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RAE-CLÁSSICOS • DEBATES E PERSPECTIVAS CENTRAIS NA TEORIA DAS ORGANIZAÇÕES

DEBATES E PERSPECTIVAS CENTRAIS NA TEORIA


DAS ORGANIZAÇÕES
RESUMO
Diversas escolas do pensamento organizacional são classificadas de acordo com os níveis micro e macro
de análise organizacional e com premissas deterministas em oposição a voluntaristas acerca da natureza
humana, gerando, assim, quatro perspectivas básicas: a visão organizacional sistêmico-estrutural, a visão
da escolha estratégica, a da seleção natural e a da ação coletiva. Essas quatro visões representam
qualitativamente diferentes conceitos sobre a estrutura, o comportamento, a mudança e os papéis gerenciais
nas organizações. São identificados seis debates teóricos por meio da sobreposição dessas quatro visões,
sendo assim alcançada uma reconciliação parcial, levando os pontos de vista opostos a um entendimento
dialético. Os seis debates, que tendem a ser individualmente tratados e isolados pela literatura, são então
reintegrados, num nível metafórico. O modelo apresentado tenta transcender os problemas associados a
uma fragmentação excessiva, focando a interação entre perspectivas teóricas divergentes, mas procurando
também preservar a autenticidade de pontos de vista distintos, preservando, dessa forma, as vantagens
associadas ao pluralismo teórico.

W. Graham Astley
University of Pennsylvania

Andrew H. Van de Ven


University of Minnesota

ABSTRACT The diverse schools of organizational thought are classified according to micro and macro levels of organizational analysis and
deterministic versus voluntaristic assumptions of human nature to yield four basic perspectives: system-structural, strategic choice, natural
selection, and collective-action views of organizations. These four views represent qualitatively different concepts of organizational structure,
behavior, change, and managerial roles. Six theoretical debates are then identified by systematically juxtaposing the four views against each other,
and a partial reconciliation is achieved by bringing opposing viewpoints into dialectical relief. The six debates, which tend to be addressed singly
and in isolation from each other in the literature, are then integrated at metatheoretical level. The framework presented thus attempts to overcome
the problems associated with excessive theoretical compartmentalization by focusing on the interplay between divergent theoretical perspectives,
but it also attempts to preserve the authenticity of distinctive viewpoints, thereby retaining the advantages associated with theoretical pluralism.

PALAVRAS-CHAVE Voluntarismo, ação coletiva, níveis de análise micro e macro, ambiente, teoria das organizações.
KEYWORDS Voluntarism, collective action, micro and macro levels of analysis, environment, organizational theory.

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Nos últimos anos tem surgido um pluralismo teórico cres- e vocabulários bastante diferentes para não dialogarem
cente na literatura organizacional, refletindo em parte a diretamente entre si. Como afirmou Poggi (1965, p. 284),
crescente conscientização acerca das complexidades or- “uma forma de ver é uma forma de não ver”. Então, al-
ganizacionais e em parte o refinamento dos interesses e guma integração deve ser desejável, mas que preserve,
preocupações dos teóricos da área. De um lado, esse plu- ao mesmo tempo, a distinção entre as diferentes pers-
ralismo teórico deve ser encorajado, para que os pesqui- pectivas analíticas envolvidas. Estamos convencidos de
sadores descubram novos aspectos da vida organizacio- que essa integração é possível se reconhecermos que as
nal e aprofundem suas indagações críticas. De outro lado, diferentes perspectivas podem apresentar quadros mui-
esse pluralismo encoraja uma fragmentação teórica ex- to diversos do mesmo fenômeno organizacional sem que
cessiva, ficando fácil perder de vista as formas com que se anulem. Isso é alcançado por meio do uso de diferen-
as várias escolas de pensamento se relacionam. A intera- tes lentes analíticas no exame dos lados opostos e con-
ção entre as diferentes perspectivas permite que se ad- traditórios de uma mesma questão. Neste artigo, em vez
quira um entendimento mais abrangente da vida organi- de proclamarmos certos pontos de vista como “corre-
zacional, uma vez que qualquer escola de pensamento, tos”, reconciliamos as contradições entre as teorias con-
invariavelmente, oferece uma explicação parcial da rea- trastantes ao juntarmos uma variedade de interpretações
lidade. Além disso, a sobreposição das diferentes escolas dialéticas acerca da vida organizacional. Essas reconcilia-
de pensamento põe em destaque as visões de mundo con- ções preservam a autenticidade das “incompatíveis” teo-
trastantes que motivam os maiores debates que caracte- rias, mas alcançam ao mesmo tempo um meio de inte-
rizam a teoria organizacional contemporânea. gração ao destacarem as fontes de tensões dialéticas en-
Por conseguinte, este artigo examina seis debates so- tre as teorias.
bre a natureza e a estruturação organizacionais que per- Essa abordagem é aplicada a cada um dos debates
meiam atualmente a literatura. Os debates circundam as acima, no contexto de um esquema metateórico amplo
seguintes questões: o bastante para unir os diferentes debates. Tratar os seis
1. As organizações são sistemas funcionalmente racionais debates como interdependentes deixa em acordo am-
e tecnicamente determinados ou são materializações bos os pontos de contraste e tangência entre a maior
de ações individuais socialmente construídas e subje- parte das principais abordagens teóricas dos estudos or-
tivamente significativas? ganizacionais. A intenção não é apenas refinar e apro-
2. As mudanças nas formas organizacionais são explica- fundar a teoria atual, mas também entender melhor as
das pela adaptação interna ou pela seleção ambiental? estruturas de apoio dos pensamentos geradores de teo-
3. A vida organizacional é determinada por limitações rias particulares. Procuramos uma integração não so-
ambientais ou é criada ativamente por meio de deci- mente dentro dos debates, mas entre os debates, em um
sões gerenciais estratégicas? nível metateórico. A esse respeito a principal meta é
4. O ambiente deve ser visto como um agregado simples análoga ao pedido de Rank (1941) para que as compa-
de organizações, governado por forças econômicas rações entre as “diferentes psicologias” sejam substitu-
externas, ou como uma coletividade de organizações ídas por uma “psicologia das diferenças”. Enquanto dis-
integradas e governadas por suas próprias forças polí- tinguimos as diferenças no interior das teorias organi-
ticas e sociais internas? zacionais, esperamos contribuir com uma teoria que
5. O comportamento organizacional está principalmen- explique as diferenças entre elas. Isso apoiando-nos
te preocupado com a ação individual ou com a ação numa consciência explícita das premissas metateóricas
coletiva? contrastantes que as apóiam. Colocando de forma dife-
6. As organizações são instrumentos técnicos neutros, rente, procuramos identificar os alicerces paradigmáti-
programados para atingir metas, ou são manifestações cos das metáforas teóricas existentes no campo (Morgan,
institucionalizadas de interesses adquiridos e estrutu- 1980).
ras de poder da sociedade?

Apesar de essas pendências terem sido debatidas em PERSPECTIVAS CENTRAIS


certo grau pela literatura, nenhuma análise satisfatória DA TEORIA ORGANIZACIONAL
surgiu – nem se tornou provável. O problema é que as
diferentes escolas de pensamento tendem a focar ques- A Figura 1 esboça um esquema metateórico de classifi-
tões apenas unilateralmente, além de utilizarem lógicas cação das principais escolas de pensamento da teoria or-

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ganizacional e gerencial em quatro visões básicas. Elas Morgan, 1979; Van de Ven e Astley, 1981). Do ponto de
são baseadas em duas dimensões analíticas: 1) o nível de vista da orientação voluntarista, indivíduos e instituições
análise organizacional, e 2) a relativa ênfase dada às pre- são agentes autônomos, proativos e autodirigidos; os in-
missas deterministas da natureza humana contra as pre- divíduos são vistos como a unidade básica de análise e
missas voluntaristas. fonte de mudança da vida organizacional. Já a orienta-
Alguns autores recentemente distinguiram as teorias ção determinista não focaliza os indivíduos, mas sim as
organizacionais utilizando a clássica dualidade entre o propriedades estruturais do contexto em que a ação se
determinismo e o livre-arbítrio – a visão de que os seres desenrola, e um comportamento individual é visto como
humanos e suas instituições são determinados por for- determinado por restrições estruturais que proporcionam
ças externas ou são dotados de autonomia e criados por estabilidade e controle absoluto à vida organizacional, e
seres humanos (Weeks, 1973; Driggers, 1977; Burrell e a elas reativo.

Figura 1 – Quatro visões da organização e da gestão

Nível macro
(populações e VISÃO DA SELEÇÃO NATURAL VISÃO DA AÇÃO COLETIVA
comunidades Escolas: Ecologia populacional, economia industrial, his- Escolas: Ecologia humana, economia política, pluralismo.
organizacionais) tória econômica.
Estrutura: Comunidades e redes de grupos semi-autôno-

Estrutura: A competição ambiental e a capacidade de ma- mos e partidários que interagem para criar ou modificar os

nutenção predefinem os nichos. A estrutura da indústria é ambientes, regras e opções da coletividade.


econômica e tecnicamente determinada.


Mudança: Barganha, conflito, negociação e compromis-



Mudança: Uma evolução natural das variações, seleções e sos coletivos por meio de ajustes partidários mútuos.

manutenções ambientais. O contexto econômico circunscre-


ve a direção e a amplitude do crescimento organizacional. Comportamento: Ordens racionais coletivamente construí-



das e politicamente negociadas.


Comportamento: Seleção ambiental aleatória, natural ou


econômica. Papel do gestor: Interativo.




Papel do gestor: Inativo



Q3 Q4

Q1 Q2

VISÃO SISTÊMICO-ESTRUTURAL VISÃO DA ESCOLHA ESTRATÉGICA




Escolas: Teoria dos sistemas, funcionalismo estrutural, teo- Escolas: Teoria da ação, teoria de decisão contemporâ-

ria da contingência. nea, gestão estratégica.




Estrutura: Papéis e posições ordenados hierarquicamente Estrutura: As pessoas e seus relacionamentos são organi-

para atingir a função do sistema eficientemente. zados e socializados para servir às escolhas e propósitos

daqueles que estão no poder.



Mudança: Divisão e integração de papéis para adaptar os


subsistemas às mudanças de ambiente, tecnologia, tama- Mudança: O ambiente e a estrutura são ordenados e

nho e necessidades de recursos. incorporam os significados das ações dos que estão no

poder.

Comportamento: Determinado, restrito e adaptativo.


Comportamento: Construído, autônomo e ordenado.


Nível micro Papel do gestor: Reativo.


Papel do gestor: Proativo.
(organizações
individuais)

Orientação determinista ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
Orientação voluntarista

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Historicamente, o intercâmbio das visões entre as abor- dades associadas a uma determinada posição. São os pa-
dagens voluntarista e determinista da análise organiza- péis, e não os indivíduos, que são estruturados; os seres
cional tem sido relacionado à maior distinção entre os humanos ocupam tais papéis, e devem ser cuidadosa-
níveis utilizados. Tradicionalmente, as organizações in- mente selecionados, treinados e controlados para aten-
dividuais têm sido o principal foco. No entanto, um nú- derem às exigências das posições que ocupam. Metas
mero recente de teóricos expandiu o nível de análise para organizacionais compartilhadas impõem a necessidade
o estudo de populações organizacionais inteiras sob a de conformidade e coerência. Os indivíduos são, portan-
premissa de que as populações exibem características e to, absorvidos como componentes de uma coletividade
dinâmicas próprias e distintas, não discerníveis em or- interdependente – um sistema estruturado e engrenado,
ganizações individuais. A principal razão para fazermos que molda e determina o comportamento deles.
a distinção micro–macro é focar as relações entre as par- De acordo com a visão sistêmico-estrutural, o papel
tes e o todo existentes em qualquer fenômeno organiza- básico do gestor é reativo. Trata-se de um papel técnico de
cional. Discussões sobre os níveis de análise apropriados ajuste fino da organização, de acordo com as exigências
têm englobado o debate voluntarista-determinista, mas de tal papel. A mudança assume a forma de “adaptação”;
isso não apaga a distinção analítica entre as duas dimen- ocorre como produto de alterações exógenas ao ambien-
sões em que os debates se baseiam. te. O gestor deve perceber, processar e responder ao ambi-
A classificação das escolas de pensamento nessas duas ente instável, e se adaptar por meio do rearranjo da estru-
dimensões produz quatro perspectivas básicas: as visões tura organizacional interna, para garantir-lhe a sobrevi-
sistêmico-estrutural, da escolha estratégica, da seleção vência ou a efetividade. O foco da tomada de decisão ge-
natural e da ação coletiva. Afirmamos que a maioria das rencial, portanto, não está na escolha, mas no acúmulo de
escolas de pensamento, senão todas, podem ser classifi- informações corretas sobre as variações ambientais, e na
cadas em termos dessas dimensões, refiram-se ou não os utilização de critérios técnicos para examinar as conse-
autores explicitamente a elas. Como indica a Figura 1, as qüências das respostas a demandas alternativas.
quatro perspectivas representam, qualitativamente, dife-
rentes visões de estrutura, comportamento, mudança e A visão da escolha estratégica
papéis da gestão organizacional. Elas oferecem um re- As críticas à abordagem sistêmico-estrutural surgiram sob
pertório de formas de abordagem e entendimento da teo- a forma de um “quadro de referência da ação” defendido
ria organizacional. por aqueles que aderiram a uma orientação mais volun-
tarista (Silverman, 1970). Este ponto de vista é utilizado
A visão sistêmico-estrutural para atacar as abordagens sistêmicas e estrutural-funcio-
No nível organizacional individual, o funcionalismo es- nalistas, e para inferir a existência de mecanismos de auto-
trutural e a teoria de sistemas são as escolas dominantes regulação que atendam às “necessidades” e “funções” do
do pensamento organizacional (Silverman, 1970). Essas sistema. Trata-se do problema da reificação. Em contras-
escolas influenciaram a teoria clássica da gestão (Gulick te, de acordo com a teoria da ação, as organizações são
e Urwick, 1937; Fayol, 1949) e a teoria da burocracia continuamente construídas, mantidas e alteradas pelas
(Merton, 1940; Blau e Scott, 1962), que, por sua vez, definições situacionais dos agentes – os significados sub-
precederam o desenvolvimento das teorias estruturais das jetivos e as interpretações que os agentes imputam ao
contingências (Woodward, 1965; Lawrence e Lorsch, seu mundo quando negociam e ordenam aquilo que na-
1967; Thompson, 1967). turalmente os cerca. Foi nesse sentido que surgiu uma
Apesar da diversidade e dos consideráveis debates variedade de abordagens – de intercâmbio (Blau, 1964),
entre essas escolas, elas compartilham uma orientação simbólica (Feldman e March, 1981), de interação
determinista na qual o comportamento organizacional é (Goffman, 1961), de ordem negociada (Strauss et al.,
como que moldado por uma série de mecanismos im- 1963), fenomenológica (Weick, 1979) e etnometodológica
pessoais que atuam como restrições externas sobre os (Bittner, 1965).
agentes. Consideram-se os elementos estruturais de tal A teoria da ação em análise organizacional tem sido
forma inter-relacionados, que instrumentalmente servem aplicada principalmente à “escolha estratégica” em situa-
ao alcance de metas organizacionais e são, portanto, “fun- ções de tomadas de decisões (Child, 1972). De acordo
cionais”. Os componentes básicos da estrutura são os com esta visão, a escolha está disponível para a delineação
papéis. Os papéis predeterminam um conjunto de ex- da estrutura organizacional, que pode ser modelada de
pectativas comportamentais, obrigações e responsabili- acordo com considerações políticas, mais do que com

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critérios técnicos. Os teóricos da decisão têm enfatizado Um paralelo ao conceito de nichos da ecologia popu-
que a ambigüidade está suficientemente difundida nas lacional pode ser encontrado na noção de estrutura da
organizações para permitir com freqüência a oportuni- economia industrial, definida como as dimensões eco-
dade de construção de tal resultado (March e Olsen, nômicas e técnicas relativamente estáveis de uma indús-
1976). A escolha estratégica também se estende ao am- tria, que provêm o contexto em que ocorre a competi-
biente organizacional. Assim, os teóricos da gestão es- ção. A estrutura industrial inibe o movimento entre os
tratégica e da dependência de recursos argumentam que mercados por meio das “barreiras de entrada”, e delimita
o ambiente não deve ser visto como um conjunto de res- severamente a exeqüibilidade e conveniência de diferen-
trições inflexíveis; ele pode ser mudado e manipulado por tes alternativas estratégicas em certos contextos indus-
meio de negociações políticas para ajuste dos objetivos da triais (Caves e Porter, 1977). A “conduta de mercado”,
alta gestão (Pfeffer e Salancik, 1978; Lorange, 1980). tradicionalmente compreendida, ou a estratégia de uma
Como mostra a Figura 1, a visão da escolha estratégi- firma, simplesmente reflete o ambiente (Porter, 1981).
ca chama a atenção para os indivíduos e suas interações, Além disso, historiadores econômicos, como Chandler
construções sociais, autonomia e escolhas, em oposição (1977), e economistas institucionais, como Williamson
às restrições da incumbência de seus papéis e inter-rela- (1975), sustentam que a estrutura industrial evolui de
ções funcionais no sistema. Tanto o ambiente quanto a determinadas maneiras. A tese geral é a de que uma eco-
estrutura são ordenados para incorporar os significados nomia competitiva, conduzida por transações de merca-
e ações dos indivíduos – particularmente daqueles que do entre muitas empresas pequenas e tradicionais, tem
estão no poder. Os gestores são considerados represen- evoluído para uma economia regulada e dominada por
tantes de um papel proativo; suas escolhas são vistas como transações internas e hierárquicas de grandes negócios.
autônomas e seus atos, como forças de ação enérgica que Isso tem ocorrido como resposta às forças ambientais
moldam o mundo organizacional. variáveis sobre as quais as organizações individuais exer-
cem pouco controle. Na visão desses autores, as trans-
A visão da seleção natural formações estruturais do ambiente industrial moderno
Contrastando com as abordagens sistêmico-estrutural e são governadas por leis e imposições econômicas impes-
da escolha estratégica, uma visão mais macro das rela- soais de eficiência administrativa, e não produzidas pela
ções entre organização e ambiente desenvolveu-se sob a estratégia de gestão. Os grandes negócios prevalecem não
forma da seleção natural, que não enfoca as organiza- por terem prosperado no acúmulo e exploração do po-
ções individualmente, mas sim as características estru- der de mercado, mas por serem instrumentos mais eficien-
turais e demográficas de populações completas de orga- tes do que o mercado para minimizar os custos das tran-
nizações ou indústrias. Dentre os que adotam essa pers- sações (Williamson, 1975), ou por coordenarem os flu-
pectiva, estão os ecologistas populacionais, os economis- xos de bens e serviços na economia (Chandler, 1977).
tas industriais e os historiadores econômicos. Em resumo, de acordo com a visão da seleção natural,
O modelo da ecologia populacional é baseado na no- a evolução da sociedade corporativa e sua infra-estrutu-
ção de que os recursos ambientais são estruturados em ra econômica é conduzida por forças ambientais. A mu-
forma de “nichos”, cuja existência e distribuição pela so- dança é explicada em termos da movimentação natural
ciedade são relativamente refratárias à manipulação de de recursos pela economia, mais do que em termos de
organizações individuais. Em conseqüência, esta visão ações gerenciais internas. Nesse sentido, o papel geren-
enfatiza deterministicamente que há limites definidos para cial pode ser descrito como inativo (veja a Figura 1) ou,
o grau de disponibilidade da escolha estratégica autôno- no máximo, simbólico (Pfeffer e Salancik, 1978, p. 263).
ma (Aldrich, 1979). Ao mesmo tempo, vê as organizações
como severamente limitadas na habilidade de adaptar suas A visão da ação coletiva
“formas” internas a diferentes nichos. Em resultado, as Em vez de conceber a sociedade corporativa como sujei-
organizações estão à mercê do ambiente, e ou bem “se ta a uma evolução ambientalmente determinada, é pos-
ajustam” fortuitamente a um nicho, ou dele são “excluí- sível concebê-la como construída e guiada por escolhas
das” e se extinguem (Hannan e Freeman, 1977). Esta vi- e propósitos coletivos. Essa observação é feita por ecolo-
são também implica um nível populacional de análise, visto gistas sociais (Emery e Trist, 1973), humano-ecologistas
que espécies inteiras de organizações estão sujeitas a so- (Hawley, 1950, 1968) e teóricos de planejamento social
breviver ou perecer, quaisquer que sejam as ações toma- (Vickers, 1965; Schon, 1971; Michael, 1973; Ackoff,
das individualmente por suas organizações. 1974; Warren, Rose e Bergunder, 1974). Eles sustentam

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que as condições sociais contemporâneas são ou deveriam ver um repertório de formas complementares com o in-
ser reguladas por ações propositais (voluntárias) e ocor- tuito de tornar quadrangular o conjunto dos fenômenos
rem num nível coletivo. Em vez de ver as organizações organizacionais. Isso sugere o desejo de se sobreporem
lançadas em uma batalha de sobrevivência competitiva as quatro perspectivas para prover um entendimento or-
por meio do confronto direto com o ambiente natural e ganizacional mais abrangente. Ao mesmo tempo, cada
exógeno, esses autores enfatizam a sobrevivência coleti- perspectiva contradiz as demais em aspectos-chave, pois
va alcançada pela colaboração entre organizações por cada uma apresenta sua própria interpretação distinta da
meio da construção de um ambiente social, regulado e realidade. Isso sugere o desejo de se contraporem as qua-
controlado, mediador dos efeitos do ambiente natural. tro perspectivas para levar os pontos de divergência ao
A noção-chave envolvida na idéia de sobrevivência desfecho de uma solução dialética. Conseqüentemente,
coletiva é a de uma rede interorganizacional. Uma rede é direcionamos agora a análise para os seis debates gera-
um sistema conector de relações de intercâmbio, negocia- dos na interação das quatro perspectivas.
do entre os membros de diferentes organizações, confor-
me moldam seus ambientes em conjunto (Cook, 1977). Sistema versus ação: Q1 vs. Q21
Essa rede consiste em um sistema de ação social de orga- Serão as organizações sistemas funcionalmente racionais
nizações interdependentes em simbiose, que ao longo do e tecnicamente restritos, ou são incorporações socialmen-
tempo assumem papéis especializados, num modelo de te construídas, subjetivamente significativas da ação in-
expectativas normativas, que definem direitos e condu- dividual? Esse debate se preocupa com a interação do
tas (Van de Ven, Emmett e Koenig, 1974; Benson, 1975). que Dawe (1970) chamou de “as duas sociologias”: uma
Essas normas – que Commons (1950) descreveu como que vê a ação individual como derivada do sistema social,
“regras de funcionamento da ação coletiva” – permitem outra que vê o sistema social como derivado da ação in-
à rede atuar como uma unidade, e tomar decisões que dividual.
alcancem os interesses individuais e coletivos das orga- Na teoria organizacional, Crozier e Friedberg (1980)
nizações que a compõem. tratam esse debate contrastando um “argumento sistêmico”
A estrutura política externa das redes interorganiza- (visão sistêmico-estrutural) e um “argumento estratégi-
cionais tem sido representada de diferentes formas: como co” (visão da escolha estratégica). O argumento sistêmico
um sistema pluralista de interação (Schon, 1971; inicia a análise a partir da organização como um todo e
Metcalfe, 1974; Trist 1979) e também como uma econo- aloca a ação individual de acordo com seu lugar e função
mia política (Benson, 1975), incorporada a estruturas de dentro do sistema. O indivíduo é apenas um componente
dominação e “controle hegemônico” (Clegg, 1981; sistêmico, uma irritação que deve ser controlada para que
Perrow, 1981). Mas, em ambos os casos, a mudança é uma integração funcional absoluta possa ser mantida (veja
vista como ativamente produzida por negociações polí- Howton, 1969).
ticas e definições sociais, em vez de determinada por for- A argumentação estratégica, por outro lado, inicia a
ças econômicas e ambientais neutras. partir do indivíduo e prossegue encontrando o sistema
A visão da ação coletiva enfoca simbioticamente as redes apenas como um resultado agregado das ações individu-
interdependentes, e também organizações semi-autônomas ais. Critica a explicação funcional, atestando que ela busca
que interagem para construir ou modificar seus ambientes considerar indiretamente os comportamentos, reportan-
coletivos, suas regras de trabalho e alternativas. O papel do do suas supostas conseqüências, e não diretamente, re-
gestor é interativo; ele transaciona com os outros por meio portando as ações específicas que os causam (Silverman,
de barganhas coletivas, de negociações, comprometimen- 1970). Para evitar a reificação da organização, a argu-
tos, manobras políticas e afins. Movimentos em direção a mentação estratégica trata a ação individual subjetiva-
soluções são orientados por normas, costumes e leis, que mente significativa como a principal força do comporta-
são regras de funcionamento da ação coletiva. mento organizacional. De acordo com essa visão, a orga-
nização não é mais um monólito funcionalmente coeso;
torna-se uma coalizão mutável (March, 1962; Georgiou,
DEBATES CENTRAIS NA 1973; Keeley, 1980), um sistema frouxamente acoplado
TEORIA DAS ORGANIZAÇÕES (Weick, 1976), ou mesmo uma anarquia organizada
(Cohen, March e Olsen, 1972).
Cada uma das quatro perspectivas representa apenas uma Uma reconciliação dialética, que escapa ao subjetivis-
visão parcial da realidade, para que juntas possam pro- mo unilateral da teoria da ação e ao mesmo tempo resis-

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te ao determinismo funcional, deve reconhecer que a ação O debate sistema/ação também está presente na ten-
individual sempre está, de alguma forma, limitada a evitar são entre a teoria da contingência, de um lado, e as teorias
a desintegração total do sistema. Entretanto, o sistema da gestão estratégica e da dependência de recursos, de
nunca está totalmente integrado a um corpo perfeitamen- outro. A teoria da contingência presume que as restri-
te coeso. As organizações mantêm um grau de coesão, mas ções contextuais apresentam efeitos obrigatórios nas
este deve sempre ser conquistado por meio de uma su- operações organizacionais. Em outras palavras, o con-
pressão parcial do antagonismo interno. Para Crozier e texto possui uma primazia causal; a gestão responde sim-
Friedberg (1980), equilibrar e gerir complexas tensões plesmente de maneira tecnicamente adequada. Em con-
internas é jogar um “jogo”. O jogo possui regras que de- trapartida, os teóricos da gestão estratégica e da teoria da
vem ser obedecidas para que a associação coletiva conti- dependência dos recursos apontam para o aumento de
nue. Com essas regras, entretanto, muitas estratégias dife- liberdade que a gestão possui para criar e definir o con-
rentes sempre são possíveis. Ademais, as regras podem ser texto organizacional. Os gestores selecionam de maneira
quebradas, mas apenas até certo ponto. O jogador perma- proativa o que será importante e que contexto operacio-
nece livre, mas, se quiser vencer, deve adotar uma estraté- nal será relevante para eles em seu ambiente. Podem ar-
gia em razoável conformação às regras, pois o abandono car com custos por ignorarem determinados fatores con-
completo do jogo é incapaz de atender a seus interesses. textuais, mas são apenas custos a serem ponderados em
Um debate paralelo surgiu das discussões acerca da relação aos custos alternativos; não são custos determi-
racionalidade na tomada de decisão. As abordagens es- nantes.
trutural-funcionais convencionais afirmam que a toma- Child (1972) tentou reconciliar essas visões indican-
da de decisão é predominantemente racional visto que do que, enquanto a “qualidade do ajuste” entre o con-
apresenta um comportamento funcional orientado para texto e a estrutura das organizações pode apresentar im-
resultados. A lógica objetiva de efetividade, baseada na plicações de desempenho restritivo aos gestores, essas
“racionalidade técnica” (Thompson, 1967, p. 14), é con- próprias limitações são definidas socialmente; elas po-
siderada funcional. O processo de tomada de decisão é dem ser determinadas em níveis baixos o bastante para
representado como um exercício de engenharia; gover- permitirem a busca de outros objetivos, não relaciona-
nado por leis inferidas de uma relação custo–beneficio, dos ao desempenho. Em outras palavras, o desempenho
de uma “lógica de custo e eficiência” (Roethlisberger e econômico pode ser apenas um dos múltiplos pontos de
Dickson, 1939), subjacente à ação gerencial. referência que influenciam a tomada de decisão. Enquan-
Para os teóricos contemporâneos da decisão, que em- to os gestores continuam experimentando restrições, fa-
pregam modelos de ação como referência, tal “racionali- zem-no apenas no sentido de terem escolhido o que para
dade” é apenas uma falsa aparência exterior, eles será uma limitação. Novamente, vemos que os dois
mistificadora, que obscurece os elementos irracionais lados da argumentação são ao mesmo tempo complemen-
difundidos na tomada de decisão. March e Olsen (1976) tares, contraditórios e convergentes.
e Weick (1979) sugeriram que a tomada de decisão não
é concebida como algo racionalmente elaborado para o Adaptação versus seleção: Q1 vs. Q3
alcance instrumental dos objetivos organizacionais, mas Serão as mudanças nas formas organizacionais explica-
como eventos que se desenvolvem simplesmente por uma das pela adaptação interna ou pela seleção ambiental? A
ou outra razão, seja por acaso, pelo hábito, seja por pre- primeira dessas explicações, a visão da adaptação inter-
ferências ou conveniências pessoais. Na realidade, a ação na, tem dominado historicamente a teoria organizacional.
pode preceder o objetivo. Os objetivos podem ser recons- Valendo-se de teóricos de sistemas que analisaram as or-
truções imaginárias, que imputam ordem e racionalida- ganizações sociais como “sistemas adaptativos complexos”
de às ações e às decisões depois que elas já ocorreram. (Buckley, 1968), os teóricos da contingência têm enfatiza-
Os arranjos organizacionais, portanto, não deveriam ser do que as organizações respondem às mudanças elabo-
mal interpretados como tendo uma demanda lógica ou rando ou modificando suas estruturas internas para man-
funcional. Eles se tornam indispensáveis apenas em vir- ter uma relação isomórfica com o ambiente. Por exemplo,
tude de nossas reflexões conscientes, que sobrepõem a a heterogeneidade ambiental deve ser combinada com a
lógica a uma ordem já estabelecida. Eis aqui a dialética: diferenciação e a integração internas para que o desempe-
será o sistema racionalmente planejado e construído, ou nho organizacional não padeça (Lawrence e Lorsch, 1967).
é a ação que simplesmente surge para em seguida ser Os ecologistas populacionais reagiram a essa perspec-
racionalizada? tiva de adaptação argumentando que ela exagera o grau

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de flexibilidade que os gestores das organizações têm para quenas organizações experimentam maior risco de ex-
ajustar suas formas estruturais (Aldrich e Pfeffer, 1976). clusão por estarem tipicamente presas a um único ni-
Há uma “inércia estrutural” induzida por custos irrecu- cho, ao passo que grandes organizações se espalham gra-
peráveis, precedentes históricos e resistências políticas a dativamente por muitos nichos e, por isso, fortalecem
mudanças (Hannan e Freeman, 1977). Dada essa inér- suas posições por meio da expansão e diversificação geo-
cia, se o nicho ocupado por uma organização não puder gráfica (Pennings, 1980). Dado que as forças da institu-
mais atrair recursos que sustentem uma forma particu- cionalização induzem invariavelmente à inércia estrutu-
lar de organização, essa forma se tornará obsoleta e será ral (Kimberly, 1980), permanece sem explicação, no en-
“extinta”. Simultaneamente, os recursos são transferidos tanto, como pequenas organizações conseguem se tor-
para novas áreas, criando nichos novos demais para que nar grandes empresas de sucesso sem ser antes excluí-
as adaptações limitadas de organizações existentes con- das. Isso pode ocorrer visto que a institucionalização inibe
sigam se ajustar adequadamente. Assim, devem ser “in- a adaptação em pequena escala e a curto prazo, e conduz
cluídas” formas organizacionais completamente novas. a um acúmulo de tensões quando a organização se torna
A seleção ambiental substitui, dessa forma, a adaptação gradativamente desajustada ao seu ambiente. Então, essa
interna na condição de maior instrumento de mudança. tensão é posteriormente resolvida não pela “mudança no
Tanto a perspectiva da seleção como a da adaptação sistema”, mas pela “mudança do sistema” (Parsons,
compartilham uma orientação determinista segundo a 1961). Isso explica as transformações “metamórficas”
qual a origem absoluta das mudanças é o ambiente. Mas (Starbuck, 1965, 1968) que as organizações empreen-
diferem em relação ao nível da análise (McKelvey, 1979). dem quando suas operações se espalham, abrangendo
Na visão da adaptação, as organizações respondem às novos produtos ou posições de mercado (Chandler,
mudanças refinando seus próprios ajustes às contingên- 1962). Uma vez estabelecida em um ou mais nichos, a
cias de seu ambiente de trabalho. A análise é estritamen- organização consegue evitar a exclusão ao ajustar sua li-
te baseada na unidade. Mas na visão da seleção não exis- nha de produtos ou serviços, e transferir recursos de áreas
te uma quantidade de ajuste fino adequada aos limites declinantes para esferas de operações mais pródigas.
locais de um nicho organizacional, pois a longo prazo o Mesmo que uma fraca atuação ainda induza à inércia es-
nicho de um tipo particular de organização pode desa- trutural as subunidades de um determinado nicho, a or-
parecer completamente. Assim, o foco muda para espé- ganização conseguirá manter sua vitalidade e seu vigor
cies ou populações de organizações que vêm e vão em no nível corporativo.
“ondas” como indústrias inteiras nascem e se extinguem Conquanto essa explicação da adaptabilidade das gran-
(Aldrich, 1979). des organizações complemente a visão da ecologia po-
Entretanto, os ecologistas populacionais admitem que pulacional, superando uma das maiores deficiências desta
o modelo da seleção natural funciona bem melhor para última, pouco contribui para desafiar a adequação de
organizações pequenas e desprovidas de poder, que ope- outra perspectiva que foca especialmente as grandes or-
ram em ambientes com recursos dispersos, do que para ganizações, ainda que se mantenha consistente com a
organizações grandes e politicamente bem relacionadas, visão da seleção natural. Trata-se do modelo de “falhas
que operam em ambientes com recursos concentrados de mercado”, oferecido por Williamson (1975). Esse
(Aldrich, 1979, p. 111-112). Isso sugere uma possível modelo é classificado como uma visão da seleção natural
reconciliação entre as perspectivas da seleção e da adap- no sentido em que trata da forma como o ambiente eco-
tação. O problema aqui é que as grandes organizações nômico “seleciona” uma espécie nova e importante de
raramente são excluídas (Edwards, 1979, p. 84-85).2 Por organização,– que Chandler (1977) descreveu como “a
essa razão, Lawrence (1981) afirmou que a perspectiva empresa multiunitária moderna”.
da seleção natural precisa ser complementada por uma A tese geral é de que os “mercados” são suplantados
perspectiva de adaptação pelo aprendizado. Ele argumen- por “hierarquias” quando param de funcionar adequa-
tou que, se uma organização sobrevive à seleção natural damente devido à “concentração de informação”, uma
nos primeiros estágios de crescimento, e se expande em distribuição assimétrica da informação que interfere na
qualquer direção – por exemplo, pela variedade de pro- alocação ótima de recursos nas transações de mercado.
dutos ou por área geográfica –, ela pode conseguir se A monitoração superior da organização e sua capacidade
adaptar a mudanças ambientais subseqüentes, que seriam de controle superam esse problema: reduzem os “custos
fatais em um estágio anterior. de transação” e restauram a eficiência. O crescimento das
A explicação para isso pode ser o fato de que as pe- grandes organizações hierárquicas é, portanto, determi-

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nado economicamente no sentido de que a organização entre a economia industrial e a gestão estratégica. Em
interna restabelece a operação natural da racionalidade contraste sistemático entre os dois campos, Porter apon-
econômica quando os mercados não conseguem mais ta diferenças de orientação, que pertencem a duas di-
executar suas funções. Ao mesmo tempo, essa racionali- mensões da Figura 1. Primeiro, enquanto os economis-
dade econômica opera no nível populacional de análise, tas industriais conseguem tomar a indústria como um
pois governa a operação de todo o mercado ou indústria. todo como unidade de análise, ao imaginarem que todas
A mudança dos mercados para as hierarquias é explicada as firmas da indústria reagirão de maneira idêntica aos
como um triunfo dos interesses do “sistema” econômico mesmos contextos econômicos, os teóricos da gestão es-
como um todo sobre as tendências oportunistas de seus tratégica se interessam pelos problemas de firmas indivi-
membros constituintes (Willamson, 1975, p. 27). A oti- duais, como entidades únicas, dotadas de forças e de fra-
mização da eficiência em alocar recursos por toda a eco- quezas únicas. Segundo, os economistas industriais apre-
nomia é uma notável força em operação. sentam, preferencialmente, uma visão determinista, por
Quando o modelo de falhas de mercado plausivelmente causa de suas análises industriais estáticas e estruturais,
estende a visão da seleção natural às grandes organiza- ao passo que o “campo da política possui uma ampla
ções, abre-se também para a reinterpretação dialética pela tradição em enfatizar a perspicácia, a criatividade, e até
visão sistêmico-estrutural. Thompson explicou de um mesmo vislumbra que algumas firmas demonstram ter
modo muito diferente como os mercados são suplanta- encontrado formas únicas de mudar as regras do jogo
dos pelas hierarquias, ou seja, “organizações sob normas em suas indústrias” (Porter, 1981, p. 613).
de racionalidade procuram limitar-se a atividades que, Dadas essas contrastantes orientações, não é surpreen-
se deixadas por conta da ação ambiental, representariam dente que Aldrich (1979) tenha confiado na literatura
contingências cruciais” (Thompson, 1967, p. 39). De da economia industrial para delimitar até que ponto a
acordo com a explicação de Thompson para tal fenôme- escolha estratégica está disponível para as organizações.
no, não são os trabalhos racionais de um sistema econô- Esse argumento circunda a premissa da existência de ni-
mico que importam, mas as normas da racionalidade téc- chos, ou combinações distintas de recursos e outras res-
nica que governam as operações internas das organiza- trições no ambiente. O conceito de nicho implica enfo-
ções particulares. São os interesses da organização em que nas populações organizacionais em vez de nas orga-
foco que representam demarcações, e não os interesses nizações individualmente, pois a distribuição dos recur-
do mercado econômico. As hierarquias não são sos econômicos e de outros tipos, que formam os nichos,
subprodutos das falhas de mercado agindo simplesmen- provê suporte a espécies completas de organizações. O
te como mecanismos alternativos para alocação de re- destino de cada organização individual está atrelado ao
cursos econômicos em beneficio da sociedade; ao con- fato de pertencer a um tipo particular de população, pois
trário, são instrumentos gerenciais para controle, redu- as organizações não conseguem se adaptar facilmente a
ção e remoção de contingências que ameacem o funcio- nichos diferentes. As forças macroeconômicas, sociais e
namento técnico das organizações. De acordo com essa políticas que apóiam o surgimento e a dissolução de ni-
visão, a interiorização representa uma absorção das ame- chos subjugam a ação gerencial estratégica a longo pra-
aças externas, e não uma falha de mercado. Incorpora- zo, pois apenas algumas poucas organizações, poderosas
se, assim, a lógica da adaptação organizacional, e não a e politicamente bem relacionadas, conseguem reagir de
lógica da evolução ambiental. Trata-se do determinismo forma significativa a essas forças.
tecnológico aplicado às organizações individuais, e não Em contrapartida, os teóricos da escolha estratégica
do determinismo econômico aplicado às populações or- vêem o ambiente como um “domínio”, que os gestores
ganizacionais em um sistema de mercado.3 Vemos aqui ordenam, definem e influenciam (Levine e White, 1961).
novamente uma tensão dialética; a essência do assunto é Rumelt (1979) reagiu então à posição da seleção natural
a mesma, o que se altera é o ângulo da câmera. argumentando que a capacidade de adaptação a novos
nichos é refletida numa postura estratégica particular,
Nichos restritos versus domínios adotada individualmente pelos gestores das organizações.
ordenados: Q2 vs. Q3 A presença de estratégias idiossincráticas produz varia-
Será a vida organizacional determinada por restrições am- ções de desempenho entre as organizações que perten-
bientais inflexíveis ou criada ativamente por escolhas ge- cem às mesmas espécies, mas que conseguem criar seus
renciais estratégicas? Esse debate foi recentemente des- próprios nichos de mercado e produtos distintos. Assim,
tacado na discussão de Porter (1981) acerca da relação são as transações particulares com as quais os gestores

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das organizações se comprometem que alteram suas po- insumos para ela, como afirmariam os ecologistas popu-
sições no ambiente, “sem alterar o próprio ambiente” lacionais. O modelo da variação, seleção e retenção pa-
(Rumelt, 1979). Outros teóricos têm argumentado que rece assim igualmente compatível com ambas as visões,
mesmo a macroestrutura do ambiente se altera em res- da seleção natural e da escolha estratégica.
posta às estratégias corporativas. Caves e Porter (1977) O fato de não haver algo pertencente ao modelo da
e Salop (1979), por exemplo, mostraram como os gesto- variação, seleção e retenção que tenda para a orientação
res podem influenciar ou mesmo impedir a entrada de determinista sugere que o sucesso dos ecologistas popu-
suas firmas em indústrias escolhendo cuidadosamente lacionais em atribuir a primazia causal ao ambiente se
suas estratégias. Tais observações requerem que a pre- apóia mais na adoção característica de um nível de análi-
missa tradicional da economia industrial – de que a es- se populacional do que em qualquer outra coisa. A ação
trutura da indústria é relativamente constante, além de de organizações individuais parece contar pouco em face
ser o principal determinante da estratégia – seja das tendências demográficas de longo prazo que afetam
contrabalançada por uma “teoria de estruturas industri- populações inteiras. Se for verdade, contudo, que a apli-
ais dinâmicas”, que, em vez de considerar a indústria cação bem-sucedida do modelo de ecologia populacio-
somente como uma variável independente que determi- nal à seleção ambiental se apóia nos seus níveis de análi-
na o comportamento da firma, também trate a estrutura se (Aldrich, 1979, p. 107), então as conclusões teóricas
de mercado como uma variável dependente, que venha a da ecologia populacional que enfatizam a importância
refletir as estratégias passadas das firmas na indústria, de restrições ambientais externas são baseadas em uma
através do tempo (Brock, 1981). combinação analítica das duas dimensões da Figura 1.
O contraste entre as visões da seleção natural e da es- Em outras palavras, o modelo de ecologia populacio-
colha estratégica cristaliza-se na modificação feita por nal atribui ao ambiente o que o nível de análise popula-
Weick (1979) do modelo de variação, seleção e reten- cional realmente alcança. Se focarmos populações de
ção, utilizado pelos ecologistas populacionais (e.g organizações, as escolhas estratégicas das organizações
Aldrich, 1979) e reclassificado como um modelo de “or- individuais devem assumir importância mínima. É as-
denação, seleção e retenção”. A substituição feita por sim simplesmente porque a troca do nível de análise está
Weick da ordenação pela variação serve para enfatizar destinada a alcançar apenas aquele efeito. Ao procurar
que “os gestores constroem, rearranjam, selecionam e entender as dinâmicas que sustentam as distribuições de
destroem muitas ‘características’ objetivas que os cercam”, organizações agregadas pelas condições ambientais, ado-
quando definem e criam literalmente suas próprias res- tamos um foco macro na população, antecedendo auto-
trições (Weick, 1979, p. 164). Os critérios de seleção não maticamente, assim, uma visão micro das atividades de
são tão incorporados às condições ambientais externas organizações individuais. Mas concluir, a partir de enfo-
quanto fixados nos membros organizacionais. A seleção ques restritos, que o ambiente possui uma primazia, e
conquista espaço quando os indivíduos impõem signifi- que é “o ambiente que seleciona” (Hannan e Freeman,
cados e dão sentido a seus dados brutos ordenados. Es- 1977), menospreza incorretamente o papel do
ses padrões de dados que se ajustam a seus esquemas de voluntarismo na vida organizacional. Apesar de ainda ser
interpretação e a seus repertórios cognitivos são seleci- verdade que as ações de pequenas organizações indivi-
onados por eles, enquanto o resto é eliminado. Os critérios duais pouco importam para as tendências de longo pra-
de seleção são específicos para os indivíduos particula- zo identificadas com o nível populacional, não se deve
res nas espécies organizacionais, em vez de serem trans- sucumbir à sedução de representar esse fato em termos
mitidos a espécies completas de organizações, como res- de forças naturais vagas e de restrições externas localiza-
trições dos nichos. Mais uma vez, o processo de retenção das num ambiente anônimo. Isso é confirmado pelo fato
não pertence às características do ambiente, mas a “ma- de que é possível usar um nível de análise populacional
pas causais”, construídos a partir das experiências pas- ligado a uma orientação voluntarista, como ilustra, a se-
sadas dos indivíduos. Esses mapas causais reforçam pro- guir, o contraste entre as visões da seleção natural e da
cessos de ordenação e seleção, provendo-os com suges- ação coletiva.
tões, padrões de observações e processos de exame e
monitoramento, que desempenham papel ativo na cons- Agregados econômicos versus
trução de um ambiente “artificial” a partir do ambiente coletividades políticas: Q3 vs. Q4
objetivo. Conseqüentemente, Weick insiste em que am- Deve o ambiente ser visto como um simples agregado de
bientes significativos são produtos da organização, e não organizações governadas por forças econômicas exter-

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nas, ou como uma coletividade de organizações integra- tes. Dessa forma, o funcionamento interno da população
da e governada por suas próprias forças sociais e políti- é protegido dos efeitos ambientais, representando um
cas internas? No nível da análise populacional, a dialéti- esforço criativo e coletivo da população para gerenciar e
ca do voluntarismo-determinismo entre as teorias ecoló- controlar sua existência, parcialmente livre da necessi-
gicas enfoca duas questões: 1) a definição de “popula- dade de reagir às intrusões do ambiente. “A união
ção” propriamente dita; e, 2) se as populações organiza- simbiótica aumenta a eficiência da produção, ou do es-
cionais são conduzidas por dinâmicas econômicas ou forço criativo; a união comensal, já que suas partes são
dinâmicas sociais e políticas. Essas duas questões inter- homogêneas, pode apenas reagir, e o faz, portanto, so-
relacionadas serão separadas por conta de uma clarifica- mente em ações protetoras e conservadoras” (Hawley,
ção analítica. 1968, p. 332).
Na visão da ecologia populacional, uma população é Por seu enfoque nas populações de organizações ho-
definida como um “agregado” de organizações “relativa- mogêneas, relacionadas de forma comensalística – ou seja,
mente homogêneas” (Hannan e Freeman, 1977). Todas indiretamente relacionadas devido à dependência comum
as organizações da população compartilham certos “ele- do ambiente –, a visão da seleção natural chama a aten-
mentos-chave” que constituem sua “forma comum” e, ção para a condição de sistema aberto, em que cada mem-
conseqüentemente, uma vulnerabilidade recíproca ao bro da população interage diretamente com o ambiente
ambiente. Essa vulnerabilidade comum explica a ocor- e, por isso, é por ele diretamente influenciado. A influên-
rência e a distribuição de diferentes espécies organiza- cia ambiental é destacada ao se definir a população em
cionais em diferentes condições ambientais. termos de sua vulnerabilidade ambiental compartilhada.
Em contrapartida, os humano-ecologistas (Hawley, Por definição, quanto maior essa vulnerabilidade, maior
1950, 1968; Duncan, 1964; Boulding, 1978) não defi- o efeito populacional.
nem uma população em termos de sua suscetibilidade Por seu enfoque na interdependência simbiótica e do
comum ao ambiente, mas em termos da padronização movimento em direção às redes fechadas, removendo a
interna das relações entre os membros que a constitu- maior parte da população do contato direto com o am-
em. Para os humano-ecologistas, a população não é uma biente, a visão da ecologia humana diminui automati-
aglomeração incoerente, mas sim uma organização coe- camente os efeitos do ambiente, enquanto destaca as
rente – um “sistema integrado, com algum grau de ca- construções sociais da ação coletiva. Por definição,
ráter unitário” (Hawley, 1968). A “organização” inter- quanto maior for o isolamento da influência do ambien-
na é o grande atributo que transforma o grupo de orga- te com o fechamento do sistema, maior será o efeito
nizações em uma coletividade, com suas características populacional.
próprias e distintivas. Em resumo, a ecologia populacional foca sua atenção
A concepção de comportamento coletivo dos huma- no ambiente “natural”, constituído por forças fora de al-
no-ecologistas se estende além da noção de Hannan e cance do controle organizacional. As organizações po-
Freeman de populações de espécies únicas. Essas popu- dem disputar entre si recursos ambientais, em uma con-
lações consistem em um conjunto homogêneo de orga- corrência competitiva pela sobrevivência, mas enfim seus
nizações que compartilham uma relação competitiva e destinos são determinados pelo ambiente. Em contra-
“intra-específica”, conhecida como “comensalismo”. Para partida, a ecologia humana foca a atenção na construção
os humano-ecologistas, uma população surge somente de um ambiente “social” protetor, que substitui o ambien-
quando a qualidade de unidade corporativa ou de coe- te natural como influência crítica. Com efeito, os grupos
são interna pode ser a ela atribuída. Tal coesão deriva de conspiram em simbiose para assegurar a existência con-
uma interdependência funcional, que se desenvolve à base tínua das redes interorganizacionais como um todo.
de diferenças complementares entre unidades heterogê- Esse enfoque contrastante entre os ambientes “natu-
neas, especialmente as que compartilham uma “relação ral” versus “social” tem também implicações para a ava-
interespecífica”, conhecida como simbiose. liação de cada visão constituinte da dinâmica essencial
Na visão da ecologia humana, a adaptação obtém es- em que se baseia a atividade organizacional. Assim, para
paço por um mecanismo de formação de redes fechadas. os ecologistas populacionais, “as pressões ambientais fa-
A simbiose resulta do fato de que algumas organizações zem da competição por recursos a força fundamental das
se tornam funcionalmente especializadas na obtenção de atividades organizacionais” (Aldrich, 1979, p. 27-28), e
recursos diretamente do ambiente, enquanto outras ga- o modelo de ecologia populacional deve funcionar me-
rantem seus recursos ao organizar a demarcação de limi- lhor em ambientes dotados de “recursos dispersos”

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(Aldrich, 1979, p. 111), ou seja, em ambientes que se mercados falham com freqüência quase três vezes mais
aproximam dos mercados de perfeita concorrência.4 Toda do que as de firmas com maior controle do mercado,
a noção de que os relacionamentos entre as organizações enquanto estas últimas recebem aproximadamente lucros
são indiretamente mediados por processos naturais am- 30% maiores que as primeiras.
bientais implica que algo semelhante à “mão invisível” Enquanto esses autores destacam mais a importância
de Adam Smith (1937) esteja operando. A dinâmica é política desse fenômeno do que a econômica, outros o
essencialmente a mesma da competição econômica. têm incorporado ao modelo de seleção natural. Como
Por outro lado, a ênfase dos humano-ecologistas em notamos anteriormente, Williamson (1975) argumentou
ambientes socialmente construídos e regulados tende a que os grandes negócios crescem quando os mercados
destacar mais a importância das forças sociais e políticas falham na alocação eficiente de recursos, tanto que é
mais do que das econômicas. O poder passa a desempe- necessário um monitoramento hierárquico das transa-
nhar um papel explícito quando as unidades diretamen- ções para restaurar a racionalidade econômica pela re-
te responsáveis pela obtenção de recursos do ambiente dução de custos. Similarmente, Chandler (1977) argu-
“natural” conseguem regular as condições essenciais para mentou que a eficiência administrativa auxilia o cresci-
o funcionamento de outras unidades da rede, que possuem mento de grandes negócios porque estes têm planejamen-
relações apenas indiretas com esse ambiente. Ainda que to e coordenação de produtos padronizados, em indús-
algum grau de poder seja retido por todas as unidades, trias de grande escala. Em outras palavras, as forças eco-
esse poder varia inversamente com o número de estágios nômicas – especialmente as vantagens econômicas da
em que cada unidade é removida do contato direto com integração vertical – levaram ao surgimento de grandes
o ambiente, resultando que as relações de poder entre as empresas, pois as firmas que não se ajustaram às condi-
organizações se desenvolvem de forma ainda mais ela- ções das mudanças mercadológicas e tecnológicas por
borada quando as redes interorganizacionais alcançam meio da interiorização do ambiente não conseguiram
um maior grau de fechamento (Hawley, 1968). Quando competir e foram excluídas.
isso ocorre, a negociação política desempenha um papel Perrow (1981) criticou essa explicação de eficiência
gradativamente mais importante na regulação de fluxos neutra por não considerar a possibilidade de que a inte-
de recursos econômicos em toda a rede. Apesar de esses gração vertical ganha espaço com o propósito um tanto
fluxos de recursos ainda poderem se caracterizar como abominável de cortar os suprimentos dos competidores
trocas econômicas, na medida em que os membros po- ou de dominar os meios de distribuição, em vez de sim-
derosos da rede consigam definir seus próprios termos plesmente reduzir os custos econômicos. Ainda que ele
de troca e os imponham aos demais, exige-se uma análi- tenha concordado que os fatores econômicos fornecem as
se político-econômica. Benson (1975) afirmou que o pro- condições necessárias para a integração vertical ganhar
cesso de aquisição de recursos em redes interorganiza- espaço – já que nem todas as indústrias realizam ou po-
cionais está inevitavelmente ligado à distribuição de po- dem realizar a integração vertical –, é o controle do poder
der, e deve ser adequadamente analisado como uma “eco- e do mercado e não a eficiência econômica que dá a moti-
nomia política”. vação essencial para tal crescimento. Assim, surge nova-
Outro aspecto desse mesmo debate surge entre os mente a dialética: a concentração industrial é um poder
economistas industriais e os economistas políticos, e rela- hegemônico; o sucesso econômico é uma dominação po-
ciona-se à crescente dominação dos grandes negócios no lítica; a organização corporativa é um controle social.
cerne das redes interorganizacionais. A construção de um
ambiente social artificial em uma comunidade de orga- Ação individual versus ação coletiva: Q2 vs. Q4
nizações é uma forma de garantir imunidade às realida- Estará o comportamento organizacional preocupado prin-
des da competição no ambiental natural. Uma forma cipalmente com a ação individual ou com a coletiva? Essa
igualmente importante é controlar o ambiente natural questão enfoca a tensão básica entre os modelos de refe-
absorvendo-o nos limites corporativos de empresas in- rência individuais e coletivos, quando são apresentados
dividuais. Galbraith (1967) e Edwards (1979) têm indi- em níveis micro e macro de análise organizacional. Es-
cado essa eliminação do intercâmbio do mercado como sencialmente, as teorias organizacionais e de gestão as-
o principal método de promover o controle econômico sumiram uma orientação de interesse individual, aderin-
por parte de uma elite de grandes corporações. Edwards do ao modelo racional de comportamento administrati-
(1979, p. 83) fornece evidências disso, notando que as vo. Em contrapartida, o problema do interesse coletivo
fusões de empresas que controlam menos de 50% de seus permanece em grande medida ignorado.

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O axioma básico do comportamento racional é “ma- incentivo individual e ‘seletivo’ estimulará um individuo
ximizar” ou, ao menos, “satisfazer” interesses individuais racional em um grupo latente a agir de forma orientada
(Simon, 1976). Aceita-se uma ordem de preferência con- pelo grupo”.
sistente, em que os indivíduos ou as organizações têm Reagindo a esse ímpeto individualista dos economis-
uma função objetiva e claramente específica, com a qual tas clássicos, para quem “o indivíduo humano age de certa
conseguem selecionar a melhor de uma série de alterna- forma como um átomo” (Commons, 1950, p. 36),
tivas. “Se aceitarmos que as organizações possuem me- Commons (1950, p. 14) argumentou que “os indivíduos
tas e que tais metas têm algumas propriedades clássicas não são entidades independentes nem auto-suficientes;
de estabilidade, precisão e consistência, podemos tratar e a sociedade não é a soma dos membros individuais”. A
a organização como um tipo de ator racional” (March, liberdade individual não é um direito inato; é uma con-
1981, p. 215). De fato, toda a teoria do comportamento quista coletiva. A única forma de a liberdade individual
racional nas organizações se apóia na premissa de que ser obtida é pela aderência coletiva às “regras” que defi-
seus participantes compartilham objetivos comuns, sem nem e protegem os “direitos” individuais de todos. Os
a qual o “trabalho cooperativo em equipe” não seria pos- direitos e regras não são determinados individualmente;
sível (Simon, 1976). vêm de normas, costumes e leis impostos por uma sobe-
Mas os stakeholders organizacionais com freqüência rania. Commons se referiu a essas normas, costumes e
possuem objetivos conflitantes, particularmente em si- leis como “regras de funcionamento da ação coletiva”,
tuações de escassez. Então, o modelo racional não se uma noção baseada no conceito legal do “homem razoá-
transforma em uma teoria competitiva dos jogos, com vel”. O homem razoável segue uma lógica bem diferente
matrizes de retornos probabilísticas para cada participan- daquela do homem racional (Van de Ven e Freeman,
te, nem são realizadas tentativas de alterar as preferências 1983). No direito, o homem razoável deve atender a um
de partes discordantes em um consenso de que o “traba- padrão de conduta uniforme e coletivo. Este é determi-
lho em equipe” prevaleça novamente. As teorias clássi- nado por uma avaliação comunitária e deve ser o mesmo
cas da firma lidam com esse problema em dois estágios. para todas as pessoas, “pois a lei não deve apresentar
Primeiro, as demandas conflitantes são convertidas em favorecimentos” (Prosser, 1971, p. 150).
preços, tendo cada indivíduo negociado os termos ne- Porém, o comportamento razoável não nega o com-
cessários para concordar em procurar as preferências do portamento racional e proporciona um modelo institu-
outro. Segundo, os gestores e empreendedores impõem cional em que ele consegue atuar. Os indivíduos buscam
seus objetivos à organização em troca de salários nego- claramente seus próprios objetivos, tentando maximizar
ciados e pagos aos empregados (March, 1981). Além seus interesses da melhor maneira possível em determi-
dessas negociações salariais, as organizações utilizam nadas condições. Conseqüentemente, o conflito e a rup-
elaborados sistemas de motivação, promoção, recom- tura são tão presentes e importantes quanto o consenso
pensas e controles, para manter a ordem e o consenso e a ordem, fato reconhecido pela perspectiva pluralista
entre os participantes organizacionais. Assim, o con- de Lindblom (1965), Wilson (1973), e Dahl e Lindblom
trato de trabalho é reforçado por um sistema de incen- (1976). Esses autores analisam a ação coletiva como um
tivos que fornece aos administradores meios de assegu- processo incremental, que surge de ajustes mútuos entre
rar o consenso dos empregados em prol dos objetivos grupos de múltiplos interesses partidários. Ainda que os
organizacionais. atores partidários persigam seus próprios interesses, fa-
É nesta linha que Olson (1965) argumentou que, por zem-no, no entanto, dentro de limites, necessitando ne-
ser sempre possível aproveitar-se do esforço alheio (free gociar com os demais para estabelecer compromissos
rider problem), não há justificativa racional para que in- coletivamente aceitáveis. Essa é a função desempenhada
divíduos contribuam para os “bens coletivos”. Em pe- pelas regras da ação coletiva: incorporam uma ordem
quenos grupos, ou oligarquias, os indivíduos podem institucional, que define o limite em que os indivíduos
querer contribuir voluntariamente para obter bens cole- conseguem realizar sua própria vontade.
tivos por uma norma comum de reciprocidade, confian- Esse debate da ação individual versus a coletiva fica
ça interpessoal, amizade, pressão social, ou uma preocu- evidente na literatura sobre os relacionamentos entre as
pação altruísta com o bem-estar do grupo como um todo. organizações e o ambiente. Prevalece novamente a pers-
Entretanto, para grandes grupos esses incentivos dimi- pectiva do indivíduo como ator racional, fato refletido
nuem, e o problema de geração da ação coletiva cresce pela tendência de autores a adotar o ponto de vista da
de modo agudo. Para Olson (1965, p. 51), “apenas um organização em foco. Por exemplo, a teoria da depen-

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dência de recursos (Pfeffer e Salancick, 1978) atesta que generalizadas, cobrindo boa parte da atividade coletiva.
os gestores perspicazes procuram aumentar seu poder Assim, assumem o papel de forças sociais autônomas,
em relação às fontes limitadas de dependência do ambien- conduzindo e regulando a ação coletiva. Essa é a função
te, alcançando, de um lado, barganhas favoráveis junto desempenhada pelas “estruturas de pensamento institu-
aos parceiros de troca, e de outro, evitando desacordos cionalizadas” de Warren, Rose e Bergunder (1974), e pela
custosos. Os recursos necessários precisam ser adquiri- racionalidade de classe de Useem (1982), nas redes inte-
dos, mas apenas de forma defensiva, evitando a reden- rorganizacionais.
ção da organização a uma autonomia excessiva, ou a uma Assim se interiorizam os padrões normativos de inte-
grande dependência de grupos externos (Thompson e ração interorganizacional, constituindo o que Durkheim
McEwan, 1958). A interação resultante é vista como um (1933) chamou de “base moral dos contratos sociais”.
tipo de jogo: os gestores reagem estrategicamente às Isto é, as normas adquirem um senso de moralidade em
manobras dos outros. Mesmo os casos de colaboração vez de uma inclinação pragmática, de modo que os res-
aparente são analisados do ponto de vista da teoria dos ponsáveis por decisões organizacionais são impelidos a
jogos. Assim, parcerias, coalizões e acordos informais são aceitá-las e executá-las. No entanto, a obrigação moral
vistos como jogos de causas mistas. Trata-se de alianças não deve ser interpretada como uma limitação externa,
com propósitos convenientes, porém temporárias, feitas pois para Commons e Durkheim é uma força libertadora.
somente para atenderem ao próprio interesse de cada Ao criar padrões estáveis de associações coletivas, livra
parceiro da coalizão, e enquanto puderem fazê-lo. as organizações da necessidade de criar novos padrões
Por outro lado, uma orientação genuinamente coleti- de atuação para cada situação enfrentada. A complacên-
va também aparece na literatura organizacional-ambien- cia com as normas é mais voluntária do que coercitiva.
tal. Benson (1975) e Pefeffer e Salancick (1978, p. 147) Isso representa a adoção de uma orientação coletiva, com
têm esboçado algumas normas – ou regras de funciona- a qual os gestores e as organizações se identificam.
mento da ação coletiva –, que operam nas redes interor- Em resumo, os grupos organizacionais são atores in-
ganizacionais. Tais normas estabilizam o funcionamen- dependentes e também membros envolvidos em uma
to coletivo de sistemas de organizações interdependen- coletividade maior. De um lado, agem de maneira autô-
tes e, ainda assim, não suplantam completamente a au- noma para maximizar as chances de conseguir seus ob-
tonomia, a busca de interesses localizados ou o surgi- jetivos individuais, alheios aos da coletividade. De outro
mento de conflitos entre organizações. Em vez disso, fa- lado, aderem aos padrões unificantes de ordens sociais e
cilitam ajustes mútuos entre os múltiplos interesses par- culturais, ao assumirem responsabilidades parciais em
tidários, em um sistema pluralista que não é nem indivi- uma entidade social maior. Em outras palavras, o gestor
dualista e anárquico, nem totalitário. Como indicaram atua como jogador e político. A necessidade de estabele-
Metcalfe (1974) e Van de Ven (1980), a participação cer um equilíbrio entre essas pressões opostas forma a
pluralista pode reconciliar tanto os interesses seccionais base do que Thompson (1967, p. 48) descreveu como “o
quanto o bem-estar coletivo nas relações interorganiza- paradoxo da Administração”. A existência desse parado-
cionais. xo produz não apenas contradições na prática da vida
Mas um problema permanece: se as organizações re- cotidiana das organizações, mas também, como vimos,
presentam interesses secionais, por que aderem volunta- uma tensão dialética na teorização.
riamente às regras coletivas de funcionamento – particu-
larmente às que não são legalmente impostas –, em vez Organizações versus instituições: Q1 vs. Q4
de tentar explorar inexoravelmente as dependências das Serão as organizações instrumentos técnicos, neutros,
outras? A resposta está na compreensão de que, ao construídos para atingir metas, ou manifestações insti-
interagir, os representantes das organizações comparti- tucionalizadas dos interesses e da estrutura de poder da
lham valores que transformam os interesses secionais em sociedade? O ponto de partida desse debate é a distinção
orientações coletivas. Quando os padrões de atuação feita por Selznick (1957) entre “organizações” e “insti-
convenientes são descobertos por tentativa e erro, ten- tuições”. De acordo com Selznick, as “organizações” são
dem a se repetir. Posteriormente, os gestores que intera- delineadas de acordo com uma “lógica de eficiência”; são
gem continuamente passam a compartilhar a idéia de que “instrumentos técnicos” da mobilização de atividades em
“essa é a forma como as coisas devem ser feitas”. Com prol de um conjunto de objetivos. Podem ser considera-
tal desdobramento, as normas se dissociam das situações das “ferramentas a ser usadas ou instrumentos racionais,
específicas em que surgiram no início, e passam a ser construídos para a execução de uma tarefa”. Diferente-

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mente, as “instituições” incorporam valores e não ape- porque seu sistema de controle capacitou os gestores, na
nas os requisitos técnicos para a execução da tarefa em aquisição de força de trabalho, a extrair dos trabalhado-
questão. São “organismos que respondem e são res um valor de produção maior do que precisavam em-
adaptativos”, produtos das “necessidades e pressões so- pregar. Em outras palavras, maior produtividade resulta
ciais”, que as moldam e formulam. Como tal, incorpo- de maiores insumos de trabalho em vez de um trabalho
ram respostas e interesses próprios dos seus ambientes. de transformação mais eficiente. Certamente, isso faz com
Como indicam Meyer e Rowan (1977), as instituições que a produção capitalista pareça mais eficiente para a
são menos significativas por seus atributos técnicos do gestão, mas é eficiente apenas de seu próprio ponto de
que pelo papel que desempenham na sociedade; simples- vista (Clawson, 1980). Para os trabalhadores, representa
mente refletem as estruturas institucionais em que estão apenas exploração e dominação.
inseridas. De acordo com essa visão, a forma de organização ca-
Há pouca dúvida de que a imagem da organização pitalista não é conduzida por leis imutáveis de eficiência
como ferramenta tem dominado a história da teoria or- técnica, mas por interesses socialmente moldados das
ganizacional, como demonstra o “Modelo Racional” pre- elites gerenciais. Ademais, tal dominação é considerada
valecente de Gouldner (1959). Mas há uma reação con- enraizada em fatores que emanam de circunstâncias par-
temporânea a essa escola de pensamento, desde que Child ticulares de fora da fábrica, na medida em que ocorre em
(1972) atacou a explicação da teoria da contingência acer- um contexto social mais amplo. Por exemplo, Edwards
ca do comportamento organizacional por sua referência (1979) explicou a exploração capitalista referindo am-
a imperativos funcionais, em vez da ação política. Essa plamente os desdobramentos da força de trabalho: a trans-
crítica ganhou particularmente força com o trabalho dos formação da força de trabalho em proletariado, o deslo-
teóricos radicais, dos marxistas e dos teóricos da econo- camento da agricultura para a indústria, o declínio da
mia política (Marglin, 1974; Stone, 1974; Clegg; 1975, importância das habilidades dos trabalhadores, e a seg-
1979, 1981; Benson, 1977a, Goldman e Houten, 1977; mentação dos mercados de trabalho. Foi assim que Burrell
Salaman, 1978; Burawoy, 1979; Edwards, 1979; Clegg e (1981) descreveu as condições organizacionais contem-
Dunkerly, 1980; Clawson, 1980). Esses autores rejeita- porâneas, como “epifenômenos” de forças que permeiam
ram a idéia de que a estrutura organizacional seja a sociedade. A dominação política nos locais de trabalho
delineada com base numa lógica neutra de eficácia téc- é o reflexo das dinâmicas mais abrangentes do capitalis-
nica. Em vez de ver as restrições estruturais como neces- mo. Eventos aparentemente distantes dos locais de tra-
sidades funcionais, cuja existência se justifica pela refe- balho propriamente ditos impõem importantes limita-
rência aos ideais de “eficiência” e “racionalidade”, cha- ções às relações nesses locais. Sob essa luz, o confronto
maram a atenção para as funções e vantagens secionais entre trabalhadores e gerentes nas organizações deve ser
de elementos organizacionais aparentemente neutros, e visto como simplesmente um microcosmo da arena mais
expuseram a eficiência e a racionalidade como ideologias abrangente do conflito de classes.
que estimulam, encobrem e justificam a natureza não Assim, o foco se desloca da “problemática da estrutu-
igualitária das estruturas organizacionais. Em vez da efi- ração racional” (Benson, 1979), inerente à visão
ciência técnica, a dominação política é considerada a base sistêmico-estrutural, para os relacionamentos entre re-
da delineação da estrutura organizacional. des que se definem social e politicamente numa visão da
O argumento convencional de que os métodos de pro- ação coletiva. A unidade característica de análise passa a
dução capitalista são mais produtivos que suas formas ser a estrutura do ambiente social propriamente dito (M.
anteriores do trabalho organizacional – por serem mais Meyer, 1978). A estrutura e o funcionamento organiza-
eficientes – é normalmente contraposto pela questão “efi- cional devem ser vistos em termos de prioridades da so-
ciente para quem?” (Perrow, 1980). A crítica aqui é de ciedade hospedeira em vez das conseqüências das for-
que a eficiência é definida de forma a atender aos inte- mas processuais ou tecnológicas particulares dos proces-
resses da gestão. Uma definição neutra mediria a eficiên- sos de trabalho (Salaman, 1978). A organização vem a
cia de um processo de transformação pela razão entre refletir sua própria história (Stinchcombe, 1965; Meyer
seus resultados e insumos: quanto maior a razão, mais e Brown, 1977) por uma assimilação de valores e deman-
eficiente o processo de transformação. Entretanto, con- das impulsionados por uma série de interesses conferi-
sidera-se que, se o capitalismo é mais produtivo que os dos pela sociedade (J. Meyer, 1978; Perrow, 1979). O ar-
modos de produção anteriores, não é porque seu proces- gumento da dominação política requer, portanto, que
so de transformação seja tecnicamente superior, mas desloquemos o foco analítico do determinismo das con-

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siderações acerca da eficiência, interno às organizações, tada pela interação entre o nível mais baixo e o mais alto
para as amplas dinâmicas sociais, que se desenvolvem da Figura 1, sendo discutida abaixo.
no nível coletivo de análise.
Formas estruturais e ação pessoal
As formas estruturais e a ação pessoal são questões cen-
DISCUSSÃO trais de interesse da teoria organizacional e gerencial.
Conquanto o determinismo e o voluntarismo sejam úteis
Ao comparar e contrastar quatro visões básicas da teoria para classificar as teorias organizacionais, orientam ina-
organizacional (veja a Figura 1), abordamos seis debates dequadamente a investigação. Isso porque pressupõem
presentes na literatura organizacional.5 Eles fornecem es- que as visões deterministas da estrutura organizacional
clarecimentos importantes para a compreensão de certas e as visões voluntaristas da ação pessoal sejam mutua-
tensões dialéticas da vida organizacional. Por meio dos mente exclusivas. De fato, ambas as visões são conjunta-
debates, as tensões enfocaram as formas estruturais em mente necessárias para o desenvolvimento de uma apre-
oposição à ação pessoal (debates 1 e 4), e as relações ciação dinâmica das organizações.
entre a parte e o todo (debates 2 e 5), bem como a intera- As organizações, enfim, não são fenômenos puramente
ção entre estas duas fontes de tensão organizacional (de- objetivos nem puramente subjetivos. São sistemas ob-
bates 3 e 6). Em conclusão, especulamos a importância jetivos na medida em que exibem estruturas apenas par-
dessas duas abrangentes tensões dialéticas para direcio- cialmente modificáveis por ações pessoais, mas são sub-
nar futuras pesquisas em teoria organizacional. Os “prin- jetivas na medida em que essas estruturas abrigam indi-
cípios da análise dialética” de Benson (1977b) são parti- víduos que atuam com base em suas próprias percep-
cularmente relevantes para essa discussão. ções, e podem agir tanto de forma previsível como im-
O primeiro princípio de Benson (1977b) é a “produ- previsível. As questões e problemas de interesse, então,
ção/construção social”. Resumidamente, o autor defen- estão em saber como as formas estruturais e as ações
deu que “uma organização, como parte de um mundo pessoais se inter-relacionam e produzem tensões que es-
social, está sempre na situação de tornar-se algo”. Con- timulam mudanças através do tempo.
seqüentemente, deve-se focar a atenção nos mecanismos Por exemplo, no nível individual, de um lado há o
pelos quais uma forma organizacional estabelecida é con- problema de selecionar, socializar e controlar os indiví-
tinuamente construída, mantida, reproduzida e duos para posições e tarefas na estrutura, e de outro,
reconstruída. Essa é a tarefa com que se comprometem examinar como as ações pessoais com o tempo
as teorias situadas do lado direito da Figura 1. Mas Benson reestruturam essas posições. Com o passar dos anos,
(1977b) também indica que os processos explicativos do surgem tensões e desajustes entre as várias aspirações,
surgimento e da dissolução das organizações ocorrem em necessidades e crescimento pessoal dos indivíduos e as
uma estrutura social que restringe as ações organizacio- várias opções de carreira, promoção e mobilidade na
nais. A análise dessas forças restritivas distingue as teo- estrutura organizacional.
rias situadas do lado esquerdo da Figura 1. Esses dois No nível de grupo, produz-se uma tensão contínua
conjuntos oponentes de forças são discutidos abaixo, quando a divisão e a integração estrutural do trabalho e
como uma interação entre “formas estruturais” e “ação dos recursos das subunidades influenciam e são influen-
pessoal”. ciadas pelo surgimento sociopsicológico de diversas nor-
O segundo princípio da análise dialética é referido por mas, padrões de interação, conflitos e relações de poder
Benson (1977b) como o princípio da “totalidade”. Tal no interior dos grupos e entre estes. No nível organiza-
princípio “expressa um comprometimento com o estu- cional, está a questão de que a estrutura organizacional é
do de arranjos sociais na condição de complexas totali- tanto causa como conseqüência das transformações am-
dades inter-relacionadas a partes parcialmente autôno- bientais e das escolhas estratégicas dos indivíduos pode-
mas”. Por outro lado, as organizações são vistas como rosos dentro e fora da organização. Finalmente, no nível
intrincadamente atadas ao contexto social em que se in- populacional, estão as questões de que os nichos organi-
serem: são consideradas partes constituintes de padrões zacionais ou as estruturas de mercado são produtos e
e forças maiores que se desenvolvem na sociedade. Mas restrições da ação coletiva, alcançados por meio de uma
as organizações também são capazes de realizar por si longa série de disputas e barganhas políticas entre gru-
mesmas ações parcialmente autônomas, o que gera ten- pos partidários, assim como por meio de normas sociais
sões entre as partes e o todo. Essa fonte de tensão é cap- e culturais.

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Essas questões interessam primeiramente porque ad- mos como a nova síntese temporária. Essa síntese surge
mitem ambas as visões, determinista e voluntarista, da agora como tese, em um novo ciclo de conflitos, e assim
vida organizacional. Em segundo lugar porque sobrepõem o processo se repete quando os organizadores inovado-
essas visões, relacionando reciprocamente estruturas for- res ou os gestores empreendedores buscam satisfação a
mais e ações pessoais em níveis comparáveis de análise, partir da contínua acumulação de tensões, para habilitar
e finalmente porque mostram que esses relacionamen- libertações subseqüentes. A história da gestão pode ser
tos se desenvolvem de forma complementar e contradi- interpretada como esse tipo de processo dinâmico
tória ao longo do tempo. Infelizmente, os aspectos inte- (GOMBERG, 1964, p. 52-53).
ressantes dessas questões são em geral abandonados
quando se tenta representar teoricamente esses padrões As relações entre a parte e o todo
observáveis. Devido a limitações cognitivas, educacio- Muitos problemas visíveis em algum nível da análise or-
nais ou de socialização, certos teóricos tendem a reduzir ganizacional manifestam-se de forma diferente e contra-
essas complexidades observadas a modelos causais ditória em outros níveis. No nível micro, enfocam-se as
unidirecionais de um conjunto limitado de fatores, vis- características de posições, tarefas e subunidades, bem
tos por meio do isolamento de outras variáveis. como as habilidades, orientações, preferências e ações
Tais modelos são estreitos e limitados. Como atestou individuais. No nível macro, o enfoque está na configu-
Weick (1979, p. 52), “quando dois eventos quaisquer ração e no domínio da estrutura global organizacional, e
são relacionados de forma interdependente, chamar um nos relacionamentos entre os grupos de tomadores de
dos dois de ‘causa’ e o outro de ‘efeito’ é uma designação decisões, dentro e fora da organização. Entretanto, o
arbitrária”. A maioria dos teóricos e “gestores enfrentam quadro de referência é substancialmente alterado quan-
problemas porque se esquecem de pensar circularmente do o enfoque está nos relacionamentos entre as partes e
[...] Os problemas persistem porque os gestores e teóri- o todo, ou entre os níveis de análise micro e macro.
cos continuam acreditando que há coisas como causas Por exemplo, contando com o conceito da necessida-
unidirecionais, variáveis dependentes e independentes, de de variedade, Weick (1979) argumentou que, com a
origens e fins” (Weick, 1979, p. 52). Além disso, diante crescente complexidade, incerteza e variação ambiental,
dos esforços de identificar causas e efeitos, a parte mais a estrutura organizacional como um todo se torna mais
interessante das questões anteriores tende a ser ignora- complexa, frouxamente acoplada, descentralizada, par-
da, isto é, investigar o processo como ocorrem as rela- ticular e anárquica. Sendo assim, as estruturas das partes
ções circulares. Dizer que A causa B e que B causa A é individuais ou dos grupos da organização se tornarão
uma predição, mas também algo intelectualmente estéril mais simples, fortemente acopladas, hierárquicas, uni-
até que se possa explicar como se desenvolvem os relacio- versais e coesas – todos eles fatores que conduzem à falta
namentos recíprocos no tempo. de adaptação, à estreiteza e à inflexibilidade. Apesar de
São essas relações recíprocas entre formas estruturais Weick não ter tido claramente a intenção de escrever
e ações pessoais que tornam a tensão e o conflito carac- sobre essa conseqüência, ela é o resultado do princípio
terísticos da vida organizacional. Como mostrou básico das relações de oposição entre as partes e o todo
Gomberg (1964), o próprio conceito de organização im- proposto por Georg Simmel. “Os elementos dos círculos
plica conflito. Este pode ser interpretado em termos da sociais diferenciados são indiferenciados, já aqueles dos
dialética hegeliana, em que as formas estruturais exis- indiferenciados são diferenciados” (Blau, 1964, p. 284).
tentes são a tese e as ações pessoais contraditórias são a O princípio da necessidade de variedade de Conant e
antítese, conduzindo finalmente a uma síntese: Ashby (1970), no nível macro, torna-se uma lei de indis-
pensável simplicidade no nível micro.
A estrutura de uma organização é identificada com a tese. As noções de Gouldner (1959) a respeito de “interde-
A hierarquia resultante gera a semente de sua própria pendência funcional” e de “autonomia funcional” são
oposição, a antítese. A necessidade de reavaliação é ge- valiosas por salientar tal ponto. Gouldner mostrou que a
rada no ventre da organização, pelas atividades da velha preocupação dos teóricos sistêmicos com a interdepen-
hierarquia. A necessidade de funções novas e revistas dência funcional chama a atenção para as restrições im-
cresce até desafiar a hierarquia existente. Essa antítese, postas pela colaboração conjunta na busca de objetivos
se totalmente desenvolvida, desafia a hierarquia estru- sistêmicos. Entretanto, ele argumentou que tal interde-
tural existente. Desse choque surge ou declina uma nova pendência nunca é uma restrição absoluta, apenas im-
hierarquia ou um conjunto de relações, que identifica- põe graus diversos de restrição a diferentes pontos do

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sistema. Assim, é tão razoável enfatizar os graus da auto- as classes, deixou de dar o merecido reconhecimento às
nomia funcional quanto os da interdependência funcio- forças de coesão e unidade do seu interior. Como suge-
nal. O que aparenta ser uma restrição do ponto de vista riu Coser (1965), “o conflito fora do grupo” está associa-
do sistema pode parecer liberdade do ponto de vista de do à “coesão dentro do grupo”.
suas partes. Em resumo, estudar adequadamente as organizações
Blau (1964) posteriormente aperfeiçoou o conceito de em níveis de análise cruzados é entender as reações
Gouldner, notando que a dependência das subunidades dialéticas entre as forças dos conflitos, coerções e ruptu-
em relação às estruturas sociais que as cercam entra em ras no nível organizacional, e as forças de consenso, uni-
conflito direto com sua autonomia. “O conflito é inevi- dade e integração em outro nível – forças previamente
tável porque a coordenação centralizada e a autonomia necessárias e recíprocas.
parcial são igualmente necessárias às coletividades orga-
nizadas” (Blau, 1964, p. 303). Os relacionamentos entre
grupos e coletividades se manifestam por meio de sua in- CONCLUSÃO
terdependência, na mobilidade dos indivíduos que atuam
como representantes de seus próprios grupos e nos seus Para se ter uma apreciação adequada da teoria organiza-
papéis como membros dos grupos, envolva isso ações cional deve-se prestar atenção à natureza antitética bási-
para a busca de fins coletivos ou individuais. Já que os ca do campo. Enfocamos duas fontes de antíteses gené-
indivíduos podem pertencer simultaneamente a muitos ricas, manifestas nas dialéticas entre estrutura e ação, e
grupos, a imagem de Blau das relações entre as partes e o entre as partes e o todo. A ampla existência de tensões
todo não é a de círculos concêntricos com afiliações geradas por esses modelos opostos de análise explica
mutuamente exclusivas em cada nível. Em vez disso, é a apenas parcialmente os debates teóricos e as contradi-
de círculos em intersecção, pois as redes sociais que defi- ções da teoria organizacional. O terceiro princípio da
nem a estrutura dos grupos são transpostas e sobrepos- análise dialética de Benson, o princípio da contradição,
tas, e as fronteiras entre elas não são precisas nem fixas. trata desse ponto. Benson chamou a atenção para as “rup-
“Os grupos se expandem e se contraem com a mobilida- turas, inconsistências e incompatibilidades da constru-
de dos membros que estão dentro e fora deles” (Blau, ção da vida social” (Benson, 1977b). Porque as contradi-
1964, p. 284). ções estão difundidas nas organizações, as teorias que
Esse tipo de relação dialética entre as partes e o todo captam e refletem os discretos segmentos da vida orga-
nas organizações não é adequadamente levado em conta nizacional são também inevitavelmente contraditórias e
por muitas teorias organizacionais. Isso é lamentável, só podem ser dialeticamente conciliadas.
porque é possível mostrar que qualquer teoria macro de Mas a teoria das organizações não apenas reflete a rea-
ordem e consenso inclui uma teoria micro de conflito e lidade organizacional, mas também produz essa realida-
coerção, e vice-versa. Por exemplo, o funcionalismo es- de. Como indicou Albrow (1980), a teoria das organiza-
trutural das organizações tem sido atacado pelos teóri- ções compartilha uma relação dialética com a vida orga-
cos radicais (Burrell e Morgan, 1979) e teóricos da ação nizacional. Como outras ciências sociais, ajuda a estru-
(Silverman, 1970), em virtude de sua inabilidade para turar seu próprio objeto de estudo. Ao considerar os fe-
explicar mudanças devido à ênfase dada à ordem, ao con- nômenos organizacionais, a teoria ajuda a dar objetivi-
senso e à unidade. Se isso é uma verdade no nível dade às práticas a que se refere. Essa reflexividade entre
macroorganizacional, no nível micro a mudança é possí- eventos teóricos e práticos é apreendida em um quarto e
vel somente devido à coerção, à dominação e ao controle último princípio da análise dialética, formulada por
das tendências de ruptura. Não fosse assim, não haveria Benson (1977b): o princípio da práxis, ou a reconstru-
necessidade de regras, doutrinação, socialização ou me- ção criativa dos arranjos sociais com base em análises
canismos de controle nas organizações: esses são concei- racionalmente desenvolvidas.
tos centrais na visão estruturalista das organizações. Por Esse entendimento dá significância à análise deste ar-
outro lado, as teorias da mudança radical (Burrell e tigo. Sugere que a interação das teorias organizacionais
Morgan, 1979) valorizam extremamente as tendências é, na realidade, uma disputa quanto à futura configura-
de conflito, coerção e ruptura nas organizações, sem ad- ção do mundo organizacional. Conseqüentemente, é es-
mitir que elas só podem ocorrer pela ordem, consenso e sencial uma consciência dos valores e tendências sobre
unidade no nível micro. Assim, podemos ver que, quan- os quais se constrói a teoria. Esses valores e tendências
do Marx colocou a noção de conflito e confronto entre atuam como premissas dadas como certas nas visões de

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mundo que guiam a teoria, e constituem paradigmas que de rotular autores como “deterministas” ou “reducionistas” devido à pers-
pectiva analítica particular que adotam em uma determinada ocasião. Como
canalizam a atenção em direções específicas, obstruindo
bem sabemos, a maioria dos autores adota perspectivas únicas em cir-
as investigações nas esferas alternativa, teórica, ideoló- cunstâncias e para propósitos específicos e limitados.
gica e prática. Mesmo quando os teóricos organizacio-
nais alegam isenção de valores, invariavelmente impli-
cam e comprometem valores por meio da construção de
visões parciais da realidade. Por isso Ritzer (1980, p. 12)
afirmou que as “ciências multiparadigmáticas”, como a REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
teoria das organizações, desempenham funções políticas
essenciais. Os proponentes de cada paradigma se engajam ACKOFF, R. Redesigning the Future. New York: Wiley, 1979.
em esforços políticos para dominar a disciplina, como
ALBROW, M. The dialectic of science and values in the study of
um meio de impor suas próprias concepções da realida- organizations. In: SALAMAN, G.; THOMPSON, K. (Eds.). Control and
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Agradecemos, pelas úteis sugestões feitas aos rascunhos anteriores deste Reviews, Inc, 1976.
artigo, a Charles Fombrun, John Bryson, William Gomberg, e aos anôni-
mos revisores da ASQ. Também agradecemos, por seu apoio, ao Center BENSON, J. K. The interorganizational network as a political economy.
for the Study of Organizational Innovation, da Universidade da Pensilvânia, Administrative Science Quarterly, v. 20, n. 2, p. 229-249, 1975.
e à Charles F. Kettering Fundation.
BENSON, J. K. Innovation and crisis in organizational analysis. Sociological
1
As abreviações Q1, Q2, Q3 e Q4 são utilizadas ao longo do artigo para Quarterly, v. 18, n. 1, p. 3-16, 1977a.
denotar os quadrantes numerados na Figura 1.
BENSON, J. K. Organizations: A dialectical view. Administrative Science
2
Na realidade, a rotatividade declinou notadamente ao longo do século Quarterly, v. 22, n. 1, p. 1-21, 1977b.
XX nas grandes corporações (Scherer, 1980, p. 54-56) provavelmente por
estarem elas em melhor posição para tirar vantagem de adaptações insti- BENSON, J. K. Recent theories of organizations: a dialectical critique. In:
tucionais (Meyer e Rowan, 1977; J. Meyer, 1978). ANNUAL MEETING OF THE AMERICAN PSYCHOLOGICAL
ASSOCIATION. New York City, Sep. 1979.
3
Ainda que a absorção corporativa de contingências seja uma adaptação
factível da organização ao seu ambiente, Thompson deixa claro que tal BITTNER, E. The concept of organization. Social Research, v. 32, n. 3, p.
adaptação é determinada por uma racionalidade técnica. A expansão das 239-255, 1965.
operações no ambiente ocorre em direção às contingências cruciais, deter-
minadas por considerações tecnológicas e profissionais. Assim, as tecno-
BLAU, P. M. Exchange and Power in Social Life. New York: Wiley, 1964.
logias muito integradas encorajam a expansão por meio da integração ver-
tical, enquanto as tecnologias mediadoras encorajam a expansão geográfi-
BLAU, P. M.; SCOTT, R. Formal Organizations. San Francisco: Chandler,
ca (Thompson, 1967, p. 40-42). Em outras palavras, a absorção de ele-
1962.
mentos ambientais é uma reação defensiva, uma forma de amenizar o cer-
ne técnico. Não representa, por exemplo, uma tentativa de aumentar a
dominação organizacional sobre o mercado; este seria certamente o tipo BOULDING, K. E. Ecodynamics: A New Theory of Societal Evolution. Beverly
de explicação que o voluntarismo da escolha estratégica ofereceria em re- Hills, CA: Sage, 1978.
lação ao mesmo fenômeno.
BROCK, G. W. 1981 The Telecommunications Industry: The Dynamics of
4
Apesar do fato de a segunda metade do livro de Aldrich (1979) se apoiar Market Structure. Cambridge, MA: Harvard University Press, 1981.
em exemplos que apontam para aspectos sociais e políticos “não naturais”
do ambiente, esses exemplos não são gerados nem refletem declarações BUCKLEY, W. Society as a complex adaptive system. In: BUCKLEY, W.
como as aqui citadas como centrais em seu modelo formal de seleção (Ed.). Modern Systems Research for the Behavioral Scientist. Chicago: Aldine,
natural. 1968. p. 490-513.

5
Deve-se reconhecer, entretanto, que classificar os trabalhos de vários BURAWOY, M. Manufacturing Consent. Chicago: University of Chicago
autores em uma visão em vez de outra não implica nenhuma inflexibilida- Press, 1979.
de de abordagem por parte deles. Muitos dos autores referidos têm escrito
de modo muito mais amplo, e adotado uma orientação mais equilibrada BURRELL, G. Towards a radical organization theory. In: 41ST ANNUAL
do que talvez indique a discussão. Assim, não gostaríamos, por exemplo, ACADEMY OF MANAGEMENT MEETING, San Diego, 1981.

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Artigo convidado. Aprovado em 03.02.2005.

W. Graham Astley (In memoriam)


Ex-professor da University of Pennsylvania

Andrew H. Van de Ven


Professor da Carlson School of Management – University of Minnesota.
Interesses de pesquisa nas áreas de inovação e mudança organizacional, comportamento
organizacional e métodos de pesquisa.
E-mail: avandeven@csom.umn.edu
Endereço: Carlson School of Management – University of Minnesota, 321, 19th Avenue
South, Minneapolis – Minnesota – USA, 55455.

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