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A Controladoria é uma área de atuação relativamente nova no Brasil e ainda não está
consolidada. Isso acontece, entre outras razões, porque tanto a literatura quanto a prática
empresarial demonstram divergências quanto às principais funções, atividades, respon-
sabilidades e formas de organização da Controladoria. Nesse sentido, a discussão que se
segue tem como objetivo principal gerar um panorama geral sobre o que é, como funcio-
na e para que serve a Controladoria, tanto do ponto de vista teórico quanto prático.
Várias razões foram apontadas pelos autores para essa perda de relevância: cres-
cimento e complexidade das organizações, influência das informações contábeis para
usuários externos, maior importância à mensuração do que à gestão de custos, auto-
mação dos sistemas de informação e omissão acadêmica sobre o assunto. Assim, o Re-
levance Lost motivou a reflexão sobre o papel da Contabilidade Gerencial (LUFT, 1997,
p. 163; MACDONALD; RICHARDSON, 2002, p. 120).
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A Contabilidade Gerencial é uma aplicação da Contabilidade que tem como principal finalidade produzir informações destinadas a subsidiar o processo
de gestão organizacional, informações estas que não necessitam seguir as exigências legais. Inclui informações de caráter financeiro e não financeiro (físico),
enfatizando aspectos tais como custos, mensuração de desempenho, análise de produtividade, satisfação de clientes etc.
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Os principais desenvolvimentos da Contabilidade Gerencial estariam, a partir de
então, focados em três principais áreas: mensuração de custos de produto, controle de
processos e desempenho gerencial. Na área de mensuração, por exemplo, o modelo
de Custeio Baseado em Atividades (ABC) foi criado com o propósito de tratar os custos
e despesas de overhead2; tem como tarefa verificar como os recursos são consumidos
pelas atividades e como as atividades são consumidas pelos objetos de custeio. Já no
controle de processos, verifica-se, por exemplo, o desenvolvimento da Gestão Basea-
da em Atividades (ABM), que utiliza os princípios do ABC e se concentra na gestão de
atividades como o caminho para melhorar o retorno da entidade. No que se refere ao
desempenho gerencial nota-se o surgimento do Balanced Scorecard (BSC) como ferra-
menta de coordenação estratégica, vinculando as ações operacionais a quatro pers-
pectivas diferentes: financeira, satisfação dos clientes, processos internos e capacidade
de aprendizagem da organização.
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Overhead é o recurso organizacional (custo ou despesa) utilizado na atividade de natureza administrativa.
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Controladoria
Tendo em vista as diferentes visões encontradas na literatura sobre o que é, de fato,
Controladoria e qual seu papel dentro das organizações, Borinelli (2006) empreendeu um
estudo que resultou na sistematização de uma Estrutura Conceitual Básica de Controla-
doria (ECBC). Em tal estrutura (p. 95-96) o autor estabelece que a Controladoria precisa
ser estudada em três perspectivas, a saber: conceitual, procedimental e organizacional.
Perspectiva conceitual
O primeiro passo a fim de minimizar as contradições mencionadas no início deste
tópico é definir o que é Controladoria. Depois de proceder a uma análise crítica das
diversas definições e conceitos encontrados na literatura que versa sobre o tema, Bori-
nelli (2006, p. 105) chegou à seguinte definição:
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Adicionalmente, o autor considera que tal base conceitual é multidisciplinar, uma
vez que abrange aspectos de outras teorias ou ciências.
Subdividido em:
com Catelli (2001), são as certezas e opiniões que dão diretrizes, orientam e norteiam o
comportamento dos gestores quanto ao planejamento das atividades, ao controle das
operações, aos recursos humanos, organizacionais, materiais etc.
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Ainda segundo o autor, do modelo de gestão da entidade decorre uma série de
variáveis que impactam o comportamento de todo o sistema organizacional, como
exemplo: a existência ou não de planejamento e controle, o grau de autonomia dos ges-
tores, os critérios de avaliação de desempenho, e os papéis e posturas gerenciais. Assim,
o modelo de gestão organizacional faz parte do objeto de estudo da Controladoria, uma
vez que para que esta exerça adequadamente seu papel, ela necessitará compreender
como a entidade escolheu ser gerida, em especial no que se refere às suas fases de plane-
jamento e controle, nas ênfases operacional, econômica, financeira e patrimonial.
O modelo de decisão, por sua vez, evidencia a forma como os gestores tomam
suas decisões. Ele orienta o modo de gerar informações, calcado em como se definiu
que a entidade deveria ser gerida. Assim, a Controladoria considera o modelo de de-
cisão como um de seus objetos de estudo, haja vista a necessidade de se produzir in-
formações que estejam alinhadas com as demandas dos gestores e com o modo como
estes decidem. A título de exemplo, não adianta a Controladoria gerar um relatório de
rentabilidade de produtos segmentado por região se os diretores tomam decisões por
unidades de negócio.
em continuidade, provavelmente o valor que será visto no ativo dela é o valor de custo
menos depreciações; porém, se ela estiver em risco de descontinuidade, o valor será
de acordo com o mercado. A mensuração será base para gerar os dados para a infor-
mação, que por sua vez serve como fonte para o gestor tomar suas decisões. Portanto,
o modelo de mensuração define as diretrizes que devem ser seguidas pela organiza-
ção quando do processo de mensuração de eventos e este se constitui, também, num
objeto de estudo da Controladoria.
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O modelo de identificação e acumulação, por sua vez, define como deve ser reconhe-
cida, classificada e registrada uma transação ou um evento, bem como a forma de acumu-
lação das transações e eventos, no que diz respeito ao ato de inserir os dados destes de
forma organizada e em alinhamento com os modelos de decisão, gestão e informação.
A título de exemplo, o modelo de identificação e acumulação define, por exemplo, se os
eventos e transações serão acumulados e evidenciados por região, por unidade de negó-
cio, por produto, se mensalmente, trimestralmente, semestralmente etc.
Ressalte-se que todos os modelos devem interagir dentro do convívio social da orga-
nização. Desse modo, a Controladoria se preocupa com o aspecto da vida social – motivo
pelo qual é parte das Ciências Sociais Aplicadas. É a área que se preocupa com o efeito que
a ação do homem causa sobre os resultados de uma organização, por isso a necessidade
de a Controladoria ter como seus objetos de estudo todos os modelos ora discutidos.
Direito: fixa normas que regulam direitos e deveres individuais e sociais; a Con-
troladoria deve levar em consideração essas regras de conduta para respeitar
Controladoria
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Estatística: fornece conceitos relativos à coleta, organização, descrição, análise
e interpretação de dados que servem de estudo e medição dos fenômenos
relacionados ao controle organizacional. Por exemplo, no planejamento das
ações futuras, a teoria da probabilidade oferece subsídios para a realização de
estudos de alternativas em condições de risco e incerteza.
Perspectiva procedimental
Introdução à Controladoria
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É importante esclarecer, conforme discute Borinelli (2006, p. 125), que a literatu-
ra estudada utiliza as expressões funções, atividades, responsabilidades, atribuições,
entre outras, quando coloca em questão o papel do controller. As diversas expressões
utilizadas na literatura são aqui sintetizadas em funções. Uma função corresponde a
uma agregação de atividades que têm propósito comum (NAKAGAWA, 1994, p. 44),
como: compras, vendas, produção, marketing, finanças, segurança, qualidade etc. O
autor complementa: “[...] a definição de uma função deve responder o mais precisa-
mente possível à questão: ‘o que ela (função) faz?’ A resposta deverá conter um verbo
transitivo acompanhado de seu objeto direto” (exemplo: comprar materiais).
Borinelli (2006, p. 127-128) fez uma pesquisa com 47 textos (livros, papers, disser-
tações e teses) de autores que discutem as atividades de Controladoria, separando em
28 obras de autores brasileiros e 19 estrangeiros. Com base nessa pesquisa, o autor
apresenta uma relação das atividades de Controladoria mais citadas pelos respectivos
autores. Os dados estão em porcentagem em relação ao total de material pesquisado
de cada grupo, conforme quadro 1.
Quadro 1 – Resumo das atividades de Controladoria mais citadas, segundo
a literatura
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Como evidencia o quadro 1, mesmo sendo as atividades mais citadas na literatura
pesquisada por Borinelli, há muitas diferenças entre o que um autor reconhece como
atividade típica de Controladoria e o que outro autor reconhece.
Funções
Diante da lista de atividades de Controladoria encontrada na literatura e consi-
derando a proposta de Nakagawa (1994, p. 42-44), em que um conjunto de atividades
forma uma função, Borinelli (2006, p. 135) optou por organizar tais atividades dentro
de suas respectivas funções. Nesse sentido, aquele autor chegou a oito funções típicas
de Controladoria, com suas respectivas atividades, conforme quadro 2.
Antes, porém, vale esclarecer que as funções aqui apresentadas são consideradas
“funções típicas de Controladoria”, o que não corresponde necessariamente às funções
da área organizacional Controladoria, ou seja, aquelas funções atribuídas pela admi-
nistração de uma organização à sua área de Controladoria. Como destaca Borinelli
(2006, p. 98), “[...] há funções ‘de’ Controladoria (aspecto conceitual) e funções ‘da’ área
organizacional de mesmo nome (aspecto organizacional).”
Quadro 2 – Funções de Controladoria e suas atividades
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Função Atividades
Registrar, mensurar, controlar, analisar e avaliar os custos da organização,
incluindo análises gerenciais e estratégicas referentes à viabilidade de lan-
3) Custos çamento de bens e serviços e resultados de entidades objetos de custeio
(produtos, clientes, projetos, centros de responsabilidades, centro de cus-
tos, linhas de negócios etc.).
5) Proteção e controle Prover proteção aos ativos; analisar e contratar opções de seguros, além de
dos ativos controlá-los; registrar e controlar todos os bens da organização.
Instrumentos (artefatos)
Uma vez que se pode enumerar as atividades e funções típicas de Controladoria,
é possível relacionar quais são os artefatos necessários ao desempenho dessas ativida-
des e funções.
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Custeio Variável
Custo Padrão
Custo de Reposição
Preços de transferência
Moeda constante
Valor presente
Planejamento
Orçamento
Beyond Budgeting
Teoria das Restrições
Balanced Scorecard (BSC)
Gestão Baseada em Valor (VBM)
Análise de Cadeia de Valor
Planejamento Tributário
Mapa de Gestão de Riscos
Perspectiva organizacional
Introdução à Controladoria
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Com base no que se encontra em Borinelli (2006, p. 189), a estruturação da uni-
dade organizacional Controladoria pode ser entendida com base na resposta a cinco
perguntas, conforme o quadro 3.
Quadro 3 – Perguntas e respostas sobre a perspectiva organizacional
Apesar das bases teóricas, pesquisas e estudos sobre o assunto, considera-se que os
Controladoria
temas aqui tratados não fazem parte de uma visão consensual. Não obstante, todos os
itens discutidos refletem o pensamento desses autores sobre a Controladoria. Por essa
razão, considera-se importante o quadro anteriormente apresentado respondendo às
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principais perguntas, pois as diferentes atividades e funções de Controladoria podem
estar espalhadas pelas diversas unidades organizacionais.
Ressalte-se, por fim, que, na prática, as entidades optam por modos diferentes de
organizar a Controladoria, levando em conta seu modelo de gestão e outros aspectos.
Portanto, essa perspectiva organizacional representa um direcionamento de aspectos
comuns à unidade organizacional Controladoria.
Resumo
A Controladoria é uma área de atuação relativamente nova no Brasil. Para enten-
der o papel da Controladoria, dividiu-se o estudo em três perspectivas: conceitual, pro-
cedimental e organizacional. A perspectiva conceitual diz respeito ao ramo de conhe-
cimento, responsável pelo estabelecimento da estrutura conceitual. Nela se encontra a
definição de Controladoria, seu objeto de estudo, suas ramificações, além da interface
com outras áreas do saber. A perspectiva procedimental, por sua vez, estuda os ele-
mentos relativos ao funcionamento da Controladoria, quando o ramo do conhecimen-
to for materializar-se nas organizações. Assim, enumera as atividades, funções e artefa-
tos (instrumentos) típicos de Controladoria. Já na perspectiva organizacional busca-se
entender como o órgão Controladoria situa-se na estruturação organizacional.
Finalmente, considera-se que deve haver uma unidade organizacional, com missão
e objetivos claramente definidos, que realize as atividades de Controladoria de caráter
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corporativo ou divisional, subordinada ao principal executivo, para ter independência
em relação às demais áreas da organização e atuando como órgão de linha. Não obstan-
te, na prática, as entidades optam por modos diferentes de estruturar a unidade organi-
zacional Controladoria, levando em conta seu modelo de gestão, entre outros aspectos.
Texto complementar
Grupo 1:
Cargos oferecidos: analista contábil, analista de controladoria, analista de
gestão, analista de orçamento, analista financeiro, assistant controller, entre
outros.
Grupo 2:
Cargos oferecidos: controller, controller corporativo, especialista de planeja-
Controladoria
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Subordinação: diretor administrativo, diretor de unidade, diretor financeiro,
diretor geral, presidente, entre outros.
Perfil do profissional
Este tópico descreve, analisa e interpreta os dados referentes às características
demandadas do profissional de Controladoria no momento do recrutamento, tais
como formação acadêmica desejada, línguas requisitadas, experiências anteriores e
funções de Controladoria.
Tabela 1 – Formação acadêmica desejada pelas oportunidades oferecidas
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No que se refere à exigência de uma segunda língua, 87% dos anúncios solici-
tam, formalmente, a língua inglesa. Isso representa um forte direcionamento da pro-
fissão para a internacionalização e pode ser um sinal para as instituições de ensino
atentarem-se para essa característica nos profissionais formados por elas. Uma ter-
ceira língua ainda está sendo pouco necessária para os dois níveis e, quando requi-
sitado, a espanhola é a mais citada.
Tabela 3 – Experiências específicas
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são: proteção e controle de ativos (8%) e controle de riscos (13%). Ressalte-se que
a classificação dos anúncios em cada uma das funções preconizadas pela literatura
foi feita pelos pesquisadores, uma vez que os anúncios não trazem tais funções já
categorizadas.
Nota-se, portanto, que nem todas as funções que a literatura atribui à Con-
troladoria são requisitadas aos profissionais na prática, tendo em vista o universo
investigado.
Conclusão
Conforme se constatou nos anúncios, os profissionais de Controladoria preci-
sam ser formados em uma das quatro seguintes áreas de estudo: Ciências Contá-
beis, Administração, Economia ou Engenharia. A maior parte dos anúncios dá ênfase
em Ciências Contábeis, seguidos bem perto de Administração e Economia. A pós-
graduação para o profissional de Controladoria ainda é um requisito pouco exigido,
na visão desses autores, e o idioma inglês é quase que unanimidade. Isso repre-
senta um forte direcionamento da profissão para a internacionalização e pode ser
um sinal para as instituições de ensino atentarem-se para essa característica. Uma
terceira língua ainda está sendo pouco necessária para esses profissionais e, quando
exigida, a espanhola é a mais requisitada.
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Atividades
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3. Como o órgão Controladoria deveria se situar na estruturação organizacional,
em relação à posição hierárquica?
Introdução à Controladoria
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