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§As crenças sebastianistas de Telmo são assimiladas pela influenciável jovem Maria
de Noronha, que acredita indubitavelmente no regresso do desejado monarca, D.
Sebastião: (...) que não morreu e que há-de vir, um dia de névoa muito cerrada...-
Acto I, cena III. Esta influência de Telmo no espírito de Maria provoca grande aflição
a D. Madalena de Vilhena: (...) não vês que estás excitando com tudo isso a curiosidade
daquela criança, aguçando-lhe o espírito (...)- Acto I, cena II.
Podemos, então concluir que o mito do Encoberto assume uma conotação negativa
em Frei Luís de Sousa, sendo perspectivado como sinal de paragem no tempo, de estagnação
e de sacrifício do herói na catástrofe final: Maria de Noronha representa o sacrifício
necessário para expiar os fantasmas do passado e definir o futuro do país.
Com o regresso de D. João de Portugal na figura do Romeiro, o rumo da história altera-
se e precipita-se o aniquilamento da harmonia da família de Manuel de Sousa Coutinho
e de D. Madalena e a morte de Maria. D. João é o anti-herói, o antimito, cuja simples
presença provoca destruição. De facto, há nesta obra uma concepção destruidora deste
regresso, já que não conduz à redenção ou salvação, mas origina catástrofe e desgraça.
Garrett parece sugerir que o Passado saudosista e a sua passividade prejudicam a dinâmica
do Presente, impedindo a regeneração activa do país.
Mais do que meras personagens de um drama familiar, na peça de Garrett temos seres
simbólicos, representativos do destino colectivo português, num momento de profunda
crise política, devido à perda da independência. Neste sentido, a resposta Ninguém! do
Romeiro a Frei Jorge pode ser associada a Portugal, um país subjugado pelo domínio
filipino.
Por isso, a espera sebástica em Frei Luís de Sousa simboliza a problematização do
modo de ser português, a auto-interrogação de um Portugal que busca a sua identidade
e não se encontra.