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EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO DO TRABALHO, GERAL E NO BRASIL.

O direito do trabalho é de formação legislativa e relativamente recente. O trabalho porem, é tão


antigo quanto o homem.
Em todo o período remoto da história, o homem primitivo é conduzido direta e amargamente pela
necessidade de satisfazer a fome e assegurar sua defesa pessoal. Ele caça, pesca e luta contra o meio
físico, contra os animais e contra seus semelhantes. A mão é o instrumento do seu trabalho. Nesta época
não “trabalho” como conhecemos atualmente, mas sim a constante luta pela sobrevivência.
Apenas muito tempo depois é que se instalaria o sistema de troca e o regime de utilização, em
proveito próprio, do trabalho alheio.
O trabalho escravo é a mais expressiva representação do trabalhador na idade antiga (4.000 a.C, a
“coisificação” do trabalhador).
Durante a Idade Média existiam três tipos básicos de trabalhadores:
 Os vassalos, subjugados por contrato ao senhor feudal;
 Os servos da gleba, quase escravos, que podiam inclusive ser vendidos, dados ou trocados
por outros servos e mercadorias;
 Os Artesãos, que trabalhavam por conta própria e vendiam sua mercadoria.
Pouco a pouco o trabalhador ressurgiu, na superfície da História, com uma característica nova:
passou a ser pessoa, muito embora seus direitos subjetivos fossem limitadíssimos.
Em fase posterior, mas ainda dentro da Idade Média, verificamos um fato que se assemelha ao
sindicalismo contemporâneo: surgiram naquela ocasião, e isso jamais ocorrera antes, em oposição,
entidades representativas de produtos e de trabalhadores. Ambas se puseram frente a frente, em nome de
interesses opostos. A luta de classes, a partir daí começou a ser deflagrada através de organizações
representativas dos contendores como na era moderna do sindicalismo.
Na Idade Média, com as corporações de ofício, observam-se três modalidades de membros. Os
mestres eram proprietários das oficinas, já tendo sido aprovados na confecção de uma obra mestra. Os
companheiros eram trabalhadores livres que recebiam salários dos mestres, tratando-se de grau
intermediário surgido no século XIV. Os aprendizes eram menores que recebiam dos mestres o
ensinamento metódico do ofício ou profissão, podendo passar ao grau de companheiro se superassem as
dificuldades dos ensinamentos. A pesar da existência de maior liberdade ao trabalhador, a relação das
corporações com os trabalhadores era de tipo autoritário, sendo mais destinada à realização de seus
interesses do que à proteção destes.
Ainda na sociedade pré-industrial, verifica-se a locação de serviços e locação de mão de obra ou
empreitada.
Com a Revolução Francesa foram suprimidas as corporações de ofício, tidas como incompatíveis
com o ideal de liberdade individual da pessoa. No liberalismo, o Estado não deveria intervir na área
econômica.
Na realidade, o Direito do Trabalho surge com a sociedade industrial e o trabalho assalariado.
A Revolução Industrial, ocorrida no Século XVIII, foi a principal razão econômica que acarretou o
surgimento do Direito do Trabalho, com a descoberta da máquina a vapor como fonte de energia,
substituindo-se a força humana. A necessidade de pessoas para operar as máquinas a vapor e têxteis
impôs a substituição do trabalho escravo, servil e corporativo pelo trabalho assalariado.
Alguns autores como Granizo e Rothvoss e também defendido por GODINHO – 2009, trás uma
tipologia bastante utilizada em manuais de Direito do Trabalho que consiste em na existência de quatro
fases principais na evolução do Direito do Trabalho: formação, intensificação, consolidação e autonomia.
A fase de formação estende-se de 1802 a 1848, tendo seu momento inicial no Peel’s Act, (Lei de
Peel) do início do século XIX na Inglaterra, que trata basicamente de normas protetivas de menores, esse
diploma legal inglês voltado a fixar certas restrições à utilização do trabalho de menores As Leis dessa
fase visavam basicamente reduzir a violência brutal da superexploração empresarial sobre mulheres e
menores. Leis essas de caráter humanitário, de construção assistemática. O espectro normativo
trabalhista ainda é disperso, sem originar um ramo jurídico próprio e autônomo.
A segunda fase (intensificação) situa-se entre 1848 e 1890, tendo como marcos iniciais o “Manifesto
Comunista de 1848“ e, na França, os resultados da Revolução de 1848, como a instauração da liberdade
de associação e a criação do Ministério do Trabalho.
A terceira fase (consolidação) estende-se de 1890 a 1919. Seus marcos iniciais são a Conferência
de Berlim (1890) e a Encíclica Católica Rerum Novarum (1891) – Papa Leão XIII. Essa Encíclica fez uma
ampla referência à necessidade de uma nova postura das classes dirigentes perante a chamada “Questão
Social”, que trazia em seu texto as obrigações de patrões e empregados, enfatizando o respeito e a
dignidade da classe trabalhadora, tanto espiritual quanto fisicamente, por outro lado, o operário deveria
cumprir fielmente o que havia contratado, nunca usar de violência nas suas reivindicações, ou usar de
meios artificiosos para o alcance de seus objetivos.
A quarta e última fase (autonomia) do Direito do Trabalho, tem início em 1919, estendendo-se às
décadas posteriores do século XX. Suas fronteiras iniciais estariam marcadas pela criação da OIT (1919) e
pelas Constituições do México (1917) e da Alemanha (1919).
Com o término da Primeira Guerra Mundial, surge o chamado Constitucionalismo social, significando
a inclusão, nas Constituições, de disposições pertinentes à defesa de interesses sociais, inclusive
garantindo direitos trabalhistas.
A primeira Constituição que dispôs sobre o Direito do Trabalho foi a do México, de 1917. O seu
artigo 123 estabelecia: a jornada diária de 8 horas; a jornada máxima noturna de 7 horas; a proibição do
trabalho de menores de 12 anos; a limitação da jornada de menor de 16 anos para 6 horas; o descanso
semanal; a proteção à maternidade; o direito ao salário mínimo; a igualdade salarial; a proteção contra
acidentes no trabalho; o direito de sindicalização; o direito de greve, conciliação e arbitragem de conflitos;
o direito à indenização de dispensa e seguros sociais.
A segunda Constituição a trazer disposições sobre o referido tema foi a da Alemanha Republicana
de Weimar, (República esta instalada na Alemanha logo após a Primeira Guerra Mundial (1918), tendo seu
marco final o ano de 1933) de 1919, com repercussão na Europa, disciplinando: a participação dos
trabalhadores nas empresas; a liberdade de união e organização dos trabalhadores para a defesa e
melhoria das condições de trabalho; o direito a um sistema de seguros sociais; o direito de colaboração
dos trabalhadores com os empregadores na fixação dos salários e demais condições de trabalho, bem
como a representação dos trabalhadores na empresa.
Ainda em 1919, o Tratado de Versalhes, assinado pelas potências mundiais européias que encerrou
oficialmente a Primeira Guerra Mundial. O principal ponto desse Tratado determinava que a Alemanha
aceitasse todas as responsabilidades por ela causadas, durante a guerra e que sob os termos dos artigos
231 – 247, fizessem reparações a certo número de nações da Tríplice Entente. (A Tríplice Entente foi uma
aliança militar feita entre a Inglaterra, França e o Império Russo para lutarem na Primeira Guerra
Mundial contra o pangermanismo e as expansões alemãs e austro-húngaras pela Europa). É nesse
Tratado que é previsto a criação da Organização Internacional do Trabalho – OIT, com sede em Genebra
e composta pela representação permanente de 10 países, dentre os quais, o Brasil. Somente em 1946 é
consolidada a vinculação da OIT à ONU, como instituição especializada para as questões referentes à
regulamentação internacional do trabalho. Em Conferência Internacional do Trabalho de 1946, foi
aprovado o novo texto da Constituição da OIT, com a integração da Declaração de Filadélfia (declaração
realizada na Conferência Geral da OIT, em Filadélfia, com fins e objetivos da OIT, bem como dos
princípios nos quais se deveria inspirar a política de seus membros).
A Carta Del Lavoro, de 1927, da Itália, instituiu um sistema corporativista, servindo de inspiração
para outros sistemas políticos, como Portugal, Espanha e Brasil. No corporativismo, o objetivo era
organizar toda a economia e a sociedade em torno do Estado, promovendo o chamado interesse nacional,
interferindo e regulando todos os aspectos das relações entre as pessoas. Nesse modelo, os sindicatos
não tinham autonomia, estando à organização sindical vinculada ao Estado.
Ainda no plano internacional, a Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, também prevê
diversos direitos trabalhistas, como férias remuneradas, limitações de jornada, etc.

HISTÓRIA E EVOLUÇÃO DO DIREITO DO TRABALHO NO BRASIL


No Brasil, o Direito do Trabalho foi influenciado por fatores externos e internos:

INFLUÊNCIAS EXTERNAS
Dentre as influências advindas de outros países e que exerceram, de certo modo, alguma pressão
no sentido de levar o Brasil a elaborar leis trabalhistas, sublinhem-se as transformações que ocorriam na
Europa e a crescente elaboração legislativa de proteção ao trabalhador em muitos países. Também pesou
o compromisso internacional assumido pelo nosso país ao ingressar na Organização Internacional do
Trabalho, criada pelo Tratado de Versalhes (1919), propondo-se a observar normas trabalhistas.

INFLUÊNCIAS INTERNAS
Os fatores internos mais influentes foram:
 O movimento operário, que participaram imigrantes com inspirações anarquistas,
caracterizados por inúmeras greves em fins de 1800 e início de 1900;
 O surto industrial, efeito da Primeira Grande Guerra Mundial, com a elevação do número de
fábricas e de operários – em 1919 havia cerca de 12.000 fábricas e 300.000 operários;
 E a política trabalhista de Getúlio Vargas (1930).
A Constituição de 1824, seguindo o liberalismo, aboliu as corporações de ofício (art. 179, n. 25),
devendo haver liberdade de exercício de profissões.
Observa-se a presença do trabalho escravo, até a Lei Áurea, de 13 de maio de 1888, quem aboliu a
escravidão no Brasil. – LEI TRABALHISTA MAIS IMPORTANTE ATÉ HOJE PROMULGADA NO BRASIL.
A Constituição de 1891 reconheceu a liberdade de associação em seu artigo 72, § 8º, de forma
genérica.
A primeira Constituição brasileira a ter normas específicas de Direito do Trabalho foi a de 1934,
como influência do constitucionalismo social.
A Constituição de 1937 expressa a intervenção do Estado, com características do sistema
corporativista. Foi instituído o sindicato único, vinculado ao Estado, e proibia a greve, vista como recurso
anti-social e nocivo à economia.
A CRFB/1937 era corporativista, inspirada na Carta Del Lavoro (1927) e na Constituição Polonesa.
Logo, o Estado, iria intervir nas relações entre empregados e empregadores, uma vez que o estado liberal
tinha se mostrado incapaz.
A existência de diversas leis esparsas sobre Direito do Trabalho impôs a necessidade de sua
sistematização, por meio da Consolidação das Leis do Trabalho, aprovada pelo Decreto-lei 5.452, de 1º de
maio de 1943, que não é um código propriamente, pois sua principal função foi apenas de reunir as leis
trabalhistas existentes.
A Constituição de 1946 reestabeleceu o direito de greve, rompendo, de certa forma, com o
corporativismo da Carta de 1937, passando a trazer elenco de direitos trabalhistas superior àquele das
Constituições anteriores. Nesta Constituição (1946) encontramos a participação dos empregados nos
lucros, repouso semanal remunerado, estabilidade, etc.
No plano infraconstitucional, cabe fazer menção, entre outras: à Lei 605, de 05 de janeiro de 1949,
dispondo sobre o repouso semanal remunerado e remuneração de feriados; à Lei 2.757, de 26 de abril de
1956, que dispõe sobre a situação dos empregados porteiros, zeladores, faxineiros e serventes de prédios
de apartamentos residenciais; à Lei 3.207, de 18 de julho de 1957, regulamentando as atividades dos
empregados vendedores-viajantes; à Lei 4.090, de 13 de julho de 1962, que instituiu a gratificação de natal
(décimo terceiro salário).
A Constituição de 1967 manteve os direitos trabalhistas das Constituições anteriores e ratificando
principalmente a anterior, com as Leis 5.859/1972 (trazendo e regulamentando direitos para as
empregadas domésticas); a Lei 5.889/1973 (trabalhador rural) e a Lei 6.019/1974 (regulamentando as
atividades do trabalhador temporário). Além dos referidos direitos, essa Constituição passou a prever o
Fundo de Garantia do Tempo de Serviço, que havia sido criado pela Lei 5.107, de 13 de setembro
de 1966. A Emenda Constitucional n. 1, de 17 de outubro de 1969, não alterou os direitos trabalhistas
previstos na Constituição de 1967.

A CARTA CONSTITUCIONAL DE 1988 E TRANSIÇÃO DEMOCRÁTICA JUSTRABALHISTA


O sistema jurídico brasileiro tradicional sempre teve o condão de elidir ou delimitar,
substantivamente o espaço aberto à construção jurídica própria pelos grupos sociais. Nesse ponto o
Direito do Trabalho, no Brasil, não respondeu, positiva e satisfatoriamente (em contraponto às matrizes
democráticas dos países centrais), ao problema teórico da equação diferenciação/conflito. Muito menos
abriu espaço à ação jurígena (criadora do direito) autônoma dos grupos sociais e à autoadministração dos
conflitos intrassocietários.
De fato, no modelo jurídico brasileiro tradicional jamais foi decisivo o papel da negociação coletiva e
seus instrumentos clássicos (convenção coletiva do trabalho, contrato coletivo e acordo coletivo) a par de
outros mecanismos de normatização autônoma – como aqueles ínsitos à representação obreira na
empresa. Em termos comparativos, enquanto no padrão justrabalhista democrático dos países centrais há
uma hegemonia das formas de autoadministração dos conflitos sociais, na história justrabalhista brasileira
sempre preponderou uma dominância inconteste da sistemática de heteroadministração dos conflitos
sociais, fundada no Estado.
A Carta de 1988 trouxe, nesse quadro, o mais relevante impulso já experimentado na evolução
jurídica brasileira, a um eventual modelo mais democrático de administração dos conflitos sociais no país.
Impulso relevante, se cotejado com a história anterior do Direito Laboral pátrio. Impulso tímido, se
comparado com as experiências dos países centrais. Impulso contraditório, se posto à análise com
diversos outros dispositivos da mesma Constituição, que parecem indicar em sentido inverso à
autonormatização social e à própria democratização do Direito do Trabalho.
A Constituição de 1988 inova – de modo muito destacado – perante todas as Cartas anteriores ao
estatuir que todo o poder emane do povo, que o exercerá por meio de seus representantes eleitos
ou diretamente. Ora, à medida que se sabe que a norma jurídica é a consumação de um processo político
bem-sucedido, pode-se concluir que pretendeu também a Constituição valorizar formas autônomas de
exercício do poder, não apenas através de instrumentos políticos clássicos (ainda que raramente utilizados
na história brasileira, como o plebiscito e referendo – art. 14 CF/88). Mais à frente, a Constituição
confirmará essa intenção, ao acentuar a importância das convenções e acordos coletivos (Artigos. 7º,
XXIV, e 8º, VI, CF/88).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
- DELGADO, Maurício Godinho - Curso de Direito do Trabalho - Editora LTR - 8 Edição - 2009;
- GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa - Curso de Direito do Trabalho - Editora Método - 2007;
- NASCIMENTO, Amauri Mascaro - Iniciação ao Direito do Trabalho - Editora LTR - 30 Edição - 2004.

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