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Acórdão: 0020810-79.2018.5.04.

0211 (RORSum)
Redator: ANDRE REVERBEL FERNANDES
Órgão julgador: 4ª Turma
Data: 11/04/2019

PODER JUDICIÁRIO
JUSTIÇA DO TRABALHO
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 4ª REGIÃO
Identificação
PROCESSO nº 0020810-79.2018.5.04.0211 (ROPS)
RECORRENTE: MICHEL ALVES BELUSSO
RECORRIDO: CONSTRUTORA GEREMIAS HAINZENREDER
RELATOR: ANDRE REVERBEL FERNANDES
EMENTA
ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos.

ACORDAM os Magistrados integrantes da 4ª Turma do Tribunal


Regional do Trabalho da 4ª Região: por maioria, vencido o Exmo.
Relator, NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO ORDINÁRIO DO
RECLAMANTE, Michel Alves Belusso, mantendo a sentença por seus próprios
fundamentos, nos termos do art. 895, IV, "in fine", da CLT.

Intime-se.

Porto Alegre, 10 de abril de 2019 (quarta-feira).

RELATÓRIO

É o relatório.

FUNDAMENTAÇÃO

VÍNCULO DE EMPREGO.

O Magistrado de origem julga improcedente o pedido de vínculo de emprego.

O reclamante requer a reforma da sentença.

Com razão.
Na petição inicial, o reclamante sustenta que foi contratado pelo reclamado para
laborar como pedreiro, junto a obra de propriedade do réu. Diz ter laborado por
pouco mais de quatro meses, de 05.02.2018 a 13.06.2018.

Na contestação, o reclamado admite a prestação de serviços do reclamante em


seu favor. Todavia, alega que foi firmado contrato de empreitada com o
reclamante para realizar o reboco da obra.

É necessária, para o reconhecimento do vínculo de emprego, a presença


concomitante de todos os requisitos do art. 3º da CLT: pessoalidade, não
eventualidade, onerosidade e subordinação. Tendo o réu admitido que se
beneficiou do trabalho do autor em razão de um contrato de empreitada, atraiu
para si o ônus de provar a existência deste, conforme arts. 818 da CLT e 373, II,
do CPC. Na hipótese dos autos, entende-se que o reclamado não se desincumbe
a contento desse ônus processual.

Não é trazido aos autos qualquer documento relativo ao contrato


de empreitada referido pelo reclamado. A única testemunha ouvida nos autos, a
convite da reclamada, declara o seguinte:

que o depoente trabalha há oito ou nove anos para a família do demandado(a) ,


sempre como encanador autônomo; que o depoente fez a parte hidráulica no
prédio; que trabalhou por cerca de dois meses e meio ou três meses na obra,
tendo recebido por empreitada; que o prédio é de três andares; que o proprietário
do prédio é o demandado(a) Geremias; que Michel era o empreiteiro do reboco,
[...] que Michel trabalhava por empreitada e sempre recebia toda a sexta feira, e
que o pagamento era feito por Geremias; que sabe que Michel recebia
por empreitada, por comentários na obra; que o próprio Michel comentava que o
serviço era por empreitada, por metro; que na época, o valor do metro era de R$
10,00, não sabendo precisar a metragem realizada; que o pagamento do serviço
era em separado, para o depoente relativo a hidráulica e para Michel , conforme
a metragem; que o depoente presenciou as medições , de Michel e Geremias;
[...] Quesitos do autor: que o serviço era determinado por Geremias; que quando
o depoente iniciou no local, trabalhava apenas Michel;

- grifa-se.

Em que pese a testemunha afirme que o trabalho do autor era por empreitada,
ao explicar a forma de pagamento revela que, na realidade o reclamante recebia
por tarefa, não havendo como se reconhecer que foi contratado por um preço
certo para uma empreitada global. Além disso, resta claro que havia
subordinação, uma vez que o serviço era determinado e fiscalizado pelo
reclamado o qual realizava medições semanalmente. Também não há dúvida de
que o serviço era oneroso, prestado de forma pessoal e não eventual.

Ressalte-se que o pagamento por tarefa não se amolda à natureza dos contratos
de empreitada, que, como se sabe, dizem respeito à execução de obra certa e
determinada, e não à colocação contínua da força de trabalho à disposição de
terceiro mediante contraprestação salarial, como ocorria na hipótese dos autos.
Logo, o ajuste celebrado entre as partes não se caracteriza como autêntico
contrato de empreitada, e sim como típico contrato de emprego. Por tais razões,
tendo em vista que estão preenchidos os requisitos previsto no art. 3º da CLT,
impõe-se reconhecer que o reclamado figura como empregador do autor.

Diante de todo o exposto, entende-se que a sentença de origem comporta


reforma, devendo ser reconhecido o vínculo de emprego entre autor e o
reclamado, na função de pedreiro.

Dá-se provimento ao recurso ordinário do reclamante para reconhecer a


existência de vínculo de emprego com o reclamado, na função de pedreiro,
determinando-se o retorno dos autos à origem para julgamento dos demais
pedidos formulados na petição inicial, inclusive quanto ao período contratual e
salário.

ANDRE REVERBEL FERNANDES

Relator
VOTOS

DESEMBARGADOR GEORGE ACHUTTI:

VÍNCULO DE EMPREGO

Divirjo, permissa venia, do voto condutor, mantendo a sentença por seus


próprios fundamentos, a seguir reproduzidos, acautelando tautologia:
"Exsurge, da prova oral integralmente transcrita, que se trata, o réu Geremias,
de pessoa física, também operário, consoante se pode constatar pela
documentação juntada com a defesa (CTPS registrada na função de mestre de
obras na empresa Incorporadora e Construtora A. Ferreira, salário de R$
1.342,40); o local de trabalho, trata-se de uma edificação de propriedade do
demandado, pessoa física, repise-se, e diz respeito a uma obra de 3 pavimentos;
o depoimento do demandado revela que o objeto do citado projeto é prover futura
aposentadoria e moradia própria e da família; os depoimentos revelam, ainda,
que trabalhavam apenas os autores no local durante a semana, pois nesses dias
o autor trabalhava como empregado na empresa já referida acima, cumprindo
horário ordinário, laborando na sua própria obra apenas em fins de semana. Não
se trata, como se vê, de empreendedor do ramo da construção civil.

O período laborado pelos autores - Michel, Eduardo e Douglas - embora revele,


à primeira vista, relação de emprego, na medida em que a defesa sustenta
contrato de empreitada, não comprova, mediante documentos, não se
desincumbindo desse ônus de modo eficiente, tenho que, no plano fático, não
há como não reconhecer que se trata de simples empreitada: os autores,
notadamente o autor Michel, que iniciou antes, bem assim Eduardo, ambos na
condição de profissionais pedreiros, ajustaram com o demandado trabalho por
tarefa realizada, quais sejam, reboco interno e externo, à razão de determinado
valor por metro quadrado, cuja medicação se dava toda sexta-feira pelo
demandado na presença dos autores, notadamente Michel; o acerto de contas
se dava toda sexta-feira tão logo concluída a medição dos serviços realizados
pelos autores; o ajuste, por metro quadrado, se dava entre os profissionais
pedreiros, especialmente o autor Michel, e o demandado; já em relação ao
reclamante Douglas, que trabalhava como auxiliar de Michel e Eduardo,
portanto, como servente, o ajuste e valores percebidos era proporcional à
metragem realizada pelos profissionais; assim, a remuneração percebida tinha
relação direta com a produção da semana; Douglas, assim, era colega e parceiro
de labor de MIchel e Eduardo, especialmente do primeiro, pois quem iniciou o
labor com o demandado nesse formato de empreitada; os depoimentos revelam
que tudo se deu informalmente, sem contrato escrito, seja de valores dos
serviços, seja da forma da sua realização, bem assim sem a emissão de recibos
dos pagamentos efetuados.

Impende notar que não é verossímil que um trabalhador operário mantenha


empregados - no mesmo ramo em que atua - pagando remuneração tão elevada
como a citada na inicial e reconhecida em depoimentos dos próprios autores.

Por tais fundamentos e por tudo o mais que há nos autos, tenho que a relação
jurídica havia entre as partes foi de simples empreitada, pelo que se impõe
a improcedência dos pedidos formulados no tópico."

Nego provimento ao apelo.

DESEMBARGADOR JOÃO PAULO LUCENA:


VÍNCULO DE EMPREGO

Com a vênia do Exmo. Des. Relator, acompanho o voto divergente lançado pelo
Exmo. Des. George Achutti.

PARTICIPARAM DO JULGAMENTO:

DESEMBARGADOR ANDRÉ REVERBEL FERNANDES (RELATOR)

DESEMBARGADOR GEORGE ACHUTTI

DESEMBARGADOR JOÃO PAULO LUCENA

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