A resposta para o que é o homem, sua natureza, constitui um axioma para o
estudo em Psicologia (Carrara, 2005). Entretanto é difícil, se não impossível, provar ou refutar qualquer que seja a resposta. Não se trata de uma questão empírica, mas de postura filosófica assumida (Pasquali, 2007). Algumas propostas, como a Psicanálise e a Psicologia Cognitiva, são orientadas pelo modelo dualista em que a natureza humana é bifurcada em duas dimensões (física e psíquica ou física e mental, respectivamente) (Guimarães, 2003), por conseguinte, o comportamento é a manifestação de algo subjacente (conjecturado do próprio comportamento), que se encontra em um lugar inferido, frequentemente dentro do organismo. O hipotético é oferecido como explicação do observado (Chiesa, 2006). (Essa cisão e forma de explicação pode ser evitada como exposto a seguir). Em oposição, o Behaviorismo Radical assume o monismo como ponto de partida. Isso implica dizer que quaisquer fenômenos psicológicos (emoções, sentimentos, pensamentos, lembranças, e assim por diante) são constituídos de um mesmo estofo, o natural, e, portanto, regidos por leis físicas (Guimarães, 2003). Mas das leis não se segue a perda da individualidade, e da individualidade não se segue que o homem origina a ação.
Uma pessoa não é um agente que origine; é um lugar, um ponto em que
múltiplas condições genéticas e ambientais se reúnem num afeito conjunto. Como tal, ela permanece indiscutivelmente única. Ninguém mais (a menos que tenha um gêmeo idêntico) possui sua dotação genética e, sem exceção, ninguém mais tem sua história pessoal (Skinner, 2006, p. 145).
Em vista disso, reconhecer e entender o caráter complexo do homem e do seu
comportar-se é reportar-se a suas relações contínuas e interdependente com o ambiente, também complexo, e obrigatoriamente dizer que “a cada relação obtém-se, como produto, um ambiente e um homem diferente” (Micheletto & Sério, 1993, p. x), e é como um organismo modificado que ele passa a se comportar de forma modificada (Skinner, 2006). Inevitavelmente o homem não é dado pronto, imutável, mas tal como o comportamento é fluido e evanescente. Podemos dizer, como Skinner (ano, página) o fez, que “os homens agem sobre o mundo”, mas devemos ressaltar que não é o homem autônomo; podemos complementar que ao fazê-lo os homens “modificam-no e, por sua vez, são modificados pelas consequências de sua ação”, mas devemos também acrescentar que não é um ambiente autônomo; aliás, é um ambiente formado em sua maioria pelo próprio homem (Skinner, 1983) incluindo aquele que reside sob a sua pele. Neste último sentido temos, pois, um homem controlado e controlador, determinado e determinador, produto e produtor, conhecido e conhecedor, falante e ouvinte (Skinner, CCH; 2006; 1983; CV).
Referências utilizadas
Carrara, K. (2005). Behaviorismo radical: crítica e metacrítica. São Paulo: Editora Unesp.
Pasquali, L. (2007). Validade dos testes psicológicos: será possível reencontrar o
caminho?. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 23(spe), 88-107.
Guimarães, R. P. (2003). Deixando o preconceito de lado e entendendo o Behaviorismo
Radical. Psicologia ciência e profissão, 23(3), 60-70.
Chiesa, M. (2006). Behaviorismo radical: A filosofia e a ciência. Brasília, DF: IBAC.
(Original publicado em 1994).
Skinner, B. F. (2006). Sobre o Behaviorismo. São Paulo: Cultrix. (Trabalho originalmente
publicado em 1974).
Micheletto, N. & Sério, T. M. A. P. (1993). Homem: objeto ou sujeito para Skinner?.
Temas em Psicologia, (2), 11-22.
Skinner, B. F. (1983). O que é o homem?. In Skinner, B. F., O mito da liberdade (pp.
145-168). São Paulo: Summus. Bibliografia a consultar para complementar:
Matos, M. A. (1999). Análise Funcional do Comportamento. Revista Estudos de
Psicologia, 16(3), 8-18.
Sério, T. M. A. P. (1999). A concepção de homem e a busca de autoconhecimento: onde
está o problema? In Banaco, R. A. (Org.), Sobre comportamento e cognição: aspectos teóricos, metodológicos e de formação em análise do comportamento e terapia cognitivista (pp. 209-216-55). Santo André: Esetec.
Skinner, B. F. (2007). Porque eu não sou um psicólogo cognitivista. Revista brasileira de
Os Pensadores - Contingências Do Reforço - A Epistemologia Genética - Sabedoria e Ilusões Da Filosofia - Problemas de Psicologia Genética by Burrhus Frederic Skinner, Jean Piaget (Z-lib.org)