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Exercícios de semiótica para revisão e prova

1) Aponte os percursos de manipulação no texto Teresinha, de Chico Buarque. Explique.


(extraído de BARROS, Diana Luz Pessoa de. “Estudos do discurso”. In FIORIN, José Luiz. Introdução à linguística II: princípios de
análise. São Paulo: Contexto, 2004, p. 213).

Teresinha (Chico Buarque) § §


O primeiro me chegou O segundo me chegou O terceiro me chegou
Como quem vem do florista: Como quem chega do bar: Como quem chega do nada:
Trouxe um bicho de pelúcia, Trouxe um litro de aguardente Ele não me trouxe nada,
Trouxe um broche de ametista. Tão amarga de tragar. Também nada perguntou.
Me contou suas viagens Indagou o meu passado Mal sei como ele se chama,
E as vantagens que ele tinha. E cheirou minha comida. Mas entendo o que ele quer!
Me mostrou o seu relógio; Vasculhou minha gaveta; Se deitou na minha cama
Me chamava de rainha. Me chamava de perdida. E me chama de mulher.
Me encontrou tão desarmada, Me encontrou tão desarmada, Foi chegando sorrateiro
Que tocou meu coração, Que arranhou meu coração, E antes que eu dissesse não,
Mas não me negava nada Mas não me entregava nada Se instalou feito um posseiro
E, assustada, eu disse "não". E, assustada, eu disse "não". Dentro do meu coração.

2) No poema de Arnaldo Antunes, aponte quais são os conectores e os desencadeadores de


isotopia. Quais são as isotopias em jogo? Como elas contribuem para criar os efeitos de sentido do
poema?

Os peitos (Arnaldo Antunes)

Mulheres

têm dois

peitos. Os

homens têm

um peito só.

3) No excerto abaixo, aponte uma oposição de nível fundamental. Indique também quais
figuras manifestam, no nível discursivo, os termos polares dessa oposição.

1 “Li ainda outros versos. E, na fadiga das duas horas de égua e calor desde Guiães,
irreverentemente adormecia sobre o divino bucolista – quando me despertou um
berro amigo! Era o meu Príncipe. E muito decididamente, depois de me soltar do
seu rijo abraço, o comparei a uma planta estiolada, emurchecida na escuridão,
entre tapetes e sedas, que, levada para vento e sol, profusamente regada,
6 reverdece, desaborcha e honra a Natureza! Jacinto já não corcovava. Sobre a sua
arrefecida palidez de supercivilizado, o ar montesino, ou vida mais verdadeira,
espalhara um rubor trigueiro e quente de sangue renovado que o virilizava
soberbamente. Dos olhos, que na cidade andavam sempre tão crepusculares e
desviados do mundo, saltava agora um brilho de meio-dia, resoluto e largo,
11 contente em se embeber na beleza das coisas. Até o bigode se lhe encrespara. E já
não deslizava a mão desencantada sobre a face – mas batia com ela triunfalmente
na coxa. Que sei? Era um Jacinto novíssimo. E quase me assustava, por eu ter de
14 aprender e penetrar, neste novo Príncipe, os modos e as ideias novas.”
(Eça de Queirós, “A cidade e as serras”, cap. IX)

4) Nos trechos abaixo, aponte as debreagens enunciativas e enuncivas e indique se elas são
de tempo, espaço ou pessoa. Lembre-se que as categorias podem se manifestar em diferentes classes
de palavras.

a) “O Senado aprovou nesta terça-feira projeto de lei que inibe a criação de novos partidos e evita o
troca-troca partidário. O texto agora irá a sanção presidencial, mas as regras não valem no ano que
vem para os partidos criados neste ano.”
(adaptado de:
http://www1.folha.uol.com.br/poder/2013/10/1353705-senado-aprova-projeto-que-inibe-a-criacao-de-novos-partidos.shtml)

b) “O lado sexy de Gisele também é explorado em sua nova coleção de lingerie. A top model esteve
no Brasil recentemente para acompanhar as criações de sua marca. 'Quando crio minha coleção
imagino peças sensuais, mas com muita classe' ”
(extraído de: http://caras.uol.com.br/especial/fashion/post/gisele-bundchen-faz-ensaio-sensual-com-joias-para-nova-campanha-fotos)

c) François Englert, da Universidade Livre de Bruxelas, e Peter W. Higgs, da Universidade de


Edimburgo, foram os ganhadores do Nobel de Física em 2013 pela teoria sobre como as partículas
adquirem massa. Em 1964, eles propuseram, independentemente, a teoria. Em 2012, as ideias de
ambos foram confirmadas com a descoberta da partícula de Higgs, chamada popularmente de a
"partícula de Deus", no laboratório europeu CERN, na Suíça.
(adaptado de:
http://www.valor.com.br/internacional/3297110/dupla-leva-nobel-de-fisica-por-trabalhos-sobre-particula-de-deus#ixzz2hAmGL8e0)

d) “Lembro-me nitidamente daquela manhã em que assisti, estarrecido como tantos, à verdadeira
batalha que se travou na rua Maria Antônia e de que resultou, entre tantas perdas, a destruição do
prédio de nossa Faculdade.”

(extraído de: BARROS, Mariana Luz Pessoa de. “Para rememorar o acontecimento”. In: MARCHEZAN, Renata Coelho;
CORTINA, Arnaldo; BAQUIÃO, Rubens César (Org.) A abordagem dos afetos na semiótica. São Carlos, Pedro&João editores,
2011, p. 178)

5) Leia a letra de “Domingo no Parque” de Gilberto Gil e responda:

a) Descreva brevemente o desenvolvimento das etapas do percurso narrativo canônico


nesse texto.
b) O que você pode dizer sobre as modalidades e o fazer veridictório nesse texto? O que
elas desencadeiam no plano da narrativa? Comente brevemente.

Domingo no Parque (Gilberto Gil) §


O rei da brincadeira O espinho da rosa feriu Zé
Ê, José! O sorvete e a rosa
O rei da confusão Ô, José!
Ê, João! A rosa e o sorvete
Um trabalhava na feira Ô, José!
Ê, José! Oi girando na mente
Outro na construção Ô, José!
Ê, João!... Do José brincalhão
Ô, José!...
§
§
A semana passada
No fim da semana Juliana girando
João resolveu não brigar Oi girando!
No domingo de tarde Oi, na roda gigante
Saiu apressado Oi, girando!
E não foi prá Ribeira jogar Oi, na roda gigante
Capoeira! Oi, girando!
Não foi prá lá O amigo João (João)...
Pra Ribeira, foi namorar... §
§ O sorvete é morango
O José como sempre É vermelho!
No fim da semana Oi, girando e a rosa
Guardou a barraca e sumiu É vermelha!
Foi fazer no domingo Oi girando, girando
Um passeio no parque É vermelha!
Lá perto da Boca do Rio... Oi, girando, girando...
§ §
Foi no parque Olha a faca! (Olha a faca!)
Que ele avistou Olha o sangue na mão
Juliana Ê, José!
Foi que ele viu Juliana no chão
Foi que ele viu Juliana na roda com João Ê, José!
Uma rosa e um sorvete na mão Outro corpo caído
Juliana seu sonho, uma ilusão Ê, José!
Juliana e o amigo João... Seu amigo João
Ê, José!...
§
§
O espinho da Rosa feriu Zé
Amanhã não tem feira
(Feriu Zé!) (Feriu Zé!)
Ê, José!
E o sorvete gelou seu coração Não tem mais construção
O sorvete e a rosa Ê, João!
Ô, José! Não tem mais brincadeira
A rosa e o sorvete Ê, José!
Ô, José! Não tem mais confusão
Foi dançando no peito Ê, João!...
Ô, José! Êh! Êh!
Do José brincalhão
Ô, José!...
Respostas dos exercícios:
1) Em Teresinha, o texto pode ser dividido em três partes. Na primeira parte, o destinador 'homem'
procura manipular o destinatário 'Teresinha' por tentação (oferece valores positivos: bichos de
pelúcia, broche de ametista, viagens, relógio) e por sedução (apresenta uma imagem positiva dela,
como rainha e como mulher desejada por um homem tão cheio de vantagens). A manipulação não
foi bem sucedida porque a mulher interpretou que ele lhe oferecia tanto que não podia ser verdade,
ou seja, parecia mas não era verdadeiro, era uma ilusão. Não acredtiou assim que o destinador fosse
confiável. A outra leitura possível é a de que a imagem positiva que o destinador faz dela, de
'rainha', não era tão positiva assim para ela, pois ela temia não ser capaz de manter uma imagem
irreal e idealizada. Em outras palavras, a manipulação não funcionoou porque o destinatário
interpretou que tanto o destinador, quanto os valores oferecidos eram uma mentira, pareciam mas
não eram verdadeiros. (extraído de BARROS, Diana Luz Pessoa de. “Estudos do discurso”. In FIORIN, José Luiz.
Introdução à linguística II: princípios de análise. São Paulo: Contexto, 2004, p. 260).

2) No poema em questão os lexemas “peitos” (verso 3) e “peito” (verso 6) funcionam como


desencadeadores de isotopia, enquanto os demais (destacadamente “mulheres”, “homens” e os
numerais “dois” e “um”) agem como conectores de isotopia. O lexema “peito” congrega ao menos
duas isotopias, uma de ordem concreta (anatomia do corpo humano) e outra de ordem abstrata
(coragem, força). Ainda dentro da primeira isotopia, o sema /sexual/ de “peito” pode entrar em jogo
(na acepção de “seios”) ou ficar em suspenso (na acepção de “torso”). É graças a esse duplo
desencadeamento de isotopias, o poema pode assumir uma linha de leitura mais factual (“mulheres
tem dois seios, homens tem um torso”) e outra metafórica (“mulheres são mais corajosas que
homens”).

3) No trecho de “A cidade e as serras”, pode-se notar a oposição fundamental Natureza vs. Cultura.
A oposição também pode ser formulada em temos de “Vida vs. Morte” (especificamente nesse
excerto, seria mais adequado contrapor os termos Vida vs. Não-Vida). As figuras concretizam a
oposição Natureza vs. Cultura (ou também Vida vs. Morte) foram destacadas no texto com negrito e
itálico, respectivamente. Note-se que não basta apenas agrupar termo pertencentes a campos
semânticos próximos; ao invés disso, é preciso verificar sua pertinência no desenvolvimento
narrativo e discursivo do texto.

1 “Li ainda outros versos. E, na fadiga das duas horas de égua e calor desde Guiães,
irreverentemente adormecia sobre o divino bucolista – quando me despertou um
berro amigo! Era o meu Príncipe. E muito decididamente, depois de me soltar do
seu rijo abraço, o comparei a uma planta estiolada, emurchecida na escuridão,
entre tapetes e sedas, que, levada para vento e sol, profusamente regada,
6 reverdece, desaborcha e honra a Natureza! Jacinto já não corcovava. Sobre a
sua arrefecida palidez de supercivilizado, o ar montesino, ou vida mais
verdadeira, espalhara um rubor trigueiro e quente de sangue renovado que o
virilizava soberbamente. Dos olhos, que na cidade andavam sempre tão
crepusculares e desviados do mundo, saltava agora um brilho de meio-dia,
11 resoluto e largo, contente em se embeber na beleza das coisas. Até o bigode se
lhe encrespara. E já não deslizava a mão desencantada sobre a face – mas batia
com ela triunfalmente na coxa. Que sei? Era um Jacinto novíssimo. E quase me
assustava, por eu ter de aprender e penetrar, neste novo Príncipe, os modos e as
15 ideias novas.”
(Eça de Queirós, “A cidade e as serras”, cap. IX)
4) Abaixo, as respostas encontram-se assinaladas diretamente no excerto em análise. As debreagens
enunciativas estão destacadas com sublinhado simples, enquanto as debreagens enuncivas estão
destacadas com sublinhado duplo. Entre colchetes, há uma letra que indica se a debreagem é de
tempo [t], espaço [e] ou pessoa [p]. Note-se que um mesmo excerto pode recorrer a diferentes tipos
de debreagens ao mesmo tempo.

a) “O Senado [p] aprovou nesta terça-feira [t] projeto de lei que inibe a criação de novos partidos e
evita o troca-troca partidário. O texto agora irá a sanção presidencial, mas as regras não valem no
ano que vem [t] para os partidos criados neste ano [t].”
(adaptado de:
http://www1.folha.uol.com.br/poder/2013/10/1353705-senado-aprova-projeto-que-inibe-a-criacao-de-novos-partidos.shtml)

b) “O lado sexy de Gisele [p] também é explorado em sua nova coleção de lingerie. A top model [p]
esteve no Brasil [e] recentemente [t] para acompanhar as criações de sua marca. 'Quando crio [p, t]
minha coleção imagino [p, t] peças sensuais, mas com muita classe' ”
(extraído de: http://caras.uol.com.br/especial/fashion/post/gisele-bundchen-faz-ensaio-sensual-com-joias-para-nova-campanha-fotos)

c) François Englert [p], da Universidade Livre de Bruxelas [e], e Peter W. Higgs [p], da
Universidade de Edimburgo [e], foram os ganhadores do Nobel de Física em 2013 [t] pela teoria
sobre como as partículas adquirem massa. Em 1964 [t], eles propuseram [t], independentemente, a
teoria. Em 2012 [t], as ideias de ambos foram confirmadas com a descoberta da partícula de Higgs,
chamada popularmente de a "partícula de Deus", no laboratório europeu CERN, na Suíça [e].
(adaptado de:
http://www.valor.com.br/internacional/3297110/dupla-leva-nobel-de-fisica-por-trabalhos-sobre-particula-de-deus#ixzz2hAmGL8e0)

d) “Lembro-me [p, t] nitidamente daquela manhã [t] em que assisti [p, t], estarrecido como tantos, à
verdadeira batalha que se travou na rua Maria Antônia [e] e de que resultou, entre tantas perdas, a
destruição do prédio de nossa Faculdade.”

(extraído de: BARROS, Mariana Luz Pessoa de. “Para rememorar o acontecimento”. In: MARCHEZAN, Renata Coelho;
CORTINA, Arnaldo; BAQUIÃO, Rubens César (Org.) A abordagem dos afetos na semiótica. São Carlos, Pedro&João editores,
2011, p. 178)

5)
a) Na primeira estrofe, os sujeitos atorializados por “José” e “João” são apresentados e descritos em
situações estáveis. Com o fim de suas jornadas de trabalho, indicado nas segunda e terceira estrofe,
é possível entrever um /querer/ entrar em conjunção com o objeto-valor materializado em “Juliana”,
conforme se descobre mais adiante. Ao descobrir que o amigo “João” é, na verdade, seu rival
(pode-se dizer também Antissujeito), “José” busca conquistar seu objeto fazendo prevalecer seu
/poder/. Porém, com a eliminação de seu Antissujeito e também de seu objeto desejado na etapa
final da narrativa, o sujeito “José” não obtém sucesso em seu programa narrativo.

b) Nessa narrativa, a irrupção causada pelo fazer veridictório está na revelação entre os versos 23 e
31. Até então, José julgava verdadeira (parecer+ser) a amizade de João. Ocorre então a passagem
para o regime da ilusão (parecer+não ser) quando José avista o amigo com Juliana. É essa revelação
que desencadeia o percurso passional da cólera e da vingança que leva José a ferir mortalmente
João e Juliana. O sujeito José tinha um /querer/ e, logo após a visão que o decepciona, se conjuga
com um /crer-não-poder/ (ou mesmo um /querer-poder/). Ainda que as combinações modais possam
variar ligeiramente, o resultado de tais ecombinações em termos narrativos deve ser um só: a
performance operada por José em uma busca (desesperada) por seu objeto-valor.

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