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NotassobreobehaviorismodeontemedehojeTourinho 20160304173047 PDF
NotassobreobehaviorismodeontemedehojeTourinho 20160304173047 PDF
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Resumo
Este artigo busca oferecer algumas referências históricas sobre as origens e desenvolvimentos da Psicologia
behaviorista. O artigo parte das contribuições de Watson, destacando seu afastamento do modo causal
selecionista, inaugurado na Psicologia por Thorndike. Em seguida, discute alguns desenvolvimentos do
behaviorismo sob a liderança de Skinner, apontando que seus avanços resultam em grande medida do
retorno ao selecionismo. O artigo argumenta, por fim, que ao final do século XX a abordagem inaugurada
por Skinner estende-se a em muitas direções, configurando a análise do comportamento como um sistema
multidimensional. O artigo conclui com a indicação de que uma visão histórica do processo de investigação
comportamental oferece um quadro mais preciso do que essa abordagem tem representado enquanto sistema
na Psicologia.
Palavras-chave: Behaviorismo; Behaviorismo radical; Análise do comportamento; História da Psicologia.
Abstract
This paper aims at offering some historical references concerning the origins and development of behav-
iorist Psychology. It begins with Watson’s contributions and highlights his detachment from the causal
mode of selection by consequence started in Psychology by Thorndike. Then, the paper discusses some
developments of behaviorism under the leadership of Skinner and argues that some achievements have
largely resulted from a recovery of selectionism. Finally, it contends that, by the end of the 20th century,
the approach started by Skinner extended to new directions, engendering behavior analysis as a multidi-
mensional system. The paper concludes by pointing out that a historical view of the process of behavioral
investigation provides a more precise frame of what this approach has represented as a psychological
system.
Keywords: Behaviorism; Radical Behaviorism; Behavior Analysis; History of Psychology.
Os manuais de Psicologia apresentam o behaviorismo portamento . . . Em seu esforço para alcançar uma
como uma escola de pensamento na Psicologia, inaugu- concepção unitária da resposta animal, o behaviorista
rada por John B. Watson (1878-1958), com seu manifes- não reconhece qualquer linha divisória entre o homem
to de 1913 (Watson, 1913/1994). Essencialmente, essa e o bruto. O comportamento humano, com todo o seu
escola se definia pela proposição do comportamento como refinamento e complexidade constitui apenas uma
objeto de estudos da Psicologia, pela idéia de continui- parte do programa completo de investigação do
dade entre as espécies e pela adoção dos métodos de behaviorista (p. 248).
investigação das ciências naturais: observação e expe- No presente artigo, pretende-se apontar algumas fei-
rimentação. O primeiro parágrafo do manifesto de ções que o behaviorismo veio a assumir ao longo do sé-
Watson afirmava: culo XX, indicando que a referência a Watson constitui
A Psicologia, como um behaviorista a vê constitui um passo importante, porém atualmente insuficiente para
um ramo puramente experimental da ciência natural. uma compreensão do que essa abordagem tem repre-
Seu objetivo teórico é a previsão e o controle do com- sentado no cenário da Psicologia, tanto do ponto de vista
histórico, quanto em termos de seus impactos nas for-
mulações contemporâneas dos chamados problemas
*
psicológicos. Algumas das mais significativas contri-
Endereço para correspondência: Universidade Federal
do Pará, Rua Augusto Corrêa, 01, Guamá, Belém, PA,
buições do behaviorismo têm sido, e continuam sendo,
Brasil, CEP 66075-110. E-mail: eztourinho@gmail.com a concepção relacional do comportamento humano, a
O autor agradece a Simone Neno pelos comentários a visão selecionista da causação do comportamento, a inter-
uma versão preliminar do texto.
Trabalho parcialmente financiado pelo Conselho Nacio- pretação funcional, não representacional, da linguagem
nal de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Pro- e dos processos lingüísticos e a proposição de que os
cessos 304116/2007-6 e 480727/2007-4). Partes deste fenômenos psicológicos são relações do homem com o
trabalho foram apresentadas na 59ª Reunião Anual da
Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), mundo, que podem ser abordadas com os conceitos de
Belém, 2007. uma ciência do comportamento. Essas contribuições,
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como argumentado adiante, derivam substancialmente A seleção do comportamento pelas conseqüências apa-
de autores que antecederam ou sucederam Watson na pro- rece com clareza na versão final da lei do efeito, publicada
posição de uma ciência do comportamento. em 1911, dois anos ainda antes do manifesto watsoniano.
No lugar de ater-se a pormenores da topografia da res-
O Comportamento como Objeto da Psicologia posta, a propriedades como latência ou força da resposta,
a lei do efeito sugeria que o cientista do comportamento
Watson não deu início à investigação do comportamento deveria voltar sua atenção para mudanças na probabili-
em Psicologia. Mais de uma década antes de seu mani- dade da resposta, como função de mudanças na “satisfa-
festo (Watson, 1913/1994), o comportamento animal já ção” do organismo produzida por sua ação.
era estudado experimentalmente por pesquisadores que Das várias respostas à mesma situação, aquelas que
se ocupavam de questões então consideradas afeitas ao são acompanhadas ou seguidas de perto pela satisfação
campo psicológico. O mais notório exemplo da psicolo- do animal serão, mantidas iguais as outras coisas, mais
gia comportamental do século XIX foi Edward Lee firmemente conectadas com a situação, de modo que
Thorndike (1874–1949), que estudou a aprendizagem em quando [a situação] voltar a ocorrer será mais provável
humanos e não humanos e formulou a lei do efeito. Se que voltem a ocorrer; aquelas que são acompanhadas
alguma dúvida houver sobre a pertinência da pesquisa de ou seguidas de perto pelo desconforto do animal terão,
Thorndike aos assuntos da Psicologia, basta considerar o mantidas iguais as outras coisas, suas conexões com
título da monografia de 1898 na qual já estava implícita aquela situação enfraquecidas, de modo que quando
(cf. Catania, 1999) a Lei do Efeito: A Inteligência Animal [a situação] voltar a ocorrer será menos provável que
(Thorndike, 1898/1998). Nessa monografia, Thorndike voltem a ocorrer. Quanto maior a satisfação ou o
fazia referência à “vida mental dos animais” (p. 1125) e desconforto, maior o fortalecimento ou enfraqueci-
buscava examinar seus processos de “associação e hábi- mento do vínculo (Thorndike, 1911/2007, p. 118).
tos”. O artigo sumarizava seus experimentos de então, Um aspecto desta formulação da lei do efeito foi alvo
com gatos em caixas-problema, em que eram colocados de críticas freqüentes por parte de psicólogos com-
em privação de alimento e apenas quando emitiam res- portamentais: a referência à satisfação ou estados in-
postas específicas (pisar em uma plataforma, puxar uma ternos do organismo como parte da explicação para o
corda, ou pressionar uma barra) ganhavam acesso ao ali- comportamento, o que representaria uma volta a vi-
mento. Uma referência ao que mais tarde seria apresen- sões internalistas na Psicologia. A elaboração de
tado como a lei do efeito aparecia na conclusão do texto: Thorndike, porém, assemelha-se em muito à proposi-
as associações “significam simplesmente a conexão de ção de Skinner (1986/1987b), de que o reforço tem dois
um determinado ato com uma determinada situação e o efeitos: um aumento na probabilidade da resposta e uma
prazer resultante” (p. 1127). sensação de prazer.
Também em 1898, Thorndike já postulava a necessi- As pesquisas de Thorndike com animais também an-
dade de “experimentos cruciais, planejados cuidado- teciparam o desenvolvimento de aparatos experimentais
samente”, que poderiam informar corretamente sobre o que possibilitaram o uso de medidas objetivas de mu-
comportamento animal, ou melhor, poderiam “não ape- danças comportamentais. Com suas caixas-problema
nas dizer precisamente o que eles fazem e prover a tão para estudos com gatos, Thorndike registrava mudan-
necessária informação sobre como o fazem, mas também ças no tempo que o animal levava para sair da caixa,
informar-nos sobre o que sentem enquanto agem” (1898/ assim como observava a redução na variabilidade da
1998, p. 1126). Segundo Hearst (1999), os estudos de resposta. A mudança na curva do tempo da resposta re-
Thorndike em 1898 teriam sido reconhecidos pelo pró- presentava, para Thorndike, a “taxa de aprendizagem”
prio e por outros autores (Pavlov incluído) como “a pri- (Chance, 1999, p. 436).
meira aplicação ampla e deliberada do método expe- Com Thorndike, a influência de Darwin sobre os psi-
rimental à aprendizagem animal” (p. 441). cólogos experimentais vai além da noção de continuida-
No que concerne à lei do efeito, o que é tido como uma de entre as espécies. A lei do efeito também antecipava
versão final apareceu apenas em 1911, mas, como aponta uma das principais realizações da ciência do comporta-
Catania (1999), uma primeira versão formal já era en- mento ao longo do século XX: a superação do mecani-
contrada em um texto de 1901, ainda que nesse último cismo e a elaboração do selecionismo como modo causal
caso a referência não fosse à seleção do comportamento, explicativo do comportamento. Como Catania (1999)
mas apenas à seleção de conexões neurais: aponta:
O aumento gradual no sucesso significa um fortale- é interessante [notar] que o papel da seleção por
cimento gradual de um conjunto de conexões nervosas conseqüências recebeu um tratamento explícito
e um enfraquecimento gradual de outras. Este método somente relativamente tarde no trabalho de Skinner,
de aprendizagem pode ser chamado de método de quase meio século após Thorndike ter virtualmente
ensaio e erro, ou de tentativa e sucesso (Thorndike, iniciado sua carreira tratando a aprendizagem em
1901, citado por Catania, 1999, p. 427). termos de seleção (p. 427).
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1945). Todavia, o livro Comportamento Verbal (Skinner, condicionamento, agora operante, e da investigação ex-
1957/1992) foi publicado somente em 1957. Muito mais perimental em ambientes controlados. Essa análise de
tardiamente, ainda, apenas na década de 80, os analistas Kantor foi apresentada em um evento da divisão 25
do comportamento começaram a se dedicar a programas (Análise Experimental do Comportamento) da Ameri-
de pesquisa sobre o comportamento verbal. can Psychological Association (APA) e sua publicação
A proposta de Skinner (e.g., 1945, 1957/1992) subver- posterior, no Journal of the Experimental Analysis of
te radicalmente muitas concepções tradicionais sobre a Behavior (JEAB), foi motivo de tensionamento entre
linguagem: no lugar de algo armazenado, a linguagem é kantorianos e skinnerianos. Apesar disso, um grupo de
comportamento, comportamento verbal; no lugar de idéias interesse especial foi criado na Association for Behavior
ou imagens mentais, os significados encontram-se nas Analysis (ABA), para tratar do interbehaviorismo (o sis-
contingências de reforço; no lugar de representar uma tema kantoriano). Desde o artigo de Kantor de 1970,
realidade independente, nossos conceitos definem mo- Skinner vinha evitando créditos ao pensamento kantoriano
dos particulares de interação com parcelas da realidade; (cf. Verplanck, 1995) e, em 1988 (Skinner, 1988), reagiu
no lugar de um acesso privilegiado à consciência, nossas à constituição daquele grupo de interesse especial na
autodescrições limitam-se pelas práticas de uma comuni- ABA, em uma publicação da própria ABA, reclamando
dade verbal. que passáros “cucos” (na gíria norte-americana, “malu-
Segundo Hayes, Barnes-Holmes e Roche (2001), na cos”) estavam “colocando ovos em seu (de Skinner) ni-
construção de uma abordagem funcional para a lingua- nho” (Verplanck, 1995). É de Kantor, por último, a mais
gem Skinner teria usufruído da interlocução com J. R. antidualista elaboração do problema da subjetividade, que,
Kantor (1888-1984), com quem trabalhou por um curto em conjunto com as contribuições de Skinner, permite a
período. Como Skinner, Kantor teve papel destacado na formulação de uma interpretação bastante avançada da
construção do behaviorismo ao longo do século XX, e é questão (cf. Tourinho, 2004).
muitas vezes descrito como aquele que produziu a mais Voltando à interpretação skinneriana para a linguagem,
consistente fundamentação filosófica para uma concep- pode-se dizer que com ela a psicologia behaviorista
ção funcional-comportamental, anti-mentalista, dos fenô- passou a dispor, finalmente, de uma abordagem que,
menos psicológicos, justificando a interpretação de mui- fazendo uso de conceitos científicos, refutou toda visão
tos acerca da larga compatibilidade de seu sistema de representacional da linguagem e do conhecimento. Em
pensamento, o interbehaviorismo, com a análise do com- vez de tentar fundamentar o conhecimento objetivo,
portamento (cf. Moore, 1987; Morris, 1984). Kantor era Skinner entendia que a objetividade é uma questão de
chefe do Departamento de Psicologia na Indiana contingências sócio-verbais. O valor das descrições
University, quando Skinner lá permaneceu por dois anos, científicas, seu caráter de verdade, depende de suas
de 1945 a 1947. A influência que exerceu sobre o pensa- funções no controle de uma interação produtiva com a
mento skinneriano ainda está por ser plenamente conhe- realidade, não da apreensão de uma essência qualquer,
cida. Sabe-se que foi Kantor quem convenceu Skinner inacessível às mentes menos disciplinadas. Isso vale para
acerca da impropriedade do conceito de drive. Mais pre- as próprias descrições ou enunciados de uma ciência do
cisamente, o conceito de drive era apontado por Kantor comportamento. A medida de seu valor é a medida do
como um exemplo das “assombrações” (“spooks”) que quanto auxilia o cientista e o profissional psicólogo a li-
tomavam conta da Psicologia não científica (cf. Morris, dar com os fenômenos comportamentais. Basta compa-
Higgins, & Bickel, 1982; Verplanck, 1995). rar essa perspectiva com a adesão ao positivismo lógico
Dentre as contribuições de Kantor para o behaviorismo de alguns behavioristas anteriores a Skinner (cf. Smith,
contemporâneo, encontra-se sua ênfase na caracterização 1989), para ter a medida do que representou a elaboração
do objeto da Psicologia como sendo a interação organis- de uma interpretação comportamental-funcional para a
mo-ambiente, afastando-se de qualquer viés reducionista linguagem.
e destacando o caráter relacional do fenômeno compor- Os impactos de uma abordagem funcional para o com-
tamental. Kantor elaborou uma crítica original (já na portamento verbal estendem-se, ainda, a todo um vasto
década de 20 do século passado) ao internalismo organi- espectro de problemas dos quais a Psicologia tem tradi-
cista, tão popular, nos tempos atuais, por força de inter- cionalmente se ocupado, incluindo aqueles relativos a
pretações equivocadas dos achados das neurociências. cognições e emoções. Infelizmente, porém, novos avan-
Também na década de 20, Kantor (1922) já apontava a ços nesse terreno não aconteceram até a década de 80,
insuficiência do conceito de reflexo e da idéia de inte- quando o cognitivismo, tendo se ocupado desses temas
gração de vários reflexos para explicar a varibilidade e por duas décadas, inclusive apoiado em modelos de in-
complexidade do comportamento humano. vestigação e intervenção originalmente comportamentais,
Bem mais tarde, Kantor (1970) avançou na discussão já se tornara dominante no cenário acadêmico e profis-
dos modos como a pesquisa do condicionamento res- sional da Psicologia norte-americana.
pondente acabou impondo limitações a todo o programa Os dois programas de pesquisa que de modo mais sis-
de pesquisa da análise experimental do comportamento, temático e inovador têm se ocupado de relações com-
por exemplo levando-a a ocupar-se excessivamente do portamentais verbais na análise do comportamento são
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aqueles que se voltam para “relações de equivalência”, pesquisa e aplicação, a novas revistas científicas e a no-
sob a liderança de Murray Sidman (cf. Sidman, 1994), e vas categorizações de atividades em eventos científicos
para a formação de “quadros relacionais”, sob a lideran- (cf. Tourinho & Sério, 2010).
ça de Steven C. Hayes (cf. Hayes et al., 2001). Esses A essas mudanças estão associadas diferentes denomi-
programas têm produzido recursos empíricos e analíti- nações do campo de saber que representa a tradição de
cos para o exame de processos lingüísticos ou verbais, pensamento inaugurada por Skinner, que se tornaram
por meio dos quais eventos arbitrariamente relacionados, dominantes em diferentes momentos históricos: beha-
de diferentes modos, adquirem funções novas para o res- vioristas, behavioristas radicais, analistas experimentais
ponder de um indivíduo, dando origem a repertórios com- do comportamento e modificadores de comportamento,
plexos e variados (“operantes relacionais”, na designa- por exemplo. Atualmente, esse campo de saber tem sido
ção de Hayes), que não resultam de condicionamentos mais sistematicamente denominado de análise do com-
específicos, ou da aprendizagem direta. Em ambos os portamento. Mais importante do que isso, tem-se
casos, trata-se de programas ao mesmo tempo heurísticos observado um esforço para caracterizar a análise do com-
e controversos; que têm impulsionado a investigação do portamento como um campo de saber multidimensional.
comportamento humano complexo, mas cuja compatibi- Ao lado da investigação básica, usualmente experimen-
lidade com o sistema explicativo skinneriano é freqüen- tal, dos processos comportamentais, entendem-se como
temente colocada em discussão (e.g., Burgos, 2003; Hall produções constitutivas do campo analítico-comporta-
& Chase, 1991; Palmer, 2004; Ribeiro, 1995). mental trabalhos teóricos, conceituais, históricos, filosó-
ficos, pesquisa aplicada e aplicações profissionais da
A Análise do Comportamento Contemporânea análise do comportamento.
Pode-se pensar as diferentes produções analítico-
A visão não representacional da linguagem, postulada comportamentais como reguladas umas pelas outras e
pela Análise do Comportamento, está em acordo com mais ou menos aproximadas de três vértices de um triân-
muitos sistemas de pensamento que, ao longo do século gulo epistêmico, constituídos por o que podemos chamar
XX foram construídos na filosofia e nas ciências huma- de produções reflexivas, investigação básica e aplicações
nas. Sistemas de pensamento que não são designados da análise do comportamento. Essa caracterização toma
como behavioristas, principalmente porque não têm raízes como referência o próprio histórico de constituição da
históricas na psicologia behaviorista, em particular na Psicologia, inicialmente como um campo reflexivo, no
psicologia behaviorista norte-americana, mas que, em interior dos debates epistemológicos e, mais tarde, como
essência, partilham noções de uma visão antidualista dos ciência e como profissão.
fenômenos humanos e anti-representacional do conheci- A rigor, nenhuma produção em análise do comporta-
mento e da linguagem; sistemas, portanto, que também mento pertence a apenas um vértice, posto que não se faz
conflitam com certas concepções modernas acerca do indiferente ao que acontece no conjunto das realizações
homem, suas faculdades enquanto indivíduo e suas rela- da área. Uma produção pode aproximar-se muito mais de
ções com o mundo físico e social. uma área, isto é, pode ser mais reflexiva, mais aplicada,
Há vários exemplos desses sistemas não behavioristas, ou mais básica, nesse caso atendendo mais claramente
mas muito compatíveis com o behaviorismo, por exem- um tipo de demanda que conforma o campo da Psicolo-
plo, a interpretação de Wittgenstein (1953/1988) para a gia. Mas a relação com outros tipos de produção e outras
linguagem como forma de ação no mundo, a discussão demandas da cultura também estão presentes.
de Rorty (1993) acerca da objetividade como solidarie- Assim, produções que se aproximam mais do vértice
dade, a crítica sociológica de Elias (1994) ao conceito da investigação básica são aquelas que dialogam priorita-
moderno de indivíduo e o materialismo cultural de Harris riamente com a demanda por um conhecimento cientifi-
(2007) na análise da evolução das culturas. camente validado sobre as regularidades dos fenômenos
Voltando ao próprio behaviorismo, ou à comunidade comportamentais. Produções aplicadas consistem dos
científica que se estruturou ao longo do século XX, sob a usos do saber analítico-comportamental em contextos
liderança, principalmente, do trabalho de Skinner, mu- de intervenção profissional com vistas à solução de
danças substanciais aconteceram especialmente no que problemas humanos. Nesse caso, os problemas de que
diz respeito a uma maior diversificação das produções. A os analistas aplicados se ocupam são, em geral, aqueles
investigação básica do comportamento conhecida como que se relacionam com o processo de individualização
análise experimental do comportamento por muitos anos no mundo moderno (por exemplo, no campo da educa-
foi, e continua sendo, o tipo de produção mais freqüente ção, do trabalho e da saúde), para os quais o trabalho do
e mais estruturada, no sentido de que representa o esfor- psicólogo é usualmente requisitado. Produções reflexi-
ço de grupos numerosos de pesquisadores, organizados vas consistem de investigações metacientíficas, do tipo
em torno de programas de pesquisas razoavelmente com- conceitual, teórica, histórica, filosófica, etc. Uma carac-
partilhados e bem definidos. Outros tipos de produção, terística especial das produções reflexivas é que elas têm
no entanto, floresceram e passaram a aglutinar analistas criado áreas de interlocução da análise do comportamento
do comportamento, dando origem a novos programas de com outras disciplinas, o que é especialmente relevante
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dos. O que esse modelo sugere é que filogênese, ontogê- década do século XXI, que também ultrapassam em lar-
nese e cultura funcionam para produzir relações consti- ga medida o horizonte das investigações realizadas por
tutivas dos fenômenos emocionais. Nesse caso, a com- Skinner. Como argumentado, ainda que o legado intelec-
plexidade está associada à inclusividade. Fenômenos tual de Skinner constitua a espinha dorsal das realizações
comportamentais mais complexos vão sendo produzidos da Análise do Comportamento, a disciplina hoje se de-
na medida em que um organismo vai sendo sucessiva- senvolve em várias direções (acadêmicas e profissionais)
mente exposto a contingências ontogenéticas e culturais, e incorpora contribuições não necessariamente decor-
que, a partir de uma base filogenética, vão dando origem rentes das (ou compatíveis com as) idéias skinnerianas.
a relações interrelacionadas. Como apontado antes, quan- Longe de ser um problema, esta é uma característica que
do aí se incluem relações verbais, os fenômenos ganham tem permitido à Análise do Comportamento avançar na
uma nova dimensão, em razão dos processos de transfe- compreensão de seu objeto de estudos e alcançar maior
rência de funções entre estímulos, o que, para os psicólo- visibilidade social. Uma característica que tem propor-
gos clínicos, por exemplo, tem se mostrado uma questão cionado ao pensamento behaviorismo grande sucesso,
central (cf. Tourinho, 2006b). mesmo quando suas impressões não são claramente
A interpretação comportamental vira pelo avesso uma identificadas nas práticas e discursos psicológicos para
série de concepções bem estabelecidas em nossa cultura os quais claramente deu uma contribuição fundamental.
e impacta muitas de nossas crenças mais ordinárias. Se Uma apreciação mais completa e precisa dos conjun-
conhecer é interagir com parcelas do mundo de modos tos de problemas mencionados ao longo deste artigo cer-
específicos, a partir de uma história ambiental particular, tamente requer mais do que o Behaviorismo ou a Análise
não há um arquivo a ser consultado na mente ou no cére- do Comportamento tem a oferecer, daí também a impor-
bro; também no caso do autoconhecimento, não há aces- tância da interlocução com outros sistemas explicativos,
so privilegiado a um mundo privado, mas, ao contrário, o na Psicologia e nas demais ciências humanas e sociais.
autoconhecimento está circunscrito ao que o ambiente Mas essa necessidade de interlocução não deve obscure-
social promove de autodiscriminação; se a linguagem é cer o fato de que as realizações e os horizontes da ciência
constitutiva do mundo dos sentimentos, nossas “autodes- do comportamento são largos e de longo alcance, tanto
crições de emoções” não representam, mas são parte dos mais quanto arejados por práticas culturais que privile-
próprios fenômenos emocionais; se o pensar, refletir, cal- giem não a mera reprodução de pontos de vista, mas o
cular etc. são interações do organismo como um todo com avanço na abrangência e generalidade de suas descrições.
o mundo, não estão dentro nem fora do organismo, não
estão sequer no organismo. Referências
Conceitos como responsabilidade, autonomia, interio-
ridade, subjetividade etc. todos mereceriam um exame Burgos, J. (2003). Laudable goals, interesting experiments,
crítico, se partimos da perspectiva oferecida pela análise unintelligible theorizing [Review of the book Relational
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exame seja feito, considerando-se, especialmente, o co- Catania, A. C. (1999). Thorndike’s legacy: Learning, selection
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Este artigo teve o objetivo de oferecer algumas refe- the experimental analysis of behavior. Journal of the Experi-
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