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Mapeamento de Fluxo de Valor
Mapeamento de Fluxo de Valor
Resumo
O Mapeamento do Fluxo de Valor é uma ferramenta essencial do Sistema de Produção
Enxuta, que permite as empresas enxergarem todo o fluxo de valor de seu processo
produtivo.
O mapeamento é uma ferramenta de comunicação,planejamento e gerenciamento de
mudanças, que direciona as tomadas de decisões das empresas em relação ao fluxo,
possibilitando ganhos em indicadores de desempenho interessantes.
Este trabalho apresenta os passos para mapear o fluxo de valor e um estudo de caso de uma
empresa que está implantando o Sistema de Produção Enxuta, e teve como primeira etapa
neste processo a utilização desta ferramenta.
Palavras chave: Fluxo de valor, Produção Enxuta, Toyotismo.
1. Introdução
O objetivo deste documento é a apresentação da ferramenta Mapeamento do Fluxo de Valor,
indicando os conceitos que baseiam a ferramenta e os passos para sua utilização.
Esta ferramenta é essencial para as empresas enxergarem o seu fluxo de valor e tomarem
decisões coerentes para sustentar o processo de melhoria contínua, um dos príncipios da
Mentalidade Enxuta.
Além da parte conceitual da ferramenta, apresenta-se um estudo de caso da utilização do
Mapeamento do Fluxo de Valor por uma empresa que está implantando o Sistema de
Produção Enxuta.
2. O Sistema Toyota de Produção e a Mentalidade Enxuta
Em muitos países ao redor do mundo, pessoas estudam métodos de gestão: o taylorismo, o
Sistema Toyota de Produção (TPS), a teoria das restrições, a reengenharia, entre outros. Com
o intuito de melhorar os índices de performance das organizações para torná-las competitivas.
Um dos métodos que está apresentando resultados interessantes é o TPS, um sistema de
produção introduzido na Toyota a partir dos anos 40 por Taiichi Ohno, logo depois do fim da
segunda guerra mundial. O objetivo mais importante do Sistema Toyota é o aumento da
eficiência da produção através da eliminação consistente e completa do desperdício.
Esse sistema começou a atrair a atenção das outras indústrias a partir de 1973 com a crise do
petróleo, que reduziu bruscamente os índices de crescimento do Japão. Pois a Toyota em sua
busca a eliminação do desperdício estava apresentando resultados diferentes e positivos.
Além da questão econômica, as mudanças nos valores sociais influenciaram na ascendência
do TPS. Na época fordista, os fabricantes empurravam a produção aos clientes que não
tinham suas necessidades individuais atendidas. Na era toyotismo tornou-se hábito para os
consumidores ficar na linha de frente do mercado, puxando as mercadorias de acordo com
suas necessidades.
Ohno (1997) afirma que a sustentação do TPS está na busca contínua de reduzir a linha do
tempo entre o pedido de um cliente até o ponto do recebimento do dinheiro, removendo os
desperdícios que não agregam valor. E os dois pilares dentro da produção que suportam este
sistema são o just in time (JIT) e a automonação.
O JIT significa que em um processo de fluxo, as partes corretas alcançam a linha de
montagem no momento e na quantidade necessários. O estado ideal da produção seria a
aplicação do JIT em todo o sistema, porém qualquer falha descontinuaria o fluxo. Analisando
o fluxo de valor na produção, Ohno observou que uma solução para tal descontinuidade seria
inverter o fluxo: do final do processo para o início, pegando somente o componente
necessário naquele momento. Com isso o processo anterior, logicamente, produziria somente
os produtos retirados. Neste conceito surge a produção puxada e o conhecido Kanban, o meio
pelo qual o Sistema Toyota de Produção flui suavemente.
A outra base do TPS é a automonação, que significa a automação dentro dos limites da
inteligência e toque humano, ou seja, automatizar apenas o que é necessário.Na Toyota uma
máquina automatizada com toque humano é aquela que está acoplada a um dispositivo de
parada automática. Ou seja, havendo qualquer problema a máquina pára e espera a
interferência humana. Com isso, a gestão do sistema é modificada, não é necessário um
operador para cada máquina, pois somente em situações anormais ocorre a interferência
humana.
Durante longos anos os dois pilares do toyotismo sustentaram o aparecimento de vários
conceitos e ferramentas que permitiam a melhoria contínua do sistema. A Toyota, juntamente
com outras empresas japonesas, foi se tornando ameaças aos países ocidentais.
Em meados dos anos 80, James Womack, Daniel Jones e Daniel Roos estudiosos ligados ao
Massachussetts Institute of Technology (MIT) realizaram um estudo sobre o futuro das
indústrias automobilísticas americanas e européias, muito ligadas ao sistema de gestão
fordista.
Juntamente com alguns executivos do mundo automobilístico, concluíram que seria muito
adequado entender o sistema de gestão japonês, então iniciaram os estudos e chamaram o
Sistema de Produção Toyota de Mentalidade Enxuta (Lean Thinking). Mostrando como
resultado destes estudos, que existe uma melhor forma de organizar e gerenciar os
relacionamentos com os clientes, cadeia de fornecedores, desenvolvimento de produtos e
operações de produção.
Na ocidentalização dos conceitos do TPS, Womack e Jones (1998) descrevem os 5 princípios
da Mentalidade Enxuta: valor, cadeia de valor, fluxo, produção puxada e a perfeição.
O Valor é definido pelo cliente e, para ele a necessidade gera o valor cabendo às empresas
determinarem qual é essa necessidade, procurar satisfazê-la e cobrar um preço específico para
manter a empresa no negócio, aumentando o lucro, reduzindo o custo e melhorando a
qualidade, via melhoria contínua dos processos.
A identificação da Cadeia de Valor é o próximo passa, ou seja, dissecar a cadeia produtiva e
separar os processos em três tipos: aqueles que efetivamente geram valor, aqueles que não
geram valor mas são importantes para a manutenção da qualidade e, por fim, aqueles que não
agregam valor devendo ser evitados imediatamente. As empresas devem olhar para todo o
processo desde a criação do produto até a venda final (e por vezes o pós-venda).
A seguir, deve-se dar "fluidez" para os processos que restaram. Isso exige uma mudança na
mentalidade das pessoas. Elas têm de deixar de lado a idéia que têm de produção por
departamentos como a melhor alternativa. Constituir esse Fluxo de Valor com as etapas
restantes é uma etapa difícil do processo.
O efeito da criação de um Fluxo de Valor pode ser sentido na redução dos tempos de
concepção de produtos, de processamento de pedidos e em estoques. Ter a capacidade de
desenvolver, produzir e distribuir rapidamente dá ao produto uma "atualidade": a empresa
pode atender a necessidade dos clientes quase que instantaneamente.
Com isto ocorre a inversão do fluxo produtivo, os produtos não são empurrados para o
mercado. Os clientes podem “puxar” a produção, as empresas eliminam os estoques e dão
valor ao produto. Este é o conceito de Produção Puxada.
A Perfeição, quinto e último passo da Mentalidade Enxuta, não é uma utopia, em um
processo transparente, onde todos os membros da cadeia (montadores, fabricantes de diversos
níveis, distribuidores e revendedores) tenham conhecimento do processo como um todo,
podendo dialogar e buscar continuamente melhores formas de criar Valor.
3. O Mapeamento do Fluxo de Valor
O Fluxo de Valor é toda a ação, que agrega valor ou não, necessária para trazer um produto
por todos os fluxos essenciais a sua transformação. Por exemplo, o fluxo de produção desde a
matéria-prima até o consumidor final e o fluxo do projeto, da concepção até o seu lançamento.
Mapear o Fluxo de Valor é percorrer o caminho de todo o processo de transformação de
material e informação do produto. O mapeamento do fluxo completo, abrange várias
empresas e até outras unidades produtivas. Shook (1999) recomenda às empresas que iniciam
o processo de implantação do Lean Production fazerem o mapeamento porta a porta.
O mapeamento é uma ferramenta essencial para enxergar o sistema, Shook (1999) aponta as
principais vantagens:
- Ajuda a visualizar mais do que os processos individuais.
- Ajuda a identificar o desperdício e suas fontes.
- Fornece uma linguagem comum para tratar os processos de manufatura.
- Facilita a tomada de decisões sobre o fluxo.
- Aproxima conceitos e técnicas enxutas, ajudando a evitar a implementação de
ferramentas isoladas.
- Forma uma base para o plano de implantação da Mentalidade Enxuta
- Apresenta a relação entre o fluxo de informação e o fluxo de material.
- É uma ferramenta qualitativa que descreve, em detalhes, qual é o caminho para a
unidade produtiva operar em fluxo.
Dentro de uma fábrica o fluxo de material é o mais visível, mas existe um outro, o de
informação, que diz para cada processo o que fabricar. Estes dois fluxos estão muito
interligados e o mapeamento deve contemplar ambos.
Na produção enxuta, os dois fluxos são importantes, a Toyota e seus fornecedores utilizam os
mesmos processos básicos de transformação que os produtores em massa: estamparia, solda
ou montagem. Mas as plantas da Toyota controlam sua produção de maneira bastante
diferente. A informação flui de tal forma que o processo somente é acionado quando o
processo seguinte o solicita.
Informação
Fluxo da Produção
Material
Família de Produtos
Plano de Trabalho e
Implementação
Figura 2 – Etapas do Mapeamento do Fluxo de Valor
4. Estudo de Caso
A utilização da ferramenta MFV está se difundindo entre as empresas que buscam implantar o
Sistema Enxuto de Produção. A seguir, apresentamos o caso de uma montadora de produtos
agrícolas, localizada no Paraná. Esta empresa tinha o desafio de atender o crescimento da
demanda de uma das suas linhas.
Os trabalhos iniciaram no 1º semestre de 2003 e o MFV da linha piloto está representado na
figura 3. No mapa do estado atual observa-se que o fluxo de informação alimentava o fluxo de
materiais em pontos diferentes no processo (solda, montagem e expedição), o que ocasionava
estoques intermediários. Devido a falta de conecção entre os setores, havia uma necessidade
constante da inteferência dos supervisores, representado pelo “óculos” no mapa.
X dias X dias
E E E E
Metalurgia Solda Pintura Montagem Teste Expedição
X op x op’ x op x op x op x op
x dias x dia
x dias Compartilhado
Compartilhado Compartilhado Compartilhado Dedicado Dedicado
X min 0
X min X min X min X min x min
O resultado do MVF atual foi a apresentação de cinco melhorias no fluxo, conforme tabela 1.
No cronograma de implementação das ações propostas, ficou determinado que no final do ano
de 2003 deveriam estar implantadas as melhorias: (1) redução dos lotes de produção da
metalurgia, (2) a criação de boxes dedicados e fluxo contínuo na solda, (3)a alteração no fluxo
de informação , (4) o balanceamento e a padronização da linha de montagem. Na figura 4,
apresenta-se o resultado atingido no final de 2003.
3x embarques
semanais
x dias
Diário
X dias
Metalurgia Solda fifo Pintura fifo Montagem fifo Teste fifo Expedição
x op x op x op x op x op x op
Compartilhado
Compartilhado Dedicado Compartilhado Dedicado Dedicado
Nas ações propostas, a empresa utilizou ferramentas e conceitos que fazem parte do Sistema
Lean. Na tabela 3 é apresentada a relação entre as ferramentas e os conceitos que mais
influenciaram nos indicadores de desempenho.