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Os dois dogmas da Filosofia

Dizer que a Filosofia questiona tudo até mesmo a própria


Filosofia não é uma assertiva completamente verdadeira, apenas
em grande parte. E precisamos ser sinceros sobre isso: há dois
conhecimentos sobre os quais a Filosofia nunca os questionou,
nunca os fez objeto de reflexão:
(1o) a Filosofia, isto é, os filósofos creem que tudo está
interligado, falam sobre as coisas vistas como um todo, uma
totalidade, acreditam sem provar que há um todo dos quais tudo
que existe são partes, interligadas. O ser humano como um todo, o
universo como um todo, a realidade como um todo, etc.
(2o) observe que em cada debate, as pessoas que se
autodenominam filósofas, em geral, pensam de modo muito
semelhante: procuram identificar no que os outros dizem uma
oportunidade de questionar sobre algo que não está claro. Em parte
pelo prazer de mostrar que o outro está errado, mas em grande
parte, pelo dever de mostrar certas incoerências nos pensamentos
alheios e mais do que apenas isso: buscar um equilíbrio entre os
diversos pontos de vista. Quando a maioria diz que mentir é
adequado em certos momentos, o filósofo observará que uma
sociedade onde as pessoas mentem quando é apropriado não é uma
sociedade ideal para vivermos. E se alguém cita Kant e o
imperativo categórico em que é um deve falar a verdade, o filósofo
observará que se não sabemos os efeitos dos nossos atos, uma
mentira tem tanta chance de resultar em um efeito positivo quanto
negativo, para citar exemplos hipotéticos de argumentos.
Resumindo:
(a) Nós filósofos acreditamos que tudo é uma coisa só.
(b) Nossa tarefa é equilibrar os pontos de vista discordantes
de modo que nenhum predomine sobre o outro

Por isso acho que a balança não deveria ser símbolo da Justiça,
mas da filosofia. Caberia aos tribunais, o símbolo do carrasco a
mando da lei, que bem poderia estar com uma faixa nos olhos.

Professor Antonio Jaques


Licenciado em Filosofia

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