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DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO

1. NOÇÕES:

1.1 SOCIEDADE INTERNACIONAL # COMUNIDADE INTERNACIONAL

A sociedade internacional apoia-se na vontade de seus integrantes, que decidiram


se associar para atingir certos objetivos que compartilham. É marcada, portanto, pelo
papel decisivo da vontade, como elemento que promove a aproximação entre seus
membros, e pela existência de fins, que o grupo pretende alcançar. Portanto, por ser
sociedade, seu conceito carrega, em essência, a vontade de se associar, presente em toda e
qualquer espécie de sociedade.

A sociedade internacional é universal, visto que abrange o mundo inteiro. Mesmo


um Estado que adote uma política externa isolacionista deve, no mínimo, se relacionar
com o Estado com o qual tem fronteira.

A sociedade internacional é heterogênea, já que integram-na atores que podem


apresentar significativas diferenças entre si, de cunho econômico, cultural etc.

A sociedade internacional é marcada pela desigualdade de fato, corolário de sua


própria heterogeneidade e do grande diferencial de poder entre os Estados, que ainda
influencia os rumos das relações internacionais.

A sociedade internacional é descentralizada. Não há um poder central internacional


ou governo mundial, mas vários centros de poder, como os próprios Estados e as
organizações internacionais, não subordinados a qualquer autoridade maior. Assim, a
sociedade internacional é caracterizada não pela subordinação, mas pela coordenação de
interesses entre seus membros, que vai permitir a definição de regras que regulam o
convívio entre seus integrantes.

Já a comunidade internacional, por sua vez, fundamenta-se em vínculos


espontâneos e de caráter subjetivo, envolvendo identidade e laços culturais, emocionais,
históricos, sociais, religiosos e familiares comuns. Caracteriza-se pela ausência de
dominação, pela cumplicidade e pela identificação entre seus membros, cuja convivência é
naturalmente harmônica. Assim, é possível defender a existência de uma comunidade
internacional à luz de problemas globais que se referem a todos os seres humanos, como a
segurança alimentar, a proteção ao meio ambiente, os desastres naturais, os direitos
humanos e a paz.

1.2 CONCEITO DE DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO

Conforme a doutrina clássica, o conceito de direito internacional público é "o


conjunto das regras escritas e não escritas que regula o comportamento dos Estados", ou
ainda, "o sistema jurídico autônomo onde se ordenam as relações entre Estados
soberanos". Remonta à Paz de Vestfália, que consolidou o sistema moderno dos Estados.

Já a doutrina moderna, atualizada aos contemporâneos contornos que ostenta a


sociedade internacional, conceitua o direito internacional público como "o ramo do direito
que visa regular as relações internacionais e a tutelar temas de interesse internacional,
norteando a convivência entre os membros da sociedade internacional, que incluem não só
os Estados e as organizações internacionais, mas também outras pessoas e entes como os
indivíduos, as empresas e as organizações não governamentais (ONGs), dentre outros".
1.3 TERMINOLOGIA

Direito Internacional Público é sinônimo de Direito das Gentes ou, ainda, de jus
inter gentes.

1.4 OBJETO

O direito internacional público tem por objeto "constituir fator de organização da


sociedade internacional, atendendo a duas missões mais amplas: a redução da anarquia nas
relações internacionais e a satisfação de interesses comuns entre os Estados".

1.5 FUNDAMENTO

O estudo do fundamento do direito internacional público visa determinar o motivo


pelo qual as normas internacionais são obrigatórias. É objeto de debates doutrinários, que
se concentram principalmente ao redor de duas teorias: a voluntarista e a objetivista.

O voluntarismo é corrente doutrinária de caráter subjetivista, cujo elemento central


é a vontade dos sujeitos de direito internacional. Para o voluntarismo, os Estados e
organizações internacionais devem observar as normas internacionais porque expressaram
livremente sua concordância em fazê-lo, de forma expressa (por meio de tratados) ou tácita
(pela aceitação generalizada de um costume). Portanto, o fundamento do direito
internacional público repousa no consentimento dos Estados.

O objetivismo sustenta que a obrigatoriedade do direito internacional público


decorre da existência de valores, princípios ou regras que se revestem de uma importância
cujo bom desenvolvimento e a própria existência da sociedade internacional são
objetivamente dependentes. Aqui, a vontade das pessoas internacionais é irrelevante; a
norma é obrigatória pelo caráter de primazia que naturalmente assume (costumes).

1.6 DIREITO INTERNACIONAL E SUA RELAÇÃO COM O DIREITO INTERNO

Há divisão entre a teoria dualista e a teoria monista.

Para a teoria dualista, a ordem jurídica externa se distingue da ordem jurídica


interna dos Estados; ambas correm de forma parelela. O direito que se forma na ordem
jurídica externa depende de introdução voluntária para fazer parte da outra.

A teoria monista, por seu turno, defende que o direito internacional público forma,
com o direito de cada ordem jurídica estatal, um único conjunto normativo, separados
apenas por regras de competência.

2. JURISDIÇÃO INTERNACIONAL

2.1 MÉTODO E EFICÁCIA DAS CORTES INTERNACIONAIS

Em que pese a descentralização na sociedade internacional, resultando na


inexistência de um governo mundial soberano capaz de impor obrigatoriedade à
observância das regras aderidas pelos agentes internacionais, tendo em vista a livre adesão
aos tratados internacionais, as sanções a serem aplicadas em caso de seus
descumprimentos são impostas pela cortes e tribunais internacionais não pelo uso da
força ou coerção, mas por outros meios igualmente capazes de fazer valer os tratados
aderidos, tal como a perda de credibilidade e confiança internacional para a formação de
novos compromissos.

Isso porque é do interesse de um Estado cumprir seus compromissos internacionais


para se preservar na ordem como um sujeito fiável, além de que o conjunto de normas e as
cortes internacionais estão suficientemente desenvolvidas para dar respostas satisfatórias e
justificar a ordem internacional.

Os entes que exercem a jurisdição internacional são normalmente criados por


tratados, que definem as respectivas competências e modo de funcionamento. Podem ser
judiciais, seguindo o modelo das cortes nacionais, arbitrais ou administrativos.

Os Estados só serão submetidos a alguma dessas cortes se forem signatários de seus


tratados constitutivos ou se consentiram em se submeter a algum julgamento específico. A
princípio, um Estado não se obriga pelo que não se comprometeu.

2.2 A CORTE INTERNACIONAL DE JUSTIÇA

É sediada em Haia, sendo o mais importante tribunal internacional. Criada em


1920, chamava-se Corte Permanente de Justiça Internacional, sendo que depois de
incorporada à ONU, em 1946, além de passar a ser seu principal órgão judiciário, passou a
ter a nova denominação.

Compõe-se de 15 juízes de diferentes nacionalidades eleitos pela Assembleia Geral


da ONU, para mandato de 9 anos, cuja escolha se dá pela notória especialização em direito
internacional.

Tem amplo escopo de atuação, sendo competente para conhecer qualquer lide
relativa a direito internacional, além de apreciar conflitos envolvendo tratados, costumes e
princípios gerais do direito entre as pessoas da comunidade internacional.

Apenas Estados e organizações internacionais são partes legítimas; indivíduos,


pessoas jurídicas de direito público interno e pessoas jurídicas de direito privado não são
capazes para acionar a corte. O Brasil é signatário de seu tratado.

2.3 O TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL

A partir do Tratado de Roma de 1998, instalou-se em 2003 em Haia o Tribunal


Penal Internacional, competente para julgar indivíduos pelos crimes tipificados em seu
estatuto e caracterizados como internacionais: genocídio, crimes de guerra, crimes contra a
humanidade e crimes de agressão. Conforme seu tratado, tais crimes são imprescritíveis.

Além disso, a competência do Tribunal Penal Internacional é subsidiária, à medida


que não interfere nos julgamentos em cada ordem jurídica nacional, salvo se essas ordens
não se mostrarem efetivas no julgamento e condenação de criminosos dessa natureza.

Os indivíduos só serão submetidos ao tribunal nas seguintes hipóteses: se o Estado


de sua nacionalidade for signatário do tratado constitutivo do tribunal; e se o Estado onde
ocorreu o crime ou o Estado de nacionalidade do acusado der consentimento para o
julgamento. O Brasil também já ratificou seu tratado.

Assim como o Tribunal Penal Internacional, os Tribunais de Nuremberg e de


Tóquio também foram criados a partir da previsão, no estatuto da ONU, para o julgamento
de crimes de guerra com violações graves contra a humanidade. Apesar de os Tribunais de
Nuremberg e de Tóquio serem considerados tribunais de exceção, por razões de ordem
moral e humanitária são tidos por legítimos.

2.4 A CORTE PERMANENTE DE ARBITRAGEM

Trata-se de uma lista de árbitros especializados em direito internacional


coordenada por uma secretaria com funcionamento em Haia. A secretaria inclui árbitros
na lista e os indica em conflitos internacionais.

Convém destacar que, atualmente, os juízes da Corte Internacional de Justiça são


indicados a partir da lista da Corte Permanente de Arbitragem.

2.5 AS CORTES ESPECIALIZADAS

São tribunais geralmente especializados em questões recorrentes na


comunidade/sociedade internacional. Assim, são temáticos, criados junto a organizações
internacionais que se ocupam do respectivo tema. Um exemplo é o Tribunal Internacional
do Direito do Mar, resultante da Convenção de Montego Bay (1982). Outros exemplos são
as cortes constituídas no âmbito de organizações internacionais, como a OMC, OEA e a
OIT.

2.6 AS CORTES ESPECIALIZADAS EM DIREITOS HUMANOS

Dentre as cortes especializadas, merecem destaque, pela importância, aquelas cujo


tema é direitos humanos. São os casos da Corte Interamericana de Direitos Humanos e da
Corte Europeia de Direitos Humanos.

A Corte Interamericana de Direitos Humanos, que vincula os países signatários do


Tratado de São José da Costa Rica, tem o Brasil como país aderente. Além disso, possui
importância quanto aos interesses brasileiros pela jurisprudência no âmbito de seus
interesses. Trata-se de uma corte que aceita denúncias individuais, por grupo de pessoas
ou até mesmo ONGs, sempre contra violações de direitos humanos causadas ou
toleradas por Estados-membros. No entanto, os direitos em questão não são considerados
de interesse específico do denunciante; são direitos subjetivos da coletividade, sendo o
indivíduo apenas o denunciante originário.

A Corte Interamericana de Direitos Humanos tem seus juízes eleitos na Assembleia


Geral da OEA (Organização dos Estados Americanos), mas nem todos os membros da
OEA estão sujeitos à sua jurisdição, porque não ratificaram o tratado da corte, o que é o
caso dos EUA.

Quanto à Corte Europeia de Direitos Humanos, além de possuir como


competência também as agressões aos direitos humanos, compreende 46 países da Europa
como signatários de seu tratado, não se confundindo, em hipótese alguma, com a União
Europeia.

2.7 AS CORTES REGIONAIS

São constituídas por blocos regionais de países com vistas à integração regional.
Exemplo é a Corte de Justiça das Comunidades Europeias, que atua em nível de direito
comunitário, de modo que indivíduos e pessoas jurídicas privadas podem-na acionar e por
ela serem acionados, desde que vinculados a um dos Estados membros.
O Mercosul também instalou um tribunal dessa natureza, o Tribunal Permanente
de Revisão do Mercosul.

3. O DIREITO DIPLOMÁTICO

Diplomacia é a arte do diálogo entre os Estados, a qual viabiliza a negociação e a


convivência. Trata-se de ciência milenar que hoje se encontra em crescente destaque com a
elevação da internacionalização da sociedade.

É usual atribuir a diplomacia à habilidade de manifestar-se com ponderação e


cálculo prévio de seus resultados, devendo a comunicação diplomática, assim, ser gentil e
astuta.

Contemporaneamente, a representação que implica serviço diplomático não se


limita à representação dos Estados; também as organizações internacionais possuem
servidores para interlocução com os Estados e que dependem e gozam de imunidades.

Portanto, o serviço de representação estatal se diferencia em representação


diplomática para interesses de Estado, e representação consular para interesses privados
da comunidade e do Estado representado.

São os principais objetos do direito diplomático:

a) Os protocolos de comunicação representativa (procedimentos protocolares), que


servem para estabelecer a representação e para promover as negociações;

b) O conjunto de imunidades à jurisdição estatal. As imunidades são privilégios e


garantias recíprocas para os representantes de um Estado junto à outro e a inviolabilidade
dos espaços de representação (as missões diplomáticas e as residências dos diplomatas).
Nesse sentido, a imunidade é a exclusão da aplicação da lei local e da competência
jurisdicional a atos praticados pelos servidores diplomáticos e a impossibilidade de ingresso
das forças públicas locais nas dependências imunes. Tratam do tema da imunidade a
Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas (1961) e a Convenção de Viena sobre
Relações Consulares (1963), regulando as imunidades mínimas, as exigências aos Estados
para facilitar a administração das representações estrangeiras e os protocolos que as
missões devem adotar quando atuam.

Com efeito, as imunidades não correspondem à impunidade, à medida que


representam apenas a não aplicação da jurisdição local com a consequente aplicação da
jurisdição de origem dos representados. As imunidades podem ser civis, penais e
tributárias.

É possível que ocorra um tratado entre os Estados representados que amplie essa
lista, mas segundo as Convenções de Viena, são asseguradas as seguintes imunidades:

I - IMUNIDADE CIVIL: é a imunidade para os atos praticados pelos representantes em


matéria de direito civil. Não é irrestrita, sendo excepcionada pelos atos de sucessão; de
direitos reais sobre bens imóveis de propriedade particular dos representantes; de atividades
profissionais liberais ou comerciais que esses venham a exercer no local de representação e
na hipótese do agente representante responder a uma ação civil com uma reconvenção (não
se limitar a uma alegação de imunidade).

II - IMUNIDADE TRIBUTÁRIA: incide sobre os tributos. Não alcança tributos indiretos,


tarifas e impostos sobre bens não oficiais.
III - IMUNIDADE PENAL: é irrestrita. Estende-se aos membros familiares dos
representantes, desde que sob suas dependências e credenciados perante a chancelaria
local. Também o pessoal subalterno, que executa serviços domésticos, de segurança e
transporte, mesmo que recrutados no local, gozam de imunidades quando incluídos na lista
(porém, apenas para atos funcionais). Porém, é possível haver renúncia à imunidade por
uma decisão da chancelaria do país de origem, tratando-se de decisão de conveniência
política e não uma escolha pessoal do sujeito envolvido.

A imunidade penal é condicionada a julgamento no país de origem e não impede a


investigação pela polícia local. Mas a polícia local terá restrições no acesso aos locais, salvo
se facilitado pelo chefe da missão diplomática.

Por fim, as repartições e residências dos diplomatas também gozam de imunidade


enquanto local fisicamente inviolável. No entanto, a representação diplomática não
significa a independência absoluta em território estrangeiro: dependendo da gravidade do
comportamento nocivo de um representante, o Estado local pode pedir a sua retirada e até
cercar a repartição para pressionar sua saída. Pode, até mesmo, expulsá-lo, desde que
apresente motivos para medida tão drástica, ainda que não possa invadir o local imune.

3.1 A REPRESENTAÇÃO DIPLOMÁTICA

Os agentes diplomáticos, ou "diplomatas", são funcionários do Estado


encarregados essencialmente de representá-lo em suas relações internacionais. A
representação do Estado, por sua vez, pode ocorrer tanto perante outros Estados como
perante organizações internacionais e negociações internacionais. Em qualquer dessas
hipóteses, essa representação demanda protocolos próprios e proteções diplomáticas,
conforme acima ressaltado.

A primeira providência a se tomar quando de uma representação diplomática é sua


identificação como tal no ambiente de representação. É apresentada uma lista à autoridade
loca, que comporá o quadro diplomático, que pode variar conforme a importância do
lugar e do evento.

Nesse sentido, o quadro diplomático pode ser completo, do embaixador ao terceiro


secretário, ou pode ter apenas um terceiro secretário. Não obstante, podem integrar o
quadro diplomático técnicos das mais diversas áreas (tradutores, economistas,
contabilistas, advogados etc), bem como os adidos, que são auxiliares do corpo
diplomático em funções específicas (ex. adidos militares, adidos culturais).

3.2 A REPRESENTAÇÃO CONSULAR

A representação de interesses privados estrangeiros, sob condução do Estado, é


atribuição dos consulados. Normalmente o consulado funciona como um intermediário
para investimentos privados, para contatos entre meios empresariais e para dinamizar as
relações privadas em geral. Atende, também, a demandas públicas dos cidadãos locais e
cidadãos do seu Estado de origem, como regularização de documentos e concessão de
vistos.

Os cônsules de carreira são provenientes do Estado representante, ao passo que os


cônsules honorários são recrutados no local, entre membros da comunidade migrante que
ali vivem. Justifica-se o recrutamento de cônsules honorários pela redução de custos e pela
possibilidade de representação por pessoa com melhor conhecimento da comunidade local.
Quanto às imunidades, a seguir especificadas, não há qualquer distinção.
As imunidades dos cônsules são mais restritas, não se estendem aos familiares e
são apenas funcionais. Restringem-se principalmente a fatos civis e tipos penais
consequentes de atividade privada econômica e atos de ofício, como expedição de
documentos. Já os locais de funcionamento do consulado gozam de imunidade física e
tributária, que não se estendem às residências dos cônsules.

3.3 O ESTADO ESTRANGEIRO E A JURISDIÇÃO LOCAL

O Estado estrangeiro, enquanto pessoa jurídica de direito público externo,


também goza de imunidades para relações privadas. Contudo, trata-se de regra de
aplicação cada vez mais atenuada. No Brasil o entendimento jurisprudencial é no sentido
da competência da justiça local para contratos de trabalho, exceto para aqueles que
exerçam funções diplomáticas. Da mesma forma, no Brasil há decisões admitindo a
cobrança de dívidas de obras e aluguéis, com execução sobre os bens locais.

Não obstante, a imunidade por inviolabilidade dos espaços de representação, como


os locais da missão diplomática, é ofertada aos Estados. Tal imunidade não deve implicar
na ideia de que se trata de extensão territorial do Estado de origem; na verdade, é apenas
uma faculdade concedida por um compromisso internacional.

Também há imunidade territorial nas embarcações oficiais (marinha de guerra).


Por se tratar de meio de transporte de forças armadas e aparato bélico estatal, em ambiente
de paz essas embarcações são protegidas pelo direito internacional.

4. PERSONALIDADE INTERNACIONAL E A ORDEM JURÍDICA INTERNACIONAL

Há divergências quanto ao rol das pessoas consideradas como sujeito de direito na


órbita internacional; segue abaixo hipóteses em discussão doutrinária:

4.1 OS ESTADOS

São os sujeitos de direito na sociedade internacional por excelência e tradição.

Os elementos do Estado moderno - povo, poder soberano (soberania) e território -


estão intimamente ligados aos interesses da comunidade internacional.

Com efeito, o elemento território dimensiona o poder do Estado pela sua extensão
e riqueza. Na comunidade internacional, a definição das fronteiras é um dos principais
objetos de controvérsia. O território é o limite de validade absoluta de uma ordem jurídica.

O elemento soberania é o próprio fenômeno jurídico-político que caracteriza o


Estado como moderno e proporciona a existência da comunidade internacional. A
soberania possui duas faces: a interna (entre os próprios súditos integrantes do Estado) que
é condição para a existência da face externa da soberania; e a externa, que não decorre de
um ato formal de reconhecimento da soberania pelos demais Estados, mas sim do
estabelecimento de tratados, que são atos próprios das pessoas da comunidade
internacional. Portanto, a soberania externa implica o reconhecimento recíproco, entre os
Estados, de suas soberanias internas (respeito mútuo).

4.2 AS ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS

São pessoas jurídicas de direito internacional público externo por derivação,


surgindo a partir do séc. XX, sendo criadas por tratados que lhes reconhecem o status de
pessoa na comunidade internacional.
Não se confundem com as organizações que não receberam o mesmo status em
seus atos constitutivos, pois uma organização internacional propriamente dita se distingue
pela capacidade de assinar tratados e, consequentemente, constituir direitos na ordem
internacional. Tanto é assim que a doutrina diferencia o que não é organização
internacional pelo título de "organismo internacional", conceito que abrange uma gama
variada de situações, como ONGs, organismos internacionais, empresas públicas
internacionalizadas etc.

4.3 OS INDIVÍDUOS

O reconhecimento das pessoas físicas à condição de sujeitos na ordem jurídica


internacional é questão controvertida na doutrina.

Atualmente, pessoas físicas podem acionar determinadas cortes internacionais, bem


como, até mesmo, serem por elas responsabilizadas; no entanto, essa prerrogativa é
condicionada ao vínculo de nacionalidade do indivíduo com um Estado participante da
corte respectiva.

A possibilidade de assinar tratados e assim constituir direitos perante a comunidade


internacional é o principal elemento caracterizador da personalidade internacional, o que
não ocorre com os indivíduos.

4.4 AS PESSOAS JURÍDICAS PRIVADAS

Também são objeto de controvérsia no direito internacional, especialmente as


grandes corporações que se denominam multinacionais de fato.

Muitas dessas empresas são mais influentes que Estados e atuam de fato na
comunidade internacional. Porém, ainda que sofram consequências do direito
internacional, gozando de benefícios e sendo obrigadas a encargos, não ostentam a
condição de sujeito para o direito internacional, respondendo internacionalmente em
decorrência do vínculo jurídico constitutivo que possuem com os Estados.

5. A SOBERANIA E O RECONHECIMENTO DE ESTADOS E GOVERNOS

5.1 RECONHECIMENTO DE ESTADOS

Cada Estado é independente para reconhecer ou não outro Estado como tal (face
externa da soberania estatal); a comunidade internacional e até mesmo a ONU não podem
forçar um Estado a reconhecer outro como tal.

Entretanto, o reconhecimento e um novo Estado, na verdade, é apenas a


constatação de uma realidade política pela existência de uma soberania interna sobre um
território e um povo definidos. Trata-se de ato meramente declaratório, e não
constitutivo de um novo Estado. Sua importância reside na possibilidade de participar de
fóruns internacionais negociadores de tratados, bem como na possibilidade de assinar
tratados.

Não obstante, o reconhecimento de Estado pode ser expresso, mediante um


"tratado" de reconhecimento assinado com o novo Estado, ou, ainda, por meio de um
"comunicado" (manifestação pública externa declaratória e que vincula o Estado
reconhecedor), ou tácito, consubstanciado na prática de atos internacionais que incluem o
novo Estado na ordem jurídica internacional, como assinatura de tratados de matérias
diversas ou o estabelecimento de relações diplomáticas.
Ademais, o reconhecimento de Estados também pode ocorrer por organizações
internacionais que possuam esta competência, possibilitando ao Estado reconhecido
assinar tratados coletivos gerenciados pela organização internacional respectiva. Esses
tratados são, atualmente, os mais importantes na comunidade internacional.

5.2 RECONHECIMENTO DE GOVERNOS

O reconhecimento de governo também é ato unilateral, discricionário, não


obrigatório, irrevogável e incondicionado. Entretanto, o reconhecimento de governo está
vinculado ao compromisso do próprio governo às principais normas de direito
internacional; logo, a retirada dos agentes diplomáticos do governo instituído é pode ser
interpretada como seu não reconhecimento.

São duas as principais doutrinas relativas ao reconhecimento de governo:

a) Doutrina Tobar: defende que o reconhecimento de governos estrangeiros somente


deveria ser concedido após a constatação de que estes contam com apoio popular (os
Estados não devem reconhecer novos governos formados por golpes de Estado).

b) Doutrina Estrada: entende que o reconhecimento ou o não reconhecimento expresso de


um novo governo configura intervenção indevida em assuntos internos de outros entes
estatais, e, portanto, desrespeito à soberania (considera uma afronta os Estados intervirem
em questões de soberania interna; nega a necessidade de reconhecimento externo dos
governos).

Nenhuma dessas doutrinas é integralmente acatada: resolve-se a questão pela


existência de uma estabilidade governativa, mesmo que o governo instalado seja
autoritário e não seja democrático.

6. ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS

Criadas no séc. XX, surgem como forma de superação do monopólio estatal


enquanto sujeito de direito internacional, sendo reconhecidas como pessoas jurídicas de
direito público externo.

Diferentemente dos organismos internacionais, que são qualquer tipo de


agremiação, pública ou privada, com atuação além das fronteiras estatais e que não
possuem o reconhecimento da personalidade (status) na ordem internacional (ex.
Greenpeace, ONGs etc), as organizações internacionais possuem o status de sujeito na
sociedade internacional, consubstanciado em seu estatuto, que lhe confere direitos e
deveres para atuar entre os Estados e em nome próprio, especialmente a possibilidade de
assinar tratados.

Quanto ao objeto de uma organização internacional, não há limitações expressas,


bastando que respeitem os costumes e princípios gerais de direito, além de não atentarem
contra a própria comunidade internacional.

6.1 ESTRUTURA DAS ORGANIZAÇÕES

Compõem-se as organizações internacionais de órgãos, sendo o padrão não


obrigatório geralmente existente:

a) Assembleia Geral: é o órgão máximo, composto por todos os Estados membros, com
direito a voz e voto. O respectivo estatuto da organização internacional definirá questões
internas (quóruns mínimos de aprovação de decisões, periodicidade de reuniões ordinárias
etc).

b) Secretaria: é o órgão de administração executiva, destinado à parte burocrática.


Constitui-se de servidores permanentemente em serviço.

c) Conselhos: são órgãos técnicos ou políticos especializados, compostos por representantes


diplomáticos dos Estados membros e servidores técnicos com funções especializadas (ex.
conselho com função judiciária, econômica, social etc).

A ONU, mais notória das organizações internacionais, dentre os vários conselhos


que possui, sobressai-se pela excepcionalidade o Conselho Permanente de Segurança,
composto de 15 membros (10 temporários e 5 permanentes), cujos membros permanentes
possui poder de veto quanto às decisões de segurança e paz, o que destaca o Conselho
perante a Assembleia Geral, desequilibrando o poder dentro da organização.

São alguns órgãos da ONU, além do Conselho Permanente de Segurança:


Conselho de Tutela; Conselho Econômico e Social; Assembleia Geral; Secretariado; e a
Corte Internacional de Justiça.

Além disso, existem organizações internacionais que, mesmo possuindo


personalidade jurídica e até mesmo sendo anteriores à própria ONU, são a ela
formalmente associadas para atuação conjunta (OIT). Por outro lado, também organismos
internacionais são associados à ONU, que atuam sem o reconhecimento de personalidade
internacional, cujo conjunto é denominado Sistema das Nações Unidas (OMS, OMC,
UNESCO, FAO, Banco Mundial, FMI, UNICEF etc).

6.2 FUNCIONAMENTO DAS ORGANIZAÇÕES

Em regra, as organizações podem deliberar sem o consentimento de todos os


membros para pautas de conteúdo instrumental, como eleição de titulares de cargos, pautas
de debates, calendário de trabalho etc.

São subsidiadas pelos Estados membros, que contribuem com cotas regulares
proporcionais ao peso econômico e político dos Estados.

Possuem sedes e, às vezes, escritórios em territórios dos Estados membros, o que


também é definido em tratado constitutivo ou específico para tal fim, ao tempo que o
Estado sede se compromete à garantir a segurança dos representantes e servidores da
organização, que, geralmente, gozam de prerrogativas e imunidades equivalentes às do
direito diplomático.

Quanto à intervenção da organização internacional nos Estados, vale a regra de


que um Estado somente se obriga perante determinada organização naquilo que consentiu
formalmente por negociação (assinatura de tratado).

Contudo, em relação à ONU, observa-se a existência, em sua Carta, de


verdadeira carta branca para sua intervenção em Estados que não aderiram a seus
estatutos, mesmo sem qualquer fundamento jurídico internacional, ainda que com
fundamento na paz e na segurança internacional.

Trata-se do disposto no artigo 2º, parágrafo 6º da Carta da ONU, que dispõe que
"A organização fará com que os Estados que não são membros das Nações Unidas procedam de
conformidade com esses princípios na medida necessária à manutenção da paz e segurança
internacional".

6.3 A COMPOSIÇÃO DAS ORGANIZAÇÕES

O ingresso de Estados nas organizações internacionais se dá pela análise da


afinidade com seus propósitos, que, muitas vezes, não são o que aparentam ser (ex. OTAN
- Organização do Tratado do Atlântico Norte, que inclui como "parceiros" a Austrália e o
Japão e que continua atuando mesmo depois da queda do muro de Berlim e do socialismo
soviético).

Nesse sentido, o ingresso na organização se dá pela adesão integral, sem


possibilidade de reserva ao tratado constitutivo, que é condicionada pela aceitação da
organização, conforme definido em seu estatuto constitutivo.

A saída ou retirada do Estado, a seu pedido, requer a inexistência de obrigações


pendentes perante a organização, tal como, v.g., obrigações financeiras, existindo
organizações que pedem determinado prazo para acomodação prévia antes da saída do
Estado. Não obstante, geralmente é prevista a possibilidade de expulsão de um Estado,
conforme determinadas situações, nos tratados/estatutos das organizações.

A doutrina classifica as organizações internacionais como de atuação universal


(com o maior número possível de Estados aderentes - ex. ONU) ou regionais (com
restrições de ingresso, sejam geográficas, econômicas, ideológicas etc - OTAN, OEA), e
com vocação política (destinadas à paz e à segurança internacional, que atuam, portanto,
com recurso bélicos, tais como a ONU, OTAN, OEA) ou especializada (que se ocupam de
fim específico não político, como as econômicas, culturais, humanitárias etc - UNESCO,
FMI, OMC, BIRD, OPEP, Mercosul, estas duas últimas também com atuação regional).

7. TRATADOS

Os tratados são a principal fonte atual de direitos na comunidade internacional,


que, gradativamente substituindo os costumes, ganharam maior destaque a partir do séc.
XX com a criação da Corte Internacional de Justiça.

Várias expressões são sinônimas de tratado: convenção, acordo, protocolo, pacto


etc, de modo que o realmente importante é a identificação dos elementos caracterizadores
do ato constitutivo de direito internacional, seja qual for a nomenclatura atribuída.

a) Conceito: tratado é um acordo de vontades entre sujeitos de direito internacional


público, nos termos do direito internacional e destinado a produzir efeitos principalmente
na sociedade internacional, o que não exclui sua interferência na ordem interna de um
Estado.

b) Características: os requisitos para estabelecimento de tratados são previstos nas


Convenções de Viena de 1969 e 1986. É um instrumento formal, escrito, cujo objeto deve
ser lícito e possível, e que somente pode ser firmado por sujeitos de direito na sociedade
internacional, dentre os quais destacam-se os Estados e as organizações internacionais.
Logo, simples declarações ou comunicados comuns resultantes de encontros entre
estadistas, com conteúdo abstrato sobre questões genéricas que não produzem obrigações
efetivas ("promover a paz", "combater o preconceito de gênero ou de raça") não são
considerados tratados.
c) Fase de Formatação: se esgota com a conclusão do texto definitivo do tratado, incluindo,
portanto, os preparativos gerais (reuniões para definição e redação do texto; cerimônia de
assinatura - que não gera o compromisso, mas apenas declara a intenção definitiva de
ratificar, futuramente, o tratado). Assim, a troca de notas é o meio de comunicação entre
os diversos agentes diplomáticos.

O tratado a ser formatado pode ser bilateral ou multilateral, a depender da


quantidade de aderentes.

A Convenção de Viena sobre tratados condiciona a aprovação do texto a ser


definitivamente aposto no tratado a um dos seguintes quóruns, que deverá ser escolhido
entre os participantes: dois terços, maioria absoluta ou unanimidade.

d) Fase de Compromisso: é posterior à definição do texto do tratado (Fase de Formatação),


sendo o momento em que cada Estado interessado o leva para a aprovação em sua própria
ordem jurídica.

No Brasil, o executivo federal encaminha o tratado ao Congresso Nacional para


aprovação pelo rito de lei ordinária; se versar o tratado sobre direitos humanos, o rito é o
da emenda constitucional.

O tratado somente pode sofrer emendas no âmbito de negociação internacional,


não sendo possível, portanto, emendas pelo poder legislativo do País, podendo ocorrer,
contudo, apenas a assinatura parcial de determinados tratados (reservas), que é ato de
exclusão de certa parte no compromisso estatal.

Aprovado no Congresso, o tratado volta ao executivo para, de acordo com sua


discricionariedade, encaminhá-lo ou não para o depósito, ato que gera a ratificação, como
manifestação de conclusão e comprometimento daquele país ao tratado, já que o
compromisso internacional depende da reciprocidade de ratificação, já que um Estado
sozinho não assume um compromisso de natureza contratual (se o tratado for multilateral,
a eficácia somente se dará entre aqueles que já ratificaram o tratado, sendo que os terceiros
que ainda não ratificaram não detêm direitos subjetivos diante das primeiras assinaturas).

e) Reservas e Objeções: reservas e objeções são manifestações internacionais produzidas


perante o órgão depositário competente.

As reservas ocorrem quando certo Estado exclui do seu compromisso parte do


tratado, o que depende de previsão em sua negociação (há tratados que não admitem
reservas).

Com as reservas, os demais estados possuem a prerrogativa de fazer "objeções", que


são a discordância dos demais Estados quanto à reserva feita por um ou mais Estados.
Com a objeção, o Estado que reservou é excluído do compromisso com o Estado da
objeção, ou pelo menos é excluído naquelas cláusulas reservadas.

No ordenamento jurídico brasileiro, as reservas, quando possíveis, podem ocorrer


por iniciativa do Presidente da República ou do Congresso Nacional.

f) Assinatura: Nos tratados ad referendum, que são a regra, é dada pelos Estados como ato
meramente protocolar, pois o verdadeiro compromisso surgirá apenas com a ratificação
(depois de assinado, o chefe do Executivo federal encaminha o tratado ao Congresso
Nacional, que o aprova e o devolve para o chefe do Executivo para que, de acordo com sua
discricionariedade, o deposite [ratifique] ou não). A exceção é nos tratados de assinatura
direta, que representa a ratificação.
g) Ratificação e Adesão: é a manifestação do Estado perante o depositário (uma
organização internacional ou outro Estado) que produz o compromisso internacional,
ocorrendo, em regra, após a consulta e aprovação na sua ordem interna. Assim, apenas a
vigência poderá estar condicionada a um prazo (vacatio legis) ou determinada quantidade de
ratificações para completar o mínimo necessário.

A adesão, que equivale à ratificação, diferencia-se pelo fato do Estado em questão


não ter participado das negociações originais do texto, manifestando interesse em integrar
o tratado em momento posterior à sua ratificação.

h) Depósito: é a entrega do termo do tratado no órgão depositário, que é previamente


constituído durante a negociação, gerando, assim, a ratificação. Ao órgão depositário
também cabe outras atribuições, como dar notícia aos demais signatários do
comprometimento de um novo Estado e receber instrumentos de adesão, de denúncia e de
objeções e reservas.

No ordenamento jurídico brasileiro, a denúncia pode se dar tanto pelo chefe do


Executivo federal quanto pelo Congresso Nacional; porém, se o tratado versar sobre
direitos humanos, pela sistemática atual, o melhor entendimento é que somente o
Congresso Nacional pode definir sobre a denúncia.

i) Publicidade: Para a ordem internacional, a publicidade do tratado ocorre


concomitantemente ao seu depósito. Para a ordem interna do Estado, cada qual estabelece
o critério de publicidade a ser acolhido.

j) Estrutura: o tratado possui, em regra, três partes: o preâmbulo, que é o texto de


apresentação, informando os princípios e motivações do tratado, possíveis partes
negociantes etc; os dispositivos, que são os conteúdos vinculantes em linguagem jurídica; e
os anexos, que são conteúdos vinculantes que não podem ser reduzidos à linguagem
jurídica (gráficos, desenhos etc).

k) Representação Internacional: em nome dos Estados e das organizações internacionais,


há servidores próprios que podem participar das negociações e firmar os compromissos na
comunidade internacional.

Quanto aos Estados, o chefe de Estado é, por excelência,o representante


internacional, havendo, contudo, ordenamentos que conferem tal mister pelo chefe de
governo. Juntos, são os titulares originários da representação.

No entanto, tendo em vista a volumosa demanda internacional, admite-se a figura


dos plenipotenciários como substitutos com representação derivada. São eles: o chanceler
(no Brasil, o ministro das relações exteriores), o chefe da missão diplomática (no âmbito de
sua missão) e qualquer servidor com carta de plenos poderes (é usual conferir carta de
plenos poderes a servidores que tenham conhecimento técnico sobre a matéria em
negociação).

l) Denúncia: é o ato de saída do tratado. Quando determinado Estado não deseja mais
continuar integrando um tratado, deve formalizar junto ao órgão depositário a
manifestação de saída. É condição imposta pela Convenção de Viena sobre Tratados que
não haja responsabilidade ou compromisso pendente para a saída do tratado.

m) Efeitos sobre terceiros: A priori, o tratado somente tem efeitos entre as partes
contratantes. Entretanto, tal situação não impede, em absoluto, a produção de efeitos sobre
terceiros (ex. alteração de fronteiras, afetando a configuração geopolítica global).
8. TRATADOS À LUZ DO DIREITO BRASILEIRO

8.1 O STATUS DO TRATADO NO ORDENAMENTO

A regra geral no ordenamento jurídico brasileiro é de que os tratados tem status de


lei ordinária, sendo aprovado por maioria simples dos presentes na sessão, desde que
composta por maioria absoluta dos membros da casa, isso em ambas as casas do
Congresso.

Contudo, os tratados em matéria de direitos humanos posteriores à EC nº 45/2003


possuem status de norma constitucional, desde que aprovados pelo quórum qualificado de
emenda à Constituição: três quintos dos membros nas duas casas e em dois turnos (art. 5º,
parágrafo 3º, CF).

Logo, os tratados sobre direitos humanos anteriores à EC nº 45 de 2003, além de


não terem status de norma constitucional, são considerados pela doutrina não com status de
lei ordinária, mas sim com status de "norma supralegal".

8.2 O PROCEDIMENTO DE APROVAÇÃO

Nos termos do art. 49, I, da CF, é competência exclusiva do Congresso Nacional


resolver sobre tratados que acarretem encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio
nacional.

Em sintonia à participação de ambos os poderes, o art. 84, VIII, da CF, aduz que
compete privativamente ao Presidente da República celebrar tratados, sujeitos ao referendo
do Congresso Nacional.

De toda forma, tendo em vista que no Congresso Nacional o tratado é aprovado


como decreto legislativo, não depende de sanção ou veto do chefe do Executivo federal,
mas somente de sua decisão para o depósito.

8.3 OS ACORDOS EXECUTIVOS

São aqueles que não dependem de aprovação pelo Congresso Nacional, pois
conforme interpretação do art. 49, I, da CF, não acarretam encargos gravosos ao
patrimônio nacional.

São hipóteses identificadas nas seguintes situações:

a) tratados que decorrem de outros tratados, quando o primeiro já subentende o segundo;

b) tratados que preparam outros tratados, não gerando compromisso efetivo, mas apenas
uma negociação prévia;

c) tratados que interpretam outros tratados, quando a dúvida obriga os Estados a elaborar
um novo texto que dê melhor interpretação de um tratado já ratificado;

d) tratados que não mudam o status quo, quando o conteúdo do tratado não gera
compromisso e apenas reforça princípios de direito internacional ou relações amistosas
entre Estados;
e) tratados de natureza administrativa, para atos de administração que produzam efeitos na
comunidade internacional e que também não acarretem encargos gravosos ao patrimônio
nacional.

8.4 PROMULGAÇÃO E PUBLICIDADE INTERNA NO BRASIL

A promulgação de tratados no Brasil ocorre por decreto presidencial após a


ratificação. É o ato que confere publicidade interna brasileira com a publicação no diário
oficial.

Este decreto presidencial não se confunde com o decreto legislativo de aprovação.

9. COSTUMES E PRINCÍPIOS GERAIS DE DIREITO

Considerando como fontes de direito internacional "os meios para a determinação


das regras de direito", são elas os tratados, os costumes, e os princípios gerais de direito,
os dois primeiros, fontes formais, e os princípios gerais de direito, fontes materiais, que
inspiram o intérprete, conforme o art. 38 do Estatuto da Corte Internacional de Justiça.

9.1 COSTUMES

São práticas reiteradas, generalizadas e aceitas pelas pessoas da comunidade


internacional, sendo, portanto, reconhecidas como condutas legítimas capazes de obrigar e
garantir deveres e direitos nessa comunidade. A partir do séc. XX, foram gradativamente
substituídos pelos tratados, apesar de ainda estarem presentes no direito internacional
público.

9.2 OS PRINCÍPIOS GERAIS DE DIREITO

Apesar de divergência doutrinária quanto à natureza dos princípios gerais de direito


(se fonte ou se critério supletivo para interpretação do direito internacional) as cortes
internacionais os reconhecem e os utilizam em suas decisões, desde que em consonância
com os tratados e costumes. Assim, possuem função complementar na solução de conflitos
internacionais.

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