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ALIMENTAÇÃO HUMANA, PASSADO, PRESENTE E FUTURO

Cíbele Pereira Kopruszynski1


Flávia Andréia Marin2

A história da alimentação e nutrição ocorre paralelamente à história do


homem. Ao surgir no planeta, o homem observando os outros animais,
consumia o que era ofertado pela natureza, frutos, raízes e folhas. Mais tarde,
iniciou-se a prática de caçar e pescar, consumindo também carnes de animais
selvagens.

Fonte: Google imagens

1
Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Alimentos e Nutrição- Ciências Nutricionais - Faculdade
de Ciências Farmacêuticas da UNESP- Araraquara. Docente do Curso de Nutrição da PUC/ Curitiba (PR).
2
Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Alimentos e Nutrição- Ciências Nutricionais -
Faculdade de Ciências Farmacêuticas da UNESP- Araraquara. Docente do Curso de Nutrição do Centro
Universitário de Votuporanga (SP).
Homem primitivo

Os homens primitivos evoluíram de caçadores e coletores, sem


moradias fixas (nômades), para agricultores, desenvolvendo o cultivo de
hortaliças, tubérculos e frutas, além de passarem a domesticar os animais. O
desenvolvimento das forças produtivas deste período libertou o homem da
absoluta dependência da natureza. O desenvolvimento da agricultura marcou o
início real da civilização e, com sua expansão, levou o homem a buscar terras
férteis, disseminando a revolução agrícola.

O início da agricultura não tornou o homem exclusivamente vegetariano,


pois a criação de animais concentrou-se nas terras menos propícias ao cultivo.
O homem agricultor passou a ter a segurança de saber que, se cuidasse da
sua plantação, teria alimento para o ano inteiro.

Através dos sentidos, o homem primitivo passou a distinguir novos e


desejáveis odores, e assim, foi levado a experimentar e a saborear alimentos
ainda desconhecidos. Desse modo, o sabor e o odor devem ter desempenhado
um importante papel no consumo de alimentos e na saúde do homem primitivo.
Existem relatos que a primeira “sobremesa” foi o mel das abelhas.

Com a agricultura, o homem passou a ter uma grande oferta de cereais


(carboidratos) na alimentação, e mesmo com algumas mudanças nos hábitos
alimentares os homens primitivos não apresentavam doenças crônicas-não-
transmissíveis como: diabetes, doenças cardiovasculares, pressão alta,
colesterol elevado, entre outras, pois a alimentação nesse período mesmo com
a inserção da carne, vinda da caça, era considerada saudável do que nos dias
de hoje, além do grande consumo de vegetais, como frutas, raízes e hortaliças.

A revolução industrial aconteceu na Inglaterra no século XVIII e


continuou pelo mundo, ela teve grande influência nas mudanças dos hábitos de
vida da população, principalmente as mudanças dos alimentos consumidos.
Nesta época os trabalhadores deixaram o campo para trabalhar em indústrias,
prevaleceram à urbanização e as mulheres começaram a trabalhar fora de
casa.
Com o passar dos anos isso determinou uma mudança na alimentação
das famílias, aumentou o consumo de alimentos ricos em gorduras (alimentos
congelados ou prontos para consumo, salgadinhos, lanches), açúcar refinado
(refrigerante, guloseimas) e pobres em carboidratos complexos* (arroz, batata,
mandioca) e fibras (frutas e legumes). Tudo isso devido à vida corrida que o
trabalhador passou a ter.

Juntamente com as melhorias proporcionadas ao trabalhador, houve o


aumento do poder aquisitivo, da melhoria dos transportes urbanos e da
diminuição da mão-de-obra industrial e doméstica (máquina de lavar roupa,
controle remoto, aspirador de pó) veio à redução da atividade física nas
populações, aumentando o sedentarismo.

Esse processo de transformação da sociedade é também o processo de


transformação da saúde e dos problemas sanitários.

O homem, desde o início dos tempos, apesar de passar de coletor e


caçador a agricultor, sempre se manteve ativo, movimentando-se em torno do
seu sustento, o que não ocorre mais hoje, onde temos pessoas cada vez mais
sedentárias, que além de não terem que se mobilizar para seu próprio
sustento, não pratica os hábitos de cozinhar em suas próprias casas, não se
mobilizam na procura de alimentos mais saudáveis, comendo cada vez mais
fora de casa e sempre em busca de alimentos rápidos, prontos e
industrializados.

Fonte: Google imagens


Evolução do homem primitivo ao atual sedentário

Os homens de hoje não são como os pré-históricos, não precisam


mudar o tempo inteiro, nem procurar o que comer. O homem de hoje tem tudo
nas mãos. Por isso, está adoecendo.

As diferenças que verificamos na alimentação do homem primitivo e do


atual, que são mostradas na tabela a seguir, associadas aos tempos modernos
e ao sedentarismo, podem ser a explicação para o grande crescimento das
doenças crônicas não transmissíveis. Pesquisadores concluíram que a
obesidade teve aumento alarmante nos últimos 30 anos, tendo como causa os
excessos de alimentos e aumento do sedentarismo.

Características da alimentação na idade pré-histórica e nos dias atuais

Pré-História Dias Atuais

Não ingeriam alimentos industrializados Grande consumo de alimentos


industrializados

Não comiam cereais e seus derivados A dieta atual é rica em cereais e açúcares

Não salgavam os alimentos Consumo excessivo de sal

A proteína era obtida das carnes magras Alto consumo de carne vermelha com
e selvagens, a carne dos animais de grande quantidade de gorduras prejudiciais
caça tinha pouca gordura, inclusive as à saúde, como as gorduras saturadas e o
mais prejudiciais à saúde colesterol

Grande consumo de fibras provenientes Baixo consumo de fibras


das frutas, bagaços e dos vegetais.

Alto consumo de vitaminas, minerais e Baixo consumo de vitaminas, minerais e


antioxidantes que são componentes antioxidantes.
protetores

Não apresentavam doenças como: Alta incidência de doenças como: diabetes,


diabetes, pressão alta, colesterol elevado pressão alta, colesterol elevado e doenças
no sangue e doenças cardiovasculares cardiovasculares, resultando em morte
precoce.

*Carboidratos Complexos: são mais lentamente digeridos, evitando assim, as grandes elevações e queda dos níveis glicêmicos.
O alto consumo de gorduras e sal, associado ao baixo de nutrientes
protetores, como vitaminas e minerais, pode aumentar as chances de
desenvolvimento de doenças cardiovasculares, como pressão alta e aumento
de colesterol no sangue. A obesidade, que ocorre com freqüência cada vez
maior na população, pode aumentar essas chances e ainda causar outras
doenças, como a diabetes tipo 2, ou seja, não insulinodependente.

Atualmente o consumo de sal na alimentação é excessivo (em torno de


12 gramas) sendo o dobro da quantidade recomendada pela Sociedade
Brasileira de Cardiologia. Tal prática fez com que o homem deixasse de
consumir os temperos naturais, que proporcionam benefícios à saúde.

A história da alimentação trata-se de hábitos cultivados durante anos,


aos quais pequenas mudanças e introduções são determinantes, traçando o
que conhecemos hoje por hábitos alimentares. Desta forma, considera-se que
o processo de evolução humana e industrialização foram os fatores que
modificaram estes hábitos.

Na alimentação comercial se observam o crescente desenvolvimento


dos fast food, fenômeno originado nos Estados Unidos e difundido
mundialmente, tal modelo promove a indução de comportamentos alimentares
inadequados, deixando de lado uma alimentação mais natural e saudável.

Os vegetais são ricos em


vitaminas, sais minerais e fibras
e, por essa razão, são
considerados protetores do
organismo
As gorduras dos alimentos de
origem animal são prejudiciais
ao organismo. Prefira as carnes
magras.

A sociedade moderna segue um padrão alimentar que se caracteriza por


excesso de calorias dos alimentos, exagerada acessibilidade alimentar e falta
de exercícios físicos. Estes três temas, que constituem o “tripé do eixo do mal”,
associados ao crescente aumento das porções, são a origem dos problemas
alimentares.

Doenças relacionadas à alimentação e a nutrição, as quais também


podem causar mortes prematuras, poderiam ser prevenidas através de uma
alimentação saudável. A alimentação saudável é o ato de comer bem e de
forma equilibrada para que os adultos mantenham o peso ideal e tenham
saúde e as crianças se desenvolvam bem e intelectualmente. Alimentação
saudável é uma dieta composta de proteínas, carboidratos, gorduras, fibras,
sais minerais como o cálcio e o ferro, como também rica em vitaminas,
distribuídos de forma equilibrada no dia-a-dia. Para isto, necessitamos de uma
dieta variada, que tenha todos os tipos de alimentos, sem abusos e também
sem exclusões.

Variar os tipos de cereais, carnes, verduras, legumes e frutas, alternando


as cores dos alimentos é uma importente maneira de variar a alimentação do
dia-a-dia, ingerindo diferentes e importantes nutrientes na nossa rotina diária.

Ao mesmo tempo em que reduz os casos da desnutrição em crianças e


adultos num ritmo bem acelerado, aumenta a prevalência de sobrepeso e
obesidade na população brasileira. Os resultados de estudos efetuados nos
últimos trinta anos indicam que a sociedade vive uma epidemia de sobrepeso e
obesidade, definindo uma das características marcantes do processo de
transição nutricional do país.
Outra questão importante da transição nutricional são as Doenças
crônicas (principalmente obesidade, hipertensão arterial, diabetes,
dislipidemias e alguns tipos de câncer), que estão aumentando no mundo.

As Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) atualmente


constituem o maior problema de saúde em países desenvolvidos e também
para os países em desenvolvimento. Elas representam um sério desafio para
os atuais sistemas de saúde, causam sérias conseqüências econômicas e
sociais em todas as regiões e ameaçam os recursos da saúde em cada país.
Nesse sentido, é fundamental que a população assuma a responsabilidade de
reestruturar suas práticas de saúde, empenhando-se no aumento de seu tempo
de prática de atividade física, bem como a opção por alimentos pobres em
gordura e açúcar, aumentar a ingestão de alimentos saudáveis (frutas,
legumes, verduras). Para assim melhorar a qualidade de vida e poder viver em
harmonia de corpo e alma.

Referências Bibliográfica

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