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A Aviação Embarcada

De 1950 até hoje

1 – Introdução

Quando a 2ª Guerra Mundial terminou no Pacífico, em agosto de 1945, os


porta-aviões tinham provado ser a mais importante arma de guerra naquele
teatro de operações. A capacidade que eles demonstraram em transportar o
poder aéreo por milhares de quilômetros do oceano, para áreas onde pouca ou
nenhuma infra-estrutura era disponível para operações de aeronaves baseadas
em terra, foi crucial.

Ainda hoje, essa capacidade se mantém como sendo o mais poderoso argumento
em defesa dos porta-aviões, especialmente nesse tão volátil mundo pós Guerra
Fria, onde os interesses políticos e econômicos são ameaçados em várias partes
do globo, e em áreas onde a utilização de bases terrestres de nações amigas
não pode ser garantida. Mesmo se essas bases fossem disponíveis, elas talvez
não pudessem acomodar aeronaves suficientes para atender às demandas das
operações militares, e aí mais uma vez os porta-aviões completam essa lacuna.
E mais, os porta-aviões representam uma camuflada e bem defendida base,
menos sujeita a ataques do que uma base convencional.

A experiência obtida no Atlântico Norte durante a 2ª Guerra Mundial, realçou


outro uso estratégico dos porta-aviões, que foi a proteção das rotas marítimas
contra ataques aéreos e de submarinos. Utilizando-se os porta-aviões como
bases flutuantes e móveis de aeronaves de interceptação e anti-submarinas,
essas passaram a poder varrer vasta área dos oceanos. E com a introdução dos
submarinos com mísseis SLBM (Submarine Launched Ballistic Missiles), a
importância dos porta-aviões cresceu ainda mais.

2 – Construindo uma esquadra pós-guerra

Naquele agosto de 1945, com a maioria dos navios japoneses repousando no


fundo do Oceano Pacífico, apenas os Estados Unidos e a Grã-Bretanha
possuíam porta-aviões. A maior parte dessas duas esquadras foi então
convertida em sucata ou recolocada na marinha mercante. A construção de
novos porta-aviões cessou.

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Entretanto, essas duas nações tinham razões para continuarem a desenvolver e
a operar os porta-aviões: a necessidade de se estabilizar um mundo de pós-
guerra, a volatilidade natural do extremo oriente e o crescimento do
comunismo. No final dos anos 40 as intenções expansionistas soviéticas
ficaram muito claras; as dos britânicos estavam voltadas para as colônias; a
França também desejava restaurar o orgulho nacional e reafirmar o seu
controle sobre suas colônias, e assim a aviação naval tornou-se uma ferramenta
de política externa. E nações do Commonwealth, como Canadá e Austrália,
também adotaram os porta-aviões como armas de poder, sob o patrocínio da
Grã-Bretanha.

A idéia de que a 2ª Guerra Mundial havia sido a guerra para terminar todas as
guerras, logo ficou para trás, quando a Guerra da Coréia começou em 1950. As
operações aéreas à partir dos porta-aviões suplantaram em muito as das
aeronaves baseadas em terra (com exceção das operações de superioridade
aérea executada pelos Sabres F-86), e demonstraram mais uma vez o poder
dos porta-aviões, sendo crucial para o andamento daquela guerra. A Guerra da
Coréia reativou também a construção de novos porta-aviões, tanto nos Estados
Unidos como na Grã-Bretanha.

Durante a época da Guerra na Coréia, acreditava-se que os porta-aviões haviam


atingido seu desenvolvimento tecnológico máximo, já que a introdução de
aeronaves à jato, muito mais pesadas e velozes do que as aeronaves à pistão,
nunca poderiam operar nos porta-aviões da 2ª Guerra. A concepção de uma
pista em ângulo, juntamente com a catapulta a vapor e o sistema de auxílio ao
pouso com espelhos foram um grande salto operacional dos porta-aviões. Esses
três inventos britânicos foram imediatamente introduzidos ao longo da década
de 50 em todos os porta-aviões existentes bem como contemplados nos novos
projetos.

No cenário da Guerra Fria, os porta-aviões passaram a fazer parte da


estratégia militar de modo muito forte, aumentaram de tamanho de modo a
poderem acomodar aeronaves maiores e em maior número e diretamente mais
combustível de aviação e armamento. A introdução de reatores nucleares nos
propulsores os deixou com um alcance quase que infinito.

A partir de 1950, muitos porta-aviões passaram a executar uma nova tarefa,


qual seja, a guerra anti-submarina, visto que a ameaça sob as águas aumentou
sobremaneira. Essa ameaça chegou a seu ápice nos anos 70, quando da

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introdução dos SSBN (Nuclear-powered ballistic missile-armed submarines)
soviéticos. Os porta-aviões também passaram a ser plataforma de lançamento
de operações com helicópteros, e por isso mais tarde, belonaves especiais para
esse tipo de ação passaram a ser construídas.

Durante os anos 50 e 60 o tradicional papel de ataque dos porta-aviões


continuou a ser realizado numa série de ações, grandes ou pequenas. Na maioria
desses conflitos, onde o Vietnã foi o maior e mais duradouro, os porta-aviões
forneceram uma poderosa argumentação em favor das aeronaves baseadas em
terra.

Mas tudo isso mudaria em 1982. A recaptura das Ilhas Falklands ou Malvinas
pela Grã-Bretanha, teria sido impossível sem a utilização dos porta-aviões e
logicamente da aviação embarcada, já que a base inglesa mais próxima da
região do conflito ficava a quatro mil milhas. O curioso é que quatro anos antes,
a Grã-Bretanha havia acabado com os porta-aviões convencionais. Entretanto,
esse conflito demonstrou ao mundo que, mesmo porta-aviões leves podem ser
decisivos em batalhas, onde as aeronaves baseadas em terra não podem operar
ou que podem, mas no limite de seu alcance.

3 – A revolução vertical

A principal arma aérea da vitória inglesa foi o Sea Harrier, um pequeno, mas
versátil caça que podia aterrisar ou decolar verticalmente. Essa aeronave havia
se materializado no início da década de 70 e, já nesta época, era um potencial
candidato às operações navais. Para os Estados Unidos, o Harrier era uma óbvia
solução para os problemas existentes com a necessidade de aeronaves de asa
fixa em suporte aos Marines (Fuzileiros Navais) em suas operações anfíbias.

Na Grã-Bretanha, o Sea Harrier seria utilizado como proteção aos recursos


bélicos anti-submarinos, enquanto mantendo-se as rotas do Atlântico livres e
ao mesmo tempo monitorando os soviéticos. A União Soviética também
vislumbrou o potencial das aeronaves VTOL (Vertical Take-off and Landing),
sendo utilizados nas mesmas operações, mas nunca obtiveram sucesso no
desenvolvimento da aviação naval.

Os porta-aviões ingleses ASW (Anti Submarine Warfare) desenvolvidos nos


anos 70, foram alvo de muitos debates, principalmente por causa de seus
tamanhos. Várias propostas para construção de porta-aviões menores,

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equipados com aeronaves V/STOL, foram feitas nos Estados Unidos, mas
sempre rejeitadas em favor dos super porta-aviões, que alcançaram seu ápice
com o Nimitz de 100 mil toneladas, e hoje representam o máximo dos projetos
navais, sendo os maiores navios já construídos.

Embora os Estados Unidos tivessem decidido que a única opção para sua
necessidade militar fosse o superporta-aviões nuclear, equipado com aeronaves
de decolagem e pouso convencional, outras nações, com menores ambições
militares e menos verba, encontraram no porta-avião STOL a solução ideal. A
Itália, a Espanha e a Tailândia optaram por essas belonaves menores e
equipadas com Harriers. A Índia também adotou a mesma solução.

A Rússia, por anos sem capacidade aeronaval, juntou-se ao restrito clube de


países com porta-aviões, quando no início dos anos 90 lançou o Kuznetsov, que
introduziu a concepção que com toda certeza, será introduzida nos novos
projetos: o STOBAR (Short Take-off But Arrested Recovery), que combina a
vantagem do ski-jump do porta-aviões STOL com o pouso enganchado dos
porta-aviões convencionais, permitindo que o navio utilize aeronaves mais
possantes, como por exemplo o Su-33 Flankers. Essa solução será adotada
também pela Índia.

4 – O futuro do porta-aviões

Mesmo com todos os debates e discussões sobre os méritos dos porta-aviões e


de seus altos custos, sobre as operações convencionais, o futuro deles parece
assegurado. Os Estados Unidos já estão planejando a construção de uma nova
classe de super porta-avião de modo a manter o número dessas belonaves em
12, principalmente agora após o atentado terrorista de 11 de setembro. A Grã-
Bretanha tem anunciado que construirá dois novos porta-aviões maiores do que
os Invincibles, atualmente em serviço, enquanto que a França provavelmente
encomendará um segundo porta-aviões nuclear para compor com o Charles de
Gaulle. Com o aumento de operações multinacionais, logo veremos aviões e
helicópteros de outros países operando a partir de porta-aviões ingleses e
franceses, como, por exemplo, a Marinha Alemã, que está planejando um novo
avião para substituir o Tornado, e essa nova aeronave terá capacidade naval.

Em outra região do mundo, o Brasil revitalizou sua frota, com a aquisição do


São Paulo (ex-França Foch) e de aeronaves Skyhawk. A esquadra hindu também
deverá ser ampliada, enquanto que a China já expressou sua ambição em operar

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porta-aviões em um futuro não muito distante, sendo que foi publicado na
imprensa que o incompleto Varyag, vendido como hotel e cassino flutuante, vai
de fato, ser concluído como porta-aviões.

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