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COMENTÁRIOS AO TEXTO BÍBLICO LIDO NA ABERTURA DOS

TRABALHOS DE COMPANHEIRO MAÇOM

AMÓS 7:7-8

A Visão do Prumo

“(7) Mostrou-me também assim: e eis que o Senhor estava sobre um muro
levantado a prumo, e tinha um prumo na sua mão. (8) E o Senhor me
disse: que vês tu, Amós? E eu disse: um prumo. Então disse o Senhor:
eis que eu porei o prumo no meio do meu povo Israel; nunca mais
passarei por ele”.

A primeira vista, analisando este texto isoladamente, fora do contexto


geral do livro de Amós e do contexto histórico do povo hebreu, no período em
que em que o livro foi escrito, a única coisa que possui alguma relação com a
Maçonaria, em geral, e com o grau de Companheiro Maçom, em particular, é a
palavra “prumo”.
Na Maçonaria simbólica, o prumo é o instrumento e a jóia inerente ao
cargo de 2o Vigilante, já que a esse oficial compete, juntamente com o 1o
Vigilante, cujo instrumento e jóia é o nível, verificar se os trabalhos (“a
construção”) estão “justos e perfeitos”.
Quando o Maçom é elevado ao segundo grau, diz-se que “passa do
nível ao prumo”, posto que o 2o Vigilante é o responsável direto pela instrução
do Companheiro Maçom.
Além disso, o prumo está presente na saudação dos três graus
simbólicos; como esta é feita sempre em dois movimentos, o movimento
horizontal corresponde ao nível e o vertical, ao prumo; ambos formam uma
esquadria.
Na engenharia civil (Arte de Construir), prumo ou perpendicular é um
instrumento fundamental para a construção de edifícios; é um instrumento
formado por um peso suspenso à extremidade de um fio. É usado para
determinar a direção vertical, para medir a verticalidade de uma superfície.
Em Maçonaria, no sentido místico e esotérico, o prumo é o símbolo da
profundidade do conhecimento, da pesquisa (em profundidade) da verdade. É
tomado como emblema da retidão e da justiça que devem caracterizar a
conduta dos maçons, de sorte a levarem sempre uma vida de graça e beleza.
Representa, também, o equilíbrio e a estabilidade do comportamento dos
maçons em quaisquer circunstâncias de sua vida profana ou de iniciado.
Porém, além do prumo, que outras relações tem este texto bíblico com a
Maçonaria, em geral, e com o grau de Companheiro, em particular?
Para entendermos o significado geral deste texto, é necessário fazermos
considerações históricas sobre o povo hebreu no período em que viveu Amós.
Quando Salomão morreu, em 933 a.C., as tribos de Israel se recusaram
a obedecer a um único rei, gerando uma crise política que provocou uma
divisão da nação. Apenas duas tribos, a de Benjamim e a de Judá, apoiaram o
sucessor legítimo de Salomão, Roboão, constituindo o Reino de Judá, ao Sul,
com capital em Jerusalém. As outras dez tribos se agruparam em torno de um
usurpador, Jeroboão, e formaram o Reino de Israel, ao norte, com capital em
Samaria.
As conseqüências desta divisão foram péssimas:
(a) Enfraqueceu o país, pois se criaram vários pequenos países,
militarmente fracos, onde antes havia um só, forte e unido política, econômica e
religiosamente, tornando-o vulnerável às ameaças dos paises inimigos
vizinhos.
(b) Como o Templo se localizava em Jerusalém, os habitantes do reino
do norte (Israel) foram se afastando do culto do Templo, do culto de Jeová, e
acabaram inventando novos cultos ou permitindo a penetração de cultos
estrangeiros. Era a Idolatria. Já o reino de Judá levava uma vida mais calma,
permanecendo fiéis à religião tradicional. Em alguns momentos, porém,
também em Judá o povo se inclinou para a adoração de ídolos.
(c) No reino de Israel os reis eram freqüentemente depostos ou
assassinados. Este fato também provocou o enfraquecimento e grande
instabilidade em Israel e contribuiu para que o país fosse atacado
insistentemente por seus inimigos, até acabar conquistado e destruído pelos
assírios, por volta de 722-717 a.C. Quanto ao reino de Judá, ao contrário, a
estabilidade proporcionada pela existência de uma mesma dinastia (família
real), contribuiu para que o país pudesse se defender melhor e fosse
conquistado bem depois de Israel. Somente em 587 a.C. é que os babilônios,
comandados por Nabucodonossor, conquistaram Jerusalém.
Tinha chegado ao fim tanto a independência política como a independência
religiosa tanto de Israel quanto de Judá.
Estes fatos têm íntima relação com o simbolismo do grau de Companheiro,
como os Iirm∴ poderão compreender quando chegarem ao grau de Mestre Maçom.
Porém, contra todos os desvios de natureza política, econômica, social e
espiritual, que caracterizaram o período dos dois reinos, levantaram-se os profetas.
O iniciador desse movimento foi Amós, que profetizou entre os anos de
780-757 a.C. Neste período o rei de Israel era Jeroboão II, e o rei de Judá era
Uzias.
Amós era natural de Tecoa, cidade de Judá (Amós 1:1). Pertencia a
classe humilde do povo, era pastor de ovelhas e colhedor de frutos silvestres;
mesmo sendo cidadão de Judá, foi chamado pelo Senhor para profetizar no
reino de Israel (Amós 7:14-15).
Em visita a Israel, Amós ficou chocado com a injustiça social que viu,
com a opressão dos pobres pelos ricos, com o luxo de alguns e a miséria da
maioria, e, com a Idolatria. Começou então a falar o que pensava contra os
pecados do rei e do seu povo. Suas palavras irritaram os poderosos da época
a tal ponto que foi aconselhado a voltar para Judá e ficar quieto em seus
campos.
Amós assim procedeu, porém suas idéias foram retomadas por outros
profetas, como Oséias, Isaias e Jeremias, que continuaram sua tarefa nos dois
séculos seguintes.
É neste contexto que Amós escreveu o seu livro, contendo as suas
profecias. O livro possui muitas metáforas chocantes e uma série de cinco
visões.
O texto lido no grau de Companheiro é uma dessas visões, a “Visão do
Prumo”.
Nesta visão de Amós, Deus estava de pé, ao lado de um muro
construído a prumo (“verificava, com um fio de prumo, se o muro estava
perfeito”). Depois disse a Amós que iria medir o “comportamento” de seu povo
com o prumo e que não adiaria mais o castigo.
O povo de Israel andava em pecado; lá havia corrupção, injustiça social,
idolatria e vícios de todas as formas. Deus avaliava a retidão de conduta dos israelitas
(com o prumo) e não encontrava justos. Assim, castigaria o povo; não andaria mais com
ele, e permitiria que os inimigos o destruíssem.
Os profetas eram homens chamados e inspirados por Deus a fim de entregar sua
mensagem. Eram homens corajosos, que não tiveram medo de dizer o que pensaram
nem se aterrorizaram com o que os governantes pudessem pensar deles.
Cada um deles tinha estilo próprio, mas o conteúdo do que diziam era
aproximadamente o mesmo. Todos eles consideraram que o povo fizera um
pacto com Deus e o violara, de duas maneiras diferentes: praticando idolatria e
criando uma sociedade injusta, onde alguns tinham muito e outros não tinham
nada.
Deus, portanto, iria castigar o povo por suas más ações, retirando-lhe
aquilo que lhe havia dado como símbolo do pacto: a terra de Israel.
A lição que podemos tirar é que, tal qual os profetas, devem proceder
também os Maçons, responsáveis que são pelo desenvolvimento moral,
intelectual, material e, principalmente, espiritual da humanidade. Devem os
Maçons lutar contra as injustiças sociais; contra a ignorância, o fanatismo e os
preconceitos; em fim contra a idolatria.
Assim como os profetas tiveram uma influência extremamente profunda
no pensamento e na maneira de viver das gerações que os sucederam,
também os Maçons devem influenciar positivamente, através de bons
testemunhos, as gerações vindouras.
Assim, espero que os Mestres tenham compreendido, no todo, as
relações deste texto com o grau de Companheiro e, que os Companheiros,
tenham compreendido, pelo menos em parte, estas relações; certamente as
compreenderão, em totalidade, quando forem Mestres.

BIBLIOGRAFIA

LIRA, Jorge Buarque – “As vigas mestras da Maçonaria” – Editora Aurora Ltda – 3a
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OLIVEIRA, Irmá Celina – “O 2o Vigilante” - artigo – Revista “A TROLHA” No 81 – Ano
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FIGUEIREDO, Joaquim Gervásio - "Dicionário de Maçonaria" - 15a Edição - 1987 -
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BELZ, Rodolpho – “Quando Tudo Falha...” - Editora Adventista Casa Publicadora
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NOVO TESTAMENTO VIVO - "O mais importante é o Amor" - Liga Bíblica Mundial -
1991 - Editora Mundo Cristão - SP.
A BÍBLIA SAGRADA - Tradução de João Ferreira de Almeida – Editora Imprensa
Bíblica Brasileira - 1976 - RJ.

Denizart Silveira de Oliveira Filho


Loja Igualdade No 93 - GLMERJ

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