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1. INTRODUÇÃO
Intrínsecos:
a) atividade de água (Aa; Wa);
b) acidez (pH);
c) potencial de oxi-redução (Eh);
d) composição química;
e) fatores antimicrobianos naturais;
f) interações entre micro-organismos presentes.
Extrínsecos:
a) umidade;
b) temperatura ambiental;
c) composição gasosa do ambiente.
Importante: estes fatores podem ter efeito interativo.
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Curva de Crescimento Bacteriano
Fase lag (A): esta fase de crescimento ocorre quando as células são transferidas de um meio
para outro ou de um ambiente para outro. Esta é a fase de ajuste e representa o período
necessário para adaptação das células ao novo ambiente. As células nesta fase aumentam no
volume total em quase duas ou quatro vezes, mas não se dividem. Tais células estão
sintetizando DNA, novas proteínas e enzimas, que são um pré-requisito para divisão.
Fase exponencial ou log (B): nesta fase, as células estão se dividindo a uma taxa geométrica
constante até atingir um máximo de crescimento. Os componentes celulares como RNA,
proteínas, peso seco e polímeros da parede celular estão também aumentando a uma taxa
constante. Como as células na fase exponencial estão se dividindo a uma taxa máxima, elas
são muito menores em diâmetro que as células na fase Lag. A fase de crescimento
exponencial normalmente chega ao final devido à depleção de nutrientes essenciais,
diminuição de oxigênio em cultura aeróbia ou acúmulo de produtos tóxicos.
Fase estacionária (C): durante esta fase, há rápido decréscimo na taxa de divisão celular.
Eventualmente, o número total de células em divisão será igual ao número de células mortas,
resultando na verdadeira população celular estacionária. A energia necessária para manter as
células na fase estacionária é denominada energia de manutenção e é obtida a partir da
degradação de produtos de armazenamento celular, ou seja, glicogênio, amido e lipídeos.
Fase de morte ou declínio (D): quando as condições se tornam fortemente impróprias para o
crescimento, as células se reproduzem mais lentamente e as células mortas aumentam em
números elevados. Nesta fase o meio se encontra deficiente em nutrientes e rico em toxinas
produzidas pelos próprios micro-organismos.
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2. FATORES INTRÍNSECOS
A adição de solutos a um líquido puro irá causar uma redução na pressão de vapor da
solução e consequentemente diminuir a Aa. Essa redução varia em função da natureza da(s)
substância(s) adicionada(s), da quantidade adicionada e da temperatura.
Sendo 1 o valor de Aa obtido na água pura, os valores de Aa oscilarão entre 0 e 1.
O exemplo abaixo representa uma relação existente entre o valor de Aa e a adição de
compostos com sal, açúcar e glicerol, que quando adicionados causam redução no valor de
Aa.
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Tabela 1 – Atividade de água de alguns alimentos e suscetibilidade à deterioração
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A Aa limitante para o crescimento de determinado organismo depende ainda de outros
fatores intrínsecos que podem agir simultaneamente, como o pH do meio, o potencial de óxido-
redução e a presença de substâncias antimicrobianas naturais ou intencionalmente
adicionadas, entre outros. De modo geral, quando esses fatores provocam um afastamento das
condições ótimas para a multiplicação de determinado micro-organismo, mais alto será o valor
de Aa necessária.
O efeito da diminuição de Aa a um valor inferior ao considerado ótimo para um micro-
organismo é o aumento da fase lag do crescimento microbiano e a diminuição da velocidade de
multiplicação e do tamanho da população microbiana final. Este efeito ocorre devido à
alterações em todas as atividades metabólicas, uma vez que todas as reações químicas das
células são dependentes de água. Alguns micro-organismos, como o Staphylococcus aureus,
têm multiplicação quase normal, mesmo em baixa Aa.
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Alimentos como frutas, refrigerantes, vinhos e vinagres apresentam pH inferior àquele
em que a proliferação bacteriana é possível. Esses alimentos normalmente deterioram-se
devido ao crescimento de bolores e leveduras, uma vez que estes toleram pH inferior a 3,5.
De acordo com o pH, os alimentos são subdivididos em três grandes grupos: os
alimentos de baixa acidez, quem têm pH superior a 4,5; os alimentos ácidos, que têm pH entre
4,0 e 4,5, e os alimentos muito ácidos, que tem pH inferior a 4,0. Esta classificação está
baseada no pH mínimo para multiplicação e produção de toxina de Clostridium botulinum (4,5)
e no pH mínimo para multiplicação da grande maioria das bactérias (4,0). Dessa forma,
alimentos de baixa acidez (pH > 4,5) são os mais sujeitos a multiplicação microbiana, tanto de
espécies patogênicas quanto de espécies deteriorantes. Já nos alimentos ácidos (pH entre 4,0
a 4,5), há predominante de crescimento de leveduras, de bolores e de algumas poucas
espécies bacterianas, principalmente bactérias láticas e algumas espécies de Bacillus. Nos
alimentos ácidos (pH < 4,0), o desenvolvimento microbiano fica restrito quase que
exclusivamente a bolores e leveduras.
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• alguns ácidos ao se dissociarem liberam ânions que podem ser metabolizados e
alguns tem atividade inibitória.
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vitaminas mais importantes são as do complexo B, a biotina e acido pantotênico. Entre os
micro-organismos, verifica-se que as bactérias Gram-positivas, que, juntamente com os
bolores, são capazes de sintetizar todos os seus fatores de crescimento.
Embora necessários em quantidades muito reduzidas, os minerais são indispensáveis
para a multiplicação microbiana, pois estão envolvidas em muitas reações enzimáticas. Entre
esses minerais merecem destaque o sódio, o potássio, o cálcio e o magnésio, além do ferro,
zinco, fósforo, dentre outros.
*O SLP age através da quebra de peróxido (água oxigenada, por exmplo) presentes no leite,
liberando oxigênio que promove a oxidação de grupos SH de enzimas metabólicas vitais para
os micro-organismos. Esse sistema depende ainda da presença de tiocianato ou outro
substrato oxidável.
**A lactoferrina do leite tem também atividade antimicrobiana. Trata-se de uma proteína que
inibe a multiplicação através da retirada de íons ferro do leite.
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que o tornam ácido demais para o crescimento de muitos outros micro-organismos. Por outro
lado, a formação de compostos alcalinos, como aminas, formadas por ação de descarboxilases
produzidas por muitos micro-organismos, resulta no aumento do pH do alimento, tornando-o
propício para a proliferação daquelas bactérias anteriormente inibidas pelo pH ácido. É o que
ocorre com as leveduras que degradam o ácido lático de alimentos fermentados, tornando-os
favoráveis ao crescimento e produção de toxinas por Clostridium botulinum.
A tabela 4 mostra alguns exemplos de bactérias que através de seus metabólitos
interferem de forma a inibir ou ser essencial no desenvolvimento de outras bactérias.
Bacteriocinas:
Exclusão Competitiva:
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Micro-organismos utilizados na produção de alimentos e enzimas:
3. FATORES EXTRÍNSECOS
3.1. TEMPERATURA
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Os micro-organismos psicrófilos e psicrotrófilos multiplicam-se bem em alimentos
refrigerados, sendo os principais agentes de deterioração de carnes, pescado, ovos, frangos e
outros.
Os micro-organismos mesófilos correspondem à grande maioria daqueles de
importância em alimentos, inclusive a maior parte dos patógenos de interesse.
A maioria das bactérias termófilas importantes em alimentos pertence aos gêneros
Bacillus e Clostridium, incluindo tanto espécies deteriorantes, quanto espécies patogênicas.
Os fungos são capazes de crescer em faixa de temperatura mais ampla do que as
bactérias. Muitos fungos são capazes de se multiplicar em alimentos refrigerados. As
leveduras, por sua vez, não toleram bem temperaturas altas, preferindo as faixas mesófilas e
psicrófilas.
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Modificações na composição gasosa são capazes de causar alterações na microbiota
que sobrevive ou que se multiplica em determinado alimento.
Atmosferas modificadas: correspondentes a ambientes nos quais o oxigênio é – total
ou parcialmente – substituído por outros gases (oxigênio, nitrogênio e gás carbônico),
são empregados como recursos tecnológicos para aumentar a vida útil dos alimentos.
O efeito antimicrobiano do CO2 depende: da temperatura (o efeito é tanto mais intenso
quanto mais baixa for a temperatura), do pH e da Aa do alimentos, dos tipos e das
condições metabólicas dos micro-organismos presentes e, evidentemente, da
concentração do CO2.
O nitrogênio é um gás inerte, com pouco ou nenhum efeito antimicrobiano, exceto pela
substituição do O2.
Atmosferas contendo 10% de CO2 são utilizadas, há muito tempo, para prolongar o
tempo de armazenamento de frutas, especialmente maçãs e peras.
O estudo das interações entre os vários fatores intrínsecos e extrínsecos que afetam a
capacidade de sobrevivência e de multiplicação dos micro-organismos nos alimentos deu
origem ao famoso conceito dos obstáculos de Leistner.
Esse conceito é ilustrado com sete exemplos representando três alimentos com
diferentes fatores intrínsecos e extrínsecos atuando com intensidades diferentes no controle
microbiano:
1. cada um dos fatores (Aa, pH, Eh, temperatura e conservador químico) contribui com
parcela igual no retardamento do crescimento microbiano até que esse crescimento é
completamente bloqueado. Esse alimento é, portanto, estável e seguro. Trata-se, no
entanto de um modelo teórico, de ocorrência pouco provável.
2. os quatro fatores são suficientes para garantir a estabilidade microbiana.
3. nesse mesmo produto, um único fator intrínseco (Aa) pode ser suficiente para manter a
estabilidade de um alimento, se a carga microbiana inicial for baixa.
4. se a carga microbiana inicial for elevada, os quatro fatores serão insuficientes para
controlar o desenvolvimento microbiano. Esse produto terá vida útil curta ou poderá
causar uma toxinfecção alimentar.
5. o produto é enriquecido com mais nutrientes, o que causa um efeito trampolim no
crescimento microbiano. Nesse produto, a intensidade dos obstáculos deve ser
aumentada para que sejam eficientes e impeçam o desenvolvimento microbiano.
6. menos obstáculos podem ser necessários, uma vez que os micro-organismos estão
com seu metabolismo afetado.
7. A estabilidade é garantida por obstáculos que agem sinergisticamente.
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C = calor
R = refrigeração
Aa = atividade de água
Eh = potencial oxi-red
Co = conservador
V = vitaminas
N = nutrientes
mc = microbiota de competição
O efeito final é mais eficiente do que aquele que seria obtido se os obstáculos agissem
individualmente.
O conceito dos obstáculos deu origem à tecnologia dos obstáculos, que se baseia na
utilização simultânea de mais de uma forma de controle microbiano nos alimentos, como salga,
acidificação, processamento térmico, adição de conservadores químicos, etc. O objetivo é a
obtenção de produtos alimentícios estáveis, de prolongada vida de prateleira, e seguros à
saúde dos consumidores.
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Questões
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