Você está na página 1de 15

Orçamentação na construção civil dezembro/2015

Orçamentação na construção civil

Naiane Marques dos Santos – naiane.89@gmail.com


MBA Gerenciamento de Obras, Tecnologia & Qualidade da Construção
Instituto de Pós-Graduação - IPOG
Ribeirão Preto, SP, 08 de junho de 2015

Resumo
É conhecido que, não somente em tempos de crise, mas principalmente quando os mesmos ocorrem,
existe a necessidade de controlar e reduzir gastos tanto pessoais quanto dentro de empresas e, uma
vez que há a possibilidade de enfrentar grande dificuldade de permanência no mercado, a busca
tardia de soluções pode significar falência. Dentro desse contexto, a engenharia de custos mostra-se
completamente indispensável a instituições do ramo da construção civil no que tange à estimativa,
previsão e controle de custos. Através de diferentes metodologias de orçamentação aplicadas a cada
fase de um empreendimento, desde a concepção de sua viabilidade até sua execução, a engenharia de
custos possibilita ao investidor/construtor a compreensão de como incluir com precisão em seu
controle financeiro os custos incorporados a uma obra, a contar dos pelos projetos inicias e incluindo
despesas e lucro.

Palavras-chave: Engenharia de custos. Orçamento. Construção Civil.

1. Introdução
O atual contexto da economia brasileira afeta de um modo geral a população e o mercado em
diversos setores, algumas vezes, de forma drástica. Porém, não somente em períodos de crise
é imprescindível buscar conhecer artifícios que auxiliem no equilíbrio financeiro e permitam
uma estabilidade ou, para empresas, durante as adversidades, a permanência na concorrência
de mercado, portanto se faz de suma importância a existência da previsão e do controle de
gastos.
No setor de construção civil a situação não se faz diferente, e, principalmente em grandes
obras em que o prazo de execução chega a durar anos, é fundamental uma estimativa de
custos bem ajustada, que se aproxime o máximo possível da realidade, uma vez que há o
envolvimento de altos valores e a perda de controle dos gastos ou a necessidade de
desembolsos além do previsto pode acarretar sérios prejuízos.
O intuito deste trabalho é conceituar e apresentar algumas metodologias para estimativa de
custos através da orçamentação, as necessidades, vantagens e desvantagens da precisão nos
levantamentos, buscando o aprimoramento das atividades e informações que constituem um
orçamento conforme englobado pela engenharia de custos.

2. Engenharia de custos
Engenharia de custos pode ser definida, segundo Dias (1998), com uma área da engenharia
em que os problemas referentes a estimativas de custo e avaliações econômicas são
solucionados através de normas, critérios, princípios e experiências adquiridas ao longo do
tempo.Taves (2014) complementa dizendo que se trata de uma disciplina que oferece suporte

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Edição nº 10 Vol. 01/ 2015 dezembro/2015
Orçamentação na construção civil dezembro/2015
2

para a formação do preço das obras e para o controle de seus custos. Caracteriza-se ainda por
técnicas científicas utilizadas para solucionar problemas de estimativa, regulagem de custos e
lucratividade em outros campos da engenharia (MOURA E CONCOURD, 2011).
Não se refere somente à fase prévia à obra, em que são previstos os desembolsos e
investimentos necessário e determinada a viabilidade ou inviabilidade de um projeto, mas
engloba também todo o processo de execução com a mesma precisão que deve ser utilizada
previamente, planejando, controlando e acompanhando os custos estimados e definindo os
valores pertinentes às manutenções necessárias (DIAS, 1998).
Deve-se salientar, conforme Dias (1998), que a engenharia de custos de ser devidamente e
conscientemente aplicada uma vez que a atividade de elaboração de orçamentos vem se
tornando cada vez mais competitiva e que exige grande responsabilidade profissional, pois
não se trata somente da criação de uma planilha, mas envolve seu desenvolvimento em
pequenos espaços de tempo, procurando visualizar o futuro da obra atingindo os menores
preços.

3. Orçamento
Para Taves (2014), orçamento pode ser definido como um conjunto de atividades necessárias
à execução de uma obra, previstas e planejadas anteriormente à sua realização, variando
conforme sua tipologia. Mutti (2013), define como sendo a quantificação dos insumos
(materiais, mão de obra e equipamentos) essenciais à realização de uma obra, seus custos e
tempo de duração, corroborando com Xavier (2008) que diz que orçamento é um produto
definido em que são informados os valores referentes à execução de um serviço e sua
definição e as condições e prazos exigidos para que possam ser efetuados.
A listagem de atividades, bem como suas quantidades, valores unitários, valores totais e o
valor global do orçamento são usualmente registradas em uma planilha, denominada planilha
orçamentária, que também varia de acordo com a tipologia do serviço e da necessidade de
detalhamento (SOUZA, 2012).
Mutti (2013), abrange orçamento sobre duas óticas: Orçamento Processo e Orçamento
Produto. Este trabalho trata somente do orçamento produto, que é o que define custo/preço de
produtos de uma empresa, sendo neste caso as obras de construção civil.
Uma vez entendidas as definições de orçamento e compreendido que elas se complementam,
pode-se então ampliar o assunto e conhecer as ramificações abrangidas, visto que, existem
variações dos tipos de orçamento de acordo com sua finalidade e disponibilidade de dados
(TAVES, 2014).

3.1 Finalidades do orçamento e níveis de abordagem


As finalidades de um orçamento podem ser divididas da seguinte maneira (MUTTI, 2013):
 Gerencial: para essa finalidade geralmente os valores finais são mais importantes, pois
neles se embasam as decisões da gerência da empresa sobre o que construir, de que forma e
em que prazo, definem em geral a viabilidade da obra.
 Pericial: essa tipologia de orçamento embasa decisões a respeito de pendências ou
definem a direção quanto a técnicas e métodos diferentes para um mesmo serviço, seu custo-
benefício, portando importam os valores intermediários, ou seja, das etapas. Por exemplo a

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Edição nº 10 Vol. 01/ 2015 dezembro/2015
Orçamentação na construção civil dezembro/2015
3

execução de um telhado, que pode ter sua estrutura de madeira, de concreto ou metálica e
telhas cerâmicas, de fibrocimento, metálicas, entre outras.
Dentro das finalidades do orçamento é possível encontrar diversos níveis de abordagem, que
definem a precisão necessária de um orçamento dependendo da etapa de concepção em que se
encontra. Xavier (2008), organiza os níveis conforme a tabela 1 abaixo e discorre sobre cada
um deles a seguir.

Níveis de Abordagem dos Elementos


Elementos Estudo Projeto
Anteprojeto Especificações
Preliminar Executivo
Estimativa Custo
Orçamento Custo Limite Custo Unitário
de Custo Calculado
Tabela 1 – Níveis de Abordagem
Fonte: Xavier (2008, p. 14)

O estudo preliminar é quando ocorre a definição do custo limite, ou seja, através do custo
estimado do projeto o investidor pode decidir se sua capacidade financeira é compatível com
o custo do empreendimento.
Na fase do anteprojeto existem dificuldades para a realização de um orçamento, visto que não
existem ainda todas as definições e especificações das informações necessárias para compô-
lo, porém é possível determinar algumas diretrizes através de índices de consumo publicados
por empresas especializadas ou mesmo fazer adoções de acordo com a experiência em obras
passadas. Assim, ainda em bases empíricas pode-se obter uma estimativa do custo.
No projeto executivo o orçamento mostra a previsão real dos custos incorporados na execução
da obra, o custo então é calculado e condiciona a execução do projeto frente às condições
econômicas.
Uma vez elaboradas as especificações, pode-se elaborar o orçamento conforme a prática da
realização de uma obra, as atividades passam a ser definidas em quantidades que possuem
unidades usuais e a elas são atribuídos custos unitários que integram o todo do orçamento
estabelecendo o custo provável da obra.
Ainda dentro dos níveis de abordagem, os orçamentos podem ser divididos em duas principais
tipologias que se enquadram nas etapas e disponibilidades de dados.

3.1.1 Orçamento paramétrico


Xavier (2008) considera o orçamento paramétrico como um método precário para avaliação
do custo de uma obra, porém, conforme González (2008), trata-se de um orçamento
aproximado que se adequa às análises preliminares de viabilidade.
Para sua elaboração, uma vez que os projetos podem ainda não estar disponíveis, são
utilizados índices de consumo baseados em obras anteriores ou indicadores da construção
civil, em algumas situações pode-se adotar também a estimativa do custo através do volume

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Edição nº 10 Vol. 01/ 2015 dezembro/2015
Orçamentação na construção civil dezembro/2015
4

ou área edificada, atribuindo ao metro quadrado um custo unitário básico, calculado e


fornecido por sindicatos da construção ou dados consagrados de empresas como a PINI
(GONZÁLEZ, 2008).

3.1.2 Orçamento detalhado


Para Xavier (2008) o orçamento detalhado, chamado também de discriminado, é o método
mais preciso para avaliação dos custos de uma obra, uma vez que envolve a consideração e
discriminação de todas as etapas do empreendimento. González (2008) concorda, relatando
que o orçamento detalhado é composto uma relação de todos os serviços a serem executados
no decorrer da obra, listando quantidades e custos unitários tanto dos materiais quanto dos
equipamentos e mão de obras necessários à realização das atividades.
Em geral, as planilhas são subdivididas em etapas ou grupos de serviços semelhantes, o que
permite uma visualização parcial dos resultados. Essa divisão também deve seguir uma linha
lógica e objetiva que facilitando e agilizando os processos de levantamentos e a conferência
de resultados. As quantidades apresentadas são retiradas dos projetos, mensuradas de acordo
com critérios específicos. Como a princípio um orçamento detalhado só deve ser elaborado
após a conclusão dos projetos, espera-se que o conjunto dos dados desenvolvidos garanta
maior precisão no valor final, porém nem sempre as informações são fornecidas por
completo, fazendo com que o nível de confiança do produto seja variável e dependente do
fator disponibilidade de informações (GONZÁLEZ, 2008).
Na elaboração do orçamento detalhado é fundamental que o profissional conheça na prática os
métodos e processos construtivos a serem aplicados na execução da obra. Quanto maior a
vivência em obra por parte do orçamentista, mais confiável é o resultado. Xavier (2008)
comenta que é necessário compreender os seguintes itens:
 Interpretação e entendimento do projeto: é nesse momento que o profissional estuda
detalhadamente as plantas baixas, cortes, elevações, detalhes construtivos, memorial
descritivo, caderno de encargos e outros documentos que forneçam toda a especificação, para
que seja possível identificar detalhes arquitetônicos, elementos construtivos e tipologias
diferenciadas de materiais que exijam atenção quanto à pesquisa de custos, ou contratação de
mão de obra especializada face à complexidade.
 Quantificação de todos os serviços: é o levantamento e quantificação de todos os itens
necessários à execução da obra, desde o início até a etapa final, extraindo da documentação
todas as informações disponíveis sobre volumes, áreas e tantas outras unidades de medida.
 Cálculo dos preços unitários: após o levantamento das quantidades, deve-se obter os
custos unitários dos itens elencados, sendo eles relativos a materiais, equipamentos, mão de
obra, encargos sociais, entre outros. O ideal é que esses valores sejam retirados de pesquisas
de mercado, levando em conta a comparação de empresas quanto ao preço, qualidade, prazo
de entrega, condições de pagamento e confiabilidade. Pode-se ainda utilizar as bases de
referência de empresas ou órgãos especializados, porém utiliza-los não garante a mesma
precisão nos valores finais do orçamento.

4. Memorial descritivo

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Edição nº 10 Vol. 01/ 2015 dezembro/2015
Orçamentação na construção civil dezembro/2015
5

As especificações técnicas devem descrever em uma sequência lógica, de forma precisa, clara
e completa, os materiais, seu padrão de qualidade, tipo, marca e os procedimentos de
execução a serem utilizados na construção. Sua finalidade é complementar as informações da
parte gráfica, ou seja, do projeto. O documento usualmente utilizado para essas funções é
denominado Memorial Descritivo (GONZÁLEZ, 2008).
Xavier (2008), considera o memorial descritivo como a peça mais importante a ser elaborada
anteriormente ao orçamento. Deve descrever todos os materiais abordando todos os elementos
previstos em projeto e não somente os materiais, mas a mão de obra a ser utilizada. É um
registro qualitativo dos elementos construtivos, das características dos materiais e da maneira
correta de sua manipulação e aplicação. Pode ser elaborada em forma de texto ou em forma de
tabela, o que permite uma visualização mais clara e prática das especificações e facilidade de
alteração caso haja necessidade durante o processo de escolha dos materiais. A tabela 2
abaixo ilustra os elementos mínimos de um memorial em forma de tabela.

Memorial Descritivo
Nº do Item Fase Item da Obra Descrição Localização

Alvenaria de tijolos maciços com


Garagem, paredes
1.1 Vedações Paredes argamassa de cimento
laterais e edícula
1:3, espessura de 1 tijolo

Cerâmica esmaltada
Copa e cozinha,
(33x33) cm da Incepa
2.1 Pavimentos Pisos banho social e
Ref.: 5670 – bege claro assentada
lavabo
com argamassa Quartzolit
Tabela 2 – Memorial Descritivo em Forma de Tabela
Fonte: Adaptado de Xavier (2008, p. 11)
Um memorial descritivo deve abordar os três níveis de um projeto (XAVIER, 2008):
 Estudo Preliminar: é quando há uma análise prévia do empreendimento, sem
especificações completamente detalhadas.
 Anteprojeto: nessa fase o memorial descritivo serve para justificar as soluções
adotadas quanto aos métodos construtivos.
 Projeto Executivo: é nessa etapa que o memorial deve apresentar a descrição completa
de todos os itens que farão para de obra propriamente dita.
A falta das informações que devem compor o memorial descritivo faz com que o profissional,
na fase de elaboração do orçamento, adote suas próprias considerações a respeito das
características técnicas da obra, podendo fugir da realidade do empreendimento em questão.
Algumas vezes é necessário alterar as especificações de acabamento durante a obra por
situações como falta do material no mercado, alteração do padrão, adequação de exigências de
mercado ou insumos não fabricados. Porém, quanto mais detalhamento o memorial descritivo
possuir, maior o nível de precisão no resultado do orçamento (AVILA; LIBRELOTTO;
LOPES, 2003).

5. Elaboração do orçamento
A elaboração de um orçamento também é composta por etapas. É necessário que
primeiramente seja feita uma coleta de todos os documentos e informações disponíveis e que

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Edição nº 10 Vol. 01/ 2015 dezembro/2015
Orçamentação na construção civil dezembro/2015
6

esses dados sejam minuciosamente analisados e, caso necessário, deve haver esclarecimento
de dúvidas junto ao projetista sobre detalhes ou elementos construtivos. Pode-se então iniciar,
uma vez identificados, a listagem dos itens e sua descrição preliminar. Sabendo quais itens
devem ser mensurados é possível fazer o levantamento de suas quantidades, cotar seus preços,
inserir o BDI (Bonificação e Despesas Indiretas) e fazer seu fechamento (GONZÁLEZ,
2008).

5.1 Levantamento de quantitativos


Para Mattos (2006), a etapa da quantificação é uma das que intelectualmente mais exigem do
orçamentista, visto que é necessário fazer uma boa e correta leitura do projeto, cálculo de
áreas e volumes, tabulação de números, entre outras atividades. Além disso, com base nos
desenhos fornecidos e no memorial descritivo, é preciso identificar as dimensões,
características técnicas e especificações dos materiais.
Souza (2012) recomenda a utilização de um roteiro de cálculo que siga a sequência da
planilha orçamentária, facilitando a conferência em caso de dúvidas e para manter um
histórico do trabalho realizado. Xavier (2008) complementa sugerindo que essa memória de
cálculo seja suficientemente clara para que em eventuais alterações de características ou
dimensões não seja necessário refazer todo o trabalho, mas apenas ajusta-lo.
O levantamento das quantidades envolve elementos de naturezas distintas, devendo ser
abordados cada qual em sua unidade ou dimensão específica de medida. Além disso é
necessário reconhecer a permanência dos materiais empregados na obra, divididos em
permanentes e não permanentes. As tabelas 3 e 4 exemplificam essas situações.

Dimensão Exemplo
Lineares Tubulação, meio-fio, cerca, sinalização horizontal de estrada, rodapé
Limpeza e desmatamento, forma, alvenaria, forro, esquadria, pintura,
Superficiais (área)
impermeabilização, plantio de grama
Volumétricos Concreto, escavação, aterro, drenagem, bombeamento
De Peso Armação, estrutura metálica
Referem-se aos serviços que não são pagos por medida, mas por
Adimensionais
simples contagem: posts, portões, placas de sinalização, comportas
Tabela 3 – Dimensões de Materiais
Fonte: Mattos (2006, p.44)

Classe Característica Exemplo


Ficam incorporados ao Concreto, aço, tinta, areia, brita, cimento,
Permanentes
produto final tijolo
São utilizados durante a Madeiramento para formas e escoramentos,
Não permanentes
fase de construção e tensores metálicos de formas, prego,

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Edição nº 10 Vol. 01/ 2015 dezembro/2015
Orçamentação na construção civil dezembro/2015
7

removidos em seguida desmoldante, tubulações provisórias (ar


comprimido, ventilação, água)
Tabela 4 – Permanência de Materiais
Fonte: Mattos (2006, p.44)
5.1.1 Critérios de medição
Para auxiliar no processo de quantificação dos itens de um orçamento, existem alguns
critérios, denominados critérios de medição, que são métodos de considerações para
padronizar os levantamentos, porém pode-se revê-los e adapta-los à necessidade de cada
situação uma vez que justificados pelo orçamentista. Eles também proporcionam maior
facilidade na formatação de padrões para recebimento e pagamento dos recursos (XAVIER,
2008).
Abaixo, na tabela 5, são apresentados apenas alguns dos diversos critérios de medição usuais.

Tabela 5 – Critérios de Medição


Fonte: González (2008, p. 23)

5.1.2 Perdas
Durante o processo de levantamento de quantitativos, é imprescindível que o orçamentista
considere as perdas de materiais que ocorrem inevitavelmente durante a execução dos
serviços. Essas perdas podem ser causadas por diversos motivos, porém existe um limite para
que se possa controla-las. Apesar de, na maioria das vezes, as perdas representarem um
grande desperdício e consequentemente custos mais elevados, é comum as empresas
considera-las culturalmente como parte do processo construtivo, o que gera maior dificuldade
no processo de implantação de programas de melhoria da qualidade (MATTOS, 2006).
Algumas perdas podem ser evitadas durante a execução dos serviços, porém outras são
realmente inerentes à atividade, como é o caso das armações estruturais, que apesar de um
bom detalhamento de projeto e de uma boa equipe para execução, o comprimento dos
vergalhões encontrados no mercado geralmente não é compatível com as dimensões
necessárias, o que resulta no corte das peças e inutilidade da fração de sobra (MATTOS,
2006).
Existe ainda, segundo Mattos (2006), a chamada perda por diferença dimensional. Essa
situação pode se exemplificada por uma laje que foi projetada para uma altura de 10
centímetros de concreto e que, ao final da execução, sua dimensão apresente 10,5 centímetros.

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Edição nº 10 Vol. 01/ 2015 dezembro/2015
Orçamentação na construção civil dezembro/2015
8

Ainda que não haja nenhum resíduo, existe uma perda de 5% nessa situação, ou seja, foi
acrescentado um custo provavelmente não previsto em orçamento. Também é comum ocorrer
diferenças dimensionais em serviços como chapisco, emboço, reboco, contrapiso.
Mattos (2006), elenca algumas das causas que podem provocar perdas e indica, na tabela 6,
algumas porcentagens usuais que devem ser acrescidas à quantidade total obtida no
levantamento.
 Carga e descarga malfeitas: a colocação e retirada dos materiais nos caminhões de
entrega são grandes fontes de desperdício. Observa-se essa situação principalmente na
descarga de areia e brita, que muitas vezes são despejadas em locais inapropriados
inutilizando sua totalidade, e de tijolos, que são arremessados indevidamente contra o solo ou
sobre outros tijolos.
 Armazenamento impróprio: alguns materiais precisam ter um armazenamento
apropriado, longe de umidade ou em locais cobertos. Por exemplo, sacos de cimento não
podem ser estocados diretamente sobre o solo ou ao relento porque o contato com a umidade
modifica suas propriedades e pode tornar o material inútil. Assim também as barras de aço
que na presença de água enferrujam comprometendo suas funções quando empregadas na
estrutura. Areia e brita devem ser armazenadas em montes com a menor área de contato com
o solo possível, pois, quanto maior a área, maior a incorporação das partículas no solo
subjacente e maior o risco de contaminação do material.
 Manuseio e transporte impróprios: trata-se da manipulação incorreta dos materiais
causando, por exemplo, a quebra de peças cerâmicas e tijolos, como o transporte indevido em
recipientes inadequados ou superlotados que espalham o material (terra, areia, brita, concreto)
durante o transporte.
 Roubo: é comum ouvir sobre roubos na construção civil, principalmente quando há
grandes locai de estoque e falta de vigilância na obra, porém também é preciso haver um forte
controle interno porque a entrada e saída de ferramentas, de pessoas e mão de obra não
confiável também são causas de perdas.

Insumo Perda Motivo


Aço 15% Desbitolamento das barras e pontas que sobram
Azulejo 10% Transporte, manuseio e cortes para arremates
Cimento 5% Preparo de concreto e argamassa com betoneira
Cimento 10% Preparo de concreto e argamassa sem betoneira
Blocos de concreto 4% Transporte, manuseio e arremates
Blocos cerâmicos 8% Transporte, manuseio e cortes
Tabela 6 – Perdas de Insumos
Fonte: Mattos (2006, p. 59)

Apesar de ocorrerem perdas e da necessidade de sua consideração no orçamento, é possível


fazer o reaproveitamento de diversos materiais e assim, ao invés de ser necessária a aquisição
de mais recursos, é possível gerar economia nos insumos. Mattos (2006) lembra que os
materiais permanentes, por serem incorporados ao produto final só permite uma única
utilização, como é o caso dos tijolos. Por outro lado, os materiais não permanentes, tais como
painéis de madeira compensada, tirantes metálicos de formas e pregos podem aplicados
diversas vezes na mesma obra. Porém o reaproveitamento depende da qualidade do material,

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Edição nº 10 Vol. 01/ 2015 dezembro/2015
Orçamentação na construção civil dezembro/2015
9

da qualidade da mão de obra, da cautela no manuseio e muitas vezes do projeto. Por exemplo,
em obras prediais em foram previstas repetições em vãos de vigas, as formas podem ser
reutilizadas muito mais vezes do que uma obra em que os vãos possuam dimensões
irregulares, portanto a padronização é essencial para o aumento do reaproveitamento.

5.1.3 Estimativas
Em alguns casos é necessário dar início, ou mesmo concluir o orçamento sem que os projetos
estejam completos, ou somente com base na arquitetura, não sendo fornecidos os projetos
complementares. Para essas situações, segundo Mutti (2013), deve-se adotar alguns
coeficientes e critérios usuais para composição dos quantitativos, porém ressalta que o
resultado de um orçamento elaborado nessas condições será apenas uma estimativa com ato
grau de incerteza, sendo indicado apenas para as fases iniciais de um empreendimento em que
são feitos os estudos de viabilidade.
Mutti (2013) indica que na falta de projetos de instalações devem ser utilizados coeficientes
de correlação ou percentuais de obras semelhantes. Quanto à parte estrutural, recomenda o
uso da tabela 7 abaixo.

Tabela 7 – Perdas de Insumos


Fonte: Mattos (2006, p. 59)

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Edição nº 10 Vol. 01/ 2015 dezembro/2015
Orçamentação na construção civil dezembro/2015
10

5.2 Custos
O preço de um determinado serviço é sempre o resultado de uma composição de custos, que
contempla todos os insumos necessários para sua realização. Deve-se considerar, portanto, o
valor dos materiais envolvidos, a mão de obra para execução e a eventual compra ou locação
de equipamentos (XAVIER, 2008). Além disso é necessário incluir os custos referentes aos
encargos sociais que incidem sobre a mão de obra e o BDI, porém esses itens serão abordados
mais adiante.
Mattos (2006), define composição de custos como “uma tabela que apresenta todos os
insumos que entram diretamente na execução de uma unidade do serviço, com seus
respectivos custos unitários e totais”. Mutti (2003) complementa informando a necessidade de
se conhecer a produtividade da mão de obra e dos equipamentos.
Em geral, as composições são constituídas de cinco colunas de informações (MATTOS,
2006):
 Insumo: cada um dos itens que fazem parte da execução do serviço, ou seja, materiais,
mão de obra e equipamentos.
 Unidade: é a unidade de medida de cada insumo, que para materiais pode ser m², m³,
m, kg, entre diversas outras, para mão de obra utiliza-se hora (ou homem-hora) e para
equipamentos horas de utilização de máquina.
 Índice ou coeficiente: é a incidência de cada insumo na execução de uma unidade de
serviço, por exemplo, quantos tijolos são necessários para execução de um m² de parede.
 Custo unitário: é o custo empregado em uma unidade do insumo.
 Custo total: é a multiplicação do índice pelo custo unitário, o custo total de um insumo
na composição em questão. A somatória dessa coluna indica o custo total de uma unidade do
serviço. A tabela 8 ilustra uma composição de preços.

Tabela 8 – Composição de Preço – Aço CA-50


Fonte: Xavier (2008, p. 17)

Interpretando a tabela acima, para produção de uma unidade de aço CA-50, são necessárias
0,10 horas de trabalho tanto do armador quanto do ajudante, 0,03 kg de arame recozido e 1,10
kg do próprio aço CA-50, totalizando R$ 4,45 / kg. Mattos (2006) explica que, embora
devesse se considerar 1 kg de aço para uma unidade de serviço, é usual que sejam incluídas as

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Edição nº 10 Vol. 01/ 2015 dezembro/2015
Orçamentação na construção civil dezembro/2015
11

perdas, relacionadas anteriormente, nesse momento. Portanto, para a composição


exemplificada, foi adotada uma perda de 10% de aço.
Os custos podem ser divididos ainda em diretos e indiretos, sendo, de acordo com Avila,
Librelotto e Lopes (2003):
 Custo direto: são os custos diretamente apropriados ao produto, os quais permitem
perfeita caracterização e quantificação dentro de um serviço, são os materiais, equipamentos e
a mão de obra direta.
 Custo indireto: são custos não perfeitamente quantificáveis, é necessário estabelecer
um fator de rateio para sua apropriação nos serviços. São vinculados à administração do
canteiro de obras e às despesas da administração da própria empresa.
A tabela 9 apresenta uma listagem de alguns custos e suas classificações.

Tabela 9 – Custos Diretos e Indiretos


Fonte: Avila, Librelotto e Lopes (2003, p. 16)

5.2.1 Encargos sociais


Anteriormente foram abordadas as composições de custo, que incluem a mão de obra, porém
sem aprofundamento do que realmente abrange o custo horário.
Mattos (2006) considera o trabalhador como “o elemento racional de uma obra”, uma vez que
o sucesso de um empreendimento depende, em grande parte, de suas decisões e ações que dão
forma ao serviço gerando o produto final. Informa ainda que o custo referente à mão de obra

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Edição nº 10 Vol. 01/ 2015 dezembro/2015
Orçamentação na construção civil dezembro/2015
12

em uma obra pode representar de 50 a 60%, devendo, portanto, dar-se a devida importância a
essa categoria de custo na precisão do orçamento.
Encargos sociais são valores referentes a impostos e taxas a serem desembolsados, calculados
sobre a mão de obra contratada, bem como obrigações e direitos que devem ser pagos ao
trabalhados (AVILA, LIBRELOTTO e LOPES, 2003).
Esses valores devem ser considerados durante a orçamentação de acordo com o que realmente
representa para a empresa, não sendo representado somente pelo salário base, mas devendo
este ser somado aos impostos da legislação e convenções de trabalho (MATTOS, 2006).
Os encargos são apresentados por Mattos (2006) sob duas óticas:
 Encargos em sentido estrito: são os encargos trabalhistas e indenizatórios previstos em
lei, fazendo parte da obrigação do empregador e sendo a mais utilizada em orçamentos.
 Encargos em sentido amplo: além dos encargos trabalhistas e indenizatórios são
consideradas despesas com alimentação ou cesta básica, transporte, EPI (Equipamentos de
Proteção Individual), seguros, horas extras, ferramentas manuais, uniformes, consultas e
exames médicos obrigatórios, entre outros, sendo inseridos no orçamento de acordo com a
conveniência da empresa e do orçamentista.
Dias (2010) denomina os encargos sociais em sentido amplo como “Encargos Sociais
Complementares” e explica que são oriundos de acordos coletivos, convenções coletivas de
trabalho entre os sindicatos, de legislações federais e até mesmo de normas regulamentadoras
de segurança e saúde no trabalho, e que cabe a cada profissional selecionar e calcular os
encargos sociais.
Quanto à última informação, Avila, Librelotto e Lopes (2003) complementam que os índices
percentuais utilizados no cálculo dos encargos podem sofrer variações entre regiões, com o
tempo e até mesmo quanto à pluviosidade das regiões.

5.2.2 BDI
Dias (2004) define BID como um percentual que incide sobre os custos diretos da obra, que
se refere às despesas indiretas da mesma, lembrando que essa porcentagem pode variar de
acordo com a localização do empreendimento, com o tipo de administração adotado, com os
impostos e com a margem de lucro esperado pelo empreendedor que também o compõem.
Por sua vez, González (2008) complementa essa definição explicando que a função do BDI é
completar o orçamento, incluindo nele alguns itens que são de difícil mensuração, sendo para
os mesmos atribuídos valores estimados. Diz ainda que o BDI pode ser apresentado no
orçamento em sua forma percentual incidindo sobre todos os custos unitários, como um valor
geral incluído usualmente no final da planilha ou como um misto das duas formas.
Como já comentado anteriormente, os custos indiretos decorrem da estrutura da obra e da
empresa e não podem ser atribuídos diretamente à execução de um determinado serviço,
sendo os que mais afetam a construção, segundo Dias (2004) são:
 Taxa de administração central
 Taxa de risco do empreendimento
 Taxa de custo financeiro
 Taxa de tributos federais
 Taxa de tributos
 Taxa de despesas de comercialização
ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Edição nº 10 Vol. 01/ 2015 dezembro/2015
Orçamentação na construção civil dezembro/2015
13

 Lucro ou remuneração líquida da empresa


Dispostos respectivamente na seguinte fórmula da figura 1:

Figura 1 – Fórmula de Cálculo do BDI


Fonte: Tisaka (2009, p. 15)

Mais atualmente, Dias (2010) propôs um novo conceito de BDI para os prestadores de serviço
de engenharia representado pela fórmula abaixo.

((1 + AC + CF + S + G) – 1) x 100
1 – (TM + TE + TF + MBC)

AC – Administração Central
CF – Custo Financeiro
S – Seguros
G – Garantias
TM – Tributos Municipais
TE – Tributos Estaduais
TF – Tributos Federais
MBC – Margem Bruta de Contribuição

Essa fórmula difere da anterior porque considera, além dos tributos municipais e federais, os
tributos estaduais, os custos com seguros e gastos com garantias e, ao invés da margem de
lucro líquida, insere a margem de lucro bruta. Porém, a principal diferença é que não é
adotada a taxa de risco do empreendimento, que, segundo Dias (2010), mesmo essa margem
de incerteza, que geralmente varia de 5 a 10%, garantindo ao construtor a possibilidade de
correção de preços caso seja necessário, deve haver uma substituição da taxa de risco pela
precisão na estimativa de custos durante a orçamentação, seguida por uma conferência dos
valores por parte do contratante com o mesmo rigor.
Apesar desse novo conceito de BDI apresentar uma concepção correta do que deveria ser a
realidade, sua aplicação se torna facilitada em situações como licitações, porém inviável em
outros casos, devendo ser mantido, como se percebe na realidade, o atual conceito do BDI
(DIAS 2010).

6. Conclusão
A necessidade de controle de custos, intrínseca a qualquer setor do mercado, vem se
mostrando cada vez mais essencial num contexto de economia em que frequentemente

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Edição nº 10 Vol. 01/ 2015 dezembro/2015
Orçamentação na construção civil dezembro/2015
14

divulga-se falência de empresas, em que há uma luta constante pela sobrevivência comercial,
e onde a disputa com a concorrência é cada vez mais acirrada e, em algumas vezes, desonesta.
Dentro dessa realidade encontra-se também a construção civil que implica na gestão de ações
simultâneas, envolvendo amplo número de recursos materiais e humanos, além de diversos
outros fatores, entre os quais alguns que podem ser previstos, mas às vezes fogem ao controle,
como os fenômenos naturais.
O desenvolvimento do presente trabalho mostra que, mesmo apresentando uma natureza
incerta, é possível haver, também no ramo da engenharia civil, melhor controle de gastos
envolvidos nas obras.
Através de um bom planejamento que disponibilize acesso a informações de todo o processo
de um empreendimento, pode-se estimar de forma muito mais precisa seu custo total.
Contando com metodologias de orçamentação que permitem simples adaptação às fases da
obra e aprofundamento nos dados que cada uma proporciona, além de consideração de itens
como lucros e impostos que não interferem diretamente em seu valor total, é perfeitamente
possível que, apesar das grandes incertezas e dos riscos que a atividade apresenta, tenha-se
uma estimativa de custos surpreendentemente próxima à realidade.

Referências
AVILA, Antonio Victorino; LIBRELOTTO, Liziane Ilha; LOPES, Oscar Ciro. Orçamento
de Obras. Florianópolis: UNISUL – Universidade do Sul de Santa Catarina, 2003.

DIAS, Paulo Roberto Vilela. Engenharia de Custos: Uma Metodologia de Orçamentação


para Obras Civis. Curitiba: Copiare, 2004.

DIAS, Paulo Roberto Vilela. Novo Conceito de BDI. Rio de Janeiro: IBEC – Instituto
Brasileiro de engenharia de Custos, 2010.

GONZÁLEZ, Marco Aurélio Stumpf. Noções de Orçamento e Planejamento de Obras. São


Leopoldo: UNISINOS – Universidade do Vale do Rio dos Sinos, 2008.

MATTOS, Aldo Dórea. Como Preparar Orçamentos de Obras. São Paulo: PINI, 2006.

MOURA, Denise Cristina da Rocha; CONCOURD, William. Orçamento – Análise da


Aplicação da Engenharia de Custos: Um Estudo de Caso em uma Empresa em Belém-
PA. Belém: 2011.

MUTTI, Cristiane do Nascimento. Administração da Construção. Florianópolis: 2008,


última atualização 2013.

SOUZA, Anderson Luiz Almeida de. Orçamentos. Rio de Janeiro: FACREDENTOR –


Faculdade Redentor, 2012.

TAVES, Guilherme Gazzoni. Engenharia de Custos Aplicada à Construção Civil. Rio de


Janeiro: 2014.

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Edição nº 10 Vol. 01/ 2015 dezembro/2015
Orçamentação na construção civil dezembro/2015
15

TISAKA, Maçahico. Metodologia de Cálculo da Taxa do BDI e Custos Diretos para a


Elaboração do Orçamento na Construção Civil. São Paulo: 2004, atualização 2009.

XAVIER, Ivan. Orçamento, Planejamento e Custo de Obras. São Paulo: FUPAM –


Fundação para Pesquisa Ambiental, 2008.

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Edição nº 10 Vol. 01/ 2015 dezembro/2015

Você também pode gostar