se refere à constituição de redes sociais.
Hoje, a política nacional de saúde mental reforça a atenção de base territorial, em substituição
à atenção hospitalar tradicional. Essa reorientação pode ser observada na diminuição do total de
leitos psiquiátricos e no aumento do número de Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) no país.
A Reforma Psiquiátrica implica mudanças culturais e sociais radicais nesses quatro campos,
afirmando-se como movimento social, o que se permite avançar e descobrir novos conceitos, outras
práticas, outros lugares tanto para usuários quanto para técnicos de saúde mental.
Apesar de o CAPS estar avançando ainda há muito que fazer, é necessário ampliar a
projeção do CAPS diante das políticas sociais. O CAPS precisa se inscrever de forma mais ampla
na transformação social. Para tanto, é essencial poder estruturá-lo de forma a ocupar outros
territórios.
Coral “te ofereço paz”, do CAPSI, na cidade de Patos, na Paraíba, promovendo a inclusão.
CONCLUSÃO:
Após o estudo deste trabalho, concluímos que é importante a reflexão dos profissionais
acerca do compromisso ético para que seja possível atribuir um novo significado à assistência
psiquiátrica, ou seja, para que se pense numa forma que viabilize o estreitamento dos laços entre os
profissionais e os usuários, nesta pesquisa, identificados como pacientes infantis. Outro fator
importante no vínculo do usuário, com o serviço do CAPS é o contato com os profissionais, mesmo
que o tratamento já tenha se finalizado. Com essa medida, o CAPS produz no psicológico do
É necessária uma abordagem em que se saiba ouvir e acolher o usuário. Dessa maneira,
enxergá-lo não como um louco, mas sim como uma pessoa que é capaz de ter seus direitos como
cidadão. É de muita importância que seja abolido o preconceito ainda existente na intervenção dos
obstáculos, sendo um deles a interrupção do novo mecanismo de cuidado na área do CAPS, por má
gestão administrativa, entre outros. Possui urgência a ampliação do número de CAPSI para todas as
regiões do país, principalmente Norte e Centro-Oeste, e para as cidades de grande porte onde existe
Reforma Psiquiátrica é reinserir o indivíduo com doença mental no convívio com sua família e sua
ser melhorado: deve haver a continuação de treinamentos, reciclagens para habilitar os profissionais
dessa medida em Saúde Mental, pois a formação universitária não possui toda a autonomia para ter
Psiquiátrica, o CAPS está atribuindo dessa maneira um novo caráter à forma de cuidados com os
BIBLIOGRAFIA
ALMEIDA, Patty F. de. O desafio da produção de indicadores para avaliação de serviços em saúde
mental – um estudo de caso do Centro de Atenção Psicossocial Rubens Corrêa/RJ. Tese de
Mestrado em Saúde Pública. Rio de Janeiro, Fundação Oswaldo Cruz, Escola Nacional de Saúde
Pública, maio, 2002. Cópia mimeo.
COUTO, Maria C. V.; DUARTE, Cristiane S.; DELGADO, Pedro G. G. A Saúde Mental Infantil na
Saúde Pública Brasileira: Situação Atual e Desafios. In: Revista Brasileira de Psiquiatria, Vol. 30,
N° 4, São Paulo, Dez/2008. Cópia mimeo.
CENTRO DE APOIO PSICOSSOCIAL INFANTIL - CAPSI MARIA CLARA MACHADO
Rua Gomes Serpa 49 Piedade Rio de Janeiro - RJ
Entrevista concedida pela assistente social Eliana Diogo; 08/11/2010.
DEFINIÇÃO DE CAPS
Disponível em: http://portal.saude.gov.br/portal/saude/visualizar_texto.cfm?idtxt=29797&janela=1
Consultado em novembro de 2010.
ACIOLY, Yanne A.; BRASIL, Maria G. M. Entre o "Velho" e o "Novo": Um Estudo Sobre a Ação
Profissional do(a) Assistente Social Na Saúde Mental. Cópia mimeo.
Disponível em:
http://www.propgpq.uece.br/semana_universitaria/anais/anais2003/trabalhos_completos/saude/saud
e_02.doc.
MIELKE, Fernanda B.; KANTORSKI, Luciane P.; JARDIM, Vanda M. R.; OLSCHOSWKY,
Agnes.; MACHADO, Marlene S. O Cuidado em Saúde Mental no CAPS no Entendimento dos
Profissionais. In: Revista Ciência e Saúde Coletiva. Vol. 14, n° 1, Rio de Janeiro, Jan/Fev 2009.
cópia mimeo.
RIBEIRO, Alessandra M. Uma reflexão psicanalítica acerca do CAPS: alguns aspectos éticos,
técnicos e políticos. Instituto Sedes Sapientiae. São Paulo; Psicologia USP; 2005. cópia mimeo.
SOCORRO, CAPSI – Paraíba - Crianças assistidas pelo CAPSI da cidade de Socorro, no Sergipe,
fazendo atividades de pintura. Disponível em: http://www.jornalaribenoticias.com/noticias.aspx?
id=216
ANEXO:
ROTEIRO DE ENTREVISTA
No Centro de Atenção Psicossocial Infantil - CAPSI Maria Clara Machado, situado à Rua
Gomes Serpa n° 49 no bairro de Piedade, foi realizada uma entrevista às 14 horas do dia 08 de
novembro de 2010, com a assistente social Eliana Diogo. Reproduzimos no trabalho a fala da
assistente social.
Assistente social Eliana Diogo: “- O CAPSI é um trabalho substitutivo; após a Reforma Psiquiátrica
começou a haver a desinstitucionalização, quer dizer, não ao manicômio, não ao hospício; então
começou a ser criado o trabalho dos CAPS como um dispositivo de trabalho substitutivo. E por que
psicossocial? Porque lida com a saúde mental, mas com base nos laços sociais que são mantidos.”.
2- Alunas: - Quanto tempo tem a instituição?
Assistente social Eliana Diogo: “- Esta unidade foi inaugurada em 7 de maio de 2007. Tem 3 anos e
meio.”.
3- Alunas: - Qual o impacto, na sua visão, da criação dos CAPS na rede de assistência em saúde
mental?
Assistente social Eliana Diogo: “- Uma equipe de saúde mental que tem psicólogo, psiquiatras,
psicopedagogos, enfermeiros, assistente social, T.O. - terapeuta ocupacional não temos, poderíamos
ter, mas não temos; tem também fonoaudióloga, professor de Educação Física e auxiliares.”.
5- Alunas: - Qual o período de funcionamento desta unidade, qual a clientela atendida (por
diagnóstico/classe social) e como é feita a triagem?
Assistente social Eliana Diogo: “- Não tem número de vagas, o serviço é aberto, a porta de entrada é
aberta. Nós temos atualmente 240 pacientes cadastrados e mais ou menos uns 50 em avaliação”.
Assistente social Eliana Diogo: “- Não existe não ter vaga. Se é o território que a gente atende que é
criança e adolescente até 18 anos, está sempre aberto, não existe não ter vaga. Em relação aos
pacientes não aceitos, realmente, tem pacientes que não são pra cá, são pra ambulatório ou pra outro
tipo de dispositivo, aí a gente faz o encaminhamento, que é chamado de encaminhamento
responsável: entra em contato com o ambulatório, acompanha a entrada desses pacientes lá e a
gente fica aberto à família a qualquer dificuldade que tenha pra gente poder mediar esse
encaminhamento. A gente liga pro serviço pra saber exatamente como é a recepção desse serviço,
qual horário, dizer que a gente está enviando o paciente, a gente faz o encaminhamento dirigido.”.
Assistente social Eliana Diogo: “- São encaminhados de outras unidades de saúde do território, fora
do território e demanda livre também. Por exemplo: escolas. A gente acolhe, conversa, faz a
avaliação e encaminha pra outro dispositivo.”.
Assistente social Eliana Diogo: “- A gente tem aqui o Nise da Silveira¹, que quando precisa de
internação a gente entra em contato com o serviço de internação de lá que é um serviço permanente,
e a gente faz o acompanhamento desse paciente lá até ter alta e poder vir pra cá. O atendimento
pode ser intensivo, não intensivo e semi-intensivo, até ter alta.”.
¹ *Instituto Nise da Silveira: é um complexo que reúne várias unidades de atendimento a populações
diferenciadas, localizado no bairro do Engenho Novo, Rio de Janeiro.
Assistente social Eliana Diogo: “- Individual, em grupo, com os familiares, oficinas terapêuticas,
oficinas de pais.”.
11- Alunas: - Nós observamos que algumas crianças entraram e os pais ficaram aguardando do
lado de fora. Por quê?
Assistente social Eliana Diogo: “- Eles ficam realmente ali porque a gente não tem espaço aqui
dentro. A gente coloca duas cadeiras compridinhas (com três lugares) pra eles ficarem ali, a gente dá
água... E infelizmente o nosso espaço não comporta que os pais fiquem aqui dentro. O que nós
oferecemos é fazer uma sala de espera com os pais. Então, normalmente eles sobem, eles têm esse
direito de subir, são convidados a subir e ficar numa sala, ou aqui ou na outra sala.”.
12- Alunas: - Sim, mas eles participam de algum tratamento com a criança?
Assistente social Eliana Diogo: “- Não, não. Individual. Eles ficam aqui na sala. Eles não ficam em
contato com a criança não. A não ser que a criança esteja em avaliação, aí a gente pode até chamar
os pais, mas em geral, os pais não ficam.”.
13- Alunas: - Sobre os adultos, quando é constatado nos pais algum problema psicológico, há o
encaminhamento dos mesmos?
Assistente social Eliana Diogo: “- Quando o profissional de referência; profissional de referência é
o que acompanha os pacientes, cada paciente tem um profissional de referência; quando a referência
percebe que o pai ou mãe precisa de um acompanhamento, a gente encaminha pra um ambulatório.
O atendimento individual e em grupo que existe com o pai é com relação ao tratamento dos nossos
usuários aqui.”.
Assistente social Eliana Diogo: “- O paciente não adere ao tratamento por vários motivos, então a
gente tem que pegar o telefone e ligar; muitas vezes eu faço isso. A visita domiciliar tem que ser
feita. Às vezes a gente chama o Conselho Tutelar... Tem casos graves que dá até pra comunicar o
Ministério Público. É difícil, mas tem caso que a gente precisa comunicar a negligência dos pais. A
gente insiste, dá a medicação aqui, mas é feito esse contato sempre que o paciente não adere ao
tratamento.”.
15- Alunas: - Em relação às passagens, o CAPSI cobre quando a pessoa não tem como vir aqui?
Assistente social Eliana Diogo: “- Tem passe livre, né? É, tem passe livre que é quando o paciente é
especial, né? Quando tem transtorno mental... É só pegar o formulário lá no CRAS, traz o seu
doente... Pra obter o Riocard tem que pegar o formulário no CRAS, já o intermunicipal tem que
pegar na Central do Brasil. Tem Vale-Social, tem intermunicipal, tem interestadual. São direitos que
eles têm; a gente fornece o laudo, preenche o formulário, a gente possibilita isso a eles.”.
Assistente social Eliana Diogo: “- Essa fala é meio complicada, né? Porque normalmente é mais
com os pais. Os pais, às vezes, resistem muito em entender, não entendem de imediato o que está
sendo passado pra eles.”.
17- Alunas: - A criança, portanto, não tem percepção nenhuma acerca de sua situação?
Assistente social Eliana Diogo: “- Não, pois o CAPSI cuida de pacientes com transtornos mentais
severos: autistas e psicóticos. Se precisar só de tratamento psicoterápico, a gente envia o paciente
para um ambulatório, mas aqui é somente pra transtorno severo.”.
Assistente social Eliana Diogo: “- Nos casos de evasão, acompanhamento do caso, até pra dar a
medicação... Às vezes, os pais não vêm, não querem vir, não querem sair de casa, querem que a
médica vá a casa. É um trabalho bem diferente, singular. Tem pacientes que estão num quadro que
não é propriamente uma crise, mas se precisar de uma intervenção maior, aí a gente faz a visita
domiciliar, ou com o técnico de referência ou com a médica pra levar a medicação. Nos casos de
violência a visita domiciliar também é feita, mas em determinados casos a gente tem que acionar
outros órgãos, outros dispositivos, ou o Conselho Tutelar, o CRAS ou a Secretaria do Deficiente. A
gente os tem como parceiros; quando o CAPSI precisa de um parceiro, se faz um trabalho
integrado.”.
Assistente social Eliana Diogo: “- A relação maior se dá com a família. Eu não tenho referência, eu
não tenho um paciente de referência. Eu trabalho com todas as referências, é diferente. Porém, não
impede também que eu faça alguma intervenção com o paciente, caso seja preciso.”.
Assistente social Eliana Diogo: “- A relação é justamente essa que eu lhe falei. É uma proximidade
maior, intervenção com a família, no sentido de estar garantindo acesso aos pacientes, garantia de
direitos, acesso à escola, questão judicial (guarda), violação de direitos, que a gente trabalha em
cima disso. A gente vai à escola quando precisa resolver uma situação, a gente liga pra escola, a
gente chama a escola aqui...”.
Assistente social Eliana Diogo: “- Não. Nessa sala de espera a gente procura ouvir os pais. Então, a
gente toma a direção pra que eles comentem como é o tratamento, o acompanhamento, o serviço
que é prestado aos seus filhos. Eles mesmos vão falar, mas pesquisa de satisfação não tem não.”
Assistente social Eliana Diogo: “- Existe a discriminação da sociedade em relação ao paciente com
transtorno. A família traz pra gente a dificuldade que eles têm. Às vezes, dentro de um ônibus
quando saem daqui e vão pra casa, passam constrangimento. Isso é violação de direitos, né? Eles
trazem essas angústias pra gente e a gente trabalha nesse sentido. O trabalho da gente está nesse
ponto, garantir os direitos do paciente, dentro da comunidade dele.”.